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História The Change- Fillie - Capítulo 12


Escrita por: MabelSousa

Notas do Autor


Hahahah voltei ♥️♥️♥️

Boa leitura ♥️

Capítulo 13 - Capítulo 12


Finn

Cheguei às nove em ponto no escritório da Buckers comercial e fiquei na sala de recepção esperando ser chamado para a entrevista.

Era a quinta empresa que eu procurava em busca do estágio e uma das últimas opções que eu tinha que não havia recusado meu currículo logo de cara e que aceitaram me entrevistar. Três dias não foram suficientes para que a fofoca que me envolvia fosse amenizada, pelo contrário, parecia ganhar mais força ao passo que ninguém desmentia aquela história.

Quando passava na rua eu percebia alguns olhares curiosos sobre mim, na maioria de garotas adolescentes que deixavam claro em sua expressão o desagrado como se perguntassem como uma atriz famosa, rica e bonita pudesse se interessar por um nerd desajeitado e esquisito.

Vez ou outra eu também percebia que carros de tv passavam por meu bairro embora ninguém mais batesse em nossa porta eu sabia que estavam sempre a espera de algum flagra, portanto evitei sair até que consegui a entrevista.

Eu ainda tinha duas semanas até que as aulas retornassem e até lá esperava que todo o burburinho acabasse pois seria realmente uma tortura conviver com os cochichos e fofocas na faculdade.

Depois de quinze minutos de espera uma secretária loira de vestido justo me chamou para que eu entrasse no escritório para falar com o representante da empresa. O cara estava atrás de uma mesa e me fez uma série de perguntas relacionadas a economia, empreendedorismo e finanças.

Eu respondi a tudo com precisão e naturalidade até por que para mim eram perguntas fáceis. Ele deu uma olhada no meu currículo enquanto me ouvia e pude ter certeza de que o deixei bastante impressionado com minha apresentação. No entanto sai de lá apenas com a promessa de uma ligação caso aceitassem me dar uma vaga.

Eu conhecia o sistema muito bem para saber que usariam aquele tempo para fuçar minha vida na internet e então as esperanças de ser chamado foram se esvaindo cada vez mais. A Buckers era uma empresa séria que levava muito em conta a discrição e o profissionalismo, duas características que eu tinha em contraste com minha cara estampada em todos os tablóides com manchetes ridículas especulando se eu era ou não o caso amoroso de uma celebridade.

Saí do prédio com a mesma sensação de frustração persistente que me assolava nos últimos dias, sabendo que eu nunca trabalharia em um lugar como aquele.

Deixei o carro estacionado e fui caminhando até a cafeteria que ficava em frente ao prédio aproveitando que o movimento estava controlado e assim poucas pessoas passavam por ali.

Quando me sentei esperei que trouxessem o capuccino e peguei o celular verificando o bloqueador de chamadas recém instalado nele. Haviam mais de quarenta números desconhecidos com chamadas rejeitadas automaticamente por que agora as pessoas davam para me ligar sem motivo algum, e nenhum deles era o número dela.

Eu não tinha salvo em minha agenda, mas havia decorado. A percepção de que Millie não tinha me ligado nenhum dia foi mais como um peso do que como um alívio, embora eu soubesse que ela possivelmente não sabia meu número poderia ter pedido ao David e... Não. Não podia pensar naquilo.

Balancei a cabeça e guardei o telefone de volta no bolso. Eu tinha que esquecer, assim como falei para David e para mim mesmo que faria.

Depois que uma garçonete trouxe meu pedido senti uma mão forte apertar meu ombro por trás e uma sobra se projetou em minhas costas. Eu fiquei rígido na espera de qualquer sinal de flash mas a pessoa deu a volta e parou na minha frente. Respirei quase aliviado quando vi Caleb.

Ele puxou a cadeira e se sentou.

-Eai, amigo. Como vai você? -Ele perguntou esticando a palavra amigo com desdém.

Desde nossa última discussão antes da minha viagem não nos falávamos e era bastante óbvio que ele não estava muito satisfeito com isso.

-Eai. -Eu o cumprimentei com um aceno de cabeça e engoli um pouco do líquido quente para ocupar minha boca.

Caleb riu e balançou a cabeça.

-Agora que está famoso perdeu a humildade?

-Não estou famoso.

Ele riu novamente.

-Cara eu pensei que você fosse meu amigo. -Ele disse colocando o cotovelo sobre a mesa chanfrada de prata. Seus olhos escorregaram sobre meu rosto com frieza. -Você não me contou que viajaria, nem que estava ficando com a Millie Bobby Brown.

Afastei o copo de isopor e o encarei.

-Eu não podia contar. E não estou ficando com ninguém.

Ele levantou as sobrancelhas mas suavizou a expressão logo depois.

-Não é o que estão comentando, mas primeiro, como foi que de repente você foi parar naquelas fotos?

Eu não estava com muito saco para entrar naquele assunto, mas Caleb era meu único amigo e de qualquer forma precisava explicar meu comportamento.

-Meu tio é acessor dela. Quando as fotos vazaram ele pediu que eu fosse para a casa de campo dele lhe fazer companhia. Os paparazzis apareceram alguns dias depois e rolou essa confusão. Eu não podia contar, você sabe como essas coisas são.

Ele assentiu, compreendendo.

-Bem, se não é verdade você está com problemas. O pessoal falou muito disso ultimamente.

-Você acha que eu não sei? Estou recebendo ligações de segundo em segundo. Não consegui arranjar o estágio e agora tem gente me seguindo para onde eu vou.

Tomei mais um gole do café esperando que a quentura abrandasse o sentimento de pânico que me dava só de pensar naquilo. Caleb se esticou na cadeira e coçou a cabeça.

-Eles tem que dar um jeito nisso então.

-Você já conseguiu o estágio? -Perguntei para mudar de assunto.

Ele sorriu.

-Sim, começo semana que vem na Maves. Minhas notas não são tão boas quanto as suas, mas dei sorte.

Ele estava sendo sincero. Caleb era inteligente, mas pouco esforçado. Eu não contive a pequena pontada de inveja.

-A Maves é legal. Você vai se dar bem lá.

-Eu espero. -Ele fez uma pausa e olhou para o outro lado da rua. -A Sophia foi para o acampamento com a gente.

Eu franzi o cenho e pigarreei.

-Foi? Ela não me disse, na verdade falou que não iria se eu não fosse.

-Então... Ela foi com o Elliott.

-Elliott da Engenharia? -Sooei incrédulo, mas não surpreso.

Ele assentiu.

-Rolou um boato de que ela estava te traindo. Nós dois discutimos e então ela disse que você terminou por telefone.

-Eu não terminei exatamente... -Respirei fundo não querendo pensar sobre isso. -Não tínhamos um namoro oficial e depois do que você me disse eu achei errado ficarmos juntos enquanto eu não me sentia da mesma forma que ela.

Caleb estalou a língua no céu da boca.

-Então tudo bem? Tipo, ela ficou com Eliott numa boa e sabe... Na frente de todo mundo.

Eu dei de ombros. Aquela ideia não me causava nada, nem mesmo incômodo. Pelo contrário, me senti aliviado em saber que Sophia tinha seguido em frente. Sem contar que eu também fiquei com outra pessoa, mas essa parte eu não falaria.

-Como foi o acampamento? No geral? -Perguntei

Caleb deu um sorriso se empertigando na cadeira.

-Foi foda. A Iris insistiu tanto que nos pegamos durante dias.

-Ela gosta de você. -Eu avisei com olhar sério. -Em que parte isso é diferente do que eu fazia com a Sophia?

Ele se endireitou na defensiva.

-Vai com calma, Finn. A Iris só se sente atraída por mim, ela não está apaixonada. Aí é que tá a diferença.

-Sei. -Estiquei a palavra com ceticismo.

-E você? Passou férias com a garota mais gata do país e não rolou nada, sério?

Eu desviei o olhar, mas voltei a encara-lo para disfarçar.

-Não fui com essa intenção.

-E ela é gata mesmo pessoalmente ou é daquelas que só se escondem por baixo de maquiagem?

Imagens de Millie sem nada, inclusive sem roupas vieram a minha mente em sua completa perfeição. Eu contive um sorriso, mas por dentro a lembrança me aqueceu como ferro quente.

-Não, ela é bonita sim. Eu diria que até mais sem maquiagem.

Caleb balançou a cabeça impressionado.

-Se você tivesse me levado ela teria uma boa distração e com certeza não faria tanta besteira. Depois que eu vi aquelas fotos fiquei curioso para ver pessoalmente e..

-Cala a boca. -Eu o interrompi fechando as mãos em punhos em cima da mesa. Caleb se assustou e afastou-se para trás.

-Ei, calma aí. -Ele disse com a cara fechada. -Você está estressado.

-So não gosto que você fale dela assim. -Eu me empurrei para trás afim de não avançar para cima do meu amigo. -Alias você não deveria falar dessa forma com mulher nenhuma.

Ele abriu as palmas das mãos como se estivesse se rendendo.

-Ta bem, cara. Relaxa. -Hesitou. -Ela é só uma famosa qualquer não precisa defender como se fosse sua irmã.

Eu não a considerava como minha irmã, mas deixei que ele pensasse assim, era melhor do que a verdade.

-Eu vou indo. Tem um conserto me esperando na oficina. -Afastei meu copo para o lado e me levantei. -A propósito, se você souber de um apartamento barato que fique próximo da faculdade me avisa, estou querendo me mudar.

Caleb levantou também e confirmou com a cabeça esboçando um sorriso orgulhoso.

-Pode deixar.

Nos despedimos e ele foi caminhando pela rua atrás de algum lugar que fizesse impressão de cartões de visita, exigência do novo emprego e eu voltei para casa na caminhonete.

Meus pais haviam saído para fazer compras então a casa estava vazia quando cheguei. Troquei de roupa colocando uma camisa velha e puida e calça jeans rasgada que usava para trabalhar e fui para minha oficina.

O carro do vizinho, o senhor Alec, já estava parado em frente ao portão enferrujado da garagem. Era um Chevrolet modelo 2012 que precisava de um ajuste no escapamento. A lataria cinzenta estava descascando e agradeci por ter essa ocupação até o final do dia.

Quando entrei, minha velha oficina me cumprimentou com ar contaminado de partículas finas de poeira e o cheiro de graxa misturado com gasolina estava quase me sufocando lá dentro. Foi a primeira vez que abri desde que tinha voltado de viagem e eu precisava urgentemente dar uma limpada.

As estantes onde eu deixava os materiais também estavam com uma camada grossa de poeira e o chão possuía uma cor única de verde musgo devido a água que se acumulava por causa da máquina velha. Eu fui em direção a mesa improvisada feita com um capô de carro e liguei a tevê antiga de tubo que tinha arranjado. Já era quase meio dia e estava na hora do programa de Phoebe Dayse, eu não costumava assistir, mas a convidada de hoje era Millie e eu precisava ve-la.

Aproveitei que estava no comercial e fui arrastar o carro para dentro a oficina o empurrando em ponto morto até fugir do sol usando a sombra do pórtico de ferro. Usei o macaco mecânico para içar a parte trazeira e me abaixei para sentar no banquinho analisando o cano grosso capenga do escapamento. Não seria possível dar um jeito e eu teria que subtitui-lo.

Quando coloquei a peça nova ao meu lado, ouvi o som dos aplausos da plateia e a voz de Phoebe anunciando a entrada de Millie no programa. Deixei tudo como estava e fiquei perante a tv.

Ela estava tão linda. Usando um conjunto de calça e casaco de couro que contrastava com a cor dourada de seus cabelos. Meu coração acelerou batendo tão forte que achei que fosse ter um ataque ali mesmo. Me sentei na cadeira e aumentei o volume querendo ouvir cada palavra, capturar até mesmo os vacilos de sua respiração.

Seu cabelo estava solto e formavam ondas que iam até a parte debaixo das costelas. Era engraçado que eu nunca antes tivesse visto nenhuma entrevista dela e visto somente o filme e de repente eu estava ali, nervoso quase roendo as unhas como uma verdadeira tiete vendo o ídolo na tevê.

Ela não parecia a mesma garota que eu havia conhecido tão bem, na verdade ainda tinha um pouco dela, mas a versão de Millie para a mídia era mais confiante embora um pouco contida. Ela parecia confortável, até por que era acostumada com aquilo. Aquela era a vida dela, a vida da qual eu não conhecia quase nada.

Phoebe a abraçou e os aplausos foram diminuindo. Havia uma tela atrás das duas onde passavam fotos de Millie. As duas sentaram no sofá e a câmera foi direcionada a Phoebe primeiro.

-Então, Millie querida, já faz um bom tempo que você não aparece por aqui. Está mais linda do que nunca. -Ela disse sorrindo, avaliando Millie dos pés a cabeça.

Houve um corte na câmera e mostrou Millie sorrindo de forma tímida e acenando para a platéia que voltou a gritar. O microfone minúsculo perto de sua boca oscilou e ouvi o barulho quase inaudível de quando ela suspirou, parecendo aliviada.

-Obrigada Phoebs, é um prazer estar de volta, também.

-Recentemente todos ficaram sabendo do que aconteceu com você quando suas fotos vazaram. O mundo parou naquele dia e houve muita repercussão, obviamente, como você se sentiu quando isso aconteceu?

Millie desviou um pouco o olhar, mas logo em seguida abriu um sorrisinho. A platéia toda ficou em silêncio.

-Bem, no início fiquei surpresa por que nunca imaginei que aconteceria algo assim comigo, por isso decidimos que eu precisava de um tempo longe de tudo isso e também precisávamos encontrar o culpado.

Phoebe concordou com a cabeça.

Millie falar "decidimos" era algo já pensado, era óbvio que ela nunca diria que foi praticamente forçada a se isolar na casa de David.

-Imagino o quão terrível deve ter sido. Ainda não descobriram o culpado e isso é realmente um absurdo. -Phoebe ponderou. -Dias depois que você desapareceu da internet, foi publicado um vídeo no YouTube onde você se pronunciou pela primeira vez, o que te inspirou a fazer isso? Falar daquela forma tão concisa e determinada?

A câmera voltou para Millie em um ângulo mais distante e enquanto ela falava o nosso vídeo era reproduzido no telão detrás sem som.

-Na verdade eu já queria me pronunciar antes, não fiz isso por que realmente precisava de um tempo e não sabia quais palavras usaria para falar, aliás houveram comentários nocivos e assustadores sobre mim. O vídeo foi feito num momento em que eu já não aguentava mais ouvir aquilo tudo calada e eu simplesmente gravei sem script, falei o que me veio a cabeça no momento.

Millie respondeu virando a cabeça para conferir as imagens do vídeo passando na tela. Me perguntei se naquele momento ela lembrou de mim.

-Você não deve saber ainda, mas seu vídeo inspirou milhares de mulheres na Internet a fazerem a mesma coisa. Elas estão falando sobre temas referentes ao linchamento virtual, assédio, objetificação feminina e liberdade sexual. Temos algumas imagens que vamos liberar em primeira mão. -Phoebe disse e Millie a encarou como se realmente não soubesse daquilo.

A imagem do estúdio foi substituída por um compilado de vídeos caseiros e de repente mulheres de todo o mundo começaram a falar. Todas elas arrumadas usando batom vermelho no mesmo tom do que Millie usara no vídeo que fizemos. Embaixo mostrava o nome e a nacionalidade de cada uma delas e caramba.. elas eram de tantos lugares que perdi a conta.

As mulheres falavam com a mesma coragem que Millie, algumas contando experiências próprias, outras apenas defendendo mulheres no geral. Meu coração se encheu de orgulho e a cada palavra dita minha pele se arrepiava mais.

Quando o vídeo a acabou a imagem do estúdio retornou e o som dos aplausos era quase insurdecedor. A platéia estava de pé e Millie estava chocada com lágrimas nos olhos.

-Eu realmente não fazia ideia disso. -Ela falou usando um dedo para limpar abaixo dos olhos.

Phoebe que também aplaudia parou e disse:

-Você abriu os olhos de todo mundo em relação a isso, Millie. Todos estamos muito orgulhosos.

-Eu agradeço muito. Saber que não estou sozinha nessa luta realmente é incrível. -Millie respondeu sorrindo.

As palmas foram diminuindo e o telão voltou a reproduzir apenas fotos de Millie.

-Saindo um pouco desse âmbito. Na mesma repercutiu uma foto que deixou todo mundo sem fôlego do momento em que você voltou para casa. Estão especulando se esse rapaz é seu novo namorado.

De novo as imagens do telão sumiram e de repente eu estava lá numa foto capturada no dia que fomos embora. Meu rosto estava borrado artificialmente assim como o de Rose que me puxava para dentro de casa, mas meu braço estava estendido e o de Millie também tentando encontrar o meu enquanto David a arrastava para o carro.

Engoli em seco e quando a imagem voltou pro estúdio percebi que Millie fez a mesma coisa depois virou a cabeça para frente, desviando o olhar.

-Então Millie, pode nos dizer se esse rapaz de fato roubou o seu coração? -Phoebe voltou a perguntar.

Eu quis revirar os olhos, porém meu corpo ficou tenso e meus olhos se fixaram no rosto de Millie que agora estava completamente inexpressivo.

-Não. Ele não é meu namorado. -Ela disse apenas isso, seguido de uma risadinha, como se a idéia fosse ridícula.

Phoebe franziu o cenho e sorriu desconsertada.

-A imagem é tão bonita, pareceu que vocês estavam lutando para ficar próximos um do outro.

Millie anuiu com a cabeça e ficou mais séria. A foto sumiu da tela.

-Foi um momento difícil. Eu estava de férias e fui obrigada a voltar para casa por que descobriram onde eu estava, naquele momento ficamos sem reação e isso foi um ato reflexo. O cara da foto é um amigo, nada mais do que isso.

Cada palavra foi dita sem emoção e Millie cruzou as pernas parecendo avontade com elas. Eu sei que poderia ter sido tudo ensaiado, mas não contive o ar de frustração que assolou minha mente.

Phoebe fez uma pausa e sorriu depois.

-Entendi. Bem, agora as pessoas já podem parar de falar sobre isso. -Ela se virou para a câmera. -A Millie continua solteira e livre.

-E sem interesse nenhum de me envolver com alguém agora. -Millie completou e as duas começaram a rir.

Em seguida Phoebe começou a falar sobre o filme, e ao citar Louis as duas falaram com empolgação, Millie disse que eram apenas amigos, porém com bem mais carinho na palavra do que quando falou sobre mim. 

Eu já estava cansado de ouvir aquilo e por mais que uma parte minha quisesse apenas olha-la, era insuportável ao mesmo tempo. Desliguei a tevê e respirei fundo para voltar a me concentrar no trabalho que tinha.

Millie fez o que tinha de fazer, que era acabar com o falatório e desmentir a história de que estávamos juntos, então eu não deveria me sentir mal por isso. O problema era que me sentia. Sim. Ouvi-la falar de mim com tanta indiferença foi pior do que não vê-la por três dias inteiros.

Balancei a cabeça e me sentei de volta no baquinho. O silêncio da oficina me abraçou friamente deixando somente o barulho de peças batendo ecoando pelo ambiente.

Depois de um tempo o motor de um carro rugiu do lado de fora da rua e isso chamou minha atenção especialmente quando o motor começou a engasgar parando de funcionar.

Levantei e limpei o suor do rosto com o pano que estava preso no meu cinto e fui ver o que estava acontecendo.

Havia um impressionante Mustang branco parado com o pisca ligado e a porta do lado oposto se abriu, revelando saltos altos pretos e uma voz familiar que praguejava tentando fazer o carro voltar a funcionar.

Aquela voz. Não. Era impossível.

Fiquei parado em frente a porta da oficina sem conseguir me mover até que ela deu a volta no carro e naquele momento eu desejei nunca ter saído lá de dentro. 

-

Millie.

Eu estava nervosa. Sair de carro sozinha era um desafio que eu raramente encarava, porém eu tinha que fazer, senão nunca saberia por que Finn não tinha me procurado.

Estava ciente de que soltar o cabo do carro de propósito era algo que beirava a loucura e o desespero e mesmo assim depois de fazer uma breve pesquisa em um site sobre automotiva foi fácil encontrar exatamente o que eu precisava. Deixei o cabo apenas encaixado no lugar ameaçando se romper se eu desse uma freada brusca. Se isso acontecesse antes de chegar até a oficina dele eu estaria com problemas, mas consegui desviar no trânsito e parei somente no endereço que roubei de David.

Quando o carro finalmente morreu eu desci preparada para um show de encenação que havia planejado competentemente durante boas horas. Falei palavrões e desci do carro tentando conter o tremor em minhas pernas. Como eu imaginei, Finn estava parado na frente da oficina e sua expressão de choque foi exatamente como eu imaginei que seria. Fiz esforço para parecer tão surpresa quanto ele e até mesmo franzi o cenho fingindo.

Embora por fora eu soubesse disfarçar, por dentro tudo em mim começou a se revirar, dar saltos e se contorcer. Ele estava tão bonito, mais até do que eu me lembrava. Suas típicas roupas gastas e o boné que mal continha os cabelos era algo que eu senti saudade e também raiva por que ele não me ligou como achei que faria.

-Millie... O que está fazendo aqui? -Finn disse quando se recuperou do estupor e seu rosto se fechou em uma carranca.

Ele olhou de um lado para o outro na rua vazia, como se estivesse preocupado com alguma coisa. Eu olhei também como um ato reflexo me dando conta do perigo em que estava nos metendo, mas sacudi a cabeça e voltei a encara-lo.

-Não sabia que você morava aqui. -Menti.

Nossa distância era tanta que meu corpo implorava por uma breve proximidade, porém permaneci fixa parada no outro lado do carro.

Finn bufou, provavelmente sem engolir a minha história e cruzou os braços de forma irredutível. Por que ele estava tão zangado? Eu é quem deveria estar!

-Será que você pode me ajudar? O carro simplesmente parou. -Tentei de novo, dessa vez mostrando um pouco mais de impaciência.

Ouvimos o barulho de alguém abrindo a porta de casa e Finn ficou nitidamente nervoso.

-Entre. Agora. -Exigiu ele entredentes e esticou a mão para pegar a chave do carro.

Meus dedos tremeram quando eu entreguei e então corri para dentro da oficina aberta.

Havia um carro lá dentro. Um velho, com pintura descascada e o ambiente era bem simples com um cheiro típico de gasolina e coisas enferrujadas.

Finn demorou cerca de cinco minutos para empurrar meu carro até colocá-lo lá dentro e eu me encostei em uma das estantes carregadas de óleo e utensílios para carros. Meu Mustang era um contraste gritante com a oficina e eu quase ri da minha ideia ridícula, porém a vontade passou quando Finn bateu com a porta de ferro e deu a volta nos dois veículos se aproximando de mim furioso.

-Você só pode ter pedido o juízo! Se alguém tivesse te visto aqui? -Ele ralhou, mas sua voz estava contida na garganta.

Eu arregalei os olhos de surpresa e então rebati

-Não fiz isso de propósito, eu já disse! E ninguém me viu.

-Ninguem viu ainda. -Ele disse se virando para conferir o meu carro.

-E qual o problema de me verem? Eu sei lidar com meus fãs. -Dei de ombros.

Ele levantou a cabeça como se eu não soubesse do que estava falando e soltou o ar com força dos pulmões.

-Você talvez, mas eu não sei. Tem ideia de tudo o que aconteceu comigo depois que aquelas fotos ridículas sairam na internet? Tem pessoas me perseguindo, perseguindo meus pais e vigiando minha casa. Sem contar que eu não consegui arranjar nenhuma vaga para estágio.

Engoli em seco sendo consumida pela culpa. David comentou que um fotógrafo foi até a casa de Finn tentar falar com ele, mas não disse nada sobre todo o resto. Meus ombros caíram e eu me arrependi instantanemente de ter feito aquilo.

-Me desculpa. Eu não sabia. -Fui andando até ele. Os dois carros parados deixavam os espaços vazios muito curtos então ficamos praticamente na frente um do outro.

Finn ficou tenso com minha súbita aproximação e ele se encostou em meu carro tentando alargar nossa distância. Havia um vinco em sua testa e seus lábios estavam fechados em uma linha fina.

Mordi o lábio e cruzei os braços.

-Eu desmenti tudo na entrevista ontem, foi ao ar hoje, você não assistiu? -Perguntei tentando aliviar a tensão.

Finn cerrou as sobrancelhas, parecendo ainda mais chateado.

-Ah eu vi. -Ele riu de repente sem humor. -Você deixou bem claro que não temos nada, e também deixou claro que não quer se envolver com ninguém.

Sua voz estava firme e ele desviou o olhar. Eu balancei a cabeça tentando compreender aquele comportamento.

-Finn, eu passei minha vida toda aprendendo o que dizer e o que não dizer em entrevistas. Saber quando mentir e quando dizer a verdade...

-Você parecia bem confortável para alguém que estava mentindo. -Ele me interrompeu.

Eu me afastei.

-Você me ouviu? Eu disse o que precisava dizer para proteger você! -Contive minha voz, mas ainda assim saiu como um grito.

Finn olhou novamente para o lado de fora, ainda que estivessemos presos com a porta fechada. Depois ele voltou a me encarar e balaçou a cabeça como se quisesse se livrar dos pensamentos.

-É...você está certa. Agora você e o Louis...

-Ah, não. Para. -Foi minha vez de interromper. -Você está sendo ridículo agora.

Eu sabia que iríamos discutir, mas nunca pensei que ele jogaria isso contra mim. Foi uma péssima ideia ter vindo. Suspirei e me encostei na parede subitamente cansada.

Finn mudou de assunto.

-Vou ver o que houve com o seu carro, quando terminar tenha cuidado para ninguém ver você quando estiver indo embora.

Ele enfatizou a palavra "embora" como se estivesse ansioso para isso acontecer. Lagrimas estúpidas queimaram em meus olhos, assim como insistiram em cair nos últimos dias. E isso era terrível para mim. Nunca chorei por ninguém antes e agora cada palavra que ele dizia me cortava ao meio.

-Voce não me ligou. -Soltei depois de respirar fundo para conter minhas lágrimas.

Finn estava abrindo o capô do carro e parou por alguns segundos.

-Eu não podia fazer isso.

-Por que?

Ele maneou a cabeça e virou de costas para mim. Através da blusa xadrez eu podia ver seus músicos contraindo e relaxando com a respiração.

-Do que adiantaria? Não podemos ficar juntos.

-Você achou que podíamos quando estávamos em Tobermory. O que foi que mudou?

-Você foi embora. -Ele virou novamente para me encarar e pela primeira vez no dia pude ver o pouco da dor que ele demonstrou ao me ver partir.

-Eu não fui embora por que eu quis, você sabe disso. -Me aproximei dele novamente.

-Eu sei, mas também percebi que era o que deveria acontecer, francamente, como íamos manter isso aqui fora? Ficamos juntos e foi bom, mas acabou. -Sua voz nem se quer tremeu.

Eu regredi o tanto que tinha avançado, meu rosto esquentou como se ele tivesse me dado um soco, se bem que um soco doeria bem menos.

-Eu achei que você fosse diferente das outras pessoas. -Fui caminhando para trás com a visão turva. -Quer dizer, você conseguiu e o que queria e depois decide que acabou sem me dizer nada.

Minhas costas bateram na parede e foi o empurrão que eu precisava para que uma lágrima caísse. Eu cobri com a mão, mas não tão rápido para que ele não visse.

-Ei, ei, ei, o que você quer dizer com isso? -Finn falou indo de encontro a mim.

-Não é óbvio? Você queria transar comigo.

Os olhos de Finn se alarmaram e ele avançou o que faltava para me encurralar contra a parede. Suas mãos ficaram ao lado da minha cabeça e mesmo com os saltos ele ainda era bons centímetros maior que eu. Sua mandíbula ficou tensa e nossas respirações eram a mesma.

-Nunca mais diga isso. -Ele falou entredentes, me olhando com angústia. -Eu queria, era óbvio que sim, mas nunca foi só isso.

Eu desviei a cabeça olhando para seu braço estendido.

-Então por que não me ligou? Eu esperei.

Ele segurou meu queixo com os dedos para me fazer encara-lo. Seus olhos desceram até meus lábios e voltaram rapidamente para meus olhos.

-Eu queria ter ligado. Só eu sei o quanto eu queria. -Ele disse com um tom mais baixo e sua voz tremeu. -Mas tem algo sobre mim que você não sabe.

Juntei as sobrancelhas.

-Então me conte. -Pedi. -Se isso impede você de ficar comigo, eu preciso saber.

Finn balançou a cabeça e fechou os olhos.

-Eu não posso. Você vai me odiar se souber, por que eu me odeio por isso.

Era a outra mulher. Eu tinha certeza. Algo sobre ela sempre o deixou perturbado e eu precisava mais do que nunca descobrir do que se tratava. Ele não ia me contar, no entanto.

-Você me magoou Finn. Me fez pensar que eu tinha feito algo errado, o mínimo que você pode me dizer agora é a verdade.

Ele suspirou e abriu os olhos de novo. Eu vi que ele queria me dizer, que estava em uma luta interna entre o certo e o errado. Seja lá o que essa mulher tenha feito eu a odiava cada dez mais por fazer isso com ele. De qualquer forma entendi que Finn precisava de tempo para me explicar e  mesmo que eu não quisesse tinha que respeitar sua decisão.

Eu encostei sua testa na minha e agarrei os lados de sua camisa para traze-lo para mais perto. Finn tentou resistir de novo deixando os pés presos no chão, mas com um pouco mais de esforço consegui me aproximar e encostar os lábios em seu queixo.

-Você pode pensar sobre isso. Não precisa ser agora, mas nunca mais diga que não podemos ficar juntos sem nem tentar. -Eu sussurrei contra sua pele, começando a trilhar meus beijos do queixo ate a linha do maxilar.

A boca de Finn estava próxima do meu ouvido e eu escutei quando seus lábios se abriram para a respiração passar.

-Me desculpe. Eu não queria ter feito nada disso. -Ele sussurrou.

-Esta tudo bem. Me beije.

Eu levantei a cabeça e ele hesitou só por um segundo depois segurou meu rosto e me beijou. Eu entrei em estado de completa euforia por dentro ao mesmo tempo que me sentia derreter. Eu estive contando os dias para beija-lo de novo e a saudade de fazer aquilo me fez sofrer, porém eu ia perdoa-lo, por que não era culpa dele, era culpa dela. Sempre ela.

Sua língua entrou na minha boca e encontrou a minha, morna e úmida. Eu envolvi meus braços em seu pescoço e Finn me pressionou ainda mais contra a parede deixando uma perna entre minhas coxas.

Logo em seguida ele largou meus lábios devagar e me olhou nos olhos. Seu peito subia e descia com a respiração errada.

-Você me desculpa? -Perguntou como se a dúvida estivesse corroendo seus pensamentos.

Eu sorri.

-Sim, mas eu preciso que me prometa que vai pensar num jeito de me falar o que está acontecendo. Eu preciso disso.

Ele inclinou a cabeça e enfiou o rosto em meu pescoço para sorver meu perfume.

-Eu vou tentar, Millie. Juro que vou tentar, mas eu preciso de tempo. -Ele disse me abraçando, os lábios tremiam contra minha pele.

Meu Deus. Ele estava destruído por dentro. Só naquele momento eu consegui perceber a dimensão do sofrimento interno pelo qual ele estava passando. O abracei de volta, o apertando contra mim.

-Eu entendo. Vou te dar esse tempo. Confio em você.

Nós ficamos abraçados pelo que pareceu um tempão. Ele agarrado em minha cintura e eu enrolando mechas de seus cachos com os dedos. Depois disso Finn levantou a cabeça e sorriu, contornando meus lábios com o dedo.

-Eu vi a entrevista e você foi demais. Fiquei orgulhoso mais uma vez.

Eu senti algo quente por dentro e retribui o sorriso.

-Achei que tivesse odiado pelo que eu falei.

Ele encostou a boca na minha devagar.

-Você fez aquilo por mim, foi idiotice minha e também ciúmes.

Eu sorri de novo.

-Ah é? Então você tem ciúmes? -Provoquei mordendo de leve o seu lábio inferior.

Finn suspirou.

-Sim. Tenho um pouco.

Dizendo aquilo ele me agarrou novamente e me beijou. Ouvimos no mesmo instante o barulho do portão da garagem se abrindo e a luz do sol invadiu a oficina escura. Finn me largou depressa e se enfiou na minha frente como se quisesse me proteger.

-Finn, querido achei que... -A voz da mulher parou de falar quando aparentemente nos viu.

-Mãe! O que você quer? -Finn disse ainda sem sair  da minha frente.

Ouvi o barulho de saltos se movendo e o som de uma risada baixinha.

-Oh querido, pare, não precisa esconder a Sophia de mim.

Sophia? Quem diabos é Sophia?

Soltei a camisa de Finn e dei um passo para o lado encarando a mãe dele. Ela era baixa e usava roupas em um tom só de bege, seus cabelos escuros estavam presos em um rabo de cavalo no alto da cabeça e seu rosto ficou petrificado ao me ver.

-Oi, eu sou...

-Millie, meu Deus, você... Você é Millie Bobby Brown de verdade! -Ela abriu a boca em um sorriso largo quando me interrompeu e seus olhos brilharam.

Finn soltou o ar com força e se encostou a parede enquanto sua mãe me olhava como se eu fosse um pedaço de ouro maciço. Eu sorri, de repente ficando tímida, aliás, ela pensava que eu era outra.

-Oh Jesus. Eu pensei que você fosse a Sophia, não sabia que estava por aqui. -Ela disse usando a mão para tampar a boca ainda em choque.

Eu torci a boca de desagrado, porém disfarcei em seguida.

-Certo mãe, você precisa de alguma coisa? -Finn falou impaciente.

-Não. Eu só vim chamar você para almoçar. -Ela respondeu ainda sem tirar os olhos de mim. -Caramba, não acredito que você está mesmo aqui.

-Desculpe.. eu só tive um problema com meu carro mas já estou indo embora. -Falei procurando em algum lugar as chaves.

-Não, imagina, você pode ficar. -Ela disse se recompondo. -Me perdoe a afobação, é que eu sou uma grande fã, acabei de assistir você no programa de Phoebe Dayse. Meu nome é Mary, Mary Wolfhard.

Ela estendeu a mão para mim com um sorriso no rosto. Eu retribui apertando seus dedos me sentindo mais confortável.

-Eu não sabia. O Finn nunca me disse nada.

Mary lançou um olhar atravessado para o filho.

-Eu imagino que seja por isso que ele não trouxe o autógrafo que eu pedi.

Finn deu de ombros e eu balancei a cabeça.

-Não seja por isso, eu posso dar um para a senhora agora, e quem sabe uma foto, também. -Ofereci sorrindo.

Mary me olhou como se tivesse ganhando na loteria.

-Ah, eu adoraria. E por favor me chame de Mary.

-Ok, você pode dar um autógrafo, mas acho melhor não tirarem fotos. -Finn falou recusando a ideia.

-Isso é besteira, não vou mostrar a ninguém. Só quero guardar. -Mary interviu.

-Eu também não vejo problema. -Falei já sacando meu celular para fora da bolsa.

Mary deu uma olhada ao redor e anuiu com a cabeça.

-Estou tão desarrumada. -Falou olhando para as próprias roupas depois deu uma olhada na garagem. -Por que você não vem até nossa casa? Estou com almoço pronto e você pode ficar para conversarmos um pouco.

-Mãe, por favor, não exagera. -Finn pegou suavemente no braço de Mary fazendo-a dar um passo para trás.

Ela olhou para mim e concordou.

-Sim, que ideia a minha. Desculpe, você não deve aceitar convites de pessoas que nem conhece.

-Na verdade eu tenho tempo livre agora e gostaria muito de poder lhe dar a foto, do jeito que a senhora.. do jeito que você quiser. Faço questão.

Mary encarou o filho como se quisesse uma permissão, Finn por sua vez me olhou como se eu estivesse ficando maluca. Talvez eu estivesse, mas Mary gostava de mim e ela era simpática demais para que eu recusasse. Além disso, estar na casa deles poderia ser bom, assim eu me sentiria mais próxima.

-Esta vendo, Finn? A Millie não acha um problema. -Mary argumentou, enquanto Finn ficou apenas calado.

-Sim, eu gostaria de ir.

-Esta bem. Mãe, vai na frente ok? Eu levo a Millie daqui a pouco.

Mary sorriu vitoriosa e beijou a bochecha de Finn.

-Eu vou por a mesa, não demorem. -Ela disse em seguida saiu deixando a porta fechada.

Finn soltou o ar que estava prendendo e limpou a testa suada. Eu não contive a graça daquele momento e comecei a rir.

-Você acha isso engraçado? -Ele perguntou sério.

-Ué, lógico! -Coloquei uma mão na barriga. Mas Finn não sorriu -Pare, isso foi engraçado vai, admita. Por que não me contou que sua mãe era minha fã?

-Por que eu contaria? Ela é louca, nem tem idade para ser tão alucinada por você.

-O que isso tem a ver? Ela gosta de mim e eu quero retribuir o carinho. Só isso.

Finn colocou as mãos na cintura, pensativo.

-Eu disse... tem pessoas me seguindo, se verem você entrando na minha casa vai ser o maior espetáculo.

-Ninguém vai ver. -Tirei a minha bolsa de dentro do carro e puxei de lá um casaco. O mesmo casaco que Rose havia me emprestado quando sai da casa de David, e o coloquei por cima da camisa.

-O que está fazendo? -Finn perguntou sem entender.

-Olha, vamos no seu carro e eu vou cobrir minha cabeça. Ninguém vai me reconhecer, tá bem? Relaxa.

Finn se aproximou e eu achei que ele fosse me repreender, porém suas mãos foram para meus cabelos e ele os colocou para dentro do capuz em seguida cobriu minha cabeça e fechou o zíper até em cima.

-Você tem cada ideia. -Falou dando uma conferida dos pés a cabeça em mim, mas dessa vez estava sorrindo.

Fiquei na ponta dos pés e lhe dei um beijinho rápido na boca.

Ele segurou minha mão e fomos andando até a parte de fora da oficina. Antes de chegarmos na picape, Finn olhou de um lado para o outro e então abriu a porta para que eu entrasse.

-Tem que ser rápido. Ainda tenho que olhar o seu carro. -Ele disse ligando o motor.

Eu ri, me encolhendo atrás do vidro.

-Não tem nada com meu carro. Soltei um dos cabos, é só colocar de novo.

Finn virou a cabeça para mim.

-Millie, você é maluca? Que cabo foi esse?

-Nao sei. Um vermelho, com a ponta amarela, eu acho.

O rosto de Finn ficou branco e ele torceu o volante.

-É o cabo da ignição. Sabe o que você fez? Se ele tivesse parado no meio de uma avenida movimentada? Alguém poderia ter batido em você, ou coisa pior.

-Desculpa. O que você queria que eu fizesse? Tinha que vir atrás de você de alguma forma e não queria aparecer do nada sem uma desculpa. -Respondi me sentindo ridícula por ter feito isso.

Ele relaxou a postura e balançou a cabeça.

-Só... Não faça mais isso, por favor.

-Tudo bem.

Eu levei minha mão até a dele que estava em cima do controle de marchas e então Finn sorriu. A casa dele ficava bem perto da oficina e em cerca de cinco minutos nós paramos em frente a ela.

Era uma casa simples, de fachada branca com um pequeno jardim na frente. Haviam banquinhos de madeira na varanda e um penduricalho na porta. Antes de sairmos do carro Finn olhou de novo ao longo de toda a rua e então me fitou.

-Minha casa é bem simples, na verdade. Não espere muita coisa. -Ele disse envergonhado.

-Eu não me importo e só pela frente eu adorei. Sua mãe tem bom gosto.

Ele sorriu e então pegou na maçaneta para abrir a porta, mas eu o parei antes, segurando seu braço.

-Finn... -Engoli em seco quando ele me olhou. -Quem é Sophia?

-Ah.. sim. -Ele desviou o olhar para frente. -É uma amiga. Quer dizer, não sei mais se somos amigos agora. Lembra que eu te falei que tinha alguém que gostava de mim e que eu não sabia se devia dizer que não a correspondia? Então... Era ela.

Ao mesmo tempo que fiquei aliviada uma parte de mim ainda permanecia tensa. Essa Sophia não era a mulher por quem ele era apaixonado o que deixava minha curiosidade e meu medo ainda mais elevados.

Saímos do carro as pressas, Finn me puxando pela mão até que estávamos dentro da casa.

Não havia mais ninguém na rua e depois do que eu disse na tevê achava difícil que ainda fossem atrás dele, porém Finn ainda parecia preocupado.

O interior da casa era ainda mais simples e reconfortante. O hall de entrada tinha um pequeno suporte para pendurar os casacos e o chão era de madeira escura. Dava para ver a inclinação da escada para o andar de cima e haviam duas aberturas laterais, uma que ia para um corredor e a outra que dava para a sala de estar.

Havia uma tevê pendurada na parede, um sofá grande e várias fotos de família em cima de uma mesinha no centro da sala. Os móveis eram claros e combinavam com os tons pastéis das paredes.

Passamos por ela e entramos no corredor, quando chegamos na sala de jantar Finn soltou minha mão e eu dei de cara com um homem alto, que me olhava com cara de poucos amigos.

-Pai..hum. -Finn pigarreou encarando o homem. -Essa é a Millie.

O homem continuou me encarando por trás dos óculos e eu não soube se deveria sorrir ou não. Era bem óbvio que ele já me conhecia e também, que não gostava de mim.

-Prazer. Sou Eric. -Ele disse abrindo um sorriso forçado e estendeu a mão.

Eu apertei receosa. O homem tinha quase o dobro da minha altura e eu soube de cara a quem Finn tinha puxado. Ele também tinha uma barba grossa e cheia que lhe dava uma aparecia seria.

-Prazer. -Minha voz era quase um sussurro.

-Millie, querida. Sente-se, já estou servindo a comida. -A voz simpática de Mary quebrou o silêncio

Eu sorri ao sentir o clima pesado ir se desfazendo aos poucos conforme Finn sentou ao meu lado na mesa. Eric sentou-se também logo depois ainda me estudando com o olhar que fiz questão de não retrubuir.

Mary tinha trocado de roupa, dessa vez optando por um vestido franzido na barra e preso na cintura. Ela ficava muito bem com a peça branca.

Fiz meu prato quando todos já tinham se servido e o cheiro do risoto de camarão apeteceu rapidamente meu paladar.

-Nossa. Está muito bom. -Eu falei depois de engolir um pouco da comida.

Mary sorriu orgulhosa.

-Obrigada. Eu adoro cozinhar, só não tenho muito tempo para isso as vezes. Nós trabalhamos na UV, então sempre almoçamos por lá.

-Hum, sim. O Finn disse que são professores. Vocês ensinam o que? -Perguntei olhando de Mary para Eric, porém esse último nem mesmo levantou a cabeça.

Era inacreditável o quanto Finn se parecia com ele.

-Eu ensino literatura, o Eric é professor de cálculo. -Mary respondeu limpando a boca com o guardanapo. -Eu também conheço sua mãe, quer dizer, acompanho alguns desfiles pela tv e seu pai é muito engraçado. Adoramos o seriado, não é querido?

Eric mastigou e assentiu com a cabeça.

-Ah sim. Minha mãe está planejando o próximo desfile de Toronto em comemoração ao aniversário dela. Posso conseguir entradas para vocês, se quiser.

Mary parou de mastigar e seus olhos mais uma vez brilharam.

-Oh, seria incrível. Obrigada. -Ela disse apertando minha mão sobre a mesa.

-Você nem pode viajar mãe, daqui a pouco as aulas retornam. -Finn disse.

Eric limpou a garganta.

-O Finn tem razão. Você não tem tempo para viajar, querida.

-Tenho direito a uma folga na semana, além disso posso pagar alguem para me subistuir um dia. Não vai fazer mal. -Mary rebateu com classe depois olhou para mim.

-E você Millie, quando começa a turnê do filme?

Engoli um pouco do suco e limpei a boca.

-Em novembro. Vamos visitar sete países.

Senti Finn ficar um pouco tenso ao meu lado, então emendei:

-Mas vai ser rápido, coisa de um mês e estarei de volta.

-Você deve ser uma garota muito ocupada. -A voz de Eric soou estranha do outro lado da mesa, eu olhei para ele. -Me pergunto como você veio parar nesse lado da cidade e seu carro foi dar problema bem aqui justo na frente da oficina do Finn.

-E-eu...vim visitar uma amiga. Foi sorte que o carro tenha parado por perto, senão teria sido um problemão.

-Uma "amiga", entendi. -Ele respondeu cético. -Quem é? Vai ver nós conhecemos.

-Pai. -Finn disse em tom de aviso e sua mão escorregou por baixo da mesa para pegar a minha.

-So estou perguntando. -Ele maneou a cabeça. -Vocês não acham essa história estranha? Não tem amiga nenhuma, não é?

Seu tom acusatório fez com que minha mente se esvaziasse impedindo que eu formulasse uma desculpa melhor. Mary veio para a minha salvação.

-Eric, meu bem. Já chega. Isso não é realmente importante. -Ela sorriu docemente, mas suas palavras estavam carregadas de repreensão.

Eric riu.

-Mary, pelo amor de Deus, pare de tentar não ver o que está acontecendo. O Finn está se envolvendo com ela e se prejudicando por causa disso. Eu não lhe contei mas toda noite alguém vinha aqui para tentar falar com ele, e o Finn está sem emprego até agora.

Mary se recostou na cadeira, sem palavras para rebater. Eu larguei o garfo no prato com um estalo barulhento. Finn de repente soltou minha mão e levantou da cadeira. Seus passos eram rápidos e ele saiu em direção ao que eu achei que fosse a cozinha. Houve um barulho de uma gaveta sendo aberta e fechada, logo depois ele voltou com uma embalagem de papel alumínio.

Ele puxou nossos pratos e os cobriu.

-Finn, o que está fazendo? -Mary perguntou tentando para-lo.

Finn me passou dois pares de talheres e segurou minha mão.

-Vamos comer no meu quarto.

Eu lancei um olhar para Mary, como se estivesse pedindo desculpas e então o segui em direção as escadas deixando os dois lá embaixo. Não ouvi mais nada por que eles ficaram em silêncio.

Passamos por um corredor estreito e Finn abriu uma das portas. Era um quarto grande onde havia uma mesa de computador, uma cama de casal, um armário e uma estante para a Tv, o único foco de luz era de um aquário grande que ficava acoplado na parede e a luz azul deixava o ambiente todo azulado.

Finn acendeu a luz pelo interruptor e fechou a porta largando minha mão. Foi até a cama e deixou nossos pratos em cima.

-Ei...

-Me desculpe. -Ele se virou e veio na minha direção passando as mãos por meus braços. -Meu pai anda meio estressado pelo que vinha acontecendo, só isso.

-Acho que ele tem um pouco de razão. -Meus ombros murcharam. -Quer dizer, eu sabia que tinha sido difícil, mas não fazia ideia de que era tanto assim.

-Não. Olha, tudo isso passou. Você já desfez a história, vão esquecer. -Disse ele me dando um sorriso.

Porém não adiantou.

-Mas você não conseguiu o estágio.

-Ainda não. Mas se eu não conseguir por conta própria, o pessoal da faculdade tem a obrigação de me colocar em algum programa. Estou planejando me mudar também, isso não vai ser problema.

Eu me soltei dele e fui em direção da cama. As palavras de Eric ainda estavam girando em minha cabeça esperando serem digeridas completamente.

-Você vai se mudar? Pelo que ele disse? -Perguntei temendo a resposta.

Finn exalou o ar e se abaixou na minha frente, ficando de joelhos.

-Tambem, mas não foi por causa do que ele disse hoje exatamente. Eu já tinha esse plano, não faz mais nenhum sentido morar aqui.

Comecei a me perguntar por que Finn não fez isso antes. É no mínimo estranho que alguém de vinte e dois anos ainda more com os pais e eu só percebi naquele momento.

-Certo. -Engoli em seco. -Se você não se incomoda acho melhor eu ir embora, seu pai não me quer aqui.

-Mas eu quero. Minha mãe também. -Ele passou as mãos por meus cabelos como se tivesse tentando provar alguma coisa.

Eu olhei ao redor do quarto, pensando que seria incrível poder ficar e passar a tarde com ele ali, mas Eric era dono da casa e eu nunca me sentiria confortável naquela situação. Finn disse, quando eu não respondi:

-Eu entendo. Vou tomar um banho para te levar até a oficina, você me espera?

-Como vamos fazer isso? -Perguntei de repente e Finn juntou as sobrancelhas sendo pego de surpresa.

-Fazer o que?

-Isso. -Balancei as mãos entre ele e eu. -Nao posso vir aqui e acho difícil que você queira ir até minha casa.

As perguntas estavam queimando em minha cabeça. Eu queria ficar com ele, mas até ali eu ainda não tinha pensado em como faríamos aquilo. Finn suspirou e colocou a mão sobre o meu joelho.

-Eu vou me mudar, como eu disse, acho que não deve demorar muito. Pelo menos vai ser antes de você viajar.

-Você pode ir na minha casa, eu vou conversar com meus pais e...

-Ei... Não. Você não vai dizer nada. -Ele me interrompeu levantando e saindo de perto.

-Como assim? Você quer ficar comigo escondido? Até entendo não divulgarmos nada mas eu tenho que falar para meus pais, temos um código de confiança, conto tudo para eles, para o David também.

Os olhos de Finn quase saltaram para fora das órbitas.

-O David não. -Disse pontuando cada palavra.

-O que tem demais?

-Ele não quer que a gente fique juntos. -Finn disse se virando de costas.

Eu me encolhi na cama.

-Você contou a ele?

-Sim, e ele disse que não podemos.

-Que ridículo, o que o David tem a ver com a nossa vida?

-Ele é meu tio e é seu acessor. -Ele olhou para mim novamente, como se esse argumento fosse suficiente.

-Sim, mas não é por isso que ele tem o poder de decidir nada. A não ser que... -Fiz uma pausa quando algo passou por minha mente. -Ele sabe de alguma coisa que eu não sei?

Finn passou as mãos pelo rosto demonstrando que eu estava certa, depois afastou os pratos e sentou ao meu lado.

-So... Me deixa falar com ele antes, tá bem? Eu tenho que fazer isso.

Eu hesitei, sem saber se deveria concordar ou não. Tudo estava começando a ficar estranho demais, e agora eu tinha certeza de que David sabia de tudo.

-Pode ser. -Concordei com relutância. -Desculpa por insistir, mas eu não gosto de mentir para eles. Quer dizer, já tenho que mentir para todo mundo, meus pais e o David são as únicas pessoas que eu posso confiar.

Ele passou o braço ao redor dos meus ombros e beijou minha cabeça.

-Eu sei. Vamos contar, com calma.

Eu ergui o queixo para fita-lo.

-Isso quer dizer que estamos... Namorando? -As palavras escorregaram de um jeito divertido da minha boca.

Finn sorriu, tímido.

-Eu achei que depois que você correu o risco de morrer com o carro só para vir até aqui atrás de mim já era um pedido.

Oh meu deus.

-Sim, talvez. Nunca pedi ninguém em namoro antes. -Minhas bochechas queimaram e eu fitei minhas mãos no colo.

-E você se incomodaria se um Nerd desajeitado e não-famoso te pedisse, de repente?

Voltei a encara-lo, mal acreditando naquilo. Finn sabia que minha última experiência com um namoro tinha sido horrível, e senti que ele queria fazer diferente, por mim.

-Eu adoraria. -O sorriso mal cabia em minha boca.

Ele sorriu e então se aprumou no chão outra vez ficando de joelhos. Meus pulmões pediram ar quando prendi a respiração, meu coração deu voltas e minhas mãos tremeram quando ele as levou para os lábios.

-Jesus.. nunca fiz isso em toda minha vida. -Ele respirou fundo. -Você quer namorar comigo, Millie Bobby Brown?

-Só Millie, e sim. Eu quero.

Agarrei as lapelas da camisa dele e o puxei para mim. Finn sorriu sobre minha boca e então me beijou, mergulhando a língua avidamente em minha boca fazendo com que eu derretesse de afeto e desejo ao mesmo tempo.

Meu corpo foi se inclinando para trás e Finn veio comigo. Suas mãos se enfiaram por baixo da minha blusa e eu senti suas palmas quentes em contato com a minha pele. Meu corpo estava doendo de desejo, mas então me lembrei de Eric, de que ainda estávamos na casa dele então segurei os ombros de Finn para para-lo.

-Acho melhor eu ir para casa. -Falei ofegante, esperando que ele entendesse.

Finn  beijou o meu queixo de leve.

-Sim. Vou tomar um banho, primeiro. Não demoro.

Ele saiu de cima de mim, em seguida foi até o armário, pegou um par de roupas e rumou para dentro do banheiro.

Depois que me recompus na cama, passei os olhos sobre o quarto agora mais iluminado.

Havia uma bagunça sobre a mesa do computador, nada muito ruim na verdade. Tinha um porta retrato com uma foto de Finn com Mary e outro garoto, um parecido com Finn, porém era mais alto e tinha cabelos mais lisos, presumi ser Nick, eles estavam em um parque de diversões e Finn parecia estar deslocado na foto sendo abraçado pela mãe. Eu ri e deslizei o dedo sobre seu rosto.

Ao lado da foto estava a caixa de seus óculos, uma porção de cds, um aparelho Xbox e uma pilha de controles dentro de um caixote. Havia também uma coleção de HQs, bonequinhos minúsculos da franquia de star Wars e do senhor dos anéis. Sim, ele era mesmo um nerd.

No aquário havia somente dois peixinhos dourados e fiquei durante alguns minutos parada apenas observando-os darem voltas na caixa de vidro azulada repleta de pedras artificiais e pela escultura no fundo que simulava um barco naufragado. O Aquário era emoldurado por um fino suporte de madeira e algo no canto inferior me chamou atenção, havia uma inscrição entalhada na madeira, me aproximei mais para observar as letras miúdas e li: com amor, Susan.

Ela deu o aquário de presente, era óbvio. Me perguntei quem era essa mulher, poderia ser uma tia, ou até mesmo alguma amiga, mas não acho que ninguém que não fosse muito próximo teria a ideia de presentea-lo com um aquário tão bonito.

Abaixo do aquário havia uma pequena escrivaninha com alguns papéis e livros em cima, a maioria deles eram de matemática ou revistas sobre economia provavelmente eram da faculdade. Uma pequena pontada de culpa me invadiu ao lembrar que por minha causa ele não havia conseguido o emprego, mas quando olhei um pouco mais para baixo a preocupação se dissipou.

Havia uma caixa preta e retangular escondida por dentro de alguns livros na parte aberta da escrivaninha. Meus alertas internos me imploraram para abri-la, mesmo que uma parte de mim me dissesse que era errado. Poderia não ser nada, mas havia uma pulga atrás da minha orelha e era muito óbvio que Finn estava tentando esconder a caixa.

O barulho do chuveiro ainda estava forte, demonstrando que Finn estava muito longe de acabar o banho. Fiquei de joelhos no chão e puxei a caixa do lugar tentando não fazer muito barulho. Era grande, na verdade, o bastante para caber um par de sapatos. Eu sacudi um pouco notando que ela estava lotada de alguma coisa, mas era leve e não podia ser um calçado. Estava pintada por fora com uma tinta preta e havia ranhuras nas laterais.

Respirei fundo e tirei a tampa. A princípio relaxei vendo que eram um monte de papéis dobrados sobre o outro, eu não ia ler então apenas passei os dedos entre as folhas reparando que estavam em falso. Tirei os papéis da caixa e o que vi embaixo quase me fez cair para trás. Haviam flores mortas e secas, um colar feminino com um pingente de flor de lótus, uma presilha de cabelo com a mesma flor, embalagens vazias de bombons de chocolate, um chaveiro com um pingente de um livro e um parzinho de óculos redondos pendurados. Virei ele ao contrario e também havia uma escrita sobre o metal. "Eu e você, juntos para sempre, com amor Susan."

Bílis subiu em minha garganta. Era ela. Com certeza a mulher por quem ele era apaixonado era essa Susan.

Joguei o chaveiro de volta na caixa e comecei a respirar rapidamente tentando compreender por que ele ainda guardava tudo aquilo. Procurei por uma foto, mas não havia nenhuma, apenas as folhas. Abri a primeira delas e notei que eram cartas, dezenas de cartas.

A drenalina não me permitiu ler tudo completamente e minha mente se fixou apenas em palavras aleatórias escritas nelas.

"eu te amo tanto" 

"não paro de pensar em você." 

"Volte para mim." 

 "Não tem sentido viver sem você." 

"Suh, eu quero morrer."

Larguei tudo lá dentro da caixa e a empurrei para dentro do cômodo de novo levantando do chão atônita com tudo o que vi. Meus olhos estavam ardendo e minha boca seca.

Essa mulher tinha o destruído completamente e deixado um buraco profundo em seu coração. Nunca tive dimensão do quanto uma pessoa poderia amar outra e certamente Finn a amou o suficiente para preferir morrer a estar sem ela, e o pior, ainda poderia ama-la.

Com minha cabeça tão atordoada com as informações não me dei conta quando a porta do banheiro se abriu e Finn saiu de lá enxugando os cabelos com uma toalha, já vestido com outra roupa. Ele me olhou de forma preocupada e eu ignorei meus instintos de fugir dali, fugir dele e corri para seus braços. Agora eu tinha ainda mais certeza de que, eu tinha que salva-lo dela.


Notas Finais


Caramba. Quando ela descobrir...

Até breve ♥️


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