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História That's Life - Azul violeta


Escrita por: JoaninhaMalefica

Notas do Autor


Mals pela demora, agora sou um escravo assalariado que trabalha 8h por dia e faz faculdade a noite 😭😭😭 tenho tempo nem de cagar 😭😭😭😭😭
Vou tentar encurtar a fic pra terminar sabosta, senão não vai ter final kkkkkk

Capítulo 25 - Azul violeta


Acordara com o toque irritantemente incessante de seu despertador, espreguiçando-se cansadamente antes de levantar seu tronco, mantendo-se deitado por alguns instantes, somente encarando o teto de seu quarto enquanto a música que emanava de seu celular se tornava cada vez mais distante conforme era invadido com as memórias da noite anterior. Diana entrara curiosa no cômodo, aproximando-se de seu corpo estirado no colchão em busca de atenção, forçando-o a acariciar sua cabeça ao senti-la deitar ao seu lado. Suspirando muito mais sério e exausto do que gostaria, Ryuk se levantou, finalmente desativando o despertador, não saindo de seu quarto antes de cobrir Diana com o cobertor que até então lhe aquecia. Os pacotes vazios de lanches cancerígenos e latinhas de cerveja se acumulavam nos corredores, bem como as migalhas e farelos de comida se encontravam esparramados do chão manchado e imundo, além da desordem que predominava sobre os poucos móveis. O que podia fazer? Trabalhava a noite toda e quando chegava em casa já era madrugada, tudo o que queria fazer era comer alguma porcaria calórica e cair no sono. Era justamente por isto que não queria que Martim, seu irmão que em breve sairia da cadeia, fosse morar consigo. Tinha problemas demais, tarefas demais, mal dava conta das responsabilidades que a autossuficiência implicava, quem dirá tendo de sustentar mais alguém além de sua cachorra. Ademais, bem sabia que Martim não tinha correção. Cedo ou tarde ele voltaria para o tráfico, uma vez que provavelmente não teria se desligado de sua facção e indubitavelmente não queria aquela merda dentro da sua casa. Passara por muita dificuldade e sacrificara muitas coisas para se desvincular daquele tipo de atividade e não voltaria atrás naquele momento, justo quando tudo se encaminhava e entrava no eixo. Estava a pouco de conseguir sua moto, esta que seria uma conquista exclusivamente sua, com dinheiro limpo e suado. Não iria abdicar de tudo por pó e maconha, por mais tentadoras que estas pudessem ser.

Após um banho breve, retornara ao cômodo para se vestir, não podendo ignorar a falta de roupas limpas em seu armário. Porra, além de limpar a casa ainda tinha de lavar roupa. Caralho, sua vida era um lixão... Colocando a blusa mais decentemente limpa e as mesmas calças do dia anterior, Ryuk apanhou seus inseparáveis fones de ouvido do canto em que havia os jogado na noite anterior, quase saindo do quarto ao esquecer que Diana repousava quietinha em sua cama improvisada. Conquanto estivesse atrasado, dado o tempo em que enrolara para se levantar, aproximou-se da cachorra cada dia mais velhinha e cansada para se despedir, lutando para ignorar o fato de que, provavelmente, seu tempo estava acabando. Ela tinha de viver mais um pouco, pelo menos até terminar de ajeitar sua vida, daqui três ou quatro anos. Não suportaria perde-la naquele momento, sem ela acabaria se matando de um jeito ou de outro... Saíra de casa, atravessando o quarteirão velozmente, tendo de correr na última rua para pegar o ônibus que já partia de seu ponto. Felizmente, o motorista o conhecia a tempo suficiente para espera-lo.

O caminho até a escola era longo e entediante, morava no outro lado da cidade, na parte pobre e periférica, onde se amontoavam os imigrantes, enquanto a instituição se localizava no centro, próximo aos bairros de classe média e nobres. Desta forma, era mais fácil parar no ponto do lado do bairro onde se encontrava a casa de Light, para que pudessem ir juntos ao colégio. Durante o percurso, tentara desconsiderar as incessantes e inoportunas mensagens de seus irmãos, que a cada segundo indagavam a respeito de Martim, que logo mais seria liberto e necessitaria de moradia temporária. Aliás, deve-se salientar que aquele parecia ser o dia em que todos os parentes possíveis iriam o importunar, pois até sua mãe vigarista resolvera lhe mandar mensagens. Aquela mocreia lhe abandonara e sempre fora negligente, ela não dava a mínima para si e só lhe procurava quando era conveniente. Certamente estava com dividas e/ou queria dinheiro “emprestado” (que jamais seria devolvido) para se drogar, supôs ao ler seus textos pela barra de notificação, não ficando surpreso ao acertar. Exausto tanto física quanto emocionalmente, Ryuk bloqueara sua tela, pedindo para sabe-se lá que entidade para que Yagami não viesse com aquelas viadagens e planos esquizofrênicos relacionados aquele sapo. Naquele dia não teria saco para ouvi-lo sem lhe arrancar os dentes.

Descera do ônibus ainda mais exaurido do que imaginava ser possível, haja vista não tivesse feito esforço algum durante o percurso, arrastando-se lentamente pelas ruas de casas belas e enormes, costumeiramente ignorando os olhares desconfiados das velhas brancas e ricas que faziam sua caminhada matinal e escondiam suas bolsas caras como se temessem ser roubadas por ele. Contanto que não chamassem a polícia novamente, não se importava... A casa de Light era uma das mais bonitas da vizinhança e, provavelmente, era a maior. Se o japonês quisesse, ele já teria um carro há muito tempo. No entanto, sabe-se lá porque caralhos ele queria economizar e comprar um com seu próprio dinheiro. Se Ryuk tivesse um pai, ainda mais um pai rico, o faria comprar tudo que lhe desse vontade e mais um pouco. Mas NÃÃÃÃÃÃÃÃO, tinha que nascer em uma família de merda completamente mal estruturada. Meritocracia meu ovo, pensara ao ver o mauricinho sair de casa, fechando a porta de sua mansão para se juntar ao pobre favelado que lhe aguardava ao lado de fora da cerca bonitinha que enfeitava seu belo jardim. Estava tão puto com sua vida de lixão que quase não notara o quão Light estava bonito e bem vestido. Nada de moletom, tênis ou calça jeans, em seus pés estavam sapatos genuinamente formais, bem como seu sobretudo preto e simples, sem muitos adornos, e sua blusa branca social que há muito não via, que realçavam deliciosamente seus ombros largos e cintura fina, além de sua calça provavelmente formal/casual, do mesmo tom de seu casaco, que certamente lhe demarcava a bunda tão eficientemente quanto as coxas. Felizmente, aquilo alegrara (excitara) seu dia. Yagami vivia em um ciclo depressivo, estava sempre apático, não se interessava ou se importava com nada. Não jogava mais xadrez, faltava às aulas de debate, nada parecia lhe deixar contente ou satisfeito. Ryuk começara a se preocupar seriamente quando suas vestimentas se tornavam cada vez mais desleixadas e sua aparência se definhava gradativamente. Não sabia o que fazer. No entanto, aquilo parecia ter mudado, mesmo que brevemente. Lá estava ele, irritantemente confiante e arrogante, com os cabelos perfeitamente alinhados, bem vestido e aparentemente descansado, renovado, como um novo Light. Como seu amigo, aquilo lhe deixava absurdamente feliz e aliviado, como se um de seus problemas tivesse se resolvido sozinho. Enquanto como paixonite platônica e adolescente nunca superada, lhe deixava estupidamente excitado. Sabia que não conseguiria pegá-lo na brotheragem, mas... Será que ele ficaria muito zangado se o apalpasse?

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— Tem certeza que ganha dele? – Questionou incerto, por hora esquecendo-se de seus próprios problemas. Light parecia muito animado para vencer aquele sapo em uma aposta tão ridiculamente infantil que somente Yagami inventaria. Mas o que podia fazer? Dizer a ele que havia perdido completamente a razão e estava mais psicótico do que o normal? Sim, porém deixaria de ser interessante. Antes de amigo ou irmão, Ryuk era fofoqueiro e necessitava de entretenimento para sobreviver. Estava se segurando para não contar a Light que Mikami provavelmente havia deletado sua parte do trabalho e depois feito um escarcéu por uma coisa que ele mesmo tinha provocado. É claro que tinha uma teoria de seu real intuito, esta que formulara muito antes dos irmãos de Beyond o aborrecerem com aquela merda. Mikami gostava do japonês, aquilo era um fato para si que sequer precisava ser constatado, era crível por si só. Desta forma, a partir desta premissa, ficava fácil imaginar o que ele poderia fazer por ciúmes. Teru era mesquinho e mimado, ainda que não planejasse discutir e brigar com o sapo, seu objetivo certamente era fazer com que Light assim o fizesse para distancia-los. Mal sabia ele que o sapo detestava Yagami por natureza e não precisava de motivos para isso.

— Obviamente. – Respondeu o japonês prontamente ao seu lado, ao adentrarem o colégio. Tudo no momento parecia lhe martelar o crânio de forma simultânea, Martim e sua mãe estavam distantes, ainda que incessantes, como seu despertador que ecoava por seu cômodo no vazio preenchido pela indiferença de seu quarto, o rosto estupidamente bem apessoado e visivelmente sério e irritadiço era atordoante o suficiente para desorienta-lo e induzi-lo ao erro, além dos devaneios a respeito de Mikami que lhe causavam uma estranha sensação. De todo modo, estava tão exausto e confuso que se perdera em meio as orbes acastanhadas enraivecidas que lhe analisavam friamente, deixando-o ainda mais atônito. Somente quando Light voltara a questionar, significativamente zangado e ofendido, completamente indignado com o tom de sua pergunta, notara o quão mal esta podia ser interpretada. – Porque a pergunta? Acha que ele é mais inteligente do que eu? – As vezes, esquecia-se do quão egocêntrico e surtado era Yagami. Era exatamente por isto que receava em caguetar Mikami. O quão longe o japonês poderia ir por aquele sapo?

— Sinceramente? – Questionou provocativo, sorrindo larga e maliciosamente. Não acreditava, ao menos não totalmente, que Lawliet era mais inteligente que Light, embora dificilmente acreditasse que o japonês o venceria. De todo modo, só queria aborrece-lo. Há muito não brincava com Yagami e ele ficava ainda mais adorável quando irritado, mesmo que por vezes também ficasse um pouco assustador. Não era nada bonito quando ele surtava verdadeiramente.

Light praguejou algo como “vá se fuder”, em japonês, em um murmúrio azedo e rancoroso, andando mais rápido em uma inútil e infantil tentativa de deixá-lo para trás, haja vista Ryuk fosse mais de 20 centímetros mais alto e seus passos quase o dobro dos dele. Era o que sempre dizia, Yagami era muito esperto e burro ao mesmo tempo. Na verdade, seu problema era o descontrole. Ele acaba se deixando levar pela ira e quando se dava conta já tinha dado um chilique, o mais estranho era que estes surtos eram sempre em japonês, pois fosse lá a razão, ele não conseguia extravasar em inglês. Contudo, como seu amigo, desta vez apenas, iria relevar. Em algum lugar dentro daquela cabecinha maléfica Light deveria estar se sentindo muito pressionado, desafiado como nunca antes e isto tinha consequências. Sua falta de apatia e incomum disposição era uma delas, do mesmo modo que sua impaciência e irritabilidade aflorada.

— É brincadeirinha, Light-chan... – Desculpou-se sarcástico em japonês, chamando-o excessivamente melosa e carinhosamente, propositalmente utilizando um sufixo que ele simplesmente detestava, geralmente direcionado meninas.

O que? Só porque Light era psicótico tinha de se comportar? Jamais.

Seus olhos amendoados analisaram seu sorriso ardiloso com tanta cólera que quase se arrependera de tê-lo dito. Se conheciam a tempo suficiente para saber que tipo de coisas o enlouqueciam e, embora não compreendesse bem o motivo, sufixos carinhosos eram uma delas. Além da terminação “chan” ele também não gostava de ser chamado de “kun”, fossem por conhecidos ou seus próprios parentes. Nem mesmo Sayu, sua irmã mais nova, tinha permissão para tal, sempre devendo chamá-lo de “onii-san”. Até onde sabia, a única que teimava em lhe chamar de “Light-kun” era a Misa, quem o japonês somente tolerava por ser burra e gostosa, do jeito que ele gostava. De todo modo, tinha certeza que se ela o chamasse assim enquanto estivessem transando, por exemplo, ele brocharia.

— Cala boca. – Vociferou amargo, deixando de lhe dirigir a atenção conforme ele o alcançava facilmente.

— Pra você ganhar vai ter de obrigar ele a falar, e ele já não é muito de... – Explicou convicto acerca de sua perspectiva, somente cessando sua fala para tentar se lembrar como se dizia o termo “interagir” em japonês. Odiava falar em qualquer língua que não fosse o espanhol haja vista já pensasse e lesse em espanhol, mesmo se estivesse falando ou lendo em outro idioma. Ademais, já tinha dificuldades em falar corretamente o inglês, que era uma língua relativamente fácil, quem dirá o japonês, que era todo fodido e sequer seguia o mesmo alfabeto. Fazia um nó muito grande em seu pobre cérebro de passarinho. – Interagir! – Exclamou aliviado ao se recordar, tentando retomar sua linha de raciocínio. – Ele não é muito de interagir como uma pessoa normal. Pra ele vai ser fácil te ignorar pro resto da vida, imagine até o fim da semana. Você vai perder feio. – Já estava sentindo seus neurônios queimarem com o esforço. Diferentemente de Light, que se comunicava apenas em japonês dentro de casa em virtude de sua família nativa, Ryuk só conversava com seu irmão mais velho por parte de pai, Katsuo, duas ou três vezes ao mês, quando se viam, e custava a se recordar de certas palavras em decorrência da falta de prática.

O japonês suspirou impacientemente como quem tem de explicar pela milésima vez algo simples a um palerma, que, por sinal, era literalmente o que estava acontecendo, iniciando sua calma, ainda que nitidamente desgostosa, explicação. — Existem dois motivos básicos que começam, promovem e exacerbam o desentendimento entre nós. O primeiro, pelo qual eu assumo a responsabilidade, é que eu o subestimo enquanto... Ele me “superestima” – Acrescentou aborrecido e rancoroso, jamais esquecendo-se do dia em que Lawliet lhe dissera, sinceramente, que “superestimara sua capacidade”, praticamente lhe chamando de parvo.

— Pensei que ele te achasse burro... – Comentou um tanto confuso, referindo-se a aquele mesmo episódio, já não conseguindo conectar um ponto ao outro. Nesse sentido, Light era inteligente demais para acompanhar.

— Ele só disse isso para me irritar. – Discordou sentido, tentando afirmar isto para si mesmo. Admitisse ou não, a aprovação de L lhe parecia demasiadamente necessária e não suportaria viver com a ideia de que ele o considerava tão abaixo de si. – Faz parte do segundo motivo. Ele não consegue admitir que sou superior, por isso eu tenho de provar. Quando eu vencer, ele vai reconhecer que estou acima dele e nós vamos parar de discutir sobre isso. É simples.

— Sei... – Concordou Ryuk visivelmente hesitante e cético acerca desta, ao menos para si, fantasiosa reconciliação. Nesse sentido, por sua vez, Light era burro. – Mas isso não explica como você vai fazer ele falar.

— Comparado a fazer ele admitir a derrota, essa vai ser a parte fácil. É só jogar o jogo dele.

Yagami era doente, completamente fora da casinha. Que porra de jogo o que? Não existia jogo nenhum. Ele enxergava competição em tudo, era totalmente surtado. O coitado do sapo devia estar só vivendo a vida dele quieto e Light começara a atormenta-lo com suas tramoias e paranoias esquizofrênicas. — Que jogo, Light? – Perguntou receoso, temendo ouvir uma falcatrua extremamente complexa e terrivelmente delirante, ainda que excessivamente intrigado. O que podia fazer? Era enxerido por natureza.

— Por mais que eu odeie admitir, ele é muito inteligente. – Confessara quase que melancólico, sentindo-se, mesmo que brevemente, um tanto insuficiente e inseguro. Feliz ou desventuradamente, sua leve desesperança se transformara em rancor.

— Mais do que você? – Não perdia uma oportunidade...

— Ninguém é mais inteligente do que eu. – Respondera prontamente, não conseguindo segurar o sorriso que teimara em se formar em seus lábios ao observa-lo revirar os olhos em enfadado.

— Desculpa aí, Einstein.

— Você quer ouvir o que eu tenho a dizer ou não? – Indagou retórico, muito mais calmo do que esperava estar. Estava decidido a manter seu bom humor.

— Tá bom, tá bom, continua. – Respondera apressado, quase que desinteressado, embora soubesse Light o quão curioso o grandalhão deveria estar.

— Ele é inteligente. – Retomara, explicando sua teoria conforme adentrava os amontoados de adolescentes que já se encaminhavam para suas respectivas salas. Ser amigo de Ryuk era muito vantajoso nesse sentido, haja vista todos o evitarem em decorrência de seu tamanho e, consequentemente, abrirem espaço mais rapidamente. – Sabe analisar as pessoas, a situação a sua volta e criar boas estratégias. Por isso ele é bom no xadrez. Ele se adapta ao adversário.

— E no seu caso?... – Referiu-se ao método que Lawliet utilizava consigo, esforçando-se para compreender.

— Usar minhas fraquezas em benefício próprio.

— Que fraquezas? Narcisismo? Megalomania? Hipocrisia? Maldade? – Questionou ininterruptamente, sorrindo provocativo.

— Já terminou? – Indagou apático, sequer dando-se o trabalho de fingir ofensa ou indignação acerca de tais acusações. Ryuk lhe conhecia de todos os ângulos, dos mais belos aos mais terrivelmente desprezíveis, não havia necessidade de esconde-los ou nega-los.

— Já.

— Eu me refiro a... Falta de autocontrole. Por mais disciplinado que eu possa ser, na maioria das vezes, – Teve de acrescentar antes que o grandalhão pudesse protestar contra seu equilíbrio interno, este que já abrira a boca em falso para começar a lhe descascar impiedosamente. – ele é muito mais controlado do que eu. – Na verdade, Lawliet era cruel e insensível, mas dizer isso implicaria em admitir que ele o magoara e não diria isto em voz alta, tampouco para Ryuk.

— Com falta de autocontrole você quer dizer impaciência, surto e intolerância?

— Eu não sou intolerante. – Discordou quase, mas quase injuriado, implicitamente corroborando com as demais arguições.

— Imagina se fosse... – Murmurou Ryuk mais para si do que para o japonês ao seu lado, tão entretido que até se esquecera que estava falando em japonês. Repentinamente, começara a prestar atenção nos estudantes a sua volta, ouvindo suas conversas e risadas. Todos conversavam em inglês, enquanto Ryuk pensava nas respostas que diria a Light em espanhol e as expressava em japonês. Não sabia como ainda não havia tido um colapso. Isso porque também falava, além destes idiomas, francês. Acreditem ou não, sua bolsa de estudos também estava interligada ao curso de línguas estrangeiras, além do basquetebol. – Tá. Essa é a “estratégia” dele. – Enfatizou o termo “estratégia” de forma irônica, de modo que pudesse expressar o quão ridícula e alucinada toda aquela baboseira lhe parecia. – E a sua?

— Eu já disse, vou fazer o mesmo. – Respondera simplesmente, esquecendo-se do quão idiota era seu único amigo.

— Vai irritar ele? Você mesmo disse que ele é mais controlado que você.

— Não seja ridículo. – Sinceramente, não conseguia compreender o que vira em Ryuk. Seus dois únicos neurônios deviam estar lutando para fazê-lo falar em japonês, sobrecarregados demais para obrigarem-no raciocinar. – Eu vou usar as fraquezas dele ao meu favor.

— Vai bater nele até ele falar com você?

Deus, como existe gente burra no mundo...

— É claro que não. – Negara impaciente, revirando os olhos em um misto de indignação e enfadado. Lawliet lhe deixara mal acostumado, tinha de ficar se recordando constantemente que nem todos eram como ele e, tampouco, compreendiam afirmações básicas como aquelas. Teria de soletrar, com todas as letras, para que ele entendesse...

— Que fraquezas vai usar então?

— Ele é autista, Ryuk, fraquezas são o que não faltam. – Conquanto falasse um idioma mais seleto que consequentemente lhes davam certa comodidade quanto a privacidade, certificara-se que ninguém em especial podia ouvi-lo. Independentemente de tudo, ainda era Light Yagami, íntegro e probo presidente do Grêmio estudantil. Não poderia cometer um deslize como uma acusação de preconceito ou intolerância de qualquer natureza. – Má percepção de profundidade, falta de senso de direção... Ele provavelmente também é hipersensível... Tudo isso pode ser usado a meu favor.

— Ok, deixa eu ver se entendi... Você vai abusar das dificuldades de um cara autista? – Questionou completamente inconformado, gesticulando para demonstrar o quão absurdo tudo aquilo lhe parecia, por pouco não deixando Yagami preocupado. Afinal, Ryuk não era exatamente moralista e dificilmente se importava com as coisas relativamente ruins que fazia.

— Não seja dramático. – Rebateu antipático, muito mais indiferente do que realmente estava, dando-se o trabalho de explicar, mesmo que não se importasse verdadeiramente com o que Ryuk pensava sobre a sua pessoa. – Ele é tão ruim quanto eu. Ambos jogamos sujo, fazemos joguinhos psicológicos, apelamos pro emocional... A única diferença é que entre nós, ele é o único que parece inofensivo. Mas você não o conhece e não sabe o quão horrível ele consegue ser. A verdade é que se eu dissesse que iria fazer exatamente a mesma coisa com qualquer um, não iria parecer “abuso”, no entanto, como ele é autista, parece uma coisa terrível e que eu sou um ser desumano e completamente cruel. Mas ele me forçou a participar, esse é o jogo dele. Seria burrice não jogar do mesmo jeito que ele.

Talvez, o que mais detestasse em Lawliet não eram as diferenças que existiam entre si, mas sim as explícitas e inquestionáveis semelhanças. Porque ambos eram monstros. Excepcionalmente inteligentes, presunçosos, arrogantes, infantis, ambos eram dotados das mesmas qualidades que colidiam entre si constantemente, tal como duas forças da mesma intensidade que competiam inutilmente pela liderança inexistente. Não podiam coexistir em paz enquanto fossem rivais. Tudo o que precisavam era de um conflito, uma derradeira, definitiva e indubitável disputa que daria lugar a um vencedor e um perdedor somente, que decidiria o ordenamento daquela relação. Uma vez que vencesse, as discussões e desentendimentos cessariam, bem como o atrito entre suas personalidades. Existiria um vencedor, alguém superior, e com ele a competição perdia seu propósito. Era simples, tanto ele como L já haviam percebido. Desta forma, assim como Lawliet, seguia a uma impiedosa estratégia, jogando com todas as peças do tabuleiro e executando as mais inimagináveis e perversas jogadas. Porque era exatamente isto que ele queria. Ser tratado como qualquer outro, sem distinção ou misericórdia. Ele o desafiara, humilhara e pedira, simplesmente implorara, para receber o que merecia. O pior que Light podia ser e oferecer.

— De certo modo, eu estou sendo honesto. Ele queria igualdade e é isso que vou dar a ele.

— Ah... – Murmurou Ryuk perceptivelmente desconfiado, acabando por dar de ombros, cedendo a sua ideologia. – Sinto que você tá me manipulando, mas acho que faz sentido.

— É claro que faz...

Atravessara o aro da porta para adentrar a sala de aula que era preenchida, tanto pelos estudantes que se sentavam em seus lugares e conversavam entre si, como pelo barulho que toda aquela interação ocasionava, dando a impressão de caos e incômodo. Conforme seus olhos se dirigiam ao seu típico assento, seus pelos se eriçavam em um aprazível arrepio, acelerando as batidas de seu coração e a velocidade com que respirava como uma injeção de adrenalina. Seus dedos se remexeram inquietos e ansiosos, bem como suas pernas que súbita e inconscientemente se colocaram a caminho de seu incerto objetivo. Sua mente, a parte racional de seu ser, dizia ao restante de seu corpo o que estavam fazendo, justificando cada um de seus passos como um caminho às primeiras carteiras, no centro, onde geralmente se sentava, enquanto sua outra parte, a irracional, a parte emotiva e estúpida, bruta, só conseguia enxergar o que estava ao seu lado. Os cabelos incrivelmente negros, lisos e terrivelmente desgrenhados, o corpo médio e magro, que sempre lhe parecia ainda menor e delicado, de certa forma, as olheiras profundas e escuras, tal como o pretume apático das orbes acima delas. Tudo isto fazia parte de seu eu. Eram a razão para suas noites em claro estudando estratégias de xadrez e artigos sobre transtornos, de seus sonhos repetitivos, excitantes e cansativos, de seu incomum ânimo e disposição, o motivo para tantos sentimentos inadequados e exagerados, como a raiva, inferioridade, incitação, determinação, era a sua obsessão. Lawliet era sua obsessão. Queria vence-lo, derrota-lo, humilha-lo, no entanto, simultaneamente queria seu perdão, sua aceitação, seu reconhecimento, até mesmo sua companhia. Light queria seu afeto. Ryuk estava certo sobre tudo, sobre sua instabilidade, sobre sua obsessão, desde o início, sempre estivera e somente agora Yagami tinha coragem de enxergar. Estava completamente insano. E naquele momento, parte de si torcia para que Lawliet desistisse facilmente, pois desta vez, não cederia. Iria até o fim, pegaria o que era seu e sabe-se lá o que faria com L quando vencesse. Porque Lawliet era seu adversário, seu objetivo, e simultaneamente seu prêmio.

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A primeira aula, para a sua felicidade, era cálculo e, por mais inacreditável que possa parecer, não estava sendo irônico. Light gostava de resolver problemas matemáticos, embora as provas fossem fáceis demais para gerar qualquer tipo de interesse, Slaviansk sempre buscava lhe desafiar com questões mais complexas e o incentivava a seguir carreira na área.

O professor ucraniano adentrara a sala e repousara calmamente sua bolsa na mesa, aguardando que os estudantes que ainda se acomodavam se sentassem para que pudesse passar a lista de presença. Esforçando-se para se limitar a observar o grande homem a sua frente e dedicar 110% de sua atenção a suas explicações, por mais repetitivas ou entediantes que estas lhe fossem, Yagami retirou seus pertences de sua bolsa e os organizou metodicamente acima de sua mesa. Alinhara seu lápis a sua caneta e examinara meticulosamente as fórmulas que Aleksey começava a escrever na lousa, gradativamente se distanciando de sua voz. Seus dedos inquietos percorreram pela lateral do móvel e dedilharam por seu entorno em uma crescente e angustiante ansiedade conforme tentava desesperadamente lutar contra a vontade que lhe corroía o amago. Conquanto tivesse suportado por mais bravos 5 segundos, o japonês acabou por desistir, caindo na tentação de, muito sutilmente, locomover suas íris ferinas para o lado. Lawliet estava vestindo um longo e largo moletom escuro, bem como com suas calças surradas e ridiculamente grandes, apoiando apenas uma de suas pernas na cadeira para que pudesse rabiscar garranchos horrorosos em seu caderno com mais facilidade. Sua cabeça abaixada demonstrava uma tranquilidade enciumante e a maneira desforme e anômala com a qual ele segurava seu lápis era simultaneamente irritante, cômica e porra, muito adorável. Seus olhos sempre cansados e entediados eram tão intrigantes, no entanto o que mais lhe deixava curioso era a óbvia dificuldade que ele tinha com a escrita. Em determinado momento, ele simplesmente trocara a mão com qual até então escrevia, a direita, e passara a rabiscar com a esquerda despreocupadamente, como se fosse ambidestro. E merda, ele podia muito bem ser, não o conhecia. Não sabia nada sobre ele, sobre sua família, sobre sua vida, nem mesmo sabia seu nome completo. Não, na verdade, era muito mais humilhante do que isto, não sabia seu primeiro nome, seu nome era L. Lawliet Birthday, não sabia o que significa o primeiro L, o porquê da incomum abreviação, não sabia nada sobre nada. Lawliet sempre estava lá, isolado em seu pequeno mundo autista repleto de segredos e mistérios, e Yagami era só um idiota que era obcecado em observa-lo fazer qualquer porcaria, inclusive nada. Lawliet era encantador, interessante, e Light era literalmente obcecado por ele, das formas mais problemáticas que podia ser. Queria desesperadamente entende-lo, tudo era curioso com ele, era novo, desafiante, deliciosamente fascinante. Light queria fazer parte de seu mundinho custasse o que custasse.

— Vamos, lá! Prestem atenção! – Exigiu o professor ao se voltar novamente para a sala, abandonando a lousa e sua explicação para exigir concentração. – Os trabalhos não alcançaram a média que deveriam e essa prova valerá vinte porcento da média final. Sugiro que se esforcem em compreender, pois como bem sabem que não existe recuperação. – Alertou levemente impaciente e aborrecido, abandonando a caneta da lousa acima da mesa de forma derrotada.

Ante a frustração de Slaviansk, Yagami se ajeitou constrangido em sua carteira, embora soubesse que a repreensão não fora direcionada a ele, prometendo a si mesmo outra vez que prestaria atenção, ainda que já soubesse a matéria. Havia saído de casa decidido a ter um bom dia, entusiasmado e confiante como há muito não se sentia, não se daria ao luxo de se distrair de tal forma com aquele sapo.

— Se o complexo de z é igual a um mais i, onde, obviamente, i é a unidade imaginaria, que valor é equivalente ao complexo de z elevado a potência catorze? – Indagou a sala, indicando a fórmula transcrita na lousa atrás de si, aguardando uma resposta.

Por cordialidade, Light levantou seu antebraço sem muito esforço para se mostrar visível, haja vista nenhum outro estudante fosse capaz de computar a conta de cabeça como ele, na velocidade com qual fazia, enchendo seu peito de ar inconscientemente, revisando o resultado mentalmente antes de proferi-lo, umedecendo seus lábios.

— Menos cento e vinte e oito i.

O ar dentro de seus pulmões se estagnara covardemente, sufocando-o com o súbito cessar de sua respiração. Seus olhos nada puderam fazer além de se arregalarem receosos e assustadiços, incapazes de se locomoverem a primeiro momento. O único órgão que parecia funcionar, ainda que com extrema dificuldade, era seu cérebro que processava as ondas sonoras daquela voz para converte-la em raciocínio, não tendo muito esforço em reconhece-la. Era uma voz tão macia e harmoniosa, se fosse uma cor seria de um violeta tão calmo e reconfortante, porém com certas nuances de um azul escuro e frigido, impositivo, e se possuísse um sabor seria quase tão delicado quanto o tom lilás, adocicado e sutil, embora terrivelmente viciante e as vezes amargo de tão açucarado. Repentinamente, seu coração se preencheu do mais vívido violeta, contagiando-se com uma felicidade irracional e sem tamanho, gradativamente contorcendo-se com suas quase imperceptíveis gradações, tencionando-o de uma forma demasiadamente vexatória. Tudo o que mais almejava era ouvir sua voz, seu timbre inconfundivelmente aveludado e sereno, portanto conquanto esta não houvesse sido direcionada a ele, permitiu-se saborear os tons lilases e doces antes de se tornarem azuis e amargos, sentindo seu amago queimar conforme os tons se escureciam. Paulatinamente, seu eu racional voltava a si, engolindo em seco todo seu receio e saudade para dirigir sua atenção cada vez mais colérica até seu maldito prêmio ao lado, tremendo em revolta e furor ao ouvi-lo ser parabenizado com tanta surpresa e satisfação.

— Muito bom, Lawliet! – Aleksey parecia tão surpreendido quanto ele, bem como o restante da sala que subitamente se calara.

Seu estômago se revirara em zanga e desprezo, exacerbando a queimação ao observa-lo. Aquele filho da puta não tivera colhão de levantar seu rosto para responder, permanecendo com a cabeça baixa enquanto rabiscava macaquinhos desformes em seu caderno.

— Mas acho que foi fácil demais pra você, hun? – Questionou retórico, desafiando tal como costumava a fazer com Yagami.

Beyond não fizera o teste de admissão, segundo ele, fora capaz de entrar no colégio apenas com sua carta de apresentação, isto explicava suas notas medianas em matérias exatas e seu louvável desempenho em literatura e dissertação. No entanto, e quanto a L? Conforme sua ficha, ele prestara o exame e não adentrara com cota PCD em virtude da ausência de laudos que comprovassem uma deficiência específica, embora, de acordo com suas pesquisas, ele recebesse auxílio governamental para deficientes. Desta forma, haja vista Slaviansk trabalhasse como corretor destes testes, se L realizara a prova de admissão, sua nota passara pelo professor. Certamente, portanto, ele tinha ciência de sua capacidade e somente deveria estar surpreso por ouvir sua voz, sendo aquela a primeira vez que Lawliet se pronunciava em sala de aula.

Aleksey pegou seu grande e um tanto gasto livro de exercícios, abrindo-o em uma página específica, lendo uma das questões em voz alta. Pela primeira vez, toda a sala se mantinha atenta e em completo silêncio para ouvi-lo, criando uma tensa e angustiante áurea que sobrevoava sua cabeça como um abutre a espera de seu derradeiro suspiro. — Se z é igual a dois vezes o cosseno de trinta mais o iseno de trinta e u é igual a zcinco, considerando que os pontos p e q são os afixos dos complexos z e u, respectivamente, qual as coordenadas do ponto médio do segmento?

Conquanto soubesse que aquela pergunta fora direcionada a L, Yagami tentara resolver a equação de cabeça, não resistindo a gastar parte de seu precioso e curto tempo para observa-lo. Lawliet era inacreditável. Novamente, ele não se mexera ou esboçara qualquer reação conforme calculava, finalmente cessando seu rabiscar para dedicar seu raciocínio a algo mais complexo. Quando Light ainda resolvia o ponto P, L murmurou levianamente, arrancando diversos olhares surpresos e iniciando inúmeros cochichos paralelos. — Menos quinze raiz de três sobre dois e... Dezessete sobre dois. – Outra vez, ele não se dignou a levantar seu tronco para responder e subsequentemente voltara a desenhar despreocupadamente, como se não tivesse acabado de lhe humilhar na frente de todos de uma forma tão sutil que só tornava tudo pior.

— Caralho... – Pudera ouvir Ryuk ao fundo, causando uma maligna e sarcástica risada de Beyond, como se ele pudesse ler o que se passava em sua mente.

Slaviansk fechou seu livro satisfeito, dirigindo sua atenção a ele para provoca-lo. — Finalmente um concorrente a altura, hun? – Obviamente, ele estava se referindo ao seu não tão recente, ainda que penoso, abandono dos cursos extracurriculares, como xadrez, debates, lógica avançada, soletração e a competição acadêmica. Sim, houve um tempo em que não apenas era membro de todas estas atividades, como líder destes grupos, além de ter de arcar com as responsabilidades do Grêmio estudantil, cujo também era presidente. – Caso mude de ideia. – Voltou-se para sua mesa e retirou uma lista de inscrição de uma de suas pastas, oferecendo-a para Yagami.

Se um dia alguém lhe disser que a inteligência é uma dádiva, tenha certeza de que esta pessoa não é inteligente, pois somente alguém atormentado com esta maldição sabe o quão azucrinante tende a ser a vida. Todos são sempre estúpidos demais se equiparados a você, são medíocres demais para despertar qualquer interesse, bem como tudo ao se redor jamais se mostra desafiante ou novo o suficiente para não ser indiferente. Não obstante, além do eterno tédio e apatia, existe muita cobrança e expectativas desmedidas em relação a você e seu desempenho. Se você sempre é bom em tudo, nada nunca é o bastante, então você tem de fazer sempre mais e mais, sem nunca desistir ou vacilar. Não há espaço para fraquezas, não há tolerância com renúncias, nada além de obrigações e responsabilidades impelidas e a contragosto atribuídas. Os professores agem como se fosse seu dever respondê-los prontamente, participar de um milhão de atividades diferentes, como se o dia não tivesse apenas 24h e você não possuísse nada além dos estudos para se preocupar; os adultos exigem um comportamento maduro, como se você fosse um deles, e não abrem brechas para erros ou deslizes; mesmo os jovens da sua idade lhe cobravam implicitamente por reações e atitudes que nem sempre era capaz de realizar ou esboçar. A verdade hostil e cruel, demasiadamente feia que todos buscam desconsiderar, porém que Light nunca pudera ignorar, é que perfeição tem um preço, preço este que se paga com a alma.

Lawliet parecia tão desinteressado quanto outrora. Após mais alguns segundos, ele finalmente parara de rabiscar em seu caderno, pousando seu lápis em sua mesa e ajeitando razoavelmente sua postura costumeiramente corcunda. Suas pacatas e frias orbes, agora tão negras que lhe pareciam azuladas, fitavam o vazio a sua frente de forma calma e indiferente, como se ignorasse, agora não apenas sua presença, como a situação como um todo, não se deixando contagiar pelos murmúrios ou risadinhas atrás de si que, na verdade, eram direcionadas ao japonês somente. Seus olhos piscavam tão lenta e calmamente, sua respiração era tão pacata, seu semblante era tão inexpressivo que chegava a ser doloroso. Não sabia o que lhe magoava mais, o fato de ser tão cruelmente desconsiderado, ou o fato de ser tão insignificante para L que uma vitória em seu detrimento não era digna de comemorações ou provocações, como se fosse supérflua, tão fácil que chegava a ser natural. Lawliet sempre conseguia esmagar seu ego com simples ações, no entanto estava partindo seu coração com mais frequência do que gostaria... Entretanto, de uma maneira tão abrupta quanto inesperada, algo mudara em sua postura. Pela segunda vez naquele dia, as batidas ainda desreguladas de seu coração se atropelaram e seus incrédulos olhos se arregalaram, agora muito mais sutilmente, como se teimassem em conceber a imagem a sua frente. Levianamente, L dirigira suas orbes negras azuladas, no momento repentinamente mais vividas do que outrora, até suas íris castanho claras avermelhadas. Por poucos segundos, tudo lhe pareceu absurdamente silencioso e cada vez mais cinza, talvez até inodoro e insípido, como se Lawliet pudesse roubar todas as sensações a sua volta e lhe deixasse incapacitado de perceber, de enxergar qualquer outra coisa além dele. Tudo o que podia fazer era observar minuciosamente cada nuance de cor, cada tonalidade de azul que lhe manchava as orbes, cada centímetro de sua pele que se contorcia para esboçar um adorável e terrível sorriso, tão genuíno e irônico que lhe marcavam muito levemente abaixo dos olhos, tornando seu reconfortante e calmo violeta em um impiedoso e profundo azul marinho. Aquilo não era uma comemoração perante sua derrota, não era uma simples provocação ou um desafio, para L Yagami não valia o esforço, seria misericórdia demonstrar qualquer tipo de interesse, de relevância por sua parte. Aquele sorriso era um aviso, uma seria e inclemente ameaça. Era a forma estupidamente adorável que Lawliet possuía de dizer “posso ser tão devasso quanto você”.


Notas Finais


Daqui a pouco posto o próx.


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