História The Bet - Tatuagem

Quando saiu do colégio naquela tarde, Sakura tinha apenas um destino em mente.

Ou melhor, uma pessoa.

Sua mente estava mais confusa do que nunca com tudo o que estava acontecendo de uma vez e só havia uma pessoa que seria capaz de clarear um pouco as coisas.

Felizmente ela conhecia a agenda dele e sabia que aquele era o seu dia de folga.

Sem pensar duas vezes e novamente fugindo de suas amigas ― que estavam mais do que persistentes em arrancar algo dela ― ela correu para a frente do colégio, onde o Mustang 1968 já estava ao seu aguardo.

Sob o olhar de boa parte da população feminina do colégio ― que certamente deviam estar todas querendo sua cabeça em uma estaca ― Sakura rapidamente entrou no veículo e cumprimentou o motorista com um beijo no rosto.

― E aí gatinha, como você está? ― Itachi perguntou, olhando para ela com um olhar levemente preocupado depois de depois ter recebido uma mensagem repentina da garota.

― Oi Ita, eu estou bem ― ela respondeu sorrindo o que fez relaxar a tensão nos ombros ― Eu só preciso conversar.

Itachi deu mais uma olhada para o rosto dela e em seguida abaixou os olhos até os seus pés, como se procurando algo, mas não achando nada apenas balançou a cabeça momentaneamente satisfeito.

Sem dizer nada ele deu partida no carro e logo saíram da frente do colégio sem notar o outro par de olhos escuros que os observava de longe.

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― Estamos apenas nós dois aqui ― Itachi disse, deixando a porta aberta para a garota passar e vendo a forma como ela olhou ao redor de tudo ― Meus pais estão no trabalho e hoje é o dia que Sasuke vai direto para o Katon.

Ainda desconfiada Sakura entrou na casa realmente torcendo para que não tivesse ninguém lá, especialmente um garoto de cabelo e olhos escuros do qual ela fugiu desde o pequeno “incidente” no intervalo.

Mais cedo naquele dia, depois de conseguir lembrar como se andava, Sakura de alguma forma conseguiu se levantar do chão e ir para a sala só para quase congelar quando viu Sasuke sentado à sua mesa de sempre, com a cabeça baixa.

Soltando um suspiro ela reuniu o pouco de coragem que ainda tinha e passou por ele conseguindo evitar de olhar em sua direção mas pela visão periférica viu que ele como sempre estava muito entretido em seus desenhos.

Ela por sua vez também decidiu pegar seu caderno de poemas e passou as duas últimas aulas escrevendo totalmente absorta, agradecendo quando o sinal tocou e ela saiu correndo, conseguindo evitar todos com sucesso.

― Vamos para o meu quarto ― Itachi disse, tirando-a de seus pensamentos.

Sakura sempre teve a impressão de que o quarto de Itachi não pertencia ao resto da casa. Enquanto Mikoto e Sasuke eram dois maníacos por arrumação e Fugaku tentava não ficar no caminho dos dois, o quarto de Itachi mais parecia um campo de guerra.

Geralmente você encontraria roupas espalhadas por todos os lugares além das coisas dele que nunca pareciam ter lugar certo. Exceto quando sua mãe parecia se cansar e então o obrigava a dar um jeito.

― Sua mãe te obrigou a limpar? ― Sakura perguntou divertida, jogando a mochila sobre a escrivaninha dele e observando como tudo parecia estranhamento arrumado.

Itachi deu um olhar irritado à ela mas seu silêncio foi reposta o suficiente.

A verdade é que Izumi havia até ali no dia anterior e ele deu um jeito de esconder a bagunça dentro do closet, mas era algo que Sakura não precisava saber.

Rindo da cara de emburrado dele, Sakura foi até a sua cama e se jogou cruzando os dedos sobre o peito.

Itachi sem pensar duas vezes deitou ao lado dela, cruzando a os braços sob a cabeça, sem dizer nada.

Sakura sabia que ele estava esperando que ela dissesse algo e ela podia dizer que realmente amava esse jeito deles de não pressionar.

Enquanto tentava recolher todos os seus pensamentos e juntá-los de alguma forma, ela olhou para o lado, para o rosto sereno de Itachi que estava próximo ao seu.

Era engraçado de se pensar, que no dia anterior ela esteve praticamente nessa mesma posição com Sasuke, na cama dele e agora estava ali com Itachi. O engraçado na verdade era em como as duas situações por mais idênticas que fossem, davam a ela sensações tão distintas.

Enquanto com Sasuke ela sempre ficava totalmente ciente de cada poro de seu corpo, como se cada contato ou mesmo cada olhar trocado fosse fazer seu corpo entrar em combustão, com Itachi ela só sentia calmaria, o conforto de um irmão mais velho.

― Ele está tentando se aproximar. ― Sakura disse de uma vez, não achando outra forma melhor de começar.

― Sim, eu sei, você já havia me dito isso ― Itachi disse, mas não porque estivesse tentando ser grosseiro ou mesmo impaciente, ele apenas sabia que se não a ajudasse a chegar ao ponto Sakura falaria e falaria sem chegar onde queria ― E eu sei que não é isso que você queria me contar.

E se Sakura poderia achar que ele estava sendo grosseiro, não chegou a realmente notar.

― Ele me beijou ― ela disse ainda mais rápido, em um só fôlego.

Itachi virou o rosto para olhar para a garota deitada ao seu lado, não acreditando que ela estava assim por conta de uma beijo. Mas logo repreendeu o pensamento. Ele sabia que depois de tudo o que aqueles dois passaram, um beijo seria sim uma grande coisa para eles, principalmente para ela que ainda parecia tão confusa com tudo.

Mas ainda assim era adorável a forma que as bochechas fofas que ela tinha ficaram vermelhas e ele amava provocar aquela garota.

― E o que foi? Finalmente percebeu que ele beija mal? ― ele perguntou, recebendo uma almofada no rosto em retaliação.

― Cala a boca, idiota. ― Sakura riu, não conseguindo resistir ao próprio sorriso ― É sério, eu não sei como reagir à isso ― E não era fácil dizer uma coisa assim ao irmão dele.

Itachi rolou os olhos. Sério mesmo que ela estava com vergonha de falar para ele de um simples beijo?

Garota inocente.

― Por favor, gatinha ― ele pediu , rolando os olhos ― Eu já ouvi vocês fazerem “coisas” muito piores. Coisas que um cara não quer ouvir seus irmãozinhos fazendo.

Sakura se possível ficou ainda mais vermelha. Ela nunca imaginaria que Itachi tinha ouvido. Não que ela fosse inocente de imaginar que ele ainda acreditava que os dois eram virgens ― incidentes o suficiente provavam o contrário ― mas não imaginaria que ele soubesse tão bem que não.

― Meu Deus, Itachi ― ela disse escondendo o rosto sob as duas mãos enquanto ouvia a risada dele ― Eu vou embora, é sério.

Itachi continuou a rir, agora praticamente gargalhando, mas parou assim que ela fez menção de se levantar, puxando a garota pelo pulso e prendendo-a entre seus braços enquanto ela se debatia.

― Hey, eu já parei ― disse ele, enquanto Sakura tentava acertá-lo ― Caralho, para quem tem braços tão finos você certamente é bem fortinha, né?

― ITACHI!

― OK, agora parei, sério.

Desistindo de se debater, Sakura deitou novamente na cama, aproveitando o cafuné que Itachi começou a fazer na sua cabeça.

― Se antes eu já estava confusa, agora estou muito pior. ― ela disse, soltando um longo suspiro.

Quando tempo desde a última vez em que ela se sentiu assim? Como se estivesse perdendo o controle da própria vida? Era como se tudo estivesse passando diante de seus olhos, como se seu corpo se movesse sozinho enquanto ela era uma mera espectadora de tudo. Seus sentimentos estavam a flor da pele e sua cabeça uma bagunça, era quase como se ela fosse novamente aquela garotinha de doze anos que de repente se descobriu apaixonada pelo melhor amigo e que não sabia o que fazer quanto a isso.

― Talvez você devesse parar de tentar controlar tudo, Sakura ― Itachi disse, virando a cabeça dela para que o encarasse ― Nem tudo pode ser posto em uma planilha, afrouxe as rédeas de vez em quando.

Ela sabia que ele tinha razão. Claro que tinha, por isso ela tinha corrido ao mais velho, Itachi sempre sabia as coisas certas a dizer. Mas por outro lado, ela tinha medo. Medo de simplesmente deixar as coisas acontecerem e novamente quebrar a cara por isso. Medo de partir seu coração que nem havia terminado de cicatrizar.

― Isso é tudo tão complicado ― ela disse esfregando o rosto com força e em seguida olhando para Itachi ― Às vezes eu queria realmente ter uma pedra no lugar do coração, assim como todos dizem.

― Mas não tem. Ainda que seja meio assustadora às vezes, você também é a garota mais doce que eu conheço, depois da Izumi claro… hey não ria… e tem também um dos maiores corações de todos. E é a única que consegue botar o idiota do meu irmão na linha, então ponto para você por isso. E não me olhe com essa cara, você sabe que eu sou a pessoa que mais “shippa” vocês. Isso é, fora as nossa mães que já devem até ter escolhido os nomes dos filhos de vocês.

Não ouvindo uma resposta da garota Itachi tirou a mão do cabelo dela e levantou minimamente a cabeça, para que pudesse olhá-lá, só para dar de cara com um enorme sorriso, daqueles que ela já sabia serem os provocativos.

― O que foi? ― ele perturbou desconfiado e Sakura alargou o sorriso.

― Nada, é que eu nunca te ouvi falar tanto assim. Devia ter gravado para a posteridade.

― Oh, cale a boca, eu tentando te ajudar e você rindo ― ele disse, enquanto a atacava com cócegas ― Olha só, a gatinha tem cócegas na barriga.

Sakura tentava a todo modo se desvencilhar, riu tanto que até caiu no chão xingando Itachi alto que por vez apenas riu quando viu que ela não havia se machucado.

Sakura lançou à ele um olhar irritado, mas não aguentou muito tempo, juntando-se ao Uchiha que ainda ria dela.

― Você é um idiota, eu vou embora antes que caia de novo e morra.

Itachi rolou os olhos para o drama da garota. Deixe para Haruno Sakura ser dramática daquele jeito.

Ele ficou observando enquanto ela recolhia as coisas e se preparava para ir embora. E quando ouviu o barulho da porta ao lado abrindo sorriu discretamente, vendo que somente ele havia escutado.

― Sabe que estou aqui para o que precisar, certo? ― ele disse, quando ela foi em direção à porta ― Mas pense bem antes de trocar os pés pelas mãos. Não desista de algo sem antes ter tentado. Eu conheço o meu irmão e sei que ele está levando tudo isso a sério. E eu conheço você. Se você está se sentindo tão balançada por isso é porque ainda tem algo aí pelo o que vale a pena lutar, pelo o que você quer lutar. Deixe as coisas acontecerem.

Sakura deu um último sorriso para Itachi, que estava sentado na cama olhando para ela com um próprio sorriso terno no rosto.

Rindo consigo mesma, ela voltou até onde ele estava e deu um beijo em sua bochecha.

― Obrigada, nii-chan.

E depois de praticamente ser enxotada por Itachi que disse que queria dormir, ela saiu do seu quarto pelo corredor com a intenção de ir para a própria casa, talvez para fazer a mesma coisa que Itachi, dormir um pouco, torcendo para que tudo se resolvesse quando ela acordasse.

Mas não deu mais do que dez passos quando encontrou a porta ao lado aberta.

Olhando para o quarto de Sasuke que agora estava aberto, ela viu o próprio parado no meio dele, aparentemente no processo de tirar a camiseta.

E ele lá tentou muito, muito mesmo não olhar para aquelas costas largas e levemente musculosas dele. Mas isso foi muito difícil já que ela tinha praticamente uma tara por costas ― alguns gostam de mãos, outros de pés ou peitoral, já o fraco dela eram costas ― e Sasuke tinha costas tão bonitas… e aquelas pintinhas que dividiam espaço com as tatuagens naquela pele extremamente branca e quase imaculada...

E ela quase não notou que tinha uma tatuagem nova ali, uma enorme por sinal; um texto aparentemente.

Sem se dar conta do que fazia ela se aproximou do garoto, tentando ler o que estava escrito ali.

E se não for você

Que sejam os seus olhos negros como azeviche

que parecem ler

todos os meus mais obscuros segredos

Que seja a sua pele marcada por histórias

que eu amo ler

com as pontas dos dedos

Que seja a sua voz rouca

que faz as mais impuras promessas

ao pé do meu ouvido  

Que seja o seu cheiro de fogo

que inebria todos os meus sentidos

como o mais caro dos perfumes

Que seja o seu coração que bate ritmado ao meu

como os de dois amantes

que continuam a se reencontrar

uma vida após a outra

Porque tudo em você me instiga, me prende, me extasia

me drena para logo depois preencher

Que seja uma mínima partícula sua

Que seja um toque, um sorriso, um olhar,

a sua respiração quente batendo na minha pele fria

Se não for você, que não seja mais nada

― Sakura? ― ela finalmente o escutou chamá-la e só então se deu conta de onde estava e do que estava fazendo.

Sem que tenha percebido de forma alguma, ela estava atrás dele; ela estava atrás de Sasuke com as pontas dos dedos correndo sobre o texto tatuado em suas costas.

Que seja a sua pele marcada

por histórias que eu amo ler

com as pontas dos dedos

E como ela não havia percebido o que estava fazendo?

Tirando a mão da pele dele como se queimasse, Sakura subiu o olhar até o par de olhos escuros que a observavam curiosos, mas mesmo com toda aquela intensidade em nenhum momento ela abaixou os dela.

― Por que você tatuou isso? ― ela perguntou de uma vez, sem mesmo pensar sobre aquilo ― A última vez que eu vi esse “poema” foi no lixo.

― E o tirei de lá ― disse Sasuke, dando de ombros ― Quanto a tê-lo tatuado, bem, acho que eu podia, certo? Afinal, você o escreveu para mim.

Sakura prendeu o ar naquele momento, porque sim, ele estava certo, ela havia escrito aquilo para ele. Na verdade, aquele foi o último poema que ela escreveu para ele; se ela bem se lembrava, apenas dois dias antes de toda a merda acontecer entre eles.

Mas ela também se lembrava de o porquê tê-lo jogado no lixo: porque não parecia bom. Porque tudo o que ela tinha a dizer a ele ou sobre ele, naquela época, nunca parecia bom o suficiente. Era como se sempre faltassem palavras que pudessem descrevê-lo e era exatamente o que ela sentia. Que nunca conseguiria colocar em texto sequer um terço da complexidade de coisas que ela sentia acerca daquele garoto.

― O encontrei no lixo na manhã seguinte à… você sabe. E por algum motivo não consegui rasgá-lo, ao menos não totalmente. ― ele disse, enquanto ia até o seu criado mudo e puxava uma folha lá de dentro, entregando à ela .

E quando Sakura baixou o olhar para o papel em suas mãos pôde ver claramente os amassados que ela havia feito além de alguns rasgos colados com durex que não eram obra sua.

― Na parte de trás a folha está até manchada ― Sasuke disse, apontando ― No dia que eu fui fazer a tatuagem não consegui digitalizar isso de forma alguma então tive que fazer da forma antiga. Acho que as minhas habilidades de forjar assinaturas vieram a calhar. ― comentou, rindo levemente ― Ficou igual à sua letra.

E quando ele se virou de costas novamente Sakura viu que ele dizia a verdade. Era realmente a letra pequena e redonda, quase sem padrão que ela achava pior do que a de crianças em fase de aprendizado, o que fazia Sasuke dizer que era exagero seu.

― Quem fez? ― ela questionou, realmente curiosa sobre a pergunta, porque até onde ela sabia, só havia uma pessoa que Sasuke confiava o bastante para escrever em sua pele e ela sabia que a relação deles não estava em seus melhores momento até pouco tempo.

― Itachi ― ele disse dando de ombros e confirmava o que ela quase tinha certeza. E como se vendo a confusão em seu olhar completou ― Eu não deixaria outra pessoa me tatuar, não importava como minha relação com ele estivesse.

Sakura desconfiava de mais, acreditava que talvez também tivesse sido um tipo de afronta da parte de Sasuke, já que tinha certeza que eles ainda estavam “brigados” quando ele a fez, o que levava a outra pergunta.

― Quando você fez? ― ela perguntou e viu Sasuke hesitar, finalmente abaixando o olhar do dela.

― Há um mês ― ele respondeu simplesmente e ela então entendeu a hesitação.

Porque há um mês eles ainda eram inimigos mortais. Há um mês eles ainda afirmavam se odiar. Há um mês Sasuke afirmava não querer ter mais nada a ver com ela.

Mas há um mês ele ainda parecia ter sentimentos o suficiente para tatuar aquele poema péssimo em suas costas e Sakura não soube o que pensar disso.

― Há um mês foi quando eu realmente comecei a acreditar que tudo pudesse ter de fato acabado. Essa tatuagem foi o começo da minha despedida de você.

E naquele momento Sakura sentiu o ar ser sugado de si. Porque ela nunca imaginou um dia ouvir aquilo dele; doeu ouvir aquilo dele.

Ela não conseguia pensar que um dia Sasuke pudesse desistir de algo, muito menos dela. Simplesmente não era do seu feitio.

E por mais egoísta que pudesse soar esse pensamento, parecia impossível perder algo que sempre foi dela. Sasuke era uma constante em sua vida. Ela nunca acreditou de fato que pudesse perdê-lo. Ele era seu, sempre foi e em seu íntimo ela acreditava que sempre seria.

Era simplesmente sem sentido imaginar Sakura sem Sasuke.

Sakura desceu o olhar para as próprias mãos, vendo como eles tremiam levemente e seria exagero dizer que sua pele havia gelado? Provavelmente não.

― Mas ainda bem que eu recuperei a lucidez antes de fazer essa merda. Porque seria a maior da minha vida. ― ele disse, levantando o queixo dela, fazendo os olhos verdes encararem os seus ― Você já estava cravada em cada molécula do meu corpo, Sakura. Desistir de você não é uma opção. Se não for você, que não seja mais nada