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História Tales of a Uchiha - Chapter 130


Escrita por: MasterShigs e Saberus

Notas do Autor


Boa leitura ❤

Quando chegarem ao primeiro [ ۝ ] acessem o link abaixo
https://youtu.be/GLWCYpGWhXo

Quando chegarem ao segundo [ ۝ ] acessem o link abaixo
https://youtu.be/J56VVtlZCGE

Quando chegarem ao terceiro [ ۝ ] acessem o link abaixo
https://youtu.be/UcQVR9SX1VY

Quando chegarem ao quarto [ ۝ ] acessem o link abaixo
https://youtu.be/zOvsyamoEDg

Capítulo 130 - Chapter 130


Fanfic / Fanfiction Tales of a Uchiha - Chapter 130

O inverno podia estar cada dia mais próximo, mas naquela noite não havia um único indício de que esfriaria. Isso se devia ao fato de haverem tochas demais — colocadas em torno do vilarejo — e as ruas eram iluminadas por muitas lâmpadas que estavam conectadas a alguns geradores que estavam bem escondidos para que ninguém — principalmente as crianças — tentasse mexer e acabar estragando a diversão, mas essa luminosidade não era a única coisa na rua. Não, como um excelente festival, havia algumas barracas com iguarias e até brincadeiras com eventuais prêmios, e, além disso, uma fogueira queimando com mais de dez metros no centro do vilarejo. E quanto mais se aproximava da fogueira, mais se sentia a animação dos habitantes. E isso certamente não era tudo, afinal de contas escutará-se boatos sobre Shojiki ter adquirido fogos de artifício para melhorar ainda mais aquela noite. Podia estar anoitecendo, mas as fogueiras em torno de Yattsuhoshi e as lâmpadas nas ruas, até mesmo as pessoas animadas e conversando, divertindo-se umas com as outras, causava uma estranha e boa sensação. 

E o cheiro, então? Sem dúvida, muita comida foi preparada, pois havia uma excelente mistura de aromas que se espalharam graças a algumas brisas eventuais, mas alguém com um excelente olfato perceberia já a distância as carnes — bem passada, mal passada e ao ponto — de incontáveis animais que eram encontrados na floresta que cercava o vilarejo, mas sentia-se também o agradável aroma do açúcar que conseguiu atrair muitas crianças para determinadas barracas onde eram atendidas por pessoas muito gentis, assim como o álcool atraia os mais velhos para uma parte da festividade onde gargalhavam sobre algo banal — essa parte era a favorita dos ciganos, pois as pessoas estavam bêbadas demais para perceberem que foram furtadas. Assim como a música — tocada por algumas flautas, shamisen e tambores — atrai pessoas interessadas para dançarem umas com as outras, contudo não eram apenas lentas e românticas, mas sim enérgicas e algumas até violentas, ou seja, para todos os gostos. Havia uma equalização muito perfeita naquela festividade. 

Ontake já sairá de casa usando o conjunto de roupas que escolherá — uma camisa preta com listras brancas que iam dos ombros até os pulsos e com duas outras listras que iam da gola até embaixo do sovaco, uma calça escura e sandálias numa tonalidade bem escura do azul — e caminhava naquele momento por uma das ruas e movia sua cabeça de um lado ao outro, assim enxergando crianças correndo umas com as outras — muito felizes a propósito — e pessoas que comiam e conversavam em algumas barracas e até pareciam comemorar quando ganhavam um prêmio estúpido — um Kuraa-ma — nas barracas de brincadeiras. Ele não queria perder um único detalhe daquele evento, por isso não parava de olhar para os lados com interesse em seus olhos vermelhos. Ele só parou de caminhar quando reparou numa reconhecível cabeça cujos cabelos eram azuis escuros de uma garota ajoelhada em frente a uma barranca e que exigia de calma ou, quem sabe, de muita sorte para de conseguir ganhar o que ali propunha. 

O moreno se aproximou de braços cruzados e estava certo em deduzir quem era. Kon naquele momento não movia um único músculo e tinha em sua mão direita uma redinha que estava submergida num aquário cheio de peixinhos que não sentiam a mínima vontade de entrarem naquela redinha. A menina estava mordendo a língua que deixará para fora de sua boca e meramente encostada nos lábios inferiores. Ontake ajoelhou-se ao lado da garota e pôs o cotovelo direito em sua coxa e usou a palma para apoiar o queixo, assim observando o estranho entretenimento. Ele sabia que tinha ganhado a atenção da garota, afinal de contas ela o olhou de relance.

— O que ganha? — Take perguntou depois de alguns segundos. Ele não tinha visto nenhum tipo de brinde naquele lugar.

— O peixinho. — Kon respondeu aos sussurros, afinal acreditava que ruídos altos só fariam os peixinhos se afastarem, ela continuou assim que seu olhar se tornou mais sério. — Onde estava hoje, Take-nii-san? —

— Hm… dormindo. — Take respondeu, então suspirou com óbvio desinteresse ao ver como nenhum peixe de interessava pela rede. — Porque você quer um peixe? —

— Porque? Ah… não tem um porquê. Eu quero um, afinal já vi um monte de gente ganhando, mas tá difícil. — Kon respondeu e inflou suas bochechas ao mesmo tempo que fez um biquinho. 

— Tá… — Take disse e olhou para o dono da barraca que parecia distraído e conversando com outro barraqueiro, depois olhou para outras pessoas que estavam igualmente concentradas. — ...vou fazer um negócio. —

— O que vai fazer? — Kon perguntou.

Ela obteve sua resposta. O moreno levou a palma esquerda para a água e concentrou-se um pouco. E lentamente a água começou a se movimentar, por consequência o mesmo acontecia com os peixes que eram puxados por uma pequena correnteza. Ontake estava usando o chakra para movimentar a água — o que era bem fácil, considerando sua afinidade com Katon e Suiton. Um peixinho dourado foi parar na redinha da garota de cabelos azuis escuros que alargou um sorriso da mais genuína felicidade, depois olhou para Ontake que afastou a palma da mão e a repousou em seu joelho e fingiu que não tinha sido responsável. Ele olhou para a garota que se levantava e aproximou-se do dono da barraca que só balançou a cabeça em satisfação e lhe entregou um saquinho com água onde o peixe foi armazenado. O moreno saiu caminhando na companhia de Kon que olhava com bastante satisfação para o novo animal de estimação.

— Obrigada, Take-nii-san. — Kon disse enquanto olhava para o saquinho com o peixe e soltou um risinho ao mesmo tempo que suas bochechas ficam ruborizadas. 

— Não sei do que está falando. — Take disse e levou suas mãos para trás da cabeça e a levantou para olhar o céu estrelado. — Foi tudo mérito seu. —

— Quer continuar passeando ou prefere ir até a música? — Kon perguntou e levantou um pouco sua cabeça, desta forma encarando o moreno que mantinha o cabelo solto. — As coisas boas só começam daqui duas horas. —

— Tem muita coisa para ver ainda. — Take respondeu e esfregou uma das bochechas antes de continuar com seu comentário e olhar para as pessoas que se divertiam. — Pode ser que ache alguém para dançar… —

— Ainda sem um parceiro? — Kon perguntou.

— Sim… — Take respondeu.

— Aposto que isso vai mudar. Muita gente gosta de você pelo serviço que presta, Take-nii-san. Então, espere só um pouco que haverá convites ao monte. — Kon disse com bastante certeza de que aquilo fosse acontecer, mas então acrescentou. — Faremos um par. O que me diz? —

— Que seria bem errado. — Take respondeu ao lembrar-se de alguns detalhes sórdidos sobre a última música.

— O que é bem errado? — Uma voz feminina com um pouco de inocência logo atrás da dupla. Era a própria Kohi que carregava um taiyaki em cada uma das mãos. Seus olhos cor de oliva bem concentrados na comum dupla a sua frente.

— Da onde você saiu? — Take perguntou com uma expressão um pouco mais séria, afinal não havia reparado na garota em nenhuma daquelas barracas que passaram a pouco.

— Dos becos. São caminhos práticos para aqueles que não querem perder tempo… — Kohi respondeu e usou a mão direita para apontar um beco entre duas barracas, então acrescentou. — O que é errado? —

O moreno olhou para os dois taiyaki que a garota carregava em cada uma das mãos, por um momento acreditando que ela teria a honestidade em ter usado o próprio dinheiro para comprá-los, mas por outro lado acabou imaginando-a furtando aquilo e correndo até achar o beco e usá-lo. Ele não queria saber em qual suposição estava certo. A garota caminhou para mais perto deles e ficou ao lado esquerdo do moreno — Kon estava ao lado direito. O trio continuou a caminhar.

— Ele está reclamando que ninguém o convida para dançar, mas também está recusando o convite que acabei de fazer, ainda por cima dizendo que é errado. — Kon respondeu e cruzou os braços com um nítido descontentamento e bufando enquanto apressava seus passos. — Se fosse o BakaShiki, com certeza aceitaria… —

— BakaShiki? — Kohi perguntou e curvou a parte superior do corpo e olhou para o moreno que estava levemente avermelhado. — É aquele loiro que xingou Kokoa-sama de bruxa? Você estava querendo ser convidado por ele? —

Kon estava para responder, mas o moreno se adiantou e usou a palma direita para cobrir sua boca, então olhou para Kohi que ainda aguardava por uma resposta ao mesmo tempo que mastigava um pedaço de taiyaki. Ontake suspirou e usou a mão disponível para apontar para a recém chegada.

— Certo, parece que você está querendo fazer parte do meu círculo de amizade, então vou te dizer algo uma única vez e espero que entenda. — Ontake disse com um olhar sério e continuou com seu indicador apontado para o rosto de Kohi, então deu continuidade ao fim de um suspiro. — Se eu souber que você falou alguma coisa sobre isso para alguém… eu não vou perdoá-la. O que discutimos entre nós, fica entre nós. Você está me entendendo? Não deve contar nem para os seus companheiros. Só entre nós. Entendeu? —

— Sim. — Kohi respondeu e aproveitou para engolir o pedaço de taiyaki, então deu continuidade. — Então, esperava um convite dele? —

— Sim, mas o cretino se encontrou com uma mulher no dia em que você o conheceu. — Ontake respondeu e tirou a palma direita de frente da boca de Kon, então acrescentou. — O lado bom é que não está interessado em dançar. Ele na verdade nem queria participar da festividade, mas parece ter mudado de ideia por minha insistência. —

— Com quem ele vai? — Kon perguntou.

— Teikō. — Ontake respondeu e cruzou os braços ao mesmo tempo que suspirou em decepção. 

— Hm, me diga como ela é. — Kohi disse e abocanhou novamente o taiyaki, então deu continuidade mesmo com a boca cheia. — Posso pedir para alguns amigos cuidarem dela por algumas horas. —

— Se o que está falando é o que estou pensando… então já adianto que não permito. Não quero ser meio responsável por um sequestro. — Ontake disse e olhou com rispidez para a garota que não pareceu contente por aquilo. — Você agora é da Rokujūshi. E não fazemos esse tipo de coisa… não sequestramos as pessoas. —

— Porque ela é da Rokujūshi e eu não? — Kon perguntou e voltou a inflar suas bochechas e exibir um olhar mais sério, mas ao tempo fofo, afinal era uma criança de treze anos que estava brava.

— Limite de idade. — Ontake mentiu.

— Você gosta desse Shiki? — Kohi perguntou.

— Gosto… — Ontake sussurrou em resposta, afinal estavam em meio a muita gente e alguém poderia ouvi-lo, além disso sentiu suas bochechas esquentarem.

— ...e porque não o convidou antes? — Kohi perguntou.

— Qual o limite de idade da Rokujūshi? — Kon perguntou.

— Ahn… dezesseis anos. — Ontake mentiu novamente. E depois olhou para Kohi com intenção de respondê-la. — Não sei. Eu só… achei que ele não aceitaria, além disso não tivemos muito o que conversar sobre com quem iríamos até… ele me dizer que iria com a Teikō… e ainda me provocou porque viria sozinho. —

— Quantos anos tem? — Kon perguntou e olhou para Kohi, mas primeiro se atentou nos pequenos seios dela.

— Dezenove. — Kohi respondeu e sorriu pelo canto dos lábios antes de morder outro pedaço de taiyaki, então continuou enquanto mastigava. — Eu não me importaria em dançar com você se ninguém convidá-lo. —

— Agradeço a oferta. — Ontake disse com uma expressão mais suave, então continuou assim que olhou para as barracas que pareciam convidá-los. — Vamos nos divertir por enquanto, depois pensamos mais nisso. O que me dizem? —

— Vamos para as barracas de doces!? — Kohi e Kon disseram em uníssono. E aparentemente muito animadas por suporem que iriam se deliciar com uma boa quantidade de doce. 

— Não mesmo. Assim não poderíamos aproveitar tudo o que há para oferecer hoje. Ficaríamos cansados depois dos doces, mas depois de passearmos um pouco, quem sabe, possamos comer alguma coisa. — Ontake disse e sentiu a saliva crescente por causa dos maravilhosos aromas que chegavam até ele. 

— Ah, certo… — Kohi e Kon novamente em uníssono. E desta vez perderam todo o ânimo e pareceram decepcionadas.

Ontake não se incomodou com o entristecimento delas, afinal sabia que estava certo em propor aquilo, por isso apressou um pouco seus passos e sentiu-se aliviado pelas duas o acompanharem. Ele não demorou a escolher o primeiro lugar que estava com um bom número de pessoas. Era outra barraca com prêmios — dessa vez mais variados — e com o simples desafio de estourar uma bexiga que era a cabeça de Uzumaki Naruto enchendo-a até o limite com uma pistola de água. O moreno soltou um risinho e olhou para as duas garotas que pareciam mais ansiosas por causa dos brindes que eram pelúcias e algumas máscaras e até mesmo pergaminhos que ensinavam sobre as melhores traquinagens. Ele realmente não estava interessado naquelas coisas.

— Eu quero um Kuraa-ma, Take-nii-san! — Kon disse assim que esticou o braço direito à frente do corpo e usou o indicador para apontar a específica pelúcia.

— Eu quero aquela máscara! — Kohi disse e seus olhos cintilavam de animação ao reparar numa máscara escura com ondulações vermelhas.

— Ah, vejo que a senhorita tem bom gosto. Essa máscara foi forjada a partir de uma pedra que caiu do céu a muitos anos, depois pintada com o sangue de quem a forjou. Dizem que essa máscara possui uma maldição ou, quem sabe, uma benção, mas nunca… — O dono da barraca continuou um entediante monólogo sobre o quão valiosa era aquela máscara e até mesmo o significado das ondulações.

— ...incrível mesmo, mas quando estava passando pelo beco ao lado da sua barraca, vi uma caixa cheia dessas máscaras. Quantas que o pobre coitado fez? — Kohi perguntou ao fim daquela explicação com uma grande inocência. 

Kon e Ontake não se aguentaram. Sabiam desde o começo que era pura conversa do barraqueiro para que a garota tirasse a máscara e outra fosse colocada no lugar, quem sabe até lhe custasse umas tentativas a mais para consegui-la. Os dois gargalhavam, assim como o resto das pessoas que ouviram aquele monólogo e depois o questionamento de Kohi que ainda aguardava por sua resposta, mas obviamente que não a recebeu e, ainda por cima, foram obrigados a se afastarem. Kon olhou zangada para Kohi.

— Não podia ter dito aquilo depois que eu ganhasse um Kuraa-ma? — Kon perguntou.

— Tenho certeza que pediu para eu te ajudar, Kon. — Ontake disse com um olhar acusatório para a garota que abaixou a cabeça em resposta.

— Saímos ganhando. Não sei porque está reclamando. Eu conheço o truque daquela brincadeira. — Kohi disse e cruzou os braços abaixo dos pequenos seios e olhou em outra direção.

— Tem truque? — Ontake e Kon perguntaram em uníssono. Tomados completamente pela curiosidade.

— Hm? Claro que tem. É uma trapaça, na verdade. Viram que lá tem cinco balões, não viram? Há sempre dois que estão furados para que a pessoa demore a ganhar o prêmio e desista, ou dois que são mais resistentes para não estourar com facilidade. — Kohi respondeu e formou um bico com seus lábios. 

— Incrível… — Ontake disse. E Kon parecia concordar com ele.

— Nem tanto… — Kohi disse e agitou os ombros sem dar importância.

E novamente pararam noutra barraca, mas era bem fechada — como numa tenda — e havia uma placa com uma espécie de olho e estrelas em volta dele. O moreno olhou para Kohi e depois para Kon que não se intimidaram por aquele estranho lugar, por isso o acessam e se viram dentro da barraca pouco escura — iluminada por algumas velas — e com uma senhora vestindo um manto roxo que lhe cobria todo o corpo e um capuz para esconder o rosto sentada numa grande almofada com uma bola de cristal a frente do corpo com as palmas encostadas suavemente na esfera. Kohi soltou um risinho como se soubesse exatamente o que acontecia ali dentro, mas por sorte não chamou a atenção da senhora.

— A vinda de vocês até mim já estava escrita, era só questão das areias temporais caírem para que pudéssemos nos conhecer. — A senhora disse com bastante calma, então a mesma deu continuidade assim que usou a mão esquerda para fazer um reconhecível gesto de que pedia dinheiro. — Passado, presente e futuro, posso vê-los desde que façam-me a oferenda de algumas moedas. Querem saber sobre o que o futuro reserva a cada uma sobre o amor, não é mesmo? Ou, quem sabe, quem foram nas vidas passadas, posso fazer tudo isso e muito, muito mais, por um caridoso gesto. —

"É trambicagem…" pensou Ontake com um olhar acusatório para a mulher que continuava observando-os. Ele moveu sua cabeça ao lado em que se encontrava Kohi e sentiu-se satisfeito pela garota ter percebido e agitado seus ombros e depois acenado. "...ela confirmou que é trambique…" pensou novamente e retornou sua atenção para a senhora que aguardava pacientemente uma resposta de uma das três pessoas. O moreno deu um passo adiante e mostrou algumas moedas e jogou-as numa cesta para a senhora.

— Que gratificante oferenda, menina. — A senhora disse e passou lentamente sua mão esquerda pela bola de cristal. — O que gostaria de conhecer? Passado, presente ou futuro? —

— Ahn… — O moreno antes daquele momento tinha afinado sua voz para simular com o de uma mulher. Ele sabia o bastante sobre seu passado, o presente ainda estava vivendo, por isso o futuro era a opção mais lógica. — ...meu futuro, por favor. —

— Assim como foi previsto que uma linda menina me procuraria hoje para conhecer o futuro. — A senhora disse e alargou um sorriso em sua boca com pouquíssimos dentes, então continuou. — O que busca conhecer do futuro? Quer saber o porquê do seu amor não ser correspondido? Ou daquele que será correspondido? A sorte que terá nos próximos anos? Como vai acontecer sua morte? Ou… — A senhora continuou num monólogo entediante.

— O tempo de amanhã. — Ontake disse e cruzou os braços.

— Uma pergunta astuta, menina! Um dia de cada vez, não é mesmo? — A senhora disse e pôs as duas mãos com firmeza na bola de cristal e então deu continuidade ao levantar a cabeça e manter um olhar vidrado em algo imaginário acima de suas cabeças. — Ah, sim. Estou vendo, sim. Amanhã será um lindo dia ensolarado, mas você não sairá de casa, estou vendo isso, pois pegará uma gripe. —

"Sou um ninja médico e ainda me especializo em medicamentos. Acho que posso dar conta de uma gripe de várias maneiras…" pensou o moreno com certo desdém, mas imaginava que não deveria fugir do personagem, por isso pareceu levemente impressionado e levou a mão direita para frente da boca para dar ainda mais a impressão de que tinha ficado surpreso com a informação. E não tinha dúvida alguma de que o dia seguinte realmente seria ensolarado, afinal a dias estava daquele jeito.

— Ah, minha nossa! Muito obrigada, senhora! — Ontake disse e olhou para as duas garotas que acompanhavam-no, então deu continuidade. — Vocês ouviram? Amanhã será um dia ensolarado. — 

Kon mordia as bochechas para se controlar ao máximo em não rir daquela situação, o mesmo acontecia com Kohi que parecia beliscar os antebraços disfarçadamente. Ontake retornou sua atenção para a senhora e encostou suavemente as pontas dos dedos da mão esquerda nos da mão direita. 

— E sobre minha sorte? — Ontake perguntou.

— Hm, pergunta capciosa. — A senhora disse e então começou a sacudir sua cabeça de um lado a outro e murmurar palavras sem significado algum. — Se alegrará em saber de uma encomenda para os próximos dias com excelentes novidades. Ah, minha querida… seu ventre em breve será preenchido, que felicidade, sem dúvida uma grande sorte, não é mesmo? Afinal de contas, seu marido estava querendo isso pelo que me foi escrito…. —

Ontake olhou de relance para as duas garotas que abafaram o máximo que podiam de suas gargalhadas. Era impossível para Ontake ter um ventre preenchido por um bom número de razões, dentre eles a razão de não ter um ventre porque era, como sua mãe odiava considerá-lo, homem. Ele suspirou e manteve-se no personagem e levou a mão direita para a barriga e alargou um sorriso. "Vidente de araque" pensou enquanto forçava aquele sorriso. E quanto a encomenda… aquela poderia ser verdade, afinal esperava por uma carta ainda de Konohagakure.

— Ah, que maravilha! — Ontake disse com aquela mesma voz fina de antes e aproveitou para se levantar, então deu continuidade quando olhou para as garotas. — Ele ficará feliz com essa novidade. Não acham? —

— S-sem du-dúvida… — Kohi disse assim que conseguiu parar de rir só abafar a risada com as mãos na boca.

— Podemos ir? — Kon perguntou e usou o polegar para apontar ao lado de fora daquela barranca. — Já que estará… resfriada amanhã, quem sabe chegamos a tempo de colocá-la na cama? —

— Boa ideia, garota! Dêem a ela um chá preto, sem dúvida será excelente. — A senhora disse.

— Podemos… — Ontake respondeu a pergunta da mais jovem do trio. 

E assim seguiram para a saída da barraca com as duas garotas à frente dele — afinal as duas estavam atrás desde o começo — e não tardaram a ouvir a senhora na barraca desejando-lhe boa sorte com as vidas a caminho e que esperava vê-la no próximo ano. Ontake balançou a cabeça em negação quando estavam longe e olhou para Kohi que estava para dizer alguma coisa.

— Uma palavra sobre isso… sobre o que aconteceu nesses últimos minutos… e eu chuto a sua bunda. — Ontake disse áspero e cruzando em seguida os braços, então continuou. — Qualquer um sabe que amanhã será ensolarado. É só reparar os últimos dias. E francamente… bebês? Gerando vida em meu ventre? Que ventre? E marido? Eu nem namorado tenho, quem dirá um marido. —

Kon ficou quieta. Ela imaginou — e estava certa — que receberia uma punição semelhante se fizesse menção aos últimos minutos. E dessa vez o trio não procurou por uma atração, mas por aperitivos — espetinhos de carne e taiyaki — e continuaram caminhando depois de conseguirem o primeiro alimento da noite. Era nítido como o moreno tinha ficado aborrecido por ter gasto algumas moedas com uma vidente que não teve qualquer utilidade, mas assim mesmo aquilo acabou se tornando piada.

— Eu tô vendo o futuro, Take-nii-san. — Kon disse para chamar a atenção das duas pessoas e assim imitou os gestos da senhora antes de dar continuidade. — Você vai brigar com alguém que gosta. —

— Isso não é novidade. E dessa vez eu acredito mesmo. Shiki costuma me provocar sempre, por isso o troco vai quase na mesma moeda. — Take disse assim que terminou de comer um espetinho de carne. 

— Hm, olha ele ali… — Kohi disse enquanto segurava um taiyaki e usava a mão disponível para indicar uma tenda.

E era verdade. Shiki estava de braços cruzados ao lado de uma mulher que parecia bem entrosada com mais pessoas, pareciam discutir sobre um assunto ou coisa do gênero, mas com certeza o escritor não estava lá no melhor dos ânimos, afinal sua atenção nem mesmo estava na acompanhante e nas outras figuras. Ele só olhou para o incomum trio quando Kohi acenou para ele, assim Take não evitou de reparar na expressão de desgosto do escritor, mas aproveitou para acenar também e depois mostrar a língua quase insinuando que estava se divertindo mais do que ele. Shiki não pareceu gostar daquilo, pois logo se virou para olhar Teikō e pôs o braço direito no ombro dela e aproximou o rosto ao dela para dizer alguma coisa em seu ouvido, o que rendeu dela uma boa gargalhada e ela aproveitou para pôr a mão estrategicamente no abdômen no escritor e esfrega-lo sutilmente. Take olhou para aquilo e uma estranha sensação o tomou, mas tentou não parecer muito afetado e continuou sua viagem.

— Não vamos dar um alô? — Kohi perguntou.

— Ele está ocupado. — Take respondeu e olhou para Kon que estava mesmo pensando em se aproximar do escritor. — Kon, ele está ocupado. —

— Onde vamos agora? — Kohi perguntou assim que terminou de comer o seu taiyaki.

"Eu quero ir para casa e me deitar na cama. Sem dúvida é um excelente plano da onde eu poderia me encaminhar…" pensou o moreno que continuava com aquela estranha sensação em seu estômago, mas que também lhe atingia o coração. Ele não gostou de imaginar Teikō com Shiki, nem mesmo de considerar o que fariam mais tarde sendo que havia um preservativo no quarto do escritor, por isso suspirou lento e pesado antes de bagunçar o cabelo. "Eu rezo para a felicidade dele" pensou e voltou sua atenção para as duas garotas que aguardavam sua resposta. Ele fechou seus olhos por um momento e concentrou-se na audição, desta forma ouvindo a música e a animação mais a frente.

— Dançar. — Take respondeu.

[ ۝ ]

E não demorou para que chegassem a um espaço aberto dentro de Yattsuhoshi. Espaço o suficiente para que muitas pessoas ficassem e se mexessem enquanto outras faziam música. Ou pelo menos era nisso que ele acreditava, afinal quando chegaram a música teve um fim e todos os instrumentos pararam. E então um homem alto e musculoso, de cabelo castanho escuro até os cotovelos, de olhar sério e bem vidrado, deu início a uma canção com outros homens — que faziam parte do grupo — logo atrás dele.

— Minha mãe me disse que um dia eu compraria um barco com bons remos; Para navegar por margens distantes, ficar em pé na proa remando um nobre barco. Indo em direção ao céu. Cortando vários inimigos. Cortando vários inimigos. Cortando vários inimigos. — O primeiro cantou. E não havia uma única melodia para acompanhá-lo. Era meramente serviço de sua voz grossa.

Take percebeu uma coisa. Vários homens na multidão — de rostos conhecidos de outros dias, habitantes do vilarejo — pareciam animados com aquela canção bem máscula, até por isso…

— Minha mãe me disse que um dia eu compraria um barco com bons remos; Para navegar por margens distantes, ficar em pé na proa remando um nobre barco. Indo em direção ao céu. Cortando vários inimigos. Cortando vários inimigos. Cortando vários inimigos. — Agora não era só aquele homem que cantava, mas os que estavam atrás dele.

E a música tornou-se mais alta. E os homens que ouviam ficavam mais animados e até gritavam como bestas que foram no passado. Ontake suspirou e olhou para Kohi e depois para Kon que não se intimidavam.

— Minha mãe me disse que um dia eu compraria (compraria) um barco com bons remos; Para navegar por margens distantes, ficar em pé na proa remando um nobre barco. Indo em direção ao céu. Cortando vários inimigos. Cortando vários inimigos. Cortando vários inimigos. — Não eram só os cantores, mas todos os homens que ouviam aquela canção.

E a música era só aquilo, mas de um jeito incomum era capaz de animar os homens que continuavam berrando e cantando-a, sem dúvida a música servia apenas para o público masculino, e assim mesmo nem todos pareciam admirar aquela canção selvagem. 

[ ۝ ]

O mesmo homem continuou cantando aquela música, porém algo de fundo o acompanhou. Era uma flauta e um shamisen. E as pessoas começaram a levantar seus braços e a aplaudir por conta de como a música estava ficando e de como aquilo terminaria. Algumas pessoas começaram a gritar com um ânimo contagiante e a removerem suas camisas. E não demorou para os tambores serem usados num ritmo bem semelhante aos dois outros equipamentos. O equilíbrio era perfeito, mas a música…

— Minha mãe me disse que um dia eu compraria um barco com bons remos; Para navegar por margens distantes, ficar em pé na proa remando um nobre barco. Indo em direção ao céu. Cortando vários inimigos. Cortando vários inimigos. Cortando vários inimigos. —

— O que eles estão fazendo? — Take perguntou para ninguém em particular, mas esperava de qualquer forma obter sua resposta. A música continuava.

— Eu não sei… — Kon respondeu.

— Estão incitando as pessoas. Um verdadeiro festival é aquele que tem de tudo. E principalmente violência. — Kohi respondeu e cruzou os braços abaixo dos minúsculos seios.

— Violência? — Take perguntou.

E o moreno não obteve resposta. Isso porque sua atenção se voltou para um ridículo número de homens — quarenta — que começaram a socar um ao outro enquanto a música e a estranha letra era continuada. Ontake e Kon tomaram distância assim como Kohi fez antes, mas não pararam de assistir os homens adornados de músculos socando-se com belos e ameaçadores sorrisos em suas caras ao mesmo tempo em que pessoas gritavam por seus nomes. Ele achava ridículo aquele acontecimento e sabia que acabaria sobrando para ele no dia seguinte, quem sabe até mesmo ajudasse assim que aquilo desse um fim.

— Minha mãe me disse que um dia eu compraria um barco com bons remos; Para navegar por margens distantes, ficar em pé na proa remando um nobre barco. Indo em direção ao céu. Cortando vários inimigos. Cortando vários inimigos. Cortando vários inimigos. —

Ontake retornou sua atenção para as pessoas que davam murros umas às outras. Ele engoliu em seco quando viu um careca já sem os dentes da frente desviando de um soco e metendo um gancho no queixo daquele que tentou acerta-lo. Assim como a multidão, Ontake emitiu um "uuuuhhh" em agonia. Aquilo podia ser verdadeiramente estúpido, mas era algo masculino… algo selvagem… e o moreno começou a torcer, a gritar e a xingar em certo momento, afinal podia quase não ter testosterona, mas ainda era homem e sentia-se animado por determinadas coisas. Ele observou quando o mesmo careca deu uma joelhada em outra pessoa que arrancou alguns dentes e ainda quebrou o nariz do indivíduo. Ontake gritou em verdadeiro ânimo quando aquilo aconteceu. 

— Minha mãe me disse que um dia eu compraria um barco com bons remos; Para navegar por margens distantes, ficar em pé na proa remando um nobre barco. Indo em direção ao céu. Cortando vários inimigos. Cortando vários inimigos. Cortando vários inimigos. —

— Isso é uma idiotice. Deviam jogar uma carne crua para eles, quem sabe aí tenham um motivo para brigar. — Uma voz masculina que chamou a atenção de Take, afinal de contas estava logo atrás dele.

— Eu discordo. Isso parece bem animador, Shiki. — Uma voz feminina atrás de Take.

O moreno olhou para trás de relance. E sentiu-se novamente estranho, afinal Teikō estava mais perto dele do que nunca, e Shiki parecia ter feito questão de parar naquele lugar. O escritor olhou com rispidez para a mulher que o acompanhava.

— É Chishiki. — Shiki respondeu e então usou o indicador para apontar aos homens que continuavam se engalfinhando. — Vá lá se tem coragem, Teikō. —

"Vá e morra…" pensou o moreno que voltou a olhar para frente e cruzou os braços. Toda sua animação com aquele confronto foi perdido, esfriado e ainda tinha de aturar Teikō atrás dele conversando melosa com Shiki a respeito de planos para mais tarde, mas o escritor murmurava apenas "hm". Ontake suspirou pesado e sentiu um arrepio percorrer o corpo no momento que ouviu um homem agonizando de dor só porque seus braços foram cruelmente torcidos, mas que imediatamente foram consertados por um belo chute de outro inimigo. Aquilo não tinha mais a mesma graça. E realmente não demorou para que os homens que cantavam aquela canção fossem embora e os que lutaram fossem carregados. Se houve um vencedor, Take não percebeu… ele estava se sentindo cada vez mais estranho, afinal a poucos metros dele estava Shiki na companhia de uma mulher. Ele mordeu seus lábios ao mesmo tempo que cruzou os braços e fez questão de apertar um pouco os cotovelos, mantendo seu olhar no chão enquanto sentia que estavam marejados, sequer ouvindo que agora a música mudava para algo mais animado.

— Vamos dançar. — Kohi disse depois de observá-lo e puxá-lo pelo braço esquerdo.

[ ۝ ]

— Que? — Take perguntou.

Ele não obteve uma resposta. Apenas foi puxado por Kohi e Kon que perceberam como o mesmo tinha ficado. E a música realmente tinha mudado. Desta vez eram apenas os shamisen que faziam um excelente trabalho e uma vez ou outra uma flauta que fazia um som demoradamente longo, mas bem delicioso e de vez em quando curtíssimo, mas o maior trabalho vinha dos shamisen. A energia sem dúvida era melhor do que a anterior. E Take não teve a oportunidade de lutar com as duas garotas puxando de uma única vez. 

— Então, como dançamos? — Take perguntou.

— Essa é a penúltima. E a consideramos como liberdade criativa, então dance do jeito que quiser. — Kohi respondeu.

O moreno engoliu em seco, mas aceitou aquele desafio de dançar com liberdade, por isso balançou os cabelos, deixando-os mais soltos do que antes, e assim levantou um pouco os braços com os punhos fechados e rebolando o quadril enquanto Kohi fazia algo semelhante, porém a única diferença era dela ter levado os braços e unindo as palmas e dançando com uma atração em igual, mas Kon era aquela com maior capacidade de humilhar na dança. A garota de cabelos azuis escuros dançava em torno das duas outras. Kon apoiou-se com o pé esquerdo e levantou o joelho ao mesmo tempo que deixava os braços erguidos com os cotovelos dobrados — como um robô — e depois baixava seu pé esquerdo e deslizou pelo chão, curvando seu corpo e fingindo socar com o punho esquerdo, depois ajeitou sua postura e executou outro soco com o punho direito enquanto deixava o braço direito para trás. As pessoas assistiam em silêncio a demonstração da menina que logo juntou os braços e os moveu em diagonal e para a esquerda. E após alguns movimentos ela abriu sua palma direita e a estendeu ao céu como se estivesse acertando a garganta de alguém mais alto do que ela. Eram passos de luta, mas combinados a dança. As pessoas pareciam extasiadas pela forma que os três em particular dançavam.

— Você dança bem… — Kohi zombou dois de olhar para Kon que unia-se a aquela incomum dança.

— ...meu avô. Culpe ele, não a mim. — Kon sussurrou com as bochechas coradas. 

O sentimento sem dúvida mudou em Take. Ele estava se sentindo cada vez mais animado, mais solto enquanto dançava em frente a tantas pessoas. Ele podia até não gostar muito de Kohi, mas devia admitir que a garota era ágil durante os passos nada ensaiados. Em certo momento a garota ficou atrás dele e passou a abraçá-lo e passar suavemente, pecaminosamente, as mãos no peito dele ao mesmo tempo que Take levantava sua cabeça e separava seus lábios e rebolava o quadril e mexia mais e mais em seu cabelo. As mãos de Kohi eram suaves, sem dúvida treinadas para a furtividade, mas ela certificou-se de sensualizar o máximo que podia com o moreno. Assobios acompanhavam a música, direcionados apenas para a incomum dupla. Naquela altura, Kon batia palmas no ritmo da música como se incentivasse as duas e únicas pessoas que conhecia a fazerem coisas melhores. Ontake abriu seus olhos — até aquele momento fechados — e fitou por meros segundos Chishiki lhe observando com Teikō conversando alguma coisa ao lado dele e até tentando lhe segurar o braço e participar da dança, mas naquele momento o moreno sorriu. "Ele não dançará. Eu conheço esse homem melhor do que você. Ele só veio para conversar e agir de maneira inconveniente…" pensou o moreno que desviou sua atenção e aproveitou para se desvencilhar de Kohi.

— Vamos mostrar agilidade, Kohi. — Ontake propôs e piscou um dos olhos para a garota.

— Qual sua idéia? — Kohi sussurrou.

— Só me acompanhe. — Ontake sussurrou.

Os dois tomaram distância. E sentiam as inúmeras atenções, mas não pareciam se importar com tantos olhares. Ontake avançou até Kohi e estendeu seu braço direito, assim como a garota estendeu o esquerdo, desta forma os antebraços se acertam com as palmas abertas e os dois andavam em círculo. Aquele era um combate simulado no meio de uma música que parecia exigir um pouco daquilo apesar do quão animada era. O moreno sorriu para a garota e depressa giraram seus corpos em 360° e voltaram a colidir seus antebraços, porém desta vez suas mãos alcançaram a pele um do outro e lentamente começaram a se afastar. E quando seus dedos param de se tocar… e exatamente quando a música ficou mais animada… que voltaram a entrelaçar as mãos e jogaram seus corpos para frente e também concentraram chakra nos pés, desta forma não caíram devido a grande inclinação, mas voltaram a fazer força para retornarem às suas posições. Ontake foi mais lento que o habitual para dar uma chance a Kohi, ele levantou sua perna esquerda e tentou acertá-la com um chute, mas a garota — que naquela altura havia entendido — dobrou seus joelhos e assim desviou do ataque primário. E depois foi a vez dela tentar acertá-lo um chute, mas Ontake simplesmente curvou a parte superior de seu corpo para trás por alguns centímetros, desta maneira desviando do pé da moça.

Os dois começaram a suar, mas estavam verdadeiramente animados com o combate simulado e a música. A garota logo entrelaçou suas mãos num gesto que Ontake entendeu, por isso correu em direção a ela e usou seu pé esquerdo nas mãos dela, e seu corpo um instante depois estava no alto, acima de todas aquelas cabeças, e dando um giro depois do outro, até finalmente chegar ao chão com os joelhos dobrados. E ele disparou de encontro a Kohi que começou a jogar seu corpo para trás. Ele passou a mão direita pelas costas dela e levantou o braço esquerdo, assim como os braços da moça estavam estendidos para os lados e sua perna direita estendida para cima com a esquerda ainda pisando no chão. Os dois se olharam ofegantes com bastante animação enquanto a música chegava ao seu fim e as pessoas aplaudiam com energia e admiração a apresentação dele e de Kohi. E agora foi a reconhecível voz de Kokoa quem chegou aos ouvidos daquelas pessoas. E a música se alterando junto a recente letra, porém os instrumentos — flautas, tambores e shamisen — eram mantidos.

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— Uma vez um rapaz viajou pelo mundo desejando explorá-lo. Num vilarejo deserto, conheceu muitas mulheres, mas apenas uma atraia seu olhar. Ela não era uma princesa, mas tinha um coração gentil e uma paixão que ardia com presteza. Teus olhos violetas eram belos como flores da primavera, o sol era seus cachos loiros brilhando e iluminando meu coração tão sombrio. — Era a melodiosa e afetuosa voz de Kokoa.

Naquele momento muitos casais começaram a sair da multidão — mulheres puxando homens, homens puxando homens, mulheres puxando mulheres — e seguiram-se para um espaço imaginário e começaram a dançar no ritmo da música.  

— Uma vez corremos juntos sob luar e ao encarar as violetas, o coração foi envolvido por uma paixão ardente. Naquela noite nos apaixonamos. Traça tuas mãos com malícia em meus cabelos para conectar nossos destinos e viver sob o luar. As tramas do nosso destino criadas, sensíveis eram uma divergência! Ela era uma ninja conspirando contra a vida e eu um médico conspirando contra a morte. — Kokoa cantava e levava a mão direita para o peito. 

Ontake sorria. Estava em êxtase depois daquela dança. E melhorava ainda porque sabia que não importava o quanto, Teikō não conseguiria fazer com que Shiki dançasse. Ele passou a mão direita pelo rosto suado enquanto olhava para Kohi que estava numa situação semelhante a sua, depois olhou para Kon que não exibia o mesmo cansaço, e depois olhou para o aglomerado de gente que assistia às outras pessoas dançarem, mas seu olhar parou em Shiki que estava de braços cruzados enquanto Teikō tinha a mão esquerda em seu abdômen e lhe sussurrava alguma coisa que parecia divertido para si mesma, afinal de contas só ela ria. 

—  Ela, por mais que negasse o destino conspirando separando seu desejo, tinha um último trabalho a cumprir. Não podia ficar, mas não queria deixá-lo. Seu sorriso intenso e olhos cor de fogo, mantinham a chama no coração dele acesa. E sob o luar, ela prometeu retornar para se casar, antes que se separassem se uniram consumando o amor eterno. Na manhã seguinte, ela retornou aos campos de batalha, mas foi ele que sentiu estar no inferno. — Kokoa cantava e sua voz carregava uma imensa tristeza, mas a melodia continuava a mesma.

Take ficou em silêncio. Ele continuou olhando para Teikō e sentindo aquela coisa estranha que lhe machucava. E seus olhos voltaram a marejar enquanto as pessoas atrás dele dançavam em torno da grande fogueira sob uma linda música. O moreno mordiscou seus lábios. Ele odiava ver Shiki com Teikō, mesmo que parecesse que o escritor estivesse apenas agindo cordialmente e pouco se importava com a dança. A leve dor nos olhos rubros de Take trocou pela surpresa no momento que a companheira de Shiki levou sua língua para o pescoço dele e o lambeu até a altura da orelha direita. E aquilo rendeu a ela um olhar bem desconhecido do escritor.

— Um dia, ela um pouco mais velha, procurava seu amor no seu antigo vilarejo. Seu corpo marcado pela guerra criou cicatrizes e memórias dolorosas escondidas. Certa manhã encontrou um rapaz sentado em frente a uma antiga casa, seus cabelos negros começavam acinzentar e sua face carregava tamanha tristeza! — Kokoa continuou cantando.

Ontake não mais escutava. Ele nem mesmo olhou para Kohi e Kon distraídas com a música. Ele tinha boas opções naquele momento. A melhor delas era avançar em Teikō e puxar-lhe os cabelos como um irracional, ou fingir cansaço e retornar para casa e deitar-se na cama, desta maneira evitando problemas. Ele achou a primeira opção muito tentadora, mas não gostaria de se explicar que atacou alguém por causa de uma crise de ciúme idiota. E até por essa razão que aproveitou que estava tudo ao seu favor para afastar-se da música.

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Ele saiu apressado. E não fez questão de reconhecer os rostos enquanto passava por eles e tropeçando vez ou outra no ombro de um. Ele precisava chegar em casa e encher a banheira e gritar com todo fôlego dos pulmões, quem sabe até afundar o rosto em seus travesseiros e gritar. Ele passou a mão direita por seus olhos vermelhos e marejados no momento que deixou para trás a Yattsuhoshi e alcançou a casa de Shiki, mas não entrou. Ele precisava fazer alguma coisa e não sabia o que era, só sabia que tinha alguma coisa em seu peito e…

— AAAAAAAAARRRRRGHHHHHHH! — Take gritou com literalmente todo fôlego dos pulmões. Agradecendo que Yattsuhoshi estivesse em festividade aquela noite, assim ninguém o ouviria. Ele passou as mãos por seus olhos no momento que as lágrimas começaram a escorrer e ele soluçou.

— Foi uma bela festa. Não foi? — Uma voz masculina atrás dele. Ele não demorou a reconhecer o tom de sempre que carregava calma. Shiki estava de braços cruzados a alguns metros de distância. — Eu acho que ouvi um barulho a caminho, então achei que… —

Take estava com seus sentimentos altos demais para querer ouvir o escritor, por isso que tratou de se levantar e deixar o mesmo falando sozinho. O moreno precisava retornar ao quarto, ao banheiro, a qualquer um daqueles lugares e liberar outro grito daqueles até que sua garganta doesse. Ele abriu a porta da casa e a bateu com a mesma força de antes, e não se surpreendeu por Shiki entrar instantes depois.

— Eu já disse. Você vai consertar essa porta se acabar derrubando-a, entendeu? E de fora deu para ver as janelas tremendo. — Shiki disse.

Ontake parou de caminhar e suspirou. E depois olhou para cima e murmurou alguma coisa, depois olhou para trás e reparou no escritor imóvel e lhe olhando, por isso o moreno voltou a baixar sua cabeça e suspirou pela segunda vez. Ele só ouviu os passos do escritor se aproximando dele, por isso balançou a cabeça de um lado a outro.

— Eu juro… juro por qualquer deus… que se fizer um comentário errado… eu ponho fogo nessa casa. Eu não estou bem, Chishiki. — Take disse e levou a mão direita para os olhos, secando-os novamente e dando continuidade assim que tornou a se afastar. — Eu vou para o meu quarto. —

— Você não está bem mesmo. Seu ânimo é horrível, você é provocativo como eu, mas também é gentil demais para o meu gosto, sabe? E ainda tem esse lado curioso que te deixa a par de qualquer notícia.  — Shiki disse assim que impediu o moreno de continuar o caminho para o quarto ao segurar a mão esquerda dele. — Deixe-me dizer algumas coisas. Depois você decide se vai pôr fogo em minha casa. Desde o momento que chegou a essa casa que tem ganhado cada vez mais o meu interesse, nós somos capazes de proporcionar diversão um ao outro e ainda nos provocamos. Seu ânimo pode ser horrível, mas funciona perfeitamente com o meu, pode ser até que dê uma suavizada, além disso a sua gentileza… equivale a nós dois. Ah, céus… como há tempos eu queria te dizer essa porcaria, mas não sabia como. — Shiki levou a mão disponível ao cabelo e o coçou enquanto usava um mínimo de força para puxar o moreno para mais perto de si, não havendo nenhuma relutância. — Você é um ciumento desgraçado. Você não escondeu o desconforto essa noite e quando aquela estúpida fez aquela merda… parece que foi a gota da água, não parece? —

— Sim… — Take sussurrou e moveu a cabeça para olhar o escritor que possuía o olhar mais suave que ele já tinha visto na vida, bem diferente dele que possuía apenas dor em seus olhos vermelhos. — ...dói demais, Shiki… —

— Eu sei como se sente. Essa dor é a mesma que sinto por… — Shiki tentou dizer e suas bochechas coram e ele apertou a mão do moreno um pouco.

— ...por? — Take perguntou.

Shiki suspirou. Estava mais do que na hora de concluir algo que queria a algum tempo. E por isso terminou de puxar o moreno para perto de si e imediatamente levou as mãos para as bochechas dele e sem qualquer aviso selou seus lábios ao dele. O escritor teve de curvar a parte superior de seu corpo um pouco na hora daquele beijo, mas não se incomodava com a diferença de altura, seus olhos dourados se concentraram nos avermelhados que esbanjaram surpresa enquanto havia aquele afetuoso selar de lábios. Os dois se beijaram ao mesmo tempo em que fogos de artifício estouraram em algum lugar de Yattsuhoshi. O beijo… o primeiro beijo deles… era suave, porém teve um fim muito rápido, mas seus rostos continuaram próximos. As mãos do escritor continuavam nas bochechas de Ontake que não escondia e também a surpresa, assim como uma lágrima solitária lhe escorrendo o rosto. 

— ...amar você. Assim como ganhou minha confiança, ganhou também o meu amor, mas quando estávamos próximos e sabia que não podia tocá-lo… simplesmente me doía em algum lugar. — Shiki disse e sorriu carinhosamente pelo canto dos lábios, então deu continuidade. — E essa sensação diminuía quando fazíamos nossas provocações, quando agimos como somos um com o outro, porque é assim que realmente somos. Desculpe se essas palavras estão saindo mais tarde do que o imaginado, mas… eu te amo… verdadeiramente, Take. — 

Ontake ficou em silêncio todo o momento. E os fogos ao fundo continuavam estourando. Ele depressa passou seus braços em torno do pescoço do escritor e novamente selou seus lábios enquanto sentia as mãos do escritor se moverem cuidadosamente para suas costas e descendo para a cintura. Se antes Ontake chorava por… bom, tudo… naquele momento suas lágrimas eram do mais puro contentamento. Os dois não foram além do beijo, porém não demorou para que o escritor interrompesse o beijo e então sorrir um pouco. 

— Deveríamos conversar amanhã sobre… — Shiki não concluiu seu comentário.

— ...ah, sim… — Take o interrompeu. Ele sorria amavelmente enquanto aproveitava para se desvencilhar do escritor. — ...eu… vou para o meu quarto? —

— Você está me perguntando se vai para o seu quarto? — Shiki perguntou e levantou uma das sobrancelhas, mas acabou balançando a cabeça de um lado a outro e seguiu pelo corredor. — Eu retiro todas as palavras que disse a pouco. —

— Ah! Não… não pode retirá-las, Shiki! — Take disse num tom manhoso e acompanhando o escritor com um óbvio olhar de receio. 

— Já é tarde. Já foram todas retiradas, boa noite, Take. — Shiki disse e sacudiu sua mão direita como se estivesse dispensando o moreno. — E porque eu não poderia retirar? —

— Porque… eu também te amo. Então, se retirar que disse que me ama… vai parecer que só eu disse que te amava… e eu quero lembrar para sempre disso. — Take disse com as bochechas coradas e um olhar pidoso para o escritor. — ...e só os deuses sabem quando será a próxima vez que dirá amar alguma coisa. —

— Amanhã. Para você. E no dia seguinte. E em todos os dias que virão depois dele. — Shiki disse e escorou-se na porta do próprio quarto e olhou para o moreno que ficará parado depois de sua resposta. — Amanhã conversamos. —

Take ficou em silêncio, mas balançou a cabeça em confirmação. E assim olhou para Shiki abrindo a porta do próprio quarto e entrando e depois trancando-a. Os joelhos do moreno cederam e ele ficou olhando para a porta do quarto por longos minutos e pensando na penúltima frase do escritor, então pôs as mãos frente ao rosto e abafou o máximo que pôde um riso. Ele enfim tornou a se levantar e seguiu para o quarto e só se jogou na cama e abraçou os travesseiros, então enfiou seu rosto num e gritou com energia e ânimo enquanto sacudia suas pernas ao vento.


Notas Finais




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