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História Take Me If You Want Me - I'm Ready


Escrita por: cherrylispector

Notas do Autor


oii, obrigada pelo feedback no capítulo passado, fico muito grata de verdade. espero que gostem do capítulo 💜

Capítulo 16 - I'm Ready


Alicia estava olhando para a janela há uns quinze segundos seguidos, estava reflexiva o que era realmente raro. Ela estava usando uma regata preta com um decote entre os seios. Assim como eu, ela havia retirado o blazer que usava por cima da blusa já que aquela era uma manhã quente em Madri. Eu já estava na universidade, e não eram nem sete horas da manhã.

- Por que não leva um lanchinho? - Perguntou zombeteira e eu amarrei meus cabelos em um coque, os prendendo com um lápis. Eu havia vindo ali, apenas para ajudá-la com um problema que ela havia tido com o local onde aconteceria o evento dela com o Andrés, - E eu nem mesmo acreditava que eles já haviam completado vinte anos de casados -, eu ainda me lembrava de quando eles começaram a namorar, uma aluna de direito extremamente certinha e arrogante com um estudante de artes muito excêntrico e comunicativo. Enquanto ela estudava um milhão de artigos e leis, ele interpretava obras de arte. Os dois eram como o complemento um do outro, ele precisava da chatice e organização dela e ela precisava da liberdade e sensibilidade dele.

Entretanto, mesmo que havia prometido ficar ali por apenas alguns minutos, acabei ficando para conversar,  já que ela prometeu me levar até a estação para que eu fosse até o trem que me levaria até Toledo. Três meses depois de começar a estudar ali e meu carro continuava quebrado, eu estava quase seguindo o conselho de Andrés sobre dar um fim a minha velha BMW. - Ou você que vai ser o lanchinho? - Alicia indagou com um sorriso enquanto levantava as sobrancelhas.

- Não vou ser o lanchinho, Alicia. Para de zombar da minha vida. - A mostrei o dedo do meio e ela correspondeu ao gesto quase que no mesmo segundo. Sentei na cadeira ao seu lado e gemi um pouco desconfortável. A maneira que eu e Sérgio havíamos feito sexo na noite passada, havia sido um pouquinho rude. Então, as dores musculares estavam gritando “Olá”.

- Trepou ontem? - Estreitou os olhos com um olhar malicioso.

- Como você sabe? - Perguntei com o mesmo olhar de malícia.

- Tem um chupão no seu ombro e você está procurando uma posição confortável para sentar. Foi uma trepada daquelas... - Comentou com um sorriso. - Deu para o Fabio ou para o Marquina? - Perguntou e eu revirei os olhos.

- Alicia, nem são sete horas da manhã. Olha o palavreado que você está usando, a minha cabeça não processa tanta coisa tão cedo...

- Fez um ménage? - Levantou as duas sobrancelhas. - Sempre soube que você possuía fantasias com ménage. Foi bom com os dois? - Perguntou como se aquilo fosse realmente uma possibilidade.

- Não fiz nenhum ménage, Alicia. - Revirei os olhos e a bati no braço, ela gargalhou do meu olhar de raiva para ela. - Eu transei com o Sérgio e ele me machucou toda. - Disse com um sorriso bobo e ela abriu a boca desacreditada. - Ele é bom em deixar machucados de sexo. Machucados bons, que me deixam pensando nele no outro dia, assim como estou pensando agora.

- O Sérgio? O Marquina? Tem certeza que nós estamos falando sobre o mesmo homem? - Perguntou e eu assenti. - Eu não consigo formar essa imagem é um pouco difícil.

- Sim, o Marquina. Ele fica bem diferente quando transa. - Sorri com certa malícia. - O único problema é que ele machuca o meu coração também. - Suspirei. - Ontem eu disse que o amava. Talvez tenha sido precipitado, mas eu tinha que retirar isso do meu peito. - Disse séria. Alicia segurou as minhas duas mãos entre as suas.

- Você o ama? - Perguntou extremamente séria e eu assenti.

- Ele me faz sentir algo que eu nunca senti, Alicia. Nunca... eu já tive vários namorados e namoradas. - Mordi o lábio inferior e ela riu. - Mas nunca senti isso. Nunca. Eu me sinto segura com ele, eu confio nele, sinto desejo por ele o tempo inteiro. Eu conto para ele os meus segredos mais íntimos... e gosto quando ele confia em mim também. Ele é um homem tão bom, é atencioso, é gentil, é leal... e um completo idiota. - Limpei algumas lágrimas que haviam se formado em meus olhos. - Eu nunca demonstrei tanto o que eu sentia para ninguém. Por vezes, eu penso estar tomando a decisão errada, mas ao mesmo tempo parece tão certo que eu não me importo. É como se eu o conhecesse há anos...

- Você está amando... - Sorriu. - Eu achei que isso nunca fosse acontecer. - Brincou. -Mas me responde uma coisa, por que está saindo com o Fabio, se possui sentimentos tão fortes pelo Sérgio? - Mexeu no rabo de cavalo nos cabelos, enrolando as pontas dos fios entre os dedos. Às vezes ela parecia uma negociadora da polícia extraindo informações. Eu sempre achei que ela seguiria nesse ramo quando ela se formou, mas para a minha surpresa, tornou-se professora universitária.

- Eu achei que pudesse esquecer ele, saindo com o Fabio. Mas eu não consigo passar dos beijos com o Fabio.

- Credo, vocês estão se beijando, Raquel? - Franziu a testa.

- A gente deu uns amassos no carro dele outro dia. Foi apenas uma vez. Não há nada entre a gente. - Ela me olhou com nojo e eu sorri. - Alicia, por que você tem tanto ódio do Fabio? - Estreitei os olhos e ela mexeu no rabo de cavalo novamente enquanto fazia uma careta. Sérgio possuía a mania irritante de empurrar os óculos para trás e Alicia de mexer o tempo todo naquele cabelo.

- Eu tenho um passado com o Fabio. - Eu arregalei os olhos no mesmo segundo. - Não esse tipo de passado, Raquel. Credo. Você sabe que eu só estive com o seu irmão a minha vida inteira. - Sorriu desacreditada por meu olhar. - Ele fez alguns períodos de direito, antes de partir para a engenharia. Nós competíamos o tempo todo, quem possuía as melhores notas, quem ganhava prêmios... enfim, depois por uma reviravolta do destino, viemos ensinar na mesma faculdade mais de uma década depois. Por isso não gostamos um do outro.

- Então digamos que é tudo uma briga idiota? - Ela assentiu.

- Você achou que eu havia dado uns pegas no Fabio. Isso é literalmente a última coisa que eu faria na minha vida, ele não é o meu tipo. - Negou com a cabeça. - Mas pelo menos ele tem pegada? Porque pelo que me contou do Marquina, ele surpreende.

- Tem, tem sim. Mas ainda não sei como é na cama. - Dei de ombros.

- Você pretende descobrir? - Perguntou ainda mais enojada. - Tá, mas se descobrir me conta e eu espero que ele... - Gesticulou com as mãos. - Em oito segundos, para podermos rir e chamá-lo de oito segundos. - Gargalhei assim que ela disse isso e ela me acompanhou.

- Me lembrou aquele meu namorado. “O quinze segundos...” - Alicia começou a rir novamente. - E depois ele virou para o outro lado e dormiu. - Neguei com a cabeça. - Eu detesto homem que acha que o sexo acaba quando ele goza. - Revirei os olhos. - O Sérgio não é assim, ele é atencioso no sexo. - Sorri.

- O seu irmão também é. Por isso casei com ele. - Sorriu.

- Como você sabia que era ele? O certo? Que era com o Andrés que você queria passar o resto da vida?

- Porque eu sentia e sinto tudo isso que você disse sentir com o Sérgio. Vinte anos depois que nos casamos, ainda é do mesmo jeito. A gente ainda senta no tapete da sala, abre uma garrafa de vinho e fala sobre o dia a dia, a gente ainda transa no meu carro como se não tivéssemos casa, ele confia em mim e eu confio nele. - Deu de ombros.

- Nunca mais irei entrar no seu carro. - Disse séria e ela riu.

- É sempre no banco de trás.

- Vou me suicidar. - Coloquei as minhas duas mãos em meu rosto, o cobrindo.

- Mas... - Sentou-se totalmente ereta na cadeira. - Não te chamei aqui apenas para resolver locais de festa e falar sobre os homens bonitos que você pega. - Sorriu sem graça e eu fiquei um pouco confusa com a mudança drástica de humor. - Existe uma possibilidade de uma coisa muito, muito ruim estar acontecendo com o meu corpo.

- Minha nossa, Alicia, você está doente? - Inquiri a frase com uma preocupação evidente em meu rosto.

- Pior. - Ela lamentou. - Eu acho que estou... estou... puta merda, nem consigo dizer em voz alta. - Fechou os olhos com força e eu acabei sorrindo com a ideia que passou por minha mente.

- Alicia, você está grávida? - Perguntei rindo. - Eu vou ser titia? - Perguntei animada.

- Shhh... não diz em voz alta. - Colocou o dedo na frente da boca em um sinal de silêncio. - Bem, eu não sei. Mas eu talvez esteja...

- Eu nem acredito que vou ser tia.

- Continua falando assim e eu o mando para a sua casa, para você criar. - Disse séria e eu gargalhei.

- Alicia, não é o fim do mundo.

- Claro, não é na sua barriga que pode ter um ser se formando. - Aquelas palavras me machucaram um pouco e ela pareceu perceber.

- O que foi, Raquel? Você estava me zoando e do nada fechou o semblante.

- Não é nada comigo, Alicia. - Dei de ombros, eu não conseguia contar aquilo para mais ninguém, era um segredo meu e eu só o havia dividido com Sérgio. - É só que não é tão assustador quanto parece. É só um bebê. - Ela me jogou um olhar mal-humorado e resmungou algo inaudível. - Você já falou com o Andrés?

- Ainda não.

- Você fez algum teste para ter certeza?

- Sim.

- E?

- Deu positivo. Mas pode ser um falso positivo, acontece o tempo todo. - Deu de ombros.

- Falsos negativos, mas falsos positivos, não. - Neguei com a cabeça. - Eu vou ser tia.

- E eu vou te espancar.

- Você está grávida.

- Não estou, até que eu aceite que estou. - Sorriu cinicamente e eu correspondi ao sorriso. - Minha nossa eu já tenho quarenta anos... O único filho que eu pretendia ter é o meu gato, o comissário. - Disse e eu ri. - Eu e o Andrés achamos que isso não iria mais acontecer, depois de tanto tempo juntos... Como eu irei contar para ele? É tão fácil contar as coisas para ele, mas isso é uma mudança e tanto.

- Escreve em um post-it “você vai ser papai” e entrega para ele. - Ela me olhou entediada e eu sorri.

Sergio entrou na sala dos professores e nós três nos encaramos sem saber exatamente o que dizer.

- Eu só vim buscar umas pastas. - Empurrou os óculos para trás. - Inclusive, parabéns, Raquel. Não era para eu te contar agora, mas você ganhou aquele concurso, lembra? De textos da faculdade? Que eu pedi para você se inscrever? - Eu assenti com convicção e ele sorriu de lado, sem saber exatamente como agir. - Você escreveu uma dissertação criticando todos os pontos negativos que Romeu e Julieta traz para os adolescentes e jovens adultos... - Ele sorriu. - Você é inacreditável. - Negou com a cabeça e eu ri.

- Você sabe que eu prefiro “Hamlet”.

- Vocês flertam com tanto conceito, falando sobre Shakespeare, achei bonito. - Alicia disse, olhando de mim para Sérgio. - Bom, eu acho que vou comprar um donut e uns docinhos.

- Já está com desejos... - Alicia me olhou de cima a baixo com desdém e negou com a cabeça.

- Raquel, o único desejo que estou tendo agora é de te bater... - Levantou da cadeira e ia sair da sala, mas eu segurei o seu pulso.

- Fala com o Andrés. - Ela revirou os olhos e saiu da sala, praticamente ignorando o que eu havia dito.

Sérgio parou por alguns segundos, apenas me observando.

- Eu comprei uma coisa para você. - Sorriu e tirou do paletó um caderno vermelho de pequenas dimensões, possuía uma fita de marcador e um elástico segurando as folhas junto com a capa. - Você gosta muito de escrever e me disse que gosta muito de vermelho, que é a sua cor preferida junto com azul, então, eu pensei que você poderia escrever aqui... bem, eu vi em uma loja e lembrei de você. Enfim... - Me entregou o pequeno caderno e eu sorri. Ele estava nervoso como se estivesse me entregando algo impróprio.

- Obrigada. - Levantei, indo até ele e beijei a sua bochecha de leve. Ele segurou a minha cintura, mas logo retirou a mão.

- Vai comigo para Toledo? - Perguntou e eu me afastei um pouco.

- Está tentando me comprar? Sérgio... - Ele negou rapidamente e eu sorri.

- Não. Só não acho necessário que você vá pegar um trem, sendo que eu posso te levar. Nós vamos para o mesmo lugar, não estou te fazendo favor nenhum. - Deu de ombros.

- Tudo bem. - Mordi o lábio inferior em um gesto nervoso.

- Sério?

- Vamos, antes que eu desista. - Bati em seu ombro com o caderno e ele sorriu. Peguei o meu blazer que estava em cima da mesa e coloquei a minha bolsa sobre o meu ombro. Descemos para o elevador e assim que entramos, o cubículo começou a encher de pessoas. A coisa foi apertando tanto que eu acabei pressionada contra ele de costas. Ele segurou a minha cintura em um gesto quase involuntário. Engoli em seco, ao sentir uma ereção começar a se formar em sua calça e ele respirou fundo e pesadamente. - Desculpa... - Sussurrei com um sorriso nos lábios.

- Eu sei que você não se sente culpada. - Sussurrou de volta em meu ouvido e eu sorri mais ainda. Ele desceu um pouco a mão e acariciou a minha coxa por cima da saia.

- Você fica ainda mais bonita com esse tipo de saia. - Comentou baixinho.

- Eu fico parecendo uma mulher de negócios safada, admita. - Ri e ele acabou rindo também.

O elevador abriu e aos poucos as pessoas foram saindo, e quando todas saíram, ele me virou para ele. Sorri com o movimento abrupto, mas ele estava sério. - Você me disse ontem que... - Eu coloquei a mão sobre seus lábios antes que ele terminasse de falar.

- Não vamos falar sobre ontem, por favor? O clima vai pesar e eu não quero viajar com você em um clima pesado. São quase quarenta minutos daqui para Toledo, não quero quarenta minutos de clima pesado.

- Raquel, não existe como nós não falarmos sobre ontem. - Disse sincero.

- Foi só uma transa. - Sorri tentando mudar o foco.

- Não é da transa que estou falando, e você sabe bem. É do que aconteceu depois da transa. Você disse que eu te machucava e que... - A porta do elevador se abriu novamente e eu saí dele praticamente correndo. Ele veio atrás de mim com um semblante cansado e nós só falamos um com o outro quando entramos dentro do carro. - Raquel... - Quando ele ia começar a falar, eu liguei o rádio, cortando a sua fala e ele me olhou com tédio. - Sério? - Ele perguntou. - Muito maduro da sua parte.

- Não consigo te escutar. - Respondi em um tom de voz mais alto do que o necessário e ele acabou se rendendo a brincadeira e sorrindo também. - Qual é a parte boa de viajar se não for escutando música? - Provoquei. Era uma música da Sia, Fire Meet Gasoline. Eu aumentei o volume do rádio e comecei a acompanhar a música e ele sorriu olhando para a estrada. - Para de rir de mim. - Brinquei e ele negou com a cabeça.

- Não estou rindo de você, apenas nunca vi você cantando com tanta animação antes. E achei bonito. - Olhou-me pelo espelho do carro e eu sorri. Retirei o blazer de cima do meu corpo, ficando apenas com a blusa branca de alças finas que eu havia escolhido e ele desceu o olhar para o meu decote no mesmo segundo.

- Cuidado, professor. Se não manter os olhos na estrada, a gente pode se machucar. - Ele me encarou pelo espelho do carro e eu sorri negando com a cabeça.

Me movimentei no banco do carro e suspirei quando senti os músculos das minhas coxas doerem um pouco.

- O que foi? - Perguntou sem olhar para mim, por conta da estrada que estávamos passando. - Algum problema com você? Está com alguma dor? Eu tenho remédios aqui no carro se forem dores de cabeça. - Disse atenciosamente e eu quase sorri.

- Ontem, quando nós transamos, você me machucou... - Respondi e ele arregalou os olhos e olhou para mim com preocupação. Por um momento, eu pensei que ele pararia o carro para me examinar.

- Eu te machuquei... aí embaixo...? - Ele desceu o olhar para o meio de minhas pernas no mesmo segundo e eu vi seu rosto corar, ele voltou o seu olhar para a estrada e eu ri.

- Não, Sérgio. Você não me machucou aqui embaixo... - Ri. - São dores musculares pelas posições um pouco desconfortáveis e pela força que você me apertava. - Suspirei lembrando da noite passada e aquela parte da noite eu amaria repetir. - Mas não é nada demais, é um machucado de sexo bem comum. - Dei de ombros. - E qual o problema de falar "vagina"? - Perguntei e ele suspirou, vi seu rosto corar novamente. Eu nunca o vi tão vermelho antes.

- Raquel... - Ele mantinha os olhos na estrada e nem possuía coragem de me encarar.

- Eu gosto quando você fica com vergonha. - Brinquei e ele sorriu também. - Homens não costumam ter vergonha por isso, mas você tem. Isso te torna especial...

- Eu já percebi que gosta de me ver com vergonha. - Sorriu também. - Mas se eu te machuquei, desculpa, eu nem pensei muito ontem e...

- Sérgio... esse é o tipo de machucado bom. - Revirei os olhos.

- E qual o tipo de machucado ruim? - Perguntou interessado e eu passei alguns segundos pensando se deveria responder ou não. Eu havia me negado a falar com ele sobre aquele assunto.

- Quando você não diz nada quando eu disse que te amava e que me machucava fazer isso. - Olhei para a estrada e ele continuou sem dizer nada, apenas com o olhar na estrada também. - Viu? Isso aí é um machucado ruim. Esse é o tipo de machucado que dói.

- O quer que eu diga, Raquel? Eu não estou pronto para isso ainda. É difícil para mim lidar com os sentimentos das pessoas e com os meus sentimentos. Amar inclui ser verdadeiro e... - Ele parou por alguns segundos sem saber como continuar aquela frase. - Eu não sei se poderei ser verdadeiro.

- Você não diz que gosta de mim e ao mesmo tempo não quer que eu saia com o Fabio e transa comigo toda vez que possui a oportunidade. - Disse de uma vez.

- Eu não consigo controlar o meu desejo por você, Raquel. - Respondeu sério. - E você também não colabora. E eu não confio no Fabio. Não é apenas ciúmes.

- Então, você assume que possui ciúmes? - Perguntei já um pouco exasperada.

- Sim, eu tenho ciúmes de você. Nunca neguei. - Admitiu. - E não é um ciúme possessivo, é que... eu não gosto da perspectiva do Fabio no meu lugar, de você vivendo com ele tudo o que viveu comigo. Raquel, minha cabeça praticamente ferve só de imaginar ele com você, fazendo as coisas que eu faço com você. Vivendo tudo o que nós vivemos.

- Então por que você não deixa de ser idiota e orgulhoso?

- Não é tão fácil assim e você sabe. - Disse sério. Ele fechou as janelas do carro assim que uma chuva começou e nós permanecemos em silêncio durante todo o final da viagem. Assim como eu não pretendia que acontecesse, o clima pesou, eu o sentia me olhar de soslaio e quando eu percebia que ele havia parado, eu espelhava seu gesto.

Quando chegamos ao final do trajeto, eu fui a primeira a descer e praticamente ia entrar correndo no auditório que iria haver a conferência, mas ele segurou o meu pulso, para que eu parasse. Um toque leve, apenas para que eu parasse de andar.

- É a primeira vez que vem para cá, seria bom ficar perto de mim. - Disse e eu sorri.

- Eu sei pedir informações. - Respondi com desdém. - E não há nada muito difícil, já fui em várias conferências na Alemanha e na França.

- Sim, mas vai precisar de um nome para entrar aí, e você está comigo. - Sorriu orgulhoso, como uma criança que havia ganhado um joguinho.

- Tanto faz, Sérgio. - Dei de ombros e nós entramos no local. Era um ambiente um tanto claro na entrada e havia uma moça loira atrás de uma mesa anotando nomes e entregando crachás de visitantes. Ela entregou um para mim e outro para Sérgio e sorriu docemente. Ele rapidamente prendeu o seu no bolso do paletó, mas eu tive problemas em prender o meu na blusa de cetim.

- Deixa eu te ajudar. - Ele delicadamente prendeu o crachá na minha blusa, mas quando terminou roçou os dedos levemente em meu seio. Sérgio retirou a mão de cima de mim como se eu estivesse pegando fogo.

- Ontem você estava com a boca nele. - Comentei e agora era ele quem parecia que iria entrar em chamas a qualquer momento. A jovem atrás da mesa nos encarou perplexa e eu sorri gentilmente.

- Ela é minha esposa. - Explicou e eu quase ri. - E não tem muito controle do que fala. Vamos, esposa? - Segurou a minha mão, me arrastando pelo enorme salão até que chegássemos ao auditório. A maioria das pessoas estavam em pé e conversando entre si.

- Esposa? - Perguntei, arqueando uma de minhas sobrancelhas.

- Queria que eu dissesse o quê? Que é minha aluna? Depois de você especificar onde eu estava com a boca na noite passada? - Perguntou irritado. - Nessas conferências, esses tipos de boato se espalham rapidamente e eu acho que ninguém precisa saber que eu durmo com a minha aluna. - Revirei os olhos e ele fez o mesmo.

- Okay, tudo bem. Seria ruim para a sua reputação. - Dei de ombros. - Está estressado?

- Hoje, você é minha esposa. - Sussurrou em meu ouvido. - Não posso mais te apresentar como minha aluna de doutorado. Hoje você é Raquel Marquina, estuda pós-doutorado e é casada comigo há dois anos. - Explicou como se eu tivesse quatro anos e eu odiava quando ele fazia isso.

- Temos filhos? - Perguntei zombeteira e ele me olhou sério.

- Não, não temos. - Respondeu e eu ri. Um homem se aproximou de nós com um grande sorriso no rosto. - Marquina... - Ele disse, mas mudou o foco do olhar quando me viu.

- Olá, Juan. - Sérgio estendeu a mão para ele com um sorriso quase cínico nos lábios. - Essa é a minha esposa, Raquel.

- Raquel Marquina. - Estendi a mão para o desconhecido e ele a apertou com um sorriso no rosto. Eu havia gostado de como “Raquel Marquina” havia soado e quase me repreendi por isso.

- Não sabia que você havia se casado. - Comentou com a testa franzida.

- Faz pouco tempo. - Respondeu com um sorriso fraco. O homem parou com os olhares insinuantes para cima de mim e conversamos por alguns minutos. O ciclo se seguiu, e depois de termos conversado com umas cinco pessoas, uma mulher se aproximou de nós. Ela era extremamente bonita. Tinha olhos castanhos claros e os cabelos de mesma cor, era alta e tinha um sorriso lindo. Usava uma blusa parecida com a minha, só que de cor preta, e assim como eu, também usava saia e saltos altos.

- Sérgio Marquina? - Perguntou interessada. - Eu sempre quis te conhecer. - Sorriu.

- Eu... - Sérgio começou sem saber exatamente o que falar.

- Onde estão os meus modos? Sou Rebecca. Vou ensinar na Universidade de Madri... começarei na segunda-feira. E eu sou fascinada por literatura e os seus artigos. - Ela desviou o olhar dele e olhou para mim. - Você é? - Perguntou educadamente, não havia nenhum desdém em sua voz.

- Raquel Murillo. - Disse o meu nome verdadeiro, pois se ela iria ensinar na universidade, não tínhamos como mentir para ela.

- A orientanda dele. - Sorriu, enquanto me olhava. - Sorte sua ter um orientador como ele.

- Você nem imagina. - Respondi sorrindo e Sérgio me olhou de soslaio. - Mas, como você sabe? Que eu sou orientanda dele? - Perguntei com um ligeiro interesse.

- Os boatos na universidade se espalham rápido. - Piscou um dos olhos.

- Que boatos? - Sérgio perguntou um pouco nervoso.

- Que você possui uma orientanda prodígio. - Sorriu.

- Também é da área de literatura? - Sérgio perguntou enquanto empurrava os óculos para trás.

- Na verdade, eu sou médica. Especialista em ginecologia, na verdade, porém eu adoro literatura.

- Espera, você é Rebecca Muller? Se especializou em orgasmos femininos? - Perguntei com um sorriso, já havia lido alguns trabalhos dela.

- Sim, eu mesma. Já leu algo meu? - Assenti e ela sorriu. - Li o seu artigo sobre Lolita e sexualização precoce. - Sorriu. - Muito inteligente e necessário. Gosto bastante da visão das mulheres nesses assuntos.

- Então você é uma médica fã de literatura... - Comentei a olhando.

- Sim... - Sorriu e mordeu o lábio inferior. - E do Sérgio Marquina. - Comentou enquanto o olhava e eu forcei um sorriso. Até seríamos amigas, se ela não resolvesse dar em cima de Sérgio. Ele nem mesmo percebia o que ela estava fazendo.

- Bom, eu acho que vai começar a primeira palestra e eu gostaria de começar a assistir logo. - Puxei Sérgio para perto de mim. - Vamos, professor? Até mais, Rebecca. - Acenei com a cabeça e eu e Sérgio fomos para o fundo do auditório, sentando um ao lado do outro. Eu não estava gostando daquela mulher e do jeito que ela olhava para Sérgio.

As luzes foram apagadas, restando apenas a iluminação do palco, e a apresentação começou com palestras de diferentes professores de diversos lugares, a maioria das palestras eram em inglês. Na segunda palestra meus olhos já pesavam de sono.

- Minha nossa, Sérgio, que tédio... - Sussurrei e ele me olhou de lado, até ele já estava entediado com aquelas palestras sobre literatura, linguagens, fonemas... - Você não me disse que iria ser tão entediante.

- Se eu dissesse, você iria fingir que estava doente para não vir. - Eu sorri com o comentário. - Eu também não gosto de vir para cá.

- É só um monte de phdeuses, explicando para outros phdeuses, como se dar uma aula. - Comentei e ele riu. Uma mulher olhou para trás com cara feia e nós nos calamos no mesmo segundo. - Aquela que está palestrando agora, ela é divorciada, chata... e odeia os alunos. - Sussurrei em seu ouvido. - Tenho certeza que ela já reprovou algum deles por causa de dois décimos.

- Aquela que atrapalhou a nossa conversa, ela com toda certeza não sabe usar um projetor. - Sussurrou em meu ouvido e eu ri contidamente, levando a minha mão a boca. Nos encaramos depois disso, nossas bocas bem perto uma da outra.

- Próximo palestrante de hoje, Sérgio Marquina. - O apresentador do evento disse e uma salva de palmas foi ouvida. Sérgio pareceu nervoso e até engoliu em seco por um segundo, eu assenti com a cabeça e ele saiu de perto de mim, indo até o palco.

Ele cumprimentou o púbico e começou a palestra sobre didática na sala de aula. Era interessante o quanto ele mudava quando estava dando aulas. Ele fazia uma brincadeira, uma piada, ria... ficava muito mais confiante, mais solto, mais leve e tornava a aula muito mais interessante de ser assistida. Eu não costumava acreditar em vocação, mas mudei de opinião ao conhecer Sérgio.

Ele possuía vergonha de pronunciar a palavra “vagina” em voz alta apenas para mim e agora estava em um palco sendo assistido por mais de cento e cinquenta pessoas sem nem mesmo gaguejar. Era complexo, muito complexo. Assisti a palestra dele do começo ao fim, e era incrível como nenhum professor conseguia manter a minha atenção por tanto tempo assim como ele fazia. Sérgio poderia liderar um assalto enorme e dar aulas sobre isso que eu e as outras pessoas manteríamos a atenção como se fosse a melhor coisa do mundo. Quando ele voltou a sentar ao meu lado, eu sorri para ele.

- Gosto muito de te ver dando aula. - Sussurrei. - Talvez eu tenha um fetiche por inteligência. - Sussurrei novamente, mas dessa vez bem perto de seu ouvido.

- Se chama sapiofilia... a atração sexual por inteligência. - Sussurrou de volta, bem perto de minha orelha.

- Você saber que existe um nome para esse fetiche, foi bastante sensual, sabe? - Brinquei enquanto sorria e ele sorriu também.

Outra palestra entediante começou e eu resolvi que não assistiria mais nada.

- Vou ao banheiro feminino. - Sussurrei e saí para o banheiro. Era um local em tons de branco e cinza e era bem moderno. Acendi um cigarro e comecei a tragar, liguei o celular e dei uma passada pelas mensagens. Algumas de Alicia, algumas de Fabio... Voltei a desligá-lo, mas voltei a ligar selecionando um joguinho de celular.

Eu realmente era patética.

Quando eu estava no terceiro cigarro, Sérgio apareceu no banheiro e fechou a porta atrás de si.

- Não pode entrar aqui, é um banheiro feminino. Não sabe ler a placa? - Perguntei com ironia.

- Você sumiu há cerca de meia hora, o que você está fazendo? - Indagou com um tom irritado em sua voz. - Eu já estava começando a ficar preocupado.

- “Angry Birds.” - Mostrei o celular para ele.

- Você devia estar assistindo aula e não fumando e jogando “Angry Birds”. - Disse sério e eu apenas sorri.

- Se eu ficasse mais um minuto naquele auditório, eu iria dormir. - Desliguei o celular e o coloquei de volta na minha bolsa.

- Você parece uma adolescente matando aula e não uma estudante de doutorado, Raquel... - Ele massageou as têmporas estressado. - Seu doutorado é daqui a menos de quatro meses e...

- Sérgio, se está incomodado assiste a aula, não estou te pedindo para ficar comigo. Eu tenho um celular, uma carteira de cigarros, um isqueiro... posso passar um bom tempo aqui. - Dei de ombros e ele se aproximou. - Quer um cigarro?

- Eu não sou um fumante, Raquel.

- Nem eu sou. - Traguei o cigarro mais uma vez.

- Por que você é assim? - Perguntou com certo tédio, e eu sorri.

- Você gosta.

- Não vamos começar com isso de novo. - Reclamou de forma séria. - Vamos voltar para o auditório. - Pediu calmamente e eu neguei com a cabeça.

- Não. - Apaguei o cigarro na parede do banheiro. - Não estou a fim. - Me recostei na pia e ele me olhou sério.

- Por que você tem que ser sempre tão difícil?

- Minha nossa, Sérgio. A vida é minha, o doutorado é meu.

- É. Mas eu me preocupo... - Assumiu enquanto mexia na gravata que parecia de alguma forma desconfortável em seu pescoço. Fui até ele, e retirei suas mãos do tecido, ajeitando a gravata em seu pescoço.

- Você está muito nervoso. - Sussurrei.

- Você sempre me deixa assim. - Respirou fundo. Alcancei a sua mão que estava ao lado de seu corpo e a segurei na minha, acariciando a palma. Ele entreabriu os lábios e eu o puxei para um beijo que havia começado devagar, mas foi se tornado rápido. Quando nos soltamos, ele me encarou sem saber exatamente o que dizer. Nós prometíamos em um dia que não faríamos mais aquilo, e logo depois estávamos fazendo novamente.

- Que tal irmos embora? - Perguntei com um sorriso malicioso nos lábios. Ele me encarou por alguns segundos e depois pareceu pensar na proposta.

- Bom, eu já palestrei e quem vai assinar o documento atestando que você esteve aqui será eu. - Sorriu de lado.

- Sérgio, você quer fazer coisas erradas? - Brinquei. - Me sinto culpada por te levar para esses caminhos.

- Nem eu aguento mais assistir a aquelas palestras, Raquel. - Sorri. - E tecnicamente não é errado, pois nós estivemos aqui. - Empurrou os óculos para trás e sorriu novamente. - Só iremos sair umas três horas mais cedo. - Desceu o olhar para o seu relógio de pulso. - Minha nossa, três horas... - Passou a mão pelos cabelos.

- Okay. Vai na frente e me espera no estacionamento. - Ele assentiu e uma mulher entrou no banheiro, olhando para nós dois com desconfiança.

- O meu marido só veio trazer a minha bolsa, ele já está indo embora. - Disse olhando para ela, e a mulher assentiu, entrando em uma cabine em seguida. Sussurrei um “vai” para Sérgio e ele saiu do banheiro, esperei alguns minutos e fui até o estacionamento. Ele já estava dentro do carro, então apenas abri a porta, entrando ao seu lado.

- Vamos voltar para a universidade e estudar? Dar uma volta em Toledo? Ir transar em uma rua deserta? - Ele estreitou os olhos para mim quando eu terminei de dizer a última frase. - É brincadeira. - Sorri.

- Acho que é melhor apenas irmos para casa.

- Tudo bem. - Assenti e acendi mais um cigarro.

- Minha nossa, Raquel. Para de fumar, é o quinto hoje? - Perguntou e eu assenti. - Cuide de seus pulmões...

- É o último do dia. - Tossi um pouquinho e ele me olhou entediado, dando partida em seguida. Liguei o rádio novamente e aumentei o volume ao ouvir “Total Eclipse of The Heart”.

Acompanhei a música e ele sorriu novamente, assim como havia feito pela manhã e me encarou pelo espelho. - Tenho certeza que você conhece essa... - Comentei e ele assentiu. - Por que não canta comigo? - Perguntei eufórica, ele me olhou com repreensão como se eu tivesse pedido algo muito difícil e incomum. Ele tentou por alguns segundos, mas era difícil para ele acompanhar o ritmo da música.

- Você está rindo de mim. - Comentou com um semblante desanimado e eu gargalhei.

- Não Sérgio, é que é engraçado o seu esforço. Você não costuma cantar?

- Só canto uma vez no ano no aniversário da Sara, canto parabéns para ela. - Sorri negando com a cabeça. - Só canto para ela porque a amo muito, eu odeio a minha voz tentando acompanhar um ritmo e não conseguindo.

- Você cantou para mim também. - Ele pareceu se dar conta do que havia feito, então limpou a garganta, procurando um argumento para sair daquela situação.

- Porque você é muito insistente, parece a Sara. Por isso vocês duas se deram tão bem. - Revirou os olhos. - Por falar nisso, ela sempre pergunta por você.

- É, a Silene me contou. - Sorri. - Ela até me convidou para ir lá novamente, mas como você estava me evitando, eu não quis topar com você. - Suspirei.

- Eu não estava te evitando...

- Sérgio, não precisa se justificar. Nós terminamos... seja lá o que nós tínhamos. - Respirei fundo, tentando não tocar mais naquele assunto. - A Alicia me convidou para ir a aquele bar ao lado da faculdade depois que a conferência terminasse. Quer ir comigo? - Perguntei.

- Eu não sou muito de bares. - Assumiu e depois olhou para mim. - Tudo bem, vamos. - Eu sorri olhando para a estrada. O restante da viagem passou mais rápido, pois conversamos durante todo o trajeto. Chegamos na frente do bar e eu soltei os meus cabelos que estavam presos em um coque e retirei o blazer, o jogando no banco de trás do carro dele.

- Tira o paletó. - Pedi e ele negou. - Assim você fica parecendo um professor.

- Eu sou um professor.

- Eu também sou, mas não quero parecer uma em um bar em uma sexta-feira à noite. - Sorri e ele assentiu, retirando a gravata e o paletó. - Eu vou sair primeiro, já que não é muito bom sermos vistos saindo juntos do seu carro.

- Tudo bem, eu te vejo lá dentro? - Perguntou e eu assenti, quando ia saindo do carro, ele segurou o meu pulso em intenção que eu o olhasse.

- Eu... - Começou, mas sua voz falhou um pouco. - Você está bonita. Na verdade, você é bonita, para ser sincero. - Sorriu de lado. - Queria dizer isso desde que te vi hoje pela manhã. Eu até disse, mas só falei da saia, então...

- Você também está bonito. - Confessei e ele sorriu. Desci do carro e assim que entrei no bar vi Alicia, Andrés e Mônica sentados perto do balcão.

- Hum, você já chegou? - Andrés perguntou estreitando os olhos.

- Sim, hoje a conferência foi mais rápida. - Sorri e ele assentiu, sem acreditar em uma palavra que havia saído da minha boca.

- Por que foi mais rápida? - Perguntou me olhando sério.

- Um dos professores palestrantes, faltou. - Sorri e ele assentiu, mas eu sentia que ele ainda não havia acreditado em mim. Sérgio entrou pela porta do bar alguns segundos depois e sentou-se ao meu lado, já que era o único lugar disponível perto de nosso grupo. Ele cumprimentou a todos e Andrés sorriu cínico para mim, Alicia já devia estar no segundo copo de bebida.

- Esposa, vai com calma. - Andrés pediu e ela negou com a cabeça e em seguida o beijou na boca. Eu franzi a testa e vi Sérgio fazer o mesmo movimento.

- É verdade, é melhor você ir com calma. - Levantei a sobrancelha em uma conversa quase implícita com Alicia e ela assentiu, colocando o copo de bebida de volta no balcão. Andrés estreitou os olhos com desconfiança para nós duas, porém ela apenas sorriu e selou os lábios com os dele mais uma vez naquela noite. Com toda certeza, ela não havia contado a grande novidade.

- Tem uma coisa que eu sempre quis perguntar para você. - Sérgio aproximou a boca do meu ouvido para sussurrar. Eu sempre me arrepiava com aquele movimento e às vezes acreditava que ele nem tinha noção do efeito que causava. Ele não era um grande sedutor experiente, então fazia aquelas coisas por pura inocência e só percebia o que havia causado, depois de já ter acontecido. - Como eles eram no ensino médio? - Apontou para Alicia e Andrés.

- Do mesmo jeito que são hoje, só que jovens. - Brinquei. - Alicia era muito ciumenta e eles viviam ficando e se deixando. - Sorri. - Eu nunca achei que eles fossem namorar sério, mas na faculdade os dois se firmaram. - Um jazz tocava no bar e Alicia acompanhava a música. - Quer pedir alguma coisa? - Passei uma de minhas mãos por meus cabelos e ele assentiu.

- Uísque. - Eu assenti, e pedi dois copos de uísque para o barman. Do outro lado do bar, algumas pessoas brincavam de tiro ao alvo e um pouco mais perto havia uma competição de xadrez. O namorado de Mônica entrou no bar e ela levantou da cadeira para ir dançar com ele. Deixando nós quatro sozinhos.

- Xadrez é a luta livre dos nerds. - Alicia comentou e eu ri.

- Sou boa em xadrez. - Comentei.

- Verdade, porque não participa da luta livre com os nerds? - Perguntou e eu dei de ombros.

- Hum, por que não? - Levantei do pequeno banco e Alicia me olhou incrédula.

- Era brincadeira. - Disse séria. - Vai beber, Raquel. Você não veio a um bar para jogar xadrez, veio? - Perguntou e eu sorri.

- Talvez eu queira. - Dei de ombros. - Quer ser o meu oponente, Sérgio? - Perguntei e ele me olhou surpreso, mas um sorriso presunçoso logo brotou em seus lábios.

- Você perderia. - Disse e eu arregalei os olhos, rindo logo depois.

- Raquel, este homem te desafiou, eu não deixava assim. - Alicia disse enquanto sorria.

- Nem eu, Raquel. - Andrés comentou com um sorriso cínico. Eles eram ótimos em acender o que já estava pegando fogo.

- Pois bem, nós vamos - Levantei uma de minhas sobrancelhas.

- Okay. - Ele disse e nós dirigimos para o local do bar onde estava havendo a competição de xadrez. Havia uma grande porcentagem de homens no local e logo me olharam como se eu fosse de outro planeta. Todos sabiam da famosa inteligência do Marquina, então assumiram que eu perderia.

- Ainda dá tempo de desistir. - Sussurrou me olhando.

- Digo o mesmo para você. - Nós nos encaramos e aquela faísca que sempre se acendia quando discutíamos ou quando debatíamos um assunto com um ligeiro tom de flerte, se acendeu novamente.

A primeira jogada, ele estava na frente. Na terceira, eu já o havia passado. A pequena platéia que nós tínhamos formado ao nosso redor parecia surpresa, e até Alicia havia saído de onde estava para nos observar melhor.

O xadrez era um jogo de estratégia, quem tiver a melhor vence, e dava para perceber que ele era muito bom no jogo. Muito bom em estratégia.

Nós estávamos praticamente empatados, era um tão bom quanto o outro e isso tornava o jogo ainda melhor, pois claramente ativava o nosso lado mais competitivo. Ele me olhava nos olhos a cada jogada e às vezes eu o olhava desacreditada por causa de suas jogadas inteligentes.

Mais uma jogada, duas, três... e xeque mate.

Eu havia vencido Sergio Marquina. Pelo menos no Xadrez.

A pequena platéia ao nosso redor tornou-se barulhenta, e acabou desviando a atenção de nós dois. Haviam feito apostas em nós dois, e agora discutiam quem havia ganhado de quem.

- Parabéns, senhorita Murillo. Porém, eu acho que irei querer uma revanche. - Disse com um meio sorriso e em seguida empurrou os óculos para trás. Era um gesto que comumente me irritava, mas passou a ser charmoso com o tempo.

- Eu acho que já chega de revanches entre nós dois. - Respondi e levantei da cadeira, voltando para perto do balcão do bar com a Alicia. Ainda olhei para trás para saber se ele ainda me observava, e ele estava me observando.

- Minha nossa, vocês exalam tensão sexual. Até mesmo jogando xadrez. Jogando xadrez. - Negou com a cabeça. - É sério, Raquel. Aquilo foi... sexy. A sua confiança, a dele. A inteligência, os olhares, as estratégias... eu não te culpo de querer jogar o diploma para o alto. Eu fiquei com calor. - Ri e ela me acompanhou.

- Imagina como eu devo estar, não é? - Afastei um pouco o decote da blusa e ela me olhou séria.

- Eu não sei como te aconselhar, sabe. Acho que perdi a minha habilidade com bons conselhos quando vi vocês praticamente transando por telepatia. - Sorri e ela negou com a cabeça. - São assim as preliminares de vocês?

- Talvez você tenha bebido um pouquinho demais, Alicia. O que não é muito legal já que agora você tem um bebê. - Sorri irônica e ela revirou os olhos.

- Para de me lembrar disso, Raquel. - Pediu.

- Você não poderá esconder isso para sempre. Vou ao banheiro, preciso passar uma água no meu rosto. - Disse e ela assentiu. Quando eu estava no corredor, Sergio me interceptou, puxando o meu braço com certa força, mas não o suficiente para me machucar. - O que foi, professor? - Perguntei e ele me soltou.

- O que foi aquilo? - Perguntou sério, mas não possuía um tom rude em sua voz.

- Jogamos xadrez?

- Sim, eu sei. Mas é que você está me tratando normalmente como se ontem não houvesse dito que me amava. - Disse de uma vez e parecia que ele havia se livrado de algo que estava inteiramente preso dentro dele, e agora já não estava mais.

- O que quer? Que eu fique com raiva de você? Você não é obrigado a corresponder os meus sentimentos. Ninguém é obrigado a corresponder os sentimentos de ninguém. - Sorri e acariciei o seu rosto, ele segurou a minha cintura e de repente nós estávamos muito perto. O corredor era parcialmente escuro, então era um pouco difícil para nos vermos. - Eu não vou ficar com raiva de você, Sérgio. A minha raiva de você é momentânea... eu tenho vontade de te matar, só que passa tão rápido... - Deslizei as unhas por um lado de seu pescoço e ele me colou mais ao seu corpo. Eu levantei um pouco a cabeça e o puxei para um beijo delicado, mordendo seu lábio inferior sem nenhuma força. O jazz ainda tocava no bar, tornando a atmosfera entre nós dois muito sexy.

Trocamos mais um beijo, em um completo silêncio.

- Não é isso, eu só preciso conversar. Nós precisamos conversar. Raquel, eu quero falar sobre nós dois. Existe um nós dois, não existe?

- Você quer falar sobre nós dois, mas eu nem sei quem é você de verdade. Quem é você? Sérgio? Salvador Martín? O meu professor? - Perguntei calma, mas trazendo toda uma verdade que precisava ser dita. - Não vai existir nós dois se não formos claros. Então, enquanto isso não acontece, eu vou seguir em frente.

- Raquel, me escuta...

- Me deixa ir, vamos fingir que nada aconteceu, por favor, não me machuca mais. - Algumas lágrimas se formaram em meus olhos e eu os limpei. - Eu só quero terminar a minha tese e fingir que nada aconteceu. - Confessei e ele abriu a boca surpreso. - Provavelmente eu irei ensinar em outra universidade, então eu irei ficar longe de você.

- Raquel, eu não quero que você vá ensinar em outra universidade quando isso acabar. Eu quero esperar a sua tese acabar. Quando ela acabar podemos fazer o que quisermos...

- Sérgio... Amar inclui ser verdadeiro, você me disse isso hoje. E você também me disse que não está pronto para isso. Eu não sei se aguento mais esperar você se decidir. - Disse aquilo e saí de perto dele, voltando ao balcão do bar e pegando a minha bolsa.

- Você já vai? - Alicia perguntou surpresa e eu assenti. - Raquel, você está chorando? - Perguntou exasperada e eu limpei o meu rosto com as duas mãos.

- Está tudo bem, só preciso ir para casa. Irei pedir um táxi. - Sorri e saí do bar, pedi um táxi, e mesmo quando entrei nele, uma parte de mim desejava que Sérgio viesse até mim. Mas eu sabia que ele não viria.

[...]

Já passava da meia-noite quando a minha campainha começou a tocar como se alguém estivesse morrendo do outro lado, quase verifiquei o celular para saber se havia alguma chamada perdida ou algum recado informando que alguém da minha família havia batido o carro.

- Já vai... - Disse impaciente e fui para a porta de camisola mesmo. Quando a abri, me surpreendi em ver Sérgio parado do outro lado com uma garrafa de vinho em uma das mãos e uma embalagem com chocolates artesanais na outra.

- Seu irmão disse que você não gostava de flores porque achava brega, mas ele disse que você gostava de vinho, chocolate e sinceridade. - Engoliu em seco, ele estava claramente nervoso por estar ali. - Eu vim aqui para ser sincero com você. - Abaixou um pouco a cabeça. - Ser sincero sobre os meus sentimentos, sobre o meu passado... Eu estou pronto para estar completamente vulnerável na sua frente e eu já não me importo com as consequências. Eu só não quero continuar longe de você e nem continuar escondendo coisas de você. Porque eu percebi que... tudo na minha vida é melhor depois que eu me apaixonei por você, Raquel. Eu não quero mais te machucar e nem me machucar. Eu quero estar com você, mesmo que seja errado, que seja proibido. Eu não me importo. Eu estou pronto para ser... o que você quiser que eu seja na sua vida. - Ele sorriu logo após dizer isso, um sorriso genuíno e sincero.

Eu o olhava perplexa e nem sabia que reação deveria ter. Sérgio, o homem que disse não querer relações pessoais comigo, estava na minha porta com vinho e chocolate me dizendo que estava apaixonado. Me dizendo que queria me confessar tudo o que sentia, e eu já não sabia se deveria ficar feliz ou amedrontada pelo que vinha.



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