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História Tempos Áureos - Retorno ao lar


Escrita por: IchygoChan

Notas do Autor


Olá, meus docinhos, a fic demorou a sair porque eu não tinha um plot para ela, mas agora eu tenho e em breve vou fazer o desenho do mundo e explicar direitinho, ok? 

Capítulo 7 - Retorno ao lar


O ar gélido da noite não era capaz de esfriar sua pele, tampouco o impedir de continuar a avançar pela mata densa.

Agora adulto, suas forma humanoide possuía menos características, impedindo-o de se camuflar em meio aos humanos e o tornando facilmente identificável. Poderia reclamar a pouca sorte daquele detalhe, visto que a maioria dos outros dragões podiam se camuflar com mais facilidade, mas não o faria, simplesmente por detestar a aparência semelhante a dos assassinos de seu povo. De acordo com os sacerdotes, sua aparência era diferente por ser um dragão mais poderoso que os demais, cuja magia ancestral, herdada de seus antepassados, o impedia de assumir uma forma parecida com a dos humanos por completo ou mesmo por um longo período. Com o tempo, a medida que a maturidade o alcançasse, retomaria aquela forma com menos frequência, mantendo-se em sua forma natural com mais frequência.

Eijiro pouco se importava com aquele detalhe, crente de que faltava pouco para encerrarem de vez aquele contrato forçado que permitia a coexistência de humanos e dragões. Em breve todos estariam a salvo, distantes daquela espécie mesquinha de bípedes egoístas. 

Atravessou o bosque chegando enfim a clareira onde expurgou os pensamentos, concentrando-se em sua tarefa. Com um gesto leve, acenou no ar, desativando a magia de camuflagem, fechando os olhos ao ver o corpo inerte da amiga. Demorou dias para finalmente encontrar a coragem necessária para se despedir, envolvendo-a em uma magia de preservação enquanto buscava em si a coragem suficiente para o que deveria fazer. No mesmo instante lembrou-se de todas as brincadeiras e momentos partilhados, alegrias e confissões que ficariam para sempre na memória. 

— Mina... — sussurrou se aproximando devagar e tocando as escamas frias. Logo ela que era a mais calorosa e amigável de todos, sempre serelepe e cheia de vida. Seus risos foram silenciados a força pela brutalidade do humano que jurou ser amigo de Eijiro para sempre — ... me perdoe por não poder te proteger. 

A dor em seu coração o machucava, mas não era capaz de lhe arrancar nem mesmo uma única lágrima, que empoçavam vagamente sem cair, o que o machucava ainda mais. Havia perdido tantos dos seus, pranteado por tantos anos que suas lágrimas haviam secado, morrido junto com sua esperança e alegria, jazendo em algum canto escondido em seu coração. 

Beijou-lhe uma última vez, afastando-se enquanto a fitava com carinho. Eles haviam arrancado-lhe o coração, mas o deixaram para trás no processo de fuga. Eijiro o tocou com a palma da mão aberta, queimando-o primeiro, até que restassem apenas as cinzas. O mesmo coração cativante que acolhia a todos, sempre aberto e carinhoso agora não passava de cinzas. 

Com uma das garras, abriu um talho em ambos os pulsos, permitindo que o sangue minasse e rodeou o corpo da amiga, deixando-o pingar no chão enquanto recitava, em seu dialeto materno, a oração solene ensinada a eles por sua deusa Na'ha, mãe criadora de todos os dragões, afastando-se assim que concluiu  o círculo mágico. Inspirou profundamente, apagando qualquer pensamento e se concentrando. Com movimentos fluídos e graciosos, iniciou o ritual, movendo os braços enquanto invocava a generosidade e presença de sua divindade. Seu sangue brilhou dourado como ouro, erguendo-se com linhas de energia e criando uma redoma. 

— Mãe Na'ha, receba mais uma filha e a acolha ao seu lado até o nosso reencontro. — clamou em sua voz de dragão, desconhecida a ouvidos humanos. 

Eijiro reassumiu sua forma majestosa, tão grande quanto as árvores mais robustas e três vezes mais visível, pesado e intimidador. Seus olhos reptilianos miraram a amiga enquanto preparava-se, inalando o ar e ativando seus pulmões de dragão, expelindo uma enorme bola de fogo que foi sugada para dentro da redoma. Com o olhar incitou o fogo não só a queimar, como a condensar em um espaço menor, extinguindo-o até que apenas as cinzas restassem no meio do círculo, em uma esfera negra, comprimindo-se cada vez mais, até atingir um estágio semelhante ao de uma pedra que caiu quando Eijiro desativou o círculo, reassumindo a forma humana e se abaixando para pegar o amuleto. 

Encontrou-o entre a terra queimada, um belo diamante rosa brilhante. Acolheu-o em sua palma, levando aos lábios e beijando antes de apertá-lo junto ao coração. 

— Nós ainda nos veremos novamente, Mina, eu prometo — abriu a mão encarando o cerne do diamante que brilhou intensamente. A essência dela permanecia viva dentro da joia e brilharia para sempre. 

Aprumou-se se afastando enquanto a guardava na pequena bolsa que trazia presa a cintura, cuidando para que não caísse. 

********

Três dias de viagem até chegar ao seu reino. Os músculos de suas asas imploravam por descanso e a magia estava para findar, necessitando ser reposta com uma noite de sono decente e revigorante, algo que não tinha há dias.

Agradeceu a bondade de sua deusa quando avistou as cordilheiras familiares. A primeira vista, era apenas um conjunto de montanhas, altas demais para qualquer humano alcançar, e potencialmente desinteressantes por não se destoarem do restante da paisagem, tão comum que passaria despercebido. Eijiro rugiu alto, e as ondas de som emitidas pela sua potente voz abriu uma passagem na redoma protetiva do reino de Selkis, permitindo que ele adentrasse e se fechando em seguida.

Pousou em um dos diversos pináculos, esgueirando-se como um lagarto para dentro da câmara onde reassumiu a forma humanoide, tendo o cuidado de recolher as asas e cauda para não acertar os demais. Seus pés se assemelhavam aos de uma harpia, com três poderosas garras e os chifres davam-lhe um aspecto respeitoso, uma vez que na sociedade dracônica o poder de um dragão dá-se por sua forma física. Quanto mais semelhante a um dragão em sua forma humanoide, maior o poder que reside em seu interior. 

Avançou pelos corredores, acenando as poucas pessoas que via. Sua espécie havia sido caçada com tanta ânsia pelos humanos que a população havia diminuído ao menos um terço.

Passou pelo berçário, observando os ovos que levariam de dois a cinco anos para chocar, saudando educadamente os cuidadores empenhados em sua função de energizar e manter seguros os que haviam passado do prazo esperado e ainda não aparentavam indícios de que chocar. Alguns infelizmente não vingavam e era levados ao Leito de Hibernação, local sacro onde descansariam respeitosamente. 

Não havia uma distinção de classes em seu reino, todos são iguais e importantes, independentes de seu tipo de magia e elementos com os quais possuem afinidade. Dragões não fomentam a ideia de hierarquia de poder, mesmo os de magia superior como Eijiro. O respeito direcionado a esses dragões estava ligado a sua crença de que haviam sido escolhidos e abençoados pela deusa e garantiam o poderio militar do reino em caso de contendas. Por isso, mesmo Eijiro tendo sido concebido pelo atual governante do reino, seu pai Lathan o justo, não se diferia em muito dos demais. A única diferença entre eles era sua formação militar e religiosa nada mais. 

O reino poderia se manter assim, com seu sistema justo e inclusivo, não fosse a influência de um dos clãs. De acordo com os dragões negros, os Neftis, o sistema obsoleto criado pela deusa Na'ah de convivência pacífica com os humanos deveria terminar para que os dragões reascendessem como espécie superior, subjugando as demais. Felizmente todos os demais clãs pensavam da mesma forma, convivendo em harmonia com os demais sem se importar com classes ou poder, sustentando a harmonia e paz que sua deusa ensinava. 

Dentre as classes de dragões, as mais raras eram as de dragões brancos e de fogo. A eles era sempre outorgado a missão pacifista de manter a ordem e harmonia entre os clãs, sendo os brancos incumbidos da missão do sacerdócio e oráculo, e os de fogo a força, agindo como guardiões da paz. 

No entanto estava havendo um aumento considerável do clã Neftis, e só de olhar a quantidade de ovos negros naquele berçário era possível compreender o que eles tinham em mente. Havia alertado seu pai para uma possível traição, um golpe de estado, tendo sido, em resposta, confrontado com a própria fé. 

— Nossa deusa não permitirá, nem eu enquanto estiver no comando, ou você quando assumir depois de mim. — fitou-o com os olhos repreensivos — Ademais sabe que não ferimos os nossos, e não podemos nem devemos descartar nenhuma vida. Lembre-se das palavras de nossa deusa, Eijiro: Toda vida é importante, independente de quão fraca, sublime, corrompida ou sacra ela seja. Por isso não atacamos os humanos a menos que seja para defesa pessoal, e mesmo assim, nunca para matá-los. 

— Mas pai, todos sabemos que os Neftis são contra a convivência harmoniosa com humanos e tem sede de poder, se deixarmos que eles cresçam em número não conseguiremos contê-los. — tentou argumentar. 

Calmamente seu pai se aproximou, colocando a mão em seu ombro para que se acalmasse.  

— Filho, somos Ved'niak, dragões de fogo, raros e poderosos, sabe bem que um de nós é capaz de parar ao menos vinte Neftis, sem contar os outros clãs, não nos subestime ou ignore o poder dos nossos irmãos. — Afastou-se, caminhando em direção a um dos criadouros para ajudar na criação dos animais — Não devemos temer os nossos como se fossem inimigos, mesmo que nos tragam desconfiança, sejam Neftis ou humanos. 

Aquela fala inflamou os ânimos de Eijiro. Não confiava nos olhares e postura dos Neftis, e quanto aos humanos, havia provado o bastante para não nutrir certo desgosto pela raça. 

— Mesmo que um tente nos trair e o outro nos mate? 

Lathan parou, encarando o filho e suspirando. Não podia repreendê-lo com fúria uma vez que havia sido culpa sua todo aquele rancor e mágoa que carregava no coração. Também já havia sido jovem e impetuoso pensado da mesma maneira ao se envolver com uma humana que não hesitou em trocá-lo por outro humano sem se importar com seus sentimentos.  

— Sim, meu filho. Somos criaturas pacíficas, feitas do amor de Na'ah, com o qual ela também criou os humanos. Mesmo sendo fracos, ambiciosos e bestiais eles ainda são nossos irmãos e devemos respeitá-los. 

Ele compreendia o pai e sua fé, mas também temia o que o destino reservava a eles. 

Rumou para a casa dos amigos, entrando sem anunciar sua chegada. Não haviam portas nas casas do reino e nem haveria porquê ter uma vez que eles conviviam em harmonia. Todos eram bem vindos para entrar e se retirar quando quisessem, sem obrigações de se manter em um lugar ou outro. Dragões são criaturas livres, criadas para conviver em grupo sem preconceitos. 

— Denki, Jirou... — chamou-os depois de rumar para a cozinha e não encontrar nenhum dos dois, se servindo de um pouco de carne e ambrosia para recuperar um poucos as energias. 

Fatigado, tomou um banho livrando-se de todo o cansaço da jornada e permitindo-se finalmente chorar pelo que havia acontecido. Havia saído com Mina para se encontrar com os humanos sacerdotes e retornara sozinho sem nem ao menos completar a missão. Permaneceu um bom tempo ali, parado, olhando para o balde de água, momentaneamente desmotivado e sem vontade alguma de continuar a se banhar. 

Foi surpreendido por Denki que entrou no banheiro, encontrando-o sentado sobre a banqueta e com o olhar perdido.  

— Por nossa deus, Na'ah, sagrada seja, não me permita ficar cego com essa visão do inferno — tripudiou  cobrindo os olhos ao ver o amigo nu. 

Ao ver o olhar animado do amigo, Eijiro sentiu todo o peso assentar ainda mais em seu coração, sem saber como poderia dar  notícia de que Mina não voltaria. Optou por se preparar antes, ao manter uma conversa trivial. 

— Se ela ainda não permitiu que ficasse vendo o próprio reflexo, pode ter certeza de que não será agora. — respondeu terminando de se banhar. 

— Só vejo beleza quando olho meu reflexo — Denki se gabou, passando a mão pelo rosto — Quando foi que chegou?

— Agora a pouco, não tem nem mesmo uma hora. E vocês, para onde foram que não estavam aqui para me receber? — brincou tentando camuflar a tristeza. 

Os olhos de Denki brilharam e um sorriso satisfeito se abriu em seus rosto. 

— Você não vai acreditar, Escarpa Lisa — quase explodiu enquanto falava — O nosso bebê nasceu, chocou hoje de manhã! 


Notas Finais


Quero ver se vocês descobrem como foi que o Eijiro conseguiu esse apelido de Escarpa Lisa. Vou dar algumas dicas: Infância, cachoeira, queda desengonçada. 


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