Escrita por: CRIS75950
Perplexa, a menina andou até a cozinha com as pernas bombas. Ao vê-la pálida e trêmula, Madalena ficou preocupada e foi logo perguntando:
-O que aconteceu, filha?
-Parece que viu assombração.-disse Expedita ao ver Tamara.
Tamara andou até a mesa e sentou com a ajuda de Expedita que teve que ampará-la para que ela não desabasse no chão.
-Minha Nossa Senhora...O que houve, menina?
Tamara ainda estava perplexa, não conseguia pronunciar uma só palavra.
-Eu acho que ela está passando mal, Madalena.
-O que você tem, filha? O que sente?
-O que o inquisidor fez com você?
Ao ouvir aquelas palavras, Tamara rompeu-se em prantos entrecortados.
-Pelo amor de Deus, menina! O que foi que sucedeu? Você está me deixando aflita!
Tamara levantou a cabeça trêmula.
-Traga água com açúcar, Expedita.-disse Madalena.
Rapidamente, Expedita trouxe um copo cheio com água e açúcar e entregou para Madalena que disse:
-Beba um pouquinho de água com açúcar, minha filha.
Tamara segurou o copo com a mão direita trêmula. Depois de tomar metade da água, a menina respirou fundo.
-Obrigada.
-Agora nos conte o que aconteceu.
Depois de segundos de hesitação, Tamara falou:
-Antes de contar o que aconteceu...quero que me prometam que não contarão a ninguém.
-Você sabe que pode confiar em nós, filha.
Tamara soltou um longo suspiro e disse:
-O inquisidor...me beijou.
-Jesus Cristo!..-exclamou Madalena atônita.
Expedita ficou estupefata.
-O frei beijou a senhorita???
-Sim, Expedita.
-Deus do céu...Um frei, um homem Santo, beijar uma moça pura! Mas é um pecado muito grande!
-Santo? Pois eu acho que de Santo "aquele" lá não tem nada!-disse Madalena.
-Deus me perdoe...Isso não é comportamento de um homem religioso. E sim de um homem safado!
-Por favor, não contém nada à minha família. Muito menos ao meu irmão Julian. Se ele souber, é bem capaz de fazer uma loucura.
-Pode ficar sossegada, filha. Nós não contaremos nada.
Nesse momento, seus pais e seus irmãos entraram em casa. De imediato, Tamara enxugou as lágrimas com as palmas das mãos. Sua mãe entrou na cozinha.
-Boa noite.
-Boa noite, "sinhá".
-É bom voltar para casa. Já não suportava mais as bobagens da primeira-dama.
Ao ver o rosto da filha úmido de lágrimas, Heloísa perguntou:
-Filha, o que aconteceu? Você andou chorando?
-Não, mamãe. Não aconteceu nada.
Heloísa pegou na mão da filha e disse:
-Meu Deus, querida...A sua mão está muito fria e trêmula. Você está bem? Está se sentindo mal?
-Não, mamãe. Eu estou bem.
Tamara levantou-se e disse antes de sair:
-Eu vou para o meu quarto.
Tamara retirou-se dali. Apreensiva, Heloísa perguntou:
-O que aconteceu com a minha filha, Madalena? Porque ela esteve chorando?
Expedita e Madalena entreolharam-se.
-E então? Não vão responder?
-Não aconteceu nada, sinhá.-respondeu Madalena.
-Ah não? Então porque eu encontrei a minha filha naquele estado?
-É que a nossa menina fica assim quando escuta falar em inquisição.-respondeu Madalena.-A coitadinha fica muito nervosa, sinhá.
Heloísa resolveu acreditar em sua escrava doméstica.
-Tenho tanto medo que ela fique doente por causa de tudo isso que anda acontecendo aqui na vila.-disse ela suspirando.
-A nossa menina é forte, sinhá.
-Eu já não sei mais, Madalena. Tamara está ficando cada vez mais fragilizada por causa dessa história toda. Essa maldita inquisição só apareceu para atormentar a cabeça dela.
Heloísa retirou-se da cozinha suspirando profundamente.
-A inquisição...e o inquisidor também!-disse Madalena.-Eu sou capaz de apostar que esse frei de uma figa vai infernizar a nossa menina.
-Será, Madalena?
-É claro que vai. Esse maldito está apaixonado por ela, Expedita. Um homem não beija uma mulher a toa. E ainda mais se esse homem é um sacerdote religioso! Ele ama a nossa Tamara.
Momentos depois, Expedita entrou no quarto de Tamara. A menina estava recostada na cabeceira da cama.
-Sinhazinha?
-O que é, Expedita?
-Eu vim ver como a sinhazinha está.
Tamara sentou-se na cama e disse com a voz alterada:
-Como você acha que estou me sentindo? Acabei de ser beijada por um frei!
Dominada pela raiva, Tamara gritou:
-É essa minha beleza amaldiçoada!!! Ela vira a cabeça dos homens! Primeiro o filho do prefeito...e agora o frei inquisidor!
-Para mim, esse frei não passa de um safado ordinário.
-Não sei se vou ter coragem de entrar na igreja novamente...
-Mas a sinhazinha não teve culpa de nada. Foi ele quem lhe beijou.
-Mesmo assim...Eu não quero ter que olhar pra ele de novo.
-Mas e a missa de amanhã?
-Eu não vou, ora!
-Mas a sinhazinha nunca faltou em nenhuma missa. Sempre gostou de ir.
-Mas o inquisidor vai estar lá, Expedita!
-É só não olhar para ele.
Tamara suspirou fundo de impaciência.
No dia seguinte, Tamara passou toda a manhã dentro de casa. Estava no quarto bordando. Neste momento, seu irmão Julian entrou no quarto.
-Com licença, minha irmã.
Julian sentou-se na beira da cama de frente para Tamara, que olhou para ele.
-Está tudo bem com você?
-Está.
-Mamãe me disse que você estava muito nervosa ontem a noite. E hoje você não saiu de casa para ir na missa.
-Eu estou bem. Apenas decidi ficar em casa bordando.
Miguel entrou rapidamente no quarto.
-Tamara, as crianças estão aqui perguntando por você.
-Diga-lhes que não poderei sair de casa.
-Por que? Está doente?
-Não, não é isso...Tenho muitos bordados para terminar.
-Está bem.
Miguel saiu do quarto. Julian a encarou e disse:
-Bordados? Pensa que me engana?
Tamara o encarou seriam e disse:
-Eu tenho que terminar esses bordados.
-Tamara, eu conheço você melhor que a mamãe. E sei que você está escondendo alguma coisa.
-Eu não estou escondendo nada,Julian...-Tamara espetou o dedo com a agulha e deu um grito.
Julian percebeu o nervosismo da irmã.
-Você quer me contar alguma coisa?
-O que eu teria para contar?
Tamara largou o bastidor e disse:
-Eu vou ajudar a mamãe com o jantar.
Ela deixou o quarto rapidamente.
-Aconteceu alguma coisa que ela não quer me contar....
Julian ficou por um longo período pensativo. Várias idéias passavam por sua cabeça. Notou que a irmã estava inquieta, mas não sabia porquê.
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