o desespero de pertencer a algum lugar ou de agradar todos a nossa volta é um sentimento que te corrói aos poucos, que te destrói ao ponto de você perder tudo que tinha, e o pior: perder a si mesmo. No início, ficamos presos na ideia de que é algo banal. Uma ajuda aqui e ali, que não te atrapalha, pois que mal faz ser útil àqueles que conhecemos? A cada dia, doamos muito mais do que favores; horas perdidas tentando ajudar um amigo necessitado, afazeres próprios largados para suprir o dos outros, sentimentos reprimidos, pois, como um bom amigo, esquecemos de nós para ouvi-los e acolhê-los quando precisam.
De repente, todos à sua volta estão acostumados demais com a sua disponibilidade, com o quão eficiente você é em fazer as vontades deles, simplesmente a peça perfeita para fazer aquilo que eles estão mal-acostumados a não mais fazerem por conta própria, e então o peso cai sobre suas costas. Eles sabem quando e onde te procurar, sabem que você fará o que pedirem e pouco a pouco essa se torna sua única utilidade. Não há ninguém para ajudá-lo, mesmo que no início você acredite que sim, e não há quem ouvi-lo, pois a preocupação deles nunca foi você.
Passei anos presa em amizades onde eu me sentia um nada. Rodeada de pessoas que procuravam-me somente quando queriam algo, quando eu tinha o que oferecer-lhes, mas que nunca estavam por perto quando mais precisei deles. Grupinhos de amigos onde sempre fui a sobra, um integrante a mais que não fazia tanta falta assim, mas que era conveniente manter por perto. Quando finalmente a ficha caiu, eu percebi que não fazia parte de lugar algum e que agora eu estava aos pedaços porque doei partes demais de mim.
Cada palavra do texto foi uma pontada que senti no peito, que acendia uma memória quase esquecida e que sim, machucou feridas ainda não curadas. Sua escrita é sensível e o tema extremamente pertinente, me deixando pensativa, aqui, no meio da aula. Tive que parar para comentar e agora com certeza vou ficar com suas frases na mente, refletindo sobre meu passado e quem sou agora no presente.