História Take on Me - You have Come to Mean so Much to Me

Sarah

- Vamos lá, Sarah, você de novo! Se defenda! – Incentivou Annabelle.

Super fácil conseguir evitar um soco ou chute ou mesmo dar um golpe em um super agente. Ela lançou um soco em minha direção, mas consegui ir para o lado e ao tentar acertá-la, ela pegou minha mão e a virou, levando-a para minhas costas, logo em seguida bateu seu pé no meu, me desequilibrando e me fazendo ir direto com cara no chão. Ai meu nariz!

- Sarah, tem que se defender.

Eu me sentei no tatame a encarando.

- Comecei a treinar a algumas semanas! Não virei ainda uma ninja fodona!

- Ninguém vira uma expert de luta em algumas semanas, mas já aprende a se defender. Olha, garota, eu sou sua guarda costas, mas se acontecer de eu estar ocupada e não conseguir chegar a tempo, você precisa se salvar sozinha. – Disse ela esticando a mão para eu segurar.

- Eu não gosto de usar a força. Prefiro a astúcia. – Peguei a mão a puxei, fazendo-a cair ao meu lado. – E então tendo algum objeto em mãos a faria desmaiar.

- Só que você não tem. – Respondeu a agente revirando os olhos já deitada.

- Em breve terei. Estou construindo algumas bugigangas. – Informei me levantando.

Ela se levantou logo em seguida e fomos em direção as toalhas. Peguei a minha para secar o suor, ainda bem que ser agente secreta não estava nos meus planos. Eu só tinha topado aprender a me defender porque Tony encheu muito meu saco. Pior que ele queria me ensinar. Não mesmo. Preferia Annabelle, que dava para rir nos intervalos do treino.

- Sarah, o que você faz aqui? – Perguntou Pepper entrando na sala.

Ferrou!

- Pepper, minha querida. – Digo me virando e mostrando meu melhor sorriso. – O que você está fazendo aqui? Achei que só voltava daqui há duas semanas de Atlanta.

Ela cruzou os braços e estava com uma expressão bem séria. Veio se aproximando bem devagar.

- Eu consegui resolver o problema rápido, agora responda minha pergunta.

- Estou treinando, você sabe que comecei as aulas há algumas semanas.

- Sim, eu sei, só que você deveria estar em Nova York e estudando. – Disse Pepper parando bem na minha frente.

É eu deveria estar. Dias depois da reunião com os heróis, eu entrei na universidade de Nova York no curso de robótica. O problema era que depois de alguns meses notei que estava muito a frente da sala graças às aulas que assisti no curso em Liverpool. Eu não queria ficar trancada numa sala onde já sabia o que acontecia e ter que ficar escutando tudo de novo. Normalmente eu invadia as aulas de outro curso, como ciências da computação, ou ia dormir na biblioteca. Às vezes Annabelle me levava para algum canto. Sim, eu consegui convencer Anna. O nosso acordo era não ter problemas na universidade e ter notas ótimas, e ela não contava para ninguém. Eu tinha pulado dois semestres do curso, mas resolvi não pular mais, por achar que podia perder algo importante, mas me enganei.

- Deveria estar na aula, mas também to com provas, porém...

- E por que não está fazendo? A quanto tempo está acontecendo isso? Seu pai sabe disso? Pode se explicando.

Eu podia falar que ela não era minha mãe e não lhe devia satisfações, mas aquele tempo que convivi com ela, aprendi a respeitar e gostar. Ela não substituiu minha mãe, mas trouxe o conforto que precisava de uma figura materna.

- Primeiro: respira! Eu não quero que tenha um infarto. Segundo, eu já fiz as provas, pode ficar sossegada, e posso dizer que arrasei. E como Natal está aproximando, e vocês resolveram comemorar aqui na mansão em Malibu, decidi vir uns dias mais cedo. Só faltei algumas semanas e...

- E agente Petrov, como pode ter dado apoio a essa ideia? – Questionou a namorada de Tony me interrompendo.

Ela estava bem irritada.

- Por que está sobrando para mim? Olha, eu fiz um acordo com ela e até agora ela está cumprindo. – Respondeu a agente levantando as mãos em rendição.

- Pepper, Anna não tem nada a ver com isso. Infelizmente ou felizmente, eu tenho a inteligência do Stark. Para você sentir melhor, assisto até aula de outros cursos. E não, Tony não sabe que não fui às aulas, acha que fui liberada mais cedo.

Pepper revirou os olhos com meus comentários.

- Eu não quero que tenha problemas por causa disso. – Contou a moça.

Aproximei-me dela e beijei seu rosto para acalmá-la.

- Não terei, confia em mim. Agora vou tomar um banho e me arrumar, que tenho que encontrar com Tony. A gente continua amanhã, Anna.

Sai deixando as duas para trás e tendo certeza que Pepper ia falar um monte para a agente.

[...]

Entrei na oficina e encontrei Tony sentado, mexendo em alguns chips. Deviam ser para a nova armadura. Meus olhos passaram por elas e me perguntei pra que mais? Sabia que tinha que se atualizar, mas precisava de tantas?

Desde que comecei a morar com ele, notei que tinha algo errado. Achei que era coisa da minha mente, mas eu via que muitas vezes ele ficava enfiado na oficina, claro que arranjava tempo para passar comigo - contra a minha vontade - e com a Pepper, mas sua mente muitas vezes estava em outro lugar.

Ah não, ele começou a cantar. A voz dele era horrível, ainda mais tentando imitar Steven Tyler.

Deus, eu merecia mesmo sofrer.

- Tony, hora do recreio acabou. – Brinquei, me aproximando.

- Ok, chefe. Jarvis, pare a música. – Ele guardou os chips e levantou-se. – Antes de voltarmos para o motor que tal conversarmos sobre a mentira que me contou sobre ter sido liberada da faculdade mais cedo, mocinha?

Homem de Ferro fez uma cara de bravo como se fosse me assustar. E mais uma vez ele tentando ser o pai sério. Eu odiava quando ele fazia aquilo.

- Eu não menti, na verdade omiti. Acho que não devo mais explicações, no final vai dar tudo certo. Jarvis, pode abrir o projeto.

- Claro, senhorita Stark.

A versão 3D apareceu bem na nossa frente. Stark foi convidado pelo Fury para melhorar seus brinquedos e criar um sistema de defesa, e ele achou que seria ótimo para passarmos um momento pai e filha. Eu não gostei daquilo, mas o projeto era tão tentador que não resisti e aceitei.

- Sarah, que história é essa?

- Olha, antes que “brigue comigo” – Comecei fazendo aspas com as mãos. – Eu sei que você fazia isso. Duvido que ficasse nas aulas o tempo todo.

- Ficava sim... Quero dizer, a maior parte do tempo.

- O sujo não pode falar do mal lavado. E garanto que assisti a maioria das aulas, só não todas.

- Sarah, eu não quero problemas com a universidade.

- Relaxa, Tony, e vamos concordar que é mais fácil você do que eu. Lembra quando resolveu me buscar na primeira semana de aula e assustou aquele cara que veio falar comigo?

- Ele veio com segundas intenções. – Explicou cruzando os braços.

- Não importa, não devia ter feito aquilo. Ainda mais o ameaçando.

- Sabe que o Banner não ia atrás dele de Hulk.

- Mas ele não sabia. Papel de pai não combina com você. Agora vamos trabalhar.

Pude notar que minhas palavras o machucaram, mas ele tinha que ver que não viraria meu pai de uma hora para outra. E não achava que conseguiria ocupar aquele papel na minha vida.

[...]

Joguei-me na cama depois de um longo banho, já que quase queimei meus neurônios para resolver o problema do motor, precisava esfriar a cabeça. Não podia negar que tinha sido bom aquele momento que passamos juntos e que nossas ideias se completavam, mas aquilo não mudava o fato do abandono.  Ele como pessoa dava para conviver, mas quando tentava dar uma de pai, não funcionava mesmo.

Meu celular começou a tocar e pela música já sabia quem era. Apertei na tela para conversarmos.

- Sarah, como vai? – Perguntou Louise com um sorriso.

- Bem e você? Como está Nova York sem mim?

- Inteira, graças a Deus!

- Não exagera. Pepper e Tony descobriram?

- Eu disse que eles iam descobrir.

- Sim, só errou o fato de quase me matarem.

- Vai dizer que não brigaram?

- Sim, mas não como você disse.

- Certo, vai voltar quando?

- Depois do Ano Novo. Vai passar as festas com o papagaio?

Sim, eu já dou apelido ao agente Barton.

- Espero que sim, ele está em missão e não confirmou se chega a tempo.

- Droga, a SHIELD não fecha para feriado?

- Não, vai que alguém tenta acabar com o mundo nessa época.

- Espero que não.

- Se não der, passo com Arrow mesmo.

Arrow era o cachorro deles. Aquele nome era super estranho, e quando descobri que foi o passarinho que escolheu, não fiquei surpresa. Imagine o nome dos filhos, meu pai do céu.

- Se quiser vir pra cá, tenho certeza que não se incomodam.

- Não, agradeço, mas vai que ele chega no dia seguinte.

- Sabe com quem o Steve vai passar?

Ela me deu um sorriso travesso. Louise já pensou errado de mim. Eu só perguntei por que era triste passar aqueles tipos de festa sozinho. Será muito triste o primeiro natal sem minha mãe, que saudade dela... Se não tivesse morrido, estaríamos mais uma data juntas.

- Não sei. Eu o convidei para passar com a gente, mas se recusou. Não duvido passar na S.H.I.E.L.D.– Disse Louise afastando meus pensamentos.

Será que Tony o deixaria passar com a gente?

- Ou na Torre com o Dr. Banner.

- Banner vai vir para cá. Tony o convenceu a passar com a gente. Usou a Anna como argumento.

- Olha só, Dr. Banner atacando. – Nós duas começamos a rir. – Mas voltando a falar do Steve, eu não sei também se a missão dele termina a tempo. Dessa vez Clint não foi com ele.

- Está sozinho na missão?

- Não, está acompanhado da Natasha.

Por que estava sentindo um pequeno ciúme daquilo? Para né Sarah, deixa isso para lá.

A porta do meu quarto abriu e Tony só colocou a cabeça para dentro dele.

- Sarah, hora de dormir.

- Sério mesmo?

- Sim, esqueceu que amanhã cedo você vai com a Pepper na empresa?

Droga, eu tinha mesmo esquecido.

- Ta bem, deixa eu dar tchau para a Louise.

- Hey,Lady. Fala para o penudo que não esqueci o que ele fez com aquele lazer e que me deve um novo. – Avisou o playboy entrando no cômodo.

Clint tentou aprontar com o Tony por ele ter estragado o jantar de aniversário de namoro do casalzinho. Eu ainda não tinha entendido o que o Gavião havia feito, mas envolveu pipoca de manteiga e um lazer que Homem de Ferro tinha que entregar para a empresa. E não foi nada legal.

- Quem sabe seja isso que ele dê para você de Natal. Depois conversamos melhor, Sarah, boa noite!

Louise encerrou a ligação e coloquei o celular na cômoda ao lado da cama. Puxei as cobertas e me cobri, Tony se aproximou e por alguns segundos ficou sem ação. Eu não entendi o que estava acontecendo, mas por fim ele resolveu dar um peteleco na minha testa.

- Hey, por que fez isso? – Questionei, passando a mão no local.

- Por ter mentido para mim.

- Eu não menti, só omiti. – Disse bufando e tirando a mão na minha testa.

Ele me deu um sorriso torto, e passou os dedos carinhosamente no lugar que dera o peteleco.

- Boa Noite, Sarah.

- Boa Noite, Tony.

[...]

Narrador

Ao fechar a porta, o sorriso desapareceu e deu lugar a um ar triste. Cada passo que dava, sentia sua mente pesar de culpa, ao lembrar-se dos argumentos utilizados mais cedo pela garota sobre o que houve, o mostrou que seus erros trouxeram consequências.

Como ele poderia brigar com ela, se ele mesmo fizera as mesmas coisas? Como podia ser um bom pai, se seu passado o apontava que seria o contrário? E Sarah não o via como pai e sim um amigo.Quando a convidou para ajudar no projeto da S.H.I.E.L.D. pensou que seria oportunidade de aproximá-los, e foi aquilo que aconteceu, mas não exatamente como queria. E ainda se perguntava se um dia ela ainda o chamaria de pai.

Ele parou na porta de seu próprio quarto e a encarou. Não queria dormir, sabia que assim que fechasse os olhos, as imagens da luta de Nova York invadiriam sua mente. O problema não tinha sido a luta em si, mas ao entrar por aquele buraco, vira a morte de frente. Estava disposto a morrer pelo mundo onde sua amada e sua filha, até então desconhecida, estavam.

Sua respiração foi ficando irregular e logo se viu cair de joelhos. Sua mão foi para o peito, tentando acalmá-lo.

- Senhor, precisa que eu chame a senhorita Potts?

- Não... Precisa...Eu já... Estou ficando... Melhor.

Sua respiração foi voltando aos poucos e ele se levantou devagar.

- Jarvis, Pepper já está dormindo?

- Sim, senhor.

 Ele encarou a porta e deu meia volta, naquele momento precisava se ocupar e nada melhor como trabalhar na nova armadura.