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História Tales of a Flammable Love Story - Portgas D. Ace - O Arquivo


Escrita por: K1NGSL4YER

Notas do Autor


Oooooooi, xuxus! Trazendo mais um capítulo de TOAFLS antes que vcs morram do coração kkkkkkkkk

Hoje temos uma grande revelação (que nem é tão grande assim, mas espero, ao menos, surpreender algumas pessoas KKKKKKKKKKK). Não vou mentir, estamos chegando na minha parte favorita da fanfic e tava muito ansiosa pra finalmente ver as reações de vocês! Espero que gostem!

Não vou me estender muito aqui porque quero postar logo aaaaaaaaaaaa

Ah, tem recadinhos nas notas finais, leiam com carinho!
E vamos pro capítulo de hoje!

Capítulo 41 - O Arquivo


Memórias de Ace

Nyx desmaiou assim que deu o primeiro passo no convés do Moby Dick, desabando nos braços de Marco e sem qualquer aviso. Não me deixaram carregá-la até a enfermaria, nem esperar por lá até que a equipe médica terminasse de tratar seus ferimentos. Havia usado toda minha força e energia para carbonizar aquela ilha, por isso não insisti. Em vez disso, sentei-me em um canto do convés com a cabeça entre os joelhos enquanto aguardava notícias.

As horas se arrastaram por uma eternidade agonizante, e, por mais que o cansaço pesasse sobre meus ossos, não caí no sono sequer uma vez. A preocupação em relação a Nyx se recusava a deixar meus pensamentos, mantendo-me em um estado de alerta mesmo depois de estarmos em alto-mar. Resgatá-la não havia sido suficiente, precisava garantir que ela ficaria bem.

Estávamos todos reunidos no convés, que nunca estivera tão silencioso como naquela madrugada, quando Marco finalmente retornou da enfermaria, a expressão fechada e o cabelo bagunçado. Ele caminhou até o lugar em que eu me sentava, próximo ao pai, chamando os outros irmãos para que se aproximassem. Inspirou profundamente e esfregou os olhos, em uma óbvia tentativa de afastar o cansaço, antes de dizer, em tom sério:

— A condição dela é estável-yoi. Está sedada para que consiga descansar melhor.

— E quais foram os... estragos? — perguntou Thatch, engolindo em seco.

— Desidratada e desnutrida. Seis costelas fraturadas, hematomas por toda a região do tronco e do rosto, além de um dente quebrado-yoi.

— Desgraçados — rosnou Izo, entredentes.

— Essa não é a pior parte-yoi. — Marco balançou a cabeça, correndo os dedos pelos cabelos. — Os ossos da mão e do antebraço direitos estão completamente destruídos. É como se tivessem sido esmagados. 

— Puta merda — murmurou Jozu, incrédulo.

— Ah, acho que vou vomitar… — resmungou Haruta, levando uma mão ao estômago.

— Isso tem concerto? — indagou Thatch, outra vez.

— Não sei dizer-yoi. Eu fiz o que pude, mas como ela me pediu para amarrar o braço nas costas, a estrutura óssea ficou ainda mais debilitada. Quer dizer, vai cicatrizar e ela ainda conseguirá movimentar a mão e os dedos, mas não sei até que ponto. Seria preciso uma cirurgia para corrigir os danos, e, mesmo assim, não sei se voltaria aos cem por cento-yoi — esclareceu Marco, a expressão perdida e o olhar fixo no chão. — Talvez tenha sequelas pelo resto da vida.

— Meu Deus, o que fizeram com ela? — Vista suspirou, em tom preocupado.

— Nada agradável, pode ter certeza — retrucou Izo, revoltado.

— Por isso ela estava tão obcecada por matar aquele cara — comentou Jozu.

— E por isso a ameaça ao Akainu — completou Thatch.

— Vocês viram aquela expressão no rosto dela? — Vista perguntou, apontando para os próprios olhos.

— E aquele Haki assustador? — indagou Haruta, assombrado. — Como ela sabia que o Sengoku também estava lá? Parecia que ela os enxergava através do den den mushi! 

— Isso é o de menos — disse Izo —, ela executou trinta e cinco homens de uma só vez. Com o braço amarrado nas costas.

— E foi acertando sempre no mesmo lugar — observou Thatch, o que fez Marco franzir as sobrancelhas.

— É mesmo. Bem sobre o olho esquerdo. Por que será-yoi?

— Não eram golpes limpos.

— Ela desmembrou aquele de uniforme escuro e o fez sangrar até a morte.

— Ela herdou a inclemência do pai.

— Não sabia que essa era a força do Olhos de Falcão.

— Se acham que aquela ira assustadora no olhar de Nyx têm alguma relação com Mihawk, estão muito enganados — o pai interveio, interrompendo o fluxo da conversa.

— Como assim? — indagou Thatch, confuso.

— Aquele pirralho gótico é caprichoso demais para se deixar levar pela raiva — disse o velho, sua voz grave fazendo o ar vibrar. — Se a Escriba herdou isso de alguém, não foi dele.

— De quem foi, então? 

— Ora, não reconheceu a expressão no rosto dela, Marco? — perguntou, erguendo uma sobrancelha. — Aquele Haki bizarro... O estilo dos golpes… Santo Deus, até mesmo a postura, sem um dos braços! — exclamou, em tom assombrado. — Tudo nela remetia ao Ruivo!

— Cacete, é verdade! — murmurou Izo, levando uma mão à testa.

— Mas isso ainda não explica por que ela fez questão de acertar todos os golpes no mesmo ponto-yoi — comentou Marco, balançando a cabeça. — Shanks não costuma atravessar a cabeça de seus inimigos com a espada.

— Por que está tão incomodado com isso? — Thatch franziu o cenho.

— Pode ser apenas a forma mais eficiente que ela encontrou de matar aqueles desgraçados. Nyx já admitiu que nunca havia feito isso antes — sugeriu Jozu.

— Não sei... Me parece que tem algo a mais por trás disso — Marco balançou a cabeça outra vez. — Ela não executou nenhum deles de outro jeito. Isso não é normal-yoi.

— Não pergunte a ela, Marco — eu disse, pela primeira vez me intrometendo naquela conversa. Estava há tanto tempo sem falar que minha voz falhou.

— Quê? — resmungou, voltando o olhar na minha direção.

— Não pergunte a ela o motivo disso.

— Por que não?

— Ela passou por um verdadeiro inferno. Muito provavelmente está traumatizada — murmurei, sentindo a revolta borbulhar em meu estômago, embora estivesse cansado demais para expressar minha raiva. — Eu a conheço o bastante para saber que ela não vai querer falar nada a respeito, porque isso significaria relembrar tudo o que viveu naquela ilha nojenta. Então, por favor, não faça isso com ela.

Encarei meu irmão diretamente nos olhos para garantir que ele entenderia que aquilo não era exatamente um pedido. Marco sustentou o olhar, erguendo uma sobrancelha, como se me desafiasse sem dizer uma única palavra.

— Ele tem razão, Marco — interveio Thatch, ao perceber nossa discussão silenciosa. — Quer dizer, até hoje não sabemos muita coisa sobre o lance do Mihawk…

— Certo. Vamos deixar isso de lado, por enquanto-yoi.

— Deixe isso de lado para sempre.

— Ace, ela vai precisar botar isso pra fora eventualmente-yoi. É uma forma de superar o trauma — argumentou, e seu tom irritado me fez ajeitar a postura inconscientemente.

— Não interessa. Não vou permitir…

— Acho melhor esperarmos para ver o estado dela antes de tomarmos qualquer decisão — interrompeu Thatch, outra vez. — Sabemos que ela tem uma forma muito particular de lidar com as coisas, então é melhor observarmos primeiro.

Marco e eu nos encaramos por último instante, em uma última briga silenciosa. E, pela maneira como ele soltou todo o ar dos pulmões pela boca em um suspiro pesado, soube que acabei vencendo. Era natural que eu discutisse com meus irmãos, mas o estresse da situação de Nyx parecia ter feito com que eu e Marco ficássemos à beira de uma guerra. 

E simplesmente odiei isso.

Realmente esperava que aquela fosse nossa última briga. Não queria ser motivo de mais dor de cabeça para ninguém, muito menos para Nyx, que com certeza tentaria resolver o conflito a qualquer custo.

— Está bem — disse Marco, por fim, dando as costas para nosso grupo. — Vou voltar pra enfermaria-yoi. Aviso vocês assim que ela acordar.

❤️

Nyx permaneceu inconsciente por dezoito longas horas.

Quando Marco finalmente apareceu na cozinha para comunicar que ela havia acordado, disparei até a enfermaria, seguido pelo restante de meus irmãos, parando abruptamente em frente à cortina que isolava a cama da escriba do restante da ala médica do navio. Com cuidado, puxei o tecido para o lado, encontrando a minha amada princesa noturna de olhos fechados, com inúmeros curativos espalhados no rosto e uma tipóia de aspecto muito confortável no braço direito. Ainda parecia pálida e magra demais, mas aquela expressão sombria havia desaparecido, substituída por sua habitual serenidade sobre-humana.

— Marco... que porra é essa? — resmungou, a voz arrastada.

As palavras saíram meio enroladas, com o sotaque — que eu particularmente achava muito charmoso — bem mais pesado que o habitual, como acontecia quando Nyx bebia demais. Presumi que fosse efeito do que quer que Marco estivesse injetando na veia da escriba para amenizar a dor dos ossos quebrados.

— Você está na enfermaria do Moby Dick-yoi — respondeu ele, passando por mim para checar a bolsa que estava no suporte ao lado da cama.

— Eu sei que estou na enfermaria — retrucou, franzindo as sobrancelhas. — Estava me referindo a essa agulha no meu braço.

— Ah, isso aí é morfina.

— Tire.

— Receio que isso não seja possível.

Tire.

— Nyx, eles trituraram os ossos do seu braço. Se eu tirar, vai desmaiar de dor-yoi — argumentou, impaciente.

— Eu prefiro isso a esse sentimento horrível de não sentir metade do meu cérebro. A metade que presta — retorquiu a escriba, a expressão irritada conforme abria os olhos.

Seu comentário fez Marco soltar um risinho sarcástico.

— Não vou tirar-yoi — afirmou, decidido. — Por acaso percebeu que tem uma legião de pessoas querendo conversar com você aqui?

A escriba lentamente voltou o olhar na nossa direção, erguendo as sobrancelhas ao perceber que estávamos quase todos ali. Uma mistura de alívio e felicidade percorreram o meu corpo quando seus olhos amarelos encontraram os meus, e, subitamente, senti todos os meus sentidos retornarem de uma só vez. Se Nyx sentiu qualquer coisa ao me ver, porém, não demonstrou. Talvez fosse por conta dos sedativos.

— Bom dia, meninos — disse, no tom mais casual do mundo.

— São sete da noite, Nyx — respondeu Thatch.

— Boa noite, meninos — retrucou, o que o fez soltar um risinho.

— Fico feliz em saber que você continua espertinha.

— Eu estaria mais esperta se Marco tirasse esse tubo desagradável do meu braço.

— Até sedada você consegue ser uma pentelha-yoi — provocou Marco.

Nyx, por sua vez, apenas revirou os olhos, mas a ação pareceu incomodá-la de alguma forma porque logo em seguida seu rosto se contorceu em uma careta.

— Como está se sentindo? — perguntei.

— Não sinto metade do corpo e a metade que sinto está um lixo. Mas estou viva. Acho que isso é mais importante que todo o resto.

— Deus, você quase matou a gente de susto! — exclamou Izo, a voz trêmula. — Nunca mais se atreva a desaparecer assim, mocinha!

— Sério, que coisa ridícula — resmungou Nyx, parecendo profundamente insatisfeita. — Supostamente, eu deveria ser a pessoa mais inteligente do planeta. Não acredito que fui pega de uma forma tão estúpida. Acho que o Ace me contagiou com a burrice dele.

— Dizem que a paixão deixa as pessoas idiotas-yoi.

— Então vamos precisar terminar, porque me recuso a passar por outra humilhação como essa. — A escriba voltou o olhar na minha direção outra vez, mas seu tom sério demais apenas me fez soltar uma risadinha aliviada.

— Você fica engraçada quando está de mal-humor.

— Vai ser mais engraçado ainda quando eu conseguir levantar e acertar um chute no meio das suas pernas — retrucou, fechando a cara.

— Acho que isso vai demorar um pouquinho.

— Nossa, minha cabeça vai explodir — choramingou, jogando a cabeça no travesseiro, mas subitamente voltou a erguê-la, com uma expressão preocupada no rosto. —  E minhas costelas? Marco, por que não sinto minhas costelas?!

— Como assim "não sente"-yoi?

— Elas estão... formigando —  Nyx fez outra careta. — Que sensação desagradável.

— Bem, você fraturou seis delas, então elas vão ficar esquisitas por um tempinho.

— Que merda.

Com isso, a escriba voltou a se deitar e encarou o teto, ignorando completamente o fato de que nós ainda estávamos ali.

Um breve momento de silêncio se estendeu enquanto meus irmãos se concentravam para conter o riso, ao passo que eu debatia se realmente deveria fazer o que queria desde que a encontrara naquela masmorra horrível. No fim, minha vontade falou mais alto.

— Nyx? —  chamei, sem conseguir me conter por mais um segundo.

— Hum?

— Posso te abraçar?

— Pode — disse, em tom suave. — Só não sei se vou conseguir te abraçar de volta.

Não perdi mais um único segundo sequer, avancei até a cama e envolvi seu pescoço com os braços, tomando cuidado para não machucá-la ao me debruçar sobre ela. Aliviado, senti o quanto sua temperatura corporal havia aumentado desde que a tocara pela última vez, permitindo-me apoiar a testa na sua e acompanhar o ritmo desacelerado de sua respiração de olhos fechados. Por um momento, não disse mais nada, aproveitando a tranquilidade que lentamente se espalhava pelo meu corpo ao finalmente ter a certeza de que ela estava a salvo e ao meu alcance.

— Achei que fosse te perder — murmurei, por fim, sentindo um nó apertado na garganta.

— Não tão rápido, Portgas. Você precisa ao menos me pedir em casamento antes de eu bater as botas — retrucou a escriba, em tom suave, fazendo-me abrir os olhos outra vez.

Seus olhos amarelos pareciam pesados e sonolentos, mas ainda mantinham o brilho característico que eu costumava associar à inteligência anormal de Nyx. 

— Vou guardar essa informação — disse, sentindo um sorrisinho se espalhar por meu rosto.

— À propósito, o que você queria me falar? — murmurou, subitamente franzindo as sobrancelhas.

— Como assim?

— No festival. Você disse que precisava me dizer uma coisa importante. — Nyx ergueu o queixo, fazendo com que as pontas de nossos narizes se tocassem. — O que era?

Uma enorme pedra gelada afundou em meu estômago, fazendo-me estacar por completo. Mais uma vez, fui tomado pela ansiedade ao perceber que havia me esquecido totalmente de que ainda precisava lhe dizer a verdade sobre Roger. 

— Podemos discutir isso quando você estiver recuperada, ok? — respondi, sem conseguir pensar em outra saída rápida para aquela situação. Não queria mentir, mas nossos irmãos estavam a menos de dois metros de distância e eles não podiam ouvir nossa conversa.

— Você não vai fazer isso comigo — choramingou.

— Prometo que vou te contar assim que você sarar, está bem? — garanti, acariciando sua bochecha com a ponta do nariz, ao passo que a expressão emburrada de Nyx se suavizou. — Só que isso precisa esperar.

— Certo — resmungou, contrariada. — Mas vai pagar caro por me deixar curiosa.

— Tudo bem —  disse, esforçando-me para conter o alívio em minha voz. — Aceito qualquer punição que você quiser me dar.

A escriba aproximou o rosto do meu novamente e fechou os olhos, em um pedido silencioso para que eu continuasse minhas carícias, o que fiz sem pestanejar. Só que mal consegui depositar um beijo em sua bochecha antes que nossos irmãos, que até o momento só haviam nos observado em silêncio, resolvessem se manifestar.

— Ei, Romeu! Você não foi o único que salvou sua Julieta, não! — exclamou Thatch, em tom ressentido.

— É! Te impedimos de fazer besteira enquanto ela estava desaparecida! — reclamou Izo. — Se estão juntos, é porque nós o seguramos! 

— E eu estou cuidando dela desde que desmaiou no convés-yoi!

— Não fique com o crédito todo pra você! Também queremos um abraço!

Nyx apenas revirou os olhos, ao passo que me afastei, rindo da sua expressão desconcertada enquanto ela os chamava:

— Venham, seus velhos carentes! 

❤️

Permaneci na enfermaria com Nyx, debruçado sobre um pequeno espaço vazio da cama ao seu lado. Por um bom tempo, apenas fiquei em silêncio, observando-a enquanto ela cochilava sob o efeito dos remédios, até que acabei caindo no sono também. Fui despertado ao sentir seu mindinho gelado deslizando por minha bochecha delicadamente, encontrando-a completamente acordada ao abrir os olhos, sem aquele ar sonolento de antes.

— Oi, minha princesa — murmurei, abrindo um sorriso.

— Eu também preciso te contar uma coisa importante, mas não quero esperar para falar — disse, e seu rosto assumiu uma expressão que não consegui decifrar.

Endireitei a postura diante de seu tom sério. Nyx nunca havia mencionado nada a respeito antes, o que me deixou alarmado. Será que me diria algo que acontecera durante os dias que passou naquela ilha? 

— Tem certeza? — perguntei, preocupado. Se realmente fosse algo relacionado à sua tortura, não tinha certeza se realmente era uma boa ideia conversar sobre aquilo tão cedo. Muito menos enquanto Nyx estivesse dopada.

Entretanto, a escriba apenas acenou com a cabeça, desviando os olhos para os próprios pés.

— Tenho. Eu pretendia esconder isso por quanto tempo conseguisse, mas não sinto que seria justo com você, então me deixe aproveitar a coragem antes que ela acabe.

— Esconder? — repeti, confuso com suas palavras. — O que está dizendo, Nyx?

— Veja se há alguém por perto — pediu, e, quando lhe assegurei que estávamos sozinhos na enfermaria, ela me chamou para mais perto.

A escriba passou um longo instante encarando o nada e respirando profundamente, como se estivesse hesitante ou tentasse se acalmar. Por fim, voltou os olhos amarelos na minha direção, fitando os meus com intensidade, e pude jurar que ela tomou um último fôlego trêmulo antes de murmurar, em tom muito sério.

— O Arquivo não é um lugar.

Minha única reação foi ficar extremamente confuso.

— Quê?

— O Arquivo não é um lugar — repetiu, sem alterar o volume da voz, muito baixa. — Não é um prédio ou uma biblioteca, não está em nenhuma ilha na Grand Line ou em qualquer outro lugar do mundo.

— Como assim? — Franzi as sobrancelhas. —  Ele não existe?

— Existe, mas... dentro da minha cabeça.

Acho que passei um minuto inteiro apenas encarando-a sem dizer uma única palavra, debatendo mentalmente se deveria me sentir incrédulo ou ainda mais confuso com o que acabara de ouvir.

— Acho que você não está totalmente acordada…

— Não, você não está entendendo! — interrompeu-me, frustrada. — Escute, eu nasci com uma... “condição especial”. Minha cabeça funciona de um jeito diferente das outras pessoas. É por esse motivo que consigo me lembrar de absolutamente tudo o que vi e ouvi desde que aprendi a pensar.

— Mas… qual seria a relação disso com o Arquivo? — indaguei, cogitando a possibilidade de ela estar usando algum tipo de código.

— Preste atenção. Eu sou incapaz de esquecer, entendeu? Me lembro de tudo, nos mínimos detalhes. Não há sentido em criar um banco de informações concreto se não preciso guardar nenhum documento físico.

— Nyx, eu não estou entendendo muito bem.

Na verdade, não estava entendendo absolutamente nada. 

— Vou tentar resumir de um jeito que não pareça absurdo. — A escriba empertigou-se em sua cama, ajeitando os ombros e erguendo o queixo. — Eu tenho uma memória fotográfica, entendeu? Foi dessa maneira que consegui memorizar mais de duas mil histórias, e é assim que me recordo das informações que consegui roubar da Marinha. Não existe um prédio ou uma ilha em que guardo essas coisas escritas em papel, está tudo armazenado na minha própria cabeça — disse, encarando-me com firmeza. — Eu não possuo o Arquivo, eu sou o Arquivo.

Precisei de um momento para processar as informações conforme elas pareciam finalmente se encaixar, sentindo minhas sobrancelhas se erguerem enquanto a realização me atingia. Considerando a capacidade cerebral sobre-humana de Nyx, era perfeitamente aceitável que ela estivesse dizendo a verdade e que o Arquivo realmente não só apenas existisse na sua cabeça, como fosse a sua cabeça. Até mesmo a tatuagem descendo por suas costas parecia fazer muito sentido depois dessas informações.

E quando finalmente consegui assimilar tudo, uma gargalhada escapou por meus lábios, fluindo pela garganta e fazendo meus ombros chacoalharem. A escriba, por sua vez, franziu as sobrancelhas, visivelmente desconcertada com minha reação.

 — Está me dizendo que tudo o que aconteceu no último mês foi por nada? — perguntei, esforçando-me para segurar a risada, embora parecesse uma missão impossível.

— O que quer dizer? — O rosto de Nyx ostentava um misto de confusão e surpresa.

— A Marinha está te procurando há anos… vasculhando a Grand Line loucamente em busca do Arquivo… sendo que você estava aqui esse tempo todo! — exclamei, gargalhando descontroladamente. — É tão ridículo que chega a ser hilário! 

Não sei dizer quanto tempo passei rindo até que a realização me atingisse outra vez, fazendo com que meu peito fosse esmagado por uma sensação dolorosa e minha risada morresse em minha garganta, substituída por um nó apertado.

— Espera. Você… mentiu pra gente? — murmurei, sentindo um gosto estranho na língua. — Mentiu pra mim?

— Menti — admitiu, engolindo em seco.

— Por que fez isso? — indaguei, sem conseguir conter o amargor na voz.

— Ace, olhe para mim! Você viu o estado do meu braço! Sabe o que fizeram comigo! — exclamou, assumindo uma expressão ansiosa. — Me torturaram na esperança de que eu revelasse a localização do Arquivo. Porque querem destruí-lo. Se descobrissem que sou eu, seria executada em questão de horas! A única coisa que impediu Marinha de me matar até hoje foi a mentira de que o Arquivo está em algum lugar!

— Mas por que não nos disse nada? Nós nunca te entregaríamos! — retorqui, incrédulo.

— E se tentassem arrancar informações de mim à força?

— Ah, Nyx, jamais faríamos isso! Você é parte da família! 

— Mas como adivinharia, Ace? Como saber em quem confiar se todos os que se aproximam de mim a desejam alguma coisa? — retrucou, a voz meio trêmula. — E se Newgate tentasse me chantagear?

— Ele nunca…

— Mas e se tentasse? Não entende o que estou tentando dizer? Eu não tenho nenhuma garantia! — interrompeu-me outra vez, a expressão aflita. — Estou esperando a minha parte do acordo há mais de sete meses! A única coisa que pedi foi um nome. E, até agora, nada.

Isso foi suficiente para me fazer calar a boca.

Pela segunda vez naquele dia, a escriba me lembrou do fato de que eu ainda não havia lhe dito a verdade a respeito de Roger. E isso me fez perceber que havia muito sentido em suas ações, justamente porque eu fazia o mesmo. Escondia minha verdadeira identidade desde que ela pisara pela primeira vez no Moby Dick porque queria me proteger. Porque tinha medo do que ela poderia fazer quando descobrisse essa informação.

E, naquele momento, havia medo no olhar de Nyx.

— A questão não é se posso confiar em vocês. É que não posso confiar em ninguém. A minha vida depende da minha capacidade de manter esse segredo a salvo do resto do mundo, de continuar alimentando essa mentira até o fim dos meus dias — continuou, parecendo mais calma. — O Arquivo morrerá comigo, e a Marinha prosseguirá gastando tempo e recursos buscando algo que nunca existiu. Será que me entende agora?

Por um breve instante, o silêncio preencheu a enfermaria, mas não deixei que ele se estendesse por muito tempo. Suspirei, sentindo-me profundamente culpado ao perceber que não tinha o menor direito de me sentir ressentido com Nyx. 

— Entendo. Você só estava tentando se proteger — murmurei, desviando o olhar. — Quem mais sabe disso?

— Mestre Shanks. Ele é o único que sabe. Na verdade, foi ele quem me ajudou a bolar a mentira de que o Arquivo é um lugar.

— Certo.

Nyx segurou meu pulso, obrigando-me a voltar os olhos na direção dos seus mais uma vez.

— Ace, você sabe o que isso significa, não é? — indagou, em tom ansioso. — Eu estou confiando minha vida a você. Não conte aos outros o que acabei de lhe dizer aqui, entendeu? Marco, Thatch, Jozu, Deuce, Newgate… mais ninguém pode saber disso. Ninguém. 

— Está tudo bem, Nyx. Seu segredo está seguro comigo, não se preocupe — prometi, entrelaçando nossos dedos. — Apenas me garanta que nunca mais vai esconder nada de mim. Por favor, eu preciso confiar em você.

— Prometo — disse, assentindo com a cabeça. — Juro pelo meu Arquivo.

Ouvir essas últimas palavras foi muito mais doloroso do que eu esperava, mas não deixei a culpa transparecer em meu sorriso. 

— Obrigado.

— Me desculpe por esconder isso por tanto tempo. Eu sei que…

— Não precisa pedir desculpas por nada, minha princesa — tranquilizei-a, empurrando uma mecha de seus cabelos para longe de seu rosto. — Eu entendo.

Mais do que gostaria.

Em resposta, a escriba soltou todo o ar dos pulmões em um suspiro aliviado.

— Acho que agora finalmente posso dormir em paz.

— Está cansada? — Ela assentiu. — Tente cochilar mais um pouco. Vou ficar aqui com você.

Com isso, Nyx fechou os olhos outra vez, acomodando-se nos travesseiros antes de finalmente relaxar os ombros, que eu não percebera que estavam tão tensos até aquele momento. Permaneci em silêncio para deixá-la descansar, suavemente acariciando as costas de sua mão enquanto refletia se realmente seria justo esperar que ela se recuperasse para lhe contar a respeito de Roger. Estava quase sendo consumido pela culpa quando um pensamento muito específico pipocou em minha mente, fazendo-me esquecer momentaneamente de minha ansiedade.

— Nyx — chamei, fazendo-a abrir os olhos novamente —, e o Hermes?

— Como assim? — Franziu as sobrancelhas, confusa.

— Se o Arquivo não está em nenhum lugar, por que ele viaja com você?

— Não sei dizer. — Deu de ombros. — Desde que nos conhecemos, ele fica me seguindo por aí, então decidi adotá-lo como meu animal de estimação. Ele entrega minhas correspondências de maneira muito eficiente, além de ser uma boa forma de manter a mentira.

— Mas pra onde ele vai sempre que você o despacha? 

— Ele voa para longe e volta ao lugar em que estou. Acho que pensa que está me protegendo.

— E como ele sempre sabe onde te encontrar?

— Bem, isso é um realmente mistério — admitiu, desconcertada. — Ele só... me encontra, de uma forma ou de outra. Sempre achei que tivesse alguma relação com o instinto animal ou algo assim.

— Que bizarro.

— Quando ele começou a me seguir, pensava a mesma coisa. Hoje em dia, me deixa feliz. Significa que ele gostou de mim.

— Olhando por esse lado, até que faz sentido — comentei, inclinando a cabeça para o lado. — Quer dizer, o fato de ele te seguir por aí.

— Como assim?

— Bem, alguns pássaros costumam migrar em bandos — disse, em uma referência à época em que a chamava de rouxinol.

Em resposta, ela sorriu. Um sorrisinho bobo e tímido, mas, ainda assim, um sorriso. E isso foi o bastante para mim.


Notas Finais


GENTE SABIA QUE EU SOU ADM DE UM PROJETO DEDICADO EXCLUSIVAMENTE A PRODUZIR FANFICS DO NOSSO BUNDINHA DE FOGO???

BORA DAR UMA CONFERIDA NO @Ace_verso QUE TODA SEXTA-FEIRA TEM FANFIC NOVINHA PRA VOCÊS SE DELICIAREM! E AS INSCRIÇÕES PRA NOSSA STAFF ESTÃO ABERTAS VIU?

VEM FAZER PARTE DO UNIVERSO DO ACE COM A GENTE!


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