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História Tales of a Flammable Love Story - Portgas D. Ace - Muito Além do Perdão


Escrita por: K1NGSL4YER

Notas do Autor


Segunda-feira, dia oficial do update.
GENTE JURO QUE EU TENTO POSTAR DE SEXTA, MAS NUNCA CONSIGO ESPERAR! É MUITO DIFÍCIL PRA MIM KKKKKKKK

Aiai, hoje temos um dos capítulos que eu mais queria escrever e um dos mais... crus? Não sei explicar. Acho que chegamos no auge do desenvolvimento da Nyx, embora ela ainda vá surpreender muito vcs.
Me orgulho muito da minha menina🥰

Espero que gostem!✨
(P.S. Tô tentando postar um cap dessa fic por semana, vamos ver quanto tempo consigo manter o ritmo kkkkk)

Capítulo 48 - Muito Além do Perdão


Memórias de Ace

Nyx agarrou meu pulso e me arrastou para longe de Shanks, serpenteando em meio à multidão até alcançar o espaço que estava sendo usado como pista de dança no qual a jovem senhorita loira — cujo nome sequer me dei ao trabalho de perguntar — havia assassinado meus pés alguns minutos antes. Assim que encontramos um lugar para dançar, envolvi sua cintura com os braços e a puxei para perto, de modo que suas costas ficassem coladas ao meu peito. Ela sorriu, abraçando meu pescoço por trás e apoiou a mão livre sobre a minha, entrelaçando nossos dedos.

Sem que precisássemos nos comunicar, começamos a balançar no ritmo da melodia, movendo os quadris em perfeita sincronia. A música que preenchia o ar era suave e lenta, composta por instrumentos de cordas, pandeiros e acordeões. Dezenas de pessoas se aglomeravam ao nosso redor, mas não lhes demos qualquer atenção, ocupados demais em encarar os olhos um do outro para reparar que quase todos nos lançavam olhares curiosos.

— Então? — perguntei, sorrindo de volta. — Também gosta de quê?

— Nada demais — respondeu a escriba, lançando-me uma piscadinha. — Ele só queria implicar comigo.

— Ele parece gostar bastante de fazer isso.

— Nem me fale — suspirou, irônica.

— É engraçado.

— Diz isso porque não passou a vida toda sendo atormentado pelas piadas dele.

— Para de charme, dá pra ver que você gosta — retruquei, um sorrisinho despontando em meus lábios. — Vocês se dão muito bem. É uma relação muito bonita de se ver.

— Obrigada, eu acho. Me orgulho muito de ser aprendiz dele. Shanks é uma pessoa incrível.

— Tenho certeza de que ele se orgulha muito de você também. Principalmente se levar em consideração o quanto ele te mima.

— Ele não... Está bem, ele sempre me paparicou bastante — ponderou, dando de ombros logo em seguida. — Fazer o quê? Meu charme irresistível conquista corações desde muito jovem!

Seus lábios se partiram em um daqueles sorrisos encantadores que faziam algo dentro de mim derreter e senti o coração dar cambalhotas em meu peito. Ela estava tão linda naquela noite! Mal conseguira acreditar em meus próprios olhos quando a avistei. 

Quer dizer, Nyx era naturalmente bonita, mas, com o vestido vermelho e o cabelo arrumado daquela maneira, poderia facilmente alcançar o título de mulher mais bonita do mundo. Qualquer outra coisa parecia perder a magia perto da graciosidade da minha namorada, mesmo a imponência das construções colossais de Athenas e as inúmeras barraquinhas de comida do festival. Enquanto caminhava ao seu lado, fazia questão de estufar o peito, orgulhoso por poder ostentar por aí que havia conquistado aquela maravilha da natureza.

Boa Hancock não chegava nem aos pés da minha princesa.

— Senti falta disso — murmurei, sentindo um sorrisinho abobalhado tomar conta do meu rosto, ao passo que Nyx franziu o cenho.

— Disso o quê? 

— De você.

Em um único segundo, o sorriso em seus lábios se alargou, então gradualmente sumiu, transformando-se em uma expressão preocupada.

— Ace, me desculpe por... — começou em tom ansioso, mas não a deixei terminar.

— Ei, não, não. Não diga isso. — Levei uma mão ao seu rosto. — Você não tem culpa de nada.

— Só que não consigo deixar de pensar na forma como te tratei nos últimos meses. Como tratei todos vocês, na verdade. — Ela desviou o olhar, como se estivesse decepcionada consigo mesma. — Eu não estava bem, é claro, mas isso não justifica o que fiz. Vocês estavam tentando me ajudar e tudo o que fiz foi agir de forma desagradável. Perdão por isso.

— Escute, isso ficou para trás. Não importa o que fez ou deixou de fazer ontem. Vamos focar no hoje, tudo bem? — disse, acariciando sua bochecha. — Você está bem e está dançando comigo, e eu não poderia estar mais feliz por isso.

Ela voltou os olhos na direção dos meus outra vez, e algo em sua expressão se transformou. Um sorrisinho doce despontou em seus lábios e seu olhar desviou brevemente para minha boca, fazendo meu corpo todo arrepiar em antecipação. Inclinei o rosto na sua direção e fechei os olhos, atendendo ao seu pedido silencioso sem pestanejar.

Quando senti seus lábios macios contra os meus, quando sua língua quente se enroscou à minha e seus dedos se entrelaçaram em meus cabelos, perdi o fôlego em um suspiro aliviado. Fazia tanto tempo que eu não me permitia beijá-la ou sequer tocá-la de maneira mais desejosa. Tinha receio de forçar um contato que a fizesse se sentir desconfortável e temia ser inconveniente ao perguntar qualquer coisa a respeito. 

Pensava que estaria sendo egoísta se a incomodasse por algo tão idiota, principalmente considerando o estado em que ela se encontrava durante a recuperação. E, ao descobrir que meu desejo era recíproco, que toda aquela vontade que vinha acumulando nos últimos meses também lhe pertencia, senti uma tensão incômoda se desfazer por completo em meu estômago. Por isso, não me contive e a beijei com intensidade, deslizando as mãos por seu abdômen e apertando sua cintura.

Minha virilha formigava e sabia muito bem que Nyx podia sentir o quanto eu havia esperado por aquele momento. Seus quadris ainda se moviam no ritmo lento da música, que parecia distante demais comparado ao som das batidas do meu coração em meus ouvidos. Isso apenas estimulava meu corpo a responder de maneira instintiva conforme eu a puxava para ainda mais perto, pressionando-a contra mim até que não houvesse mais espaço entre nós. 

Não que me incomodasse com algo desse tipo. Afinal, Nyx nunca fizera questão de esconder que adorava sentir na pele o quanto eu a desejava o tempo todo.

Só nos afastamos porque precisávamos respirar, senão, teríamos continuado aquele beijo por muito mais tempo. Apoiei minha testa na sua, sentindo o peito vibrar enquanto tentava recuperar o fôlego. A escriba tinha a respiração descompassada e um sorrisinho satisfeito nos lábios, e seus olhos amarelos me encaravam com as pupilas dilatadas, fazendo-me sorrir também.

— Senti falta disso também — murmurei.

— Eu que o diga — retrucou, seus lábios roçando contra os meus.

— Me prometa que nunca mais vai me torturar daquele jeito — pedi em tom de súplica.

— Prometo. — ela assentiu, mas logo suas sobrancelhas se franziram. — Ace, eu realmente sinto mu...

Não permiti que Nyx terminasse a frase, interrompendo-a ao beijá-la outra vez com a mesma intensidade. Pude senti-la sorrir contra meus lábios antes de se entregar novamente aos meus toques, retribuindo com ainda mais vontade que da primeira vez. Mordisquei seu lábio ao me afastar, o que a fez suspirar de maneira provocativa.

— Calada, Escriba.

— Já perdeu a timidez em relação ao meu amado Mestre? Sabe que ele está nos observando, não é? — A escriba ergueu uma sobrancelha, fazendo-me endireitar a postura bruscamente.

Por mais que houvesse decidido que as ameaças de Shanks eram todas brincadeiras e tivesse tomado a decisão de ignorá-las, seu comentário me deixou alarmado. Senti uma corrente de adrenalina disparar em meu peito, correndo os olhos pela multidão ao nosso redor na procura do Ruivo. Para meu desespero, ele realmente estava nos observando ao longe. 

— Pensei que não teria problema!

— E não tem mesmo. — Ela riu. — Só queria tirar uma com a sua cara.

— Não me diga que vai começar a implicar comigo da mesma forma que ele faz com você.

— Já que você me deu a ideia...

— Nyx — interrompi em tom de aviso.

— Não diga meu nome assim — murmurou, a voz arrastada. — Ainda é muito cedo para me fazer querer te arrastar até o quarto.

Ergui as sobrancelhas, surpreso, mas não pude conter o sorriso que despontou em meus lábios. A reação da escriba foi simplesmente requebrar os quadris contra minha virilha no ritmo da música, ao passo que minhas mãos inconscientemente apertaram sua cintura com mais força. Sua expressão era neutra, quase relaxada, mas o brilho em seu olhar era inconfundível e me fez esquecer completamente de que Shanks estava por perto. 

— Ora, ora, minha princesa está carente? — provoquei, baixando o rosto na altura do seu pescoço.

— Diz isso como se não estivesse tão ansioso quanto eu — retorquiu em tom irônico.

— É claro que estou. Mas não me importo de esperar mais um pouco — respondi, abraçando-a e pressionando um beijinho rápido em sua bochecha. Então, afastei-me apenas para forçá-la a se virar na minha direção antes de continuar a dançar. — Minha maior prioridade é fazer com que essa sua boquinha bonita continue sorrindo.

— Ela pode fazer coisas muito mais interessantes que isso, se quiser.

— Ah, sei bem disso, pode ficar tranquila.

— É claro que sabe, mas aposto que está doido pra refrescar sua memória — Nyx aproximou o rosto do meu ficando na ponta dos pés.

— Precisamos esperar até estarmos sozinhos — retruquei, afastando minimamente o rosto.

Ou podíamos encontrar algum cantinho escuro...

— O que deu em você? — gargalhei, incrédulo. 

Jamais reclamaria de suas atitudes e, na verdade, estava gostando bastante do rumo que aquela conversa havia tomado, mas não conseguia deixar de me surpreender. Acho que o fato de que Nyx havia enfim demolido a barreira que construíra entre nós nos últimos meses e finalmente voltara a ser... ela mesma ainda era bom demais para processar.

A escriba, por sua vez, franziu as sobrancelhas e sua expressão se entristeceu um pouco. Seus olhos amarelos encararam os meus com um brilho que não soube identificar muito bem, mas sua voz era suave ao dizer:

— Estou com saudade. — Nyx suspirou e desviou o olhar. — Sei que parece estranho dizer isso assim, tão de repente, mas, Ace, eu a... — Suas palavras morreram na garganta no momento em que sua visão se fixou em alguma coisa atrás de mim.

— O que foi?

Ela demorou alguns instantes para responder, e seu tom mal passava de um sussurro incrédulo quando finalmente reagiu:

— O que ele está fazendo aqui?

— Quem?

Seu rosto se contorceu na mais profunda expressão de desgosto, fazendo-me voltar o olhar na direção em que encarava, sem que fosse preciso mais que alguns segundos para descobrir de quem se tratava. Assim que o encontrei em meio a multidão, conversando com Shanks com uma tranquilidade sobrenatural, senti o estômago fervilhar com a irritação. Acho que nunca vou me esquecer da primeira vez em que o vi pessoalmente, mesmo que de longe. 

Era tão musculoso quanto o Ruivo, mas chamava muito mais a atenção por conta daquele chapéu espalhafatoso que insistia em usar. O cavanhaque bem desenhado e o estilo das roupas revelavam muito da sua personalidade caprichosa, e, obviamente, havia o olhar. Tão intimidante quanto o de Nyx.

Precisei inspirar profundamente para não cerrar as mãos em punhos e acabar machucando Nyx, que simplesmente fitava a figura alta do pai fixamente, como se não acreditasse que ele estava, de fato, ali. No tom mais suave que pude reunir, gentilmente a soltei e pedi para que ela esperasse ali. Marchei na direção de Mihawk, sentindo a pele faiscar contra a minha vontade, e precisei reunir todo o autocontrole do meu ser para não incendiá-lo vivo naquele momento.

Ao perceberem minha movimentação — e minha revolta — Marco e Thatch acabaram notando a presença de Mihawk, juntando-se a mim conforme eu me posicionava à frente dele, os braços cruzados em uma postura agressiva. Ele era uns bons dez centímetros mais alto que eu, o que fez com que me perguntasse como era possível que Nyx fosse tão pequena, mas, ainda assim, não me deixei intimidar. Shanks, por sua vez, pareceu surpreso com minha atitude, por mais que não tenha dito nada.

— O que faz aqui? — indaguei em tom ríspido.

— Eu vim falar com a minha filha — Mihawk respondeu calmamente. Sua voz não era tão grave quanto eu havia imaginado.

— A sua filha não quer nada com você — retruquei, praticamente cuspindo as palavras.

Ele levantou uma sobrancelha.

— E quem pensa que é para falar por ela?

— Alguém que sabe tudo o que você fez.

— Você não vai chegar perto dela, Olhos de Falcão — disse Marco, a expressão endurecida pela raiva. — Não vamos permitir-yoi.

— Como é? — Mihawk ergueu o queixo.

— Se quiser dirigir uma única palavra a ela vai ter que...

— Por mais que me agrada saber que vocês querem proteger a minha amada discípula, preciso intervir — interrompeu Shanks em tom sério. — Essa briga não é de vocês. Não tentem comprá-la.

— Vamos comprar quantas brigas quisermos-yoi.

— Principalmente se for com esse babaca do caralho.

— Basta. — A voz de Nyx se fez ouvir atrás de nós, atraindo nossa atenção. — O que faz aqui, Mihawk?

Dei um passo para o lado na intenção de permitir que ela encarasse Mihawk de frente, mas a escriba permaneceu recuada, como se tivesse receio de se aproximar. Quando seus olhares se cruzaram, ele endireitou a postura e ela assumiu sua típica expressão de arrogância, e não pude deixar de me surpreender um pouco com o fato de que ambos eram realmente muito parecidos. Quer dizer, isso não era nenhuma novidade, mas, pessoalmente, as semelhanças eram ainda mais evidentes.

Poderia afirmar com certeza — e algum espanto — que Nyx era praticamente uma versão feminina e reduzida de Mihawk. Tinham o mesmo formato do queixo, os mesmos cabelos escuros e despontados, as mesmas maçãs do rosto, os mesmos olhos de falcão. Eram idênticos em quase tudo, exceto pelo detalhe de que os traços da escriba eram mais suaves graças à herança da mãe.

De certo modo, era um pouco assustador. 

— Eu gostaria de conversar com você — Mihawk disse simplesmente. 

— Não resta mais nada a dizer — rebateu a escriba em tom ríspido.

— Eu discordo.

— Não ligo.

— Ouça, Escriba, eu sei que...

Nyx o interrompeu com um risinho seco.

— Como quer que eu te leve a sério se sequer consegue dizer o meu nome? Não percebe o quanto isso é ridículo?

— Nyx, por favor, será que não pode... — o Ruivo tentou intervir, mas a escriba o impediu.

— Não se intrometa. Sabe por tudo o que ele me fez passar, não tente defendê-lo.

— Está bem, Estrelinha. Mas, antes que fique com raiva de mim, saiba que não fui eu quem o chamou aqui.

— Espera que eu acredite nisso? — retrucou, semicerrando os olhos, o que fez com que Shanks franzisse as sobrancelhas, irritado.

— Acha mesmo que eu o traria aqui depois de todo o meu esforço para te tirar daquele estado?

— Estado? — perguntou Mihawk, confuso.

Fez-se um breve momento de silêncio no qual Nyx pareceu profundamente desconfortável e Shanks suspirou, frustrado. Os olhos de falcão de Mihawk brevemente desviaram-se para mão da escriba, ainda envolta em bandagens sob o tecido vermelho da manga do vestido, o que o fez franzir o cenho. Ele pareceu confuso, a princípio, mas não hesitou por um minuto sequer antes de perguntar:

— O que houve com a sua mão?

— Não é da sua conta — a escriba cruzou os braços, escondendo os ferimentos do olhar do pai.

— Nyx — pediu Shanks outra vez.

— Se não o chamou, como ele soube que eu estava aqui? 

— Ele me perguntou por onde você andava e eu disse que estávamos em Santorinni. Não sabia que ele viria.

— Não entendo, eu escolhi o momento errado para vir? — indagou Mihawk, confuso. — O que aconteceu?

— Aconteceu que eu caí nas mãos da Marinha, para quem você trabalha, passei vinte e oito dias sendo torturada, destruíram o meu braço direito, matei mais homens do que consigo me lembrar e foi preciso que meus irmãos me trouxessem de volta pra casa para que eu conseguisse superar os traumas que isso me causou — respondeu Nyx, basicamente cuspindo as palavras. — Então, sim, você escolheu o pior momento para aparecer.

Ele permaneceu quieto por alguns instantes absorvendo as palavras da filha com uma expressão chocada. Então, arriou um pouco os ombros e suavizou o olhar, subitamente parecendo perdido, como se sequer soubesse o que dizer a ela. Não consegui sentir pena ou qualquer espécie de empatia por ele.

— Me desculpe, eu não... Se soubesse que haviam feito isso com você, teria tomado alguma atitude a respeito. Sinto muito.

— É claro que sente — ironizou a escriba.

— Estou sendo honesto.

— E eu estou acreditando.

— Acha mesmo que eu gostaria de saber que a minha filha foi torturada? — Mihawk franziu as sobrancelhas, mas não parecia irritado.

— Se não fôssemos tão parecidos, você sequer me consideraria sua filha!

— Isso não é verdade!

— É mesmo? Duvido muito que um pai abandonaria sua menina de onze anos porque ela não consegue segurar a espada do jeito que ele quer! 

— Eu sei que o que fiz não foi certo, mas você precisa entender que também foi difícil pra mim.

— Você teve cinco anos para lidar com isso! — exclamou Nyx, atraindo a atenção das pessoas ao redor. — Como pode dizer que preciso entender o seu lado se tudo o que fez nesse tempo foi me desprezar e me rejeitar?

— Você caiu de paraquedas na minha vida quando eu estava prestes a conquistar os meus objetivos! Eu não fazia ideia de como...

Objetivos — repetiu ela, em tom sarcástico. — Eu não tinha nada a ver com a porra dos seus objetivos! Eu não pedi para nascer! Não pedi, e, se tivesse feito isso, com certeza não escolheria um pai escroto como você!

Os olhos da escriba brilhavam com as lágrimas e seu rosto se contorceu em uma expressão raivosa que me arrancou arrepios. Era o mesmo tipo de ódio gelado que estampava suas feições enquanto lutava na ilha em que havia sido mantida presa. Era arrasador vê-la daquela maneira porque sabia que, no fundo, ela estava sofrendo por sentir aquilo.

— Acha mesmo que eu queria continuar aquele treinamento quando isso só fazia você ficar cada vez mais hostil comigo? Acha que eu queria aprender a usar uma espada? Acha que eu queria saber como matar? — indagou Nyx, os dentes trincados e a voz trêmula, tanto pelo choro quanto pela raiva. — Se eu nunca fui capaz de me sentir forte e suficiente, se tinha receio de demonstrar a minha força e por isso o Governo se aproveitou de mim... Se alguém tem culpa pelas coisas que fiz, por tudo o que passei, por toda a miséria que senti nos últimos meses, esse alguém é você!

Mihawk permaneceu calado por um instante, absorvendo as acusações da escriba, ao passo que Nyx fechou os olhos, baixou a cabeça e inspirou fundo para controlar as próprias emoções. Não senti nenhuma piedade diante da sutil expressão de culpa que tomou o rosto do espadachim, muito menos senti a revolta que borbulhava em meu estômago esfriar. Na verdade, tive vontade de abraçar minha princesa e arrastá-la para longe daquele homem que tanto lhe fizera mal, apenas para retornar e queimá-lo até que seus ossos se transformassem em cinzas.

— Portanto, não venha me dizer que sente muito, pai, porque você não sente porra nenhuma — continuou Nyx, erguendo o olhar na direção de Mihawk outra vez. — E tenho certeza de que quer fazer as pazes porque o Arquivo tem algo que você quer.

— Eu não quero o seu Arquivo! — exclamou ele em tom de indignação.

— Então vá embora! Já me deu as costas sem dizer nada uma vez, não vai ser muito difícil fazer de novo — retrucou Nyx, apontando para uma direção qualquer. 

— Já parou pra pensar que talvez eu nunca tivesse voltado porque me sentia tão envergonhado pelo que fiz que não conseguiria olhar para o seu rosto? O meu rosto?! Sequer tive coragem de pedir que Shanks me mandasse cartas para informar seu progresso porque sabia que não tinha esse direito! — disse Mihawk em tom afiado, então suspirou e suavizou a expressão. — Eu não quero nada além do seu perdão, Nyx.

A escriba apenas o encarou em silêncio, uma sobrancelha levantada de maneira sarcástica. Ela permaneceu calada, sem demonstrar qualquer interesse em respondê-lo, por isso, ele prosseguiu:

— Não estou pedindo para você esquecer tudo o que fiz, para agir como se nada tivesse acontecido ou para me perdoar sem hesitar. Só quero que me dê uma chance de me redimir, para que eu possa ao menos tentar, porque não consigo mais conviver com a culpa de ter te deixado para trás. — Sua voz tinha um tom suave demais, que não combinava com sua expressão séria. — Eu não sabia que minhas ações haviam provocado tantas feridas no seu coração, Nyx, e, por mais que você não acredite em mim, me dói bastante saber que te causei tanto sofrimento. Sei que fui irresponsável, que fui arrogante e, nas palavras do seu amigo, um babaca do caralho. Tenho plena consciência do meu egoísmo e me arrependo profundamente de tudo o que fiz. Sei que não vai ser fácil consertar meus erros e que provavelmente nunca vou conseguir fazer isso, mas acredite quando digo que sinto muito. 

Para minha surpresa e, talvez, da própria Nyx, o espadachim arriou os ombros, abandonado aquela postura irreverente, o que o fez parecer estranhamente inseguro. Acho que sou uma das pouquíssimas pessoas no mundo capaz de dizer que testemunhou Dracule Mihawk agir com humildade. Entretanto, se a escriba sentiu qualquer coisa diante da atitude do pai, não demonstrou, permanecendo no mais absoluto silêncio.

— Perdão por tudo o que fiz, por todo o mal que causei a você. Perdão por nunca ter me esforçado de verdade para cumprir o meu papel de pai. Perdão por ter, muitas vezes, lhe dito coisas cruéis. Perdão por ter sido tão exigente, por não ter enxergado o seu potencial e não ter incentivado seus outros talentos. Perdão por ter te abandonado e por não ter tido coragem de voltar atrás. Perdão por ser um péssimo pai e um covarde — ele disse, apoiando uma mão sobre o peito. — Espero que você ao menos considere me dar uma chance. Não precisamos nos aproximar, se você não quiser, mas eu realmente gostaria de conhecê-la. De verdade, dessa vez. Quero tentar ser o pai que nunca fui. 

Por um momento que me pareceu se arrastar infinitamente, Nyx não disse nada. Apenas encarou os olhos do pai com uma expressão que não fui capaz de decifrar, a postura ereta e o queixo erguido. Era quase como se ela o observasse com desdém, mas eu sabia que havia algo a mais em seu olhar, por mais que não soubesse distinguir o que era. Por fim, a escriba tomou um fôlego profundo e descruzou os braços, e suas palavras soaram duras, cruéis, quando ela finalmente declarou:

— É tarde demais para isso, Mihawk. Outra pessoa já tomou o seu lugar. Você não é bem-vindo. — Seu tom era irredutível e pelo canto dos olhos pude notar que Shanks endireitou a postura ao ouvir as palavras de sua discípula.

Mihawk simplesmente assentiu, sem demonstrar qualquer alteração no rosto.

— Tudo bem. Me desculpe por vir em um péssimo momento.

Sem dizer mais nenhuma palavra, virou-se na direção oposta, assentindo brevemente para Shanks antes de começar a se afastar. Nyx encarou as costas do pai como se pudesse fuzilá-lo apenas com a força da mente, mas pareceu surpresa quando, depois de alguns passos, ele parou e se voltou para ela novamente.

— Só há mais uma coisa que eu gostaria de dizer — comentou. —  Fui informado de que você gosta de histórias e que tem um apreço especial pelos significados das palavras. Bem, recentemente, fiz uma pesquisa e acabei descobrindo que o nome da minha espada, Yoru, significa "noite". Lembro-me que uma das primeiras coisas que você me disse quando nos conhecemos foi o significado do seu nome, porque eu havia dito que era uma palavra estranha. — Mihawk baixou o olhar para as próprias mãos antes de prosseguir, um sorrisinho minúsculo em seus lábios. — Agora que sei ele compartilha o significado do nome da minha espada, sempre que olhar para ela, estarei pensando em você.

Ele a encarou outra vez, como se esperasse que suas palavras pudessem convencê-la a mudar de ideia, mas a escriba não se deixou levar. Seus dentes permaneciam trincados e os ombros, tensos. Não havia relutância em seu rosto, nenhum indício de piedade em seu olhar e eu sabia o motivo disso. O perdão de Nyx era caro. 

— Adeus, Mihawk. — Foram suas únicas palavras.

Sem muito mais o que fazer ou o que dizer, o espadachim assentiu novamente.

— Vou deixar você se divertir. Me desculpe por interromper. Feliz aniversário, Nyx.

Então, deu-nos as costas e definitivamente se foi, sumindo em meio à multidão do festival em questão de segundos. Eu ainda sentia meu estômago fervilhar pela raiva, e sabia que minha princesa também permanecia incomodada com aquele encontro, por mais que já tivesse chegado ao fim. Shanks aparentemente percebeu a tensão que insistia em pairar no ar, porque voltou o olhar na direção de sua discípula e abriu um sorrisinho torto.

— Sempre disse que ele não era tão ruim assim — comentou em tom suave.

— Pode até não ser. — Nyx voltou os olhos amarelos para seu mentor, a expressão severa. — Mas o perdão, em sua forma completa, exige muita força, Mestre. E Mihawk sempre fez questão de me dizer que não sou uma pessoa forte.

Com isso, segurou minha mão e me arrastou para longe, dizendo que toda aquela discussão inconveniente havia lhe despertado o apetite. A partir do momento em que deu as costas aos outros, porém, percebi que seus olhos marejaram, por mais que ela se esforçasse para esconder isso de mim com os cabelos. A escriba habilmente desviava-se das pessoas que bloqueavam o caminho como se sequer existissem, serpenteando pelo caminho sem ter um destino em mente.

Não foi preciso muito tempo para entender a situação, portanto apenas permiti que ela me guiasse para onde quisesse. Seria muita indelicadeza da minha parte lhe dizer que estava orgulhoso quando ela mesma não se orgulhava do que tinha feito, por isso, apenas segurei sua mão e permaneci em silêncio, acompanhando-a enquanto ela caminhava até um lugar mais afastado do festival. Quando finalmente encontrou um lugar que lhe parecia seguro — um lance de escadas mal iluminado atrás de uma tenda de jogos, protegido por uma muretinha de pedra —, sentou-se e abraçou os próprios joelhos. 

Então, baixou a cabeça e começou a chorar. Lágrimas silenciosas e entristecidas, as mesmas que a vira derramar em uma noite que parecia ter acontecido há séculos, mas que foram igualmente dolorosas de assistir. Em um primeiro momento, não soube como reagir, mas logo decidi que o mais correto a se fazer era sentar ao seu lado e respeitar seu silêncio. Afinal, sabia muito bem o que a levava a soluçar daquela maneira.

Nyx chorava porque havia tomado uma decisão, fizera uma escolha que ia contra a sua natureza, mas que era necessária para que pudesse seguir em frente. Ela jamais perdoaria Mihawk. Abandonaria o próprio pai por completo, enterrando-o para sempre no passado, lugar ao qual ele pertencia. Entretanto, para isso, precisava deixar que seu coração doesse por tudo aquilo que já havia lhe machucado e pelas possibilidades futuras que ceifara quando decidira dar as costas ao pai. 

Bem, foi exatamente isso que ela fez. Só que Nyx tinha muita, muita dor dentro de si.



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