História Teclas de Piano - Sope - Yoonseok - Guardando a partitura - Epílogo

Suspiro mais uma vez olhando para o papel de parede em celular. Era uma foto do Yoongi com os meninos, tirada em uma data que acabou a luz. Nessa noite, dormimos na sala, já que as crianças estavam com medo do escuro. Me lembro que Nayeon e Jungkook grudaram em Yoongi e não soltaram mais, nesse momento tirei a foto abusando do flash do meu celular. É uma boa lembrança.

— papai... — Jungkook apareceu com os olhinhos cansados e um biquinho imenso no rosto. — Quando o papa volta? Eu tô com sa'dade dele...

As cores e luzes apareceram para Yoongi com bastante frequência nos últimos tempos. Fomos à um oftalmologista para entender o que estava acontecendo com meu gatinho e recebemos uma notícia boa, em partes; Yoongi poderia voltar a enxergar. Entretanto, nem tudo é as mil maravilhas, Yoongi teria que ir para os Estados Unidos para realizar tratamentos e cirurgias, mas o ponto ruim não é só esse, também não tínhamos uma confirmação de que ele voltaria a enxergar. Na cirurgia, ele poderia perder as retinas e nunca mais iria ter a chance de enxergar novamente.

Quem o acompanhou na viagem foram seus pais, por escolha dele. Afinal, Yoongi sempre é o que pensa mais nessa relação matrimonial. Ele me lembrou que temos dois filhos e não podíamos larga-los com os avós e tios por quase cinco meses enquanto estivermos em outro continente. Então Jisoo e YoungSun lhes acompanharam para Califórnia, enquanto eu fiquei encarregado de cuidar das crianças e da casa.

— Eu não sei, coelinho. — Peguei ele em meus braços passando meu dedo por suas bochechas clarinhas afim de secar algumas lágrimas que caíram. — Não chore, meu bem. É para o bem do papa.

— Mas faz dodói em mim! — Jungkook escondeu seu rosto na dobra de meu pescoço chorando alto dessa vez.

Meu coração se despedaçava à cada soluço soltado pela criança. Jungkook é muito apegado à Yoongi, mais apegado que um bebê coala na mãe. Desde que adotamos, ele sempre chama o pai mais velho para dormir junto à ele quando tinha algum sonho ruim, sempre o pedia seu sorvete e sempre se sentava ao seu colo para assistir alguma animação da pixar. Acho que no final da história toda, os dois devem ser os que mais estão sofrendo. Conheço meu gatinho o suficiente para saber que ele deve estar chorando muito por estar longe de seus coelhinhos.

— Acho que podemos ligar para ele agora. — Olhei as horas em meu telefone, calculando o fuso de maneira lenta. — São 00:33... Então... lá deve ser umas 15:30...espero. — sorri amarelo. — Quer ligar pro papa? — Jungkook apenas assentiu com os olhos cheios de lágrimas pesadas. — Então vai chamar a Nana, se não ela vai ficar brava se descobrir que falamos com o papa e ela não.

Jungkook saiu de meu colo andando devagar até o quarto de Nayeon para acordar a irmã. Eu me preocupei em vestir uma blusa e procurar o meu !Pad para realizar a chamada de vídeo. Com um tempo, meus filhos apareceram, Nana veio direto para o meu colo de maneira sonolenta e preguiçosa, enquanto o irmão ainda deixava lágrimas rolaram por seu rostinho branco.

Estava chamando e pude perceber a ansiedade de Jungkook em sua maneira de ver a tela. Alguém atendeu a chamada, logo podemos visualizar Jisoo em seu quarto de hotel luxuoso. Ela sorriu ao ver eu e os netos olhando com expectativa para a tela, na esperança de ver Yoongi.

:— Oi, meus amores! — Ela falou sorridente.

— Mostra o papa! — Jungkook bradou pegando o !pad de minhas mãos fazendo tanto eu quanto a Min rir. — Eu quero ver meu papa!

:— Meu amor, passe para seu pai, por favor. — Jisoo falou com um ar sério que me fez ficar um pouco preocupado.

— Mas vovó... Quero ver o papa... pu' favor... —manhou.

:— Seu papa está dormindo agora, meu anjo. Passe para o seu papai agora, Sim? — pediu novamente e Jungkook começou um choro silencioso quando entregou o !pad para mim, logo saindo correndo para seu quarto. — Nayeon está dormindo?

— Err... — verifiquei seu rostinho, ela dormia igual um bebezinho que era. — Sim, ela está... E o meu gatinho não está dormindo, não é?

:— Não, está em uma consulta semanal com o pai, eu fiquei no hotel porque sabia que você poderia ligar. — Fez uma pausa. — Não falei isso para Jungkook, pois não queria preocupar seu pequeno coração de ouro.

— Estou preocupado com ele... não só com ele, com Nayeon também. Eles não estão comendo direito e estão dormindo muito mal. Essa semana, os dois já me acordaram três vezes falando que sonharam com Yoongi. — Acariciei os cabelos da bonequinha que dormia em meus braços. — São muito apegados com ele.

:— E você, querido? Como está? — Sua voz é carregada de preocupação.

— Mal, estou muito mal. Sinto falta dele, mas procuro ser forte pelos meus filhos... — suspirou — E por Yoongi...

:— Você é um bom pai e marido, Jung Hoseok. — Sorrimos um para o outro. — Agora vamos falar de outra coisa! Parece até que meu filho está morto!

— Vire essa boca pra lá, Jisoo! — Rimos. — Tenho que colocar essa princesinha na cama e preciso dormir também. Até mais!

:— Claro, querido. Esqueço que há o fuso. — riu.

— Pois é. — ri também. — Te ligo amanhã, tudo bem?

:— Ah, Yoongi me pediu para lhe falar... não ligue para nós por chamada de vídeo perto de Jungkook e Nayeon. — questionei o motivo. — Bom, depois da cirurgia, Yoongi está com curativos nos olhos e ele não quer que as crianças o vejam desse jeito.

— Entendi. — Ri fraco. — Tudo bem, da próxima ligarei por chamada de voz. Até mais, Jisoo!

:— Até mais, querido. Cuide dos meus coelhinhos, uh? — Assenti sorrindo mais uma vez antes de desligar.

Deixei o !pad de lado e carreguei a menininha para seu quarto enorme cheio de ursinhos de pelúcia. Ela gostava de falar que aquele era o quarto de princesa que sempre sonhou na época que estava no orfanato. Um quarto grande de paredes rosas e uma "cama de princesa". Me lembro de chamar o melhor decorador da Coréia para realizar todos os seus desejos.

Fitei minha filha dormir de maneira serena e calma. Sorri por seu sono profundo e pesado, mas hoje ela tinha ido para a casa de uma amiguinha, deve ter brincado muito lá. Jungkook também tinha ido para a casa de um amigo, mas os pais do menininho ligaram para mim afim de me comunicar que o menininho chorava com saudade do pai. Eu sabia que ele não estava com saudades de mim, com Yoongi fora por meses.

Dei um beijinho na testa da minha princesa e sai do quarto deixando sempre a luz do abajur ligada, já que ela tinha medo do escuro. Me dirijo para o quarto do caçula, a porta do luxuoso quarto de decoração moderna e divertida estava fechada. Abri com cuidado com receio de ele ter conseguido dormir em meio pensamentos de saudades. Entretanto, ele estava apenas deitado com um biquinho grande em seus lábios.

— Filho? — Me sentei ao seu lado na cama. — Não está com sono?

— Não. — Respondeu curto e grosso.

Suspirei tentando achar a calma que precisava ter agora. Jungkook e Nayeon já sofreram com um abandono, reviver a experiência de saudades deve ser um gatilho. Precisava acalma-lo e anima-lo.

— Kookie, o papa vai voltar. — Acariciei suas madeixas castanhas escuras.

— Vai demu'rar... — Abraçou seu travesseiro.

— Mas pensa, meu coelinho, quando ele voltar... — Fiz um ar grandioso na fala recuperando sua atenção e até mesmo esperanças. — Ele vai poder ver o quão bonitos você e sua irmã são, uh?

— Verdade! — Pulou na cama, se esquecendo da tristeza. Seu sorriso mostrava suas esperanças, o que me fez rezar para que a cirurgia tenha dado certo. Jungkook começou a pular na cama como uma lebre. — Ele vai poder ver que eu e a Nana somos iguaizinhos, aí vamos brincar de super gêmeos e ele vai gostar da gente e... — Sua animação foi embora, fazendo-o dar um último pulo para cair na cama. — E se ele não gostar da gente?

— Min Jungkook! — reprendi encarando seus olinhos castanhos. — Nunca mais ouse pensar nisso, está me ouvindo?

— Mas, papai... minha mamãe me chamava de feio e batia na minha i'mã e em mim e doía, sang'ava... Eu não gosto... — Se encolheu e meu coração se despedaçou. — Será que o papa vai fazer isso ta'bém?

— Kookie, o seu pai já lhe bateu? — perguntei compreensivo.

— Nunca...

— E você se lembra que quando nos conhecemos, ele tocou o seu rosto? — Arqueei a sobrancelha vendo-o sorrir com a lembrança.

— Lemb'o... ele colocou os dedos no meu rosto e no da Nana. — Tocou seu próprio rostinho.

— Você se lembra do que eu lhe te falei naquele dia?

— Que o papa faz isso pa' imaginar a nossa 'parência. — Assenti.

— Você se lembra do que ele disse depois de tocar o rostinho de vocês? — cutuquei seu rostinho fazendo sorrir.

— ele disse que nós era' bonitos. — Sorriu mais.

— O que o papa Yoon fala pra você toda noite depois de dar o beijinho de bons sonhos?

— Eu te amo, coelinho! — Voltou a pular na cama.

— Isso mesmo. — Sorri junto a ele. — E agora para finalizar, o que ele sempre fala quando percebe que está pulando na cama?

— Não pule na cama, Jungkook... — Agora entediado, ele se deita na cama. — Boa noite, papai! Eu te amo muitão!

— Também te amo muito, filho. — Beijei sua testa como de costume. Logo depois me afastei vendo-o pegar no sono. Como sempre, deixei o abajur ligado para que ele não ficar com medo e sai dali, indo parar em minha cama rezando para que Yoongi voltasse o quanto antes. — Volta logo, gatinho, nós sentimos sua falta.

[...]

Eu estava ansioso. Batia meu pé no chão sem parar e roía minhas unhas enquanto esperava meus filhos saírem da escola. Escuto o sinal bater e minutos depois, um exército de crianças vem de encontro à saída do colégio para poderem, finalmente, desfrutarem de um final de semana em família.

Eu não deixaria meus bebês virem hoje, já que Yoongi está chegando à Coréia nesse exato momento. Porém, eles teriam uma prova de matemática e meu marido não queria que eles perdessem tal. Por isso, acredito que meus filhos devem estar piores que eu.

— Vamos, papai. Vamos! — Nayeon falou pulando em meu colo. Jungkook estava logo atrás com um sorriso enorme no rosto. — Temos que ir ver o papa!

Entramos no carro com nossos corações repletos de animação e ansiedade. Sabemos que a cirurgia deu certo e que Yoongi voltou a enxergar perfeitamente. Já perdi as contas de quantas vezes me emocionei ao lembrar que meu gatinho poderá desfrutar da visão mais uma vez em sua vida, mas confesso que ficarei com saudades de descrever a maioria das coisas para ele.

Estacionei na rua da casa dos meus sogros e as crianças pularam para fora do carro. Corremos até o portão, batendo no interfone de maneira rápida e repetidamente. As portas da casa se abriram e parecia que eu e meus filhos estávamos apostando um corrida.

— Olá, meus netinhos lindos! — Jisoo cumprimentou, pegando a gêmea mais velha no colo.

— Cadê o papa? — perguntaram em uníssono.

— Está no jardim, Brincando com Holly. — E assim se iniciou a corrida novamente.

Eu, Jungkook e Nayeon desviavamos das paredes e dos móveis com facilidade, o desespero e a ansiedade falava muito mais alto do que o medo de se machucar. Pude escutar um "Não corram dentro de casa!" vindo de Jisoo, mas nem eu nem os mais novos ligamos para isso. Afinal, já estávamos na varanda que levava ao jardim.

Yoongi está de costas brincando com Holly, que pulava em si e o lambia desesperadamente.

— Papa! — As crianças gritaram correndo até si. Yoongi se virou, colocando suas mãos na boca claramente emocionado de vê -las pela primeira vez.

Jungkook pulou em seu colo como um coala e Nayeon se pendurou em uma de suas pernas. Eu apenas deixava as lágrimas saírem pelos meus olhos enquanto assistia a cena da varanda.

— Deixe-me vê-los. — pediu e os pequenos que se alinharam a sua frente. Yoongi se ajoelhou e olhou atentamente para cada detalhe presente no rostinho dos nossos filhos. — Vocês dois são... anjinhos. — Secou sua própria lágrima. — Eu amo vocês, meus coelhinhos.


°.○


Eu olhava para meus meninos com lágrimas nos olhos. Eles eram muito mais fofos do que imaginei. Compartilhavam muitas semelhanças, como os dentinhos grandes e as bochechinhas cheinhas que me dava vontade de apertar até que ficasse vermelho. Os abracei mais uma vez em gratidão aos céus por poder enxergar a beleza infantil de meus filhos antes de morrer.

— Papa, promete que não vai mais ir embora? Promete? — Nayeon perguntou fazendo biquinho.

— Prometo de dedinho, minha coelhinha. — entrelacei meus dedos mindinhos ao dela e escutei Jungkook soltar uma risada gostosa. — O que foi, Kookie?

— É que eu gosto muito do seu sorriso de gatinho, papa. — abri mais meu sorriso e levantei meu olhar.

Lá estava ele.

Lá estava Jung Hoseok.

Rapidamente, meus olhos marejarem e eu não pude acreditar. Aquele não era meu marido, era? Eu era casado com ele? Eu era casado com uma espécie de Deus?

Me levantei com cuidado ainda focando meu olhar no homem de cabelos, agora ruivos, e me aproximei. Ele sorria minimamente com seus olhos também marejados. Toquei sua bochecha com receio de que fosse apenas uma miragem em meu alcance, levei meus dedos aos seu nariz, boca e cabelos. Não estava acreditando que era ele.

— Hobi? É você? — Chamei com a voz embargada de felicidade e emoção. Ele sorriu e assentiu, fraco demais para falar algo. — É você!

Ele rodeou seus braços em minha cintura e, eu levei os meus aos seus ombros. Ficamos abraçados e chorando por nenhum motivo em especial, só queríamos matar as saudades.

Eu fiquei exatamente cinco meses e duas semanas na Califórnia, Estados Unidos. Eu estava surtando naquele hotel, não tinha o conforto da minha casa, não tinha crianças e não tinha meu marido para me confortar toda vez que eu tivesse medo.

— Eu te amo, Hobi. Te amo, te amo, te amo, te amo. — Repeti beijando seu rosto à cada confissão amorosa. Por fim, Hoseok grudou seus lábios nos meus me fazendo fechar os olhos e sentir seu beijo com gosto de mel.

— Eca... — escutei Jungkook falar. Me separei de Hoseok rindo do mais novo. — Beijo é nojento! Eu nunca vou beijar!

— Eu acho fofo. Parece que o papa é a princesa e o papai é o príncipe que lutou contra um dragão só pra se casar com o papa. — Nayeon falou sonhando acordada.

— Lá vem a Nana com essas historinhas chatas dela. O papai é o Homem aranha e o papa a mocinha que estava em p'rigo, muito mais melhor! — Agora as crianças começaram a brigar para ver qual história era a melhor.

— Estava com saudades disso — Sussurro para Hoseok que também encarava as crianças com um sorriso no rosto.

— Também estávamos morrendo de saudade de você, meu amor. — Deu um beijinho em minha bochecha. — Agora me fala, eu sou bonito como pensou?

— Nah... — Ele olhou surpreso e até triste. — Você é muito mais bonito, Hoseok. Sem contar que eu não conseguia te imaginar ruivo, agora... Eu consigo te ver. Eu... consigo te ver e Derrepente descubro que te amo mais.

Selamos os lábios de novo rezando para que nunca aconteça de ficarmos tão longe um do outro assim.

— Papa! papai! — As crianças correram até nós, grudando em nossas pernas. — Que o história vocês preferem? Homem aranha ou a da Princesa?

Eu e Hoseok nos olhamos cúmplices, sabendo exatamente o que falar.

— Preferimos a nossa própria história. — falamos juntos fazendo nossos filhos nos olharem com expectativa. Pediam animadamente para escutar a história.

— Calma, meus anjos. — Hoseok pegou Jungkook no colo.

— Tem muito amor, papa? — Nayeon perguntou brincando com os dedinhos e me encarando com olhinhos pidões.

— Você nem imagina.

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