História Terras selvagens - Ele

Seth se despediu imediatamente do representante real. Era um velho conhecido seu e ele quis garantir que o homem se dirigisse ao rei o mais rápido possível para garantir a liberdade do embaixador.

A cerimonia tinha acabado e Mist agora se despedia da sua ex- família. Seth sabia o quanto as pessoas do sul eram sentimentais e ligadas a tradições, bem como suas ligações emocionais. Desde o momento em que eles fizeram sua entrada ele podia ver no rosto da sogra o quanto era difícil para aquela mulher perder sua filha. Portanto, ele estava deixando elas terem alguns momentos a sós antes que ele a levasse embora.

“Por que este ambiente é tão quente?” Sua mãe tinha dito ao se aproximar, ela mantinha sua fachada estoica e arrogante, mas Seth podia ver o quanto ela estava desgostosa com aquele enlace.

Estava um pouco quente de fato, mas não se comparava ao verão do sul, aquilo sim era calor. Sua mãe, que essa era a primeira vez que pisara tão longe do norte, claro, não poderia imaginar.

“e eu não posso acreditar que ela usou tais roupas, me parece tão... impróprio...” ela disse, mal contendo o rancor que acumulara dentro de si. Ele sabia que a palavra que ela queria usar era ‘vulgar,’ mas o decoro que fora obrigada a usar desde menina a impedia dizer.

“a senhora sabe que é a cultura deles”  Seth rebateu. E a fitou de longe. Ela estava muito bonita. A capa que ele a tinha colocado cobria o vestido extravagante que tinha entrado, mas ainda assim, ele não podia deixar de achar que caia muito bem nela. Mist não tinha culpa que, para os nortenhos, acostumados ao frio(1), muita roupa é sempre pouca. As mulheres em seu país andavam com metros de tecido enrolados em torno de si, o que era impossível para o clima do sul.

Sua mãe não cedeu, apertou os finos lábio e deu as costas.

“Precisamos ir Seth” seu pai se aproximou. Ele imediatamente se aprumou, perto de seu ele sempre se sentia desajeitado e impotente. Era o efeito de ser sempre comparado com o fabuloso Eoghan.

“ela está se despedindo da família” explicou vacilante.  Eoghan olhou na direção do grupo e fez pouco causo, a máscara que ele sempre associava ao pai não se desfazendo um minuto.

“Acabe com isso e se apresse” ele ordenou. “Sua mãe e eu iremos para a capital, teremos uma reunião em uma semana, esteja lá” disse por fim, se virando e indo embora. Sua mãe seguiu logo atrás. Eles não se despediram.

Resoluto, Seth foi em direção a sua mulher.

“Sinto interromper, mas precisamos partir” pigarreou ao grupo. Mist recuou um passo ao ouvir sua voz bem atrás dela.

Ela assentiu e se virou para a sua mãe, “vou lhe escrever” ela disse e doeu em Seth ouvir a sua voz pequena, como se estivesse tentando segurar o choro.

Todo o grupo tinha os olhos marejados, as crianças estavam a chorar. Ele queria sair correndo dali, Seth nunca fora treinado para reagir a esse tipo de emoções.

“Mimi, Nor e Mili” Mist se ajoelhou diante dos seus irmãos menores, e com uma doce voz, que até então ele nunca tinha ouvido ela os encarou “não chorem, já conversamos sobre isso” ela disse tentando os reconfortar “quero que cuidem uns dos outros e obedeçam a mamãe”.

“quando você vai voltar?” O garoto perguntou. Ele era o único menino e se parecia muito com o embaixador seu pai.

Ele a viu hesitar, bem como o grupo e ela então olhou para ele, aqueles grandes olhos chocolates com dúvida. Ele entendeu de imediato.

“Vocês poderão visita-la em breve” Seth disse. Ela não iria voltar para o sul por um bom tempo e mesmo com algumas horas casados ele já se sentia possessivo em relação a sua esposa, mas não negaria aquela família breves visitas.

Não passou despercebido que ela exalou como aliviada. Será que ela pensava que Seth era um tirano?

“Vocês ouviram, quando o norte estiver menos frio vocês irão passar alguns dias lá” ela disse com um tom mais alegre.

“E veremos neve?!” A outra garotinha perguntou com expectativa para Seth. Pela aparência, ela era certamente gêmea do menino.

Ele não era acostumado a lidar com crianças, nem mesmo quando ele era um “sim, vocês irão ver neve” prometeu.

A outra menina, a mais velha de nome Mimi era incrivelmente parecida com Mist, ela tinha olhos esperançosos e abraçou a irmã com força “iremos sentir sua falta, se cuide” ela disse de maneira madura e sem chorar como os mais novos.

Mist se levantou e se dirigiu aos adultos.

“Kim, obrigada por tudo, e oro por saúde pelo seu bebê” ela disse em direção a garota de longos cabelos lisos e negros que sabia que era amiga de Mist. Pela primeira vez ele notou a protuberância no vestido da mulher.

Ela assentiu e também abraçou Mist, a beijando em cada face.

“se cuide e quando o tio chegar iremos lhe mandar notícias” Dereck falou. Seth e ele já se conheciam, sabia que o primo dela foi o responsável final pelas negociações no casamento.

Ele sentiu uma pontada de desconforto ao ver a maneira fácil que os dois se abraçaram. Respeite a cultura, ele se lembrou. Os sulistas eram pessoas naturalmente táteis e eles eram primos, e o rapaz já era casado. Nada a temer ai.

Por último, a mãe.

Elas apenas se abraçaram, palavras não foram ditas.

“Tome conta de minha menina” a mulher mais velha lhe tinha dirigido a palavra de maneira suplicante, ela tinha usado a palavra minha, era errado, mas Seth não sabia dizer se aquele erro era proposital ou não.

“eu irei” confirmou sincero. Sabia que nunca deixaria mal nenhum acontecer a Mist, nem que sua vida dependesse disso.

Para a sua surpresa, ela o abraçou. Por uma fração de segundo ele não reagiu devido ao choque, mas após, devolveu o gesto, apenas com menos intensidade.

Eles se saudaram e ele tratou de apontar onde está o carro, esperando para levarem para casa.

Ela seguiu rigidamente ao seu lado.  Seth se sentiu pesado andando, não sabendo como se comportar. Era a primeira vez que se viam sozinhos.