História Tem Sido Sempre Você - 19 Days - Capítulo 3

     Ele estava reconsiderando totalmente sobre entrar para a mesma faculdade que Zheng Xixi nas últimas horas. O único objetivo notável era o de poder ficar mais próximo do rapaz, mas agora já não via mais motivo. Sequer sabia se o outro lembraria dele em tais condições, quando fora Jian quem o procurara durante essas duas semanas que retornara. E, faziam-se seis dias desde que descobrira que Zhan Zheng Xi, o mais improvável de todos, possuía uma namorada agora. Os primeiros três dias fora de desolação para Jian, que se trancafiou em seu quarto, agarrou o travesseiro e chorou até que não tivesse mais lágrimas para sair de dentro para fora. O segundo passo foi a conformação, e o terceiro deveria ser a superação, mas este ainda parecia estar longe.

Resignar-se não resolveria nada, e Jian já estava com saudade de comer uma comida de verdade, algo diferente dos produtos prontos e repletos de agrotóxicos da qual se mantera nos cinco dias anteriores. Após um banho, vestiu-se com um casaco para sobreviver ao dia razoavelmente frio.

O que ele não esperava era que fosse encontrar o dono de seus pensamentos atuais na porta de sua casa. Pôde vê-lo através do vidro transparente, à distância, e que ele parecia hesitar em tocar a campainha. Zheng aproximava o dedo do objeto, e depois apertava as mãos, olhando para o lado em uma respiração pesada onde podia se ver a fumaça saindo de sua boca, combinando perfeitamente com o estado de humor que aparentava.

Foi então que seus olhares se cruzaram, e Jian foi pego olhando para ele. Zheng colocou-se estático, e Jian decidiu não continuar o clima estranho, rumando em direção à porta com o seu melhor sorriso ensaiado, escondendo a dor no peito que se fez presente no momento em que o viu. Não era fácil aceitar que a sua paixão jamais o veria da mesma forma, ainda que ele tentasse fervorosamente. E não conseguia livrar-se do pensamento de que se fosse uma garota, tudo seria mais fácil. Talvez sua vida seria melhor.

— Zheng XiXi, o que faz aqui? — Perguntou Jian com o ar mais simpático que pôde, quando, na realidade, não queria vê-lo. Não que odiasse Zheng agora; isso seria impossível. Era justamente o contrário: o amava tanto, que não poderia mais suportar.

Zheng ficou alguns instantes calado, como se pensando no que diria, e após um suspiro prolongado, pronunciou-se:

— ... Tá. — Ele coçou a nuca, com um ar um pouco constrangido. — Desculpe pelo o que aconteceu alguns dias atrás.

Jian piscou, confuso. Não esperava vê-lo ali, muito menos para se desculpar. Ja fazia algum tempo que sua mente o atormentava com o pensamento de que já não era importante para o outro, e descobrir que ele tinha uma namorada fora um combustível para Jian afastar-se. Era realmente doloroso, quase uma dor física, mas ele pretendia, de verdade, não encontrá-lo mais, uma vez que assumiu que, estando ao lado dele ou não, já não fazia diferença para Zheng Xi, que convivia agora com a companhia de outra pessoa mais importante do que ele.

— Como assim? Por que tá se desculpando? Não entendi.

— Você foi me visitar... e Liang estava lá e... tudo ficou um pouco incômodo. — Limpou a garganta, e após perceber o que disse, rapidamente tratou de reformular: — Quero dizer: acho que fui um pouco rude com você. Minhas sinceras desculpas.

Jian esperou um tempo antes de responder, tentando ignorar a menção da namorada do seu amor, no assunto. Era algo sutil, porém difícil de ignorar. Até mesmo as coisas sutis que fugiam de sua atenção agora pareciam não escapar quando se tratava de Zheng Xi.

— Não tem do que se desculpar, XiXi. Eu não sabia que ela estava lá, de qualquer forma. Então não importa.

— Mas você foi especialmente para me visitar, então eu sinto muito por isso...

— Não tem problema em querer passar um tempo com a pessoa que se gosta, certo? — Jian segurou fortemente o nó na garganta com suas palavras que, embora não fosse sua intenção e que talvez Zheng não notasse, eram autodestrutivas. Ele quase vacilou e voltou para dentro da casa, para sua cama que fora sua amiga nos últimos dias. Chorar na frente de Zheng era algo comum, mas não podia se permitir chorar por ele em sua frente, principalmente quando estavam a falar de Liang. — Além do mais, passei duas semanas sendo um incômodo, então eu entendo perfeitamente o que ocorreu.

Sem que percebessem, ambos estavam a caminhar em direção à calçada em frente a casa de Jian.

— Eu nunca disse que você é um incômodo.

— Não precisa dizer.

— Jian! — Zheng olhou-o verdadeiramente sério sobre suas grossas e desenhadas sobrancelhas.

Jian sorriu.

— Já comeu? Eu estou com fome, vamos comer lámen!

Ele disse rumando pela calçada e deixando Zheng Xi para trás, para que não notasse em seu rosto sua imensa vontade de desabar. Já havia perdido Zheng, completamente.
(...)

— Você está estudando, Jian? — Zheng perguntou algum tempo depois de se sentarem para comer. Achava que deveria iniciar algum assunto e que o clima um tanto quanto estranho não havia se dissipado entre eles. Jian estava, de uma forma incomum, calado demais. Raramente comentava algo, e também não lhe fazia mais as típicas brincadeiras que Zheng odiava, e que exigiam certo contato físico. Ele parecia não estar sendo ele, ou esforçando-se para não ser. — Comentou sobre querer entrar na mesma faculdade que eu...

— Sobre isso... eu desisti. — Jian relevou de forma enfadonha, levando o macarrão da tigela até os lábios. Entretanto, fora um golpe para Zheng, que parou seus hashis perto dos lábios, surpreso. Aquele era o mesmo garoto que, há duas semanas atrás falara, convicto, que tentaria ingressar na mesma faculdade que ele.

— O quê? Mas você não queria...? — Suspirou — Eu não entendo.

Após alguns segundos, de forma misteriosa e indiferente, Jian acrescentou:

— Os motivos que eu tinha para querer ir para lá não existem mais.

— E quais eram...? — Zheng se deixou levar pelo assunto do outro. Estava curioso na verdade, e também um pouco preocupado pela forma em como Yi se expressava. Faltava no rapaz o costumeiro brilho natural quando este falava, e Zheng não pode deixar de notar que, por mais que gostasse de dizer para si mesmo que nada envolvendo o outro era de sua incumbência, na verdade ele não poderia deixar de se infiltrar.

— Você não quer saber.

— Como assim não quero? — Zheng franziu as sobrancelhas. — É claro que quero, ou não estaria perguntando.

— Não, você não quer. — Jian reforçou, agora em um tom mais sério, que deixou Zheng um tanto quanto atônito. Não era do feitio de Jian falar com aquele timbre inabalável, e quando o rapaz abriu os lábios para que as palavras soasse, Zheng só podia ouvir. — Quando eu contar você imediatamente perderá o interesse, então por favor não pergunte.

— Tu... tudo bem. — Zheng resolveu não refutar. Aquele deveria ser um dia de confraternização, e não de mais problemas, mesmo que fosse impossível para ele estar ao lado de Jian Yi naquele novo estado de serenidade e não se afetar por isso. Resolveu começar a comer seu lámen que ainda estava inteiro na tigela, e assim, silenciosamente, a tarde se passou entre eles.