História Tempestades e Calmaria - Preocupação

Quebra de Tempo (18:00)

Acordei e pude perceber pela luz alaranjada que invadia o quarto que já estavam nos últimos minutos do pôr-do-sol, olhei para o rosto de Pedro, confirmando se ele estava dormindo, mas meu olhar travou. A pouca luz solar que ainda entrava no quarto acertava o rosto de Pedro, destacando seu semblante que permanecia igual, era como se, mesmo dormindo, ele estivesse atento a qualquer coisa.

Fiquei um tempo o admirando, por algum motivo, não conseguia desviar os olhos dele. Foi quando percebi, definitivamente eu estava apaixonada por Pedro, e eu sei que isso é recíproco. Quer dizer, pelo menos foi o que ele disse. Senti seu braço se mexer e com toda minha força de vontade, desviei os olhos antes que ele percebesse meu olhar vidrado nele.
Pedro-Ainda está aqui?
-Vai precisar de muito esforço pra me tirar daqui. Já disse que não saio daqui enquanto você não estiver bem.
Pedro-Já disse que isso não é um problema. - Disse e se levantou, me lembrando que ele ainda estava com o casaco e sujo de sangue que agora já havia secado.
-Tem certeza que está bem?
Pedro-Você viu o relatório, estive esse tempo todo sem vir no hospital, não são uns dedos quebrados que vão me derrubar.

Pegou sua mochila e saiu da sala tranquilamente, alguns médicos e enfermeiros tentaram impedir, mas hesitavam assim que encaravam o olhar de Pedro.
Pedro-Me dá isso. - Tomou um rolo de esparadrapo das mãos de uma enfermeira e fez uma atadura em seus punhos, cortando o esparadrapo com os dentes. - Obrigado.

Ele continuou andando até que, próximo da entrada, esbarrou numa pessoa que impediu sua passagem.

[MARINA OFF]

[PEDRO ON]

Esbarrei num homem um pouco maior que eu, levantei o olhar e vi que era o Pai de Marina, junto do restante da sua família.
Pai de Marina-Posso saber por que minha filha está há dois dias sem vir pra casa?
-Porque por algum motivo que eu também não sei, ela se preocupa comigo.
Pai de Marina-Está me dizendo que ela não foi pra casa porque "se preocupa com você"?
-Estou.
Irmão de Marina-Está nos provocando, garoto? - Perguntou visivelmente irritado avançando em mim.
Marina-Rafa, para!
Irmão de Marina-Você ouviu o que esse moleque acabou de dizer sobre você?!
Marina-Ouvi, e ele está certo. Pedro me defendeu de dois garotos e acabou se machucando na briga, então me comprometi a ficar aqui no hospital com ele.
Pai de Marina-Achei que fosse de ferro. - Me olhou com os braços cruzados.
-Não sou, mas também não precisava ter vindo pra cá. Só descobri o que já sabia.
Pai de Marina-Tanto faz, vamos pra casa.
Marina-Certo... - Me lançou um último olhar e saiu junto com sua família.
Biel-O que aconteceu? - Perguntou olhando para Marina e os outros.
-Digamos que eu não sou lá o melhor amigo da família dela.
Biel-Impressão minha ou o pai dela é militar?
-É.
Biel-Dá pra entender porque ele não vai com a sua cara.
-Também não esperava outra coisa. Vamos pra casa?
Biel-Vamos.

Subimos na moto e logo chegamos em casa.
Biel-Vai trocar essa roupa, tá com um cheiro de sangue do caralho.
-Beleza.

Subi para o quarto e tirei as roupas rapidamente, jogando-as no cesto. Liguei o chuveiro sentindo a água fervente queimar a minha pele, acho que depois de 9 anos, eu tinha esquecido o quão frio hospitais podem ser.

Depois de um tempo, desliguei o chuveiro e saí com a toalha na cintura, vesti uma calça-moletom cinza e peguei meu celular, vendo as notificações, abri primeiro a conversa de Marina.
Marina-Desculpa pelo transtorno no hospital, vc sabe como meu pai é
-Sem problema, vc tá bem?
Marina-Ss, mas e vc?
-Como sempre
Marina-Meu pai tá me chamando, se cuida
-Digo o msm

Desliguei o celular e fui comer, não sabia que estava com fome até Biel me chamar. Desci e sentei à mesa, devorando a comida rapidamente.
Biel-Esqueceram de te dar a comida do hospital, foi?
-Eu tava na Emergência, lembra?
Biel-Ainda não entendi porque te levaram pra Emergência por causa de uma coisa besta como quebrar os punhos.
-Ela não é acostumada a isso como a gente, releva.
Biel-Deu pra perceber, a cara dela parecia mais que tu tinha levado um tiro.
-Argh, não acredito que quase perdi o controle...
Biel-Você colocou o capuz?
-Sim.
Biel-Puta que pariu, temos que voltar lá, se esses moleques tiverem morrido?!
-Não. Ela tá garantindo que isso não aconteça de novo.
Biel-Se você diz.
-Vou dormir, amanhã tenho que ir pro colégio.
Biel-Certo.

Subi e deitei na cama, comecei a mexer no celular e vi as mensagens do grupo questionando sobre a falta da líder de sala junto de mais 3 alunos, eu e os moleques lá. Chequei o restante das notificações e fui dormir depois de verificar que não tinha mensagem de ninguém importante.