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História Take me to Church KatsuDeku - 20.5. (Nós)


Escrita por: Marta_Tata

Notas do Autor


PERDOEM O ATRASO COLOSSAL! Culpem a faculdade!!

>O capítulo de Halloween VAI SIM ACONTECER! Só um mês atrasado ~risos nervosos~

>Já estou a 10k do outro capítulo, então ele logo logo aparece <3


**Leiam a ouvir "Cut my Hair - Cavetown". Faz sentido com a história**

Capítulo 31 - 20.5. (Nós)


Fanfic / Fanfiction Take me to Church KatsuDeku - 20.5. (Nós)

Eu odeio-te.
 

Um "odeio-te" tão forte que chego a amar-te e preciso de ti. Parece clichê, não faz sentido mas eu também não e normal no dicionário está como o oposto domeu nome, então finge que está tudo bem.
 

Está tudo bem.


Oponho-me a ti.


Sou doente.


Não há mentra nenhuma nisso. Filhos são mesmo assim, revoltam-se por coisas fúteis e choram por coisas mais fúteis ainda.


Como eu agora.


Sempre que choro, dizes sempre o mesmo - está tudo bem, querida - e eu engulo sempre em seco, encaro medrosamente os verdes olhos que sorriem à minha frente e tenho que acreditar em ti. Digo que sim, conto o que aconteceu e acredito em ti para este segredo silenciosamente morrer nas nossas campas.


A nossa mentirinha estúpida. Lembraste? Sugeriste quando eu era pequena e te menti sobre a minha negativa no teste.

Prometemos a vida toda contar uma só mentira. Apenas uma. Claro que o teste não conta, tu disseste, mas contou a partir dali. E quando a contassemos, acabaria a única oportunidade para omitir algo impotante.


A minha mentira é que te odeio.


Estou sentada a olhar para ti. Sinto os teus braços me consumirem, me tomarem como tua e dizer que está tudo bem, qando não está; com aquela tua voz falha que te enganas a ti própria. Os teus olhos choram mas tu não; como se o que sentisses fosse oposto do qu mostravas, dizeres ser forte, o meu porto seguro e salvação.


Quem-me dera devolver-te o amor que depositaste dentro de mim.


Disseste mais uma vez, enquanto eu estava deitada naquela sala que me assutava, que ia ficar tudo bem.


Eu acreditei em ti.


As pedras são frias, sabes? Não gosto quando elas refletem o teu sorriso, o teu nome. Nã combina.


O meu coração está rápido e as minhascordas vocais explodem de dor. Tento abraçar-te tantas vezes nem isso me vale de
consolo, por ouvir-te soluçar ao meu ouvido. Ou acho que ouço, eu não sei.


Eu odeio o meu coração. Eu odeio-te.


Eu sou doente.


Eu não te pedi isso. Eu implorei-te para não me dares o teu coração.


Tu prometeste que não.


E essa foi a tua mentira, mãe.


Não faz mal. Eu odeio-te.


E essa foi a minha.

(...)

Ochaco soluçou baixinho, passando os dedos pelo relevo da pedra gelada com o nome da sua mãe gravado.

Não emitiu um som, mas talvez a mãe pudesse mesmo ler pensamentos por acertar sempre. Uraraka sorriu apesar de tudo e pousou a carta frente à lápide.

" - ...A vitória contra uma doença não sabe a mesma coisa sem ti, mãe".

Levantou-se e saiu, respirando fundo pra enfrentar mais uma semana possivelmente conturbada.

Sentia o peito pesado e apertou a camisola, fechando os olhos para se acalmar. Ficava sempre muito incomodada sempre que entrava por aquele portão metálico e só conseguia se sentir descansada quando chegava a casa e cheirava as almôndegas que o pai fazia todos os sábados, por saber que era a comida favorita da filha.

Ochaco parou os passos muito rapidamente e limpou as lágrimas, surpreendendo-se ao reconhecer quem estava ainda a uns bons metros à sua frente. Estava tão aérea que nem percebeu que estava quase à saída.

" - Mina...".

Murmurou. Ficou sem saber se deveria ir falar com ela ou não, ao ver a sua amiga ao longe e pousar um buquê de flores sobre duas campas, lado a lado.

Conhecendo-a como a conhecia, Ashido odiava estar sozinha. Em contrapartida, era um momento delicado, ela podia querer estar isolada para conversar com os seus pais.

Contraiu os lábios. Ochaco sabia que não devia, mas as suas pernas começaram a andar na direção da melhor amiga sem conseguir parar. 

" - Hey". - Chamou.

Levantou o rosto e olhou para trás, identificando Uraraka com um sorriso amigável e acenando freneticamente de nervos. A outra mão estava atrás do corpo e parecia sem saber o que dizer.

Ashido sorriu mais.

" - Hey". - Disse também.

Nenhuma disse nada por uns segundos.

Mina virou-se um tempinho depois para a frente e ficou quieta, ainda com os joelhos dobrados. Ochaco mordeu o interior da bochecha e tentou pensar em algo para acabar com aquele silêncio mortífero.

" - Se quiseres... Ir comer qualquer coisa juntas, se calhar seria bom, não?". - Sugeriu, exibindo um sorriso pequeno e apontando com o polegar para um dos lados. Inclinou a cabeça para o lado tentando desviar o assunto. - "Abriu um restaurante take away pequenino aqui ao lado. Podíamos--".

" - Estou bem, obrigada".

Uraraka calou-se. Mina lá se levantou, sorrindo a mostrar os dentes todos para ela.

" - A sério. Estou mesmo. Não te preocupes". 

Ochaco não ficou convencida, mas também decidiu não insistir por hora. Quando fosse preciso, sabia que ela se iria abrir para quem quisesse e quando desejasse. Ashido olhou para o lado como se procurasse o que a amiga tinha vindo lá fazer.

" - Também vieste... Visitar?". - Perguntou devagar, mesmo que já soubesse da resposta. Ela assentiu como resposta e suspirou.

" - Já estou melhor que no último mês". - Foi completamente sincera, olhando para baixo. - "É sempre... Complicado. Às vezes fico melhor, outras vezes pior. Fica estranho lá em casa sem ela, sabes?".

" - Como eu te entendo". - Mina libertou uma risada nasalada e abraçou os ombros da amiga com um braço, puxando-a para si numa gargalhada quase muda. - "As coisas ficam chatas sem os pais lá em casa também. Eu e as minhas irmãs agora andamos afastadas e sinto-me mais sozinha. Mas como eu vos tenho a vocês, as coisas parecem melhores com o tempo. Acho que lentamente vamos aceitar estas mudanças".

De início, Uraraka não respondeu.

" - Eu... Acho que percebo o que queres dizer". - Permitiu-se encostar na amiga enquanto lhe sorria e quase se desequilibrou quando Ashido gargalhou e começou a andar num empurrão.

" - Eu já almocei". - Admitiu, encarando-a. - "Por isso é que disse que não. Mas isso não me impede de irmos para algum café afundar-nos em bolos".

Ochaco deixou um sorriso lento crescer de orelha a orelha, caminhando para fora do cemitério.

" - Feito".

(...)

" - Eu já te disse que não é nada disso". - Mina revirou os olhos enquanto se ria a olhar para o seu bolinho.

Ochaco apertou os olhos num sorrisinho malicioso.

" - Tu não me enganas".

Ashido suspirou e desviou a vista, pousando o garfo sobre a torta de doce de ovo ligeiramente incomodada.

" - Podes deixar o Todoroki fora disto?". - Murmurou corada enquanto Uraraka se inclinava com um sorriso ainda maior sobre a mesa.

" - Vá lá, conta. Sabes que eu nunca vou abrir a boca".

Quantas vezes Mina já tinha suspirado? Encostou-se na cadeira enquanto fechava os olhos e massageava as duas têmporas com os dedos.

" - Ochaco, tu hoje estás impossível". - Sibilou enquanto a amiga ria pelo nariz.

" - Cala a boca e conta!". - Bateu com força na mesa chamando a atenção de toda a gente e Mina resmungou, derrotada. Cruzou os braços e encarou-a, começando a falar.

" - Como tu sabes, eu comecei a gostar do Todoroki no primeiro ano". - A amiga acenava positivamente com a cabeça a cada palavra. Corada, quase gritou. - "Não precisas de fazer isso a cada coisa que eu digo!".

Inspirou fundo para fechar os olhos e arrancar um pedacinho do bolinho com o garfo e enfiar na boca, apoiando a cabeça com a outra mão.

" - Como somos amigos desde pequeninos, eu achei que fosse dar em alguma coisa... Só que é estranho o que eu sinto por ele. Eu gosto dele mas só quero amizade. Sabes que eu não quero namorar com ele, tanto que até o apoiava com o Izuku. É como se eu só amasse o Todoroki versão amizade e odiasse a versão Todoroki namorado".

" - Uhm...". - Uraraka bebericou o seu leite com chocolate, pousando o copo e olhando para a desanimação de Ashido. - "Mas porque? Eu sempre te ouvi dizeres isso. Não faz muito sentido gostares de alguém e não quereres namora--". - Permitiu-se interromper a si própria, semicerrando os olhos. - "Isto é algum síndrome dos nossos amigos ou quê?! Pareces o Deku-kun e o Katsuki!".

Mina não conseguiu evitar o riso.

" - Eu não sei explicar. Sinto que, em parte eu só gosto dele como amigo. Não acho que vá amar o Todoroki versão namorado, entendes? Idealizar-me com ele e aos beijos é... Desconfortável. Eu quero é ficar com o Todoroki amigo para sempre. Eu nem sei se isso se chama de amor, ou se só estou confusa ou sou algum tipo de ser assexual ou trouxa, eu não sei. Em momento algum senti ciúmes do Izuku e na verdade até gostava deles juntos, ele conversava mais no grupo".

" - E agora...". - Uraraka foi logo interrompida por um suspiro dela, voltando a beber o seu lanchinho.

" - E agora está naquela depressão constante que vemos". - Suspirou, descontraindo os ombros. - "Ele diz que já passa, mas eu não sei se é bem assim... Ele ficou do nada tão triste. Podia até ser por ter perdido o Izuku, mas até foi ele que acabou e pelo que entendi, não tem nada a haver. Há alguma coisa que ele está a esconder e eu quero ajudá-lo". - Apertou os punhos sobre a mesa e fechou a cara, irritada. - "É tão... Frustrante".

" - Bem... Pode não ser diretamente o Deku-kun". - Torceu o nariz e tamborilou os dedos na mesa, a murmurar. - "Mas pode estar relacionado. Ele podia ter-se apaixonado por outra pessoa, quem sabe. E essa pessoa podia não dar para namoros, como tu com ele. Ou ele não sente vontade de ter algo, ou não tem coragem ou é realmente um daqueles amores clichês impossíveis. Também podia ter acontecido alguma coisa na sua vida. Eu sei lá. Ele é tão reservado... Não dá para saber no que ele está a pensar".

Ashido olhou para ela quase sem acreditar.

" - ...Imaginar o Todoroki apaixonado é estranho. Ele sempre foi um miúdo muito calado e quase nem mostra sentimentos. Para ele estar triste e mostrar, então tem de ser algo mais pesado que uma simples paixoneta".

Ochaco subiu as sobrancelhas, surpresa.

" - Bem... Só sei que a festa dele é a nossa última cartada para o animar". - Terminou de beber o leite achocolatado numa pausa, batendo com o vidro com força na mesa e um sorriso enorme. - "E tu devias conheces mais rapazes".

" - Eu?". - Arqueeou uma sobrancelha. - "Lá por ser das únicas heterossexuais deste grupo, não significa que vá agora pertencer ao surto de namoros constantes que começou de um dia para o outro. A Jirou e a Momo estão juntas, o Izuku e o Katsuki também... Ochaco, eu não tenho tempo para isso". - Terminou a revirar os olhos e prestes a comer uma garfada do bolo, que foi intercetada pela amiga ao roubar o garfo e enfiar na própria boca. - "Hey, isso era meu!".

" - Se não tens tempo para a tua vida amorosa, também não tens para bolos". - Puxou o prato para si a rastejar pela madeira e Mina suspirou, cedendo.

" - Talvez eu esteja destinada a viver sozinha com sete gatos e a morrer a um canto com noventa e três anos, virgem e que só beijou dois rapazes na vida". - A meio do desabafo, pousou a cabeça nas duas mãos e voltou a suspirar.

" - Quanto drama, céus". - Ochaco foi quem revirou os olhos agora. - "É uma questão de tempo até encontrares alguém. Os meus pais só se conheceram na faculdade, por exemplo!". - Sorriu um pouco mais, espetando um pedaço do bolo no garfo e levando até perto de Mina. - "Vá lá, ambas sabemos que isso não é verdade! Vais encontrar alguém ainda. Olha, faz como a Momo e arranja alguém completamente fora dos teus padrões heterossexuais e descobres que és bi".

Ashido riu-se e aceitou o bolo, comendo enquanto negava com a cabeça.

" - O desespero chegou ao nível que eu já tentei ter algo com a Jirou, então esquece".

Uraraka quase partiu o prato com o berro que deu, depois de praticamente cair sobre a mesa.

" - Calma, calma!". - Gargalhou a esbracejar, divertida. - "A Jirou tinha levado uma tampa e eu estava carente. Até combinámos que não ia interferir em nada da amizade e sem namoros, só porque sim. Só que... Não deu. Estávamos no cinema e quando tentamos beijar, começamos a rir e a Kyoka disse-me que eu era bonita e tal, mas não dava. Parece quase incesto, sabes? Considero-vos a vocês todas minhas irmãs. As minhas irmãs a sério. Então, comprámos mais pipocas e vimos dois filmes".

" - Sinto-me lisonjeada em parte pelo elogio e metade traída por não saber dessa história". - Sibilou a espetar o garfo no ar e na sua direção, quase como ameaça. 

" - Nunca perguntaste". - Sorriu pelo canto dos lábios, mas teve de se desviar de um talher voador que acertou o homem atrás e Uraraka pediu muitas desculpas.

(...)

Ochaco riu-se tão alto que um pombo se assustou mais à frente e quase foi atropelado, mas quando voou em liberdade, elas voltaram as duas a ter um ataque de risos.

" - E-Estávamos a falar de quê?". - Perguntou Mina a respirar fundo para tentar se concentrar. 

" - Não me... Lembro". - Uraraka limpou as lágrimas toda agarrada à amiga. - "Mas--".

Ouviu-se um barulho elevado de alguma coisa se partir logo acima delas. Ochaco subiu os olhos confusa enquanto Ashido continuava a rir e arregalou os olhos.

Empurrou com força a amiga para trás, que caiu no chão de olhos fechados. Alguma coisa caiu à sua frente num estrondo e arregalou os olhos ao reconhecer o que era.

" - Mas o que...". - Não teve tempo para pensar e olhou para Uraraka. Ia gritar o seu nome, mas ficou aliviada ao perceber que escapara por centímetros. - "Meu Deus! Tu estás bem?!".

Levantou-se para a ajudar, vendo vidros espalhados em torno das duas. Ochaco nem conseguia dizer nada de choque, parada por segundos.

" - ...Quem raios atira um sofá para fora da janela?!". - Berrou finalmente, a olhar para a mobília velha. Tinha um cheiro extremamente forte a mofo e mais alguma coisa que não reconheceu. Estava sujo, furado e agora partido ao meio.

Mina engoliu em seco.

" - Devíamos alertar a polícia". - Disse ao olhar para cima e ouvir o barulho extremamente alto de alguma festa, possivelmente, graças à música. - "São duas da tarde quase e já causaram estes estragos?! Podiam ter-nos matado, sei lá".

Ashido não respondeu.

" - ...Mina?". - Chamou, encarando-a e abanando a mão frente ao seu rosto. - "Estás aí? O sofá voador magoou-te?". - Perguntou preocupada, por mais que a pergunta fosse engraçada.

Ela abriu a boca para dizer alguma coisa, mas os gritos eufóricos do último andar daquele prédio a desfazer-se fizeram-na arrepiar e morder o interior da bochecha.

" - Que gente... Louca". - Riu-se quase de nervos, fazendo Ochaco perceber que alguma coisa não estava bem.

" - ...Tu conheces estas pessoas?". - Perguntou preocupada, baixando-se um pouco para conseguir olhar nos seus olhos cor de mel que fitavam o chão. - "Tu vives por aqui, não vives? Fizeram de propósito? Pareces assustada... Estás branca. Mina, eu--".

" - É o meu sofá".

A sua voz saiu falha e muito baixa, fazendo Uraraka interiorizar o que estava a acontecer. Era o sofá da Mina. O sofá voador e assassino da Mina. 

Arregalou os olhos e agarrou no seu rosto em choque, ficando agora frente a frente a ela, quase a tremer.

" - Espera... Eu acho que entendi--".

" - É... A minha casa".

Confirmou, estática e a olhar para o nada. Uraraka agarrou mais na sua face e enterrou os dedos por entre os seus cabelos rosas e rebeldes.

" - Quem é que está a destruir a tua casa?!". - Gritou de raiva, agarrando na sua mão com força. - "Esquece, vamos subir! Eu vou tirar isto a limpo! Ninguém destrói a tua casa sem um processo em cima!".

Queria tanto ter argumentado contra.

Uraraka não precisava de saber.

Uraraka não precisava de saber que as suas irmãs eram umas drogadas de merda. Que só queriam saber de festas e mais festas. Que aquilo tudo era normal.

Tentou dizer alguma coisa e gritava por dentro para falar, mas não conseguia. Era como se estivesse bloqueada. 

Uraraka ia descobrir.

A porta de entrada do prédio estava sempre aberta e Ochaco imediatamente reconheceu ser um bairro problemático, mas não quis dizer nada. Manteve a postura séria. Subiram as escadas e a música estava cada vez mais forte. Mina transpirava mais e mais, tentando pensar numa desculpa. Alguma reação bastava, mas a cada lancil de escadas, a sua garganta secava mais. A sua amiga ia descobrir. Ninguém podia saber.

Mina não queria voltar para o centro de adoção novamente.

Nas escadas e quase no primeiro andar, o cheiro a tabaco era tão forte que Uraraka tapou o nariz e olhou para a melhor amiga chocada. Aqueles estragos não podiam ser de só umas horas fora de casa. Impossíve. A pergunta dos seus olhos era silenciosa e queria perceber o que se estava a passar. Ashido não abriu a boca, continuando pálida e sem se mexer mais do que o necessário para andar, sendo constantemente arrastada por ela.

Ochaco, de início admirou-se com as sobrancelhas para cima ao ver que não havia porta de casa. Engoliu em seco e entrou, batendo contra a parede como se isso fosse alguma permissão para entrar.

Agora foi a sua vez de ficar pálida, ao ouvir a música contra as suas orelhas e o caos que era a sala. 

O sofá, ou onde era o sofá, estava cheio de garrafas, sujidade, pó. Os tapetes eram manchas sem fim. Cervejas por todo o lado e a mesa de centro tinha carreirinhas de um pó branco que Uraraka podia apostar que não era farinha. Reconheceu imediatamente uma menina desacordada e só de biquini sentada no canto da sala e a agarrar com uma mão alguma garrafa transparente de bebida metade vazia. A cozinha, que era logo ao lado tinha a porta aberta, mas buracos no meio dos armários e sinalizando que não havia máquinas de lavar roupa ou loiça; talvez destruídas. Estavam lá cinco homens todos tatuados dos pés à cabeça e não que Ochaco tivesse algo contra tatuagens, o seu primo tem imensas e é um amor de pessoa, mas os olhares que eles deram e o que fumavam fê-la dar um passo para trás.

" - Eu...".

Uraraka perdeu a fala. Aquela porta tinha de ser algum sonho, alguma realidade paralela ou o mundo da loucura. Os sons suspeitos de um dos quartos não foram fortes o suficiente pra ela ir ver e retirar satisfações.

Ochaco trancou a respiração e tentou raciocionar. Reconheceu uma das irmãs de Mina que conhecia já há alguns meses e as viu juntas no shopping. Ela dormia encostada a um dos cantos da casa e graças a Deus que todas as suas intimidades estavam cobertas. Trajava uma mini-saia e algum top curto.

As outras duas estavam desaparecidas e sinceramente, não queria saber se uma delas era a origem dos sons desagradáveis.

Mordeu o lábio inferior e sentiu a cara quente de raiva. Sem hesitar num único movimento, pressionou os seus dedos todos em torno do pulso da amiga, olhando-a nos olhos.

" - Tu vives aqui, não é?".

Mina não teve coragem para responder à primeira, então limitou-se a acenar positivamente com a cabeça.

" - Ótimo". - Cuspiu as palavras. - "Vai buscar as tuas coisas".

" - M-Mas--".

" - A partir de hoje, tu não vais mais pisar neste sítio".

Ashido tinha tantos pontos de interrogação na cara e lágrimas nos olhos que demorou a entender o que ela queria dizer.

" - Está na hora de te dar uma família a sério, lá em casa".

 

 

 

(Bónus)

Mina ganhou coragem para se olhar ao espelho, três dias depois. Os seus cabelos ondulados e castanhos escuros até à cintura estavam visivelmente mal tratados graças aos momentos conturbados que tinha passado.

A casa estava em completo silêncio. Ninguém ainda teve coragem para sair dos quartos, depois do funeral dos seus pais.

Ashido olhou para o lavatório e depois voltou a encarar-se. Tinha algumas olheiras e olhos inchados, mas presumiu que isso fosse do quão perturbada andava. Talvez seja compreensível. 

Não conseguia tirar os olhos de si. A sua pele tinha rosáceas na cara, bem leves. Algumas sardas pela sua pele muito queimada do sol devido às férias de verão que tinham acabado há umas semanas e foram todos viajar em família. O cheiro da casa ainda era familiar e ainda conseguia sentir o aroma da sua mãe e tinha a certeza que o som dos seus saltos altos ecoavam ainda pelos corredores. 

Soluçou quando apertou os olhos e as lágrimas lhe caíram.

Sempre tinham dito que ela era a cara chapada da mãe. Era verdade. Mina nunca tinha percebido como Michelle, a sua mãe, era tão igual a si. Desde a cor dos olhos à forma, nariz e cabelos. Eram quase uma cópia. Uma vez, num aniversário de casamento dos tios avós da sua mãe, foi várias vezes confundida por amigos de infância de Michelle.

Mark, o seu pai, dizia sempre com orgulho que Mina era a versão da Michelle dois ponto zero, ligeiramente melhorada e muito rabujenta a acordar. 

Ela só tinha dez anos.

Mina sentia-se tão sozinha.

As suas irmãs, principalmente a segunda mais velha, eram mais parecidas com o pai. Elas eram quatro. A penúltima era uma mistura perfeita da forma dos olhos dela e dos azuis de Mark. A mais velha lembrava ainda mais a mãe de Michelle, quando era mais nova.

Todos os dias era a mesma coisa. Voltava da escola - inevitavelmente teve de voltar -, largava a mochila num canto da sala e corria para o espelho a arfar, em desespero. Estava sempre transpirada, com os cabelos todos despenteados de tanto correr.

Diziam que quando ela crescesse podia mudar e ia ter um rosto mais dela. Não da mãe.

Quando Mina crescer, o seu rosto ia mudar.

Todos os dias chegava da escola e corria, para ver se ela já tinha crescido.

Ainda não.

Ashido simplesmente não conseguia aceitar o facto de ser igual a Michelle.

Tentava seguir em frente vezes e vezes sem conta, mas parecia que tudo voltava ao zero. Achava que tinha um dia ótimo na escola quando Todoroki insistia para se sentar com ela e fazê-la ter mais amigos, mas o maldito espelho da casa de banho verde e enfadonha revelava-lhe a pesada realidade de que não; Mina ainda continuava com a cara idêntica à da mãe e era um ciclo vicioso.

Sentia que, com os meses a passar, devagar as suas irmãs iam seguindo os seus percursos, iam conseguindo sair daquele buraco escuro onde a família se tinha transformado. Porque ela não conseguia? Mina tinha plena certeza de que todas amavam os pais de maneira igual. Talvez por ser a mais nova não entendia bem as coisas. Achava que estavam a lidar com aquilo de uma maneira mais fácil, madura até. Era frustrante como se sentia a única que ainda parecia que tinha sido ontem que perdera os pais, continuava a chorar como um bebé no dia das mães irem à escola receber presentes ou dos pais ganharem gravatas pintadas pelos filhos.

Ashido guardou todas as gravatas até hoje e leva consigo vestida a do pai, a favorita dele.

A vermelha.

Quatro meses depois e voltou a enfrentar o espelho, ainda despenteada da correria até casa. O seu uniforme andava sempre largo porque herdava sempre das irmãs, as camisas brancas para fora das saias como sempre e ignorava o casaco a cair-lhe dos ombros. 

Ainda tinha a cara da mãe.

Sentiu a cabeça à roda e soltou um grito de frustração, dando graças por estar sozinha em casa, já que era quinta-feira.

Apertou com força o lavatório de louça e as lágrimas voltaram a descer-lhe dos olhos. Ninguém já falava dos seus pais porquê? Não é como se eles tivessem morrido morrido. Podem ter ido embora, sim, foram. Mas não significa que eles chegaram ao ponto de serem esquecidos! Ela ainda quer falar deles ao jantar, como se eles estivessem ali. A mãe ainda tinha muita coisa a desabafar sobre o seu chefe chato que só lhe lançava cantadas e o pai queria tanto contar-lhe sobre os novos projetos dele.

"És igual à Michelle".

Estava farta.

Mina não queria mais ser igual à mãe. Não queria lembrar-se dela cada vez que toma banho.

A Mina é a Mina. Não a Michelle.

Ela nunca conseguiria se desenlear daquela tragédia se não largasse o espelho.

As pontas dos seus dedos tocaram na tesoura ao lado do sabão, possivelmente porque a sua irmã mais velha retocou a franja ontem. 

Ashido ficou parada por segundos. Então, quase como alívio, soltou uma gargalhada do fundo dos pulmões e agarrou na tesoura.

Então, cortou o cabelo.

No dia seguinte, Mina era a menina de cabelos curtos e rosas.


 

 


Notas Finais


Agora a música da Mina já faz sentido, não é? <\3

Link do grupo de Church (Whatsapp) -> https://chat.whatsapp.com/9mxhSOXhwkp4MriEQ44eMj

Link da música -> https://www.youtube.com/watch?v=9YgmMJJ34k4

Em breve posto o que falta <3 Espero que tenham gostado! ~ou chorado~


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