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História Take me to Church KatsuDeku - 6. Seis mil palavras de puras hormonas sentimentais!!


Escrita por: Marta_Tata

Notas do Autor


LEIAM >> Não, por incrível que pareça, esta fanfic NÃO É inspirada na música, 'Take me to Church', até porque eu só gosto de rock leve/pesado/metal ou clássica, bem calma. Então, nem sequer faz o meu género.

No entanto... Bem... Eu aquela menina 99% rock, mas aquele 1% Shawn Mendes secreto dentro do meu heart~

ATENÇÃO:

Para quem quiser como é o físico atual do Kacchan e do nosso querido Deku::::

https:// www youtube. com/watch?v=_THwLMN-tXk (De nada pelo vídeo) [LINK COMPLETO NAS NOTAS FINAIS PARA EVITAR BAN] (Só tirar o espaço deste)

As músicas das fanfics estão a ser pensadas ainda... Talvez eu faça uma playlist, se vocês quiserem!!





Agora, por favor, não me matem pelo capítulo. Seis mil palavras e muitos tiros.

Capítulo 7 - 6. Seis mil palavras de puras hormonas sentimentais!!


Fanfic / Fanfiction Take me to Church KatsuDeku - 6. Seis mil palavras de puras hormonas sentimentais!!

" - Kacchaaan!". - Chamou de maneira alta e manhosa o nome do loiro. Novamente na sua casa... Mais especificamente no seu quarto, Katsuki arqueou uma sobrancelha, deslizando o olhar lentamente do jogo online que jogava - Splatoon 2, para a sua consola favorita -, sem se dar muito ao trabalho de dar a devida atenção ao melhor amigo. Estava sentado no chão, encostado à cama, encarando a televisão bem antiga do quarto que até hoje se perguntava como raios conseguira conectar à consola, pela falta de tecnologia visível só pelo aspeto envelhecido. O contacto visual não durou muito, afinal, reviveu logo em seguida para voltar a jogar; contudo, dava para ver as lágrimas de frustração e falsas nos olhos esverdeados e a sua cabeça pendurada na cama, a implorar por atenção.

" - O que foi desta vez, Deku?". - Murmurou sem interesse, já prevendo o próximo nome da frase.

" - O Todoroki chamou-me para sair e eu não sei o que responder". - Esperneou e bracejou ao mesmo tempo, com o telemóvel na mão direita, enquanto desabafava.

É. Ele acertara em cheio.

" - Uhum...". - Continuou a jogar, voltando a ativar o modo automático nos pensamentos e voz. Funcionava por uns minutos, então, teria o tempo do jogo acabar a partida e para o mandar devidamente à merda.

" - E eu tenho medo de aceitar e ele perceber que eu gosto dele ou me achar um desesperado!!". - Num salto incrível, sentou-se muito direito. Contudo, deitou-se de costas e jogando-se na cama, voltando ao seu drama atual. - "Mas também tenho medo de recusar e ele achar que eu não sinto nada por ele! E também tenho medo de agir de alguma maneira errada no encontro e ele perceber que eu quero é beijar-lhe de uma vez e ele que cale a boca!".

" - Uhum...". - O rosto de tédio dava para se ver da entrada da capela, de certeza. Só mesmo o lerdo do Izuku é que não percebia. E mesmo com as chamadas de atenção desesperadas de Midoriya, não tirava os olhos concentrados no jogo.

" - Mas... Mas!!". - E sentou-se novamente muito direito, quase que num grito, enquanto pensava alto e com a mão esticava, com dedos afastados, frente à boca, mas sem a tocar. - "Mas e se ele também me quer beijar?! Kacchan, tu sabes que eu nunca beijei!!".

" - Uhum...".

" - Meu Deus, que confuso!! E se ele também não me quiser beijar?! Há tantos cenários, tantas hipóteses, tanta coisa!!". - Era possível ver os seus olhos confusos a rolarem pelo quarto tantas vezes que chegava a ficar tonto. Até o seu rosto já estava corado de tanta vergonha, confusão e de falar bastante rápido sem respirar. 

" - Uhum...".

" - Kacchan, o que eu faço?! Eu vou, aceito, não aceito, aceito indiretamente, finjo que não quero e mostro desinteresse, faço-o correr atrás, eu corro atr--".

" - Uhum...".

" - ...Kacchan?".

" - Uhum...".

" - ...Qual é o meu nome?".

" - Uhum...".

" - Porra!". - Gritou, enfiando uma almofada pela cabeça abaixo do amigo, atirando-o ao chão. Depois, sentou-se sobre as suas costas, com as duas pernas juntas para o lado direito, vendo-o grunhir de dor. - "Dá-me atenção!! Estou numa crise adolescente!!".

" - Crise adolescente...?". - Sussurrou, continuando sem tirar por um segundo os olhos da televisão e com os braços esticados para a frente, continuando a controlar a personagem. - "Como assim crise adolescente? Deku, nem na puberdade entraste!".

Vermelho agora de raiva, bateu o pé e levantou-se incrivelmente rápido, subindo para a cama, sem se sentar. Viu o loiro gritar um 'Vencemos porra!' e se sentar, festejando com os braços no ar e os punhos fechados, enquanto a mão direita segurava o controlo. Então, de pé, ficou à beira da cama e gritou:

" - Aqui vai o meu maior foda-se para ti, Kacchan!".

E atirou-se para cima dele, estatelando o amigo no chão, enquanto deu um berro de dor. As gargalhadas do esverdeado fizeram os seus gemidos de costas doridas serem abafados, enquanto tentava pontapear as suas costas com pouca força.

" - Isto é por todos os 'uhum' que me lançaste no outro dia e hoje!". - Vingou-se, deliciado, com um sorriso de orelha a orelha, mais brincalhão que vingativo. Bakugou revirou os olhos para os lados, saindo da opção de jogar online, deixando o jogo aberto sem pausa, no menu; afinal, era um menu interativo para controlar a personagem. Então, num gesto, virou-se para cima e começou a falar. Arranjou paciência do além e lá começou, depois de respirar fundo.

" - Olha, sabes que eu...".

A voz falhou-lhe quando viu o sorriso inocente de Midoriya, ali, sentado sobre a sua barriga e uma perna de cada lado. Ele não sabia porquê, contudo, simplesmente tinha travado. Não conseguia articular nenhuma frase, nenhuma palavra, nenhuma sílaba ou letra. Não percebia porquê. Já tinha ficado assim várias vezes com ele, enquanto brincavam entre socos e pontapés sem muita força ou entre cócegas. Não sabia o que se passara consigo. Aqueles três ou quatro segundos que hesitou, simplesmente... Simplesmente ficou em branco. Não se atreveu a mexer. Não se atreveu a tentar falar, só para não gaguejar. 

Fechou os olhos, sentindo o rosto um pouco quente. Não percebeu também, achava que estava a ficar doente ou assim por ter andado sem casaco nos últimos dias. Mas lá cuspiu as palavras, sem dizer muita coisa.

" - Tu sabes que eu não consigo tomar muita atenção no assunto do pavê". - Grunhiu, dando um estalo com a língua no céu da boca. Resmungou alguma coisa que os olhos verdes não perceberam e sentiu um peso maior no corpo, sem entender bem o que se passava. Mas nem pensem que ele teria coragem para abrir os olhos. "Mas sim. Acho que deves aceitar e ser tu próprio. Sê sincero, não o faças correr atrás e--".

" - Kacchan". - Chamou. - "Está tudo bem?".

Abriu os olhos calmamente, deparando-se com uma cena que ele jamais sonharia que fosse real... Pelo menos, naquelas circunstâncias.

Midoriya estava debruçado sobre o seu peito. A respiração estava muito perto da sua cara e cheirava a morando, graças à pastilha que ele roubava sempre que ia para o quarto do loiro. Os seus olhos pestanejavam lentamente e pela forma curiosa da sua boca, dava para entender que a sua personalidade lerda chegava ao nível de não entender o que ele estava a fazer.

Instintivamente, arranhou o chão do quarto. Sorte que ele era de alcatifa azul clara, então, ele não iria ouvir ou perceber, por não fazer barulho. Os seus olhos arregalados e quietos fizeram-no querer socar o amigo pela aproximação repentina. Sim, de facto, Izuku era o único que lhe podia tocar ao ponto de o abraçar; qualquer outra pessoa, mesmo se fosse Uraraka ou Kirishima, ele iria socar na hora, sem pensar duas vezes... Claro que tinha mais paciência com as meninas e não as magoava. Não que fosse sexista ou assim, mas uma vez deixou o braço de Mina acidentalmente negro e, mesmo sem ela dar qualquer importância e preferir rir sobre o assunto, Bakugou sentiu-se mal... Mina era uma menina simpática para ele e não queria fazê-la sentir dor. Como nunca tivera muitas amigas, não sabia que uma brincadeira podia magoá-las fisicamente mais que rapazes. A partir desse dia, ele só as empurrava.

Mas... A sério que o Deku não percebeu que, até mesmo para ele, isto era... Demais?!

...Ou talvez não fosse. Quer dizer, ontem não era. Nem no outro dia. Ele vasculhou na memória e na mente quase em branco o último momento que estiveram assim e tinha sido há uns meses, enquanto faziam cócegas um ao outro para ele admitir que gostava do Shoto. Mesmo assim, aquilo não fazia sentido.

" - Kacchan...". - Repetiu. O loiro não soube porquê, mas engoliu em seco e viu o momento todo em cãmara lenta - Os lábios carnudos a mexerem-se lentamente, a voz que, mesmo se fosse apenas normal e curiosa, soava lenta e calmamente. Quando percebeu que só encarava os seus lábios, já era tarde demais para analisar o seu olhar, porque não conseguia desprendê-lo deles. - "Está mesmo tudo bem?".

A sangue frio, Bakugou agarrou na cintura de Midoriya de maneira firme e com bastante força, virando-o para o lado, enquanto ele libertava uma exclamação do seu rosto, confuso. Então, sentou-se rapidamente ao seu lado, olhando para o lado, fingindo que nada tinha acontecido.

" - Desculpa... Estava... Estava só a pensar". - Admitiu. No momento, a mesa ao lado da sua cama de casal no quarto parecia muito interessante. - "Mas sim. Eu acho que deves aceitar ir com ele, para te divertires. Não forces beijos, contudo, não rejeites. Deixa o momento rolar naturalmente. Acredita, ele irá ser assim, se realmente acontecer".

Terminou num ligeiro sorriso, agora ganhando coragem, depois de respirar fundo, de o olhar. O rapaz sorriu de orelha a orelha, levantando-se num pulo e correndo para o telemóvel e deitando-se, encantado, na cama do amigo.

" - Obrigado, Kacchan!". - Gargalhou, começando a teclar. - "Vou já responder!".

Não disse nada sobre o agradecimento; em vez disso, só assentiu. Levantou-se calmamente e colocou as mãos na cintura, satisfeito por ajudar.

" - Qualquer dúvida, vou estar na cozinha. Vou buscar bolachas". - Andou calmamente até à porta, espreitando e vendo o corpo deitado do amigo, que nem se dava ao trabalho de tirar o sorriso do rosto ou os olhos do telemóvel. - "Queres que te traga algo?".

" - Uhm...". - Pensou, enquanto escrevia a mensagem rapidamente e brincava com as pernas dobradas para cima, mexendo freneticamente e de maneira descoordenada os pés. - "Leite achocolatado já está bom".

" - Certo". - Assentiu. Deu um passo para ir, até recuar e olhá-lo. - "Dormes cá hoje ou nem por isso?".

" - Ah, eu já pergunto à minha mãe". - Voltou a fazer uma afirmação com a cabeça e retirou-se, andando até à cozinha. A cada passo, o seu sorriso diminuía. 

Ao chegar ao local, debruçou-se sobre a bancada, num suspiro. Não sabia porquê, mas fugia para ali quando tinha de pensar por uns segundos e se tornar racional, longe do amigo e do seu quarto. Esfregou com a mão direita os cabelos desarrumados e loiros, dando um pesado suspiro. Decidiu ir lavar a cara mesmo na pia à sua direita, sentindo a água gelada entrar por todos os seus poros. Suspirou, levantando o rosto e deixando-o pingar a sua tshirt, sem muita preocupação se ficaria desconfortável. Repetiu o gesto dos dedos nos cabelos, misturando-os agora com breves gotículas de água.

Ele ficou nervoso porque viu o Izuku em cima dele, tinha simplesmente travado e teve quase que o tirar num empurrão para se acalmar?

O que caralhos tinha acabado de acontecer? 

[...]

Eles eram tão amigos que até roupas um do outro tinham guardadas nos seus quartos, caso fossem dormir lá do nada ou apenas por conforto. Normalmente, no quarto de Katsuki, havia uma gaveta para algumas calças de pijama, boxers ou até calções e tshirts de manga curta e comprida para Izuku usar, assim que saía da escola e, às vezes, ia para lá. Casacos ele não tinha, por ter poucos e lhe fazerem falta para o dia a dia. No caso do loiro, na casa do mais novo, tinha umas duas ou três tshirts, uma de mangas curtas e outra sem mangas, pelo que ele se lembrava. Ambas negras e alguma estampa na normal. Se bem se lembrava, tinha algumas calças jeans para lá perdidas que desconfiava sobre o seu roubo e que o dono tinha cabelos verdes. Alguns boxers também, afinal, nenhum gostava de ir dormir sem tomar um duche. Assim, evitavam empréstimos de roupa interior.

Aquela cena toda ocorreu numa quinta-feira. Infelizmente, Inko Midoriya tinha planos para ir jantar fora com o filho e o marido, impedindo que ele fosse dormir à casa do loiro. Por algum motivo, Bakugou achou isso aliviante. 

Não, obviamente que não o queria longe... Mas só queria pensar. Ultimamente andava tão estranho; sentia-se tão diferente. Talvez fosse só as hormonas da adolescência a falar à flor da pele ou mudanças de humor idiotas... Podia até ser apenas dúvidas de uma mente curiosa de dezasseis anos, quase dezassete. De qualquer das maneiras, apeteceu-lhe ficar um pouco sozinho, a refletir, de headphones e no quarto. Com as mãos atrás da cabeça, uma perna flectida e a outra esticada, fitava o teto do quarto, sendo já de noite e o quarto completamente iluminado. Tinha acabado de jantar e não conseguia pensar em mais nada se não na sua vida, em algumas situações específicas.

Tinha ficado de castigo graças ao Aizawa na terça-feira e a sua mãe descobriu, já que recebeu um e-mail a informar da infração da aula de matemática e as suas consequências. Por mais que tivesse gritado com ele e o rapaz de olhos vermelhos também respondesse com berros, sabia que ela não estava verdadeiramente zangada. Quando o loiro explicou a situação, ela ficou mais calma. Não era mentira nenhuma que o rapaz era péssimo a fazer amigos, pela sua personalidade difícil... Achou que isso acalmou um pouco as coisas. Quer dizer, isso não era desculpa e a mãe só lhe pediu para tentar evitar mais infrações, mas mesmo assim, via-se no seu sorriso escondido a satisfação de ver o seu filho rodeada de pessoas que pareciam boas, que o ajudavam e animavam mais. 

Esta parte, o mais novo da família Bakugou não percebeu, porém, notava-se a sua animação bem maior para ir para a escola, mesmo que acordando cedo. Claro, continuava a reclamar. Mas os resmungos acabavam assim que se encontrava com Izuku à porta da sua casa e ia calmamente para a escola. Mitsuki não era idiota nenhuma. Às vezes, batia os olhos na janela e via o seu filho, alto, quase um homem, ao lado do melhor amigo e isso enchia-lhe o coração de ternura, quando percebia que o loiro ia encontrando, ao longo do caminho, amigos como Uraraka, Denki, Kirishima e até mesmo Shoto se juntava pelos outros. Já tinha escutado desabafos suficientes do filho para saber o quanto o odiava, mesmo sendo 'amigos', dentro do possível. Era uma relação estranha. Às vezes, provocavam-se a rir, como se fossem ótimos amigos; e das restantes vezes, quase se matavam em praça pública.

Os pensamentos estavam tão soltos, tão livres, que acabou por refletir sobre cada uma das pessoas do seu grupo. 

Por ordem de pessoas, por estar a pensar no Eijirou primeiro, acabou por se focar nele. Era um rapaz de cabelos ruivos não-naturais e pretos de nascença. Olhos vermelhos parecidos com os seus... Talvez um pouco mais claros; e tinha dentes tão estranhos, todos afiados e bicudos. Costumava de o provocar a dizer que ele era fruto de uma mutação genética qualquer estranha. Achava isso engraçado, tanto que acabou por sorrir involuntariamente. Sem contar com Izuku, talvez ele fosse um dos rapazes mais próximos a ele... Talvez ele e o Kaminari fossem. Nunca pensou no assunto assim tanto.

Falando no Kaminari, ele era um rapaz loiro com madeixas curiosamente negras em forma de raio, numa franja de lado, mais propriamente para o esquerdo. Olhos cor de âmbar e um sorriso sempre brincalhão. Era o mais engraçado do grupo, de longe, e sabia ser completamente impossível não gargalhar alto ao lado daquele ser... Por pior que fosse a situação, Denki era aquele rapaz que tirava a tensão do grupo. Mesmo que não conseguisse nunca ficar sério em situações extremas, às vezes era necessário alguém para suportar o mau-humor de toda a gente.

Focou-se depois na Uraraka, por se lembrar no otimismo do amigo... Uma menina tão gentil, tão otimista e sorridente, de cabelos castanhos curtos e ligeiramente maiores à frente, de olhos da mesma cor, brilhantes. Ela tinha perdido a mãe há mais ou menos dois anos e, mesmo sem mostrar, toda a gente sabia que ela ainda sofria com isso. Havia dias que o seu sorriso nem voz eram vistos. Havia outros que ela era uma menina completamente normal e alegre. Ninguém nunca soube pormenores da sua grande perda... Se ela um dia quisesse contar, todos sabiam que ela o faria. E estariam lá para ela quando precisasse, como ela estava para todos.

Quase que automaticamente, associou a menina a Mina - De cabelos rosas curtos e completamente rebeldes, cheios de volume, sempre com antenas grandes e amarelas que até hoje não descobrira como raios ela as usava; e olhos diferentes, amarelos com uma coloração negra à volta, que o deixava curioso a olhar para ela. Sabia que as meninas eram bonitas e, mesmo para a da questão, não era excepção. Era capaz de ser a dupla otimista com Ochaco e, talvez, a tripla mais animada do grupo, também com o Denki. Sinceramente, nunca vira Ashido a chorar e conhece-a logo pelo sorriso a mostrar todos os dentes e roupas coloridas que aos demais não ficam bem, contudo, a ela sim.

Jirou era a terceira e última do grupo das meninas. Achava Kyoka, a viciada em música, bastante curiosa, afinal, sempre calada e com o grande sonho de se dedicar à música era, no mínimo interessante, não só pelo ótimo gosto musical, porém, pela boa personalidade. Cabelos curtos e muito lisos entre roxo e azul escuro e olhos azuis bem escuros, estava ou sempre a dormir, ou a ouvir música, ou distraída. Era essa a futura perita em música da maior universidade dos Estados Unidos que todos amavam! Sonhava em fazer intercâmbio lá e sabiam que ia conseguir; apoiavam-na nisso.

Seguidamente, Todoroki Shoto tomou conta dos seus pensamentos. Torceu o nariz lentamente, contudo, não se mexeu; não tiraria a sua pose confortável só pelo rapaz que mais odiava no planeta... Sim, claro, era mais uma amizade e ódio que outra coisa; todavia, não existia um dia que quase não ameaçassem se matar. Era engraçado como Shoto parecia duas pessoas - Do lado direito, tinha cabelo branco e olhos acinzentados e claros, brilhantes; do esquerdo, cabelo vermelho e olhos azuis turquesa, com um ar culpado e uma enorme queimadura que fizera cicatriz, como uma mancha, que se estendia mais ou menos entre a maçã do rosto e até cima do nariz, cobrindo o seu olho azul. Sabia que tinha problemas em casa, então, nunca usara aquelas famosas piadas contra mães ou familiares com ele... Okay, podia odiar o rapaz às vezes, contudo, havia limites, até mesmo para Katsuki. E usar algum passado frágil que não conhecia? Não ia fazer isso. Também da maneira como Todoroki já ouvira Midoriya mencionar o avô do rapaz, com um tom de preocupação. Mesmo sem contar nada, era óbvio que algo se passava. Ainda bem que nunca ninguém lhe perguntara.

Por fim, percebeu que saltara Izuku. Achou curioso, afinal, achava-o já mais um irmão que amigo, nem ponderando o rapaz. Instintivamente, mordeu o lábio, lembrando-se da cena de quinta. Os seus olhos verdes entre tons claros e escuros, sempre a brilharem, o seu sorriso tímido e inocente, descontraído e brincalhão às vezes e só quando se sentia à vontade. Os seus cabelos verdes volumosos e curtos, tão rebeldes como os de Ashido, davam-lhe um ar ainda mais infantil. Lembrava-se de o ver chorar, nos primeiros meses em que eram amigos... Foi das primeiras vezes que o vira chorar; porque o pai queria cortar-lhe o cabelo todo por não se adequar a alguém que ele deveria ser e por ser impossível domá-lo. Então, quando Bakugou estava pronto para ir a casa dele pontapeá-lo por entre as pernas do homem para ver se o juízo lhe subia à cabeça, acabou por esbarrar com a mãe de Midoriya, Inko, contando-lhe tudo. Quando ela descobriu, houve três dias de discussão com o marido. Mesmo assim, o amigo manteve o cabelo que tanto queria e gostava.

Não conseguiu parar de esboçar um sorriso. Sabia o quanto o pai dele o odiava com todas as forças e letras, possivelmente com vontade de o afastar do filho; todavia, e em contra-partida, a mãe do rapaz adorava-o. Sabia que o loiro de olhos vermelhos o protegia com unhas e dentes, mesmo que ao início a relação fosse estranha. Por mais triste que fosse, não podia pisar na casa do amigo se o pai estivesse presente; e o contrário com o seu avô... Embora ele não quisesse muito saber. Se a família toda estava presente, não havia problema. Se só o avô e Katsuki estivessem em casa, ele expulsaria o de cabelos verdes sem pensar nem duas vezes.

Revirou os olhos, rangendo os dentes, mas sem mudar o olhar. Abominava aquelas duas pessoas... O primeiro, por fazer o melhor amigo chorar. E o segundo porque... Bem, deu para entender a ótima relação de neto e avô que têm.

Do nada, os pensamentos saltaram para o amigo, novamente. Com aqueles calções de andar por casa verdes escuros com detalhes azuis claros, sobre a sua barriga com uma tshirt branca larga que lhe oferecera em tempos para ele usar e ser o triplo do seu tamanho, que nunca mais lhe devolvera... Causava-lhe um arrepio estranho. Mordeu o lábio e fechou lentamente os olhos sem pensar duas vezes, antes de imaginar a cena novamente. 

" - Kacchan... Está tudo bem?".

Adorava quando Izuku lhe perguntava se estava tudo bem.

" - Kacchan... Está mesmo tudo bem?".

Engoliu em seco, cravando mais os dentes contra o seu lábio, com a respiração ligeiramente mais rápida. O tom de voz dele, incrivelmente inocente, não sabia porquê, contudo, deixava-o tão... Tão nervoso? Não. Bakugou nunca ficava nervoso... Não era bem isso.

Talvez curioso. Entusiasmado. Com vontade de entender o que era aquilo.

Abriu os olhos lentamente, voltando a encarar o teto. Não sabia o que se passava ultimamente consigo. Eram tantas dúvidas da adolescência, não percebia muito bem de relações com as pessoas, fosse amorosamente, fosse com amizades. Até a própria relação com a irmã era horrível; sentia-se muito mais perto de Midoriya que dela, o que era ridículo.

E falando nela...

A menina abriu com força a porta do quarto do rapaz pensativo. Sim, ela nem batia à porta, de tão desprezo que tratava o irmão. A origem das suas brigas começara cedo pela falta de interesse no irmão, que viera como acidente para o mundo. Agora, com vinte e quatro anos, age como uma adolescente de dezasseis, super mimada pelo avô.

Mimar e fazer tudo pelas crianças, ao ponto de agirem como umas até ao final da vida. Sem terem responsabilidades ou emprego fixo, afinal, alguém vai sempre lhes pagar as despesas. 

Outro problema da sociedade ali, à frente daquela menina de cabelos loiros incrivelmente lisos e presos por um rabo de cavalo. Nem nisso ela era parecida com os pais ou com ele. Herdara os olhos castanhos escuros meio âmbar do pai e sorria de maneira cínica, andando a passos pesados ao irmão, que só notara a sua presença a meio do quarto. Arrancou bruscamente os headphones da cabeça do irmão, numa risada irritante.

" - Hey!". - Reclamou o rapaz, sentando-se bruscamente e erguendo a palma da mão aberta, com raiva. - "Queres apanhar?!". - Gritou-lhe. 

" - Na verdade, vim-te chamar para a sala... Reunião familiar, maninho". - E mostrou o dedo do meio gentilmente. - "Avôôô, o Katsuki foi mau para mim de novo!!". - Correu até à sala, a choramingar. Revirou os olhos, sendo obrigado a levantar-se. 

Revirou os olhos e levantou-se com o impulso que deu nas mãos, ao lado do corpo. De pé, Bakugou avançou calmamente até à gaveta da cómoda na parede da porta, abrindo uma das gavetas que conhecia. Lá estavam apenas fones brancos normais. Os familiares odiavam que ele usasse headphones para falar com as pessoas, então, usava os mais discretos para ninguém reclamar. De tshirt negra sem mangas e os seus famosos calções bermudas acastanhados, mas agora de tamanho bem maior, ligou ao telemóvel e avançou calmamente até à sala, colocando While She Sleeps, uma banda de metal a tocar nas suas orelhas.

No lugar entre tons de castanho e verde, revelando que chegara à sala de estar, estavam presentes o avô, a irmã, o novo namorado da semana... Espera lá, este aqui andava há algum tempo por lá. Dois meses? Três? Um novo recorde. Também reconheceu a mãe, que lhe deu um sorriso gentil. Novamente, o pai não estava presente. Também, de qualquer das maneiras, ele nunca estava. Jamais admitiria, todavia, doía-lhe saber da ausência do pai. Conheceu mais umas duas ou três tias, coisa que o fez arquear uma sobrancelha... Afinal, só uma vivia lá em casa e outra passava apenas os fins de semana. E mais uns dois primos que partilhavam um dos quartos do corredor, que jamais se dera ao trabalho de entrar. 

Sentou-se sobre um dos sofás, ao lado de uma das tias, que lhe lançou um olhar de lado. Revirou os olhos, a bufar, dando um estalo com a língua no céu da boca, revelando estar sem paciência. Tinha-se esquecido do quão 'católicas' elas são, para aceitarem o próximo. Lançou um sorriso cínico e levantou-se, numa voz forçada. E não era mentira nenhuma que, por ter admitido ser ateu desde os treze anos, elas nunca o viram com bons olhos.

" - Okay, velha, gentilmente vá para a próxima esquina e deixe-me em paz. Nem lhe digo fazer o quê para não gritar pela quantidade de palavrões que lhe quero lançar... A casa é minha, mas mesmo assim, faço questão de me levantar para não a aturar; se não, eu já a tirava da porra do meu sofá. Espero que considere esse ato como boa educação e carinho da parte do seu sobrinho".

A sua sorte foi que todos estavam distraídos e ninguém entendeu o surto e berro de escândalo que a senhora gritou, enquanto falava em espanhol de maneira rápida. Num sorriso vitorioso, sentou-se na poltrona da sala de um só lugar, para ninguém o chatear, enquanto passava os olhos ao ritmo da música por cada rosto da sala, confuso. 

Tias que só sabem falar espanhol e um avô que finge ser culto e nem leu um quinto dos livros da sua biblioteca pessoal. Hilariante.

" - Bem...". - A voz irritada da irmã mais velha falou tão alto que calou toda a gente. Ela levantou-se de um dos sofás azuis da sala, num sorriso de orelha a orelha e abraçada ao braço do rapaz novo. Nem sabia o seu nome, porém, fez um esforço para se manter atento. Era obrigado a vir a todas as reuniões familiares e maioria por oposição ao avô, enquanto a mãe queria que ele viesse sempre. Não queria que ele se sentisse ainda mais excluído... Mesmo assim, desta vez, todos o queriam lá. E isso, no mínimo, deixava a situação um pouco mais interessante, ao ponto de ele só ter um dos fones, mais propriamente na orelha esquerda. - "Como sabem, fui eu que solicitei esta linda reunião de família--".

" - Uhm...". - Katsuki forçou uma tosse alta e rouca, enquanto falava em murmúrios. - "Mimada de merda... Uhm".

O olhar mortal e acastanhado âmbar da irmã contra o irmão, fez o rapaz ao lado dela intervir, num sorriso meio amarelo.

" - D-Deixa ser eu a falar, pipoquinha". - Ela assentiu, agora encantada. Revirou os olhos com um ar tão irritado e uma vontade de vomitar incrível... Mesmo assim, lá se focou e ouviu o resto. - "A minha namorada estava a querer dizer que...".

Então, pegou-lhe na mão esquerda, fazendo algo brilhar no seu dedo, coisa que surpreendeu Bakugou.

" - Nós vamos nos casar!!". - O guincho histérico da segunda mais nova da família fez todos baterem palmas em animação e o irmão se engasgar muito, de olhos arregalados.

Bom dia? Casar?!

" - Ooh, parabéns, minha querida!!". - Abraçou logo o avô, beijando-lhe várias vezes o rosto, de maneira muito satisfeita e alegre. - "O rapaz parece um bom partido! Tem um trabalho e está a cursar... Advocacia, se não estou em erro?".

" - Sim". - Assentiu o outro, apresentando-se com um sorriso. - "Shinsou, vinte e seis anos". - Apertou a mão do avô mais uma vez. - "Sei que já nos tínhamos apresentado... Contudo, não como marido da sua neta".

Nem mesmo o riso exagerado da irmã completamente entusiasmada com a ideia fez o loiro fechar a boca, ainda aberta de choque e surpresa. Os agradecimentos e votos de felicidade não tinham parado. Acho que até a sua mãe estava a digerir a informação, ali, petrificada, sem perceber se escutara bem.

" - ...Eu sou o único que não acho isto normal?!". - Gritou, criando um escândalo. Todos da sala se calaram e prenderam os olhares o rapaz, que encolheu os ombros, num suspiro. Tinha uma das pernas deitada sobre a outra, de lado, e o olhar relaxado e descontraído fechado. Voltou a respirar fundo, para continuar.

" - Por acaso és!". - Gritou-lhe logo o avô, percebendo já a face do senhor ficar vermelha. - "É um momento muito importante da tua irmã e, nem nisso, consegues lhe desejar parabéns e ficar feliz uma vez na vida, pela tua familiar?".

" - Sabes... Eu até ficaria". - Pendeu a cabeça para trás, enquanto pensava. Achava a situação um tanto divertida, dando um mísero sorriso de canto. - "A sério. Eu queria mesmo ficar". - Voltou o rosto em direção ao avô, num ar divertido e, ao mesmo tempo, misturado com indiferença. - "Mas eu ficaria mais feliz ainda se esse namorado... Shindou, certo?".

" - Shinsou". - Corrigiu.

" - Isso. Shinkou". - Viu o rapaz de cabelos roxos assentir, atrapalhado, enquanto continuava. - "Não fosse tipo, da semana passada".

" - Para tua correção, estamos juntos à dois meses e meio!". - Gritou-lhe a irmã, a bater o pé. Como resposta, lançara o mesmo dedo do meio completamente exposto e irónico, causando exclamações de surpresa.

" - Cala a boca. A minha vez de falar, irmãzinha". - Depois, desceu a mão e olhou para todos, sério. - "Nada contra o rapaz, a sério. Por acaso, és das poucas pessoas desta sala que até pareceu... Simpática, dentro dos possíveis. Não me levem a mal, eu até curtia que ela fosse feliz. Mas, assim... Sejamos realistas. Não acham demasiado cedo para ela se casar? Não falo em idade, cada um tem a idade para casar que quer, contudo, estou a referir-me ao vosso... Tempo juntos".

" - Uhm... Por acaso, nesta, eu estou com o Katsuki".

De todas as pessoas, esperava que a mãe fosse a última a questionar a irmã. O olhar chocado da menina loira dava para ver a quilómetros de distância o quão irritada ela estava.

" - Mãe?!". - Gritou a menina. As lágrimas nos cantos dos olhos eram visíveis e Bakugou podia apostar que eram falsas. 

" - Toga, eu estou a falar a sério". - Disse a mãe, agora com um certo tom de oposição e autoridade na voz. Olhou nos olhos cor de âmbar meio acastanhados da filha, continuando o discurso. - "Eu compreendo que se amem e estou feliz de teres arranjado alguém mais... Mais amável, desta vez, como namorado. Mas mesmo assim...".

" - Mesmo assim nada, Mitsuki!". - Contrapôs o avô, agora quase que pronto para abraçar a menina e a fazer chorar no seu peito, como sempre. - "A menina tem mais que idade para decidir o que quer. Ela tem vinte e quatro anos!! Já toda a gente quer que ela saia de casa e se forme de uma vez, ganhe um emprego...!".

...

'Toda a gente quer que ela saia de casa'.

O rosto de Bakugou iluminou-se, num sorriso que cresceu lentamente de orelha a orelha.

" - Porque é que não disseram logo?!". - Exclamou o rapaz, saltando do lugar com apenas um impulso. Em dois passos, estava frente a frente à irmã, com um rosto completamente alegre e satisfeito, a apertar a sua mão muitas vezes, em conjunto com a de Shinsou. Os dois rostos estavam surpresos, sem saber o que dizer ou pensar. - "Vão logo! Casem-se já amanhã!! Eu até faço questão de ir para a igreja, só para vos ver! Queres ajuda a fazer as malas? Precisam que vos leve a algum lugar? Oh meu Deus, a lua de mel vai ser um ou dois meses, não vai?!". - Quase gritou, num salto. - "Okay, sayonara, bon voyage, au revoir!".

No segundo seguinte, Himiko estava à porta de casa com um chapéu de sol na cabeça e uma mala de viagem, enquanto Shinsou tinha um colar de flores havaiano ao pescoço e protetor solar mal espalhado na face. 

A gargalhada satisfeita de Katsuki ouviu-se pelo apartamento todo, enquanto ele acenava, depois de tirar fotos com uma máquina que desencantara, agora presa ao pescoço, no seu peito. Parecia ter ganho a grande loteria. 

" - Adeus, maninha! Diverte-te muito na vida de casado e desampara a loja para eu poder ouvir música alto!!". - Cantarolou. 

Então, sentiu uma mão pesada no seu ombro, abrindo rapidamente os olhos e mantendo o sorriso. Pela risada abafada da irmã pelas mãos, sabia perfeitamente que era o avô.

" - Acabaste de despachar a tua irmã de casa..?!". - A pergunta soava mais como uma ameaça. Bakugou deu uma gargalhada, encolhendo os ombros, como se já estivesse habituado aquele tom de voz. Bem... O que não era mentira. Fechou os olhos de maneira descontraída.

" - Bem, se isso for uma vantagem para apoiar o casamento, acho que ficamos cinquenta cinquenta".

O avô ia ficando vermelho de raiva. Na sua careca quente, já era possível fritar o ovo, pensava Katsuki, enquanto mostrava a língua, divertido. Ouviu alguns comentários meios altos e a confusão já estava instalada na sala. Então, quando um dos primos percebeu que a câmara era dele, literalmente puxou-a, enquanto reclamava pelo roubo.

No meio dessa balbúrdia montada, ouviu-se uma risada abafada. Então, quando passou os olhos vermelhos para ver a dona da risada, pousou-os no rosto da mãe. Os seus cabelos pelos ombros, todos rebeldes e espetados como o filho, com uma pele incrivelmente delicada para a sua idade, estava divertida da situação. Desviou sem interesse, afinal, gostava de a impressionar e fingir que era o rapaz mais foda daquela casa e que não parecia satisfeito por divertir a mãe... Até ter de se focar novamente nele, arregalando os olhos. O sorriso irónico da mãe, a negar com a cabeça lentamente e numa pose de 'Só fazes merda mesmo, hein?', denunciava o seu divertimento perante uma situação tão séria.

Mas não era nisso que ele se focava.

E mais propriamente no olho negro e mascarado com maquilhagem da senhora.

Bakugou não era estúpido. Era capaz de ser a pessoa que mais conhecia a mãe; tanto física como psicologicamente.

A partir desse momento, ficou sério. Tão sério que o sorriso da mãe foi manchado, ficando surpresa com a mudança de humor repentina do filho, chegando-se a assustar pela sua expressão facial, ligeiramente confusa. O calor subiu à cabeça do loiro, como se a cada batimento cardíaco, que ficava gradualmente mais rápido, soubesse perfeitamente como acontecera.

Ou quem era o responsável. 

Pegou bruscamente e com toda a força o pulso do avô, que até se surpreendeu o que estava a acontecer. Então, em três passos largos, correu a sala inteira, criando um silêncio tenso e pesado; confuso. Toga ficou quieta, sem compreender mais nada... Afinal, ela parecia irmã do Izuku, puxando a sua lerdeza. Só o seu futuro marido, Shinsou, começava a compreender o que se passava. Era um rapaz que analisava a pente fino as situações; e aquela não era exceção. 

Então, num movimento brusco, virou quase o homem de cabelos grisalhos e falhos no topo da cabeça ao contrário. Ficou perto do seu rosto, mostrando todos os dentes e semicerrando os olhos, rangendo cada um deles e cerrando o punho da mão solta.

" - Tu...".

A voz dele até arrepiou a própria mãe, que já desconfiava, desde o início, o que ia acontecer. Instintos de mãe. Percebeu perfeitamente os planos do rapaz, o que ia acontecer e como terminaria, se não interviesse no meio imediatamente.

" - Ka-Katsuki!". - Chamou o seu nome meio alto, puxando delicadamente o pulso livre do rapaz, num tom de preocupação. - "Não é o que parece, eu posso expl--".

" - Eu não quero saber!".

O seu grito tinha uma voz tão carregada de rancor e ódio que, com um só movimento para puxar a mão, quase derrubou a própria mãe. O mais velho da casa recuou um passo, começando a ficar preocupado e verdadeiramente assustado, com o estado e situação do neto. Nunca o vira assim... Nem mesmo nas ameaças vazias. Até mesmo Toga, com a sua péssima relação de irmã com o rapaz, mordeu o lábio, agarrando com força na mão do noivo, que olhava sem parar para o adolescente.

Num gesto muito rápido, o loiro segurou a gola da camisa do avô, que começava a transpirar e ficar branco de medo. As tias todas levantaram-se, começando a pegar em objetos para atirar ao sobrinho, irritadas, pela falta de educação e permissão dos outros perante tal situação. Mitsuki ficou estática. Não sabia o que fazer, estava em pânico.

Ela não podia deixar.

" - Atreve-te só a tocar com mais um dedo que seja... Atreve-te só". - Aproximou-se ainda mais, cravando as unhas com força no seu pescoço com a mão livre, num sorriso de canto e ar desafiador. - "Sonha apenas em voltar a sentir a minha mãe com um único fio de cabelo... E eu garanto-te que ficas sem todos os dedos e os poucos pelos que já tens, desaparecem". - Movido pelo impulso, abanou tão bruscamente o homem que quase o derrubou, voltando a juntar muito os rostos e sem quebrar o contacto visual. - "Farei questão de te arrancar unha por unha... Depois, dedo a dedo. E, por fim, punhados de cabelo a cabelo, terminando apenas nos dentes um por um, com um alicate e terminando em cortar essa puta de língua, para não poderes nunca mais te queixar ou gritar com alguém, sem pareceres a porra de um doente; o que, na verdade, não é longe da verdade".

" - E o que raios vais tu fazer?!". - Cuspiu-lhe as palavras de volta, num tom de ameaça. - "Existe polícia. E eu conheço-te, fedelho! Não passas de um rapaz ateu, sem crenças, sem fé, sem ninguém. Os únicos que ainda te suportam é a tua mãe e alguns pirralhos da tua escola, incluindo aquele desmiolado de cabelos verdes que ele a mim não me engana! De certeza que ser mais uma menininha medrosa que homem!". - Continuou, rasgando um sorriso ligeiro. - "E por casa ameaça que me fazes, é apenas mais pontos a meu favor contra ti!".

Para além de ter tocado física e verbalmente na sua mãe, acabara de mencionar as pessoas que mais amava no mundo, criticando-as; principalmente Izuku. Mordeu o lábio para não espancar o homem ali, à frente de toda a gente. Parece que Deus desceu da puta que pariu inexistente e colocou a mão na testa, dando-lhe noção da calma e bom senso ligeiros para não o fazer.

O único motivo para não acabar com a raça do mais velho daquele apartamento era a consideração altíssima que tinha pela mãe. E se ela não queria algo, ele não o faria...

...Não desta vez.

" - Nem a tua família te quer nesta casa! Se dependesse de mim, estavas neste momento a viver nas ruas, sem nada, sem ninguém! A única coisa que tenho por ti é misericórdia!... E devias adorar-me por isso, por ainda não te ter pregado um belo par de estalos quando merecias, a favor dos teus pais!". - Grunhiu, fazendo uma pequena pausa para respirar. - "Além disso, admite, miúdo! Não passas de um rapaz patético que não se consegue encontrar, que vive com remorsos porque as únicas coisas que querias na vida... Os únicos objetivos! São apenas promessas falhas para ti próprio. Ambos sabemos que não és capaz de nada. Ambos sabemos que tu não vales, literalmente, nada, Katsuki Bakugou!".

...Okay.

Esqueçam tudo o que ele pensou anteriormente.

Jogou o avô no chão, olhando-o com os olhos a brilhar de raiva. A mãe segurou-o pelos ombros muito rapidamente, em pânico.

" - Katsuki, chega!". - Gritou a mulher. - "Por favor, vamos para o teu quarto... Acalma-te!! Só vais piorar a situação!".

" - Piorar?!". - Berrou de volta, olhando-a nos olhos. Pela quantidade de nervos que tinha sobre si, parecia que ia chorar de raiva. - "Este... Este ser, este monstro doentio teve a lata de te tocar e eu é que vou piorar as coisas?!". - Cravou as unhas com tanta força nas palmas das mãos que a adrenalina nem lhe fazia sentir a dor; e só prometeu parar quando sentisse. - "Este homem que eu recuso-me a aceitar ser do mesmo sangue que ele, acabou de dizer estas coisas todas e eu é que vou piorar as coi--".

Não interpretem o rapaz mal. Bakugou Katsuki era tudo, menos impulsivo... Aliás, ele antes de explodir com tudo, analisava as situações primeiro para ver quais eram as chances de vitória. Se fossem elevadas, aí sim é que ele explodia.

No entanto, até mesmo um rapaz forte fisica e psicologicamente como ele, capaz de se defender de todos os rufias da escola e salvar nerds com cenouras, tinha pontos fracos.

Ele nunca fora de ter amigos. Nunca soube o que era ter essas coisas chamadas de 'amor com pessoas próximas'. Todas, para ele, eram iguais.

No entanto, tudo muda. A partir dos catorze anos, começou a entender que o amor que a mãe tinha por ele não era como os outros; e o contrário também. Foi um erro não conseguir distinguir as coisas. Mesmo alguém inteligente como ele, não era capaz de dividir o que era o ódio do amor.

Tudo por culpa do maldito nerd do Deku.

Desde que não tocassem naqueles que ele considerava 'relativamente próximos', que se contavam em duas mãos, a contar com a família, estava tudo bem. No entanto, o senhor quebrara todas as suas barreiras de uma vez... O que lhe fez, simplesmente, saltar a tampa e impedir que qualquer parte de si pensasse.

No entanto, apenas uma coisa o interrompeu. 

O olhar vermelho da mãe, quase a chorar. Bakugou petrificou um pouco com aquele olhar.

A mãe dele... Nunca chorava. Nunca mesmo. Nunquinha.

A mãe dele era incrivelmente forte. Era a mulher mais incrível que conhecera até então.

Então... Porque ela chorava? O objetivo não era protegê-la?! Claro que era!! Ela não devia estar feliz por, finalmente, depois de tantos anos, alguém fazer frente ao puto do avô para a ajudar a ela ou a mais alguém que sofresse nas suas mãos?

 Se Katsuki a faria chorar... Então, não era melhor que o avô.

Cuspiu um palavrão entre dentes, enfiando as mãos nos bolsos. Deslizou o olhar para o lado, sentindo-se culpado. O peso no peito começou a aumentar, substituindo a raiva e impulsividade, a ansiedade e adrenalina, por culpa. 

Porque raios Bakugou se sentia tão culpado?

Suspirou, virando costas, em direção ao seu quarto.

" - Como queiras".

E a última coisa que se ouviu, naquela casa, foi a porta do seu quarto estourar em frustração, num grito tão alto como o que ele queria dar, no momento.


Notas Finais


Adivinha quem tem mais um capítulo pronto?? Agora sim, começou a verdadeira história!!

Há personagens que ainda se vão revelar bastante sujas e outras igualmente puras, contudo, ligeiramente manchadas. Espero que estejam a gostar tanto quanto eu!!~

...

ATENÇÃO:

Para quem quiser como é o físico atual do Kacchan e do nosso querido Deku - https://www.youtube.com/watch?v=_THwLMN-tXk (De nada pelo vídeo)


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