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História Templo das Bacantes Vol. 3 - Aceita uma xícara de chai?


Escrita por: Hamal_ , Rosenrot9 e IviCanedo

Notas do Autor


Referências... muitas referências uhauhhhah

bora pro cap...

Capítulo 33 - Aceita uma xícara de chai?


Fanfic / Fanfiction Templo das Bacantes Vol. 3 - Aceita uma xícara de chai?

Através da persiana, a luz acolhedora do sol empalidecia a imagem do vaso de rosas cor-de-rosa pintado na tela presa à parede verde pálido, um Van Gogh; a poucos passos dali os lábios do doutor Tibúrcio Aeropholius se movimentavam deixando escapar a voz calma apesar do rosto de feições consternadas.

Sentado à frente dele numa confortável poltrona de couro marrom, Saga ouvia a tudo calado. A última, e talvez a única, palavra que absorvera daquele falatório todo fora “inconclusivo”. Tudo o que veio depois entrava involuntariamente em seus tímpanos e dançava por seus miolos anestesiados até serem absorvidos sem nenhuma importância.

— Embora não se trate exatamente de um Transtorno de Personalidade Dissociativa ou Dupla Personalidade, nós seguiremos com as medicações usadas para esse diagnóstico, que são as que o senhor já tem tomado e que até agora apresentaram um resultado satisfatório. Talvez tenhamos que fazer algumas regulagens na dosagem de tempos em tempos e... Senhor Saga? — O médico chamou a atenção do cavaleiro, o percebendo disperso. — Senhor Saga?

— Hum? — Gêmeos levantou os olhos para ele quando ouviu seu nome ser pronunciado pela segunda vez, o trazendo de volta à realidade. — Sim?

— O senhor está compreendendo?

— Sim — respondeu ele sem ânimo, o que não passou despercebido pelo médico.

— Saga, não deve encarar um diagnóstico inconclusivo como se fosse o fim, mas sim o começo. Nós estávamos cientes da possibilidade de uma conclusão não imediata. Se trata de um caso raro, sem citações na literatura. Eu diria até que novo nos anais da psiquiatria. Por isso, é preciso que tenha paciência e que confie no nosso trabalho. Consegui reunir uma equipe de excelentes profissionais que estão muito empenhados em estudar o seu caso e chegar a uma conclusão — disse Tibúrcio convicto.

— Eu sei, eu... — Saga respondeu atordoado, olhando à sua volta o caminho mais curto até a porta de saída. — Eu só preciso respirar. Preciso de um pouco de ar puro.

Sem dizer nada mais ele arrastou a poltrona ruidosamente para trás e levantou-se apressado. O médico fez o mesmo e em seguida caminhou até ele o acompanhando à porta.

— Como preferir. Não se esqueça de nossa consulta na quinta-feira, está bem? A terapia nessa fase do tratamento é imprescindível. E continue com a mesma medicação, respeitando os horários sempre.

Apesar das rugas na testa, o olhar acolhedor de Tibúrcio nunca perdia a luz da esperança. Ele sabia que na próxima sessão seu paciente especial estaria lá; era um acordo mútuo entre eles.

A resposta de Saga foi silenciosa, apenas um suspiro acompanhado de um menear leve de cabeça antes de fechar a porta e partir.

Após descer às pressas cinco andares pelas escadas, sentir o ar poluído da avenida principal de Plaka foi para ele um estranho alívio. No entanto esse pouco durou. Conhecia tão bem aquele lugar, mas agora tudo ao seu redor parecia tão diferente do que se lembrava... E embora fossem mudanças pouco significativas, essas eram o suficiente para lhe causar um tremendo incômodo. As cores das fachadas estavam diferentes. O comércio agora tinha grandes letreiros em inglês que sufocavam os caracteres em grego. Os semáforos sonoros pareciam muito mais brilhantes e o som estridente das britadeiras nas tantas construções em andamento ali ecoavam em sua cabeça com fúria... Parecia que a modernidade pedia licença sem muita cordialidade.

Quanta coisa aconteceu e quantas mudanças em apenas seis anos. Ele pensou alarmado.

Respirando fundo ele começou a caminhar pela calçada; passou reto pelo ponto de táxi onde deveria ter parado e tomado um de volta para casa, mas preferiu seguir e dobrar a esquina enfeitada pelas cercas vivas que separavam a praça que havia ali da selva de pedra e monóxido de carbono. Um pequeno pedaço de paz e natureza no coração da metrópole.

Ali nada parecia ter mudado, e ele agradeceu aos deuses em pensamento por isso.

O caminho cinza de paralelepípedos era o único intruso no meio do verde de vários tons e texturas, e logo o cheiro fresco do ar acariciou os pulmões do cavaleiro lhe dando uma calorosa sensação de conforto. Ele então fechou os olhos e respirou fundo; regalou-se com o calor do sol em seu rosto recém barbeado, sentiu o perfume das flores, em especial da figueira, a grande estrela daquele parque na primavera, desfrutou do aroma da pipoca com manteiga trazido pela brisa, ouviu o canto dos pássaros empoleirados nas árvores, o burburinho de vozes dos transeuntes, um cachorro que latia ao fundo, as risadas das crianças que brincavam felizes correndo por ali.

Então ele abriu os olhos e capturou toda aquela cena sensorial. Queria vive-la plenamente e recordar-se de quando ia até ali com Geisty sempre que saíam das consultas médicas com doutor Ulisses, o obstetra, quando se esgueiravam feito dois foras-da-lei para a praça e se sentavam no banquinho branco, se dando ao luxo de viver um momento de paz. Ali eles dividiam a pipoca e faziam planos para o futuro, enquanto imaginavam de quais brincadeiras seus filhos mais gostariam de brincar, com quais daquelas crianças que frequentavam a praça eles fariam amizade. Geisty sempre apostou que Heitor seria o mais carismático, enquanto ele dizia que Dario seria o mais bagunceiro.

— Geisty... — Saga murmurou fechando os olhos com força e aspirando o ar fresco. — Que falta eu sinto de vocês três.

Seu peito corroía sempre que pensava em tudo o que nunca tivera de fato, mas mesmo assim acreditava ser seu. Seus olhos sempre se aqueciam, mas ultimamente ele não conseguia mais chorar. Talvez fossem os remédios que o estavam impedindo. Os remédios em sua hercúlea função de lhe arrancar a dor da alma. Estes, porém, não eram capazes de impedir que suas mãos constantemente tremessem feito frágeis gravetos ao vento. Seria medo ou a abstinência do álcool e das drogas mais pesadas? Talvez fossem ambos.

Quando o tremor das mãos apareceu também nas pernas, Saga sentou-se no banquinho branco e procurou se distrair observando as crianças que corriam atrás do cachorro amarelo, mas em sua mente castigada os ecos das palavras de doutor Tibúrcio se repetiam sem lhe dar trégua.

Inconclusivo.

Não haveria uma cura para o seu caso? Teria de viver até o fim com aquela sombra dentro de si?

Desesperado, e sentindo-se terrivelmente sozinho, retirou do bolso da calça esportiva o celular pequenino que ao abrir o flip se iluminou; com os dedos trêmulos buscou nos contatos a única pessoa com quem queria dividir seu desespero naquele momento, então encarou o nome na tela sem ainda apertar o botão da chamada.

Geisty.

Suor frio escorria de sua testa. Queria falar com ela, ser ouvido, consolado, mas seria justo? Consigo sim, já que certamente seria menos pesado lidar com o fato de ser tão único ao ponto de ser um mistério. Mas, e com ela?

A verdade era que nem sabia como iniciar um assunto com Geisty depois de tudo que a fizera passar, mesmo que involuntariamente. Talvez começasse com um: Oi Geisty, tudo bom? Lembra dos médicos que eu te disse que iria? Então, eles disseram que eu sou doido mesmo. Um doido inveterado, veja você! Gastei um dinheirão para ouvir o óbvio!

Imbuído de coragem ele finalmente concluiu a ligação, aguardando ansioso a cada novo toque ela atender a chamada.

***

Templo das Bacantes, Descolândia, 09:45am

 

A caneca alta e cheia de cappuccino era a única companhia com que Geisty podia contar naquela manhã para ajudá-la a desbravar as intermináveis e tediosas listas contábeis que precisavam ser lançadas nas tabelas do Excel, já que Afrodite estava atrasado e Saravá Ebó dormia de roncar, enfiado dentro de uma pantufa de Pluto que foi deixada debaixo da escrivaninha de Mu.

Munida de seus óculos vermelhos de gatinho, uma régua fajuta e a força do ódio, ela mal começou a tarefa quando a campainha estridente do celular berrou dentro da gaveta aberta de sua escrivaninha lhe causando um sobressalto.

— Porca madonna! — Reclamou apanhando o aparelho. — Certeza que é o folgado do Afrodite com mais uma de suas desculpas esfarrapadas para justificar o atraso. Qual será a dessa vez? A da sandália quebrada ele usou ontem e a da diarreia ele usou semana passada. Esse viado não tem...

Ela congelou quando leu o nome no visor azulado.

Coiso.

O primeiro susto foi com o fantasma daquela criatura odiosa que de repente parecia ter voltado do além para lhe assombrar. O segundo veio quando ela se deu conta de que Saga a chamava de fato pelo celular.

Ela segurava paralisada o celular na mão, enquanto um turbilhão de sentimentos entravam em conflito dentro de si. Era impossível para ela pensar em Saga e imediatamente não acionar o botão da mágoa, todavia junto desta agora se assomava a lembrança da noite anterior no bordel. Todos aqueles olhares trocados...

O celular ainda tocava e seu coração palpitava cada vez mais forte, mais rápido, eufórico.

Era inegável que Saga ainda mexia muito consigo, e era justamente com isso que ela não sabia lidar.

Nesse ponto, enquanto divagava, o celular parou de tocar. A ligação caíra e ela então respirou aliviada. Mais um dia que tinha conseguido escapar daquele dilema, adiar qualquer decisão.

Porém, para seu completo desespero o aparelhou começou a tocar novamente. Assustada ela o atirou dentro da gaveta e a fechou com um solavanco na esperança de abafar o som; em vão.

O celular tocava e Geisty afundava a cabeça entre as mãos coçando nervosa a franja com as unhas compridas.

Queria ter coragem para atender, mas o que diria a ele?

Muito antes de achar uma resposta para a própria pergunta a campainha cessou.

Olhando de soslaio para a gaveta fechada ela ainda aguardou alguns segundos, aflita; não sabia dizer se por medo de ele voltar a tocar ou não voltar. Então, depois de longos minutos em que nenhum som veio de dentro da gaveta ela suspirou aliviada e também frustrada consigo mesma.

Foi o segundo sentimento que a fez levantar e caminhar até o pequeno bar que havia ali na Descolândia.

Lá ela pegou uma garrafa de Chianti e chegou a sacar a rolha, mas no instante seguinte a devolveu à prateleira; desistiu de tentar achar alguma resposta no fundo dela, porque com certeza não estaria ali, muito menos àquela hora do dia.

Angustiada Geisty fechou os olhos e rogou à Atena que lhe mandasse um sinal ou mesmo um caminho para começar a trilhar em busca da solução daquele dilema que vivia com Saga... mas foi Buda quem a ouviu naquele dia.

— Shaka! — Geisty arregalou os olhos e quase gritou o nome do virginiano quando de repente sentiu o Cosmo poderoso dele acender na Casa de Virgem.

Apressada, enquanto calçava o par de tênis, o contatou através de seu Cosmo.

“Shaka, Shaka, Shaka, Shakaaaa!”

“Hum.”

Ele respondeu imediatamente, ainda que a seu modo nada entusiasmado, tampouco interessado.

“Posso ir aí? É urgente, urgentíssimo!”

“Hu-hum.”

“Ótimo! Chego aí em menos cinco minutos!”

Ela então deixou escritório às pressas batendo a porta atrás de si com força.

***

Casa de Virgem

Foi só o tempo de colocar a máquina para bater a roupa suja que trouxera do hospital e esquentar a água com o leite para o chai que já sentiu a amazona adentrando seu Templo. Jogou rapidamente a masala, o cardamomo, o chá preto e o gengibre dentro do bule e foi ao encontro dela na entrada da parte residencial.

Assim que a viu ali, Shaka notou que estava agitada e que sua fisionomia parecia angustiada.

— Bom dia, Geisty — disse ele levantando até os cotovelos as mangas largas de um moletom preto de algodão que pegara de Mu para vestir. — O que demanda tanta urgência?

— Bom dia, Shaka... Me desculpe abordar você assim, logo cedo, e sabendo que deve estar com pressa de voltar ao hospital. — Ela disse estalando os dedos.

— Tudo bem, nós temos algum tempo. — Ele respondeu fazendo um sinal para que ela entrasse e o seguisse. — Kiki só vai acordar daqui a algumas horas, quando levarem a terceira dose do soro experimental, e Mu está lá com ele... Se importa de conversarmos na cozinha? Eu estava preparando o chai, faça-me companhia.

Ela fez um sinal afirmativo com a cabeça.

— Ah, claro! — respondeu da forma mais simpática que conseguiu, esforçando-se fervorosamente para não deixa-lo perceber sua aflição.

Geisty detestava chai, com todas as suas forças.

Contudo, ela nunca conseguia dizer isso a Shaka; ele sempre lhe oferecia e servia a bebida com tão benevolente gentileza, por vezes acompanhada até de um simpático sorriso — coisa rara vinda dele — que a amazona tinha receio de magoá-lo e passar-se por ingrata dizendo que detestava a bebida indiana. O mesmo acontecia com o pólen depilatório que Afrodite caprichosamente lhe preparava. Ela preferia sofrer três dias inteiros de alergias graves do que recusar a gentileza.

— E como está Kiki? — perguntou Geisty enquanto seguia o virginiano até a cozinha.

Shaka respirou fundo.

— Estável... O tratamento na verdade ainda não mostrou nenhum avanço ou eficácia. Ele continua igual como quando voltou do transplante de medula.

Visivelmente abatido Virgem entrou na cozinha e caminhou até o fogão desligando o fogo; enquanto ia até a pia para coar o chai ele olhou para Geisty e sinalizou para que ela puxasse uma cadeira para se sentar à mesa.

Ela assim o fez, um tanto ansiosa e bastante atrapalhada.

— Ah, eu ia trazer o Saravá Ebó, mas ele estava dormindo tão pesado lá na Descolândia que fiquei com pena de acordar o pobrezinho. O Dite comprou uma caminha tão confortável para ele, você precisa ver, ele adorou! Às vezes até troca a pantufa do Mu por ela... Mas, olha só, não se preocupe que lá é bem seguro, e antes de vir para cá eu fechei as janelas e tranquei a porta... — tagarelava nervosa. — E o Mu? Como ele está? Eu achei ele tão abatido ontem e...

— Não foi para falar do Siddartha e tampouco do Mu que você veio até aqui — Shaka a interrompeu sem rodeios quando veio sentar-se com ela à mesa, já trazendo duas xícaras com chai. — Vamos, diga. Que perturbação toda é essa que vejo no seu rosto?

Geisty olhou para ele e suspirou parecendo tão exausta que era como se tivesse passado por um expediente de quebrar pedras.

— Saga. — Ela disse e em seguida engoliu em seco. — Saga me ligou, Shaka.

Virgem a perscrutou por um curto instante, sem esboçar nenhuma reação ou qualquer emoção.

— E? — Ele perguntou a olhando com interesse.

— E o quê?

— E o que vocês conversaram, oras. — Ele questionou tomando a xícara nas mãos e dando um gole no chai.

— Nada.

— Bulhufas?

— Nadinha.

— Como, assim?

— Eu não atendi, eu... eu não atendi — disse ela de forma intempestiva, enquanto apanhava a xícara e dava um gole generoso no chai, o que fez seu olho esquerdo piscar involuntariamente repetidas vezes e lacrimejar. — Foi isso.

— Hum... Você então veio aqui para falar de uma conversa que não aconteceu, mas que deveria ter acontecido.

— Foi.

— Por que você não atendeu a chamada?

— Eu não sei, eu... eu vi o número dele na tela do meu celular e de repente me deu uma sensação estranha, eu... fiquei travada, sem saber o que fazer. Então eu joguei o telefone na gaveta e a fechei. Deixei ele lá tocando e tocando...

— Hum.

— Hum?

— Hum. — Ele balançou a cabeça ao modo indiano de responder as coisas.

Ela, claro, não entendeu o que ele quis dizer.

— Hum o quê?

Virgem a observou por um momento e então olhou fixo nos olhos dela e perguntou:

— O chai está bom? Está do seu apreço?

A pergunta causou nela tremenda estranheza.

— Ah... sim... está ótimo! — Deu um risinho sem graça, forçando-se a dar mais um gole na bebida, que dessa vez lhe causou um forte arrepio.

Era óbvio que ele sabia que não, não estava do agrado dela, porque ela detestava chai.

Ser um homem capaz de ler a alma das pessoas e enxergar sua mais verdadeira essência tinha lá suas vantagens e também desvantagens. Ninguém nesse mundo era capaz de mentir para Shaka de Virgem.

Mas Geisty não mentia para o cavaleiro. Ela mentia para si mesma.

— Até quando você acha que vai conseguir seguir com esse engodo? — Novamente a pergunta dele a pegou de surpresa. — Vai alimentar esse monstro dentro de você até que ele crie dentes e te devore?

Geisty arregalou os olhos e sentiu as mãos geladas. Súbito ela estava tão pálida que parecia até ter visto um fantasma.

— Você fala do... do chai? — Perguntou dando uma risadinha acanhada.

— Não. Por que eu falaria do chai, amazona? Afinal, você adora o meu chai, não adora? — Shaka disse de forma pausada e num tom um tanto sarcástico, então deu um sorriso tão assustador que ela sentiu os pelos do corpo todo eriçarem.

Geisty engoliu em seco.

— Sim, eu... eu adoro o seu chai. — disse ela suando frio.

Shaka de repente deu um tapa na mesa e se levantou.

— Ótimo! Já que gosta tanto do meu chai eu vou buscar mais para você — disse ele indo buscar o bule fumegante.

 Não era de hoje que pelejava para fazer aquela amazona teimosa e cabeça quente aprender a ser honesta consigo mesma, a aceitar seus desejos, respeitar seus medos e inseguranças. Todavia, ele sabia que não podia cobrar muito dela, visto que a vida desde muito cedo nunca lhe fora gentil.

Quando voltou à mesa, Shaka sentou-se e encheu a xícara de Geisty até a borda, ainda conservando alguma esperança de ouvi-la confessar que odiava a bebida. Como a confissão não veio ele simplesmente prosseguiu dando atenção ao que a levara até ali, a seu Templo, em busca de suas palavras:

— Eu falo do Saga, Geisty. Não foi para entender o motivo pelo qual você não atendeu à chamada no telefone móvel que me procurou?

— Foi. — Geisty respondeu olhando para a xícara cheia. Deu um longo suspiro.

— Você não atendeu porque o perdão é uma virtude dos fortes, e você ainda sente-se fraca — disse Shaka olhando fundo nos olhos dela. — Mas, eu preciso alertá-la, minha amiga. O segredo da força do espírito e também do corpo está em não lamentar o passado, não criar expectativas para o futuro, nem antecipar o sofrimento e os problemas, mas viver somente o presente sabendo que a vida do homem, aos olhos do tempo, é breve e passa tão rápido quanto um piscar de olhos.

Geisty continuava o fitando com angústia e atenção.

— Mas eu... eu não quero ter de lidar com isso agora.

— Agora, ou daqui a dez anos, que diferença faz se só existe um caminho pelo qual você deseja seguir? Tornar a caminhada longa demais só vai prolongar o seu cansaço.

— Mas eu sinto que nem sei como lidar com isso agora.

— Não lidando da forma como você lida com os seus sentimentos e os seus problemas, simplesmente fingindo que eles não existem, no entanto estão ali, cutucando você feito um espinho incômodo na sua roupa, já está de bom tamanho, porque é exatamente isso que está fazendo.

Geisty baixou a cabeça e esfregou os olhos, derrotada.

— Eu sinto que no fim das contas Mu é quem está certo... Eu deveria riscar o Saga da minha vida.

— Mu é outro bicho teimoso e cabeça quente...  Desde quando o dever caminha lado a lado com a vontade? Olhe para mim! Eu deveria ter abdicado dos desejos mundanos, do meu corpo material e por fim da minha vida para então poder encontrar na morte a minha maior realização... Da mesma forma que deveria aceitar a morte do meu filho com sabedoria e naturalidade, mas eu não aceito! Eu não aceito! — disse dando um soco na mesa. — Negar, ou mesmo querer matar o amor que você tem pelo Saga, é matar uma parte de si mesma, e nunca se consegue ser feliz sendo uma pessoa pela metade, por mais que você se escore na sua razão e abre mão totalmente do coração.

— Mas por que tem que ser tão difícil, madonna mia? É difícil estar perto dele.

— Está sendo mais fácil estar longe?

Geisty comprimiu com força os lábios grossos tingidos de batom carmim.

— Não — confessou ela. — Pela deusa, Shaka, está tudo tão confuso aqui dentro de mim. Eu sinto mágoa, decepção, raiva...

— É natural que sinta tudo isso. Você não é mais a mesma mulher, ele não é mais o mesmo homem, e nem a relação de vocês dois será como um dia foi. Nada vai ser igual, por isso vai ter que encontrar uma maneira de viver em paz com sua mágoa, com sua decepção, com sua raiva... Eu já disse a você uma vez que na vida a mudança é inevitável, assim como a perda é inevitável. Você passou pelas duas coisas. Você perdeu e sua vida mudou por isso, desde então tudo é tristeza e ressentimento, mas não tem que ser assim para sempre. Reencontramos a felicidade quando nos adaptamos às mudanças... Saga está fazendo isso, buscando um meio de se adaptar ao que se tornou a realidade dele de agora, e lutando para trazer você para ela. O que impede você de também tentar se adaptar a essa nova vida ao lado dele é apenas o ressentimento ou é também o medo que tem do Outro?

— Eu não tenho medo do Outro. Tenho apenas asco! — disse ela quase num rosnado, fazendo uma cara de nojo, mas logo em seguida pareceu triste. — E sobre mudanças... Bem, eu sinto que meu amor por ele também mudou.

— Nada sai ileso depois de ser tocado pelos dedos implacáveis do tempo e pelas agruras da vida. Com o amor não seria diferente.

— Isso é tão triste.

— Isso é a vida, Geisty. Nem mesmo os iluminados ou os sábios são poupados das tragédias da vida... Estes também sofrem, a diferença é que sofrem apenas o necessário, sem prolongar ou agarrar-se ao sofrimento. Então, minha amiga, não acha que já prolongou demais o seu sofrimento? Afinal, foram seis anos de espera. Não acha que já está na hora de se adaptar a esse novo amor remendado e costurado, mas ainda vivo e persistente aí dentro de você, e deixar de sofrer? Igualmente o sofrimento, a alegria e a paz que você sabe que só vai reencontrar nos braços do seu homem, são meros fatos da vida. Faça a escolha certa.

Geisty olhava para ele como se procurasse a resposta para aquele impasse no azul profundo de seus olhos. Qual seria a escolha certa?

— Sabe, quando a dor do Saga, e a sua dor também, Geisty, veio até mim eu acho que finalmente entendi o que era ser... humano. E por mais terrível que ela seja, e você sabe como ninguém o quão terrível ela é, eu não me arrependo de ter escolhido senti-la, ter escolhido vive-la. Por isso eu procurei e pedi perdão ao Saga por tê-lo julgado e abandonado... Eu finalmente o enxerguei como um homem comum, falho, humano. Um homem atormentado por um mal que talvez nunca venhamos a conhecer a origem e que o fará pagar por seus erros como se fossem os dele próprio.

— Você conversou com o Saga? Esteve com ele? — Geisty perguntou parecendo em choque. Encarava firme o indiano. — Espera... Deixa eu entender isso aí. Você, que sempre bateu de frente com o Saga, que sempre teve uma convivência com ele de cão e gato, o procurou para conversar e o perdoou? Enquanto o Mu, aquele doce de pessoa, mal consegue olhar para ele sem querer arrancar todos os dentes dele da boca?

Shaka balançou a cabeça com trivialidade.

— Sim.

— O mundo anda mudado de fato, meu amigo. Eu é que não estou conseguindo acompanhar essa mudança tão bem.

— Você vai conseguir. Você não percebe, mas não é mais a mesma que há minutos atrás entrou por aquela porta — apontou para a porta da cozinha por onde eles vieram. — Tudo no mundo está em constante transformação, o tempo todo, por isso é possível transformar a raiva em compreensão, a mágoa em empatia, a decepção em aprendizado.

— Você acha que o Saga... ele... acha que ele mudou mesmo? Acha que dessa vez ele é apenas... ele?

— Eu quero acreditar que sim, e ele também quer. Não à toa ele está se submetendo aos tratamentos médicos, às terapias pela manhã, às reuniões do AA... Ele está fazendo isso por ele, mas muito mais por você, por Heitor e por Dário. Ele sabe que deve isso a vocês.

Por longos minutos houve um silêncio tórrido entre eles, porém nem um pouco incômodo.

Geisty o quebrou quando deu um suspiro longo e num impulso tomou nas mãos a xícara cheia com o chai já frio; ela a levava distraidamente à boca quando de repente Shaka gritou:

— ESCUTE, AMAZONA!

PORCA MADONNA SHAKA! — gritou ela de volta num sobressalto, quase derrubando a xícara com o susto que levou. — O quê? Escutar o quê? — perguntou aflita.

— A sua voz interior — disse ele a encarando. — Você precisa tomar uma decisão. Comece sendo sincera consigo mesma, sendo honesta com seus sentimentos.

— Você tem razão, como sempre. Eu não sei o que faria sem os seus sábios conselhos, meu amigo — respondeu ela com um sorriso, e diante dos olhos azuis que a encaravam em expectativa ela virou todo o chai num único gole sentindo imediatamente os olhos marejarem e a testa se contrair severa e involuntariamente.

O Santo de Virgem suspirou e deixou-se recostar na cadeira derrotado. Continuaria servindo chai a ela, todos os dias se preciso fosse, até que finalmente ela confessasse que detestava a bebida. Tomaria isso como uma missão.

— Obrigada por me ajudar a pensar em tudo isso. E obrigada pelo chai. Estava... é... delicioso — disse ela se levantando da cadeira com a xícara ainda nas mãos. — Eu já tomei muito do seu tempo. Sei que tem dois arianos ansiosos esperando por você no hospital e não vou segura-lo mais aqui. Vou pensar em tudo o que me disse com calma.

— Pois então pense, porque como diria Freud, o pensamento é o ensaio da ação — disse Virgem levantando-se e recolhendo a xícara das mãos dela.

Depois de coloca-la dentro da pia eles seguiram lado a lado para a saída da Casa de Virgem. No caminho Shaka chamou mais uma vez a atenção da amazona:

— Geisty, deixe de comodismo e vá até o mercado comprar sardinhas frescas para o Siddartha. Não quero meu gato comendo atum enlatado e correndo o risco de contrair botulismo.

A italiana levou as mãos à cintura bem ao seu modo.

— Hump! Quem ouve você falar assim acha que sou uma tia relapsa, quando na verdade é o Saravá Ebó que é um aproveitador.

— Aproveitador uma pinoia, ora essa! Eu sei muito bem a educação que dei para o meu gato — retrucou de nariz em pé e ar todo esnobe.

Geisty rolou os olhos e suspirou.

— Eu não tenho culpa se ele me usa para fugir da dieta saudável e comer porcarias... Mas tudo bem. Eu já estou acostumada a levar bronca sua por tirar os homens da sua vida, e o seu gato, do bom caminho — deu uma risadinha, já que referia-se aos mimos exagerados que dava a Kiki e às tardes de bebedeira e karaokê no Piriquitão na companhia de Mu.

Com um sorrisão no rosto, e sem pedir licença, Geisty surpreendeu o virginiano com um abraço forte e apertado bem ao modo caloroso dos italianos. Shaka correspondeu ao modo dele próprio, com um sorriso que mal mostrava os dentes e dando tapinhas ligeiros nas costas dela.

— Obrigada, Shaka. — Ela disse em voz baixa, depois afastou-se já tomando o rumo das escadas. — Diga para o meu pequerrucho ruivo que passarei no fim da tarde no hospital para terminar de contar a ele o mito de Hércules. Estamos no segundo trabalho!

— Eu direi. — O virginiano respondeu acenando para ela com um balançar de cabeça.

Shaka ficou ali por um momento a vendo sumir na longa escadaria entre as montanhas. Sem que percebesse, surpreendeu-se com a lembrança do dia em que ela e Saga se casaram, da cerimônia que ele mesmo celebrara e na qual depositara todos os seus mais sinceros votos de felicidades e amor, da festa caprichada, do regozijo dos amigos, da alegria e esperança que transbordava dos olhos dos noivos... Quem podia imaginar que seriam tão poucos os dias de paz e alegria.

Como acontecera com Saga e Geisty, quem poderia imaginar que quando trouxera Kiki para o mundo, podendo tornar real um dos maiores sonhos de Mu, seriam tão poucos os anos de alegria que teriam na companhia dele. Tal pensamento interrompeu a respiração do cavaleiro de Virgem e fez seu peito transbordar em aflições. Como podia ensinar a Geisty que ela precisava viver o presente sem agarrar-se tanto ao passado ou preocupar-se com o futuro se ele mesmo não era capaz de pensar assim? Não conseguia deixar de procurar um propósito para sua viagem no tempo para salvar Kiki, tampouco conseguia não pensar num futuro sem ele.

Angustiado cerrou os punhos e cravava as unhas na carne das mãos quando lembrou-se da promessa que fizera a Mu, então imediatamente levou a mão à cintura e por cima do tecido do moletom apertou o cilício que havia colocado ali para dar tempo ao seu corpo de regenerar os ferimentos nas coxas. Gemeu baixinho, quase inaudível.

Finalmente distraído pela dor auto infringida ele respirou fundo, um tanto mais aliviado, e resolveu entrar para seguir com as tarefas que viera fazer ali, mas assim que se virou deu de cara com outro visitante inesperado.

— Por Bud... — interrompeu-se imediatamente lembrando que havia rechaçado a divindade. — Pombas, Saga!

— Te assustei? — Gêmeos perguntou acabrunhado.

— O que você acha?... E como chegou aqui sem eu perceber?

— Me desculpe aparecer assim, Shaka — respondeu ele, que tinha no rosto a fisionomia daqueles pobres desgraçados que estão prestes a abrir mão da esperança, mas que persistentemente procuram sustento no fino e frágil fio de boa vontade que os mantem, não tão firmes, em seus intentos.

Shaka respirou fundo levando a mão ao peito num ato reflexo para acalmar a palpitação.

— Ah, tudo bem... Aconteceu alguma coisa?

— É que... — disse ele baixando a cabeça; sentia vergonha do que o tinha levado até ali. — Bem, você disse que eu poderia procura-lo caso... caso... caso eu...

Sem conseguir dizer, Saga projetou para frente o braço que mantinha oculto atrás das costas tornando visível a garrafa de whisky em sua mão.

Shaka olhou para a garrafa e sentiu-se aliviado ao vê-la ainda lacrada e cheia, depois olhou firme nos olhos do grego. Quão grande era o pesar e o desespero que viu neles. Respirou fundo e sem desviar o olhar tomou-lhe a garrafa das mãos de um modo muito mais rude do que pretendia.

— Sim, eu disse... — falou, então uma ínfima fração de seu Cosmo brilhou em sua mão consumindo a garrafa totalmente. — Que bom que você veio, Saga... — suspirou recompondo-se. — Quer entrar para tomar uma xícara de chai?

— Não seria muito incômodo?

— De maneira alguma! Queira entrar.

— Você primeiro.

— Obrigado.

Como tinha feito com Geisty, Shaka também conduziu Saga até a cozinha, mandou que se sentasse à mesa e serviu a ele o chai, enquanto se dispunha a ouvir pacientemente tudo o que o afligia.

— Hummm, pelos deuses! Isso está delicioso! Obrigado, Shaka. — Ele agradeceu lambendo os lábios. — Eu precisava disso também... — concluiu desanimado.

— De chai? — perguntou surpreso.

— E de uma companhia que não fosse a de médicos, enfermeiros ou do puxa-saco do Gigars — disse ele.

— Nunca disse que gostava de chai.

— Você nunca me perguntou se eu gostava.

— E por que eu perguntaria para um ébrio se ele gosta de uma bebida não etílica? Seria o mesmo que perguntar a um macaco se ele gosta de Shakespeare.

Gêmeos devolveu a xícara à mesa cuidadosamente, então suas sobrancelhas grossas juntaram-se no centro da testa numa expressão severa.

— As suas conclusões sobre a minha pessoa são sempre tão delicadas quanto um coice de camelo, Shaka... Mas ainda assim elas são melhores do que whisky — disse ele, depois suspirou e deixou-se relaxar na cadeira.

Virgem deu de ombros e balançou a cabeça. Na verdade estava aliviado por ele estar ali consigo e não na companhia da garrafa. Aquilo era uma prova de sua sincera vontade de buscar a redenção.

— E o que foi que o tentou a buscar alívio no álcool, Saga? — perguntou, já imaginando que o desespero dele estava de alguma forma ligado à chamada não atendida por Geisty.

— Hoje tive uma consulta com meu psiquiatra... E finalmente ficaram prontos os estudos sobre o meu caso avaliado pela junta médica em Ancara.

Shaka olhou para ele com súbita atenção e alarde.

— E como foi?

Saga baixou a cabeça e suspirou.

— Eles não sabem definir o que tenho.

— Como assim, não sabem? — questionou agitado, afinal conhecia como ninguém aquele sentimento.

— Oito especialistas, os melhores e mais renomados desse caralho de mundo... OITO! Entre psiquiatras, neurologistas, neurocirurgiões, psicólogos... Nenhum deles conseguiu chegar a uma conclusão definitiva sobre o meu... problema. Eles avaliaram todos os exames que fiz, cada um deles, mais de uma vez, com e sem a medicação, para no fim me entregarem um diagnóstico inconclusivo... E é isso.

— Eu não posso acreditar!

— Pois acredite. Eu sou a porra de uma incógnita... Eu tinha tanta esperança de saber o que é... Ele... e então com a ajuda da medicina saber como me livrar desse inferno de uma vez por todas, mas... — Fez uma pausa e tomou mais um gole generoso de chai, depois esfregou o rosto. — Ah, pelas bolas do corno do Hades! Antes me fizessem uma lobotomia ali mesmo, me deixassem inválido, impotente e babão, trancado na porra de uma sala branca porque descobriram que meu caso não tem cura e que sou um perigo iminente, do que me mandarem de volta para casa sem o caralho de uma resposta definitiva... Me sinto a merda de uma bomba relógio.

Shaka abandonou a xícara para pegar no braço dele e com um apertão capturar-lhe a atenção.

— Ei, Saga, não diga isso — disse olhando nos olhos dele; tentava imprimir à voz um tom de calma e segurança, já que o desespero do geminiano era muito parecido com o que consumia a si próprio. Não saber quem é o inimigo, tampouco como derrota-lo, era o pesadelo de todo cavaleiro. — Bombas podem ser desarmadas por mãos experientes, espíritos persistentes e por corações altruístas... A mente do homem é um mistério até maior que o próprio universo, e entender seus engenhos não é tarefa fácil... Essa foi sua primeira tentativa. Talvez seja a hora de você começar a trabalhar como aliado de sua mente e não mais como seu adversário.

— Eu estou tentando, Shaka, cacete, e como estou tentando!

— Podia tentar também dar uma polida nesse seu vocabulário chulo execrável. — Virgem o repreendeu áspero, enquanto lhe despejava mais chai na xícara.

Saga esfregou os olhos aborrecido.

— Me desculpe — olhou firme para ele. — Eu esqueço que você insiste com essa sua atuação ridícula de homem educado.

— Como é que é? — Shaka o fuzilou com os olhos azuis soltando faíscas.

— É isso mesmo, merda. Você é a pessoa mais mal-educada, grosseira e rude que eu conheço na minha vida, Shaka. E nem precisa dizer palavras chulas para isso. Ah, faça-me o favor.

— Foi para insultar o Shaka que o Saga veio ao Templo dele?

— Não, porra! — Deu um tapa na mesa e encarou os olhos azuis que o fitavam inflexíveis. — Eu vim porque precisava de um amigo... Porque a cada dia que passa eu me sinto mais perdido e sozinho.

Saga baixou a cabeça parecendo derrotado. Então Shaka calmamente deu um gole no chai, cruzou as pernas e relaxou na cadeira.

— O Saga tem um amigo aqui... Shaka vai ajudar o Saga a desarmar a bomba.

— O Saga não sabe se... digo, eu... eu não sei se isso é possível, já que fui eu mesmo quem armou a bomba... Comprei as dinamites, conectei os fios... cronometrei o relógio — suspirou exausto e também deu um gole no chai para tentar desfazer o nó na garganta. — Eu sei que mereço tudo isso pelo que estou passando. Do mesmo modo como mereci cada murro que levei do seu marido... Mas ser jogado à indiferença e ao desprezo é muito pior que qualquer agressão física... Estar sozinho dói, Shaka.

— Eu já disse a você que não está sozinho, eu estou aqui, eu me coloquei ao seu lado. O problema é que não é a minha companhia que você quer, e por isso eu entendo perfeitamente a sua frustração.

Saga engoliu em seco.

— Eu procurei por ela, mas ela mais uma vez me rejeitou — confessou. — Então eu peguei a garrafa, mas não achei justo fazer isso com ela. Seria colocar a culpa nela mais uma vez por uma fraqueza que é só minha.

— Corretíssimo!

— Eu ia abrir a garrafa quando senti o seu Cosmo aqui em Virgem. Se você não pudesse me ajudar a tentar encontrar alguma luz nesse breu fodido que eu estou, talvez eu fosse procurar conselhos com o Afrodite.

Nahim! Teria sido mais seguro você se perder no álcool.

— Tem razão — constatou ele um tanto alarmado. — Na certa Afrodite iria me drogar como sempre fez, ou me sugerir soluções mirabolantes que só dão certo no campo hipotético das ideias de cu do mundo da lua que ele vive. Graças a todos os deuses do Olimpo te encontrei em casa — fez uma pausa e encarou o rosto dele. — Eu estou atrapalhando? O que veio fazer no Santuário? Como está Kiki?

— Não está me atrapalhando, Saga... Eu só vim buscar ceroulas limpas para o Mu — disse com espantosa trivialidade. — Kiki está lutando, todos nós estamos lutando... Mas, como já disse você é bem-vindo aqui, só que não é a minha companhia que você precisa... Geisty esteve aqui pouco antes de você chegar.

— Esteve? — Ele perguntou surpreso e curioso.

— Sim, e estava tão perdida quanto você. Motivo pelo qual ela não atendeu à sua chamada.

— Ela falou que eu liguei para ela?

— Falou... A sua amazona está travando uma das mais cruéis e duras batalhas pela qual uma pessoa pode passar, aquela que coloca como inimigas razão e emoção, coração e mente... Você precisa ter paciência, Saga. Precisa esperar até que ela sinta-se capaz de coroar o vencedor. Enquanto isso farte-se de pensamentos bons, porque nós somos consequência do que pensamos. Se você pensar que é mais forte do que Ele, seja lá o que Ele for, se desejar com sinceridade ser melhor, ser bom, por você e pela mulher que você ama, então você vai ser capaz de desarmar a bomba.

— Será mesmo?

— Lembre-se do que eu te disse, experiência, persistência e altruísmo. O mal dentro de você teve uma origem. Busque essa origem e o corte pela raiz. Se nem os melhores médicos descobriram o que é Ele, cabe a você descobrir. E se mesmo assim ele insistir em ser parte de você, então aprenda a adestra-lo — disse, e por fim deu dois tapinhas no braço dele. — Hoje, por exemplo, você já o venceu quando não abriu aquela garrafa.

Com os ombros caídos e o semblante esgotado Gêmeos murmurou olhando para a xícara:

— Hoje... mas e amanhã? — Olhou para ele de soslaio enquanto tamborilava os dedos nervosamente na mesa. — Até quando Ele vai ficar quieto? Até quando os remédios e as terapias vão me ajudar a segura-lo? E quem é que consegue viver assim, Shaka? Na iminência de uma nova desgraça? Se eu não quero essa vida nem para mim, imagina se vou desejar isso para a mulher que eu amo!

— Saga...

— Se eu... se eu perder o controle de novo você tem que me prometer que vai me...

Shaka levantou-se da cadeira abruptamente e deu um croque forte na cabeça dele, bem no centro da moleira, o impedindo de concluir a frase.

— Para com essa merda, inferno!

— Aii!

— Controle-se! Olha aí a sua respiração toda errada. Você está indo na terapia e no AA para tocar zabumba? Para fazer bonito para a Geisty? Ou está indo para aprender realmente a administrar o seu problema?  

— Desculpe eu me descontrolei...

Shaka prendeu o ar dentro nos pulmões e levou as mãos à cabeça. Sempre que repetia aquele gesto dava por falta dos cabelos longos e então soltava o ar vagarosamente lembrando-se que ele também não podia mais perder o controle; e assim se acalmava.

— Tudo bem... eu vou... eu vou fazer mais chai. Vou colocar camomila dessa vez — disse ele indo colocar mais água para ferver.

Minutos depois eles já tomavam a segunda rodada de chai quando Saga confessou:

— Eu liguei para Geisty para pedir que ela me acompanhasse nas sessões de terapia, sabe... Não para me escorar nela, nada disso, mas porque eu sei que ela precisa de ajuda tanto quanto eu preciso, depois de todo o inferno que eu causei na vida dela, mas... a muralha que ela ergueu entre nós dois não me dá espaço nem para dizer a ela que quero também ajuda-la.

— Talvez nesse momento você não seja exatamente a pessoa certa para essa tarefa, Saga — disse Shaka. — Concordo que ela precisa de ajuda profissional sim, mas você conhece aquela mulher melhor do que ninguém. Ela vai aceitar ajuda quando ela quiser, e não quando você quiser. Durante esses seis anos eu a mantive bem perto de mim. Eu fui praticamente um enfermeiro do corpo e do espírito dela. Eu a aconselhei e eu também a treinei, mas essa decisão cabe somente a ela... Geisty faz amarras dentro de si com nós cegos que somente ela será capaz de desfazer. Não depende de mim, de você e nem de ninguém, só ela pode determinar a hora.

— Não tem remédio para ansiedade que dê conta disso, pelo Olimpo! — lamuriou-se o geminiano. — E se ela escolher me deixar? O que eu faço da minha vida sem ela, Shaka? — sentia a garganta espremer de agonia.

— Mude o seu pensamento, Saga. Um dia de cada vez, lembra? Primeiro arrume o seu jardim para que a borboleta sinta-se segura em voltar para ele — Virgem falou com um olhar sereno.

— Tem razão... você sempre tem razão. Eu vou... vou fazer isso.

— Ótimo! — Shaka disse olhando para Saga, que parecia ter o espírito desgraçadamente perdido, mas mesmo assim segurava-se com todas as forças à sua frágil linha de esperança. — Vamos brindar a esse avanço. Aceita mais uma xícara de chai? — perguntou já se levantando e indo botar mais água no bule.

— Não seria muito incômodo?

De repente...

— SIM! SERIA!

A voz grave e troante invadiu a cozinha num volume alto; seu tom era autoritário e surgiu segundos antes do dono dela se materializar ali pegando os dois cavaleiros de surpresa.

— Mu! — disse Shaka num sobressalto com o bule ainda na mão.

O cavaleiro de Áries virou-se para o virginiano e tão zangado ele estava que os pontinhos em sua testa quase se tocavam.

— Ah-há! Peguei você no flagra! Por isso está demorado tanto para voltar, né Shaka? Está fazendo sala para esse traste!

Shaka revirou os olhos e suspirou.

— O que faz aqui, Mu? Você deixou o Kiki sozinho?

— Claro que não! Quem deixou a gente sozinho foi você, para servir chai pra esse estrupício! Ao menos adoçou com estricnina? — perguntou, voltando-se agora para Saga e o fuzilando com os olhos.

— Mu de Áries! — Shaka o repreendeu.

— Ei, vocês dois... — Saga levantou-se de súbito chamando a atenção de ambos. O modo rude e agressivo com o qual Mu o tratava ainda o magoava e incomodava muito, afinal em sua mente até poucos dias atrás o lemuriano era um amável amigo, mas vê-los brigar por sua causa era ainda pior que ser tratado com tanta rudeza. — Eu... já estava de saída, não precisam começar uma discussão por minha causa.

— Quem é que está discutindo por sua causa, ô traste? Você não tá com essa bola toda não, viu — disse Mu.

— Marido, para que toda essa agressividade?

— Deixa ele, Shaka — falou Saga abanando a mão no ar. — Não importa. Me desculpe ter tomado o seu tempo... o tempo de vocês.

— Não desculpo não! — ranhetou Mu.

— Quieto, Mu! — Shaka ralhou, depois voltou-se para o grego à sua frente. — O que eu disse a você continua valendo. Pode me procurar sempre que sentir necessidade.

— Como é que é isso aí? — Mu virou-se para Virgem, cruzou os braços e o encarou firme, depois olhou para Saga e levantando a mão fez um gesto negativo chacoalhando os dedos: — Não pode não!

Indignado com aquela marra toda, num impulso Shaka deu um pancada com o bule nas costas de Mu.

— JÁ CHEGA! — berrou o indiano. — Mu de Áries quem decide isso sou eu!

— Pois está decidindo errado, Shaka de Virgem! Essa casa também é minha! Eu moro aqui e não quero chegar na minha casa e dar de cara com meu marido de chamego com esse estrupício.

Shaka abriu a boca pasmo e indignado.

— Chamego? Você ficou louco? Cheirou clorofórmio antes de vir para cá? — perguntou.

Aflito com a discussão do casal, Saga limpou a garganta como uma desculpa para chamar a atenção de Shaka e então lhe fez um pedido mudo através do olhar para que não discutisse mais com o marido. Mu, afinal, era uma das vítimas do Outro, ou por que não dizer de si? Dessa forma, do mesmo modo como precisaria dar tempo à Geisty, também necessitada dar tempo a Mu de curar seus rancores.

— Por favor, não discutam. Eu realmente já estava indo embora.  Em todo o caso, quero que saibam que estou torcendo muito para a melhora de Kiki. Gostaria de poder visita-lo no hospital assim que possível.

— Não pode não! — Mais uma vez Mu respondeu com agressividade.

— É claro que pode! — Mais uma vez Shaka o afrentou. — Você poderá visita-lo quando ele estiver mais forte, Saga. Não por agora.

— Você vai ficar me contradizendo, Shaka de Virgem? — Mu olhou feio para Shaka, que devolveu da mesma forma o encarando com a fisionomia severa.

— Vou, Mu de Áries! Enquanto estiver pensando e agindo como um mentecapto eu vou contradizê-lo sim! Já conversamos longamente sobre isso e você segue dando um passo para frente e dois para trás.

Mu bufou irritado e então desviou o olhar para Saga, que estava branco feito cera.

— Pois se o Shaka diz que sim, eu digo que não! — falou resoluto. — Kiki nem se lembra de você, Saga. Para ele você não passa de um estranho que tem o mesmo rosto do homem que ele aprendeu a temer.

As palavras de Mu eram cruéis, embora fossem verdadeiras, e por causa delas o rosto de Saga ficou banhado em constrangimento.

— Eu... entendo — disse ele baixando a cabeça envergonhado. — Ainda assim reforço que estou à disposição do que vocês precisarem. Podem contar comigo.

Ao ouvir aquilo o semblante de Mu mudou instantaneamente. Surgiu em seu rosto um pequeno sorriso, que veio cheio do mais puro deboche.

— Nossa! Mas que homem tão bom e honrado!

Na mesma hora Shaka segurou o lemuriano pelo braço e com um puxão o trouxe para perto.

— Por todos os seis infernos, Mu de Áries, o que há com você, homem? Deixe esse infeliz ir embora ou eu juro que despejo todo o chai desse bule na tua cabeça para ver se te esfria esse miolo quente! — disse ele.

— Deixo. Deixo sim! — disse Áries, que mantinha os olhos cravados na face consternada de Saga. — Mas antes, já que ele está tendo esse acesso repentino de responsabilidade aguda, eu creio que finalmente posso cobrar a dívida monetária que ele tem comigo.

— Divida monetária? — Saga perguntou, surpreso e curioso, já que sabia ter uma dívida moral imensa com aquele ariano brabo, mas dever dinheiro a ele era novidade.

— Sim! Dívida monetária!

— Você pode por favor ser mais claro, Mu?

— Ora, mas é claro! É pra já!

Um sorriso aberto e sarcástico brilhou no rosto de Mu, surpreendendo até mesmo Shaka ao seu lado, que assim como Saga agora olhava para ele confuso e em expectativa.

Franzindo as pintinhas lemurianas em sua testa, Mu fez surgir diante deles uma pilha de pastas de arquivo morto, seis no total, e com telecinese as pousou sobre a mesa.

— Sabe o Samsara, Saga? Ele é implacável! — disse o ariano. — O mundo gira e vacilão roda!

— O que são essas pastas? — Quem perguntou foi Shaka, que tinha uma expressão esquisita no rosto.

Saga mais uma vez engoliu em seco.

— Eu aguardo esse momento já há seis longos anos. — Havia uma grande satisfação na voz de Mu. Ele em seguida pegou a pilha de pastas e a entregou a Saga, que segurou todo meio desconjuntado. — Nessas pastas está a sua dívida monetária comigo. O seu déficit de responsabilidade.

— O que?

— Durante todo o tempo em que você se acovardou e largou a sua esposa nas mãos do crápula que vive aí dentro de você, eu subi de cargo — disse Mu. — Deixei de ser o tesoureiro do seu puteiro...

— MARIDO! — Shaka o interrompeu com um grito.

— Do seu alcoice mundano. — Mu se corrigiu. — Para me tornar um dos gerentes. De quebra também assumi uma segunda função, a de marido substituto.

— Como é que é? Marido substituto? — Saga perguntou assustado e confuso.

Shaka fechou os olhos e suspirou. Finalmente tinha entendido tudo.

— Isso mesmo — continuou o ariano. — No seu lugar e em seu nome fui eu quem forneceu à Geisty todo o amparo emocional e financeiro que ela precisou durante esses seis anos, o que inclui, além da minha presença, proteção, companhia e amizade, os presentes de aniversário, os de casamento, os jantares, o lazer, a atenção e tudo o mais que cabe a um bom marido fornecer à sua esposa, como manda as leis do sagrado matrimônio. Eu fiz tudo o que era de sua obrigação fazer, Saga, eu só não dormi com ela, óbvio... Nessas pasta estão declarados, comprovados, calculados e devidamente reajustados com a mudança monetária da nossa economia e os devidos percentuais de juros, todos os gastos que tive com a sua esposa nesses seis anos, os quais, lógico, saíram do meu bolso.  

— Eu... eu não estou acreditando nisso! — Saga disse perplexo enquanto folheava uma das pastas e corria os olhos por uma infinidade de números e notas fiscais.

— Pois acredite. Agora que você, um homem honesto e responsável, retornou para o mundo dos vivos, já pode então pagar o meu reembolso. Se por acaso não conseguir levantar a quantia para me pagar à vista, eu posso facilitar para você. Aceito em parcelas... Só que aí terei de acrescentar a estas os juros compostos, além de uma taxa de mora.

Quando terminou de falar Mu olhou para Shaka, que tinha a boca aberta e os olhos arregalados. Sabia que durante os seis anos que Saga estivera ausente, Mu deu todo apoio e suporte à Geisty, inclusive por muitas vezes sentira ciúmes dos presentes e da atenção que o ariano desprendia a ela, sentindo-se mal depois por estar sendo egoísta. O que nunca lhe passou pela cabeça era que Mu cobraria de Saga até mesmo os ingressos do cinema que iam juntos para distrai-la.

Gêmeos por sua vez, de tão atônito não conseguia esboçar nenhuma frase, apenas mantinha a boca meio aberta e corria os olhos pelas pastas sem absorver nada do que tinha lá dentro.

Já Mu era a própria cara da satisfação. O ariano só lamentava não estar presente quando Saga finalmente começasse a ler e dar-se conta de cada item descrito nas notas.

— Bom. Agora sim você pode ir — disse Mu, que sem perder tempo tomou o bule com chai das mãos de Shaka e o colocou sobre a mesa. Em seguida ele pegou na mão do virginiano e o conduziu para fora da cozinha. — Venha, Luz da minha vida. Vamos pegar as cuecas e voltar ao hospital. Não se misture com essa gentalha!

Saga ficou ali congelado até conseguir piscar os olhos e vencer a perplexidade instaurada em seu espírito.

***

Templo do Grande Mestre, 11:00am

Aberta nas mãos do cavaleiro de Gêmeos estava a primeira pasta.

Na capa uma etiqueta amarela marcava o ano de 2002.

Quando ele folheou as primeiras páginas, uma dezena de cupons fiscais escorregaram para fora e se espalharam no chão.

Ele abaixou-se a contragosto e apanhou alguns, os conferindo em seguida.

— Mas... que porra do cacete é essa? — exaltou-se com o que viu logo nos primeiros cupons.

Incrédulo voltou à pasta, então sentiu a testa esquentar e as mãos suarem. Deu um gole nervoso no chá de menta gelado e enxugou as palmas esfregando as mãos no tecido do manto branco que lhe cobria o corpo.

— Tiffany&Co? Puta que me pariu de cócoras! Tiffany&Co! — repetiu quase engasgando enquanto conferia os valores das compras feitas na famosa joalheria.

— Ela se casou de novo, por acaso? Porque só isso justificaria o preço por um mísero anel e... O que é isso?... Dior? Não. Não mesmo! Isso só pode ser obra do corno peludo do Hades!... La Marseillaise coiffeur... 200 Dracmas para contar uma franja? Que caralho!... E para que tantos presentes? Ele fez de propósito, aquele ariano rancoroso com quatro planetas em capricórnio! Nem Shura me aprontaria uma dessas.

Esfregou nervoso a testa suada.

— Como eu vou pagar tudo isso? Eles acham que eu tiro dinheiro do meu... Espera ai! O que é isso? CT? — passou os olhos pelas outras compras e a mesma sigla aparecia em várias delas. — Que porra é essa de CT no valor de 350 Euros? 

Curioso e aflito foi direto para a última página, então leu em voz alta:

— Taxa de compensação... Taxa de compensação pelo quê? Mas que porra de taxa é essa? O Mu só pode estar querendo arrancar as minhas hemorroidas! Tá me cobrando um imposto que eu nem sei sobre o que é. Filho da puta!

Indignado Saga procurou pelo recibo referente ao lançamento daquela compra taxada em específico. Ficou absorto quando viu do que se tratava.

— PARA A PUTA QUE ME PARIU! UM URSO DE PELÚCIA? — berrou soltando perdigotos na folha de nota. — OS CARALHOS DO HADES QUE ME FODAM! QUEM DÁ 350 EUROS EM UM URSO DE PELÚCIA?

E assim a tarde se seguiu. O valor final da dívida fez o Santo de Gêmeos trocar o chá gelado por uma dose dupla de antiácido para o estômago e uma aspirina para enxaqueca.

 

TC – as taxas de compensação pelos chiliques de ciúmes do Shaka.

 


Notas Finais


Uma das coisas que nós mais amamos ao escrever o Templo, é que essa fic é única... a quantidade de tosqueira que podemos por nela não tem limites, e quanto mais a gente poe melhor fica uhuhahUHUHAHUHAH

toda vez que surge a oportunidade de por referência tosca e a duvida surge: será que deveríamos por isso? Não é tosco demais? A RESPOSTA É SEMPRE SIM! PÕE MAIS QUE É O TEMPLO... O TEMPLO PODE UHAUHUAHUH

Nosso grupo no face "Fics trio ternura"
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Cap no Nyah:
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