E assim, os dias passaram. Durante a noite, Tamara dormia mal. Tinha pesadelos horríveis com o frei Emílio e com Daniel ao mesmo tempo. O dia do seu noivado estava próximo. Daniel se gabava de seu casamento para os amigos.
-Você tem muita sorte, Daniel.-disse um de seus amigos.-Vai se casar com a moça mais linda de vila Mariana.
-Eu disse que iria conquistá-la primeiro.-disse com seu ar soberbo.
-Realmente você tem muita sorte. Eu sempre desejei me casar com Tamara.
-E eu também.
-Sinto muito, amigos. Mas eu venci essa disputa.
Todos riram juntos. Diogo que passava por ali, não suportou a ironia daqueles jovens egocêntricos e hipócritas.
-Conseguiu o que queria, não?-disse Diogo encarando Daniel.-Agora está se vangloriando por ter convencido o delegado a lhe dar a mão da filha.
-Pois é...-disse Daniel com ar de deboche.-O delegado sabe que eu sou o melhor partido da vila. E até porque, meu pai e ele são amigos há muitos anos.
-Tamara não ama você.
-É mesmo? E quem ela ama? Você?
Todos caíram na gargalhada. Nesse momento, Julian aproximou-se e fitou Daniel furiosamente.
-Já está comemorando tão cedo?
-Ora, vejam...-disse Daniel.-O meu futuro cunhado chegou.
-Eu não serei o seu cunhado.
-Como não? Eu me casarei com a sua bela irmã.
-Deus queira que isso nunca aconteça.
Daniel simplesmente riu e disse:
-Ora essa, Julian. Nós sempre fomos bons amigos.
-É claro....Tão amigos que eu até já cheguei a lhe partir a cara ao meio!
-Mas isso foi há muitos anos. Nós éramos crianças.
-Eu sei. Mas ainda assim, você me enoja.
-Me enoja ou tem inveja?
-Inveja? E porque eu teria inveja de um verme feito você?
-Por que eu sou filho do prefeito. E você, de um simples e reles delegado que se submete às ordens do frei inquisidor.
Tomado pela raiva, Julian desferiu um violento murro no rosto de Daniel que cambaleou para trás.
-Nunca mais ouse falar de meu pai!-exclamou entre dentes.-Seu verme desprezível!
-Espere, Julian!-disse Diogo segurando-o pelo braço.-Não vale a pena bater nele. É um idiota que não sabe o que diz.
Antes de ir embora dali, Daniel falou enraivecido:
-Vai me pagar por isso, Julian!
Daniel e sua corja de amigos foram embora. Julian o seguiu com o olhar e murmurou:
-Filho da mãe...
-Esqueça ele, Julian. Daniel sempre foi um rato insignificante.
-Não quero que esse desgraçado se case com a minha irmã.
-E por falar na sua irmã, você precisa saber de uma coisa...
-Do que?
-Eu acho que o inquisidor Emílio está interessado nela.
-Sim, eu também já percebi. Ultimamente ele têm aparecido muito em nossa casa. E está sempre elogiando Tamara. Não estou gostando nada disso. Essa aproximação me incomoda.
-Eu não o suporto. Desde o primeiro momento em que o conheci na igreja.
-E eu também não. É um maldito abutre, tão desprezível quanto o filho do prefeito.
-Deus queira que ele não esteja apaixonado pela sua irmã.
-É bom mesmo. Porque se estiver, eu o matarei com o próprio crucifixo!
-Não precisa exagerar, Julian. Apesar das circunstâncias, o frei inquisidor é um sacerdote eclesiástico.
-Está bem, eu sei que exagerei um pouco. Mas não posso deixar de me indignar.
-Eu sei. Também estou indignado.
-Você ama a minha irmã, não ama?
-Sim. Eu a amo desde criança. E sempre vou amá-la.
-Pois eu prefiro que ela se case com você. Sempre fomos grandes amigos desde garotos.
-É muito bom ouvir isso. Mas eu nunca poderia dar uma vida digna com conforto a ela. Sou apenas o sobrinho do padre e coroinha da igreja.
-E o que isso importa? Você é digno, honesto e de bom caráter. É isso que realmente importa. Não é necessário ser rico ou ter posses. Além do mais, Tamara não é e nunca foi apegada ao luxo. Minha irmã é uma moça simples, sabe muito bem disso.
-É claro que eu sei. Mas é que...bem, eu gostaria de poder dar tudo o que ela merece.
-Minha irmã merece amor. Pois o amor é a maior riqueza que existe.
-E se o inquisidor estiver mesmo apaixonado por ela? O que poderá acontecer? É bem possível que ele abandone o hábito.
-Talvez. Mas, que Deus me perdoe, se ele ousar encostar em um fio de cabelo dela...eu juro que o matarei de qualquer maneira! Posso até ser condenado pelo tribunal do Santo Ofício, mas jamais permitirei que esse abutre toque na minha irmã.
E assim, Julian e Diogo decidiram ficar atentos aos passos do frei inquisidor.
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