POV NORMANI
11 de Maio de 2015
:- Jilly?
A mulher a minha frente sorriu sem graça e abaixou a cabeça suspirando. Pisquei diversas vezes tentando ver se aquilo realmente era real.
Sério?!
Minha prima estava na minha frente nesse exato momento.
Eu não a vejo à tanto tempo depois de tudo o que aconteceu. Aquela garota era o meu grude e hoje está uma mulher maravilhosa.
:- Oi, Woe.
:- Você... Você... Você está maravilhosa, Jilly.
:- Você também, Woe.— Correu para me dar um abraço apertado. Que saudades de abraçar alguém da minha família. Alguém que eu soubesse que carregara o mesmo sangue que o meu.
:- Como você me achou?!
:- Eu fui chamada para dar aula na Corleone. Lembra que antes de você sair de casa eu corri pra te abraçar e você me disse que estaria na casa da Ally e escreveu o endereço na minha mão? Bem, eu passei o dia todo decorando o lugar.— Falou segurando minhas mãos. Jilly era totalmente o oposto de Zendaya. Uma das minhas primas preferidas. Lembro-me que na época do ocorrido ela só tinha 13 anos.
~
:- Ei, não chora!— Abracei Jilly com força enquanto ela soluçava em meus ombros. Estávamos na porta de casa. Minhas malas perto dos meus pés indicavam que eu estara prestes à sair dali para nunca mais voltar.
:- Woe, não deixa a gente. A tia estava nervosa.
:- Eu já decidi, Jilly. Não se preocupe, nos veremos logo, tudo bem?!
:- Você vai voltar?!— Me olhou completamente desapontada. Seus olhos vermelhos indicavam o quão ela deve ter chorado por medo. Medo de conviver com Zendaya sem me ter por perto. Medo de não ter sua prima protetora ao lado. Jilly com os seus 13 anos era mais inocente que Zendaya. Com isso, a pequena fazia o inferno na vida dela também.
:- Infelizmente não, woe. Quando você completar dezoito anos, vai em casa me ver e passar uma temporada.
:- Onde você vai ficar?
:- Aqui!— Peguei em sua mão abrindo-a, puxei uma caneta no bolso da minha mala e comecei a escrever o endereço do apartamento de Ally.— Não esquece de marcar em um papel. Nos veremos logo, pequena. Eu amo você.
~
:- Lembro. Vem! Entra!— A puxei pela mão. Fechei a porta e observei sua roupa social na cor creme e uma bolsa preta.— Então quer dizer que você se tornou professora?
:- É, de literatura. Faz pouco tempo, entrei no estágio agora e preferi exercer por aqui mesmo.
:- Uau! Tenho uma prima que mexe com as palavras.— Sentei na mesa de frente à ela que sorria feito boba.
:- Você está tão linda, woe. Da forma como Zendaya falou sobre você no último jantar em família, pensamos que estivesse praticamente morta.
:- Porquê?!
:- Ela disse umas coisas horrorosas sobre você para a tia. Ela chegou à dizer que você usava drogas nas noites que andava em seu serviço. Eu fiquei extremamente assustada e tenho certeza que tia And também.
:- Vagabunda.— Sussurrei para mim mesma.— Essa garota não tem jeito.
:- Não mesmo.
:- Ela estuda na escola que você dará aula.— Jilly arregalou os olhos e pousou as mãos no rosto.
:- Que maravilha!
:- Você quer algo pra beber? Porque está aqui tão cedo?— Virei para a pia e comecei a aprontar um café forte, pois estou vendo que não voltarei à dormir tão cedo. Eu iria matar a saudades da minha prima.
:- Não, obrigada. Eu precisava passar aqui pra te ver, eu estava desde os meus dezoito ansiosa para te ver e, finalmente consegui!
:- Estou morrendo de saudades de todos. Do tio Kam.— Virei rapidamente para vê-la sorrir sem graça.
:- Ele perguntou muito de você e sempre disse que a família não estava completa no jantares. Quando ele soube que você virou garota de programa, ficou completamente assustado e falou que viria te buscar.
Lhe dei um sorriso fraco e suspirei. Saber que meu tio estava "decepcionado" por receber essa notícia me abalou de certa forma. Ele contava tanto que me queria como uma grande doutora ao seu lado e hoje estou nesse mundo obscuro.
:- Imagino a decepção que ele sente.
:- Oh, não. Ele não está decepcionado, só... Com medo de acontecer algo contigo. Esse meio é perigoso e você sabe muito bem.
:- Sim.— Suspirei.
:- Mas então... Você tem namorado?
:- Não.— Ri tranquilamente por sua testa franzida percebendo a besteira que perguntara.— E você, mocinha?
:- Eu não...— Suas bochechas imediatamente coraram e ela rolou os olhos para outro lugar.
:- Sei... Porque suas bochechas rosaram dessa forma então?— Sentei na mesa novamente, mas agora com uma caneca nas mãos exalando cheiro de café.
:- É que... Eu não sei se irá entender...
:- Como assim?!— Aproximei a caneca da minha boca para tomar um gole quente daquele líquido. Fiquei olhando-a mexer nos dedos por cima da caneca totalmente nervosa.
:- Eu... A gente sempre nunca escondeu segredos, não é? Então... Eu sou lésbica, woe.
Senti o líquido subir pelo meu nariz, forçando-me a começar à tossir procurando ar. Larguei a caneca por cima da mesa e tentei controlar aquela tosse infernal.
:- Calma!— Ela deu a volta na mesa para bater nas minhas costas preocupada.
:- Desde quando você se assumiu?
:- Eu não me assumi.— Passou as mãos por minhas costas e sorriu sem graça.— Tenho medo, woe. Eu sei que meus pais são maravilhosos, mas eu não sei se seriam nessa parte.
:- É muita informação pra minha cabeça. Zendaya também parece ser e...— Parei de falar rapidamente me lembrando dela e Dinah. Jilly não sabe da história e ficaria confusa se eu contasse que estava indo para cama com uma garota da idade de nossa prima.
:- Me desculpa, não quis te assustar. Eu só lhe contei porque confio em você.— Tornou à se sentar de frente pra mim. Respirei fundo tomando o ar que havia perdido e fitei a morena à minha frente totalmente sem graça e corada.
:- Você já teve relações com alguma garota?
:- Sim, muitas vezes.— Tossi novamente. Era estranho pensar que minha prima que tanto cuidei tivesse relações com outras mulheres. Ela deveria fazer muito estrago em festas por estar tão linda e tão chamativa.
:- Interessante.
:- Você nunca transou com uma mulher? Acho que nesse meio sempre aparece uma ou outras, não?!— Tossi novamente por conta da minha garganta arder.
:- Bem, eu estou em um rolo. Envolve Zendaya e... uma outra garota.
:- O que ela aprontou dessa vez?
:- Eu conheci uma garota faz um bom tempo, ela tem dezessete anos, a gente acabou ficando e eu tirei sua virgindade...
:- QUÊ?!
:- Shh! Ainda é de manhã, muita gente por aqui dorme até tarde.
:- Desculpa...
:- Então... Ela é uma completa babaca, sabe?! Brinca com tudo em minha volta, para a minha tristeza, ela conheceu Zendaya que de alguma forma conseguiu namorá-la do nada. O engraçado é que Dinah não vai pra cama com ela, mas vai comigo.
:- Espera! Ela se chama Dinah?
:- Isso!
:- Entendi.
:- Voltando... O pai dela trabalha em um banco onde eu tenho conta, uma vez ele teve um enfarto e precisava de sangue para a cirurgia e eu tenho o mesmo tipo sanguíneo. Nisso, eu acabei conhecendo sua mãe que não foi muito com a minha cara de começo, mas depois transpareceu outra coisa.— Tomei mais um gole do café que aos poucos estava esfriando.— Uma vez eu bebi pra esquecê-la e fiz uma cagada indo até lá.
:- E os pais dela?
:- Eles não sabiam que eu estava lá, eu pulei a janela.— Jilly começou a rir e negou com a cabeça.— Pra piorar tudo, eu estou gostando dela e à cada dia fica mais forte.— Passei a ponta do meu dedo em minha têmpora e apoiei minha cabeça em minha mão para observá-la.
:- Então quer dizer que você está gostando de uma garota que namora Zendaya?!
:- Bem antes dela namorar Dinah, eu já estava gostando.
:- Ela sabe disso?
:- Não.— Suspirei.— O pior ainda é que menti meu nome e não estou conseguindo reverter isso. Ela falou que eu era o amor da vida dela e eu comecei a chorar em desespero. Eu não estou sendo sincera com ela.
:- Woe, quanto antes você falar a verdade, melhor. A garota já está praticamente aos seus pés e se você se apegar à ela e empurrar tudo com a barriga, será pior. Para as duas.
Afundei meu rosto em minhas mãos e fechei meus olhos pensando sobre isso. Não estou sendo sincera com Dinah e isso de mentir meu nome estava me machucando também. Sempre que a ouvia dizer que estava apaixonada por Scarlet, era uma facada à mais em meu peito. Eu estava enganando-a de uma tal forma que lá na frente, certamente, iria me machucar mais ainda.
:- É complicado.
:- Prima, eu preciso ir. A chuva não irá passar tão cedo e preciso estar na escola cedo para me apresentar para o diretor e depois para todas as salas.
:- Boa sorte e estou orgulhosa.— Levantei em um solavanco e caminhei até seus braços para me aconchegar ali.— Você está morando aonde?
:- Minha casa é na ponta da praia, quando puder te levarei para passar um tempo.
:- Tudo bem.— Abri a porta sorrateiramente e a esperei passar por mim com sua bolsa. A mesma me olhou novamente jogando um beijo no ar e começou a caminhar até o fim do corredor.
Andei até o meu quarto para pegar meu celular. Iria responder Dinah.
Minha cabeça ficou maquinando sobre o que Jilly havia dito. E se eu me apegar demais e tudo não passar de uma simples vontade da adolescência dela? Dinah ainda é uma criança e não tem idéia sobre responsabilidades. Esse "amor" que ela tanto fala sentir por mim, pode ser passageiro.
Certamente, se eu disser o meu nome real, ela ficará chateada e me largará pra sempre, como Arin.
Ainda tem seus pais. Se formos aprofundar isso, eles descobrirão que sou uma prostituta e não irão querê-la perto de mim.
Eu não sabia a melhor forma de me portar para conversar com ela por mensagem. Então, eu escrevi de qualquer forma, talvez assim, ela achasse que eu não me lembro de nada e aos poucos iria desapegando.
Não quero vê-la sofrer por alguém tão confuso como eu. Não sou a melhor pessoa para tê-la.
Se eu pudesse a evitaria pelo resto da minha vida. Eu não quero passar por tudo novamente. Não quero me apegar à alguém que, quando tiver o primeiro problema, me largasse sofrendo dentro de um quarto.
Dinah acabou parando de me responder, provavelmente deve ter ficado brava.
Virei meu rosto, fechei meus olhos e inspirei aquele travesseiro branco que carregara seu cheiro. Bem fraco, mas conseguia me fazer viajar por horas lembrando de seu rosto.
Ouvi a porta da cozinha ser aberta e o assobio de Ally rondar com o eco. Eu deveria tirar aquela cópia de casa com ela. Parece até que ela não tem casa de tanto que vive por aqui.
:- Ah, não! Deprê não. Mani, olha aqui. Levanta!— Franzi o cenho olhando-a. Quem aqui estava com depressão?!?
:- Eu só deitei um pouco.
:- Ufa!— Depositou a mão no peito e suspirou.
:- Adivinha quem veio me ver.— Sentei para poder enxergá-la sentar na ponta da cama.
:- Jennifer Lopez? Oh, não! Justin Timberlake? Aquele homem é maravilhoso, aquela voz me deixa tão exci...
:- Ally!
:- Desculpa!
:- Jilly. Ela veio me ver.
:- O que?! Como ela te achou?
:- Eu marquei o endereço na mão dela antes de sair de casa e ela disse que passou o tempo todo gravando na cabeça. Ela está começando a ser professora e trabalhará na Corleone.
:- Sério?!
:- Sim. Agora, tenta descobrir a maior novidade.
:- Você está gravida?!— Rolei os olhos e suspirei. Ela fazia isso pra me atormentar ou é lerda a esse ponto?! Não é possível! Ela é tão fofa, amorosa, inteligente e se faz de retardada pra me perturbar.
:- Ally, eu estou falando sério.
:- Eu também. Menina ou menino?
:- Allyson!
:- Ok, parei! Você não sabe brincar.
:- Isso não é brincadeira que se faça.
:- Você é tão chata!— Revirou os olhos.
:- Ai, não tem como conversar com você. Jilly disse que é lésbica.
:- E isso é novidade?!
:- É! Ela não parecia ser.
:- As pessoas mudam, Mani. Da mesma forma que você mudou. Ontem não chegava perto de uma mulher pra fazer programa e hoje transa sem nenhum problema com Dinah.
:- É... Diferente.
:- Diferente como?!
:- Eu me sinto atraída por Dinah de um jeito. As outras mulheres não tinham o mesmo efeito.
:- Vamos falar a palavra suja, você gosta da foda dela, não é?!
Imediatamente corei. Ally não era de falar essas coisas. Ela tornava para dizer tal palavra, mas nunca se referia naquilo de forma "suja".
:- Eu gosto dela, diferente, Ally.
:- Oh, está explicado. Cá pra nós, ela faz direitinho?
:- Até demais. Parece profissional.— Começamos a rir feito idiotas. Sempre conversávamos sobre isso. Coisas de melhores amigas, entendem?!
. . .
:- Finalmente!— Ally se jogou por cima das minhas pernas no sofá e deitou a cabeça no escosto. Tínhamos acabado de arrumar toda a casa. Tiramos tanta coisa perdida pelo canto que chegava a ser assustador.
:- Não aguento mais, não sei como essa casa junta tanto lixo.
:- Porque a dona dela não se preocupa em limpar.
:- Claro que limpo.— Dei-lhe um leve tapinha em sua canela.
Levantei em um solavanco jogando-a para o lado ouvindo a campanhia tocar diversas vezes. Corri até a porta abrindo-a empolgada. Será que Jilly voltaria pra ficar conversando comigo?!
Respirei fundo controlando minha paciência quando avistei Zendaya se virar de braços cruzados. Os olhos inchados e a maquiagem borrada.
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