" Angels descending, bring from above
Echoes of mercy, whispers of love.
When our hearts listen angels sing
I never knew the feeling her love would bring."
Um barulho me assusta e cerro meus olhos com força. Ao abrir meus olhos vejo Arthur parado em frente a cama: Segurando o celular, como se estivesse acabado de tirar uma foto.
-Desculpa, eu só queria tirar uma foto. Ficou linda, olha! - Arthur me mostra a imagem no celular - Estou nua, coberta pelo edredom e dormindo de bruços.
-Ficou bonita.
-Vai ser meu papel de parede. E ai, dormiu bem?
-Muito... Graças a você.
-Queria ter ficado mais na cama com você - Ele lamenta e acaricia meu couro cabeludo - Mas... To com a panela no fogo! Se você quiser tomar um banho antes de almoçar...
-Depois –Resmungo ainda preguiçosa, rolando pela cama.
-Suas roupas estão na parte direita do guarda roupa. - Meu professor diz e vai para a cozinha.
Me sento na cama e olho ao redor do quarto ainda preguiçosa. Eu não me lembro muito do que aconteceu, mas a umidade dos lençóis não nega. Me levanto enrolada pelo edredom e pego minhas roupas que estão penduradas ao lado direito. Meu velho jeans, minha camiseta branca e a sapatilha preta com lacinho vermelho. Coloco as roupas em cima da cama e atravesso a casa, coberta pelo edredom enquanto Arthur cozinha.
No banho, fico pensando na comida que ele está cozinhando. O cheiro é de carne assada, que faz meu estomago roncar. Enquanto esfrego meu couro cabeludo, a lembrança do momento sozinha com Rafael no pátio me assombra. E se ele tivesse tentado alguma coisa comigo? Ainda devo esconder do Arthur?
Depois de seca, me sento e tento colocar a calça. E pro meu desespero, ela não sobe nas minhas coxas. Tento uma, duas, três vezes, deito no chão, mas ela não sobe. Arthur aparece na porta e me encara de braços cruzados.
-O que você tá fazendo Julie?
-A calça... Não serve mais.
-Ué, e porque tá se matando? Porque não pega um vestido então? Não demora, o almoço tá na mesa.
O vestido desta vez cai bem no meu corpo e termino de me arrumar. Depois de espirrar algumas gotas de perfume no pescoço e no colo, atravesso a sala e Arthur está colocando sua comida.
-Vestidos marcam mais o seu quadril, e a sua bunda fica consideravelmente maior.
-Eu sabia que era carne assada! - Respondo me servindo.
-Eu também fiz um molho de mostarda, se você quiser...
-Eu não entendo. Eu comprei aquela calça há três meses atrás! Será que eu engordei tanto assim? - Indago e me sento.
-Eu coloquei a roupa pra lavar esses dias! As minhas e as suas! Talvez elas encolheram...
-Você acha que eu engordei?
-Santo Cristo... Eu não to dizendo que você tá gorda gorda, mas você tá em fase de crescimento! É normal perder as roupas! É normal a gente sofrer do efeito sanfona... É normal você ganhar um peso a mais porque você toma anti-concepcional, e isso engorda!
-Tem razão... De qualquer jeito, é melhor eu fechar a boca por um tempo.
-Isso não se inclui a mim né?
-Besta! A sua comida tá ótima! Tá melhorando!
-Eu espero aprender algumas coisas com você. O professor também aprende com os alunos. Seria interessante fazer isso com você...
-É melhor você comer.
Depois de comer, Arthur lava os pratos enquanto escovo os dentes. Enquanto penteio o cabelo, o escuto cantarolar na cozinha. Como é bom ver ele feliz assim. Com todos os seus momentos de loucura que eu também tenho, eu ainda sinto o frio na barriga e o 'perigo' de ter um 'relacionamento' escondido.
-Tudo pronto Julie?
-Sim, ah... - Digo guardando a escova - Pra onde a gente vai?
-É uma surpresa. Não quero que fique assustada, mas vai ser divertido!
Já à caminho do 'lugar desconhecido', a mão direita de Arthur descansa em cima da minha perna e eu distribuo carinho pelas mãos dele. Estamos em algum lugar perto da 'cidade grande', os prédios são maiores do que o normal, e há muita gente atravessando a rua no horário de almoço. Os raios do sol estão perdendo força e dando lugar a nuvens grandes. A melodia de Healed do Tom More me deixa relaxada, e deito no banco.
-É muito longe? Quer dizer, você tá dirigindo há trinta minutos...
-Estamos quase lá, é na próxima direita.
-O que você vai fazer comigo?
-Haha! Você vai me agradecer.
Poucos minutos depois, Arthur estaciona o carro em frente a uma loja pequena, mas que tem um letreiro rosa-piscante "Sex Shop".
-Você me trouxe num Sex Shop, Arthur? - Indago espantada.
-Você não gostou? - Ele questiona com o olhar desapontado.
-Eu? Num Sex Shop!
-Não precisa ter medo! É uma loja onde pessoas ou casais vão comprar coisas pra melhorar a relação! Eu pensava que você queria! Por ser algo novo!
-Eu tenho 16 anos. Eu tenho 16 anos pra entrar num Sex Shop, Arthur!
-Julie! Para com isso! Ninguém pede a sua identidade num Sex Shop! Mas se você quiser ir embora eu entendo!
-Você dirigiu, gastou gasolina, gastou dinheiro! Só por isso que eu vou entrar nesse... Nesse lugar ai!
A loja é discreta, com as paredes em pintadas de rosa e o piso preto. Perto da porta há uma prateleira com várias coisas organizadas, umas maiores, outras menores, e alguns ursinhos de pelúcia. Por sorte, o lugar está vazio, apenas eu, Arthur e a vendedora atrás do balcão.
-Oi! Boa tarde!
-Boa tarde – Arthur responde.
-Procuram por algum produto específico?
-Óleos de esquentar ou esfriar.
-Óleos? - Questiono abismada.
-Eu vou ver no estoque! - A vendedora sai detrás do balcão e entra por uma porta na direita do bebedouro que fica perto do balcão. Ela volta com duas embalagens pequenas nas mãos e dá para Arthur, apoiado no balcão.
-Isso! Exatamente dessa marca!
-Ultimamente óleos assim estão vendendo bastante! As pessoas querem queimar por dentro, literalmente!
-Curioso né? E quanto a lubrificantes?
-Com ou sem sabor?
-O que?!
-Sem sabor! Julie vem aqui! Você não pode agir como se isso fosse estranho. Isso foi feito pra dar prazer as pessoas! Você não é a única que vem aqui pela primeira vez!
A vendedora volta com um creme menor dessa vez e Arthur pede pra ver a sessão dos vibradores. Os formatos e os tamanhos são de todos os tipos que se possa imaginar.
-O que é isso aqui? Essa parte em cima?
-Esses vibradores estimulam tanto a vagina quanto ao clitóris ao mesmo tempo! E esses daqui maiores estimulam só o clitóris! Mas esse maior, comparado os outros menores que servem só pra estimular o clitóris, é mais potente. Tem oito velocidades!
-Oito velocidades?
-Garota isso faz um estrago massivo!
-Qual você quer?
-Vamos testar, esse estrago massivo, e esse aqui! -Coloco os produtos na cestinha.
-Mais alguma coisa?
-Eu deveria ter feito uma lista, mas eu queria velas comestíveis, fitas de pulso e uma venda.
-Ah não pera ai.... Velas dói!
-Não dói, são pequenas! Mas você aguenta.
-Arthur...
-Acredita em mim! Eu não faria nada pra te machucar. Certo? Ah obrigado! Viu? Velas são pequenas, e olha! De chocolate, você vai gostar!
-Mais alguma coisa? Preservativos especiais?
-Só isso mesmo. - Arthur justifica, apesar de estarmos com duas cestinhas cheias.
A vendedora registra os produtos enquanto sorri. Ela deve estar caçoando de mim. Ela deve ter uns 37 anos no máximo, tem o cabelo louro cacheado na altura do pescoço, e sua testa é marcada por algumas rugas da idade que está perto de vir.
-São 298,90.
-O que?
-Eu vim pra gastar. Vocês aceitam cartão?
Chegamos em casa antes da chuva começar. Abro a porta e Arthur entra com as sacolas dos brinquedos, e a coloca em cima da mesa. O relógio de parede marca 15:11. Coloco as chaves numa mesinha próximo a porta e noto: A agenda bege que Arthur costuma rabiscar as vezes.
-Eu esqueci de pagar o boleto da faculdade. Inferno! - Arthur resmunga e deita no sofá.
-O que é isso? - Indago com a agenda e ele pula do sofá assustado.
-Me dá isso!
-O que é isso? Agenda com numero de outras mulheres? - Brinco escondendo o objeto.
-Não é uma agenda Julie! É meu diário! Me da isso!
-Um diário! Deixa eu ler?
-Não! Julie! Me da isso aqui! - Ele se esquiva e finalmente consegue pegar o diário de mim – Isso não é brincadeira.
-Ai tá! Desculpa! Eu não ia ler! Eu só tava brincando! Mas... Qual seria o problema se eu lesse? Eu também escrevo um diário! E eu acho que nós não somos muito diferentes... Diários são feitos de besteiras.
-Isso não é besteira! A minha psiquiatra que me deu, e ela me mandou escrever pelo menos uma página por dia. Isso também ajuda a aliviar o estresse e a ansiedade!
Arthur vai para o quarto e esconde o tal diário. O sigo e aproveito para tirar os brinquedos da sacola, e eles caem na cama.
-Onde vai guardar eles?
-Nessa gaveta do meio! Ela tem chave: Uma fica com você e outra comigo – Meu professor diz e vira as costas – Você viu aquele boleto que tava em cima do microondas?
-Não! - Grito de longe.
-Ah! Aqui! - Ele diz e volta para o quarto – Eu vou ter que ir lá pagar o boleto da faculdade...
-A gente acabou de sair!
-Eu esqueci... E o pior é que já tá cinco dias atrasado! Mas fica tranquila, hoje não vou pra faculdade.
-Arthur, eu não quero você pegando DP na faculdade por minha causa.
-Fica tranquila! Eu conversei com meu amigo, ele disse que não vai ter nada hoje. E eu não to a fim de dormir sozinho hoje – Ele diz e me beija na testa – Não se empolgue com os brinquedos! Quero usar eles na viagem pra Castelhanos! Volto num pulo!
E ele fecha a porta e se vai. Volto a mexer com os brinquedos, rindo como se não fizesse parte desse mundo tão sexual e adulto. Ao abrir a gaveta, a minha gilete de depilação desliza pela madeira. Ela ainda não foi usada, e eu a olho sorridente.
-Hora de uma surpresa...
Arthur sai pelo portão do condomínio e vê Samantha com muitas apostilas nos braços.
-Samantha! - Arthur diz e entra no carro.
-Professor Arthur! Boa tarde! - A aluna balança a cabeça.
Inesperadamente, um garoto atrás de Samantha derruba suas apostilas e a encurrala.
-Uou! Parece que a CDF tá fraca! Tá se alimentando bem?
-Porque você fez isso? - A garota pega as apostilas
-E o que você vai fazer? Vai chamar seu irmãozinho viadinho?
-Ei! - Melissa corre até os dois - Deixa a menina em paz Mike!
-Sabia que eu tenho uma coisa muito melhor pra esfregar na sua cara do que essas apostilas? Minhas bolas...
-Oh seu cuzão de merda! Porque você não se mete com gente do seu tamanho?
-E porque você não sai da minha frente? A gente não tá mais junto!
-Você quer apanhar e passar vergonha no meio da rua? Acha mesmo que eu tenho medo de um cuzão de pau torto? Hein Michael?
-Que pena que você agora quer bucetas... - Mike diz segurando os labios de Melissa - Sua boca vai sentir saudade do meu pau...
Melissa cospe no olho de Michael e ele se afasta.
-Você cuspiu na minha cara!
-Uma buceta é mil vezes melhor do que o seu pau torto. E alias, eu tô te devolvendo! Na cara, lembra?
-Isso não vai ficar assim! Ouviu?
-Eu to louquinha pra cuspir em você de novo! Babaca... E ai, você tá legal?
Samantha abraça Melissa desesperada e se põe a chorar. Arthur dá a partida no carro e segue seu caminho.
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