História The Blue Eyes - Efeito dominó - parte 1

(Nash)

-Puta que pariu, você é burro demais!- disse Cameron enquanto corríamos e eu o olhei feio.

-Estou começando a achar que você não gosta de mim de verdade.- disse sustentando meu olhar, repreendendo-o.

-Desculpa, dude, mas você é mesmo. Você para do lado da porra da porta do armário da Charlotte e acha que ela não vai chegar e te ver?- disse arqueando uma sobrancelha e eu bufei.

-Tá, agora pode calar a boca.- disse quando Lottie passou por nós, logo após Becky e algumas outras meninas. Ela parecia estar morrendo na educação física, mas aguentava firme e continuava correndo.

Ou quase isso.

-Você devia parar com essa palhaçada de mensagens e bilhetes e ir falar com ela logo, porra, não te aguento mais! Qualquer dia ela descobre do jeito errado e você vai se fuder!- alertou Cam, me fazendo bufar. -Eu não vou muito com a cara dela, mas a essa altura dá para ver que você não vai largar do pé de uvas.- brincou e eu neguei com a cabeça.

-Eu não achei que fosse começar a falar com ela pessoalmente nem que ela fosse dar em cima de mim na viagem, não que isso faça diferença agora.- disse soltando o ar com dificuldade pela rapidez que eu falava. -Enfim, as coisas se complicaram, ela vai me achar a pessoa mais estúpida do mundo se eu contar que sou eu depois desse tempo todo.- disse frustrado. Que merda eu fiz com a minha vida?

-Nash, você não precisa contar para ela. Só para de mandar mensagem e comece a falar com ela pessoalmente.- disse com simplicidade, como se tudo fosse óbvio e eu complicasse tudo. Provavelmente era isso.

-Eu não posso mentir, Cameron. E não acho que ela vai gostar de mim quando descobrir.- respondi entre o expirar e inspirar de lufadas de ar, quando paramos para descansar após um grito do professor.

Cameron revirou os olhos, mas era verdade. O que Charlotte iria pensar de mim? Que eu sou doido, provavelmente, mas eu já não podia esconder, desde o primeiro dia de aula gosto dela. Eu ainda fico fascinado como nunca vi ninguém como essa garota, e não falo isso da boca para fora.

Eu tô fodido.

Só ficar perto dela já me deixa nervoso. Lottie não liga para o que os outros pensam dela e isso é uma das coisas que mais me impressionam nela. A segurança. Ela me chutaria se eu falasse qualquer merda perto dela, mas, mais que isso, o que não sai da minha cabeça é seu lado frágil. Vê-la no dia da piscina e na semana passada no armário do zelador arrasou meu coração, mas me faz admirar ainda mais como ela é forte.

Não falei com ela depois de ela quase me descobrir perto do seu armário, mas a vi várias vezes andando pelos corredores no seu moletom cinza e o cabelo roxo vibrante.

Linda.

-Acorda, vamos tomar banho. O professor nos liberou.- disse Cameron, estalando os dedos na frente do meu rosto.

Levantei, saindo dos meus pensamentos confusos para o seguir até os vestiários. No meio do caminho, cruzei com Charlotte, que segurava uma garrafa d'água. Ela sorriu para mim.

É, eu tô fodido.

(Lottie)

Eu estava arrumando meu armário no intervalo após a aula de educação física, quando Taylor apareceu de surpresa, todo feliz.

-Adivinha quem ficou com Vanessa Smiths?- perguntou e apontou para si mesmo antes que eu pudesse responder. -Esse cara!

-Meu Deus, Taylor! Por isso você sumiu enquanto o professor fazia todo mundo dar 15 voltas na pista de atletismo?- perguntei olhando-o feio.

-Talvez.- respondeu com um sorrisinho e eu bufei, colocando mais um papel inútil na sacolinha de lixo que eu estava segurando.

-Vou contar para a Polly, ela tinha muito ranço da Vanessa.- brinquei e ele arregalou os olhos.

-Merda, é mesmo! Não conte, por favor!- pediu e eu assenti, rindo, enquanto abria um caderno velho que estava no fundo do meu armário há meses.

-Para a sua sorte, não vou.- disse sorrindo, mas estranhei quando chacoalhei o caderno e caiu um pedaço de papel bem fino. Quando ele pousou no chão, vi que não era o papel, mas sim uma pluméria totalmente amassada. -Que porra é essa?- perguntei abismada, fazendo Taylor olhar para o chão curioso.

Peguei a flor e estranhei. Parecia realmente um papel, mas como isso era possível?

-O que é isso?- perguntou Taylor.

-Uma flor que eu deixei no meio desse caderno há algum tempo.- disse, tendo flashs rápidos desse momento algum tempo atrás. -Mas por que será que ela ficou assim e não morreu?

-Ah! Eu já li sobre isso.- disse animado e eu franzi as sobrancelhas. -Quando você deixa uma planta pressionada dentro de um caderno ou livro, ela se conserva e vira isso aí, parecendo um adesivo.

-Como você sabe disso?- perguntei, realmente surpresa e ele deu de ombros.

Olhei de novo para a pluméria e suspirei. Era muito legal para jogar fora.

Coloquei a "flor de papel" cuidadosamente em cima da pilha de cadernos dentro do meu armário e busquei um rolo de durex que eu sabia que estava no meu armário. Quando o achei, cortei dois pedaços com os dentes e fixei a flor na porta do meu armário.

-Awnn, que fofinha.- disse Taylor, observando a porta do meu armário. Nela, só havia a flor recém colada e uma foto nossa, que, estranhamente, foi tirada por ele no dia que nos encontramos no shopping, quando ainda não éramos amigos e fui trocar minha mochila. Ele estava com o óculos de sol de uma vendedora da loja de bolsas e minha cara não era uma das melhores, mas eu gostava da foto.

Enfim, quando finalmente fechei a porta do meu armário, fomos em direção ao refeitório aproveitar o resto dos minutos do intervalo.

Fui com Taylor até a fila da comida, apenas como companhia. Eu não estava com fome mas, em compensação, me sentia estranhamente disposta. Parece que me afastar dos remédios fez bem.

Além disso, eu não sentava na minha mesa desde a semana passada e na de Taylor muito menos. Afinal, na mesa que antes eu usava para dormir, estavam sentados Cameron e Maddie. Os dois estavam afastados do grupo de amigos do Taylor desde que voltei, mas principalmente essa semana que a suspensão de Becky terminou.

Maddie não estava falando com Becky na sala e nem fora dela, era até esquisito considerando a amizade que as duas haviam criado, mas não posso deixar de ficar feliz por ela finalmente ter largado dessa megera.

Eu não deveria me importar com isso, mas, ainda sim me importo.

Madeline me encara de um jeito esquisito desde o final da viagem, mas a única vez que veio falar comigo foi na segunda passada. E, para ser sincera, também não quero que ela venha. Estou, finalmente, aprendendo a me virar sozinha.

Já Becky estava a mais esquisita de todas. Ela não dirigiu uma palavra a mim desde o ocorrido, não que eu esteja reclamando, mas isso só me faz suspeitar dela e do que ela pode estar tramando.

Seja lá o que for, espero não descobrir.

-Certeza que não vai lá sentar conosco?- perguntou Taylor e neguei com a cabeça.

-Sim, nos encontramos na sala.- respondi dando um sorrisinho para Taylor, enquanto dava meia volta para sair do refeitório.

Aproveitando da minha disposição, dei uma volta nos corredores da escola até o sinal das últimas aulas bater.

(...)

Mesmo que eu pudesse enxergar o mundo inteiro, tudo se desfazia em ondas azuis bem na frente dos meus olhos. Eles estando fechados, ou não.

Apareceram vários rostos diferentes todos juntos falando frases que eu já ouvi e repeti milhões de vezes dentro da minha própria cabeça, misturados no azul profundo.

-Faça-me um favor e finja que não me conhece! Quem sabe assim você supera mais rápido, Charlie.- disse Maddie antes do seu rosto se desfazer em bolhas de ar em meio ao infinito azulado.

-Você foi um erro! Destruiu meu casamento ao nascer!- gritou minha mãe antes do seu rosto também se perder em meio as bolhas.

-Quantas vezes eu te disse para não entrar aí?- disse Drake.

Quando o rosto dele desapareceu, fiquei sozinha na imensidão azul, sem saber se eu tava piscando ou não, e comecei a sentir falta de ar.

Eu estava me afogando na água infinita. Seria a mais bonita das piscinas se ela realmente existisse.

Revivi a agonia do afogamento por alguns segundos antes do azul virar branco e depois o preto do meu teto.

Sentei na cama correndo, sentindo meu peito arder e minha visão embaçada pelo choro molhando meu rosto. Respirar havia se tornado uma tarefa difícil.

Não importa o quanto eu tente fazer tudo ficar bem, eu continuo me afogando.

(...)

Passei a semana inteira fazendo uma rotina simples: ir para a escola, falar com Taylor, ignorar Maddie, voltar para casa e dormir. E, entre meu cronograma, havia espaço para algumas conversas por mensagem com o Blue. Seguir essa rotina era fácil e me impedia de passar tempo pensando em Maddie e Becky, tornando mais fácil ignorar todas as questões que estavam na minha cabeça.

Infelizmente, não posso dormir para sempre. E quem faz questão de me lembrar disso, é Drake.

Faltavam duas semanas para o natal e meu irmão não podia estar mais animado. Ele já decorou a casa inteira e hoje começou a assar biscoitos de gengibre para fazer uma casa.

As coisas estavam mais tranquilas desde o devaneio de sábado passado, conversamos quando ele voltou de sua corrida e agora estamos bem. Eu acho.

Ele me acordou cedo nesse sábado, dizendo que eu dormia demais, com razão, me obrigando a, pelo menos, sentar na cozinha para tomar café e assistí-lo fazer os biscoitos.

Eu revezava meu olhar entre Drake dançando uma música que tocava no seu celular e meu próprio celular, onde eu trocava mensagens com o Blue, já que ele resolveu me mandar diversos memes hoje.

Falar com ele era extremamente fácil,  por isso, eu realmente esperava que não fosse um pedófilo.

Puta merda, a que ponto cheguei?

Tirei meus olhos do celular quando Drake me mostrou dois biscoitos de gengibre, um com uma roupa feita de cobertura verde e o outro de vermelho, ambos com detalhes brancos.

-Qual você acha que os Dallas vão gostar mais?- perguntou ele.

-Qualquer um. E isso, por acaso, importa?- perguntei, arqueando uma sobrancelha enquanto pegava o biscoito de verde da mão dele.

-Claro que importa.- respondeu como obviedade e eu ri, tentando não cospir o biscoito.

-Esse aqui está muito bom, mas o vermelho é mais natalino.- respondi.

-Vai ser o vermelho, então!- concordou sorrindo e eu ri.

Drake estava muito nervoso para conhecer o resto da família da Sierra no natal. É até assustador pensar que eles estão namorando há quatro meses, e agora não há dúvidas de que é bem sério, mas estou feliz pelo meu irmão. Sierra é ótima e ele merece ser feliz.

Apesar disso, também me assusta passar o natal na casa dos Dallas. Quem diria, Cameron Dallas e eu quase parentes. Se alguém me dissesse isso no ano passado, eu riria até minha barriga doer.

Não que eu preferisse ano passado.

O último natal foi marcado por uma maratona de séries e comidas que poderiam resultar em diabetes, enquanto Drake estava trancafiado no escritório. Mesmo sobre as circunstâncias, eu prefiro dez vezes mais agora. Talvez cem vezes, se comparado a outros natais. Já que minha mãe nunca fazia nada, era só mais um dia normal.

Respondi uma mensagem de Taylor e fiquei conversando com Blue enquanto rolava o feed do twitter também, nada muito interessante até que um barulho gigantesco ecoou pela rua inteira.

Drake e eu nos assustamos, e, imediatamente, saímos para fora da casa para ver o que era.

Quando fomos para a rua, haviam vários vizinhos também curiosos e pude ver que o barulho veio da casa dos Dallas.

Fiquei absolutamente chocada quando vi o que havia acontecido.

A parte da frente inteira da casa havia desmoronado, incluindo um quarto em cima da sala.

Que droga era aquela?

-Meu Deus! A Sierra!- Drake disse assustado e arregalei os olhos.

Drake saiu correndo em direção da casa, mas, por sorte, antes de ele sequer chegar perto, Gina, Cameron, Sierra e o cachorro saíram pelos fundos da casa.

Todos estavam assustados e foi toda uma confusão, até que chamaram os bombeiros e a polícia.

Enquanto isso, eles foram esperar alguma notícia sobre a casa e até mesmo se recuperar um pouco na minha casa. Drake acabou tendo que servir os biscoitos antecipadamente.

Era assustador como uma coisa dessa pode acontecer do nada. Eu posso não ser muito chegada no Cameron, mas ainda bem que os Dallas não se machucaram.

Algumas horas depois, os bombeiros explicaram para a senhora Dallas que o desabamento ocorreu por uma infestação de cupins, que destruiu uma fãs partes estruturais da frente da casa.

Os cupins fizeram a casa desmoronar! Olha, por isso que eu não gosto de insetos.

No final do dia, os Dallas foram para um hotel perto do centro da cidade e eu e Drake ficamos em casa, ambos ainda um pouco chocados.

Que ótimo início de semana para todos.

(...)

No dia seguinte, dormi até mais tarde como um bom domingo permite e fiquei mais uma hora mongando na cama antes de descer para tomar café. Surpreendentemente, Drake não foi me arrastar pelos cabelos para tomar café, mas, assim que cheguei no andar de baixo, descobri o porquê.

Ele estava deitado na grama do jardim, espalhado como uma estrela do mar.

Encostei a porta da cozinha e fui deitar ao seu lado. Estava frio, mas o sol dava calor suficiente para que não congelassemos. Por sorte, ainda não havia começado a nevar, e esse é o único motivo de ser viável sequer ficar aqui fora.

-Oi.- saudei com um sorriso e ele retribuiu-o.

-Oi!- respondeu. -Acordou, Fera?- perguntou, fazendo-me franzir as sobrancelhas.

-Fera?

-Bela Adormecida que não ia ser.- disse e eu revirei os olhos, dando uma cotovelada na sua costela enquanto meu irmão chorava de rir.

Como nós somos parentes?

-Você não foi me acordar gritando, achei que tinha esquecido que eu existo ou ficado bêbado.- zombei e ele riu.

-Não, só não queria despertar a princesa do seu sono de beleza.- disse rindo e eu rolei os olhos, com um sorrisinho. -Mas, na verdade, tenho algo para te falar que talvez você não vá gostar.

-O que é?- perguntei, logo me sentando na grama. Ele fez o mesmo.

-Eu estava conversando com a Sierra hoje de manhã no telefone...- começou. -...e ela me disse que a casa deles vai demorar um mês para ser reconstruída.

-Nossa, isso é péssimo mas o que tem haver com...- disse mas ele fez um sinal para eu esperar, então parei de falar.

-E a família toda dela mora em Chino Hills, na Califórnia, então é inviável para ela que está trabalhando aqui e para o Cameron que está estudando ir passar um mês lá.

Eu não sou burra nem nada. Posso ser lerda, mas burra não. Eu já imaginava o que Drake ia dizer e só desejei ter ficado mais tempo deitada na cama para digerir isso.

-Então, eu disse para eles ficarem aqui durante esse mês, já que a Gina vai ir passar um tempo com os avós de Sierra e Cameron.- explicou e eu tive vontade de pegar um cotonete para limpar minhas orelhas e ver se eu estava escutando direito.

Cameron Dallas ia morar na minha casa. É isso.

Podia ser o vizinho gostoso, inteligente e legal que todos os livros fazem propaganda por aí nos filmes românticos, mas era Cameron. E ele podia até ser um pouco gostoso e inteligente de vez em quando, mas ele não era nada legal, principalmente comigo. Eu sinto o desprezo no olhar dele, e, depois de tanto tempo, é mais que recíproco.

É, nada de história de filmes adolescentes para mim.

-Cameron Dallas, sério? Eu realmente não gosto dele.- disse, mesmo sabendo que essa discussão não resultaria em nada.

-Charlotte, não seja insensível! A casa deles, literalmente, caiu do nada e nós como pessoas boas vamos fazer isso, até porque, primeiro, Sierra também está envolvida e ela é minha namorada e, segundo, Cameron nem é tão ruim.- repreendeu-me. -E, se um dia eu casar com a Sierra, vocês dois vão ser obrigados a conviver um com o outro.

-Mais ainda?- perguntei e ele apenas riu.

É, como eu disse antes, é assustador como as coisas podem acontecer do nada.