Fury praguejou baixo quando percebeu que ainda faltava duas folhas para concluir o escaneamento. Como diretor de uma das maiores agências de espionagem do mundo nunca imaginou que depois que assumisse o cargo, teria que fazer o maldito serviço de um estagiário de assistente administrativo.
“Eu te odeio, Stark”, pensou xingando o bilionário com todos os palavrões que conhecia.
Depois que Tony deixou o prédio da S.H.I.E.L.D. - ainda pela manhã -, Nick resolveu ceder ao capricho do gênio arrogante, afinal não tinha mais a quem recorrer. Porém, o fato dos documentos terem um nível alto de confidencialidade, permitia que apenas um punhado de agente selecionados pudessem manuseá-los, somado ao fato que estavam ligados aos recentes assassinatos na Europa, o número de pessoas se reduzia ainda mais. Por conta disso, o próprio Fury teve que digitaliza-los e armazená-los num pendrive. O espião tinha certeza que havia algo naqueles documentos que o direcionaria para as respostas que precisava.
_ Computador, criptografe a pasta 026. - Ordenou quando finalmente guardou a última folha de papel em seu devido lugar.
_ Sim, senhor. Confirmação da ordem, por favor. - Pediu a voz robótica cordialmente.
_ Confirmação do diretor. Fury, Nicholas J.
_ Confirmação aceita.
_ Ótimo.
Quando ele estava para retirar o pendrive do conector, a voz do computador soou novamente pela sala.
_ Erro ao criptografar o arquivo. Ação não autorizada.
_ O quê? - Estreitou as sobrancelhas ao ver o alerta vermelho piscar na tela. - Por que não pode criptografar?
_ Ação não autorizada. - Repetiu a voz robótica.
_ Quem não autorizou? - Perguntou desconfiado.
_ Diretor Fury, Nicholas J.
Fury sentiu um calafrio percorre lhe a espinha. Uma sensação que ele aprendeu a reconhecer com o passar dos anos, pois era a forma que sua intuição de espião - com a experiência acumulada - se manifestava quando sentia que algo estava muito errado. Precisava averiguar.
Guardando o objeto no bolso da calça ele caminhou a passos largos ao elevador principal do prédio. Ao adentrar a caixa metálica, ordenou sem emoção:
_ Conselho Mundial de Segurança.
_ Sim, senhor. - Ditou a voz robótica no elevador.
Não demorou para que Nick chegasse ao 49° andar. Seguiu por um corredor bem iluminado numa passada uniforme, já sabendo qual sala deveria entrar. Por mais que não tivesse o costume de estar ali, ele se recordava bem onde ficava o escritório de Alexander Pierce, o diretor sênior da S.H.I.E.L.D. e membro do Conselho Mundial de Segurança.
_ Quarenta andares e precisa que uma série de assassinatos de ex-membros para você me visitar? – disse Alexander estendendo a mão ao velho amigo.
_ Ou uma guerra nuclear – brincou Fury sem mudar seu tom de voz sério. - Muito ocupado? - perguntou indicando a sala do Conselho de Segurança Nacional.
_ Nada que alguns puxões de orelha não resolvam - Pierce deu de ombros. – A que devo a honra da visita?
_ Eu... - e como poucas vezes na vida o fizera, Nick Fury hesitou por um segundo. Respirou fundo, certo do que devia ser feito, embora ainda não soubesse exatamente o porquê de fazê-lo. – Eu vim pedir um favor. Quero que peça uma reunião de votação ao Conselho... Acredito que o projeto Insight possa estar comprometido.
_ Nick... Isso não é um favor... É uma longa audiência com o Conselho.
_ Pode não ser nada... Não deve ser nada. Mas eu preciso ter certeza que não é nada.
_ Mas e se for alguma coisa? - Pierce sondou sério.
_ Bem... - O espião ponderou - Então vamos ficar gratos por esses aero porta-aviões não estarem no ar.
O silêncio e a reflexão tomaram os dois homens. Algo dessa magnitude com certeza afetaria a S.H.I.E.L.D. e poderia ter consequências desastrosas para o mundo.
Alexander suspirou pesado, antes de dizer:
_ Tudo bem. Mas vai ter que pedir o Homem de Ferro para passar no aniversário da minha sobrinha.
_ Obrigado, senhor. - Fury estendeu a mão, sentindo certo alivio e rindo internamente, ao perceber que seria a segunda vez que faria aquele pedido a Antony.
_ E não é pra passar voando. Ele vai ter que ficar um pouco na festa. - Embora bem humorado, o tom de Pierce deixava claro que ele estava falando sério.
_ Pode deixar. - Nick suspirou pensando no que teria que fazer para convencer Stark a atender o pedido.
"Haja paciência...", praguejou mentalmente.
(...)
O carro seguia silencioso pelas ruas secundárias, evitando o trânsito da capital. O diretor da S.H.I.E.L.D. precisava averiguar o estranho ocorrido em sua sala e também, entregar o pendrive para que Stark pudesse analisar. Ele acionou um dos botões na tela do computador de bordo e logo uma voz soou dentro do veículo.
_ Ativando protocolo codificado de comunicação.
_ Estabeleça linha segura 0405.
_ Confirmado. - Concluiu o computador.
_ Aqui é Hill - falou a voz do outro lado da linha.
_ Preciso de você aqui na capital. - Comunicou Fury. A necessidade e circunstâncias exigiam que ele se cercasse de pessoas que confiava e Maria Hill estava no topo de sua lista. Mesmo que não fosse uma lista muito grande. - Condição de sombra profunda – comunicou em código.
_ Me dê quatro horas.
_ Te dou três. - E assim ele desligou ao mesmo tempo que desacelerava o carro, parando no sinal vermelho.
Um carro de polícia estacionou na faixa ao lado do seu e no mesmo instante, o conhecido arrepio na espinha o assolou novamente. Fury encarou os guardas dentro da viatura, percebendo que eles o encaravam de volta.
“Tem algo errado”, pensou já preparando para trocar a marcha e avançar o sinal.
Seu coração disparou espalhando adrenalina por todo corpo e sem pensar, engatou a primeira marcha e pisou fundo no acelerador. Quando o carro avançou dois metros um segundo veículo chocou-se contra ele. O solavanco foi tão forte que Nick bateu a face contra o volante fazendo soar a buzina. Três outras viaturas surgiram para interceptá-lo. Bateram na frente e na traseira, espremendo a SUV do espião e impossibilitando sua fuga.
_ Fratura no braço esquerdo. Injeção de morfina recomendada. - Falou a voz eletrônica do computador de navegação. - O sistema da polícia metropolitana não mostra unidades nessa área.
_ Me tira daqui. - E assim que Fury calou a boca, uma rajada de tiros foi disparada contra seu veículo.
_ Sistemas de direção desligados. - Informou o computador.
_ Reinicia logo, droga!
_ Reiniciando sistemas.
Nick tentou conter o pânico ao vislumbrar um mecanismo que seria capaz de destruir o vibro super blindado do carro. Após a rajada de tiros, o computador voltou a falar:
_ Aviso, integridade da janela comprometida.
_ Me conte algo que eu não sei. - Ironizou o homem negro pulando para o banco do passageiro. - Quanto tempo para os sistemas voltarem?
_ Calculando.... - A primeira pancada contra a janela sacudiu o SUV. - Integridade da janela em 31%, iniciando contra medidas.
_ Não execute essa ordem! - Disparou Fury.
Outra pancada.
_ Integridade da janela em 19%...
_ Espere!
_ Integridade da janela em 1%...
_ Agora! - E com seu comando uma metralhadora de grosso calibre foi acionada, surgindo no espaço entre os bancos da frente. O espião disparou sem pestanejar contra os inimigos, matando os que estavam mais próximos.
Alguns tiros acertaram o tanque de gasolina de um dos sedans, fazendo-o explodir no mesmo instante que o computador informava que todos os sistemas estavam ativos novamente.
_ Aceleração máxima, agora! - Fury ordenou ao carro, enquanto disparava contra os que ainda tentavam se achegar.
O pneu cantou contra o asfalto, mas conseguiu sair da encruzilhada que estava. A cabeça doía e seu pulso estava a mil.
_ Ativar sistema de voo vertical.
_ Sistema de voo danificado. - Informou a voz robótica.
_ Liberar volante para modo manual.
_ Volante liberado.
_ Ligar para agente Hill.
_ Sistema de comunicação danificado.
_ Mas que merda! O que na droga desse carro não estar danificado?
_ O ar-condicionado estar em ótimo funcionamento.
Fury executava manobras defensivas ao perceber que seus inimigos o perseguiam. A SUV deslizava da direita para a esquerda numa dança mortal, desviando dos veículos que passavam na avenida.
_ Alerta de trafego na ponte Roosevelt. Todos os veículos parados. - Alertou o computador.
_ Me dá uma rota alternativa.
_ Em três quarteirões, vire à esquerda. - Indicou o sistema de navegação.
Nick puxou o volante para o lado, fazendo com o que um ônibus - que estava a sua esquerda - tentasse desviar do seu veículo, acabando por bater em outro carro O acidente causou um engavetamento, fechando a pista e impedindo seus inimigos de prossegui-lo. Virando o volante mais uma vez, o espião seguiu para a rota estabelecida pelo computador.
O suspiro de alivio ficou preso a garganta, quando o carro dobrou a esquina e ele avistou um homem todo vestido de preto parado no meio da rua.
_ Mas que porra...? - Fury não conseguiu completar a frase, pois o tal homem sacou uma arma estranha e disparou na sua direção.
Uma explosão sob o carro arremessou a lataria para frente, fazendo-o capotar duas vezes sobre a pista. O espião sentia dores por todo o corpo, mas não havia tempo para lamentações. O Soldado Invernal estava ali e iria matá-lo. Acionando o painel escondido no porta-luvas, Nick sacou uma arma a laser e torceu para que tivesse tempo de abrir um buraco no chão e fugir da morte quase certa pelo esgoto da cidade.
O soldado sem expressão andou vagarosamente até seu alvo. Sacou sua 9mm e engatilhou a bala na agulha. Quando se abaixou para executar o homem, percebeu que o sujeito não estava mais lá.
Nick Fury havia fugido.
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