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História Tão abstrato quanto o azul do meu cabelo. - Tão único quanto o azul que virou verde.


Escrita por: Hyacinthum_

Notas do Autor


Olá! Eu ia postar essa história no domingo, mas acabei demorando de mais para reescrever :( Uma história de 500 palavras virou mais de 2k. Estou muito feliz com isso.
Bom, invés de escrever eu deveria estar estudando, mas quem se importa?
É isso, boa leitura.

Capa: @Loonaed

Capítulo 1 - Tão único quanto o azul que virou verde.


Que atire a primeira pedra quem acredita que janelas fechadas não falam! De preferência atire na minha janela, estou muito afim de dar uma voltinha nas ruas vazias durante quarentena não opcional oferecida por aquele vírus safadinho que me recuso a dizer o nome — até porque já cansei de ouvir a minha mãe falando esse nome na última semana.

É, galera, parece que todo mundo tá preso em casa, vendo alguma série na netflix ou estudando para alguma prova importante que pode mudar o seu futuro para todo o sempre. Mas estou apenas aqui, existindo e pensando nela. Pode chamar isso de vida de gado, aceito e não nego. Quem não gosta daquele sentimento abstrato da paixão, cheio de altos e baixos, com um gostinho agridoce? Bom, eu não gosto. Na verdade, odeio! Quem em sã consciência gosta de altos e baixos? Morro de medo de ir à montanha russa pelo mesmo motivo, porque iria querer me apaixonar? É uma missão suicida! Admiro aqueles que têm coragem o suficiente para se entregar de corpo e alma a essa missão, porém recuso.

E se você acha que esse sentimento é algum tipo de alucinação coletiva causada por esse tipo de gripe fatal, saiba que é muito pior. Sinto esses sintomas a mais de dois anos, reprimidos por doses diárias de animes yaoi, doramas e fanfics lésbicas. Poderia facilmente dizer que sou a ovelha negra da família, mas passei a descolorir os meus fios com quinze anos; e, graças a essa quarentena filha da puta, resolvi tentar inovar totalmente e pintei o meu cabelo em um azul bic, mas que já perdia a cor na raiz, transformando-se em um degradê iniciado com verde. Manter uma cor tão exótica como essa era complicado, ainda mais não sabendo se poderia comprar os meus tonalizantes pela internet.

Talvez eu estivesse fazendo de tudo para sair desse assunto conhecido como “Chaewon sofre por não se declarar”, porém isso não saía da minha cabeça. Como sempre nos últimos dias, vou culpar o isolamento obrigatório e uma tatuagem de dois dinossauros que vi quando estava rolando no feed do instagram. “Se declare antes que o mundo acabe” isso nunca fez tanto sentido em toda a minha vida. Me sentia como se o mundo estivesse à beira de um colapso digno de um filme de terror ou suspense, tipo apocalipse zumbi ou ataque alienígena, e agora era a minha última oportunidade de tirar os meus sentimentos da lixeira. Contudo, eu sabia que não era a minha última oportunidade ou o fim do mundo — mesmo que parecesse que 2020 foi escrito por Stephen King e dirigido por Quentin Tarantino. Parecia que ficar no meu quarto estava fazendo os meus dois últimos neurônios entrarem em colapso e olha que nunca tive problema em ficar muito tempo em casa vegetando ou coisa do tipo, mas ser obrigada a isso desligava o botãozinho de coerência do meu cérebro. Era oficial, estava louquinha da silva.

Quem sabe ver Naruto me ajudasse um pouco nesse momento de necessidade, afinal o ninja loiro foi o meu crush durante a infância inteira. Fazia de tudo para chegar mais cedo em casa — e com isso quero dizer que voltava correndo — apenas para colocar no SBT e ver mais um episódio. Talvez eu devesse aprender um pouco com ele e deixar bem claro os meus sentimentos, por piores que sejam; porém, tenho que fazer de tudo para não ser tão tapada quanto aquele idiota que não percebeu que a Hinata amava ele mesmo depois dela dizer que o amava. Oh, santos diretores do estúdio ghibli, me ajudem nessa difícil caminhada, assim como vocês conseguiram ganhar um Oscar, mesmo concorrendo com tantos estúdios americanos em uma premiação xenofóbica.

Parecia que quanto mais o tempo passava, mais abstratos os meus pensamentos se tornavam e, para piorar, aquela ideia de dar uma fugidinha rápida de casa se fazia mais presente nos meus pensamentos sem sentido. Naquele momento, ficar infectada parecia uma coisinha de nada, tipo um resfriado qualquer de fim de inverno. Entretanto, sabia que não era exatamente assim. Via as notícias na TV, pessoas estavam morrendo. Mas se o meu vizinho da frente estava fazendo festa em plena quarentena — com direito a muita cerveja e música até a madrugada chegar —, por que eu não podia ir atrás dela? Poxa, só ia pegar um ônibus e parar no outro lado da cidade! Beleza, isso não era algo sensato a se fazer, só que não sou uma pessoa sensata.

Corri a casa inteira em busca da minha mochila da Sailor Moon e a encontrei jogada em algum canto do meu guarda-roupa. Com as aulas da faculdade paralisadas há quase uma semana, já havia perdido até a noção do tempo, pois parecia que não via aquela espécie de bolsa há uns sete anos. Acho que nem lembrava mais a sua função direito. Servia para guardar coisas, certo? Corri mais um pouco tentando achar o álcool em gel setenta por cento. Me sentia naqueles vídeos da Black Friday nos Estados Unidos onde todo mundo quer pegar o mesmo produto e sai que nem um desesperado, só que era só eu ali. Esse foi bem mais fácil de localizar, estava em uma prateleira cheia de iguais. Talvez a minha mãe estivesse ficando louca e começando a estocar. Peguei também uma sombrinha, a minha carteira e uma blusa reserva como sempre fazia. Agora estava pronta para enfrentar o apocalipse.

Saí sem falar com ninguém e pela janela, uma verdadeira fuga. Na verdade, não existiam muitos motivos para ter saído pela janela, mas já que o cenário era de fim de mundo, vamos fazer as coisas conforme esperamos e isso significava abandonar o sapatênis e colocar um tênis feio e confortável — pois quanto mais feio o tênis é, melhor é de usar. Na rua não havia muitos pedestres e pouquíssimos carros; passava vez ou outra um ônibus vazio e era só isso. Se tivesse dinheiro, pagaria um Uber e iria tranquila com um risco reduzido de contaminação comparado ao transporte público. Mas, infelizmente, eu não era burguesa safada. Ai, ai… esperei por quase trinta minutos na parada até o coletivo chegar e, como sempre, parecia estar caindo aos pedaços.

Já dentro, a minha cabeça resolveu sair de mim rapidinho e imaginar, se o apocalipse realmente acontecesse, o que eu teria que utilizar como absorvente? Pano? Papel? Não, papel não. Não ia mais ter fábrica fazendo papel. Acho que vou ter que começar a estocar… que droga! Isso logicamente é o após-calypso. Beleza, gente, acho que tenho que parar de pensar.

Quase uma hora depois, quando chegou no meu ponto, puxei a cordinha e logo comecei a passar álcool em gel enquanto descia. Agora só precisava caminhar mais umas três ruas e estaria na casa dela. E, Deus, tinha esquecido o quão ruim caminhar era. Costumava ir pra faculdade de ônibus e a parada era bem em frente; o meu prédio era um dos primeiros, então andava menos de um quarteirão. A vida de sedentária estava começando a tomar conta de mim como nunca. Acho que esse é um momento de provação, o universo está me desafiando. Se eu sobrevivesse a essa caminhada, conseguiria sobreviver ao fim do mundo. E, ai, ai, ai… como foi difícil! Jurei que o meu corpo ia derreter com o sol das três da tarde e aquele mormaço fudido. Mas, no final, cheguei viva em frente a casa seiscentos e cinquenta e um. Sim! Era uma guerreira!

Agora era só apertar a campainha! Mas com que coragem? Será que eu teria feito tudo isso para nada? Será que essa aventura em meio a um vírus mortal serviria apenas para mostrar a minha inferioridade relacionada a uma estupidez quase sem sentido? Não! Fui corajosa! Enfrentei o inimaginável e agora estava diante da minha última provação. Com as mãos trêmulas e quase sem forças, empurrei aquele pequeno botão que emitia um som à casa toda. Congelei quando vi a porta ser aberta pela mãe de minha amada, ela trazia consigo um sorriso e um olhar preocupado.

— Gowon! A quanto tempo! — A senhora estava com tudo em cima, com os fios num loiro platinado e o corpo malhado à mostra pela roupa curta. Sequer parecia ter mais de cinquenta anos. — O que você tá fazendo aqui, meu anjo? — Falava enquanto abria a porta. — Entra e deixa o sapato fora.

— Eu tenho que falar com a Hyejoo, mas juro que é rapidinho. — Sorri enquanto tirava meu tênis.

Subi as escadas sem nem olhar para trás, muito menos tocar em algo. Quando cheguei em frente a porta cinza, peguei novamente o meu álcool em gel e praticamente tomei um banho. Fiquei cheirando a limão e menta, duas coisas que não gostava. Mas isso não importava agora, tinha que finalizar a minha missão suicida. Realmente não entendia em que momento aceitei aquela missão e agora aquelas borboletas no estômago faziam a sua mágica. O grande problema era que aquele friozinho na barriga é causado pela liberação de adrenalina e em consequência a diminuição da circulação do sangue na área do abdômen, contração do estômago e liberação de uma maior quantidade de ácido; e eu tinha plena noção disso. Vocês sabem que podemos morrer com uma descarga de adrenalina? Não era nada bonito como os poetas diziam.

Ainda com medo, abri a porta e passei pelo arco. Lá estava Son Hyejoo com o celular na mão, com uma risada gostosa nos lábios e uma série qualquer passando na TV. Beleza, não era uma série qualquer, era o meu amado Narutinho.

— Olá, lindona!

Ela virou para mim com uma cara de surpresa e logo sorriu de orelha a orelha.

— Ai, meu Deus! O seu cabelo tá azul! — Acabei rindo.

Levantou-se da cama e veio me dar um abraço apertado e quentinho, indo contra todas as regras da quarentena. Eu amo essa garota.

— Que você tá fazendo aqui? É pra todo mundo ficar em casa e sofrendo com a distância dos amigos e imaginando como vai ser o primeiro rolê depois desse isolamento. — Riu. Ai, mundo, ela é tão linda rindo… parecia uma florzinha desabrochando no auge da primavera. 

— Eu tenho um negócio pra falar contigo e não é sobre o meu lindo cabelo, mas primeiro pausa esse episódio de Naruto. É um pecado deixar esse anime rolando e não prestar atenção nele. — A crush riu mais um pouco e parou a reprodução do desenho, logo me puxando para sentar com ela na cama.

— Fala logo o que tu quer me falar, não é sempre que uma raridade dessa acontece. Tô curiosa.

Gente, foi nesse momento que o coração resolveu falhar bonito. Talvez eu tenha ficado vermelha e com a maior cara de palhaça, mas estava completamente sem reação. O que eu faço agora? Nunca tinha chegado nesse momento. Maldito fim do mundo! O frio na barriga piorou e as minhas mãos começaram a suar. Perdi completamente a fala. Hyejoo estava com uma das sobrancelhas arqueadas, transformando aquele rostinho lindo em algo mais lindo ainda, porém com um ar mais adulto e que correspondia com a sua idade.

Ai, ai… devia ter pensado em algo pra falar.

— Ham…. eu meio que… ham…

Travei.

Eu parecia aquelas protagonistas de filmes e livros heterossexuais para adolescentes, tipo "Crepúsculo" e “Para todos os garotos que já amei”. Extremamente clichê e previsível.

— Fala logo, Chaewon. — Com um incentivo desse, não tinha como não falar.

— Ok. — Suspirei. — Assim, Hyejoo, o que eu vou te falar não é algo que faz cem por cento de sentido para mim, então não espero que você entenda; é algo abstrato em quase todos os sentidos da palavra. É que você não sai dos meus pensamentos. — Estava abrindo o meu coração, duvido que algo me parasse agora ou me fizesse olhar nos olhos dela. — No primeiro momento, achei que você tinha colocado alguma coisa na minha cabeça, algum chip para controlar a minha mente ou algo do tipo; mas isso não fazia sentido, pois nunca tentou me dopar ou me viu dormir. Depois achei que isso ia passar. Não passou. Aí veio esse vírus e o início do que acredito ser o fim do mundo. A minha cabeça deve ter parado de funcionar normalmente, porque, se estivesse em um estado normal, nunca teria ido pro outro lado da cidade só pra te ver. E agora eu tô aqui sem saber como dizer que te amo. Isso é uma porra, porque você é linda, inteligente e parece ter sido feita pelo Professor Utônio com açúcar, tempero e tudo que há de bom; enquanto eu sou só eu.

Quando a última palavra saiu da minha boca, foi como se o ar tivesse voltado a circular, mas nem lembrava dele ter faltado. Após alguns segundos, tive coragem de levantar o olhar e a Son me olhava com um olhar de dúvida e estranhamento.

— Gowon, você realmente acha que esse é o fim do mundo?

Naquele instante, estava preparada para tudo e isso incluía uma rejeição extremamente espalhafatosa com direito a inúmeros xingamentos em todos os idiomas existentes, menos uma pergunta tão boba quanto aquela. Os meus dois últimos neurônios estavam entrando em colapso, quase conseguia ver aquela fumaça negra saindo pelas minhas orelhas como nos cartoons. Estava em tela azul, completamente sem reação. Era tão inesperado! Por um segundo antes de reiniciar, meu coração ficou quentinho e feliz.

— Lógico que sim! Hye, você sabe que o mundo vai acabar quando os velhos começam a morrer, é um indicador biológico! — E ela caiu em um riso tão gostoso que acabei a acompanhando.

Nos jogamos de vez naquela cama de casal e continuamos a rir. Estávamos de frente uma para a outra, rindo de bobagens como se não houvesse amanhã. Aquilo era o mais perto do paraíso que já cheguei. Se o mundo realmente acabasse ali, estaria tudo bem. Eu estava feliz.

E, como num clichê colegial, quando aquela sensação fugaz passou, nossos olhos se encontraram. Pude reparar todos os detalhes daquele rosto que considerava perfeito, desde da boca pequena aos olhos negros como o céu sem estrelas. Hyejoo era linda e não apenas por fora, quanto mais tempo passava com ela, mais tinha a certeza de que era umas das pessoas mais inteligentes e compreensivas que conheço. Sabia admitir os seus erros e perdoar, mas não é como se nunca ficasse magoada. Era incrivelmente humana, com defeitos e qualidades. Linda.

— Sabe, Gowon, você nunca foi uma pessoa que realmente consegue esconder o que sente e eu amo isso. — Sorriu e passou delicadamente os dedos no meu rosto em um carinho meigo. — Já sabia que você gosta de mim e… quer saber de uma coisa? O que eu sinto por você é tão abstrato quanto o azul do teu cabelo. Eu também te amo.

Com o coração batendo mais rápido que uma escola de samba — se é que isso é possível —, percebi que o mundo não poderia acabar ali. Não era o fim, pelo contrário, era o começo. E se o destino fosse contra, aceitaria de bom grado o meu papel de protagonista de anime shounen e lutaria contra tudo. Estava disposta a enfrentar mais aventuras. As bruxas e dragões poderiam vir, estava preparada.

— Isso quer dizer que a gente pode assistir Naruto juntinhas?

— Não seria “se a gente ta namorando”?

— Não, assistir Naruto juntas é bem mais importante do que isso.


Notas Finais


Não saiam durante a quarentena 👺 O vírus é real 👺


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