História Tempestades e Calmaria - "Como Você"

[LUCAS ON]

Acordei e abri os olhos lentamente, vendo o quarto sendo levemente iluminado pelo sol que transpassava pela cortina clara, peguei meu celular no meio das cobertas e chequei o horário, vendo que ainda faltavam cerca de 40 minutos para a aula. Fiz um breve cálculo de tempo e decidi me levantar. Tirei o calção e a cueca que eu estava vestindo enquanto dormia e me dirigi ao banheiro, arremessando ambas as peças de roupa num cesto como se fossem uma bola de basquete.

Entrei no chuveiro e não demorei muito para me ensaboar e tirar a espuma logo em seguida ao mesmo tempo em que a água quente me ajudava a despertar. Vesti meu uniforme e saí do quarto, acordar a essa hora não era nenhuma anormalidade, já que eu tentava ao máximo chegar no colégio antes ou junto com a mãe de Leticia. Peguei uma maçã no cesto de frutas que ficava sobre a mesa e peguei minha garrafa no congelador, enrolando-a numa pequena toalha e colocando no bolso lateral da minha mochila.

Minha mãe sabia que eu costumava acordar a essa hora, então pude ouvir a porta do seu quarto se abrir um pouco antes que eu saísse, dei meia-volta e fui até ela, lhe abraçando e depositando um beijo em sua bochecha, me despedindo com um “bom dia, o café tá na mesa” em seguida. Ela riu e eu apenas supus que fosse pelo fato de que normalmente essa fala era dela quando eu acordava no horário normal de aula e ela estava saindo para trabalhar.

Entrei no carro e deixei minha bolsa no banco de trás, dando partida na sequência e sorrindo ao ouvir o barulho provocado pelo motor. Coloquei o cinto e acelerei rumo à escola, não demorou para que eu chegasse no estacionamento e avistei o carro da mãe de Leticia não muito longe, esperei ela entrar na escola e fui falar com ela, que me cumprimentou com um abraço e um selinho.

Ficamos um tempo a sós e logo chegaram Heitor, Maria, Mario e Vitória, conversamos até umas 7:00 mais ou menos e o som de pneu queimando chegou aos nossos ouvidos, olhamos para a direção de onde vinha o barulho e uma nuvem de fumaça gigantesca perseguia Pedro e Marina, logo Pedro adentrou o estacionamento e parou a moto facilmente, nós o cumprimentamos e entramos na escola, indo direto à nossa sala que, como sempre, estava vazia.

Quebra de Tempo (9:30; Intervalo)

O sinal tocou e todos nos levantamos em direção ao pátio, logo eu e os outros estávamos sentados na mesa central, conversando enquanto comíamos até terminarmos nossos lanches e ficamos debatendo sobre as competições, já que não faltava muito mais que duas semanas para a Primeira Fase do Estadual de Natação (eram 4 fases), Leticia e Marina expressavam a ansiedade para receberem logo seus maiôs enquanto os outros apenas continuavam o assunto.

Enquanto todos conversavam, lembrei de algo que eu queria falar com Pedro, então lhe mandei uma mensagem pedindo para conversarmos após a aula caso ele estivesse livre, então ele apenas confirmou sem que ninguém na mesa percebesse.

Quebra de Tempo (17:00)

Eu estava sozinho dentro do carro próximo à placa que delimitava o fim da capital fluminense. O sol já começava a se pôr enquanto eu sentia meu celular vibrar, desviei o olhar da pista para o aparelho e vi a mensagem de Pedro dizendo que estava chegando ao local. Talvez eu estivesse ficando maluco, mas agora não tinha mais volta. Não demorou muito para que a moto parasse ao lado do meu carro e ele descesse, abri a porta e desci também, cumprimentando-o, me escorei no capô do Mustang enquanto ele se apoiou no banco da moto com as mãos no bolso.

Uma parte de mim realmente achava que eu estava prestes a fazer uma loucura, mas se eu queria proteger Leticia e os outros, esse era o único jeito.

Pedro-Então, o que queria dizer?

-Eu queria saber se você pode me treinar. – Perguntei levantando o olhar em sua direção, vendo-o arquear uma sobrancelha, confuso.

Pedro-É o quê?

-Eu queria que você me treinasse para ser como você. Eu não posso sempre depender de alguém para proteger quem eu amo.

Pedro-Entendi. A resposta é não. – Disse e eu me surpreendi, não achei que ele fosse negar.

-Por quê?

Pedro-Para você ser como eu, teria que passar 9 anos da sua vida lutando em ringues clandestinos e participar de uma guerra entre gangues. Mas quanto à parte de te treinar, acho que posso cuidar disso.

-Valeu.

Pedro-Vamos começar esse fim de semana, esteja na minha casa à meia-noite entre Sexta-Feira e Sábado.

-Certo.

Pedro-Espero que você saiba que eu não vou te treinar como seu amigo. Você não vai ter moleza, é melhor estar preparado. Ainda pode voltar atrás.

-Não.

Pedro-Certo. Nesse caso, até amanhã. – Subiu na moto e deu meia-volta, fazendo o mesmo caminho de volta para sua casa.

Entrei no meu carro e o manobrei na pista vazia, voltando para casa. Entrei na garagem e desliguei o carro, abrindo a porta e abraçando minha mãe, indo na direção do meu quarto em seguida. Tirei meu uniforme e fui tomar banho.

Quebra de Tempo (23:00)

Estava deitado na minha cama enquanto algum programa aleatório passava na TV, antes eu estava assistindo o jogo do Real Madrid, clube do meu coração, mas como já estava 5x0 resolvi parar de assistir. Comecei a pensar no que Pedro havia dito, realmente era impossível alcançar o seu nível com um simples treinamento, eu teria que sofrer o que ele sofreu e lidar da mesma forma que ele, foi ingenuidade da minha parte.

De qualquer forma, desliguei a TV e chequei o despertador, me cobrindo e ligando o ar-condicionado em seguida, faltavam apenas 2 dias e 1 hora para eu começar o que provavelmente seriam os dias mais infernais da minha vida, já que ele definitivamente não aparentava ser o tipo de treinador que pega leve, como ele mesmo disse.

[LUCAS OFF]