História That Life - Capítulo 6 - Arrepsia

As pessoas tem várias formas de reagir a receber uma declaração, algumas ficam surpresas, outras ficam envergonhadas, outras ficam triste por não ter a capacidade de retribuir o sentimento, outras riem achando patético que a pessoa que se declarou para ela realmente achava que ela ia corresponder o sentimento, e tem eu. O que eu quero dizer com isso? Simples, eu acabei de receber uma declaração e um pedido de namoro da pessoa que eu gosto e o que eu disse?

- Eu preciso pensar... -

O que eu tenho na cabeça?! Eu estava preparado está noite para chorar porque meu amor não era correspondido, e quando descubro que: Ele é correspondido, a pessoa está disposta a namorar comigo, e fez tudo isso sem se importar que somos do mesmo sexo, sendo que ele é hetero... Ou pelo menos era né.

Eu estou deitado na minha cama nesse exato momento, e eu já perdi a noção de quanto tempo eu estou acordado olhando para o teto e pensando o porquê de eu não ter aceitado o pedido de Itto. Por algum motivo uma parte de mim diz para que eu aceite, e outra parte quer que eu pense melhor sobre o assunto e eu estou fazendo isso, mas porquê estou fazendo isso? Itto não é uma pessoa ruim, claro que ninguém é perfeito mas ele seria um ótimo parceiro no relacionamento, não tenho motivos para pensar mais nada, eu quero namorar com ele.

Mas mesmo tendo essa certeza porque essa dúvida não sai de mim? Porque ela permaneceu? Mesmo tendo todos os argumentos necessários para dizer que eu quero aceitar o pedido de Itto, eu não consigo deixar essa dúvida sair de dentro de mim. Eu me sinto culpado por isso estar acontecendo, ele não tem culpa de nada e eu ainda sim estou confuso se devo aceitar ou não, mesmo gostando dele, isso está me corroendo por dentro e não permitindo que eu durma, eu vejo a minha janela mudar da cor habitual da noite para uma cor mais clara, já estava amanhecendo e eu aqui acordado pensando em aceitar o namoro de uma pessoa que eu gosto.

Eu acho que estou acostumado a sempre analisar a situação para saber se eu realmente gosto dele, então vamos fazer isso: O Itto é um homem assim como eu, e eu já decidi a um certo tempo que eu gosto de homens também, então esse não é o problema, Itto é uma pessoa bem animada e gentil com as pessoas a sua volta e a forma que ele me trata é diferente dessas pessoas, ele me trata de uma forma mais privilegiada da sua atenção e proteção, características perfeitas pra um namorado.

Pode parecer errado da minha parte, mas desde que conheci ele eu sentia inveja do seu corpo, eu treinava todos os dias e meu corpo só ficava no aceitável enquanto o dele era perfeito. Essa inveja começou a virar uma admiração e hoje se tornou um desejo de ter contato com seu corpo, sentir seu peitoral definido, ser protegido pelos seus braços fortes, resumindo eu quero aquele corpo junto ao meu... Isso parece meio errado, mas mesmo assim eu quero e não consigo sentir culpa disso, é como se eu estivesse fazendo algo certo que é errado ao mesmo tempo.

Uma coisa que eu sei bem é o que os namorados fazem, e é óbvio que Itto também vai querer fazer e ele não está errado de querer isso, sempre que eu paro para pensar sobre esse assunto o meu corpo esquenta e um frio aparece na minha barriga, eu fico nervoso, ansioso, com medo, com curiosidade, eu quero fazer, eu não sei como fazer. O incrível de tudo isso é que eu tô pensando em coisas que namorados fazem, sendo que eu ainda nem aceitei o pedido dele, eu literalmente deixei ele nervoso e ansioso pela minha resposta, sendo que a resposta é um sim mas eu não consigo dizer essas palavras " Eu quero namorar com você", não precisava ser essa frase, um simples "Sim" era o suficiente para que nós estivéssemos namorando, e eu pedi para pensar já sabendo da resposta.

(...)

Como o esperado eu não consegui dormir aquela noite, mas para minha sorte eu me levantei e tomei um chá que me fez adormecer até o horário da escola, eu só dormi 3 horas de relógio mas já é o suficiente para eu aguentar ir ao colégio, mas esse não é o problema agora, eu tenho que garantir que o Itto não me veja hoje, eu não vou conseguir responder o pedido dele e eu sei o quão ansioso ele é. Tendo essa idéia em mente o último sinal toca, as aulas da manhã acabaram e eu podia ir para casa, eu não deu nem tempo para que Aether me perguntasse o porquê de eu estar estranho, já saí da sala indo embora do colégio, e sempre a cada corredor eu olhando para ver se Itto não estava nele.

Com sorte eu provavelmente consigo não encontrar com ele, olho novamente o novo corredor e não o encontro e sigo pelo caminho, eu não queria evita-lo, mas vai ser melhor assim do que ele chegar todo animado me perguntando se eu já tenho resposta, e eu não vou ter a capacidade de dizer que ainda estou pensando, porque eu não consigo mentir, eu já tenho resposta e não consigo responder a ele. Olho novamente esse corredor e ele não está presente, vou em frente de forma sorrateira para ter certeza de não encontra-lo, eu realmente tenho um problema e esse problema tem o nome de Arataki Itto.

Esse é o último corredor que já vai me deixar direto na saída do colégio, respiro fundo e olho cuidadosamente e ele não está lá, suspiro aliviado em saber que vou embora sem passar por essa situação constrangedora, caminho sorrateiramente até meu armário guardando todos os livros que eu usei para ir a escola.

- Ufa... Tomara que ele não tenha me visto -

Quando eu fecho a porta do armário e me viro para a saída, quem que está ali encostado nos outros armários? Sim, ele mesmo. Eu não tive essa reação de saber que era ele, sabe porque? Eu fechei os olhos aliviado enquanto caminhava e acabei me esbarrando nele e só depois eu vi a pose que ele estava, o olhar penetrante dele sobre mim não foi o motivo de eu estar surtando agora, eu estava no chão e isso só destacava mais a altura de Itto, eu entrei em desespero porquê a situação entre nós dois estava diferente, a sensação de antes não era um estranho bom, era um estranho que me deixava com medo.

- Ficou me evitando o dia todo não foi? - Ele se agachou para me ajudar a levantar e diminuiu sua altura me acalmando aos poucos

Eu não tinha cara para olhar ele, eu só segurei a mão dele tendo o apoio para levantar, assim que fiquei de pé ficamos parados um em frente para o outro, um silêncio reinou naquele local e a situação ficou muito desconfortável entre nós dois, Itto olhando para mim esperando uma resposta da sua pergunta e eu olhando para o chão sem coragem de olhar nós olhos deles, ele não entenderia minha situação e acharia que eu estou enrolando ele para não magoa-lo. Porém esse silêncio foi quebrado pelo oni que baguncou meus cabelos, meus olhos brilharam me dando coragem de olhar para ele confuso pelo ato, já fazia um mês que eu não sentia a mão dele sobre minha cabeça.

- Vamos pra casa - Ele disse sorrindo

Eu permaneci em silêncio por alguns segundos, ele não me cobrou uma resposta do seu pedido de namoro, ele realmente estava disposto a esperar o tempo que for preciso pela minha resposta? Sem cobranças ou insistência? Eu senti um conforto sobre o meu coração, deixando um sorriso bobo se formar em meu rosto e me dando finalmente a coragem de responde-lo.

- Vamos -

Quando o respondi seu sorriso aumentou e começou a caminhar para fora da escola e eu o segui, ele realmente ignorou o simples fato de eu estar evitando ele para não lhe dar uma resposta, não imaginava que ele seria compreensível dessa forma. Nós caminhamos normalmente de volta as nossas respectivas casas, o silêncio era agradável e calmo, ele não de prolongou muito porque Itto começou a me perguntar coisas que ele reparou em mim e com toda razão.

- Não conseguiu dormir? - Se referiu as minhas olheiras que estavam bem explícitas

Eu não sei se eu dizer que o motivo das minhas olheiras foi por causa de eu estar pensando sobre o nosso relacionamento é uma boa idéia, ele pode realmente ficar feliz em saber que eu estou pensando a ponto de perder minha noite de sono por isso, ou ficar triste em ver que eu perdi minha noite de sono por causa do pedido dele.

- Eu... Optei a não dormir para fazer algo importante -

Eu não menti sobre o que aconteceu, eu realmente não dormir porque estava pensando no pedido dele, eu omiti os fatos falando a verdade sem que ele entendesse o real significado. Ele ficou confuso por um momento, mas resolveu não perguntar mais sobre esse assunto, ele percebeu que se eu quisesse falar o que eu estava fazendo eu já teria dito em vez de deixar em aberto.

- Como foi o último dia de revisão? Conseguiu anotar tudo o que precisava para estudar? -

Normalmente ele não me perguntaria isso, porque ele sabe que eu sou um aluno dedicado aos estudos e que nunca deixaria de anotar tudo que o professor falasse que iria cair na prova. Mas o motivo da sua pergunta é compreensível, eu não tive as 8 horas de sono necessárias para meu corpo e minha mente estarem funcionando, ele está preocupado e eu achei isso fofo da parte dele, ele está demonstrando seu sentimento por mim sem ser invasivo ou insistente, ele está agindo de forma normal.

- Eu queria confirmar que anotei tudo, mas eu não sei se realmente anotei, eu vou perguntar ao Aether depois se eu realmente eu esqueci de algo... Mas obrigado pela preocupação -

As nossas conversas continuaram, não era nada desconfortável responder todas as suas falas, era como se nada estivesse acontecendo, não parecia que ele me pediu em namoro ontem e que eu disse que iria pensar, estamos conversando como se fossemos amigos normais e eu estou gostando muito disso. Chegando em frente a minha casa, Itto se despediu e já ia começar a caminhar para sua casa, mas ao ver ele se afastando algo dentro de mim dizia que eu tinha que fazer algo.

- Espera! -

Eu segurei seu braço enquanto ele me olhava confuso, eu respirei fundo e pedi para que ele se abaixasse um pouco, assim ele fez de forma confusa, quando vi que já tinha o suficiente eu encostei nossos lábios de forma rápida. Eu senti o corpo dele endurecer provavelmente provocada pela surpresa do contado repentino, mas logo voltou ao normal aproveitando aquele momento, era só um selinho demorado mas muito satisfatório, era uma forma minha de dizer "Está tudo bem, só espere mais um pouco" , quando nos separamos eu senti que ele entendeu o recado mas mesmo assim eu ainda queria esclarecer as coisas.

- Me desculpe por tentar evitar você hoje... -

- Eu não demonstrei que estava tudo bem? Não se preocupar com isso cãozinho -

Cãozinho... Quanto tempo eu não o escutava me chamando disso? Eu sei que foi durante um mês inteiro mas mesmo assim, pareceu que foram mais de um mês, eu me senti realizado recebendo tudo que eu estava querendo todos esses dias.

- I-Itto... Eu estive pensando durante essa noite em que eu não dormi... Sobre o seu pedido -

- Cãozinho... Não precisa responder agora, eu percebi que você está ainda em dúvida sobre isso tudo -

- E eu estou! Mas não sobre o sentimento entre nós dois... -

Nesse momento eu me sentei encostando minhas costas na árvore que tinha na parte do gramado do lado da calçada e Itto fez o mesmo.

- Eu também gosto de você Itto... Sinceramente quando eu descobri que você estava gostando de alguém e eu achei que essa pessoa não era eu, eu não tive muita reação a não ser te ajudar. Naquela noite eu já estava preparado para deitar na cama e chorar a noite toda por você não gostar de mim da forma que eu queria - Eu dei uma risadinha - Bem idiota da minha parte não é? Um homem chorar porque outro homem não gosta de você... -

Itto iria falar algo a respeito, mas eu não dei oportunidade dele falar, e eu acho que ele percebeu que meus olhos já estavam um pouco lacrimejados e lutando para não permitir que lágrimas indesejáveis escorresem sobre meu rosto.

- Naquela noite, quando você disse que gostava de mim, toda a tristeza que eu estava sentido foi embora e foi preenchida por dúvida. Eu fiquei a madrugada toda me culpando por não dizer as palavras que eu realmente queria dizer a você - Eu o olhava já deixando lágrimas escorrerem - Eu não queria ter dito que queria pensar! Eu não queria isso! Eu queria dizer que sim, que quero namorar com você! Mas por algum motivo essa dúvida apareceu - Eu coloquei a mão na minha cabeça demonstrando que eu estava surtando com toda aquela situação.

- Eu me questionei a noite inteira sobre se eu gostava de você, e eu gosto de você! Eu gosto da forma que você me trata, eu gosto quando você bagunça meus cabelos! E gosto quando você me chama de cãozinho, eu odeio esse apelido mas eu gosto de ouvir você me chamando por ele! -

Meu rosto nesse momento mudou para um tom avermelhado, antes eu estava falando coisas normais sobre o que eu gostava que ele fizesse, mas agora vem uma parte mais... Vergonhosa de ser dita em voz alta.

- Eu quando te via jogando na aula de educação física, eu sentia inveja do seu corpo... Eu treinava todos os dias e meu corpo só ficava em uma forma normal, e essa inveja se tornou uma admiração... E hoje... - Meu rosto já estava semelhante a um tomate de tão vermelho que estava - Eu desejo ele... Eu quero poder tocar em seus braços, eu quero poder ter mais contato com você... -

Nesse momento eu levei minha mão a uma borboleta que tinha pousado nos braços de Itto, mas ao perceber que eu iria tocar nele eu a afastei e logo foi parada pelo braço dele, ele levou minha mão até seu peitoral e meu coração acelerou enquanto sentia outro frio na minha barriga.

- E você pode tocar, não precisa ter vergonha de pedir algo que você queira -

Eu comecei a alisar aquele local sentindo o peitoral definido e um pouco do seu calor corporal, ele levantou um pouco a camisa para que eu sentisse mais a fundo, e eu gostava daquela sensação e do calor corporal, minhas mãos ainda estavam trêmulas pelo surto recente, e enquanto eu alisava eu resolvi falar com ele.

- Eu também estava um pouco nervoso sobre o que os namorados fazem... -

Ele deu uma risadinha entendendo o que eu disse, eu só cortei violentamente a ponto de sentir não só minhas bochechas esquentarem mas também as minhas orelhas.

- M-Mas isso não importa agora! - Me amaldiçoei por ter gaguejado e continuei - Eu quero namorar com você, mas não consigo dizer isso a você -

- Mas você já disse -

Olhei para ele confuso, quando? Em nenhum momento eu disse isso a ele.

- Que? -

- Você não disse a frase " Eu gosto de você ", mas disse ela em sua explicação do que sentia, você confirmou que quer namorar, você conseguiu dizer o que queria, mas pra eu ter certeza de tudo isso eu tenho que te perguntar isso... -

Ele tirou minha mão de seu peitoral e abaixou a camisa, voltou a segurar não só uma das mãos mas as duas enquanto se aproximava de meu rosto e parou bem próximo, eu sentia nossas respirações bem próximas enquanto meu coração voltava a acelerar, a sensação de borboletas no estômago aumentar e meu rosto esquentar e corar violentamente.

- Nós estamos namorando? Eu só preciso que você diga sim ou não, só isso. Não precisa falar em voz alta, faça um ato que demostre que somos namorados -

Fazer um ato que demonstre que estamos namorando, eu quero demonstrar, porque aquela dúvida sumiu em meio a essa conversa, eu só quero que nós dois podemos ter um relacionamento só isso, eu respirei fundo e olhei para ele deixando um selinho rápido que o fez ficar vermelho e surpreso.

- Sim - Seus olhos se arregalaram - Nós estamos namorando, por favor cuide de mim -

Eu o abracei e senti o contato de seu corpo por inteiro, claro que não era o mesmo contato que senti antes por ele ter levantado a camisa, mas era o suficiente para eu me sentir acolhido por ele, ele tinha congelado quando eu o abracei mas logo retribuiu, eu poderia dormir ali e queria dormir ali, mas infelizmente eu não posso porque estamos na rua e em frente a minha casa... Espera... Estamos em frente a minha casa!

Eu me separei do abraço de Itto que me olhou confuso, e ao olhar para a janela da minha casa, minha mãe estava lá, observando tudo com a mão em sua boca demonstrando a surpresa de tudo. Essa não! Eu esqueci que nunca falei a minha mãe sobre a minha sexualidade, somente a Aether e a Lumine, ninguém mais além deles! O que eu faço agora?! Minha mãe se retirou da janela, eu estava ferrado! Mas antes de tudo eu tinha que falar com Itto.

- Itto! Desculpa mas eu tenho que ir, eu sei que agente tá em um momento importante agora, mas minha mãe acabou de ver nós dois aqui fazendo tudo aquilo, e eu nunca falei para ela que era Bi! E então... -

Eu fui cortado por ele me beijando novamente, eu atingi um tom carmesin no meu rosto pelo contato repentino, eu ainda não me acostumei com isso, ele se separou acariciando meu rosto.

- Não se preocupa cãozinho, eu entendo, agora vai lá resolver isso tudo com sua mãe, e apesar de não conhecer ela, eu tenho certeza que ela vai te aceitar, se quiser eu posso ir com você -

Nesse momento eu me acalmei um pouco e dei um selinho em seu rosto, incrível que eu nunca dei um selinho na minha vida e hoje eu não só dei um selinho como fiz várias vezes. Atravessei a rua as pressas enquanto ele me seguia na mesma velocidade, ele está disposto a enfrentar a minha mãe por mim? Ele podia ter ido embora que eu iria resolver e não iria ficar bravo com ele.

Mas não, ele vai enfrentar esse problema comigo e eu me sinto mais seguro em fazer isso ao lado dele, eu só espero que no final de tudo isso: Eu possa estar namorando com Itto e que eu possa ter o amor da minha mãe...