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CAPÍTULO 2
A FLOR QUE VIAJA
Aos arredores de Bernia – Britânia, dias atuais.
— Sate, sate, sate... Quem diria que você ia mesmo se casar comigo, heim? Aposto que não colocou fé naquele pedido de casamento. — Meliodas erguia as sobrancelhas indagativas sem parar, arrancando uma risada de Elizabeth.
— Achei que não estava falando sério, para mim éramos apenas crianças da mesma idade. Agora eu sei que você não era mesmo uma criança... Os anos foram passando, eu fui envelhecendo e você permaneceu o mesmo... Como eu gostaria de voltar no tempo meu amor... — Ela apertou a mão do loiro e ele deitou a bochecha em sua mão.
— Por que não vamos lá fora um pouquinho?! Está um dia tão bonito e você gosta tanto... — Ele sabia que o médico recomendou repouso, mas se ele a levasse no colo não teria problemas. Acariciou gentilmente o rosto pálido e afastou algumas mechas de cabelo as prendendo atrás da orelha. Os lábios de Elizabeth sorriram em uma linha fina.
— Está bem. Acho que será muito bom pegar um pouco de sol e sentir o cheiro do campo. — Assentiu.
Com isso, Meliodas a tomou em seus braços com todo o cuidado. Desceu as escadas cautelosamente carregando Elizabeth em seu colo, ela já estava habituada a isso, mas o fato de precisar ser carregada lhe incomodava profundamente. Se sentia um fardo para Meliodas, mesmo que ele dissesse ao contrário.
— Quer ficar na varanda ou prefere ir ao balanço? — Questionou ele.
— Ao balanço, quero ficar mais perto da natureza. Por favor, me coloque no chão, quero sentir a grama em meus pés. — Ela pediu gentilmente.
— Tem certeza de que consegue andar até lá? É um pouquinho longe até a árvore Ellie... — Evidentemente seu tom era de preocupação, mas Elizabeth o interrompeu.
— Eu consigo Meli, não se preocupe tanto assim comigo... — Ele se deu por vencido diante do sorriso doce.
“Como se isso fosse possível” – Pensava ele. Tudo o que fazia era se preocupar com ela, a cada segundo, era inevitável.
Elizabeth suspirou de felicidade ao tocar os pés na grama, a sentir o sol aquecer sua pele, o vento no rosto a esvoaçar seus cabelos e por sentir o aroma fresco das flores silvestres. Era revitalizante para seu corpo, mente e alma. Fazia uma semana desde a última vez que esteve ali fora, o máximo que teve nesses últimos dias foi a janela de seu quarto aberta, o que para ela era pouco. Infelizmente, estava se sentindo cada vez mais fraca e o médico recomendou repouso absoluto, porém hoje, sentia-se um pouco melhor, recordar os momentos com seu amado lhe trouxe mais ânimo e força.
A passos vagarosos se dirigiram até a grande árvore onde dois balanços foram construídos por Meliodas anos antes. Ele ajudou sua esposa a se sentar de vagar e se sentou no balanço vago em seguida. Ambos permaneceram admirando o belo lugar e desfrutaram do silêncio, onde apenas o canto dos pássaros, das folhas dançantes e do riacho de nome “Forte Solgales” que ficava próximo eram audíveis, formando uma delicada melodia.
— Se lembra do que aconteceu depois que nos conhecemos? — Meliodas quebrou o silêncio permitindo que as memórias dominassem sua mente mais uma vez.
— Nós nos tornamos melhores amigos, fazíamos tudo juntos. — Ela respondeu de imediato com uma expressão que revelava sua nostalgia.
— Corríamos por esses bosques sem parar. Você sempre corria de mim, fazendo com que eu te perseguisse, brincando de pega-pega... Eu sempre corri atrás de você, te perseguindo como se fosse algo inalcançável, como se não importasse o quanto eu corresse, o quanto eu me esforçasse eu jamais poderia... — Meliodas apertou os olhos e contraiu os lábios ao perceber que esse assunto era uma analogia a verdadeira realidade. Engoliu as palavras e preferiu não continuar, tal vertente poderia levar ao despertar das memórias de Ellie.
— Mas você me alcançou, eu estou aqui com você, você sempre me teve, eu sou sua, eu sempre fui sua Meliodas... — Meliodas arregalou os olhos e seu coração acelerou forte contra o peito. Uma memória de antes da Guerra Santa começar chegou fresca em sua memória onde Elizabeth usou basicamente aquela mesma frase.
“Seria um sinal de que as memórias dela estaria voltando?” – Se questionava internamente. Mas quando não houve nenhuma manifestação nos segundos seguintes ele relaxou os músculos, aliviado.
— Você sempre será minha Ellie e eu sempre serei seu. Isso é incontestável. — Os olhos dela brilharam, uma lágrima teimosa de emoção insistiu em cair. Ele era um ser único que a fazia sentir como a pessoa mais especial do planeta. Não entendia como ou porquê, mas sabia que esse amor que sentiam era mais forte que qualquer outra coisa no mundo. — Se recorda como você me deixava louco? — Mudou para um assunto mais alegre, oferecendo um sorriso levado.
— Meliodas! — Chamou seu nome em tom de repreensão. — Já estou velha para lembrar dessas coisas.
— Para mim você continua maravilhosa... — Disse, apertando levemente o queixo da platinada.
Vilarejo de Vaizel – Britânia, 76 anos antes.
O tempo continuou a correr depressa, cinco anos se passaram desde que se viram pela “primeira vez”. Os dois caminhavam tranquilos, se afastando morosamente do vilarejo para uma área mais calma aos arredores. Elizabeth agora estava com 17 anos e havia se tornado uma jovem de beleza rara qual era motivo de admiração de todos em seu vilarejo.
Meliodas caminhava pensativo com as mãos nos bolsos, já ela ficou agitada como sempre, parava em cada conjunto de flores para sentir o doce aroma que exalavam. Essa era a beleza de não se lembrar de nada sobre suas vidas passadas, para a platinada tudo era novo, o mundo era grande demais e possuía cores vivas e brilhantes diante de seus olhos, já para Meliodas era tudo mais do mesmo. Os dois mil e quinhentos anos que viveu até ali, lhe deixaram entediado sobre quase tudo. O mundo apenas se tornava belo e ganhava cor quando Elizabeth caminhava sobre ele exibindo seu sorriso.
— No que está pensando? — Indagou ela, chamando a atenção do loiro.
— Sobre quando vamos nos casar. Não faz ideia do quanto eu quero você. — A voz dele saiu um pouco rouca e até mesmo sensual na opinião de Elizabeth. Mesmo não tendo experiência nenhuma sobre esses assuntos seu corpo estremeceu diante daquela declaração repentina.
— O que quer dizer exatamente? — Suas bochechas se tornaram rubras.
— Hm... Que depois que nos casarmos eu poderei... hm... te beijar quando eu quiser. — Ele contraiu os lábios segurando seu sorriso. Ele estava sendo gentil, respeitando a ingenuidade e inocência dela. Na verdade, lá no fundo, ele adorava isso nela. Ele gostava de lhe guiar, de lhe ensinar as coisas do mundo.
— Em breve farei 18 então poderemos ficar juntos para sempre Meli. — Ela sorriu alegre e depositou um beijo suave em sua bochecha o pegando desprevenido. Foi inevitável para ele não sorrir.
— Mal posso esperar... Mas em quanto o dia não chega, por que você não me adianta alguns beijos, heim?! — Sugeriu de forma perspicaz.
— Está bem, eu te dou um beijo se você conseguir me pegar. — Sua risada um tanto infantil e alegre iluminou o ambiente e a platinada saiu correndo tomando a dianteira.
Meliodas poderia alcançá-la facilmente, dado sua velocidade, porém precisava fingir que era apenas um humano normal, além disso, ele adorava a expressão que ela fazia por achar que estava sendo mais ágil que ele, ela ficava tão feliz e tão linda correndo por aquele campo. Ela lhe parecia um anjo, que realmente era, mesmo sem suas asas.
Ele a perseguia e a risada contagiante dos dois ecoava pelos pomares. Vira e mexe Meliodas quase a pegava, errando propositalmente, permitindo que ela se esquivasse. O coração dos dois batiam forte contra o peito, estavam imersos naquela dança, sentiam uma felicidade tão imensa que juravam que seus corações poderiam explodir a qualquer instante. Desejavam poder eternizar aquele momento.
— Te peguei! — Ele finalmente a alcançou segurando sua cintura fina, ela soltou um gritinho pelo susto e começou a rir ainda mais em seguida.
Os dois se abraçavam de forma desengonçada, estavam tão imersos um ao outro que não se deram conta de que estavam a beira de um pequeno declive, acabaram caindo e rolando juntos lateralmente. O local estava repleto de dentes-de-leão ou flor-que-viaja, se assim preferir. Parecia um oceano de plumas translucidas. Com o movimento dos dois apaixonados rolando por entre os talos, uma imensidão de pequenos guarda-chuvinhas brancos vacilantes, começaram a se destacar do miolo e em seguida flutuaram e zarparam em bandos com o vento.
Meliodas protegeu o corpo de Elizabeth mesmo quando também caía, ela não possuía nem mesmo um único arranhão, só estava um pouco suja e alguns galhos e folhas secas estavam presos em seus cabelos longos. Meliodas acabou parando por cima dela e após o pequeno susto soltaram uma risada que aliviou o nervoso breve que passaram. Elizabeth ergueu a cabeça e seus olhos correram pelo olhar intenso do loiro e pelas pequenas pluminhas que se espalhavam pelo céu. Parecia um momento mágico que fora desenhado apenas para os dois.
O olhar do loiro estava fixo nos lábios rosados da platinada, não suportava mais, precisava beijá-la, afinal havia conseguido a pegar e um beijo lhe fora prometido como recompensa. Afastou alguns fios de cabelo que cobriam o rosto corado e se inclinou sobre ela. Os lábios mornos tocaram os lábios trêmulos de Elizabeth, que sempre ficava nervosa quando ele se aproximava daquela maneira.
Meliodas estava extasiado, era incrível ter o corpo quente abaixo de si e desfrutar da maciez e doçura daquela boca pequena. Toda vez que ele a tocava seu coração se enchia de saudade e nostalgia, parecia surreal. Elizabeth sentia-se eufórica, seus sentimentos estavam a mil por hora vivenciando o seu primeiro, grande e único amor. Mesmo que a razão dos sentimentos dos dois fossem por motivos diferentes, ambos estavam vivendo aquele romance com toda a alma.
Os lábios dela raspavam nos dele com ternura, então o loiro contornou o lábio inferior de Elizabeth com a língua, despertando na platinada desejos e sensações desconhecidos. Com isso, Meliodas invadiu sua boca, deslizando sua língua pela dela, aprofundando aquele beijo, o tornando mais intenso. Ele sugava a língua alva para si e sua mão astuta percorreu o busto farto, fazendo-a arfar e soltar um gemido tímido contra a boca dele. Cada átomo de seu corpo a desejava ardentemente, já fazia quase vinte anos desde que a possuiu pela última vez e ele estava ficando louco de saudade e desejo.
Tinha perdido o juízo, se deixou levar pelos prazeres carnais, se deixou levar por aquela saudade insuportável de sentir o corpo quente e suado junto ao seu, por um instante esqueceu das consequências. Tudo que ele queria e conseguia pensar no momento era tomá-la para si e saciar sua fome por amor.
Cheio de desejo trilhou beijos saudosos pelo maxilar, queixo e pescoço delicados, enquanto apertava os seios por cima das vestes e pressionava o quadril contra o dela, desfazendo um pouco a pureza intacta de Elizabeth, que soltava gemidos contidos e viu seu corpo entregue aos arrepios e sensações deliciosas que o noivo lhe fazia sentir. Não sabia o que era aquilo, nunca passaram dos beijos até então, mas estava gostando do que estava descobrindo. Sua mãe já havia tido uma conversa estranha com ela sobre que após o casamento os beijos ficavam mais intensos. “Talvez fosse sobre isso que ela se referia” – pensou ela tamanha era sua ingenuidade.
De maneira repentina alguns lampejos invadiram a mente de Elizabeth, ela viu a sua própria imagem refletida nas águas de um lago. Magníficas asas brancas estavam presas às suas costas e olhos em tom âmbar com um símbolo estranho no lugar da pupila. Ela afastou os lábios dos de Meliodas instantaneamente, tinha sido uma imagem tão detalhada e tão real que lhe deixou intrigada e até mesmo um pouco assustada. O loiro estranhou quando ela se afastou e fitou preocupado o rosto dela que transparecia confusão.
— O que foi? Eu passei dos limites, não é?! Eu aguardo até o dia do casamento, por favor não fique chateada. — Ele estava decepcionado consigo mesmo. Perdeu o controle, se deixou levar pelo desejo e pela saudade. Às vezes ele esquecia que para ela tudo era a primeira vez.
— Não, não é isso... É que eu tive uma visão esquisita... Eu era um anjo... Ah eu estava tão linda com aquelas asas... Acho que não é só você que é um anjo. — Ela riu baixinho consiga mesma. — Meli... Você acha que é possível que eu seja um anjo também? Como uma Deusa das lendas que minha mãe me conta sobre os clãs? — Indagou repleta de um entusiasmo inocente.
Durante todo o discurso dela Meliodas permaneceu paralisado e com os olhos arregalados. A aproximação intensa e irresponsável da parte dele, estava despertando as memórias dela. Seu corpo começou a tremer tamanho era o medo e desespero de perdê-la novamente e sua mente foi invadida por imagens cruéis em que presenciou sua amada morrer diante de seus olhos centenas de vezes.
Ellie percebeu seu estado, ficou preocupada e começou a chamar por seu nome, mas por longos segundos ele permaneceu pasmo, pálido. Muitas vezes o medo nos impede de pensar com clareza e era isso o que estava passando com ele. Logo um estalo lhe trouxe de volta, procedente de sua força de vontade de salvá-la. Se levantou rapidamente em busca da bolsa de palha que acabou caindo próximo quando os dois saíram rolando pelo declive. Encontrou o que procurava com o coração cheio de alívio pelo frasco não ter quebrado.
— Por favor beba isso! — Ergueu o frasco que continha um líquido cor de ameixa em direção dela.
— O que é isso? — Questionou confusa, achando o comportamento dele muito esquisito.
— É um refresco, por favor Ellie, beba antes que seja tarde demais. Você precisa beber. — Seu tom de voz era de desespero, ele sabia que não tinha muito tempo até que a mente dela fosse imersa ao passado e inevitavelmente despertaria a maldição.
— Mas... — Ela tentou argumentar, porém ele a interrompeu.
— Você confia em mim? — Indagou ele, a encarando com aqueles penetrantes olhos verdes-esmeralda.
— Confio... — Ellie não conseguia ver maldade em seu olhar, pelo contrário, apenas enxergava amor e bondade extrema, sabia que Meliodas nunca lhe faria mal e então pegou o frasco e bebeu o líquido.
— Você está bem? — Indagou ainda preocupado que tivesse sido tarde demais. Ela permaneceu longos segundos calada e seu rosto não esbanjava nenhuma expressão.
— Meli... Por-por que... você... parou de me beijar? — Indagou com a voz tímida e tão baixa que era quase inaudível, suas bochechas estavam surpreendente rubras.
Meliodas respirou profundamente por puro alívio. As lembranças dela haviam voltado no tempo, antes de ter tido aquela visão sobre a vida passada. A última coisa que se lembrava era dos beijos calorosos que estavam trocando minutos antes.
— Você é tão pura que eu não quis te assustar passando dos limites... — Inventou uma desculpa. Segurou o queixo dela e depositou um beijo morno na bochecha rosada, sentindo-se mais do que agradecido pelo pior não ter acontecido. Precisava ser ainda mais cauteloso de agora em diante.
Após este evento, Meliodas passou a colocar a poção de Merlin nas bebidas de Elizabeth sempre que podia, chás, cafés e refrescos, assim ela estaria mais segura. Percebeu que as memórias da vida atual permaneciam intactas e que a poção apenas impedia que as lembranças das vidas passadas viessem a tona, como Merlin lhe garantiu.
— Obrigada por me entender e ser tão bom para mim. Mal posso esperar pelo nosso casamento e para passar o resto da minha vida ao seu lado. — Ela segurou a mão de Meliodas e depositou um beijo suave no dorso.
— Eu também Ellie! — Ele lhe puxou para um abraço, aproveitando que ela não poderia ver sua expressão entristecida. Ele não tinha muitas esperanças de que o desejo dela se realizasse, suas vidas nunca eram longas o suficiente. Mas mesmo sem fé ele daria tudo de si para lhe manter viva o máximo de tempo possível. Era o mínimo que ele podia fazer por ela.
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