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História Temptation - Consequências


Escrita por: MoonlightLadyy

Notas do Autor


Ó QUEM VOLTOOOOU

É época de coronavairus, quarentena, então o que a gente faz? Isso mesmo! Atualiza as fanfics pra fazer uma surpresinha pros leitores e tirar todo mundo desse tédio!

Trouxe essa atualização surpresa pra vocês <3 Espero muito que gostem desse capítulo!

Muito obrigada por todos que estão lendo, comentando e favoritando! Eu tô muuuuuito feliz com o engajamento de vocês e por ver que estão gostando <3

BOA LEITURA!

Capítulo 5 - Consequências


Fanfic / Fanfiction Temptation - Consequências

"Quando ele finalmente moveu-se para o lado a fim de lhe dar passagem ela avançou às pressas, puxando a maçaneta sem se dar ao trabalho de fechar a porta atrás de si, enfim desaparecendo pelo corredor."

    O ecoar de seus passos pelo corredor vazio transmitia um ritmo claustrofóbico enquanto ela buscava alguma sala desocupada. Seus olhos estavam preenchidos por lágrimas enquanto os pés acusavam a pressa por desaparecer em algum lugar, a necessidade por fôlego parecia lhe sufocar enquanto sua mente trabalhava para repercutir a indesejada lembrança de todas as questões não-resolvidas que restavam entre eles.

    Não foi até que estivesse no quarto andar que encontrou o que almejava, finalmente reduzindo a marcha de seus pés até praticamente não retirá-los do chão. Sakura inspirou profundamente, a fluidez do ar travando várias vezes ao atravessar sua garganta; uma respiração falha e entrecortada em resposta ao esforço recente. Quando entrou na sala fechou a porta atrás de si rapidamente, o que veio depois foi inevitável. Recostou-se sobre a superfície de madeira, permitindo-se escorregar até que sentisse o chão abaixo de seu corpo. Arremessou então a mochila com certa força ao seu lado, comprimindo os olhos enquanto as lágrimas desgarravam-se sem cerimônias.

    Os soluços começaram baixos, mas tornaram-se audíveis à medida em que se entregava ao vão que lhe consumia. Sentia seu peito apertado, a garganta parecia prestes a fechar, uma palpitação despropositada tomando forma no centro de sua caixa torácica. Suor frio escorria-lhe o rosto e suas mãos trepidavam diante da ilusão de não conseguir respirar; era assim em todas as suas crises de pânico, aquela era apenas mais uma das incontáveis que acometiam seus dias.

    A vibração insistente proveniente do bolso da saia de seu uniforme a despertou, distraindo-a momentâneamente do conflito interno que estabelecia para recuperar o controle da própria respiração. Apanhou o aparelho sem vontade alguma, encarando a tela mediana apenas para constatar que - após três mensagens não visualizadas no aplicativo de texto - Sasuke a estava ligando. O direcionar de seu dedo até o ícone esverdeado no visor surpreendeu-a ao mostrar-se tão involuntário, mas felizmente manejou recuar antes que o touch detectasse a pressão de seu polegar sobre a lâmina delgada de vidro, recusando a chamada indesejada - mesmo ciente sobre o quanto aquilo o irritava.

    Finalmente desbloqueou a tela do telefone, abrindo a janela do chat, até então abandonada, que possuía com ele: “Onde você está?”, “Precisamos conversar.”, “Sakura?”. As três mensagens continham um tom de alarme, mas não fora isso o que prendera sua atenção. Anterior às sentenças que ele houvera enviado e a mensagem que mandara para ele naquela manhã, estava o último texto que trocaram, há pouco mais de três semanas, algumas horas antecedentes ao término do relacionamento que mantiveram ao longo daquele ano.

    “Quando estiver chegando me mande uma mensagem. Não gostaria de ser pego desprevenido saindo do banheiro enrolado em uma toalha como da última vez, mesmo que sua recepção tenha sido… calorosa.”

    A releitura da mensagem a aqueceu internamente, tornando inevitável o sorriso imperceptível que tomou seus lábios, mas que não durou muito tempo; o calor que sentia esmaecendo-se conforme as lembranças sobre o restante daquela noite retornavam à sua mente. O regresso da vibração no aparelho a sobressaltou, afastando-a dos próprios pensamentos para trazê-la de volta à realidade. Ele estava ligando mais uma vez e ela sabia bem que não poderia ignorá-lo para sempre. Então atendeu:
    
    — Alô. - Falou sem vontade, a monossílaba acobertando a voz embargada pelo choro.

    — Onde você está? - O tom dele transparecia toda a urgência que ela já esperava encontrar. Pelo descompasso da respiração ao outro lado da linha podia dizer que ele estava caminhando, rapidamente. — Sakura? - Indagou quando não obteve uma resposta, sua paciência parecendo mais curta do que o normal naquele dia.

    — No quarto andar. - Respondeu, apesar de não desejar encontrá-lo naquele momento. — Na sala ao final do corredor. - A chamada foi finalizada assim que concluiu sua sentença, retornando então o aparelho ao seu bolso.

    Levantou-se sem empenho algum, afastando-se da porta e caminhando em direção à mesa designada ao professor no centro da sala, sentando-se sobre a superfície enquanto procurava se recompor.

    Quando ele encerrou a ligação já se encontrava meia rampa acima em direção ao pavimento quatro, visto sua busca incessante pela aluna de cabelos cor-de-rosa que - até então - parecia ter evaporado da instituição sem deixar rastros. Os passos eram certos quanto ao rumo que tomavam, mas sua mente parecia guiá-lo para todos os lugares errados. A conversa no telefone, a tonalidade urgente que sua voz exprimia, a sensação de que ela estava a esconder-se para evitá-lo; todas aquelas condições remetiam à ele o fatídico dia em que beijaram-se pela primeira vez. Ali na biblioteca da escola, tornando difícil recusar a lembrança de ter os lábios dela sobre os seus.

    O primeiro passo que desferiu para entrar na sala foi acompanhado pela abertura brusca da porta, fechando-a atrás de si logo que passou e atraindo a atenção da única pessoa ali além dele: a menina sentada sobre a mesa de madeira. A troca de olhares estendeu-se por vários segundos, tornando o ambiente ambíguo a respeito do que ocorreria a seguir. Apesar de ter os objetivos claros em sua própria mente, ele não tinha certeza de como reagir agora que contavam apenas com a presença um do outro. Desde o rompimento do relacionamento, aquela era a primeira vez que encontravam-se a sós.

    Seu olhar promoveu uma avaliação minuciosa sobre ela: as pernas - à mostra por conta do uniforme curto - encontravam-se cruzadas, as mãos apoiadas sobre a superfície, uma a cada lado de seu corpo, enquanto se inclinava para frente. O nariz avermelhado, bem como a esclera de seus olhos, tornando óbvio o fato de que ela estivera chorando. Sakura, por sua vez, desviou o foco até os próprios pés após observá-lo entrar, procurando ignorar os passos - demasiadamente lentos - que ele depositava ao caminhar em sua direção, inquietando-a.

    — Achei que houvesse ido embora. - A voz dele era tranquila, contrastando com a entonação que possuía ao telefone há poucos minutos.

    — Como pode ver, eu ainda estou aqui. - O encarou de soslaio, ciente sobre a ausência de paciência em sua sentença e ele uniu as sobrancelhas, desaprovando a petulância gratuita por parte dela.

    — O que foi aquilo? - A pergunta dele soava como uma acusação e ela franziu o cenho em resignação, sua irritação tornando-se visível mais facilmente do que o usual.

    — O que te faz pensar que eu possuo a resposta para esta pergunta? - Sabia estar respondendo uma indagação com outra, porém não se conteve. A nota de escárnio em sua voz era inevitável, mesmo ciente sobre o quanto ele odiava quando se comportava de maneira afrontosa.

    Se era uma resposta educada que ele almejava, seus questionamentos também haveriam de estar de acordo.

    — Não seja mal-educada. - O estreitar de olhos por parte dele era uma advertência explícita. — Sakura, eu preciso que seja honesta. - A pausa que se seguiu a fez prender a respiração. — Você contou a alguém sobre nós dois?

    O proferir daquelas palavras causou uma reação inesperada até mesmo para ela. O fôlego, antes contido rigorosamente em seus pulmões, fora libertado em um riso anasalado que rapidamente preencheu o ambiente, tornando o desagrado na face dele ainda mais notório. — Oh, você está falando sério! - De repente ela também estava sóbria, uma surpresa fingida expressa em seu rosto. — Desculpe, eu achei que não existisse mais “nós dois”. - A confusão em seus olhos era teatral e ele sabia, mas aquilo não o impediu de se sentir irritado.

    Ela estava diferente: mais fria e sarcástica. Assemelhava-se pouco com a jovem com quem mantivera um relacionamento durante quase um ano inteiro. Ele tinha conhecimento de que Sakura conseguia ser petulante quando desejava; as poucas discussões que ocorreram enquanto ainda estavam juntos era uma constatação - agora longínqua - de que a língua dela não era afiada apenas para responder perguntas durante as aulas. Ainda assim, era um desapontamento atestar o quanto ela havia mudado.

    Era com enorme dificuldade que tentava reconhecê-la através do reflexo de sua imagem nos grandes olhos verdes, mas falhou.

    — Eu não acredito que realmente esteja perguntando isso, mesmo que eu pareça diferente: não estou, sou a mesma de antes. - Ela disparou, aquelas palavras levando-o a imaginar se agora Sakura também era capaz ler sua mente.

    Seus lábios contraíram-se em uma linha rígida enquanto ele discorria mentalmente sobre como diabos ela conseguia falar a respeito do que se passava em sua cabeça com tanta propriedade. Não gostava de admitir, mas a realidade era que, durante o período em que se relacionaram, ela havia manejado lê-lo como um livro; daqueles ilustrados, escrito para crianças.

    — Você realmente acredita que eu faria algo tão detestável assim? Que destruiria sua vida porque terminou comigo? Eu achei que me conhecesse pelo menos um pouco. - As sílabas saíram entredentes. Ela estava séria novamente, embora aquele tipo de sobriedade fosse inédito para o momento.

    O esforço para se manter impassível foi mais árduo do que o costumeiro. A situação exigia uma serenidade que nele encontrava-se ausente diante do vivenciado há poucos minutos na diretoria. Não conseguia lidar com Sakura quando ela encontrava-se naquele estado, não conseguia lidar com ela de nenhuma forma, na realidade, e não esperava ter que fazê-lo tão cedo, porém esta opção lhe foi roubada no momento em que Tsunade pôs as mãos naquele maldito bilhete anônimo.

    — Foi apenas uma pergunta. - Conseguiu dizer após algum tempo, mantendo seu tom brando e escolhendo cuidadosamente as palavras para que uma nova avalanche de hostilidades não voltasse a ser manifestada por ela. — Sakura. - Tornou a chamar quando ela não se pronunciou, aproximando-se ao ponto de apoiar em punho a mão esquerda sobre a mesa de madeira, atraindo a atenção da jovem. — Não foi uma acusação. - A calmaria parecia, sutilmente, retornar aos olhos claros agora que sabia não estar sendo incriminada.

    Odiava vê-la daquela forma. Não sabia o que fazer, sentia-se impotente enquanto a observava desmoronar durante aquelas três semanas. Seu comportamento em aula era destoante. As listas entregues por ela - apesar de sempre gabaritadas - não possuíam mais o mesmo capricho, as questões não vinham respondidas de vários jeitos diferentes e as folhas não encontravam-se mais encadernadas. Continuava sentando-se ao fundo da sala, como de costume, porém não participava mais das aulas, de fato, sequer parecia prestar atenção. Recordava-se de, mais de uma vez, tê-la recriminado em aula ao constatar os olhos - sempre enfeitados com olheiras profundas - perdidos por através da janela da classe, assistindo os alunos entretidos na quadra de Educação Física.

    — Como você está? - Era uma pergunta estúpida e ele sabia, a resposta era além de óbvia, mas precisava abordá-la de alguma forma para que conseguissem iniciar um diálogo civilizado.

    — Cansada. - A voz doce veio acompanhada de um longo suspiro, mal passando de um murmúrio. — Me desculpe, eu… não tenho dormido direito.

    — Isso não é nenhuma novidade, certo? - Brincou, a lembrança sobre o sono irregular de Sakura invadindo seus pensamentos rapidamente; noites que passaram em claro conversando, estudando, ou ainda, com os corpos enroscados um no outro. Em algumas poucas ela dormira durante toda a madrugada em seus braços. Era difícil evitar o sorriso em sua própria face com todas aquelas memórias, mas que se mostrara recíproco logo em seguida, finalmente constatando certa alegria no rosto dela.

    — E você? Como está?

    — Pode-se dizer que eu estava bem até ler sua mensagem nesta manhã. - Ele tinha as sobrancelhas arqueadas e o olhar distante, como se tentasse se recordar de algo ao falar. Aquela resposta a desapontou mais do que deveria, sentiu uma ferroada de desespero em seu peito enquanto era, mais uma vez, despedaçada, buscando conter a vontade de chorar. Certamente deveria querer que ele estivesse bem, mas era incapaz de conter sua angústia ao constatar como ele se encontrava - como sempre - inabalável, enquanto ela própria parecia prestes a desmoronar. — Agora eu estou… estressado? - Ele sorriu torto em sua direção enquanto procurava as palavras.

    — Por causa do bilhete? - Ela estava ciente que sim, mas precisava dissipar o pranto se queria manter aquela conversa.

    — Bem… você também não ajudou muito. - Ele falou, extraindo um sorriso por parte dela. — Mas retornando ao assunto. - Retomou com um suspiro após constatar estar encarando-a durante segundos demais. — Consegue pensar em alguém que poderia ter mandado aquele bilhete? Um colega de classe talvez, algum pretendente enciumado? - Suas palavras quase a fizeram engasgar. Ela entreabriu os lábios como se prestes a dizer algo, mas sua voz não saiu. Franziu o cenho tão bruscamente que quase parecia irritada, porém a realidade era que se encontrava extremamente confusa, finalmente libertando a risada presa em sua garganta por conta daquela afirmação, tamanho era o absurdo que lhe causava.

    — Um pretendente? - Ela repetiu com deboche, arqueando as sobrancelhas para enfatizar sua incredulidade. — Só se for seu, né? - O Uchiha revirou os olhos, impaciente com a ausência de malícia nela.

    — Sakura, não seja ingênua. - Repreendeu, finalmente desfazendo-a da expressão zombeteira. — Você pode não prestar atenção, mas não é difícil captar o interesse com que os alunos te olham durante as monitorias. Eu já te disse isso antes.

    — Pode não ser difícil, mas eu não teria como saber, não é mesmo? Ou se esqueceu que me exonerou da monitoria? - Ela provocou, claramente resignada com a memória. Apesar do acontecimento ter tomado forma após o término dos dois, nunca o confrontou sobre o ocorrido. O que obteve em troca foi um suspiro cansado por parte dele. — De qualquer forma, acho custoso aceitar que, se porventura o bilhete houver sido motivado por ciúmes, seriam ciúmes de mim. - Sentia-se idiota em ter que expor o óbvio, principalmente quando ele - tão deliberadamente - a rotulava com ingenuidade, sendo incapaz de enxergar o que acontecia embaixo do próprio nariz.

    — Não seja tola.

    — Sasuke. - Foi a vez dela rolar os olhos em aborrecimento e ele uniu as sobrancelhas contrariado. Ela não tinha permissão para chamá-lo pelo primeiro nome dentro das premissas da escola e sabia o quanto aquilo o deixava desconfortável, embora não parecesse se importar com isso no momento. Estava tentando provar um ponto. — Em todos os meus anos estudando aqui eu nunca vi um professor ser tão assediado quanto você é.  

    — Sakura. - Ele pausou desdenhosamente, imitando-a. — Estamos com um problema sério em mãos, eu não vou ficar aqui discutindo sobre se quem mandou esse bilhete gosta de você ou de mim. - Estava claramente impaciente, a ruga entre suas sobrancelhas denunciando-o.

    — Certo. - Ela era teimosa e detestava ser contestada, mas havia de concordar com ele naquele ponto. — Tem algo me incomodando sobre a mensagem. - Ele observou impassível quando ela saltou da mesa, postando-se de pé e arrodeando o móvel até que estivesse de frente para o quadro negro.

    Apanhou um giz disposto sobre o apoio da lousa, prontificando-se a escrever sobre a superfície escura. Em alguns segundos o conteúdo do bilhete estava exposto ali. “Senhora Senju, qualquer dia desses deveria ir à biblioteca para verificar se as multas dos alunos estão em dia e, quem sabe, checar como o professor Uchiha e a senhorita Haruno estudam.”

    — Essa parte: para verificar se as multas dos alunos estão em dia. - Leu em voz alta enquanto sublinhava aquela porção da mensagem com o pedaço de giz. — Por que isso está incluso no bilhete? Era pra ser uma denúncia. O remetente pede que ela vá até a biblioteca para checar… como nós estudamos. - Ela engoliu em seco, tendo dificuldades para dizer tudo aquilo em voz alta, na frente dele. — Por que mencionar as multas? - Finalmente virou-se para encará-lo: tinha os braços cruzados, avaliando a caligrafia no quadro com cautela.
          
    — Talvez quisesse intrigá-la para fazer com que fosse até a biblioteca, apenas insinuar haver algo entre nós dois não é suficiente. A possibilidade de tudo não passar de uma brincadeira de algum aluno certamente lhe passou pela cabeça, mas a menção às multas… isto poderia motivá-la a investigar um pouco. - O raciocínio dele era preciso.

    — Sim, mas por que fazê-la ir até a biblioteca? Não é como se fôssemos fazer alguma coisa na frente de todo mundo, mesmo que ainda estivéssemos juntos. - Ela inspirou profundamente. — Pode ser que o propósito das multas seja levá-la até a biblioteca, uma vez lá dentro ela poderia verificá-las. Porém por que encontraria algo nesses arquivos? O que ela encontraria?

    Olharam-se, mas não encaravam-se de fato, o pensamento de ambos perdido em planos completamente distantes daquele em que estavam situados. Suas mentes fervilhavam, inúmeras perguntas: nenhuma resposta. O desagrado do Uchiha era mais evidente do que o de sua aluna. Eram muitas as coisas que o irritavam, mas nenhuma delas o perturbava tanto quanto a ausência de controle sobre algo.

    — Oh meu Deus… - A voz de Sakura o despertou e ele voltou a encarar os olhos verdes, agora arregalados com o horror que os estampava. — Não… - A voz dela não era mais do que um sussurro, suas pupilas vagando rapidamente de um lado para o outro em um desespero nítido. — Não, não, não, não, não.

    — Sakura? - Indagou preocupado quando ela cambaleou para trás, apoiando-se no quadro para se manter de pé. Rapidamente foi de encontro a jovem, segurando-a pelos ombros a fim de sustentá-la. — Ei, o que foi?

    — Sasuke… - Ela chamou, apoiando suas mãos sobre o tórax dele e agarrando o tecido fino da camisa social, o olhar ainda perdido no horizonte. — N-Na primeira vez que nos beijamos… na biblioteca. - Finalmente o encarou, mas a face do moreno permanecia estampada com um grande ponto de interrogação. — E-eu precisava devolver um livro naquele dia, mas a bibliotecária não estava lá… - Sentia o sangue drenar de seu rosto com a constatação repentina, seu desespero crescendo conforme notava que ele ainda não compreendia aonde queria chegar. — Nós nos beijamos e fomos embora! - Exasperou, sentindo-se tonta de repente. — Eu não devolvi o livro naquele dia! Eu o entreguei na manhã seguinte e paguei uma multa pelo atraso… a única multa que já tive em toda a minha vida! Se a Tsunade verificar... - Os dedos dele desfizeram-se do contorno de seus ombros lentamente. — Ela vai saber em que dia o livro deveria ter sido entregue! Essa é a data da noite em que nos beijamos!

    — Se ela checar as câmeras… - Ele não conseguiu completar a frase, parecendo congelado onde estava, finalmente encaixando as peças em seus devidos lugares.

    Aquela denúncia, apesar de pouco reveladora, continha uma enorme gama de informações. Era bastante autêntica e agora eles sabiam disso. Quem quer que a houvesse escrito havia deixado bem claro seu conhecimento a respeito do - ex - relacionamento entre os dois, a prova era o fato de que o remetente possuía ciência de que se beijaram na biblioteca. Não apenas a informação, como também a data - reduzindo o trabalhoso processo de verificação das câmeras de segurança em pelo menos mil vezes.

    O polêmico bilhete anônimo que os mantivera na diretoria durante quase toda a manhã não era mais uma ameaça em potencial, era real. O fato de não terem sido despejados devia-se apenas ao fato de que Tsunade não havia captado - ainda - a mensagem oculta no documento.

    E seria apenas questão de tempo até que o fizesse.

    

    AS GROSSAS GOTAS DE CHUVA escorriam arrastadamente pelo para-brisas do veículo estacionado em frente a casa vitoriana, o vento lá fora era gélido - embora não sentido no interior do carro. Ele não sabia exatamente por quanto tempo encontravam-se parados ali, mas possuía ciência de que uma boa dúzia de minutos já havia se passado. Estava calmo, apesar da mente turbulenta, encarando o painel apagado do automóvel enquanto suas mãos sossegavam ao volante. Sua mente vagava longe dali, completamente imerso nos acontecimentos que tomaram forma, há menos de meia hora, na biblioteca da escola. Permaneceria aéreo, não fosse o ofego urgente da jovem ao seu lado, trazendo-o de volta à realidade.

    — Sakura, se você não se acalmar eu vou conseguir ouvir o seu coração batendo daqui. - O tom dele era tranquilo, apesar da mente conflituosa, contrastando com o estado pouco comedido dela. Levou os olhos até o retrovisor interno outra vez, conferindo a rua escura antes de voltar a encará-la.       

    Ela permaneceu em silêncio, completamente mortificada ao passo que sua respiração afobada preenchia o ambiente. Fitou o livro em suas mãos procurando se tranquilizar, embora não prestasse atenção realmente, as juntas de seus dedos tornando-se esbranquiçadas dada a força com que pressionava o objeto de capa dura. Com toda certeza receberia uma multa pelo atraso na devolução, mas esse era o menor de seus problemas no momento, precisava lidar com algo mais sério, ou melhor dizendo: alguém. Seu professor de física, posto ao assento do motorista, observando-a sucumbir ao desalento que atravessava sua mente.

    — Eu… - Qualquer tentativa silábica era uma falha patética, as palavras pareciam presas em sua garganta, engasgando-a. Ela inspirou profundamente, tentando mais uma vez: — Te beijei. - Proferir aquela sentença em voz alta, com todas as letras, causava uma sensação estranha. Não queria acreditar, era absurdo demais, mas a realidade sólida dos fatos afastava qualquer resquício de incredulidade que pudesse surgir. 

    — Sim. - Ele concordou pacientemente, seu olhar perdendo-se por através da janela enquanto o fazia. — E eu te beijei de volta. - Tomar aquilo por verdade era o mesmo que desafiar cada fibra de bom-senso que ainda residia em si. Admitir o erro absurdamente imoral que cometera há pouco mostrava-se uma tarefa impossível de se executar, de fato, a estava tentando realizar desde que deixaram o colégio e ainda encontrava dificuldades para tal.

    Ela fitou a janela logo ao seu lado, observando a calçada em frente a fachada de sua casa alagada pela chuva insistente. A verdade era que não estava arrependida do que havia feito. Embora não possuísse muita experiência ao longo de seus dezoito anos, nunca houvera experimentado sensação melhor do que a de ter os lábios dele sobre os seus. Mas descobria-se pesarosa pela situação que causara, o maldito súbito de coragem que havia tido na biblioteca poderia custar, além do emprego dele, o seu desempenho pelo resto daquele ano letivo agora que não sabia mais como encará-lo.

    — M-me desculpe… eu não sei o que estava pensando. - Apertava as próprias coxas com as mãos, tornando-as avermelhadas em resposta a sua tormenta. Não conseguia levar os olhos - fortemente comprimidos - até ele. Estava envergonhada, apenas a ideia de sustentar seu olhar escuro era suficiente para causar-lhe arrepios. — Não vai se repetir… - Sua voz era baixa, o barulho da chuva ao lado de fora tornando-a quase inaudível.

    O que obteve em resposta foi um longo suspiro por parte dele, travando uma luta interna entre o ímpeto de avaliar seu semblante ou colapsar ao fazê-lo.

    — Sou eu quem deveria pedir desculpas. - Seu tom era impecavelmente contido, embora ela conseguisse notar sua agitação. Nunca o observara perder a calma e, ao seu ver, aquilo parecia ser o mais perto que chegaria de fazê-lo. — O meu comportamento foi injustificável. Eu sou o adulto aqui, sou seu professor, isso significa que, tanto nas instâncias do colégio quanto fora delas, sou a autoridade e o responsável por você. -  Os olhos negros impassíveis pairaram sobre os dela em um contraste nítido: grandes, assustados e verdes. — Eu poderia perder meu emprego por causa disso e você seria expulsa se alguém descobrisse.

    — E-eu sinto muito… de verdade. - O desespero que a tomou era tanto que precisou fitá-lo, imediatamente detectando a preocupação em seu olhar. 

    — Sakura, pare de se desculpar, por favor. - Ele massageou as próprias têmporas, sua impaciência com o hábito desagradável da menina emergindo perceptivelmente e ela engoliu em seco, assistindo ao súbito advento de recomposição por parte dele.

    — A culpa foi toda minha! - Ela protestou à sua censura, disparando as palavras desleixada e apologeticamente. — Fui eu quem… tomou a iniciativa. - Dessa vez media o próprio tom ao dar continuidade, procurando superar a tortura que lhe acometia todas as vezes que tentava exprimir os fatos em voz alta.  

    — Isso não importa. Não faz diferença se você me beijou primeiro. - A reprovação foi quase imediata, a facilidade dele em reafirmar o ocorrido atordoando-a. — O real problema aqui é eu ter retribuído. Veja bem: você é uma adolescente, eu não sou. Meu desacerto foi inadmissível, eu deveria ter lhe aplicado uma suspensão por conduta inadequada e não… correspondido à sua falta de julgamento.

    O longo silêncio que se instalou no ambiente a fez querer chorar. Não sabia o que dizer, principalmente após ser impedida de se desculpar. Estava paralisada, afogando-se nos próprios pensamentos enquanto Sasuke a encarava com expectativa, inquietando-a além do que imaginava ser possível.

    Aquilo era tudo o que ele não precisava no momento: um envolvimento romântico - com uma aluna ainda por cima. Sakura havia se tornado uma distração e ele não tinha como contestar esse fato, a ausência de palavras em sua mente em uma situação como aquela era prova o suficiente disso.

    — E-eu preciso de ar… - A voz dela saiu tão atropelada que ele não teve certeza se compreendera o que a jovem havia dito, mas Sakura abriu a porta do carro violentamente, sem se importar com os grossos pingos de chuva caindo sobre seu cabelo e o acolchoado dos bancos do automóvel, e mergulhou para a rua gélida em seguida.

    Ele parecia subitamente emergido de outra dimensão, assistindo-a retirar-se do veículo apressadamente: ofegante, pálida, trêmula.

    — Sakura!

 


Notas Finais


Esse foi o capítulo! O que vocês acham que vai acontecer? Como eles vão lidar com essa enrascada que eles se meteram?

Não esqueçam de me dizer o que acharam nos comentários!

Até maaaaaaais ~


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