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História The Best Of Me - Quanto Todas As Minhas Esperanças Foram Totalmente Afogadas


Escrita por: Cmbr_Lee

Notas do Autor


Duas coisas pra falar sobre esse capítulo:

1° Temos quebra de recorde em palavras aeee!

2° e mais importante: Vocês sabem que essa fanfic fala sobre depressão e suicídio porque isso eu já havia adicionado na descrição da história, mas esse capítulo fala basicamente apenas sobre isso e eu já quero deixar avisado que quem não lida bem com esse conteúdo, pule pras notas finais porque lá eu vou falar um pouquinho sobre tudo o que vai acontecer nessa fase da história. Agora, se você for ler e tiver o coração mole, vai chorar igual a autora aqui porque eu chorei na hora de escrever e de revisar kjkkkkkk. Agora que o aviso já foi dado, boa leitura.

Capítulo 37 - Quanto Todas As Minhas Esperanças Foram Totalmente Afogadas


Fanfic / Fanfiction The Best Of Me - Quanto Todas As Minhas Esperanças Foram Totalmente Afogadas

“O que estava sentindo não era bem tristeza, era dor. Aquilo doía, e não é um eufemismo. Doía como uma surra.”

-John Green





-Assim que chegamos na Coreia do Sul, tratei de, novamente, mudar de dormitório e voltar para o meu antigo, já estava até com saudade do meu colega de quarto.


As mensagens maldosas que recebia em meu celular haviam só aumentado, com ameaças e ofensas cada vez mais pesadas. Por fim, decidi bloquear o número e apagar todas as mensagens.


Ainda no mesmo dia, fomos para a empresa termos uma reunião importante do NCT 2020, reunião essa que havia sido estressante e chata. Em dois dias, já começaria a gravação do comeback do NCT Dream e eu sequer havia me recuperado da viagem a Vancouver. Fomos liberados pelo resto do dia.


Eu e o Yukhei assumimos a oficialização do nosso namoro para os meninos e a reação foi exatamente a que eu esperava.


-Jisung: Notícia chocante. Como foi a viagem pessoal?


-Mark: Trabalhosa.


-S/N: Interessante... -Pelo menos para mim havia sido deveras.


-Jaehyun: Não tem a menor graça jogar xadrez com a s/n.


-Renjun: Eu te entendo. -Fizeram um high five.


-S/N: Não tive culpa se você realmente estava certo que iria ganhar de mim, mas viu que eu sou melhor. -Eu disse dando de ombros. -Podemos fazer uma revanche.


-Jaehyun: Não, obrigado. -Ditou seriamente.


-Jeno: Eu proponho um jogo.


-Xiao: E qual seria?


-Jeno: Q&A de conhecimentos gerais.


-Xiao: É... pode ser. -Ele usou um tom de conformidade, do tipo "É o que tem pra hoje, vai isso mesmo". -Quem vai querer?


-Logo levantaram as mãos todos que quiseram brincar. Eu também levantei, afinal, sempre gostei de Questions & Answers. Separamos em três grupos: G1 eu, Jeno, Chenle e YangYang. G2 Mark, Jisung, Renjun e Xiao. G3 Kun-Hang, Lucas, Donghyuk e Winwin. O Johnny seria o MC.


O jogo funcionaria assim, o MC fazia a pergunta e quem batesse primeiro na sua mão teria o direito a resposta. Se errasse a resposta a chance iria para o grupo seguinte. Ganharia quem tivesse a maior pontuação.


-Johnny: Let's get it. O que surgiu primeiro? A cor laranja ou a fruta laranja? -Leu a pergunta em seu celular. Rapidamente saímos correndo e o Jisung bateu na mão dele primeiro.


-Jisung: A fruta.


-Johnny: Certa resposta. O que veio primeiro? O ovo ou a galinha? -Essa era uma pergunta difícil, talvez por isso eu tenha sido uma das únicas a ir bater sua mão.


-S/N: Essa pergunta não possui muitas informações, mas se pensarmos que o ovo é de galinha... o que surgiu primeiro foi a galinha. Querem saber o por quê? -Perguntei animada.


-Johnny: Resposta correta e não, volta pro seu lugar.


-S/N: Nossa. -Eu ri e voltei para o meu lugar cabisbaixa.


-Johnny: Atenção... Quais são os números que somados dão 12 e multiplicados são iguais a 35? -Antes que eu terminasse de racionar a pergunta, já tinham batido na mão dele. E eu sequer havia pensando nas possibilidades numéricas.


-Yukhei: 5 e 7.


-Enquanto o John ditava a próxima pergunta, senti meu celular vibrar no bolso do meu short. Alguém estava me mandando mensagem, mas eu decidi visualizar apenas depois.


-Johnny: Em uma caixa, há 10 bolas pretas e 4 azuis. Quais as chances de retirarmos uma bola azul?


-S/N: Se ao total são 14 bolas e só tem 4 azuis, então a chance é de...


-Xiao: 35%


-S/N: Mas como? Quando? De que jeito? -Perguntei indignada porque não fazia ideia de como ele havia chegado no resultado tão rapidamente. Definitivamente eu não tinha um raciocínio matemático ágil.


-Johnny: Certo. Next question: Qual foi a última dinastia chinesa?


-S/N: Dinastia Qing. -Eu respondi antes mesmo de tocar sua mão, mas não consegui bater nela em seguida, então acabei entregando a resposta certa de bandeja.


-Haechan: Dinastia Qing.


-S/N: Interessante. -Disse enquanto voltava para o meu lugar.


-Johnny: Quem descobriu a América?


-O jogo continuou e houve uma hora que fui até empurrada por alguém, nossa como aquelas pessoas eram competitivas.


Decidi dar uma pausa e beber um pouco de água. Enquanto estava sentada em cima da ilha bebendo água, decidi olhar minhas mensagens.


-S/N: Não, não, não, não, não. -Ao ler tudo o que estava na tela do meu celular, senti minha garganta dar um nó e antes que desse conta, o copo havia escorregado da minha mão e se quebrado no chão em dezenas de pedaços, molhando todo o local e chamando a atenção de todos.


Eu não dei a mínima para o copo e saí correndo dali o mais rápido que minhas pernas eram capaz de correr. Meu estômago havia se embrulhado e meu coração se apertou fortemente de um modo que se assemelhara a um ataque cardíaco.


-Chenle: S/n! Me espere! -O ouvi correndo atrás de mim, mas não podia parar, não queria parar e não parei.


Eu corri o mais rápido que pude até o prédio dos trainees ignorando completamente a minha doença respiratória e nem parando para pensar em quais poderiam ser as consequências.


Corri pelas escadas até chegar no meu antigo dormitório. As portas estavam trancadas e eu não tinha mais a chave.


-S/N: Elisa!! Elisa! Alguém abre essa porta! Por favor~ -As lágrimas jorravam dos meus olhos como há muito tempo não saíam.

 

-Chenle: S/n! Você corre muito rápido! -Ouvi sua voz chegando cada vez mais perto de mim.


Sem pensar duas vezes, chutei a porta, nada, chutei de novo usando a maior força que poderia alcançar e arrebentei a fechadura. Entrei no dormitório correndo.


-S/N: Elisa! Yerim! Haru, Sujin!! -As luzes estavam todas apagadas. Procurei nos quartos e não encontrei, mas assim que entrei no banheiro meu corpo travou, como se tivesse sido petrificada.


Eu perdi a reação ao ver aquela cena. Entrei no box e tentei balançá-la, ver se ela acordava, se mexia algum músculo.


-S/N: Elisa... Por favor, acorda~ por favor... -As lágrimas rolavam uma atrás da outra dos meus olhos.


Em meio a todo aquele sangue. Eu passei a mão em seu rosto e olhei bem para aquele rostinho perdendo toda sua cor. Desci meus dedos para o seu pescoço tentando sentir o seu pulso... sem pulso.


-Chenle: Nossa, você correu tão rápi... Minha nossa! -Ele parou assim que apareceu na porta.


-S/N: Chama uma ambulância, por favor... -Eu virei para ele já soluçando de tanto chorar. -Elisa... Elisa. Por quê?-Eu abracei o seu corpo ainda quente. -Não faz isso comigo... Acorda~ eu te imploro. Acorda! -Eu a balancei ainda me recusando a aceitar sua morte.


Por fim, a abracei e fiquei ali chorando, me recusando a olhar para os seus pulsos cortados profundamente e já vazando pouca quantidade de sangue. Aquela cena nunca mais sairia da minha cabeça, mais ainda assim eu me recusava a ter quer que olhar para o cenário onde eu me encontrava, então fechei meus olhos e permaneci ali, sentada, naquele box pequeno e chorando incessantemente. Encostei minha cabeça nela enquanto aproveitava meus últimos minutos abraçando a menina, que um dia, já me trouxe lindos momentos de alegria.



Depois de alguns minutos passados, ouço o barulho de pessoas entrando no dormitório, eram os paramédicos. Então eu a abracei mais fortemente antes que me tirassem de lá.


-Médico: Precisamos retirar o corpo. Eu, eu sinto muito. -Disse o primeiro paramédico, ao entrar no banheiro.


Me levantei e dei uma última olhada para ela, para a única menina que conseguiu me fazer ainda ver a inocência no mundo em meio a tudo que eu vivia, pálida, toda ensanguentada e de olhos fechados que nunca mais abririam.


Eu saí do banheiro e encontrei o Chenle sentado no sofá. Ao me olhar, se levantou e veio até mim.


-Chenle: Eu s-sinto muito, s/n. Eu nem sei o q-que te dizer. -Ele me abraçou.


Eu não consegui abraçá-lo de volta. Tanto meu corpo quanto meu psicológico ainda estavam em estado de choque. Eu apenas fiquei olhando para algum ponto do chão, sem expressar qualquer tipo de reação. Havia sido informação demais para que meu cérebro pudesse raciocinar, eu não conseguia processar tudo aquilo. Havia sido culpa minha, havia sido tudo culpa minha.


-Chenle: Precisamos ir. -Ele pegou na minha mão toda manchada de sangue e saímos do dormitório enquanto os médicos retiravam seu corpo do banheiro.


Enquanto andávamos em um silêncio absoluto, apenas uma frase martelava a minha cabeça "é tudo culpa sua" sem parar, me trazendo uma onda gigante de remorso e me afogando em um mar de culpa.


Assim que chegamos na frente do prédio, minhas pernas fraquejaram e eu me ajoelhei no chão, então comecei a chorar alto, muito alto.


-S/N: É tudo c-culpa minha~ Chenle, é tudo culpa minha. Eu po-poderia ter impedid-do. -Ele se agachou ao meu lado e me abraçou forte de modo desajeitado.


-Chenle: Não é culpa sua. Você não fez nada de errado, okay?! Pare de se culpar, por favor. Nada disso foi culpa sua. -Ele enquanto alisava o meu ombro e tentava equilibrar seu peso em suas duas pernas.


-S/N: Fo-foi sim. Eu matei ela Chenle, e-eu~


-Mal sabia ele que havia sido tudo culpa minha. Eu poderia tê-la impedido, mas não o fiz. Eu matei ela e nunca me perdoaria, nunca poderia me perdoar pelo que havia feito. Minha falta de atenção havia a matado. Ela tinha pedido a minha ajuda e eu não ajudei, eu não ajudei ela. Só tinha que fazê-la feliz, mas falhei. Escorreguei feio e aqueles machucados começavam a arder, doer, sangrar. Aquilo tudo era uma grande tortura.


Ele finalmente me fez levantar e subimos para o meu dormitório. Assim que entrei, os olhares de todos focaram em mim e em todo aquele sangue espalhado pela minha roupa.


-Yukhei: O que aconteceu? -Ele imediatamente veio até mim com um olhar preocupado, assim como todos os outros.


-S/N: É tudo culpa minha~ Eu podia ter impedido Xuxi. Mas eu não eu impedi. -Mais lágrimas, muitas lágrimas.


-Yukhei: O que aconteceu, Chenle? -Ele perguntou para o chinês enquanto me abraçava. Afundei minha cabeça em seu peito, mas, infelizmente, daquela vez minha dor não passou, nem ao menos diminuiu.


-Chenle: Uma menina, acho que era amiga dela, se suicidou. A encontramos no banheiro. -Ele disse ainda parecendo estar em choque pela cena vista também por ele.


-Taeyong: Minha nossa!


-Antes que todos viessem com suas palavras reconfortantes, eu saí correndo dali e entrei no banheiro. Tranquei a porta e entrei debaixo do chuveiro ainda com todas as roupas que estava usando.


Enquanto a água morna, quase fria, escorria pelo meu corpo levando todo o sangue já seco da minha pele embora, eu relembrava todas as palavras ditas naquela mensagem de texto que ela havia me mandado, mensagem essa que eu ignorei completamente minutos antes de sua decisão de acabar com sua própria vida.

A cada fração de segundo que meus olhos se fechavam, aquele terrível cenário vinha à minha mente. A grande poça de sangue no chão do box, a lâmina manchada de sangue jogada ao lado de seu corpo, ainda quente, mas já sem cor, seus pulsos com dois cortes profundos em cada braço, seu rosto já seco por lágrimas que outrora haviam escorrido enquanto ela pensava se realmente queria dar seu último passo em busca de paz. Cada vez que aquela cena vinha a minha cabeça, meu corpo inteiro doía, meus órgãos se embrulhavam e eu sentia uma vontade louca de chorar tomar conta de mim.


Eu ainda não era capaz de lidar com aquilo. Eu a amava tanto, tanto, tanto. Sentia que não poderia ter tido uma amiga melhor do que ela, seus risos alegres, seu olhar inocente e perdido, sua voz doce como a de um anjo. Ela não merecia ter passado por tudo o que passou, ela precisava de ajuda, ela me pediu ajuda, e nem a seu pedido fui capaz de atender. Nada faria com que eu me sentisse melhor em relação ao terrível acontecimento. Porque eu sabia que poderia ter ajudado ela, ter lhe mostrado um caminho diferente para que ela trilhasse e não chegasse ao seu terrível destino. Ela só tinha 14 anos, porra! Ela tinha uma vida inteira pela frente! Eu poderia ter feito algo, poderia ter lhe dito o quanto a vida é bela, mostrado a beleza que existe nos detalhes das coisas, lhe dito que tudo que acontecia com ela era apenas uma vírgula e não um ponto final, que o amanhecer antes do sol é sempre o mais escuro, que não há tristeza interminável que não tenha fim, que sempre há uma luz no fim do túnel, que nada é motivo para desistir. Mas não fiz nada disso, eu errei em passar para outro alguém a missão que havia sido dada a mim, eu errei na escolha de palavras, errei em não tentar mais, errei em não ter me dedicado mais a ela, errei em não ter levado mais a sério a sua depressão. Meus erros haviam sido inúmeros e quanto mais eu me lembrava de cada uma das minhas falhas, mais a culpa recaía sobre mim.

Por Deus! Houveram tantos modos de impedí-la e não usei nenhum deles, nenhum. Eu havia acabado de me recuperar de um problema que me assolava e caí em outro, dessa vez irreversível. Estava me cansando o quanto eu prejudicava as pessoas, chegando ao ponto de fazer com que uma delas tirasse a própria vida. Eu tinha, por fim, reconstruído os cacos do meu coração e então veio um triturador o deixando irreconhecível, sem concerto. Nunca mais me recuperaria daquilo. Um pedaço de mim havia morrido e seria levado a sete palmos abaixo da terra, sem chance de ressuscitação.


Assim que saí do banho, ainda de roupa, fui para o meu quarto, o tranquei e me deitei na cama sem dar a mínima para o fato de estar completamente ensopada com água. Nada seria capaz de tirar aquele sangue das minhas mãos, ou eliminar da minha mente o que meus olhos haviam visto, nem a mensagem que havia recebido poderia ser apagada, cada palavra havia sido cravada no ponto mais profundo e sombrio da minha mente. Seria uma noite que eu nunca mais esqueceria, nem se eu quisesse.




           Quebra De Tempo



-???: S/n! S/n! -Alguém batia na porta enquanto dizia meu nome repetidas vezes.


Não que eu não quisesse abrir. Fiquei uma noite inteira me lamentando, ainda me sentia um lixo completo. Jungwoo certamente havia dormido com algum dos meninos, pois assim que acordei, tudo estava do mesmo modo que deixei quando fui dormir. Eu apenas não conseguia levantar, não possuía força nenhuma. Estava congelando de frio e dor de cabeça, minha oxigenação estava baixa em vista da minha dificuldade para respirar e eu não conseguia gerar energia nem para falar que estava bem. Mesmo comigo e todos sabendo que a última coisa que eu estava era bem.


-???: Ela não responde.


-???: Talvez esteja dormindo ainda.


-???: Precisamos ver, ela não está nada bem. Vamos usar a chave reserva.


-A única coisa que conseguia ouvir eram suas vozes do outro lado da porta. Não conseguia nem mesmo raciocinar, apenas ficava na mesma posição, de olhos fechados.


Até que depois de uns minutos, eles conseguem abrir a porta.


Algum deles, não faço ideia de quem foi, colocou a mão na minha testa e pescoço.


-???: Essa menina está ardendo em febre.


-???: Ela tá usando as mesmas roupas de ontem, estão todas molhadas. Deve ser por isso. Temos que levá-la ao hospital agora.


-Então me pegaram no colo e eu não consigo mais lembrar o que me aconteceu. Estava tão fraca que tive que passar pela vergonha de ser carregada.



                      .....



-???: Acho que ela está acordando.


-Eu abri meus olhos lentamente e tentando raciocinar aos poucos tudo o que estava acontecendo. A primeira coisa que consegui focar foi no rosto de Wong Yukhei me olhando com uma expressão preocupada. Assim que corri meus olhos pelo lugar onde estava, tive certeza que estava deitada em uma cama de hospital, com um acesso ligado em meu braço, e usando um catéter no nariz que começava a me incomodar.


-Médico: Deixe-me ver. -Alguém que eu julguei ser o médico, chegou perto de mim e me olhou bem em meus olhos. -Consegue me ouvir? -Balancei a cabeça positivamente. -Ela vai ficar bem. Teve um choque muito grande e por não ter uma imunidade muito boa, o choque acabou por despencar a eficiência de seus anticorpos. Por isso que ela passou tão mal, mas vai se recuperar.


-Tentei me levantar na maca e me sentei. Terminei por tirar aquele catéter que nunca gostei de usar desde a primeira vez que haviam colocado em mim.


-Yukhei: Ei, ei. Muita calma.


-S/N: Eu preciso sair daqui.


-Yukhei: Nem pense nisso. Você precisa repousar.


-S/N: Eu não posso ficar aqui. Doutor, tem como me dar alta agora?


-Médico: Você ainda não está muito bem. Sua saturação ainda está muito baixa.


-S/N: Mas tem como resolver isso em casa. Eu preciso mesmo sair daqui.


-Manager: Você tem certeza, s/n? Passou por um choque muito grande.


-S/N: Tenho. Não é hoje que teríamos a sessão de fotos do álbum?


-Manager: Era. Não tínhamos como tirar as fotos sem a sua presença, então adiamos.


-S/N: De qualquer forma. Tem como ou não?


-Médico: Não podemos te obrigar a ficar aqui. Pode sair quando quiser, mas não recomendamos. Sua oxigenação está em 80, ainda tem febre e nada garante que possa melhorar tão rápido assim. É necessário que passe pelo menos essa noite aqui, em observação.


-Yukhei: Tá decidido, você fica.


-Me virei para o lado e tentei segurar o choro. Era mais do que ridículo chorar por não poder sair do hospital, mas eu não tinha como controlar minhas reações.


-Yukhei: S/n, não se preocupe. Eu ficarei com você aqui até amanhã. -Senti sua mão quente alisar o meu braço. O calor de seu corpo era tão bom.


-Manager: Melhor você não ficar aqui o tempo todo, sabe que tem compromissos. -Imterrompeu Yukhei.


-Yukhei: Mas não são de grande importância.


-Manager: Sabe que eu gostaria de fazer isso, mas são ordens. Eu não as faço, as cumpro.


-Yukhei: Certo… -Se deu por vencido, mas evidentemente decepcionado.


-Manager: Poderá voltar amanhã pela manhã. -Àquela altura o médico já havia saído da sala e nenhum dos três pareceu notar.


-Yukhei: Tudo bem. -Deu a volta na cama em que eu estava e se agachou à minha frente. -Tente melhorar, por favor, sua saúde é o que mais importa pra mim. Prometo que amanhã eu volto. -Assenti tristonha e uma lágrima desceu pelo canto do meu olho. Ao ver isso, Yukhei deixou mais do que lúcido o quanto ele se sentia mal por me ver daquele modo deplorável. Balançou a cabeça em negação, como se tentasse expulsar seus pensamentos tristes e negativos e limpou a lágrima com um sorriso fraco no rosto. Foi ali que pude notar que o meu estado mental e físico, influenciavam diretamente no estado dele, assim como era e sempre foi comigo. -Fique bem. -Deu um beijo em minha testa e se levantou, mas antes de sair do quarto, chegou bem perto do meu ouvido e sussurrou -Eu te amo, nunca se esqueça disso. -E se retirou do local.


Em vista de seu pedido e querendo tanto vê-lo melhor, recoloquei meu catéter e voltei a minha posição. Não demorou muito para que o sono surgisse e sabendo que eu não tinha coisa melhor para fazer, fechei os olhos e dormi.



Se eu dissesse que tive um sonho calmo ou menos menos deplorável que minha situação, estaria mentindo, porque eu tive a sorte de sonhar com o cenário que havia encontrado noite passada, mas com muito mais sangue, de um modo bem mais doloroso e tendo que presenciar seu corpo se levantar do box e vir até mim repetindo a mesma frase “É tudo culpa sua".


Acordei sutilmente ofegante e na esperança de correr para os braços do meu namorado, mas só encontrei um quarto escuro e meu manager sentado na poltrona mexendo em seu celular. Olhei para o relógio na parede: 2 da manhã.


Suspirei pesadamente e estiquei meu corpo sobre a cama.


-Manager: Está melhor? -Sua voz tomou conta dos meus pensamentos antes que o pesadelo que tivera fizesse o trabalho.


-S/N: Fisicamente ou mentalmente? -Perguntei enquanto olhava para o teto branco que agora tinha uma coloração acobreada por conta da única fonte de luz do quarto, a janela aberta.


-Manager: Os dois.


-S/N: Fisicamente, melhor, mentalmente, é um trabalho sem progresso.


-Manager: Eu sinto muito.


-S/N: Tudo bem… quando vai ser?


-Manager: O quê?


-S/N: O enterro.


-Manager: Ah, sim. -Limpou a garganta. -O corpo vai ser levado pro Brasil, ao que parece a família vai cremá-lo.


-S/N: Entendi. -Senti uma forte ardência no nariz. Saber que eu nem ao menos poderia me despedir dela me trazia um sentimento desesperador.


Que bela merda! Eu não tinha mais o que fazer a não ser chorar, porque todas as outras opções estavam fora de meu alcance.

O problema de lidar com a morte é termos a certeza de que nunca se poderá voltar a atrás.


Passei longos minutos sem saber o que fazer ou falar, o que resultou em mim praticamente vegetando em cima daquela cama, mas de olhos abertos.


-Manager: Posso te perguntar uma coisa?


-S/N: Sabe que já está perguntando, não sabe?


-Manager: Tanto faz. Você e o Yukhei estão namorando, não estão?


-S/N: Acreditaria se eu dissesse que não?


-Manager: Sabe que é bem difícil acreditar em uma coisa dessas, né?


-S/N: Sei… -Disse em um suspiro. -Vai contar pra empresa? -Finalmente virei meu rosto para encontrar sua face.


-Manager: Deveria, mas não vou.


-S/N: Por quê?


-Manager: Porque é muito fácil notar o quanto vocês se amam. Não acho que tenho o direito de acabar com isso.


-S/N: Entendi. -Dei um sorriso fraco, mas me senti verdadeiramente alegre, ao menos por um curtíssimo período de tempo, que não iria ter mais nada tirado de mim.


-Manager: Mas não façam nada que possa prejudicar vocês. Eu não vou contar, mas não vou poder fazer nada se descobrirem, e tenho certeza que ambos sabem que certamente a empresa não vai aprovar esse relacionamento. -Me virei novamente para o teto. Eu sabia de tudo que ele dizia, mas ser lembrada disso ainda me afetava de um modo fora do comum.


-S/N: Eu sei. -Disse finalmente com a voz cansada.


-Manager: Apenas descanse, não se preocupe com isso agora. Vocês são inteligentes, vão saber lidar com isso.


-Mais nada foi dito. Eu estava sem meu celular e parecia ter uma pressão enorme sobre meu corpo que me impedia de levantar para ligar a televisão ou ao menos caminhar pelos corredores daquele lugar. Eu já havia dormido tanto que não possuía um pingo de sono, então o tédio ficou desfilando pela minha mente durante três horas seguidas enquanto eu me remexia de um lado para o outro em cima daquela cama ou fazia desenhos no ar, em sua maioria abstratos ou caracteres e ideogramas chineses.



O sono finalmente chegou quando a luz do Sol já começava a iluminar sutilmente o quarto. Ainda com medo de ter mais um pesadelo amedrontador, mas vencida pelo pensamento de que dormir era a única coisa que podia fazer, ou então voltaria aos meus desenhos, relaxei meu corpo e adormeci.



                       …..



-Médico: Ela já está bem melhor. O nível de sua saturação se normalizou e já não tem mais febre. -Ouvi uma voz distante que definitivamente não fazia parte do meu sono.


Abri meus olhos lentamente e encontrei o médico conversando com o meu manager e Wong Yukhei. Levei meu olhar até o relógio, 9 da manhã.


-S/N: Já posso ir embora? -Perguntei com a voz banhada de sono. -Ao mesmo tempo, os três se viraram para mim.


-Médico: Bom dia, s/n. Pelos resultados dos exames e em vista de sua melhora, pode sim.


-Yukhei: Você está bem? -Perguntou ao agachar à minha frente. Não soube adivinhar se o inchaço dos seus olhos era devido a sua noite de sono ou se ele, por algum motivo, estava chorando.


-S/N: Estou melhorando. -Dei um sorriso fraco.


-Médico: Pois bem. Passaremos um remédio para febre caso sua temperatura suba e, bom, lhe receitaremos um anti-depressivo.


-S/N: Pode esquecer esse último. Não tenho depressão. -Falei em um tom quase ríspido, não era minha intenção, mas não havia necessidade de tomar esse tipo de remédio.


-Médico: Já que insiste... Chamarei uma enfermeira para retirar o seu acesso. Venha comigo por favor. -Ele chamou meu manager e saíram do quarto.


-Yukhei: Tem certeza que não precisa? -Eu queria poder levantar para que o Yukhei saísse daquela posição, mas parecia que haviam 50 aviões em cima de mim e mal pude me mover.


-S/N: Tenho. Eu estou me sentindo muito mal por ela, mas não ao ponto de precisar de anti-depressivos.


-Yukhei: Acredito em você. -Beijou lentamente a minha testa e aproveitei para inspirar bem fundo o seu cheiro, meu Deus, como seu cheiro era incrível.


A enfermeira então chegou no quarto e retirou o meu acesso, colocando um band-aid no lugar. Coloquei meus chinelos que Yukhei havia trago para mim e fui para o banheiro trocar de roupa e fazer minha higiene matinal. Finalmente saímos do quarto, com o braço dele repousado sobre meus ombros.


Enquanto esperávamos meu manager na recepção, fiquei sentada de cabeça baixa olhando para meus pés, e sem qualquer tipo de aviso prévio do meu corpo, voltei a chorar novamente. Eu não aguentava mais chorar, porém não me restava outra coisa a fazer.


-Yukhei: S/n? Você tá chorando? -Assenti ainda de cabeça baixa.


Ele então passou seu braço por cima dos meus ombros novamente e consequentemente me fazendo chorar mais ainda.


-Yukhei: Vai ficar tudo bem. Por favor, pare de chorar. Você não sabe o quanto me dói te ver assim. Se eu pudesse trocar de lugar com você eu juro que trocaria.


-S/N: Eu não deixaria, você não merece passar por isso.


-Yukhei: Você também não, bae. Ninguém merece.


-S/N: Mereço sim, Xuxi... mereço sim. -Em resposta recebi seu silêncio e um beijo em meu cabelo. Era quase palpável o seu desespero em não saber o que fazer comigo, uma forma de me ajudar. E logo agora que estávamos indo tão bem.


Nosso manager chegou e fomos levados para a empresa em um silêncio terrível. Assim que chegamos, ele foi direto para a empresa e nos mandou para nosso dormitório.



Enquanto subíamos para o meu dormitório, enquanto ele me abraçava, enquanto sentíamos o vento gelado bater em nossas máscaras e chegar até nossos rostos, enquanto tudo isso acontecia eu apenas pensava no que havia acontecido naquela maldita noite, era em tudo o que eu pensava. Por fora eu era calada, sem esboçar nenhuma expressão, por dentro eu estava um caos, toda bagunçada e banhada de sentimentos de culpa e arrependimento. Em poucas horas fariam dois dias que a Elisa havia morrido, mas as minhas lembranças tornavam as coisas tão vívidas, que parecia que havia passado por tudo minutos atrás.


Chegamos em casa e eu me sentei no sofá, sem falar qualquer palavra. Apenas fiquei olhando o que passava na televisão. Yukhei foi em seu quarto fazer sabe-se lá o quê.


-Johnny: You okay?


-S/N: No. I'm all fucked. -Repondi sem fazer contato visual.


-Johnny: Você quer conversar?


-S/N: Você poderia me ajudar? Se não, então não quero.


-Johnny: Não seja assim. Eu sei que você deve tá achando que a culpa é sua e que nunca vai poder mudar isso, eu sei, mas você poderia ao menos se dar uma chance de fazer algo que te faça parar de pensar nisso.


-S/N: John, eu não estou esse caco porque eu quero. Tem algo dentro de mim que insiste em me manter nessa situação, me culpando e chorando a cada hora. Eu entendo o que você quer dizer, é só que não tem como eu me livrar de algo que está dentro de mim, me lembrando a cada segundo que a porra da culpa é toda minha. -Meu nível de raiva de mim mesma era tão grande que eu já não possuía uma voz neutra, eu chorava em frustração.


-Johnny: S/n… Você preci-


-S/N: John, eu sei todas as palavras que você quer me dizer. Essas frases reconfortantes que sempre dizem pra pessoas que estão se sentindo culpadas. -Me levantei bruscamente. -Mas entenda que essa merda é diferente, porque eu podia ter impedido, mas não impedi! Porque eu deveria tê-la ajudado, mas não ajudei! Porque eu poderia ter salvado sua vida na porra daquela hora em que estávamos jogando, mas eu não salvei!


-Johnny: Por favor, se acalma. -Se levantou e se aproximou de mim com a voz mansa, mas eu estava agitada demais para lidar com todos aqueles malditos lembretes e me acalmar. Por isso me esquivei dele e fui em direção a porta.


-S/N: Eu preciso sair daqui. -A abri e fechei com força.


Cheguei até a rua e fiquei andando pela mesma sem rumo, sem destino e sem ao menos saber o que queria fazer.


Eu só sabia quue precisava esfriar a cabeça e aproveitar aquele clima de inverno que eu sempre odiei.


Não sei ao certo por quanto tempo fiquei andando, ou por onde eu estava andando. Apenas tinha certeza de não estar perdida porque sempre encontrava algum lugar que eu já conhecia e de saber que haviam se passado algumas horas.



Entrei em uma loja de conveniência sem saber muito bem o que estava querendo.


-S/N: Vocês realizam vendas para menores de idade? -Perguntei para o moço bonito, revelava seu crachá que seu nome era Kang Jeonghyun, parecendo ser pouco mais velho que eu que estava atendendo no caixa.


-Atendente: Depende, você é uma policial disfarçada? -Perguntou em um tom brincalhão.


-S/N: Talvez eu seja, mas não sou burra ao ponto de contar isso pra você.


-Atendente: Perguntar não ofende. -Comentou um pouco emburrado com a minha resposta seca.


-S/N: Um maço de cigarros e um esqueiro, por favor. -Sim, eu estava completamente desestabilizada.


-Atendente: Qual?


-S/N: O que você achar melhor.


-Atendente: Este aqui. -Esticou seu braço e pegou uma caixa de Marlboro Light dentro do vidro na prateleira atrás do balcão. -Tudo bem com você? -Perguntou enquanto digitava o código de barras do esqueiro que ele havia pegado logo em seguida.


-S/N: Eu pareço tão mal assim?


-Atendente: Tem um semblante triste.


-S/N: Hoje não é o meu dia, os dias passados também não e certamente os futuros. -Dei uma risada sarcástica, mas a verdade é que eu estava prestes a desabar mais uma vez.


-Atendente: É 13,000 mil won. -Paguei no dinheiro para não correr o risco da minha mãe me ligar puta da vida assim que visse com o que estava gastando seu dinheiro. -Uma pena que uma menina tão linda esteja percebendo quão tirana a vida pode ser.


-S/N: Antes essa fosse a primeira vez.


-Antendente: Me dê sua mão. -Estranhando seu pedido, mas acabada demais para ligar para isso, estendi minha mão em cima do balcão. -Às vezes, as coisas podem ser bem mais complicadas do que o nosso cérebro tem a capacidade de resolver, ou achamos que são. Como um problema matemático. -Pegou uma caneta e começou a escrever uma coisa que eu não pude ver porque seus fios ondulados na tonalidade mel tapavam a minha visão. -Então é recomendado que as pessoas tentem resolver essas complicações com a ajuda de outras, porque o caminho solitário quase sempre nos fará desistir de tentar. -Levantou seu tronco e fechou a caneta, a guardando embaixo do balcão logo em seguida. Olhei para a palma da minha mão e vi alguns números. O cara havia me dado o número de seu telefone.


-S/N: Bom… e-eu namoro. -O olhei estática na mesma posição.


-Atendente: Se eu o seu namorado não a proibir de ter amigos, então já sabe com quem resolver seus problemas matemáticos. -Disse e deu um sorriso gentil. Fiz o mesmo, me reverenciei e saí.


Não fazia ideia de algum dia eu voltaria a ter contato com aquele homem. Esse não era o momento para pensar nisso, então não dei importância ao que tinha marcado em minha mão direita.


Era a primeira vez que pensava em fumar em toda a minha vida. Contando com o meu problema respiratório, fumar seria um ótimo gatilho que atiraria em cheio na minha saúde, e eu não dava a mínima.


Peguei um cigarro e coloquei na boca, acendi o esqueiro e, com a mão em forma de concha para que o vento não apagasse o fogo, acendi o mesmo. Dei um trago profundo e me engasguei com toda aquela fumaça, começando a tossir até meus olhos começarem a lacrimejar. Dei mais uns dois tragos até que finalmente parasse de tossir, embora estivesse sentindo meus brônquios serem torturados.


Me sentei no chão de uma calçada e fiquei olhando para os carros passando, as pessoas andando, tudo acontecendo da mesma forma como nos dias anteriores. Pessoas sempre se suicidavam todos os dias e ainda assim a vida continuava, pessoas ainda iam para os seus trabalhos, crianças ainda iam a escola e a chuva ainda caía. Demorei muito tempo para me acostumar que não era, nunca foi frieza das pessoas em dirigirem os carrinhos das suas vidas depois da morte de alguém, elas apenas faziam o que estavam programadas para fazer. Entendiam que a morte de alguém não deveria fazer com que elas parassem de fazer o que sempre fizeram. Isso porque a morte é algo que faz parte da vida, pessoas vêm e vão sempre. Dói? Mas é claro que dói, seres humanos são feitos de carne e osso, choram, sofrem, riem, dormem, comem e possuem sentimentos. Mas isso não significa que elas devam frear o seu carrinho e se lamentarem pelo leite derramado. A vida acaba para quem morreu, não para seus próximos.


Quem dera eu ter todos aqueles pensamentos maduros e saber lidar com dor ao invés de me culpar. Naquele momento eu estava afundada em dor e arrependimento. Talvez porque fosse a primeira vez que estivesse lidando com a perda de alguém importante em minha vida de modo irreversível, não como as várias amizades que tive e se desfizeram, talvez o choque tivesse feito eu me sentir a pior pessoa do mundo, sentir emoções que antes não havia sentido, e buscar um alívio em coisas que nunca havia buscado. A culpa me consumia tanto que eu não tinha vontade de fazer mais nada, a dor chegou varrendo toda a minha vontade de fazer qualquer outra coisa que ocupasse minha mente. Eu me sentia tão culpada por não ter conseguido impedí-la que me senti inútil o suficiente para não ver mais vontade de continuar onde estava. Queria apenas voltar para a minha casa, abraçar a minha mãe e chorar, deitar na minha cama e voltar a reclamar das provas mensais da minha escola, ou dos meu seminários para apresentar, ou das lições de casa que sempre deixava para fazer na última hora.


Tirei meu celular da minha jaqueta e liguei para a minha mãe pouco me importando com o fato de lá ainda ser de madrugada.



               Ligação On



S/N: Mãe?


S/M: S/n? Está meio cedo para me ligar, você não acha? -Eu dei um sorriso assim que ouvi sua voz depois tanto tempo sem falar com ela.


S/N: Desculpa, te acordei? -Dei um trago profundo no meu cigarro até que ele ficou pequeno demais. O joguei no chão e pisei em cima.


S/M: Acordou sim. Por que me ligou a essa hora? -Questionou-me com a voz ainda arrastada pelo sono.


S/N: Não sei. Só queria saber se tá tudo bem com a senhora, com minha família. -Lágrimas começaram a descer pelos meus olhos.


S/M: Sim. Você tá bem, filha? Parece tão diferente? Estão te tratando mal? O que fizeram com você? -Sua voz adquiriu um tom preocupado.


S/N: Nada não mãe. Tô bem sim, me tratam muito bem aqui. Não há com o que se preocupar. -Dei uma fungada.


S/M: Você tá chorando? O que aconteceu?


S/N: Nada, mãe. Estou feliz em ouvir sua voz, só isso. Melhor eu desligar para não atrapalhar mais o seu sono.


S/M: Tudo bem então. Te amo filha.


S/N: Também te amo mãe. Tchau.

  


              Ligação Off



-Aquelas lágrimas, pelo menos, haviam sido de felicidade. Mesmo que por alguns segundos, ouvir a voz de sono da minha mãe havia sido gratificante. Eu a amava tanto, tinha tanta saudades dela que mal cabia em mim. Tinha mais do que do meu pai que, embora um ótimo pai, seu autoritarismo me irritava a ponto de fugir de casa para não ter que lidar com sua personalidade odiosa. Terminei de sentir mais raiva dele quando ele e minha mãe se separaram depois que ela descobriu que ele a traía com a assistente de trabalho. Eu tive uma raiva tão grande dele que neguei vê-lo durante 2 anos seguidos, e não me arrependo de nenhuma das duras palavras que disse para si assim que o vi. Não o odeio, pelo contrário, o amo, mas isso não anula o ódio que sinto de suas ações imbecis. O resultado foram as minhas idas à sua casa a cada 15 dias por meios judiciais e o ganho de bens materais que não me preenchiam de modo algum, obviamente pelas suas tentativas falhas de se desculpar utilizando presentes, atos tão vazios quanto as palavras de amor que dizia para a minha mãe enquanto transava com a assistente.



Passei mais um tempo considerável abraçando meus joelhos e ouvindo o som agitado daquela rua.


O lado ruim de nunca ter lidado com essas coisas enquanto somos pequenos é que ninguém nunca fala o quanto dói, e não como a dor de brincar de correr, tropeçar e ralar o joelho, depois limpar o machucado e por um band-aid. É uma dor que está dentro de nós, ocupando cada canto do nosso corpo, é uma dor que infelizmente não possui remédio nem curativo, porque não temos como curar algo que não sabemos de onde vem, mas que sabemos que está lá, acabando com nós de forma lenta e dolorosa.



              Ligação On



S/N: Matheus?


Matheus: Oi s/n, tudo bem com você? Meu Deus, me desculpe não ter ligado mais cedo. Eu, eu sinto muito. -Cuspiu as palavras desesperadas em cima de mim.


S/N: Tudo bem. Tem como você me encontrar agora?


Matheus: Claro! Aonde? -Lhe disse a rua onde estava, que por acaso eu conhecia.


S/N: Vem rápido. Por favor.


Matheus: Certo. Em 10 minutos eu chego aí.



               Ligação Off



-Sempre me admirou o fato do Matheus ser uma pessoa tão pontual quanto eu. Digo isso porque quando deram 8 minutos, ele já havia chegado. Se já não soubesse pela sua respiração ofegante, diria que ele teria vindo correndo.


-Matheus: Cheguei. -Disse se sentando bem ao meu lado. -Tudo bem?


-S/N: Por que não param de me perguntar isso? Não, não tá nada bem. Você está?


-Matheus: Estou menos pior que você.


-S/N: Sinceras palavras.


-Matheus: Como ficou sabendo? -Perguntou finalmente depois de um silêncio de quase 3 minutos passear sem parar por nós.


-S/N: Eu que encontrei ela. -Concentrei meu olhar em algum ponto do chão asfaltado.


-Matheus: Meu Deus! Por que não me contou?


-S/N: Estou te contando agora. Matheus, você sabia que foi tudo culpa minha? Que eu poderia ter evitado, mas ainda assim fiquei jogando um jogo de perguntas e respostas.


-Matheus: Ai, s/n, para. Não foi culpa sua. Não foi culpa de ninguém. Você fez tudo o que pôde para evitar, nós fizemos.


-S/N: Mas ,Matheus... -Ele me abraçou assim que voltei a chorar novamente. -Eu deveria ter feito alguma coisa. Eu deveria ter impedido, deveria achar um jeito de fazer ela mudar de ideia.


-Matheus: Mas você fez. Você tentou ajudá-la, tentou fazer ela mudar de ideia, mas não deu certo. O que você fez não foi insuficiente, o que ela passou talvez tenha tenha o sido suficiente para fazê-la desistir. Você não deve se culpar por esse triste acontecimento, e no fundo você sabe disso.


-Mais tarde eu descobriria que ele tinha razão, mas não naquele momento.


-S/N: Eu queria muito poder concordar com você, nossa como eu queria. Mas eu não consigo Matheus, eu não consigo. Olhe só o que ela mandou antes de se suicidar. -Peguei meu celular e lhe dei para que ele visse a mensagem.


-Enquanto ele lia, eu só chorava relembrando todas as palavras escritas por ela, pensando na dor que ela sentia enquanto me escrevia tudo aquilo. Talvez aquela fosse sua última tentativa de não deixar que a dor lhe consumisse, e ela deve ter se decepcionado tanto ao ver que eu havia recebido a mensagem, mas não havia respondido que decidiu deixar a dor consumir-lhe por inteira de uma vez por todas.


Eu não sou capaz, talvez nunca serei, de entender pelo que ela passou. Talvez eu nunca possa imaginar qual foi o tamanho de sua dor a ponto de fazer-lhe desistir. Mas eu sei que nunca entenderei porque deixou que seus problemas a afundassem, porque cedeu àquilo que lhe afligia. Seria uma enorme dúvida que infelizmente eu carregaria comigo pelo resto da vida.


-Matheus: S/n... talvez você esteja se sentindo tão culpada que não tá conseguindo olhar isso aqui com outros olhos. Essas palavras não te tornam culpada, muito pelo contrário. Ela está te agradecendo por tudo que fez a ela e ao esforço para tentar fazer-lhe alguém mais feliz.


-S/N: Você não vê que isso foi um último pedido de ajuda? Matheus, ela me agradecia na mensagem, mas no fim de tudo se matou. Se meus esforços tivessem valido a pena, hoje eu nem estaria chorando. Cara, se eu tivesse visualizado minutos antes, teria salvo a sua vida. Eu teria salvo a vida da Elisa, Matheus! Mas que droga! -Meus soluços estavam tão fortes que quando o semáforo parou eu pude sentir alguns olhares curiosos sobre mim.


-Matheus: Se martirizar não te ajudará em nada. Você deveria entender que se ela te agradeceu por tudo que fez por ela, é porque você não tem um pingo de culpa nisso tudo. Ela te amava s/n, muito aliás. Tenho certeza que ela queria que enxergasse isso.


-S/N: Talvez tenha razão. -Peguei mais um cigarro e o acendi. Dei uma longa tragada e logo em seguida liberei a fumaça, vendo-a se esvair diante dos meus olhos.


-Matheus: Que porra você pensa que está fazendo? -Perguntou de olhos arregalados.


-S/N: Colhendo alface. O que acha que estou fazendo?


-Matheus: Você é louca? E a sua bronquite?


-S/N: Matheus, eu vi o corpo de uma menina que era praticamente minha irmã no chão todo ensanguentado. Acha que eu ligo para a merda da minha bronquite?


-Matheus: Você está definitivamente um caco.


-S/N: Toma. -Lhe ofereci meu cigarro.


-Matheus: Sai pra lá com isso!


-S/N: Você já usou ecstasy. Dá logo um trago nisso. -Ele então pegou e deu um trago, deu umas tossidas expulsando toda a fumaça e logo fumou novamente.


-Matheus: Até que não é ruim. Me dá um.


-S/N: "Ain, sai pra lá com isso". -Zombei da sua cara e peguei outro cigarro no meu bolso da jaqueta. Acendi e lhe dei.


-Matheus: Merda. -Fumou seu cigarro. -Essa é com certeza a coisa mais idiota que já fizemos. -Rimos ao nos tocarmos de que ele tinha toda a razão e que para estarmos jogados na calçada de uma rua enquanto fumávamos cigarro, estávamos mesmo na merda.


-S/N: Sim, é. Prolongando o assunto, eu não sou mais a virgem do grupo.


-Matheus: Mentira!


-S/N: É tão difícil acreditar que eu dei minha buc..


-Matheus: Não é necessário que continue. -Me cortou. -Não, mas tipo, quando?


-S/N: 3 dias atrás, em Vancouver.


-Matheus: Vancouver? Foi fazer o que lá?


-S/N: Gravar o vídeo clipe, meu bem.


-Matheus: E como foi? -Sua curiosidade dava até um ar engraçado ao nosso estado de dar dó.


-S/N: Gravar o mv ou perder a virgindade?


-Matheus: Os dois.


-S/N: Cansativo. E doído porém gostoso.


-Matheus: Entendo... Então você e o Yukhei estão juntos mesmo?


-S/N: Sim, finalmente assumimos namoro. Meu manager também sabe.


-Matheus: Como? -Questionou surpreso.

 

-S/N: Acho que era muito evidente. Mas ele não vai contar nada.


-Matheus: Que bom. Se fosse com o meu, já estaria for a dessa empresa.


-S/N: Você ainda gosta de mim? -Concentrei meu olhar no garoto lindo de cabelos cor de chocolate sentado ao meu lado e notei que ele não exibiu nenhum resquício de nervosismo ou a típica vergonha de quando eu tocava nesse assunto.


-Matheus: Acho que não mais. Acabei me acostumando com ideia de te ter como minha melhor amiga e que você ama aquele chinês lindo do caralho. -Ambos rimos. -Mas é sério, ele é muito lindo.


-S/N: Eu sei disso, meu amor. Ele também sabe e se orgulha bastante disso.


-Matheus: Verdade… O que é isso em sua mão? -Pegou minha mão direita e a abriu para ver melhor o que havia nela, já que o céu escuro tornava nossa visão pouco turva.


-S/N: Não sei dizer ao certo se foi um pedido de amizade ou de algo mais do atendente da loja onde comprei essa merda de cigarro. -Repondi simplesmente.


-Matheus: E você vai ligar?


-S/N: Só se for pra resolver reais problemas matemáticos quando voltar pra escola. -Quase ri de sua expressão confusa.


-Matheus: Hum… Já está tarde. Não acha melhor voltarmos?


-S/N: Não quero, mas pode ser. -Ele primeiro se levantou e depois estendeu a mão para que eu me levantasse também. Guardei todos os meus pertences em meu casado.


Enquanto andávamos vagarosamente pelas ruas de Seul e fumávamos nossos cigarros sem dizermos uma só palavra, eu apenas apreciava as estrelas naquele céu lindo. A lua cheia iluminava a noite triste e melancólica daquele dia. Nosso estado era tão deprimente que começamos a rir depois que eu tropecei em meu próprio pé como dois viciados sob o efeito de drogas alucinógenas. E tudo aquilo na tentativa de amenizar a dor que nos castigava.


-S/N: Você fez o que prometeu?


-Matheus: O que eu prometi?


-S/N: Que cuidaria dela para mim.


-Matheus: Eu tentei.


-S/N: Não lhe disse para tentar, disse para fazer.


-Matheus: Eu tentei fazer, mas se tivesse dado certo não estaríamos fumando a essa hora da noite.


-S/N: Você é um puto. -Eu ri debochada.


-Matheus: Por quê?


-S/N: Você só disse aquilo para não me fazer se sentir culpada porque no fundo você também se sente por não ter conseguido impedí-la. -Eu disse as palavras lentamente depois de ter entendido todo o porquê de tudo que ele havia me dito.


-Matheus: Não mesmo, eu fiz aquilo porque não queria que sentisse culpada por algo que não fez.


-S/N: Você se sente culpado pelo seu suicídio? -Logo aquele silêncio ridículo se espalha pelo espaço que ocupávamos a cada passo dado.


-Matheus: Talvez eu me sinta. Caralho, eu tentei tanto animá-la s/n, você não tem ideia do quanto me esforcei para isso. Assim que percebi que ela não estava nada bem, eu comecei a chamá-la por mensagem todos os dias, conversava com ela nos intervalos das aulas sobre como ela estava. Puta merda, eu só ia dormir depois que ela me dissesse que também ia por ter medo de ela fazer algo enquanto eu estivesse dormindo. -Assim que o olhei, vi seus olhos completamente úmidos e brilhantes assim que refletiam as luzes dos postes.


-S/N: Isso é ridículo. Isso tudo é ridículo. Estamos nos afundando em culpa pelo suicídio dela e sequer poderemos mudar isso porque ela nunca mais voltará para nos dizer o contrário. -Eu ri de minhas próprias palavras enquanto lágrimas vacilantes rolavam pelo meu rosto.


-Matheus: Talvez isto nos sirva de lição para que nos tornemos pessoas melhores e doemos apenas a nossa parte boa para nossos próximos. Quem sabe assim, quando algum deles se suicidar também, tenhamos a mais plena certeza de que dessa vez a culpa não é nossa.


-S/N: A gente só tá falando coisas sem sentido. Sabe, nada faz sentido. Já parou para pensar nisso? Tudo tem um princípio, meio e fim. Então se tudo vai acabar, por que nos damos ao trabalho de vivermos? Quero dizer, vamos chorar, ficar tristes, com raiva, pegaremos doenças, teremos depressão e passaremos por várias outras coisas ruins para que no fim morramos. Viemos a essa Terra apenas para destruí-la e depois morrermos, talvez assassinados, talvez repletos de doenças. Deixando a Terra cada vez pior, isso sem contar que a Terra foi criada, dependendo de qual princípio você acredite, há bilhões ou milhares de anos para depois ser engolida pelo Sol, que também morrerá.


-Matheus: Do pó viemos e ao pó voltaremos. É intrigante o fato de que um pequeno acontecimento traga à tona tantos pensamentos reflevixos. E me faça fumar essa merda. -Deu uma última tragada em seu cigarro e o jogou no meio da rua.


-S/N: É cansativo demais pensar que passaremos por tudo isso e depois morreremos. As gerações seguintes sequer saberão que um dia existimos. É tudo uma grande merda.


-Passei o braço pela sua cintura, dei uma última tragada em meu cigarro e o despensei. Logo ele passou seu braço pelos meus ombros e o silêncio se fez então presente. Eu olhava para nossos pés andando sincronizadamente enquanto minha mente se esvaziava. Cheguei a um ponto de esquecer até quem eu era enquanto encarava o concreto sendo pisado pelo meu tênis e os coturnos pretos do Matheus. Quando me dei conta, já estávamos na SM. Paramos no corredor e nos abraçamos por longos minutos. Eu não fazia ideia do que poderia estar passando por sua cabeça naquele momento, mas na minha só passava que naquele momento eu estava abraçando talvez a única pessoa que entendia a minha dor ao ponto de apenas sentí-la junto comigo, deixar que ela viesse e se fizesse presente em nossos pensamentos reflexivamente desordenados e em nossas atitudes pouco pensadas.


-Matheus: Fique bem, tá bom? Por favor, me chame se houver qualquer problema, me chame! Talvez eu não ajude em nada e só fale merda, talvez eu só preste para que fumemos um cigarro, ou talvez nem tenha nada para falar. Só quero que saiba que sempre estarei disponível para você. -Ele disse enquanto acariciava meu cabelo.


-S/N: Certo. -Eu dei um sorriso. -Prometo que te chamarei quando precisar reclamar sobre as dúvidas que tenho escondidas. -Ele me deu um beijo na testa e então entrou no prédio.


Eu coloquei minhas mãos nos bolsos do meu casaco para que não congelassem e fui rumo ao meu dormitório a passos demasiadamente lentos. Assim que cheguei lá, acelerei meus passos com o intuito de evitar qualquer abordagem dos meninos e fui para o quarto do Yukhei e, assim que entrei, tranquei a porta e subi em sua cama.


-Yukhei: Aonde você estava? Me falaram que você saiu de casa há horas e não falou aonde ia. -Ele me olhou preocupado enquanto eu subia em cima de seu colo.


-S/N: Fui pensar. Não me faça mais perguntas, por favor. -Eu comecei a beijá-lo desesperadamente implorando para que ele continuasse sem me fazer perguntas que eu não estava afim de responder.


-Yukhei: Espere, espere. Seu cheiro está diferente. O que você andou fazendo o dia todo?


-S/N: Nada. -Voltei a beijá-lo. Não era como se eu fosse contar que estava fumando, até porque eu tinha certeza de que era algo passageiro, então não iria criar assunto com isso.


Saí de cima do seu colo e abri o botão e o zíper de sua calça.


-Yukhei: Você não quer ir devagar?


-S/N: Não. -Disse enquanto estimulava seu pênis.


Assim que o fiz, o tirei para fora de sua cueca. Tirei minha calça e calcinha e subi novamente em cima em cima de seu colo. Era evidente que ele não tinha vontade de fazer aquilo, mas não queria me impedir.


-Yukhei: Quer arriscar de novo sem preservativo?


-S/N: Cala a boca.


-Me apoiei em seus ombros e penetrei seu pênis em mim. Eu subia e descia rapidamente enquanto gemia baixo para não dar aos meninos o luxo de me ouvirem fazendo barulhos arrastados e expressivos. Abracei-o enquanto cavalgava em cima de seu pau e ouvia seus gemidos graves. Até que pouco tempo depois começo a chorar como um bebê e aos poucos vou diminuindo a velocidade das minhas investidas, até que por fim parasse completamente e o abracei com força, chorando mais e mais, tendo ele então me envolvendo em seus braços e me puxando para si.


Eu não estava nem um pouco a fim de fazer sexo, talvez fosse a adrenalina que corria em minhas veias falando mais alto. Eu queria mesmo era que ele me abraçasse forte e dissesse que tudo ficaria bem. Queria mesmo ela que ele cuidasse de mim e pudesse ao menos diminuir a minha dor e fazer com que eu esquecesse que ela estava lá, me corroendo, me destruindo e quebrando em microscópios pedacinhos.


-S/N: Me ajuda, Xuxi. Por favor. -Eu apenas deixava que as lágrimas seguissem seu fluxo.


-Yukhei: Calma, bae, calma. Eu tô aqui e vou ajudar em tudo que você precisar. -Ele me abraçava fortemente e acariciava as minhas costas.


Eu só tinha ele para me apoiar, só tinha o homem a minha frente para me ajudar e ter uma chance de ter aquela sensação desoladora acabando comigo.


-S/N: Foi tudo culpa minha. Ela me pediu ajuda e eu não consegui ajudá-la. Se eu tivesse visualizado aquela mensagem alguns minutos antes ela ainda estaria aqui~ Yukhei, ela fez seu último esforço me pedindo ajuda e eu a ignorei. E-eu ignorei ela. -Vomitei todas as palavras em cima dele descansando minha cabeça em seu ombro direito e, molhando toda aquela área da sua blusa.


-Yukhei: Meu amor, não foi culpa sua, pare de pensar nisso. Eu tenho certeza que você se esforçou ao máximo para mudar a situação dela, tenho certeza que você fez o que estava ao seu alcance para que melhorasse sua vida. Eu sei disso. Infelizmente, s/n, nem sempre conseguiremos aquilo que nos esforçamos tanto para mudar, e isso vai doer. Você se sentirá como uma pessoa horrível que podia ter feito mais, mas não fez. A verdade é que nunca saberemos o quão longe poderíamos ter chegado antes dos enfins. Até que aconteça aquilo que não esperávamos, nunca poderemos saber se nossos esforços estão sendo o bastante ou não.


-S/N: Mas, Yukhei...


-Yukhei: Olha, talvez eu não consiga dizer tudo aquilo que você precisa ouvir para que eu consiga aliviar sua dor, talvez eu não chegue nem perto de te fazer se sentir melhor. Mas eu só saberei se tentar. Eu te conheço bem o bastante para entender o seu sofrimento, para entender o quanto você a amava e o quanto ela era importante em sua vida. Sei que não tá sendo fácil lidar com isso, mas também sei que você é forte, sei que consegue enfrentar isso, sei que se você se esforçar mais um pouquinho, conseguirá vencer essa dor que te assola. Se eu pudesse, tomaria toda essa sua dor para mim, mas eu não posso fazer isso. Porém, s/n, uma coisa que eu posso é ficar ao seu lado, te abraçar e te ajudar a passar por tudo isso. Eu sempre vou estar aqui para olhar em seus olhos e dizer que não há nada que você não possa enfrentar. Você é foda e sabe disso. Sabe que chorar não te torna mais fraca, pelo contrário, só mostra o quanto você é forte e o quanto teve e está tendo que aguentar. E eu posso afirmar com toda a certeza, é que você pode não ter descobrido ainda, mas tem uma enorme capacidade de passar por tudo isso como talvez ninguém mais consiga.


-Cada palavra que ele dizia, penetrava em minha cabeça e me aliviava cada vez mais. Graças a sua forma gentil e compreensível de me fazer se sentir menos culpada, meu choro desesperado havia diminuído e, finalmente, eu podia compreender tudo que ele me falava, me acalmando como mais ninguém conseguira desde que a hora em que a encontrei.


-S/N: Eu entendi tudo o que disse. Mas, Yukhei, eu poderia ter evitado que ela se suicidasse. Minutos antes de ela cometer tal ato, me mandou uma mensagem. Ao invés de ter visto assim que recebi, continuei jogando aquele jogo idiota.


-Yukhei: Que mensagem? Posso ver? -Assenti.


-Saí de cima de seu colo e peguei meu celular no bolso da minha jaqueta, que estava largada no chão. Nesse meio tempo, ele guardou novamente seu pênis dentro da calça e a fechou. Me sentei entre suas pernas e lhe mostrei a mensagem que recebera noite passada.


-Yukhei: S/n... eu não faço ideia do que está escrito aqui. -Havia me esquecido completamente daquele detalhe.


Peguei meu celular de volta, copiei a mensagem e traduzi para o mandarim no tradutor do meu celular, assim que o fiz, lhe entreguei novamente.



Ele lia cada uma daquelas palavras sem esboçar qualquer tipo de reação. Seu silêncio lendo aquilo estava me matando. Eu queria muito poder decifrar o que se pasava em sua cabeça naquele momento, mas não pude. Apenas soube que tudo o que ele lia havia lhe tocado, quando seus olhos marejaram, e que quando uma lágrima estava quase escorrendo pelo canto de seus olhos, ela a limpou e continou sua leitura.


Logo que terminou de ler tudo, bloqueou meu celular e o colocou em cima do criado-mudo.


-Yukhei: Eu tenho tanta coisa para lhe dizer depois de ler isso. Mas já quero começar dizendo que não visualizar isso na hora em que recebeu, não faz com que a culpa recaia sobre você de modo algum. Você nunca se tornaria culpada por isso.


-S/N: Okay. -Eu assenti enquanto limpava meu rosto com as costas das mãos.


Depois de tudo que ele havia me falado, reamente pude entender que ele tinha razão. Não poderia me culpar por aquilo, talvez eu devesse apenas lamentar não ter lido assim que me foi enviada. Mas não era justo comigo mesma culpar-me pela infelicidade do acaso. Não era justo eu me afundar em dor por não saber que havia acabado de receber um triste adeus de uma criança que, ao se despedir, não digitou uma palavra que me culpasse de forma alguma. Eu me castigava de uma forma horrível sem ao menos parar, respirar fundo e perguntar para mim mesma "Tem certeza que esses seus pensamentos são, de fato, corretos?". E quanto mais pensava naquilo, mais entendia que o mar de culpa no qual eu me afundei, foi uma forma de achar um motivo para sua morte, me apoiar nele e deixar que se apossasse de mim.


-Yukhei: Você consegue ver nesse texto que ela, em nenhum momento te culpou por nada? Que ela não a julgou e nem muito menos abominou seus esforços para ajudá-la? S/n, ela te agradeceu por tudo o que fez por ela, ela quis, em seus últimos minutos de vida, te dizer o quanto ela a amava, o quanto você a ajudou, o bem que causou na vida dela em meio a tudo que ela passava. S/n, essa menina conseguiu mostrar neste texto que ela não se suicidou porque você não fez o suficiente para salvá-la, ela mostrou que simplesmente não conseguia mais ver sentido em viver sua vida. Eu não concordo com o seu suicídio, muito pelo contrário. Mas eu só quero esclarecer para você que nada do que aconteceu foi culpa sua. Nós dois, na verdade, mais ninguém poderá saber o que se passava na cabeça dela, qual foi o tamanho da dor e o quanto doía nela para que ela decidisse tomar seu último passo. Mas aqui, ela fala que se afogou em um mar de emoções na qual não adiantava resgatá-la, porque por dentro ela já estava morta. Eu realmente sinto muito pelo que aconteceu, sinto mesmo, mas ela fez o que fez por estar repleta da certeza de não ter mais salvação. E ela, neste texto, mostrou que não estava triste pelo que iria fazer, estava feliz em finalmente poder sentir paz depois de tanto tempo sofrendo. Você me entende agora, bae? Eu estou tentando te explicar tudo da forma mais clara o possível.


-Eu não deixei de chorar por nenhum momento enquanto ele dizia aquelas sábias palavras a mim. Eu não estava chorando de tristeza ou decepção, estava chorando porque toda aquela culpa estava finalmente saindo de dentro de mim, pelos meus olhos. Ele me fez enxergar coisas que eu não havia visto ao ler a mensagem, talvez porque eu estivesse tão preocupada pensando em não ter mais a Elisa na minha vida, que não raciocinei sobre tudo que estava escrito, não prestei atenção nos detalhes e acabei tirando minhas próprias conclusões, que foram justamente as que me jogaram brutalmente no fundo de um poço que eu julguei não ter saída. O peso que havia saído de cima das minhas costas era grande ao ponto me fazer soltar risos internos, talvez de alegria e paz por estar me sentindo, depois de tantas horas de interminável dor, mais leve e disposta a levar suas palavras para outra perspectiva e entendê-las, talvez, do modo como ela desde, o início, queria que eu entendesse.


Eu não podia ter conseguido passar por aquilo sozinha, embora o Yukhei tenha dito que sim. Talvez ele me conheça mais do que a mim mesma, talvez ele esteja redondamente enganado sobre os meus limites, mas talvez, só talvez, ele tenha falado aquilo não porque sabia que eu poderia ser forte, talvez porque soubesse que ao dizer aquilo, aumentaria a minha confiança em mim mesma e me tornaria mais forte do que eu sempre achei que fosse. O fato é, tudo aquilo que ele me dizia, fez com que eu encontrasse forças onde eu jurei não ter mais. Tudo o que ele me falava, penetrava o meu mais profundo consciente e me fazia refletir sobre todas aqueles cartas que Elisa jogara na mesa e ele me explicava o real significado de cada uma delas.


-S/N: Entendo.. eu entendo sim. -Eu disse limpando minhas lágrimas novamente. -Obrigada, obrigada por me fazer enxergar coisas que eu não havia visto. Eu estava tão cheia de certeza de ser culpada que não deixei sobrar espaço para dúvidas sobre o que ela realmente queria me dizer. Eu me machuquei tanto internamente por não ser capaz de compreender isso sozinha. Eu me sinto tão mal pelo acontecimento, mas isso, de alguma forma, conseguiu tornar minha dor mais branda. Obrigada.


-Yukhei: Vem cá. -Ele pegou no meu braço e me deitou em seu colo igual quando fazemos quando queremos colocar uma criança para dormir. -Eu estou realmente me sentindo muito feliz em saber que pude te ajudar. Eu só quis esclarecer as dúvidas que te deixavam tão mal e estou muito feliz em saber que consegui. Espero que você tenha aprendido, hoje, que pode contar comigo pra tudo, tudo mesmo. Eu te amo muito e vou querer te ajudar em tudo que precisar, ainda que eu não consiga, vou sempre tentar. -Ele disse acariciando as minhas costas.


Eu não sabia ao certo se ao dizer que para tudo que eu precisasse, poderia contar com ele, era uma forma diferenciada de dizer que eu poderia ter evitado todo aquele problema que passamos apenas contando como eu me sentia. Sei que naquele momento, esse pensamento nem passou pela minha cabeça, e eu agradeci por isso. Eu estava tão frágil que sequer parei para pensar nas possibilidades do que ele poderia estar querendo dizer em suas palavras, aqueles reais significados escritos bem nas entrelinhas. Mas não me dei, nem darei ao trabalho de perguntá-lo, estávamos bem demais para que eu voltasse a me machucar novamente com minhas dúvidas e pensamentos irracionais.


-S/N: Você é maravilhoso, Yukhei. Eu não te mereço. -Eu disse enquanto acariciava seu peito.


-Yukhei: Não diga uma coisa dessas. Claro que merece, bae. Você não faz ideia do quanto...



Ficamos daquele mesmo modo pelas próximas horas que se prosseguiram. Não dissemos quase mais nenhuma palavra durante os momentos seguintes, mas não precisávamos. Decerto, não sei explicar exatamente o motivo de nosso total silêncio, mas acredito que aquilo era uma outra forma de dizermos tudo o que queríamos. Eu tentava tanto, mas não fui capaz de decifrar o que se passava pela sua cabeça, seu total silêncio indicava que por dentro havia um caos lhe assombrando. Se tem uma coisa que aprendi ao longo desses meses que passei com Wong Yukhei, é que seu silêncio pode significar muita coisa, muitos de seus pensamentos não ditos são berrados silenciosamente em meio ao seus olhares desvairados e perdidos. Yukhei, quando queria, conseguia ser a pessoa mais transparente e extrovertida que eu já pude conhecer, mas nunca me enganei em relação a isso, ele sempre se ocupava com suas reflexões e expressões vazias. Ele nunca foi uma pessoa vazia, ao invés disso, sempre foi cheio, mas eu nunca pude me dar ao luxo de saber do quê.


Se tem uma coisa que eu vou admirar nele até o fim dos meus dias é a sua capacidade de conseguir me dizer exatamente o que eu preciso ouvir. E aquilo me ajudou de uma forma inexplicável, porque com suas sábias palavras, ele me disse coisas que eu nem imaginava que precisasse escutar. Com o seu olhar impenetrável que me penetrava até a alma, conseguia ler tudo o que estava acontecendo comigo e me dizer tudo que eu necessitava que me dissessem. Da forma mais linda, ele conseguiu mudar a minha forma de enxergar o mundo, me fez repensar os meus princípios e me tornar mais crente em mim mesma. Eu sempre me perguntarei se, sendo essa desajeitada que eu sou, consegui lhe torná-lo alguém diferente. Mas sendo sincera? Eu espero que não, porque nunca encontrei alguém tão... me falta adjetivo de qualidade para definir o que é aquele homem. Sei que, pessoas maravilhosas como ele, com suas palavras e pequenos gestos são capazes de mudar o mundo. E essa, é uma qualidade rara, que pode ser desejada por muitos, mas que será encontrada em poucos.



Já eu? Bom, eu posso dizer que naquela noite consegui redefinir o caminho que eu trilhava até então. Isso porque eu conquistei uma parte minha que até então estavam bloqueadas pelos meus antigos pensamentos. Eu não mudei quem eu era, ainda continuo a mesma s/n atrapalhada, tímida, por vezes alegre, há quem diga, talentosa e ainda tentando, do jeito errado, dar o seu melhor. Posso dizer que alterei a minha essência para alguém com uma visão mais aberta e reflexiva das coisas, alguém mais compreensiva e receptiva ao acontecimentos que nem sempre estaremos preparados para lidar. Eu ainda sou eu, mas um eu mais completo.


Eu aprendi que o sentimento de culpa é algo muito pesado para ser apossado sem que se saiba se aguenta o peso. Para que uma pessoa realmente seja culpada de algo, ela deve colocar na balança os acontecimentos e a sua contribuição para a materialização dos mesmos, ver qual pesa mais e ser justo consigo mesmo. Não quero dizer que é errado se sentir culpado por algo que talvez você tenha feito, mesmo que sem querer, quero dizer que se flagelar com isso e carregar em suas costas tamanho peso que não deveria ser seu, não é avaliar a situação com auto sinceridade.

Eu me culpei pela morte da Elisa por dois motivos. O primeiro era que há uns meses atrás, ela pediu a minha ajuda para tentar sair daquele mar de tristeza que haviam jogado ela, eu aceitei ajudá-la e, por falta de tempo, joguei o Matheus na história. Eu queria muito poder ajudá-la e me senti inútil. Eu tentei tanto fazê-la se sentir melhor consigo mesma e mostrar para ela o futuro maravilhoso que a aguardava, mas não consegui e senti sendo jogada de um penhasco de fundo sem fim. O segundo foi aquela mensagem que ela havia me mandado minutos antes de encerrar sua vida e eu, por me importar mais com um jogo, ignorei a mesma. Fui ridiculamente torturada pela culpa ao ler aquelas palavras e descobrir que poderia ter salvado a sua vida, que poderia ter evitado que o pior acontecesse. Eu não tinha como saber sobre o conteúdo que qualquer pessoa poderia ter me enviado, mas saber que eu poderia ter lido ela assim que recebi e ter salvado sua vida acabou pesando muito mais em minha consciência. Por estes motivos, eu jurei ser a responsável pela sua morte. Sabia que não fora eu quem a deprimi, porque eu sabia os seus reais motivos e porquês de sua tristeza, e eu também sabia que, se tivesse me esforçado um pouquinho mais, poderia talvez ter lhe dado forças para fazê-la continuar e enfrentar cada um dos problemas que a afligia.


Eu poderia até não entender exatamente pelo o que ela passava a ponto de desejar não apenas sentir paz, mas não sentir mais nada. Eu apenas entendia que se ela realmente estivesse certa do que queria fazer, nada poderia impedí-la, nem mesmo meus esforços desesperados. Eu entendo que talvez ela simplesmente não quisesse mais viver, no entanto eu só desejava que ela lutasse mais um pouquinho, que conseguisse entender que a sua depressão poderia ter um fim.


Ela errou, errou em acreditar que não havia uma saída naquela pequena sala escura que lhe causava tanto medo, errou em acreditar que não existia uma linda primavera repletas de flores vibrantes e ventos com cheiro de rosas depois de um inverno frio e triste, sem cor e com ventos gélidos, errou em crer que ninguém seria capaz de lhe tirar daquele mar de decepções e reanimá-la, errou em acreditar que sua dor não possuía fim. Ela tinha uma vida pela frente e deixou que uma vírgula acabasse com toda a sua história. Ela era uma menina linda, talentosa e inocente que provou cedo demais o gosto amargo da vida, que mergulhou cedo demais no mar congelante e real do que passamos todos os dias. Eu sinto muito em dizer isso, mas ela fraquejou, e foi nesse momento em que sua depressão aproveitou para envolver-lhe na certeza de que havia apenas uma saída. Eu queria tanto poder abraçá-la e dizer que não a culpo pela sua atitude final, que não a culpo por decidir tomar a decisão de tirar sua vida, porque eu tenho certeza que uma menina esperta como ela, nunca faria algo daquele tipo sem ter certeza de que não queria mais continuar. Eu não pude me dar ao luxo de sentir o que ela sentiu, mas a admiro por conseguir suportar aquilo sozinha.


E aquela mensagem? Bom, ela nunca mais sairá da minha cabeça. Se cravou em mim e se fará presente sempre. Talvez eu não queira que ela saia, isso pois essa mensagem servirá de lembrete de que em seus últimos minutos de vida, ela dedicou todas aquelas palavras a mim. E em meio a tantas lágrimas, me enviou um último adeus e me agradeceu por tudo que eu havia feito, embora não tivesse a impedido de fazer o que eu mais temia. Eu lembrarei de tudo o que foi dito e levarei comigo para sempre, começa exatamente deste modo:

"Oi s/n, promeiramente, boa noite. Bom, talvez você esteja lendo isso agora e se perguntando "O que ela irá me dizer?" E logo depois pensando "Isso está me assustando", mas calma, eu vou te dizer tudo o que eu preciso falar. Olha, desde que vim para cá, você foi umas das melhores pessoas que tive a sorte de conhecer em toda a minha vida. Com esse seu jeitinho meio original de lidar com os problemas, você me ajudou a ver o que me rodeia de um modo diferente e isso eu não tenho palavras para agradecer. Fez por mim aquilo que eu pedi e o que não pedi e muito obrigado por isso. Eu sinto muito em ter que te dizer que eu não suporto mais a dor que está dentro de mim.

Sinto muito em lhe decepcionar por isso, porque eu sei que tudo o que você fez por mim foi para evitar que eu chegasse até esse ponto e você não faz ideia do quanto isso me machuca. Mas eu não suporto mais esse sofrimento que me acompanha aonde quer que eu vá, eu não aguento mais ficar nesse mundo para esperar as coisas piorarem e me deixarem em uma situação pior do que a que eu já me encontro. Me desculpa, eu não queria que doesse tanto em você o momento em que eu partir, mas eu não consigo mais. Essa caminhada infelizmente, talvez não tão infelizmente assim, chegou ao fim para mim. Talvez você esteja se questionando agora "Como assim 'não tão infelizmente'?" Pois é, eu até estou me sentindo mais leve em saber que finalmente vou ter um momento de paz, que finalmente vou poder descansar sem ter que me preocupar com quando será a minha próxima recaída, ou quando eu acabarei mutilando a mim mesma para poder me acalmar, ou ter que pensar em que roupa longa terei que usar a fim de evitar perguntas que eu não sou capaz de responder sem que caia em prantos, ou olhares possam que me julgar. Eu não estou triste por isso, e espero do fundo do meu coração que você também não fique. Fique feliz por mim assim como também eu fiquei feliz por você ao te ver realizando seus sonhos depois de tanto se esforçar, e eu ainda sei o quanto você se esforça para se tornar um alguém cada vez melhor.

Agradeça as meninas e aos meninos por mim, eles também se doaram para conseguir me tirar desse poço sem saída, e eu me sinto muito grata pelos seus esforços. Eu gostaria muito que tivesse sido diferente, que hoje eu fosse uma pessoa feliz que deixasse as pessoas felizes em vez de preocupadas. Nossa, como eu quis que tudo tivesse ido por outro caminho, mas infelizmente as coisas não são do jeito que queremos.

Quando fomos àquela montanha e nos deitamos naquela grama verde que me pinicava tanto, eu pude sentir algo que a muito tempo não sentia, e então eu posso dizer que você conseguiu. Mesmo que por algumas horas, eu senti uma paz tão bonita dentro de mim, dei sorrisos verdadeiros e chorei lágrimas de felicidade. Mas assim que voltamos, meu pesadelo retornou e fui acordada de um belo sonho para ser jogada brutalmente no meu pesadelo real. Eu queria te dizer que as coisas foram diferentes depois daquilo, mas não foram. Novamente, me desculpe. Não se sinta inútil, você não foi, você foi totalmente o contrário e na verdade muito mais do que isso. Eu só queria, antes de te dar um último adeus, lhe agradecer e esclarecer as minhas razões para que isso não te torture mais tarde. Meu tempo está acabando, s/n, então eu preciso me apressar e me despedir.

Feche seus olhos por alguns segundos e sinta meu abraço envolvendo seu corpo enquanto eu lhe digo que te amo e te agradeço por tudo. Quando eu me soltar do abraço, olhe para mim e veja em meu rosto um sorriso sincero e feliz, limpe as lágrimas que saem vacilantes pelo canto dos meus pequenos olhos e escorrem pela minha pele já pouco bronzeada pela minha falta de banhos de sol com os seus dedos macios. Sorria para mim também e me diga que ficará tudo bem, diga que me ama e que está feliz por me deixar entrar naquela porta que está ao nosso lado, apenas esperando que eu passe por ela. Pegue nas minhas mãos e leve elas até o seu rosto, me dê mais um abraço apertado e acaricie meus cabelos negros e escorridos. Por fim me solte e deixe-me entrar naquela porta que libera uma luz branca gritante. Por favor, não chore, não chore por mim. Eu sempre estarei com você, sempre estarei onde você estiver e lhe direi para levantar sua cabeça e continuar, não trilhar o mesmo caminho que eu. Adeus, s/n."





“E antes que tudo ficasse escuro, quer saber a última coisa em que pensei? Em você!”

-Querido John


Notas Finais


Bom, dessa vez tivemos mais uma despedida, só que de um modo bem mais triste e doloroso para todos. A Elisa foi uma personagem que não teve tanto foco ao decorrer da história, mas a sua saída da mesma vai colocar Best Of Me em uma outra fase, se tratando da nossa querida s/n, que tanto se culpou por um triste acontecimento e só depois de um tempo foi entender que na verdade ela não teve culpa no suicídio da menina.
Nesse capítulo a s/n encontra uma opção terrível como forma de aliviar sua dor, o cigarro, e isso vai influenciar bastante nos próximos capítulos, mas sem spoilers dessa vez.
E ficou bem mais evidente como o Yukhei é importante no quesito ajudar a s/n com todos esses problemas internos que ocorrem com ela, e o papel dele se intensificará cada vez mais depois que ela debutar, já deve ser claro o porquê, na verdade.

Eu achei que ao fazer esse capítulo, demoraria muito tempo por não ter como usar as palavras, mas na verdade foi um dos capítulos que eu escrevi mais rápido, tanto que a versão original dele, com 10k, foi escrita em menos de 2 dias e a mensagem que a Elisa mandou a s/n permaneceu intacta. Se alguém pulou a história, mas quer ver a mensagem, são os últimos 5 parágrafos do capítulo.

Bom, foi isso. Esse capítulo é pesado, forte e por mais que eu ame ele, ainda fiquei com aquele pé atrás pra postar, mas aí está e espero que tenham gostado dele, porque exigiu bastante de mim mesma, mas em sentidos conotativos. Se hidratem e até e próxima=)


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