História The Boss - Deixe-me ir

“Então diz que não me quer por perto

Mas diz olhando nos meus olhos

Desculpe se eu não fui sincero”

Deixe-me ir – 1Kilo

Capítulo 19 – Deixe-me ir:

POV Nico

O caminho até o meu quarto foi apenas um borrão.

Algo dentro de mim gritava pra eu ir atrás dela, pra fazer alguma coisa e insistir para que ela acreditasse em mim. 

Mas outra parte de mim dizia que era melhor deixar as coisas assim. Ela tinha desistido e eu devia fazer o mesmo.

Aproveitei que Thalia tinha me cortado do compromisso do dia e deitei na minha cama.

Não tinha cabeça pra trabalhar e nem ânimo para sair do quarto.

O jeito era torcer pelos dois próximos dias passarem bem rápido.

Com o frio de Paris e a cama confortável do hotel, as coisas não pareciam tão ruins quando eu fechava os olhos.

Me sentindo confortável e vazio, adormeci.

[...]

Acordei algumas horas mais tarde com batidas na porta.

Levantei da cama devagar e segui para a porta, mas temi ser a maluca da Kim e congelei no lugar.

Mais duas batidas, fortes demais para ser da Kim.

Decidi arriscar e abri a porta.

Sem cerimônia nenhuma, Jason invadiu o quarto.

—Onde está a minha irmã? - ele perguntou olhando ao redor do quarto.

—O que? - perguntei sonolento.

—Thalia sumiu e não responde minhas mensagens. Tínhamos um almoço marcado há duas horas e ela não apareceu. Achei que tinha dedo seu nisso.

Despertei imediatamente ao ouvir seu nome.

—Ela não pode ter sumido. Falou com o motorista dela?

Comecei a ficar preocupado.

—Sim. Ela o dispensou assim que saiu do evento e ele disse que ela estava conversando com um cara. Achei que fosse você.

Senti o estômago embrulhar.

—Bom, não sou eu. - fui grosso. - Estava dormindo. Pode sair, por favor?

Jason me olhou e notei preocupação em seus olhos. Isso me deixou ainda mais apreensivo.

Ele se virou e bateu a porta atrás dele.

Onde ela estaria? E com quem ela estava?

Peguei o celular da mesa de cabeceira e liguei para o seu número.

O telefone chamou algumas vezes até que caiu na caixa postal.

Ela não me atenderia, mas continuei tentando.

Liguei mais uma vez e o telefone caiu direto na caixa postal.

Ela tinha desligado o telefone.

Senti a preocupação me paralisar.

Se ela não estiver bem, a culpa é sua.  Você sabe disso.— minha mente me acusou.

Ela não faria uma besteira.

É, não faria, era de Thalia que eu estava falando. Pensar que ela poderia estar sofrendo era ser totalmente presunçoso da minha parte. Ela só não gostava de perder.

— Isso. Ela não gosta de perder. - disse em voz alta, tentando me convencer.

Ela tinha que estar bem.

[...]

Tomei um banho rápido e troquei de roupa antes de descer para a recepção.

Não queria perguntar ao seu irmão nem a melhor amiga então decidi esperar no hall de entrada para ver caso ela chegasse.

Tentei ligar para o seu telefone mais algumas vezes, mas ele continuava desligado.

—Onde você se meteu? - disse baixinho ao ouvir mais uma vez o toque da caixa postal.

Aguardei por mais uma hora, sentado na recepção e quando já estava quase indo procurar pelas ruas de Paris eu a vi entrar.

Meu primeiro impulso foi correr até ela e saber o que tinha acontecido, mas parei imediatamente quando notei que ela não estava sozinha.

Um cara loiro e alto a acompanhava.

Minhas mãos formigaram de ciúmes.

Me escondi atrás de uma coluna do hotel e observei a cena. Pelo menos ela estava bem.

Eles conversavam, baixinho e ela sorria. Senti inveja da forma como ele a fez sorrir.

Engoli os ciúmes e continuei observando a cena.

O cara alto entregou algo a ela e então Annabeth e Jason se aproximaram.

A loira não parecia feliz e falava de forma estridente. A cara de Jason não era muito melhor. 

O homem que acompanhava Thalia cumprimentou os dois, em seguida beijou o seu rosto e disse algo em seu ouvido que fez suas bochechas corarem.

Senti o sangue ferver mais uma vez e decidi que era demais pra mim.

Ela estava bem.

E tinha mesmo desistido de nós.

[...]

A noite chegou sem que eu notasse. Só me dei conta de que já tinha escurecido e que estávamos na hora do jantar quando John o outro fotógrafo da equipe veio me convidar pra jantar com o restante do pessoal.

Recusei o mais educadamente que pude, pois não queria ver ninguém. Só queria voltar para a minha casa.

Antes de ir embora, John me entregou um papel.

—O que é isso?- perguntei confuso.

—Sua escala de trabalho de amanhã. Kim mandou te entregar.

—Ah.

Corri o olho pela folha rapidamente até encontrar meu nome no alto, junto ao primeiro evento do dia: um encontro exclusivo com Christian Lacroix.

Como o encontro de hoje, era apenas para os editores e fotógrafos, o que significava que eu ficaria a sós com Thalia.

—Ótimo. – resmunguei.

—Algum problema? – ele questionou curioso.

—Nenhum. – desconversei. – Obrigada cara.

O cumprimentei e ele partiu.

Voltei pra cama assim que fechei a porta e encarei o teto por alguns minutos.

Ela seria obrigada a falar comigo em algum momento.

Mas será que valeria a pena a tentativa?

[...]

 

POV Thalia

Passei o resto da noite encurralada entre Annabeth e Jason.

Ambos queriam saber da minha breve aventura naquela tarde, por motivos diferentes.

Minha melhor amiga por curiosidade e meu irmão por preocupação.

Acabamos pedindo serviço de quarto e pegando no sono os três, assistindo a um filme.

Por um dia inteiro, eu mantive minha nuvem de felicidade intacta, sem pensar em Nico.

Porém, ela se desfez por completo na manhã seguinte, quando acordei de sobressalto.

—Que horas são? – Annabeth resmungou com meu movimento.

—Não faço ideia. – disse olhando pra rua. O dia estava nublado, e ainda estava levemente escuro. – Mas acho que deve ser cedo, ainda está amanhecendo.

—Ótimo, posso dormir mais. – ela disse enterrando a cara no travesseiro novamente e pegando no sono em segundos.

Vasculhei o quarto atrás do meu celular e o encontrei em cima da mesinha de cabeceira.

Peguei o aparelho, na esperança de checar meus e-mails e minhas redes sociais, já que tinha acordado tão cedo.

Desbloqueei a tela do celular e para a minha total surpresa o dia já tinha amanhecido há algumas horas.

Na tela o ícone da agenda piscava, indicando meu primeiro evento do dia. Entrei no  aplicativo e no segundo seguinte saltei da cama.

Meu primeiro evento do dia era às 9hs, mais um encontro exclusivo, dessa vez com Christian Lacroix.

E de acordo com o relógio, eu tinha apenas 10 minutos pra me arrumar.

O que estava acontecendo comigo? Não costumava me atrasar dessa forma!

Corri pelo quarto inteiro, enquanto meu irmão e Annabeth ressonavam baixinho, sem fazer a menor menção de acordar com meu movimento.

10 minutos depois eu já coletava minhas coisas pelo quarto para sair.

Enquanto andava apressada pelo corredor, terminei de vestir o sobretudo e arrumei a bolsa no ombro.

Chequei minha imagem no espelho do elevador.

Meu look do dia estava simples demais, destoando das minhas roupas costumeiras de trabalho para essa semana, mas peguei a primeira coisa que enxerguei na mala, já que estava atrasada.

Usava também meus óculos, pois não achei prudente colocar lentes de contato com as unhas grandes e estando com pressa.

Meu cabelo estava com ondas do dia anterior e a maquiagem era apenas o básico.

O elevador descia enquanto eu fazia uma lista mental pra ver se tinha pegado tudo.

Lembrei de repente de um detalhe: Qual era a minha equipe do dia?

Abri rápido e desajeitadamente a minha agenda e procurei pela página do dia.

Assim que encontrei a página corri a ponta da unha por ela até encontrar o nome do fotógrafo do dia.

Gelei ao ver seu nome.

Tinha ficado de resolver isso ontem à tarde, depois decidi resolver a noite, mas não quis ser rude e mandar Annabeth e Jason embora. Já tinha furado nosso almoço e os deixado preocupados a tarde inteira.

Também não queria ficar sozinha.

—Moça, esse é seu andar? – alguém me chamou a atenção

Levantei a cabeça atordoada para a senhora que havia feito a pergunta.

Com o choque, não notei que o elevador já tinha chego ao hall.

Assenti com a cabeça e sai do local no automático.

Mais a frente, a equipe inteira me esperava.

Assim que meu olhar cruzou o seu, meu coração deu um pulo e minha nuvem de felicidade foi embora de vez.

[...]

Nico não falou comigo durante o evento.

Ele fez seu trabalho e só.

Algumas vezes o peguei me olhando, mas em todas elas ele desviava o olhar.

Precisei respirar fundo diversas vezes para recuperar o fôlego e fazer meu coração voltar a bater no compasso certo.

Quando o evento acabou, esperei a equipe sair para não acabar cruzando com Nico, mas assim que cheguei à saída dei de cara com ele.   

Mais uma vez meu coração deu um pulo.

—Você fica bem assim. – ele disse sem expressão.

—O que? – disse confusa.

—Com roupas mais casuais, sem salto alto. E gosto dos seus óculos.

Senti as bochechas esquentarem e não disse nada.

Esperei por mais alguma coisa, porém ele seguiu para o carro com o restante da equipe sem dizer mais nada.

Fiquei encarando o veículo, sem entender bem o que eu queria ou esperava. Eu tinha dito pra ele ficar longe.

Só não imaginava que ele ia obedecer.