1. Spirit Fanfics >
  2. Teus olhos dourados >
  3. Capitulo Único.

História Teus olhos dourados - Capitulo Único.


Escrita por: sekaibox e indelikaido

Notas do Autor


Olá, pessoal!

Finalmente chegou a hora de ver mais um ciclo desse projeto e dessa vez estou trazendo algo bem simples pra deixar o coração de todo mundo beeeem quentinho~

Boa leitura e olhem as notas finais para agradecimentos <3

Capítulo 1 - Capitulo Único.


Esse romance poderia ser épico. Poderia ser uma bela comédia, uma trama cheia de reviravoltas interessantes e relatos de um herói que fez de tudo para salvar seu amado das garras do Minotauro.

Ele é, no entanto, sobre o rapaz mais obtuso de todo o Império Grego.

E não espere muito dele. Ele não é nenhum Perseu.

Um brilho quase místico iluminou todo o teatro de Delfos por alguns instantes, um momento que ressaltou toda a glória daquele espaço, fazendo as pequenas pedrinhas do chão brilharem naquele fim de tarde. Era o quinto dia de uma sequência de festividades de culto a Zeus, e Jongin definitivamente não pretendia passar a noite ali, mas foi inevitável aceitar o convite insistente de seus amigos.

— Aquilo ali é a orquestra, eles fazem o coro de fundo para os atores. Alguns dos atores até cantam, é impressionante, passam a peça inteira dançando e cantando… Queria poder fazer isso. — Junmyeon apontou na direção de uma área em formato de meia-lua. Atrás do local onde o coro começava a se juntar em posição havia uma construção que remetia à imagem de um palácio luxuoso, esteticamente agradável. — E na frente tem o proscênio. Eu te juro que não vai se arrepender de ter vindo hoje.

— Espero que esteja certo — Resmungou baixinho, mesmo sabendo que não estava se sentindo tão contrariado assim. 

Dentro de si sempre houve aquela curiosidade a respeito dos teatros. Ele obviamente conhecia o alvoroço que aquelas grandes peças e festas causavam na cidade todas as semanas, distrações muito frutíferas para um povo que realmente parecia precisar de uma boa dose de entretenimento e festividade. Durante as noites, quando deitava-se e aproveitava para descansar depois de um dia preenchido com trabalho braçal pesado dentro do ateliê, podia ouvir o barulho dos vizinhos conforme caminhavam na direção do teatro, animados para as apresentações.

Jongin nunca soube curtir muito bem. Desde pequeno, era criado para nunca cair em desgraça: o nome da família deveria ser honrado, alguém tinha que cuidar do ateliê de artesanato e da serraria quando o pai falecesse  — o que ainda não havia acontecido. 

Não cair em desgraça, não desonrar o próprio sobrenome. Nada de festas, relacionamentos eram mal vistos pelos pais caso não houvesse aprovação prévia ou se não fosse com alguém bem-visto na cidade. Restava a ele apenas fingir que estava contente e se guardar para algo maior, que ele sempre acreditava que aconteceria algum dia. Ele se enfiava no ateliê, cumpria com as metas do dia e voltava para a casa anexa que ficava na parte de trás do terreno enorme que pertencia à sua família. Seu irmão já tinha casado com uma moça de boa índole e desempenhava seu papel como parte do conselho de guerra da cidade, o que aumentava a pressão em cima de seus ombros.

Ele estava desesperado por um pouco de diversão e aquele teatro era uma ótima oportunidade.

Já regidos pela embriaguez que o vinho proporcionava a eles, Jongin se viu no meio de quatro patetas. Eles faziam uma algazarra enquanto o primeiro cântico inaugurava a peça daquela noite, gritando junto com outras pessoas na plateia. Ele só conseguiu se encolher, incapaz de entender o que estava acontecendo ali; em sua concepção, ir prestigiar uma obra ou evento implicava em manter um silêncio respeitoso do início ao fim, interrompendo-o apenas para uma breve salva de palmas. Quanto mais ouvia os gritos animados da plateia, mais certeza ele tinha de que nada sabia sobre diversão e arte.

Tentou não se incomodar tanto com essa parte; com o tempo, quanto mais frequentasse e ocupasse aquele espaço, mais confortável ficaria ao curtir com os amigos. Naquele momento, ele apenas queria apreciar o que acontecia bem diante de seus olhos.

Ele conhecia todas as histórias desde pequeno. Sua família, devota de alguns dos olimpianos, constantemente contava histórias fantásticas sobre a bondade dos deuses para que, desde cedo, aprendesse como um bom homem deveria se portar para ser tocado por eles. Ele sempre havia ansiado por sinais e ficou ressentido quando, aos doze anos, viu sua plantinha de estimação morrer. Um sinal claro de que não, Perséfone não estava gostando de suas oferendas. 

Encostou contra a contenção da arquibancada esculpida em pedra, interessado nos artistas que começavam a se movimentar no proscênio. Todos eles pareciam possuir uma energia que ele nunca havia visto antes, uma dinâmica que era contagiante e misteriosa ao mesmo tempo. Cantavam sobre um reino próspero e sobre as aventuras de Jasão, que era representado na peça por um rapaz mais alto e que se destacava entre os demais atores. Ele se movia de maneira graciosa, complementando falas e melodia com movimentos quase dançantes; ele exalava uma aura diferente. Quase não percebeu quando se inclinou para frente, desencostando da solidez e frieza da arquibancada de pedra apenas para sentir-se mais próximo do ator. Ele cantava com uma paixão notável e não parecia se importar com mais nada. Era como se a luz de todas as estrelas que brilhavam no céu estivesse convergindo para aquele ponto, para o lugar que ele ocupava no palco. Era de tirar o fôlego.

Seus amigos não perceberam sua comoção e Jongin quase se ofendeu com a falta de tato deles; como poderia alguém não compreender a grandeza daquele homem que performava lá embaixo? Como poderiam fingir que era apenas mais um ator dentre dezenas, quando ele parecia ser a própria reencarnação de Apolo? Não podia ver seu rosto, uma vez que estava coberto por uma máscara completamente dourada, mas sabia que ele era lindo. Por dentro e por fora. Ele tinha certeza disso.

Assistiu o resto do espetáculo com uma ansiedade que só crescia dentro de si, elevando suas expectativas a patamares nunca antes alcançados. Torcia o tecido nobre de sua túnica branca, esperando pelo momento em que poderia descer as arquibancadas correndo e finalmente descobriria quem era o ator por trás daquela máscara. Ainda estava mergulhado em fascínio e estupor quando tudo acabou e as fogueiras que rodeavam o proscênio foram apagadas, fazendo com que a plateia entendesse que era hora de ir embora. Muitos sairiam do anfiteatro e iriam para casas de amigos, continuar celebrações que não pareciam ter fim. Outros — como Jongin pretendia assim que remediasse a ansiedade — iriam para casa com um sorriso no rosto e dormiriam satisfeitos após uma boa dose de distração.

Junmyeon apertou seu braço sem muita força, chamando sua atenção. — Jongin, o Chanyeol e eu vamos abrir algumas garrafas de vinho lá em casa. A safra deste ano foi ótima e sobrou bastante coisa.

Piscou como se não entendesse mais o que o amigo falava. Como se não falasse mais o mesmo idioma que ele. Fitou os olhos verde-escuro de Chanyeol, que sempre foram um poço de compreensão e que naquele momento estavam completamente confusos. Nem lhe passou pela cabeça que talvez estivesse agindo de modo estranho ou suspeito; somente queria saber quem era o misterioso ator.

— Eu não posso ir. Preciso resolver uma coisa e então irei para casa, verei vocês amanhã no ateliê.

Os dois ficaram reticentes por alguns instantes. 

— Mas… Resolver o quê? Está tarde, daqui a pouco todo o vilarejo estará recolhido e as ruas estarão desertas. 

Jongin olhou por cima do ombro da maneira mais discreta que podia. Os atores e organizadores do teatro começavam a juntar as coisas que outrora estavam espalhadas perto do proscênio, enfiando tudo em grandes sacos de pano.  Ele não queria falar para os amigos porque tinha medo que alguma conclusão precipitada chegasse aos ouvidos de seu pai, então logo tratou de disfarçar com um espirro forçado.

— Encomendei remédios para gripe. A chegada do inverno sempre me deixa mais sensível e não quero ficar acamado, é uma temporada importante para o ateliê — disse em tom suave, sorrindo pequeno. Com uma das mãos, segurou o ombro de Junmyeon. — Vá, caro amigo. Tudo estará resolvido pela manhã.

Chanyeol deu de ombros, aparentemente convencido pela desculpa de Jongin, ajeitou a fíbula dourada que segurava a chiton em seus ombros e virou as costas, certo de que seria imediatamente seguido pelo outro. A saída de Junmyeon não foi imediata; livre do aperto reconfortante do melhor amigo, seus olhos assumiram um teor preocupado e ligeiramente sombrio. — Se você precisar de ajuda ou aconselhamento, venha até mim. Eu jamais te julgarei, Jongin. 

Ele duvidava muito daquilo. A fala de Junmyeon certamente era bem-intencionada, mas não gostaria de testar até onde iria aquela intenção. Ele não gostava de se arriscar de modo tão inadequado.

— Boa noite, Junmyeon. — Sorriu novamente, implicitamente dispensando a oferta do mais velho. 

Esperou até que os amigos estivessem longe do alcance de seus olhos para correr anfiteatro abaixo, voltando a sentir no peito aquela ansiedade que empurrava sua curiosidade na direção dos astros. Estivera louco por aquele momento, louco para descobrir quem era o ator mesmo que não soubesse ainda o que faria quando o descobrisse. O convidaria para um passeio na praça, talvez. Talvez oferecesse a ele um pouco de vinho e pão, que sabia fazer muito bem.

Alcançou o proscênio com as pernas já trêmulas, quase derrapando em cima do piso de pedra polida e chamando a atenção de alguns atores que ainda estavam ajudando a limpar o local antes de realmente encerrarem as atividades no dia. Nenhum deles era o ator que buscava, porque todos eram visivelmente mais baixos.

— Podemos te ajudar, amigo? — um dos homens se pronunciou com um sorriso gentil no rosto, aproximando-se de Jongin. Ele tinha uma barba cheia e bonita e o chiton de seda branca era decorado com fios dourados, muito bonito.

— Eu estou procurando por um homem… O que usava a máscara dourada durante os atos. 

— Ah, puxa… Ele já foi embora. Como ele mora em um lugar mais distante do vilarejo, raramente fica depois das peças.

— Ele voltará? — indagou antes que pudesse pensar melhor em suas atitudes. Com certeza estava levantando suspeitas indesejadas.

O outro ator assentiu. Se estava curioso ou incomodado com Jongin, não demonstrou em momento algum, limitando-se a cruzar as mãos na frente do corpo de maneira tranquila.

— Estamos fazendo a peça em homenagem a Jasão a cada quinze dias, mas na próxima semana teremos uma homenagem a Apolo aqui no proscênio, algo mais… animado. 

Jongin se precipitou e entregou algumas moedas de prata ao ator, colocando-as na palma de sua mão. — Estou comprando ingressos para a temporada inteira. Todas as peças possíveis. Eu gosto muito do trabalho de vocês.

O homem pareceu ficar atônito e enfiou as moedas em uma bolsinha de couro que trazia a tiracolo.

— Tens certeza? Isso é muito dinheiro e nem todas as peças são bem recebidas por todo mundo…

— Estarei aqui. — Jongin sorriu para ele e começou a se dirigir para fora do anfiteatro, o peito parecendo pequeno demais para o coração que batia com força.

Quando se viu fora da estrutura, olhou para os lados, apertando os olhinhos numa tentativa de enxergar mais do que já enxergava ali no escuro. Desejou, por alguns minutos, ser capaz de ver a silhueta do ator, que já estava gravada em sua mente como se fosse pertencente a alguém que conhecia há séculos.  Ele não conseguia, no entanto, ver algo além da rua feita de pedras irregulares e ladeada por pequenas piras acesas. Nenhum sinal daquele homem que tinha feito seu coração ficar tão grande dentro do peito.

Mesmo assim, Jongin sorria enquanto voltava para casa. Porque agora tinha um motivo para ficar até tarde na rua, vendo grandes espetáculos e curtindo com Chanyeol e Junmyeon — o motivo talvez fosse um pouco inadequado, mas ele não se importou com aquilo.

 

Encontrar o tal ator não foi uma tarefa fácil.

A princípio, Jongin imaginou que, se fosse rápido o suficiente após as apresentações, acabaria alcançado o sujeito e então finalmente teria o prazer de desvendar quem estava por trás da variedade impressionante de máscaras. Mas não importava o quão rápido ele saísse das arquibancadas na direção do proscênio, estava sempre um passo atrás. O ator parecia não querer ser encontrado e ele deveria respeitar aquilo, mas algo dentro de si dizia que insistir era a melhor opção. Ele não desejava o mal do outro, de modo algum, estava apenas curioso. 

Àquele ponto, Junmyeon e Chanyeol já tinham desvendado o motivo por trás de seu comportamento estranho e passavam a debochar daquilo constantemente em todas as vezes que se encontravam. O assunto sempre surgia nas situações mais inusitadas possíveis e ele nunca sabia como reagir às perguntas animadas — se ele já havia encontrado o rapaz, se eram amigos, se ele apareceria para jantar com eles —, porque não estava acostumado a ser tão aberto a respeito de seus interesses pessoais. Grande parte das interações que tinha com os amigos era baseada em suas atividades profissionais, em projetos para esculturas novas e encomendas de objetos de artesanato. Até certo ponto, sequer sabia como classificar suas motivações atuais; estava tão animado e empenhado em encontrar o ator que continuava sem saber ao certo o que faria quando finalmente alcançasse esse objetivo.

Enquanto observava encantado a nova peça sobre as festas que cultuavam Dionísio, não conseguia pensar em nada além do quanto gostaria de estar participando daquele evento. Todos os atores se divertiam, entoando cânticos bonitos enquanto interpretavam ninfas, divindades menores e deuses do olimpo, todos seduzindo mortais com o poder e o sabor do vinho. Podia compreender o preconceito que seus pais tinham com os artistas que trabalhavam com aquilo — se é que eles os chamariam de artistas — enquanto focava sua atenção na pessoa que mais lhe interessava; o ator, que naquele dia usava uma máscara preta, aparecia ao lado de um homem mais velho que interpretava o próprio deus do vinho. A máscara preta não refletia nenhuma luz, mas sua pele ligeiramente bronzeada estava banhada pela luz do fim de tarde, como se fosse feita de ouro, as mãos esguias atraindo os olhares de Jongin conforme derrapavam pelo corpo de outros atores, todos imersos nos papéis que representavam. A música deixou de ter importância para ele no momento em que os olhares se cruzaram, sendo substituída pelo barulho que o sangue fazia enquanto percorria seu corpo com força total. 

Suspirou, genuinamente impressionado. Como se fosse alguma piada de mau gosto, o espetáculo acabou; não havia mais nada a ser dito sobre as festividades em nome do deus do vinho, mas a música boa ainda balançava a cabeça de Jongin quando levantou-se e aplaudiu, já começando a descer os degraus da arquibancada na direção do proscênio. Estava fazendo aquilo há quase dois meses e os outros atores já não se importavam mais com a insistência do artesão, mas também não faziam nenhum esforço para ajudá-lo e ele não entendia o motivo por trás daquilo. Seria infinitamente mais fácil se apenas contassem a ele quem era o ator mascarado.

No entanto, sentia dentro de si que naquela noite as coisas mudariam, para o bem ou para o mal. Entrou na tenda onde os atores mantinham seus pertences e adereços com uma expressão neutra, segurando o manto contra o corpo ao se abaixar. Quando seus olhos finalmente se ajustaram à claridade amarelada dentro da tenda de couro, surpreendeu-se ao encontrar justamente o homem que estivera procurando nas últimas semanas. Jongin se engasgou com a própria saliva e recuou, ciente de que ele provavelmente tinha ouvido por aí sobre sua perseguição infrutífera.

O ator parecia ser a própria personificação de alguma divindade, tão bonito quanto as esculturas que o artesão esculpia em seu ofício, mas era feito de carne e osso. Ele estava surpreso com a visita repentina, mas seu rosto não expressava desconforto, apenas curiosidade. O cabelo negro estava penteado para trás, as gotículas de água caindo sobre seus ombros nus. Sem a máscara, seu olhar parecia ser muito menos intimidante: as íris douradas — se algum dia pudesse ter a honra de ver os deuses, saberia que aquela era a cor de seu sangue, a cor do ícor — estavam presas a si como se analisassem sua alma. Sentiu-se despido. Fitou a cicatriz aparentemente antiga que lhe atravessava o rosto, partindo do maxilar bonito e atravessando o olho direito até terminar entre suas sobrancelhas, mas logo desviou o olhar. Ele era dolorosamente bonito.

— Posso ajudar em algo, senhor? — A voz grossa interrompeu o silêncio determinado pela admiração mútua, fazendo com que Jongin finalmente escapasse de seus pensamentos.

— Eu… Bom… Queria dizer que admiro muito o seu trabalho. Eu não costumava ver muitas peças, mas vim em uma pela primeira vez e… você…

Ele riu, um brilho gentil passando pelas bochechas cheias e pelos olhos dourados. — Me encanta que você aprecie meu trabalho. É difícil atuar, mas creio que não podemos ignorar certas aptidões.

Jongin sentou-se em cima do tapete que protegia o chão enquanto o ator terminava de se desmontar, trocando a chiton negra por uma de linho e prendendo a roupa com uma fíbula. Era interessante vê-lo de perto, muito mais interessante do que qualquer peça teatral.

— Você é ator há muito tempo? — questionou em um tom suave, com medo de que soasse intrometido. 

— Oh, sim… Desde que me dou por gente. Meus pais eram nômades e isso me prejudicou um pouco, mas acabei me assentando perto daqui ainda criança e isso permitiu que eu conseguisse arrumar esse ofício de modo mais sério. — Ele lançou um sorriso bonito na direção do desconhecido, parando o que fazia para fitá-lo. — Mas você não parece o tipo de pessoa que considera isso um ofício.

Sentiu o rubor esquentar suas bochechas, mas evitou quebrar o contato visual. 

— Definitivamente não fui criado para pensar tal coisa, mas estou me acostumando a coisas novas. Eu sequer gostava de teatro antes, mas… a gente muda de ideia.

— É… Acredito que sim. Fico feliz que tenha uma visão diferente agora, isso é o que conta — falou depois de alguns segundos refletindo sobre o que ele dissera, recolhendo do chão uma bolsa de lã. — Bom, a conversa está agradável, mas preciso voltar para minha casa. O dia ainda não acabou. 

A perspectiva de perder de vista os olhos bonitos e a voz doce do ator deixou Jongin enjoado por uma fração de segundo. Ele se ergueu rapidamente do chão, os olhos arregalados. — Você voltará?

— Todos os dias. É meu ofício, afinal de contas. — Sorriu pequeno, as covinhas desmanchando e distorcendo ligeiramente o caminho que a cicatriz fazia em seu rosto. — Você quer me contar algo? 

— Meu nome é Jongin. — Soltou sem pensar duas vezes, certo de que estava fazendo papel de louco e assustava-o.

— Ora, é um belo nome. Eu me chamo Sehun. É um prazer conhecê-lo. — Estendeu a mão para o artesão, divertindo-se com o quão afetado ele parecia estar. 

— Não, não é isso que eu queria falar… Por Zeus, eu sou tão estúpido, — resmungou, apertando a mão de Sehun com delicadeza. — me perdoe por isso. 

Um silêncio estranhamente longo perdurou por alguns segundos enquanto ele segurava a mão do ator, que não parecia nem um pouco incomodado com aquele contato. — Posso te servir algo para beber? Não moro longe daqui.

Jongin soltou o ar que prendia de uma vez só, o corpo relaxando enquanto ele ria baixinho e assentia. Estava aliviado por não ter que colocar em palavras o que realmente desejava dizer, porque sabia que não era capaz daquilo; horas atrás, sequer acreditava que finalmente conheceria Sehun.

— Céus, ainda bem que você perguntou primeiro. 

O ator segurou a abertura da tenda para que Jongin deslizasse para fora graciosamente, liderando o caminho para fora do teatro e na direção de uma rua feita de pedregulhos polidos. 

— Achei que você jamais me encontraria. Depois de dois meses, estava começando a perder as esperanças. Não é fácil flertar com toda essa distância entre o proscênio e as arquibancadas. — Olhou para Sehun, assustado, parando no meio do caminho.

— Como assim?

— Você não achou que era o único, achou? Jongin, eu também podia ver você. — Riu da reação dele, apertando a bolsa de lã contra o corpo. — Eu só não podia fazer nada, porque somos proibidos de interagir fora do horário dos espetáculos. E não sou exatamente querido por meus colegas de palco.

— Por que você diz isso? Tenho certeza de que eles não tem problemas com você. — Apertou o passo para alcançar o moreno, voltando a andar ao lado dele. 

— Ninguém gosta de forasteiros, Jongin. Por isso que não costumo transitar dentro da vila. Minha aparência também não faz muito sucesso entre as pessoas, por isso o teatro de máscaras vem a calhar. 

Franziu o cenho. — Até entendo a parte do estrangeirismo, mas sobre a aparência…

— Meus olhos são sinal de mau agouro e a cicatriz piora tudo. Então eu evito eles e eles me evitam, e está tudo bem. — Deu um sorriso breve para Jongin, se detendo nos detalhes do rapaz; o cabelo castanho esvoaçava com a brisa suave que soprava contra eles e os olhos escuros estavam fixos no horizonte, talvez antecipando o momento em que se protegeriam da noite ligeiramente fria. — Mas você não se importou com isso.

Era uma observação dita em um tom tão baixo que soou inapropriada para os ouvidos de Jongin, treinados para os bons costumes do cidadão grego.

— Vamos dizer que eu não estou em posição de te criticar por aparência, comportamento ou qualquer outra coisa do tipo — murmurou, seguindo Sehun para dentro de uma rua ladeada por casas pequenas. Era tudo extremamente silencioso, como se todos já estivessem dormindo.

— Percebi isso quando você não viu problema quando mencionei flerte. 

Jongin sorriu, apologético, incapaz de sentir-se culpado pelo que estava prestes a falar. — Também não vejo motivo para reclamar disso.

Parado em frente à porta de sua casa, Sehun sorriu. Tinha um bom sentimento com relação ao artesão que aguardava atrás de si. Permitiu que ele entrasse em sua casa, mesmo que soubesse que não havia nada dentro daquelas quatro paredes que fosse de fato um demonstrativo da pessoa que era além dos utensílios que usava para preparar alimentos. 

Sob o olhar sempre curioso de Jongin e com o coração acalentado pela conversa mais leve que tivera em anos, o ator de olhos dourados aproveitou o que parecia ser a primeira noite de uma amizade boa com alguém que poderia ter sido só mais um espectador de passagem em um de seus espetáculos. A conversa fluía e o diálogo parecia escapar pelas janelas junto com o vapor da água quente e as preocupações que o artesão tinha para com o futuro.

Era como se, de repente, seu mundo tivesse entrado nos eixos. 

Antes de dormir, já dentro de sua casa e seguro entre os lençóis familiares, Jongin sorriu e agradeceu aos deuses por aquela dádiva. 



 

 


Notas Finais


Plot por: @hachikos-
Primeiramente quero agradecer com todo o meu coração a beta PinkLoo, que fez um trabalho INCRÍVEL revisando a história e acrescentou em muito à versão final (e ainda me xingou pela falta de bitoquinhas, foi mal! quem sabe na próxima). Agradeço também às adms fofíssimas e especialmente a Amy (thenarkotika) que fez essa capa que tá um arraso~
Para a pitica kjguccy, donnie, obrigada por mais uma vez ser tão receptiva e calorosa com a fanfic! Te adoro~

Obrigada a todes que leram e espero que possamos nos ver novamente em breve!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...