História Tempo, tempo. - Visita desagradável!

Calada, sem saber o que responder para Maria, Benê voltou a tocar. Percebeu que era observada pelos olhos curiosos da pequena. Se afastou do instrumento para que a menina se aproximasse. Maria retomou a música do princípio e para o encantamento de Benê, acertou o pouco que Benê, havia “ensinado"... A menina repetiu, Benê se emocionou, até que Maura as interrompeu:

— Maria, vamos almoçar?! 

A menina balançou a cabeça se negando a ir. Mas Benê lhe garantiu:

— Pode ir Maria, depois a gente continua!

A menina saiu em disparada, em seguida, Maura, percebendo o brilho nos olhos de Benedita, afirmou: 

— Ela é um encanto.

— Sim! E leva jeito pra música, mesmo sendo tão pequena. - Benê.

— Ela adora! E a gente aqui incentiva muito. É importante para o desenvolvimento dela. - Afirmou Maura.

— A família dela é muito humilde?! 

— A família da Maria?!

— Sim! Pai, Mãe... 

— A Maria é órfã de mãe. O pai, ninguém sabe do paradeiro! Ela vive num abrigo do governo, porém, passa o dia todo, aqui com a gente, enquanto não conseguimos matriculá-la numa escola. - Explicou Maura.

— Órfã... Não tem mais ninguém por ela?! - Insistiu Benê.

— Por ela, ninguém! Existe uma negligente avó que quer distância da neta. A gente tem a esperança que ela seja adotada, mas é muito difícil! - Finalizou Maura.

— Difícil?! - Benê.

— Ela foi diagnosticada com dois anos. E de lá pra cá, quanto mais o tempo passa, mais difícil fica... Infelizmente. - Lamentou Maura.

As palavras de Maura deixaram a pianista ainda mais tocada. A história da pequena Maria muito havia lhe comovido. Benê e Estela acabaram por aceitar o convite de Maura e ficaram para o almoço. Brincaram e interagiram mais um bocado com os pequenos. Maria e a pianista, dividiram o Xilofone, mais um pouco... Até que chegou a hora da despedida. A menina nada disse, apenas ouviu de Benê a promessa que voltaria, e de fato, as duas de certa forma sabiam que voltariam a se encontrar. 

O fim de tarde caía em São Paulo, quando Benê chegou em casa. Recebida pelo apaixonado esposo, foi avisada que Keyla queria se reunir mais tarde, com as amigas, no galpão. 

Enquanto terminava de se aprontar, ela contava pra Guto da instituição, da organização, de como foi bom passar o dia com Estela e claro, de Maria. O visível entusiasmo de Benê chamou a atenção do pianista:

— Essa menina te conquistou! 

— Eu fiquei feliz em ter conhecido ela! E acho que ela também gostou de me conhecer. - Disse Benê sorrindo.

— Você é ainda mais linda, sorrindo! - Guto.

— Para Guto! - Disse ela corando de vergonha.

— Acho melhor você se apressar, se ainda quiser me levar lá no galpão. -  Avisou ela.

— Tá... - Ele bufando.

— Tô te esperando lá embaixo! - Benê.

Benê descia as escadas, apressou-se ao ouvir o toque da campainha. Ao atender a porta, deparou-se como uma desagradável visita.

— Benedita! Como vai?! - Perguntou Hélio, forçando certa simpatia. 

A moça nada disse! Apenas olhou pra Viviana que acabara de entrar na sala.

— Senhor Hélio?! O que deseja?! - Perguntou Viviana se aproximando.

— A Benedita não fala?! - Hélio.

— Viviana, fala pra ele entrar. - Disse Benê já nervosa.

— Ah... Ela só não fala comigo!! - Provocou o homem.

Benê olhou para aquele senhor e disparou!

— Não! Eu não faço questão de lhe dirigir a palavra e tampouco de lhe ouvir! Entre, sente-se e espere pelo Guto. Logo ele virá recebê-lo. - Disse Benê saindo em seguida.

Hélio já havia feito tanto mal para Benê que sua simples presença a incomodava. Para ela, era impossível ficar no mesmo espaço que ele. Não era ódio! Era asco, nojo mesmo. 

Quando Guto finalmente desceu, encontrou seu pai em sua sala, logo questionou, em tom de incredulidade.

— O que você faz aqui?! 

— Augusto... - Cumprimentou ele.

Guto custava a acreditar! O que será que aquele homem queria...