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História Temptation - Equívoco


Escrita por: MoonlightLadyy

Notas do Autor


Olha quem chegou com capítulo novo!

Ah, eu tô tãaaao feliz com o rumo que a fanfic tá tomando! Com o engajamento de vocês <3 Passamos dos 150 favoritos <3 E eu simplesmente AMEI os comentários do último capítulo! Vocês são demais <3

Eu adoro ver as teorias de vocês hahahah uma melhor que a outra, várias especulações, vamos ver quem estará certo no final!

Trouxe esse capítulo feito com muito carinho e amor <3 E rumor has it que terá atualização duas vezes nessa semana de novo! Será?

Atenção para as passagens de tempo nesse capítulo!

Então bora pra leitura <3

Capítulo 7 - Equívoco


Fanfic / Fanfiction Temptation - Equívoco

APÓS O INCIDENTE COM O BILHETE anônimo na diretoria, Sakura foi acometida com a pior gripe que já tivera - até onde conseguia se lembrar. Não era de se espantar, obviamente. A situação de estresse intenso em que se encontrava não poderia resultar em nada menos do que uma baixa de imunidade. Havia muito com o que se preocupar, afinal. Não bastasse a ansiedade que sentia com o vestibular se aproximando e o final do ano letivo, ainda precisava lidar com todos os problemas pessoais que - em toda sua vida - nunca foram tão numerosos.

    Por esse motivo precisou ausentar-se das atividades acadêmicas durante o restante daquela semana, não ousaria desobedecer sua mãe quando se tratando de sua saúde. Então por isso, naquela sexta-feira monótona, encontrava-se devidamente deitada em sua cama, as costas apoiadas em uma pilha de travesseiros enquanto o exemplar de geografia repousava entre suas mãos. Não deveria estar estudando e sabia bem disso, mas não conseguia pensar em nada mais interessante para fazer, visto que suas provas finais estavam a poucas semanas dali.

    Já passava das duas da tarde quando se deu conta de que não havia almoçado. Fechou o livro preguiçosamente, repousando-o sobre o criado mudo e levantando-se da cama com extrema dificuldade, muito mais lentamente do que gostaria. Seu corpo doía por inteiro, irradiado por um desconforto que tinha como centro o topo de sua cabeça. Seus músculos pareciam feitos de gelatina, o estômago incomodado por uma náusea constante e a ardência em sua garganta, tornando até mesmo a saliva algo completamente intragável.

    Desceu as escadas muito vagarosamente, coçando os olhos em uma tentativa de tornar-se mais desperta, dada a tendência de suas pálpebras em manterem-se caídas, mas mal chegara a pisar na cozinha quando o som da campainha a aturdiu. Virou-se sem vontade alguma em direção à porta, sua mãe não estaria em casa por muitas horas e, se permanecesse quieta o suficiente, talvez a pessoa à importuná-la - muito provavelmente um vendedor - fosse embora.

    Tornou a fazer seu caminho de volta à geladeira, mas o chamado insistente forçou-a a desistir. E então, com uma repentina disposição motivada pela impaciência, dirigiu-se até a entrada da casa, pronta para despachar o ser inconveniente que persistia em incomodá-la.

    Mas não foi o que aconteceu.

    — Sasuke? - De repente os seus olhos encontravam-se muito abertos, sobressaltada pela presença do homem parado ali. — O que está fazendo aqui? - Apesar de espantada, a rouquidão em sua voz tornava seu tom muito mais confuso do que surpreso realmente.

    — Você não foi a aula hoje. - As palavras saíram enquanto ele promovia uma avaliação silenciosa sobre ela. — Como nunca a vi faltar antes, fiquei preocupado. - Quando terminou de falar seus olhos estavam novamente de volta aos dela, constatando, agora com certeza, que sua preocupação não era despropositada.

    Ela estava pálida, de uma maneira que ele nunca vira anteriormente. Havia perdido peso perceptivelmente, o pijama verde - que antes costumava se ajustar perfeitamente sobre seu corpo pequeno - parecendo agora folgado. O nariz avermelhado e os outros sintomas de uma forte gripe eram bastante visíveis, mas a esta altura estava óbvio para ele que tudo aquilo ia muito além de um problema de saúde física.

    — Ah, sim... eu peguei uma gripe. Não é nada demais, apenas estou indisposta. Não precisava se preocupar. - As mãos dela agarravam-se com certa força à barra da regata de algodão que vestia, puxando-a levemente para baixo como uma maneira de esconder seu desconforto. Entretanto, seu olhar vago e distante dizia mais à ele do que aquelas palavras.

    — Entendo. Sua mãe está em casa? - Indagou, mesmo que já soubesse a resposta. Ela apenas balançou a cabeça negativamente, confirmando suas suspeitas. O suspiro de desagrado por parte dele foi inevitável. — Certo, com licença. - Dito isto adentrou a casa vitoriana, aturdindo-a. — Você já almoçou? - Parou de súbito em meio à sala de estar, tornando a encará-la e atestando a confusão em seu rosto, embora também pudesse detectar sua desistência em relutar.

    — Ahn… ainda não. - Fez uma longa pausa, como se não recordasse exatamente o que ia dizer. — Ia fazer isso quando você chamou a campainha. - As gesticulações que fazia com as mãos causavam-lhe dúvidas sobre se ela estava mentindo ou apenas tendo dificuldades para processar a situação. — Minha mãe deixou sopa na geladeira, eu ia esquentar. 

    — Nesse caso, você pode voltar para a sua cama e ficar quieta. Eu preparo para você. - Novamente ele deu as costas, tornando a se dirigir à cozinha.

    — Você não precisa fazer isso. - Apesar da tentativa de impedi-lo, fechou a porta da sala atrás de si.

    — Eu sei que não preciso, estou fazendo porque quero. - Ele já estava revirando a geladeira quando ela se aproximou.

    — Não quero te incomodar. - Tentou protestar, mas ele deteve o que estava fazendo para fitá-la, as sobrancelhas levemente erguidas e os lábios franzidos em uma linha rígida.

    — Sakura… - Ele começou, mas não precisava dizer nem mais uma palavra. Ela conhecia bem aquele tom e sabia que, não importava o que fizesse ou falasse, não o convenceria do contrário. Então ergueu ambas as mãos em sinal de desistência, caminhando novamente em direção ao seu quarto.

    Não demorou para que ele subisse até o aposento, apenas para encontrá-la sobre a cama com um livro em seu colo.

    — Você não tem jeito mesmo. - Censurou enquanto se aproximava. Sakura ergueu os olhos para encará-lo, envergonhada pela represália, mas nada disse. — Vamos trocar isso... - Apanhou o exemplar das mãos da menina com a mão livre, depositando-o sobre o criado mudo. — Por isto. - E então entregou-lhe a bandeja contendo a tigela com sopa quente e um copo de suco de laranja, sentando-se à beira do leito em seguida, ao seu lado.

    — Obrigada, não precisava fazer isso. De verdade. - Ela pegou o talher posto a lateral da bandeja, degustando a sopa com cuidado para não se queimar.

    — Você não deveria ficar sozinha estando doente.

    — Minha mãe tem muito trabalho para fazer no hospital, você sabe. - Ele realmente sabia, mas o fato de que Sakura passava a maior parte do tempo sozinha era algo que o incomodava desde que se conheceram. Não conseguia disfarçar seu desagrado todas as vezes que o assunto era, de alguma forma, trazido à tona. — A Tsunade te procurou de novo durante essa semana? - Ela indagou, procurando mudar o foco da conversa.

    — Não, aparentemente ela ainda não descobriu do que o bilhete se trata de fato. - Ele apanhou o livro de geografia que havia posto sobre o criado mudo, avaliando-o. — Acredito que ainda temos algum tempo até pensar em uma forma de reverter a situação. Mas não se preocupe com isso agora. - Houve uma longa pausa, ele a observou enquanto ela terminava de comer.

    Procurava as palavras para o que diria a seguir. Embora houvessem se relacionado durante quase um ano inteiro, haviam terminado há poucas semanas e as coisas ainda estavam esquisitas entre os dois. Sakura parecia mais tranquila, afinal encontravam-se em seu quarto, sentados em sua cama, conversando de uma maneira que ele não imaginou ser possível após um intervalo tão curto de tempo.

    — Sakura. - Finalmente chamou e ela atendeu, fitando-o com atenção. — Como você está lidando com tudo isso?

    — Com o bilhete, você quer dizer? - Questionou confusa, ainda que conseguisse imaginar aonde ele queria chegar. 

    — Não exatamente. - Recolheu a bandeja de seu colo ao vê-la terminar, retornando-a à cômoda, bem como o livro. —  Com tudo o que aconteceu entre nós dois. - Ela precisou desviar os olhos dele, podia sentí-los sendo preenchidos por lágrimas a medida em que ele falava. Não era o tipo de conversa que ela estava preparada para ter. — Eu sei que é um assunto delicado, mas eu posso ver como está abalada. Não consegue prestar atenção nas aulas, parece sempre desanimada... você emagreceu. - Ele tomou uma de suas mãos, pressionando-a com delicadeza em uma súplica silenciosa para que ela sustentasse o seu olhar. Não havia forma de adivinhar o que ela estava pensando, as poucas pistas que ainda conseguia extrair escondiam-se em seus grandes olhos verdes.

    — Estou bem, eu acho. - Ela permaneceu encarando um ponto fixo no lençol de sua cama, apesar de não prestar atenção realmente. — Eu sei que não havia outro jeito, dado tudo o que aconteceu. O mais prudente foi terminar, de fato. - Externar aquelas palavras parecia, finalmente, ter lhe dado a coragem que precisava para falar sobre tudo o que acontecera. Seus olhos voltaram-se aos dele, conseguia perceber com nitidez a preocupação expressa na face maravilhosamente bela do homem sentado à sua frente. — É só que, nos últimos dias… tenho me perguntado muitas coisas.   
       
    — Gostaria de me dizer que coisas são essas?

    — Se as circunstâncias fossem diferentes, se eu fosse diferente… se ainda estaríamos juntos. - Ele não esperava por aquilo. Era bobagem. Parecia perda de tempo fazer questionamentos que não havia como serem respondidos, mas seria tolo se não admitisse para si mesmo que ele próprio os fizera; por várias noites seguidas. — Eu sou tão… - A dificuldade dela em encontrar as palavras era clara, mas isso não a impediu de prosseguir. — Complicada. - Ela riu com ironia da palavra, embora o humor não atingisse os seus olhos. — Talvez se eu me preocupasse menos com as coisas… ou soubesse lidar melhor com elas. - Desta vez o sorriso em seus lábios mostrava-se genuíno, ainda que nublado por uma nota de tristeza. — Talvez assim eu teria te convencido de que se afastar não era a resposta.

    — Sakura. - Ele se aproximou, levando uma das mãos até o seu cabelo e colocando uma mecha atrás de sua orelha. — Não é culpa sua, não havia nada que você pudesse fazer. Se você fosse diferente... talvez eu não fosse louco por você. - Ela sorriu minimamente com o comentário, seu rosto adquirindo uma coloração avermelhada extremamente perceptível, dado seu quadro de palidez. — Eu gosto de você como você é, não se esqueça disso. E eu não vou parar de me preocupar com você apenas porque não estamos mais juntos, eu espero que entenda. 

    — Ninguém nunca cuidou de mim dessa forma. - Ela apertou a mão dele, mantendo-a em seu cabelo. — Obrigada.

    Podiam sentir o peso na atmosfera entre eles. Aquela sensação estranha que parecia fazer o ar aquecer e congelar ao mesmo tempo. Era exatamente o que acontecia todas as vezes em que estavam juntos e não havia forma de negar o que aquilo significava: ainda se amavam e, embora possuíssem ciência disto, não poderiam ficar juntos.


    O ENVOLVIMENTO DOS DOIS NA entrada da casa de Sakura na noite anterior e a disputa de cinismo em sala naquela manhã servira para levantar um ponto importante: precisavam conversar sobre o que havia acontecido. Então, naquela mesma quinta-feira, após a longa lição de “história” ineditamente ministrada pelo seu querido professor de física, o sinal para o final da aula não poderia ter soado em um momento melhor.

    Sakura apanhou sua mochila, vestindo-a sobre os ombros e disparando para fora do colégio o mais rápido que conseguia. Porém não contava com a chuva torrencial que caía do lado de fora e por esse motivo ainda estava ali: parada próxima ao portão da escola, tentando - desesperadamente - ligar para sua mãe; sem sucesso. Quem estava tentando enganar? Mesmo que sua mãe atendesse, estaria ocupada demais no trabalho para ir buscá-la na escola. Era isto, não possuía outra opção senão esperar aquela tempestade passar para poder andar até sua casa.

    Ou…

    Guardou o caderno que tinha em mãos dentro da mochila em suas costas, ajustou o capuz do moletom do uniforme sobre sua cabeça, enfiou as mãos dentro dos bolsos do mesmo e postou-se a caminhar. Os pingos que encontravam o seu rosto eram muito bem-vindos, estava decidida a conversar com Sasuke sobre aquela situação e andar sob a chuva trazia-lhe uma sensação de liberdade, permitindo-a clarear os pensamentos e ensaiar, em sua cabeça, o que diria à ele.  

    A baixa velocidade com que ele conduzia o veículo não era proposital, aquela maldita chuva tornava impossível enxergar qualquer coisa que estivesse além de dois metros à frente, forçando-o a manter-se aos 20 km/h. Porém precisou agradecer à tempestade inoportuna, não fosse isto talvez não houvesse notado a tal aluna de cabelos cor-de-rosa, caminhando despreocupadamente pela calçada enquanto era completamente banhada pelos pingos grossos e violentos.

    Por Deus, precisou respirar fundo para manter sua paciência. A menina possuía um desejo suicida, não havia outra explicação para se sujeitar àquilo. Pressionou a buzina do carro, mas o barulho da chuva parecia alto demais para que ela o escutasse. Então buzinou novamente, desta vez com mais intensidade.

    Ela pareceu escutá-lo, embora a expressão que possuía em sua face não aparentasse muito agrado quando se virou para encará-lo, mas se conteve ao reconhecer o veículo, parando de caminhar no mesmo instante para se aproximar.

    — Sakura?! - Chamou, elevando a voz enquanto abaixava o vidro da janela do passageiro, observando-a se aproximar. — Você ficou maluca? O que está fazendo?

    — Ahn… indo para casa? - Ela retrucou como se a resposta fosse tão óbvia quanto saber o próprio nome, testando - claramente - sua paciência.

    — Embaixo dessa chuva?! - Ele repreendeu, irritando-se com a demora da jovem em entrar no veículo. Mesmo com a janela apenas entreaberta, o banco do passageiro já encontrava-se ensopado. — Sakura, entre no carro, por favor. Vou levá-la em casa. - Puxou a maçaneta da porta, fazendo com que a mesma se destrancasse para que ela pudesse entrar.

    — Obrigada, professor. Mas eu consigo caminhar até lá. De qualquer forma, já estou encharcada, iria molhar o seu carro inteiro. - Ela se desculpou, mas ele podia notar o divertimento que possuía em seus olhos ao subjugá-lo daquela forma. Seu prazer em tirá-lo do sério era tão transparente que ela sequer parecia se esforçar para escondê-lo.

    — Sakura, pelo menos uma vez na vida faça o que eu peço. Não vou deixar você caminhar até sua casa embaixo desse temporal. - Nunca fizera tanto esforço para se manter calmo. Talvez, apenas, no jogo de sinuca que havia disputado com - quem diria - a mesma jovenzinha teimosa que se recusava a obedecê-lo no momento. — Por favor.

    Ela suspirou profundamente, revirando os olhos em suas órbitas e adentrando o veículo de forma que não podia estar mais claro o tamanho de sua relutância. Fechou a porta ao seu lado, bem como a janela. Depositou a mochila sobre o seu colo e retirou o capuz do moletom de modo que os longos fios róseos estivessem agora totalmente expostos. Ele tornou a dar partida no carro, dirigindo rumo à casa da garota.

    — Por que você é tão teimosa? - Ele parecia fazer um grande esforço para não iniciar uma nova discussão, seriamente irritado pelo comportamento rebelde de sua aluna. — Eu realmente não entendo porque não esperou a chuva passar para ir embora, está querendo ficar doente de propósito ou algo assim? - Encarou-a brevemente, apenas para constatá-la encolhida, olhando por através da janela embaçada enquanto se abraçava, buscando proteger-se do frio. Claro, deveria estar congelando. O Uchiha bufou irritado, ligando o aquecedor do carro em seguida.

    — Não era nada disso, ok? Eu apenas precisava pensar. - Ela cruzou os braços, fitando-o em um agradecimento silencioso por ter ativado o aquecedor.

    — Sobre o que aconteceu ontem a noite? - Mais uma vez ele a encarou, odiando o fato de estar dirigindo no momento e, por isto, não poder manter os olhos sobre ela.

    — Sim. Acho que precisamos conversar.

    — Concordo. - Desta vez seus olhos permaneceram fixos na estrada à sua frente, imparciais, revelando pouco sobre o que se passava em sua mente. — Como está indo com a lista dessa semana?

    — Não era exatamente esse tipo de conversa que eu tinha em mente. - Ela revirou os olhos com o deboche, mas ele sorriu; um dos raros e magníficos sorrisos que esboçava quando não estava tentando manter uma postura séria.

    — Eu sei. - Se recompôs rapidamente, restabelecendo a expressão imparcial de antes. — Sei que precisamos conversar, mas ainda preciso pensar.

    — Entendo. - Ela ponderou por alguns instantes, também não tinha os pensamentos completamente em ordem da forma como gostaria. De fato, ainda havia um longo caminho para percorrer até que soubesse exatamente o que dizer a ele. — E sim, eu tenho uma dúvida com relação a lista dessa semana. Acredito que haja um erro em uma das questões ou no gabarito.

    — Por que acha isso? - Ele franziu as sobrancelhas, intrigado.

    — Porque minha resposta não está batendo com o gabarito. - O Uchiha não conseguiu conter o riso diante da imensa presunção da jovem.

    — E você acha que, porque os resultados não coincidem, a questão está errada? - Ele repetiu didaticamente, desdenhando de sua prepotência.

    — Não há outra explicação plausível. - Sakura arqueou as sobrancelhas, ainda que mantivesse uma feição séria, desafiando-o.

    — Certo. - Um sorriso torto tomou forma nos lábios dele, achando graça do quão convencida ela podia ser. — Acho improvável que haja um erro na questão, mas de qualquer forma posso ajudá-la durante a monitoria. - Reduziu a velocidade do veículo até que este se detivesse completamente. — Chegamos.

    Aquelas palavras a despertaram com um certo estranhamento, estivera tão absorta no que ocorria dentro do carro que mal havia prestado atenção no caminho. Olhou por através da janela mais uma vez, mas a intensidade da chuva era tamanha que sequer permitia-lhe reconhecer a fachada de sua própria casa. Tornou a encará-lo novamente, auscultando o silêncio instalado no interior do veículo, maculado pela cacofonia da tempestade - que parecia mais vigorosa a cada segundo passado.

    —  Então acho que nos vemos depois. - Ele retomou, reatando a descontração da conversa anterior a fim de se livrar do peso na atmosfera, ainda que ela pudesse detectar a incerteza em sua voz ao examinar a quantidade de água que escorria pelo para-brisa.

    — A chuva parece estar piorando, não acha melhor esperar? - Sakura indagou com relutância, receando que ele pudesse interpretá-la erroneamente.

    —  Acredito que consigo ir assim mesmo. - Felizmente não havia resquício de estranhamento em seu tom.

    — Isso não é muito prudente. - Ela insistiu, desta vez fazendo com que ele a encarasse. —  E se você pode me obrigar a aceitar sua carona, eu deveria poder obrigá-lo a entrar e esperar para não se acidentar. - A tonalidade na voz dela não admitia discussões, tinha uma das sobrancelhas arqueadas, aguardando um protesto que não veio.

    Ele, por outro lado, franziu a testa ao passo que uma risada anasalada lhe escapava, achando graça de estar recebendo ordens de uma menina de dezoito anos. — Você não pode me obrigar a nada e eu muito menos, mas sou seu professor e você deveria levar minhas sugestões em consideração.

    — Apenas em sala de aula e, se não estou equivocada, não estamos no colégio. - Ela deu de ombros deliberadamente.

    — Ainda assim: continuo sendo seu professor. Ou sua mãe é sua mãe apenas quando você está em casa? - Desta vez foi ele quem ergueu as sobrancelhas, desaprovando sua teimosia, mas suspirou longamente em seguida, dando-se por vencido. Ela estava certa, afinal. Quem ele estava tentando enganar? Era absolutamente impossível dirigir naquela tempestade. — Tudo bem, podemos averiguar a tal questão enquanto isso.  

    Ainda assim, poderia ter aguardado dentro do veículo agora estacionado em frente à casa, era este o único pensamento que habitava sua mente ao cruzarem a porta de entrada às pressas, procurando se refugiar dos pingos violentos. No momento em que desferiu o primeiro passo para dentro da sala de visitas ele soube que perdera o juízo. O que estava fazendo ali, na casa de uma aluna, sem que os seus pais estivessem presentes? A pergunta se instalou em sua consciência como um prego enferrujado perfura a tez: dolorosamente, promovendo uma verdadeira bagunça enquanto o faz.

    Mas continuaram a adentrar o ambiente, dirigindo-se até o centro onde a jovem indicou o largo sofá de cor acinzentada, sugerindo silenciosamente que ele tomasse um lugar e assim o fez. Ela depositou a mochila sobre o aparador próximo à entrada e retirou a blusa de moletom grosso completamente encharcada, forçando-o a desviar o olhar.

    — Você gostaria de beber alguma coisa? Posso fazer um chá. - Ela sugeriu despretensiosamente, embora ele pudesse detectar certo nervosismo em sua postura.

    — Chá seria ótimo, obrigado. - O Uchiha depositou sua pasta sobre a mesa de centro, retirando uma cópia da lista daquela semana enquanto Sakura rumava até a cozinha para preparar a bebida.

    Ela retornou poucos minutos depois com uma bandeja em mãos, equilibrando duas xícaras fumegantes com conteúdo de cor amarelo-esverdeado. Descansou o tabuleiro na pequena mesa de café em que residia agora a pasta de seu professor e deu a volta, apanhando seu caderno e estojo dentro da mochila sobre o aparador e retornando ao centro para se sentar - a alguns centímetros dele - também no sofá.

    — Então, pode me mostrar o erro? - Ele proferiu com divertimento, embora não o esboçasse em seu semblante. Sakura resistiu ao impulso de retrucar a provocação, folheando - em busca da questão inacabada - o caderno até a página em que a lista resolvida estava situada. Não foi difícil encontrá-la, era a única que ainda permanecia a lápis, o papel bastante gasto naquela região, denunciando o uso sucessivo da borracha sob os rabiscos. 

    Ela lhe entregou o caderno com um ar triunfante e ele o recebeu de bom grado, achando graça de sua prepotência quase palpável.

    — Na parte de fenômenos ondulatórios, questão número doze sobre efeito Doppler, minha resposta está diferente do gabarito. - Sakura completou com um sorriso em seus lábios, aguardando a avaliação silenciosa do Uchiha sobre o problema.

    Ele folheou o caderno até que chegasse ao gabarito, constatando que, de fato, as respostas diferiam. Retornou à questão, procurando detectar qualquer discrepância no enunciado, mas nada lhe saltou aos olhos. Passou então a averiguar o processo de resolução que ela adotara, conferindo - passo por passo - o que Sakura havia feito para responder a problemática e ali estava: sutil, porém equivocado. Um erro.

    O Uchiha precisou conter um sorriso antes de continuar. — Há um erro na sua resolução. - Ela arqueou as sobrancelhas, duvidosa sobre o que acabara de ouvir. Seus lábios entreabriram-se quase em uma risada antes que ela pudesse dizer:

    — Em uma questão sobre ondas? Impossível.

    Ele deu de ombros, devolvendo-lhe o caderno para que ela pudesse averiguar com os próprios olhos. Desta vez aproximou-se o suficiente para que seus braços se tocassem, apontando para o erro na folha pautada. — Ao invés de usar a fórmula do objeto se aproximando da fonte, você utilizou a fórmula para o caso do objeto estar se afastando.

    E ali estava, mais uma vez, o fenômeno que ele tanto apreciava - talvez um pouco demais -: o rosto dela tornando-se avermelhado, ruborizando, por qualquer um dos infinitos motivos capazes de provocar tal reação.

    — E-eu não percebi… - Ela conseguiu dizer com muita relutância, apertando vigorosamente o caderno em sua mão, as junções de seus dedos adquirindo uma tonalidade esbranquiçada ao fazê-lo. Encarava - buscando evitar qualquer contato visual - fixamente a folha rabiscada, inteiramente descrente a respeito do que acabara de ocorrer. Realmente havia errado uma questão sobre ondas: o conteúdo mais ridiculamente fácil da disciplina; não bastasse isso, seu engano havia sido absurdamente estúpido. — Me desculpe por desperdiçar o seu tempo.

    — Não se preocupe, eu acho engraçado o seu jeito de ter sempre certeza das coisas. - Os dedos dele se estenderam involuntariamente até o caderno, retirando-o de suas mãos e avaliando a questão com bom-humor. — Errar é normal, sabe. Até mesmo para você. - Então ele devolveu o objeto à mesa de centro, voltando-se para ela em seguida.

    — Bem, fico feliz que eu te divirta de alguma forma. - Apesar de ter o constrangimento dissipado pelo comentário dele, seu tom ainda era contrariado, um tanto incômoda por tê-lo rindo de si.     

    De fato, ela não fazia ideia de como o divertia. Era a única coisa que ele conseguia pensar enquanto ali: sentado ao seu lado, em um silêncio perturbado apenas pelos pingos da chuva que transcorria no exterior da casa. A parte mais esquisita de tudo aquilo é que ele não se sentia, de forma alguma, estranho. Apesar de encontrarem-se sozinhos em uma situação que, definitivamente, poderia ser classificada como imprópria e inusitada, estavam confortáveis. Mal deu-se conta de estar encarando-a fixamente, não fosse o súbito advento de consciência que o acometeu.

    — Acredito que a chuva esteja mais amena. - Ele rompeu o silêncio ao constatar que os pingos já não causavam tanto estardalhaço quanto antes. — Acho que já vou indo então. - A nota de desapontamento na face dela fora perceptível, embora buscasse - para o próprio bem - ignorá-la.

    — Ah, tudo bem. - Ela apertou as mãos sobre as pernas, movendo-se mínima e desconcertadamente em seu lugar. Desconhecia o porquê da súbita sensação de pranto que parecia se alastrar dentro de si. O que estava esperando que acontecesse, afinal? Não sabia dizer, embora não pudesse negar a forte impressão de que algo faltava ali; e continuaria a faltar, pois ele estava de saída. — Obrigada por me ajudar com a questão... e pela carona.

      — Não precisa agradecer. - Ajeitou seus papéis novamente dentro da pasta, postando-se de pé antes de apanhá-la e Sakura fez o mesmo, levantando-se para acompanhá-lo à porta, mas ninguém se moveu. — Hm, obrigado pelo chá e por me convidar para entrar. - Pela primeira vez desde que o conhecera ela detectou um resquício de acanhamento por parte dele e aquilo a fez sorrir, era realmente uma visão e tanto constatá-lo com as maçãs do rosto discretamente coradas. — Sakura? - O Uchiha chamou, despertando-a do transe em que estava inserida.
    
    — N-não foi nada demais. - Balbuciou desleixadamente, procurando disfarçar sua incompetência em se manter concentrada quando estavam perto, mas a forma como ele a encarava a fez duvidar de que houvesse soado convincente.

    — Até a monitoria, então. - Ele desconversou, já não tão compenetrado quanto antes. — Isso, é claro, se eu não acabar mais uma vez na sua sala em uma aula que não é a minha. - Dito isto estendeu a mão, oferecendo-a como um sinal de despedida e ela tomou-a de bom grado.

    Ele pareceu se arrepender no mesmo instante. Os sorrisos cessaram por completo e ela engoliu em seco, nitidamente afetada. Era absolutamente impossível ignorar a tensão que emanava daquele aperto de mão. O Uchiha buscou se abster de tudo aquilo, esforçando-se para desconsiderar os efeitos indesejados que lhe ocorriam no momento.

    Ainda assim, parecia incapaz de desfazer a constrição de seus dedos em torno da pele da jovem.

    — Vou tomar cuidado para me sentar no fundo da próxima vez… - A voz dela não era muito mais alta do que um murmúrio, consequência de sua garganta e lábios secos.


Notas Finais


E aí? O que acharam? Me deixem saber nos comentários (:

Espero que tenham gostado! O que acham que vai acontecer daqui pra frente? hahaha

Eita eita, esse Sasuke que se contradiz o tempo inteiro... não aguento <3 Alguém aqui tá ansiosa por uma cena mais envolvente deles ou sou só eu? kkkkk

Bai bai, até o próximo ~


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