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História The Change- Fillie - Capítulo 18


Escrita por: MabelSousa

Notas do Autor


Oioiiii


Com base na minha última publicação anúncio que sim, terá segunda parte dívida 🥰🥰 ouvi um amém? Kkkkk

Chegamos a 100 fav 🤯 amo vcs. ♥️♥️♥️

Boa leitura ♥️

Capítulo 19 - Capítulo 18


Finn

-Você não está bem, Suh. Fala comigo, me conta o que houve. -Eu insisti, vendo a mulher que eu amava com um olhar vazio encarando o teto de sua casa também vazia.

Fazia alguns dias que Marvin não vinha em casa e desde que ele havia viajado, Susan estava perdida em pensamentos, mal conseguindo juntar as palavras para falar comigo. 

Ela suspirou e mexeu uma pequena mecha de seu cabelo loiro com o dedo.

-Não é nada, Finn. Você é jovem demais para entender essas coisas.

Eu franzi o cenho e tentei me aproximar dela no sofá. Não gostava quando Susan me tratava como uma criança, eu já entendia muita coisa e entre elas, sabia identificar cada traço de seu rosto e o que eu via ali, era que ela estava absolutamente triste.

-Ja tenho quase dezesseis anos. Eu posso lidar com qualquer coisa. -Falei, impulsionando minha mão desenfreada para segurar a dela. Susan estava fria mas sua palma logo esquentou com meu contato.

Ela umedeceu os lábios ressecados e mais uma vez me perdi com aquela visão imaginando como seria beija-la. Eu nunca pediria aquilo, mas morreria para toca-la.

-Eu não consigo engravidar. -Ela disse, apertando minha mão ao seu lado. -O Marvin não está contente com isso.

Eu fiquei sem reação no primeiro momento, ela parecia abatida e havia  impotência exalando de cada poro de sua pele. Apesar da raiva que senti ao constatar que ela queria ter um filho de seu marido, a compaixão me venceu. Falei a primeira coisa que veio em minha mente preocupada.

-Você está doente?

Susan me encarou com seus grandes olhos azuis e deu uma risada, sem achar graça.

-Não querido. Não estou. Só estou tendo dificuldades. -Ela fechou os olhos. -Meu tempo está correndo, Finn. Tenho trinta e um anos e não posso esperar para sempre. Nem o Marvin. Ele quer muito um filho.

Ela pareceu mais do que triste, pareceu despedaçada com aquela sequência de fatos. Eu não conseguia nem sequer imaginar Marvin tocando nela e os dois tendo um filho seria demais para meu coração aceitar. No fundo eu tinha esperança que um dia ela se separasse e nesse dia eu estaria lá, mas algo a prendia com ele mesmo que o casamento não fosse feliz.

-Você está otima. -Eu disse sorrindo para ela. -Ainda tem muito tempo. Você vai conseguir.

Aquilo partiu minha alma. Mas meu amor por Susan era tão intenso que eu aceitaria que ela tivesse o filho de outro homem, se era mesmo o seu sonho.

Susan me deu uma sugestão de sorriso e sua mão foi para o meu cabelo onde ela afagou com seus dedos macios.

-O que seria de mim sem você em? -Ela disse e se inclinou para frente me dando um beijo no rosto, mais precisamente no canto da boca.

Eu estremeci. Ela nunca havia feito aquilo. Tive que me conter para não implorar que ela fosse um pouco mais para o lado e me beijasse de uma vez. Ela me soltou rápido demais dando uma risadinha mais feliz  e percebi que meu rosto estava quente.

-Você ficou vermelho. -Ela disse rindo e deu um empurrãozinho em meu ombro.

-Eu... Eu não. -Gaguejei levantando do sofá mortificado com a vergonha que me bateu. -Pare com isso. 

Meu coração estava acelerado. Susan maneou a cabeça como se eu fosse ingênuo e então disse, ficando mais séria:

-Não conte nada disso para sua mãe, por favor.

Eu dei de ombros, com indiferença.

-Por que eu falaria isso pra ela?

Era ridículo pensar em contar qualquer coisa a minha mãe. Ela nunca saberia que eu estava apaixonado por sua amiga, ou me mataria.

Susan pareceu relaxar mas então ficou tensa novamente quando ouvimos o som de um carro parar do lado de fora da casa. Ela arregalou os olhos e levantou.

-Finn, rápido. É o Marvin, vá embora. -Ela disse aflita, começando a me empurrar até a saída dos fundos.

Eu fiquei estranhamente calmo, Marvin não me dava medo e a única razão pela qual me escondia era por que eu sabia que ela sim tinha medo dele. Eu não sabia o por que ainda mas iria descobrir.

-Vou poder vir aqui amanhã de novo? -Eu perguntei segurando seu braço quando atravessei a porta..

Susan estava apavorada, tremendo e olhava para o interior de casa como se quem estivesse chegando fosse o próprio diabo e não seu marido.

-Sim. Sim. Agora vá. Por favor. Não deixe ninguém ver você. -Ela insistiu tentando se soltar de mim.

Ouvimos o barulho da porta da frente se abrir e Susan praticamente ficou sem cor. Eu a puxei rapidamente e a abracei beijando seus cabelos com aroma de baunilha.

-Fique bem. Eu vou voltar depois. -Prometi e então sai correndo por trás dos arbustos do jardim para chegar em casa.

Nos primeiros segundos em que me afastei, fez-se muito silêncio no interior da casa. Eu me perguntei se Marvin estava de bom humor, se ele havia trazido flores para Susan como pedido de desculpas por ter ficado tanto tempo longe dela. Se ele beijaria sua boca e absorveria o cheiro de seus cabelos por causa da saudade.

Mesmo que aquele pensamento me corroesse de ciúmes eu queria que Susan ficasse feliz e bem. Que fosse amada. Mas eu sabia que não aconteceria nada daquilo. Além do meu amor por ela, fui corrompido por um novo tipo de sentimento. Inveja. Eu invejava Marvin. Invejava por que ele tinha tudo o que eu não tinha. Um emprego bom, idade suficiente para ser marido de alguém e principalmente, ele tinha Susan e eu sabia que ela nunca seria minha.

--

Acordei quando um solavanco rompeu meu peito. Estava suando e meu coração trepidava pelo efeito daquela lembrança que me veio como um sonho. Fazia muito tempo que eu não tinha nenhum pensamento sobre Susan e meu passado, mas naquela noite me veio uma enxurrada deles.

Eu havia pensado demais sobre a menina no supermercado, em como ela era a cópia fiel de Susan. Era sua filha. Parte de mim tinha certeza disso, mas a outra relutava em acreditar naquilo. Se eu acreditasse, teria que aceitar o fato de que Susan havia voltado, que estava por perto e que nunca havia me procurado.

Depois de recuperar o fôlego mandei uma mensagem para a única pessoa além de mim que poderia tentar me ajudar a compreender o que estava acontecendo. David pareceu preocupado quando eu disse que precisava que ele viesse em minha casa e mandou uma resposta rápida falando que chegava em quinze minutos.

Usei aquele tempo para tomar banho e comer alguma coisa, mas meu paladar não conseguia absorver o gosto da comida. Tudo amargava, formava um nó na minha garganta que eu me forçava a engolir.

Susan voltou.

Aquela sentença ficava pulsando na minha cabeça como um martelo e cada vez eu ficava mais fraco, mais vazio, como se tudo tivesse voltado a ser como era antes. Como quando Susan me deixou para fugir, o sentimento da frustração era terrível, mas nada comparado com o imenso habismo que se expandia dentro de mim.

Eu havia dito a Millie que o que eu tinha sentido por Susan não era amor, as vezes eu tinha quase certeza disso, mas seja lá qual fosse o sentimento eu ainda sentia suas garras perfurando meu peito igual a uma doença incurável, você se trata e vive bem, mas ela sempre ressurge, as vezes pior.

Nem mesmo pensar em Millie estava me ajudando a combater aquilo. Eu fechava meus olhos e tentava reviver nossos momentos, tentava recordar seus olhos castanhos, seu sorriso e o sabor de sua boca. Mas tudo o que eu enxergava era escuridão, o vazio que eu sempre via antes que ela surgisse em minha vida.

A campainha tocou expulsando os pensamentos da minha cabeça e eu corri para atender a porta.

-Você disse que queria falar comigo. -David disse com sua típica voz preocupada disfarçada de apenas curiosidade e entrou no meu apartamento.

Ele estava parecendo apressado mexendo no relógio do pulso como se a qualquer momento tivesse que dar o fora. Eu respirei, tentando controlar meus pensamentos para saber como diria aquilo a ele. Era difícil especialmente quando David era a única pessoa que poderia me ajudar.

-Senta. -Eu disse apontando para o sofá. -Você quer uma água?

David ajeitou a gola do suéter grosso que usava e negou.

-Não. Gostaria que você fosse direto ao assunto. Estou um pouco em cima....

-Acho que a Susan voltou. -Soltei de uma vez, antes mesmo que ele pudesse terminar de falar.

David fez uma expressão de surpresa, mas bem menos do que eu esperava.

-Por que? Ela veio atrás de você? -Ele perguntou displicente, como se estivéssemos falando sobre qualquer outra pessoa.

-Não. -Eu levantei uma sobrancelha, desconfiado. -Você não parece surpreso. Sabia de alguma coisa?

David limpou a garganta e balançou a cabeça.

-Não. Quer dizer, isso sempre passou pela minha cabeça como uma possibilidade. -Ele fez uma pausa. -Um dia ela voltaria, nós dois sabemos disso.

Eu soltei o ar, infelizmente concordando com ele. Senti minhas pernas inquietas e então me sentei no sofá.

-Não tenho certeza, mas eu vi uma garota num supermercado um dia desses,  ela era idêntica a Susan. Acho que pode ser filha dela.

David levantou as duas sobrancelhas com nítido interesse e pegou um lugar na minha frente, ele esfregou os lábios um no outro como se estivesse pensando, depois disse:

-É muito pouco para presumir que seja filha dela. Existem pessoas iguais no mundo, poderia ser uma coincidência.

Eu balancei a cabeça.

-Não. Acho que não. A impressão foi muito forte. -Falei me lembrando daqueles olhos. -Não tive tempo de descobrir, mas acho que era filha dela sim.

Ao me lembrar da cena no supermercado com o segurança me bateu um frio na espinha que me fez perder o fôlego. David ficou apenas me observando como se estivesse tentando juntar os pensamentos. Ele estava calmo, calmo demais.

-De qualquer forma, ela teria te procurado se tivesse voltado. Você nunca pensou nisso?

-Claro que pensei. Mas não é tão simples, ela pode estar com medo, se estiver com o Marvin... Eu não sei.

Mal conseguia concluir aquele pensamento.

-Você parece perturbado. Achei que esse assunto não te afetasse tanto assim.

Eu engoli em seco, como se David tivesse me dado um flagrante. Tentei me acomodar melhor no sofá e dei de ombros.

-Isso me assusta, só isso. -Respondi indiferente. -Se ela voltou, com certeza não foi por mim.

-E isso te deixa triste? -Ele insistiu, mantendo aquelas sobrancelhas erguidas como um inquisitor.

Para ser sincero eu não sabia a resposta para aquela pergunta. Estava tudo confuso, o nó no meu peito aumentava cada vez que eu tentava me aprofundar nos pensamentos.

-Nem precisa responder. -David disse quando fiquei calado.

Ele passou as mãos nos cabelos, resignado e soltou o ar com esforço.

-Isso não vai acabar bem. Seja lá o que você sentia por essa mulher ainda está aí.

Eu me inclinei para frente, uma súbita raiva subiu para minha têmpora e fez minha visão ficar turva.

-Não. Não sinto. -Neguei com veemência. -Estou preocupado e confuso mas não tem nada a ver com amor ou o que quer que seja. Eu já superei isso.

David bufou, descrente.

-Vamos ver se isso vai acontecer quando a ver. Está perto. Você sabe.

-Não sei de nada. Não quero que isso aconteça. Eu estou bem assim. -Abaixei a cabeça incapaz de manter o olhar enquanto David me fitava como se eu fosse um criminoso.

-Bem... De qualquer forma, não podemos impedir que isso aconteça. Se ela te procurar você vai ter que enfrentar isso. -Ele disse de forma ríspida, como um aviso. -So espero que a Millie não saia machucada no final. Eu conheço o efeito que essa história pode ter na vida de uma pessoa e não é bom.

Se fosse possível, o buraco em meu peito havia aumentado e eu afundei dentro do estofado. David fazia com que as coisas fossem muito piores e eu não estava preparado para lidar com tudo aquilo ao mesmo tempo.

-Ela não pode saber. Nunca. -Eu afirmei, mas saiu mais como uma ameaça. -Você não vai contar nada.

David mexeu com o maxilar, incomodado.

-Voce está me envolvendo demais nisso. Não quero fazer um jogo duplo.

-Como é?

-Exatamente. Você sempre pede que eu esconda coisas, até aí tudo bem, mas se ela perguntar vou ter que mentir e eu não gosto disso. A Millie é importante pra mim.

-Ela também é pra mim, Cacete! -Gritei depois de ouvir aquela insinuação. Meus membros estavam doloridos e meus ombros caíram em seguida. -Ela é... Tudo.

Não havia mais nenhuma outra definição. O simples fato de pensar que Millie pudesse descobrir sobre a provável volta de Susan me deixou mil vezes mais angustiado. David levantou e conferiu mais uma vez o relógio do pulso.

-Eu tenho que ir. Me avise se descobrir alguma coisa. Não posso fazer nada a respeito.

-David. -O chamei antes que ele me desse as costas. -Por que está agindo assim? Como se não se importasse?

Ele abaixou os olhos e limpou um suor imaginário da testa.

-Eu já fiz tudo o que era possível para te salvar disso. Mandei a Susan ir embora, fiquei do seu lado quando quis ficar com a Millie e agora estou concordando em mentir para ela. -Ele ponderou. -Não posso fazer mais do que isso. Agora é com você.

Ouvir aquilo foi como um soco no estômago. Tanto por que tive certeza que não podia contar com ele, quanto por que sabia que era verdade. Só dependia de mim, mas eu, no entanto não fazia ideia do que fazer. Procurá-la estava fora de questão. Esperar que ela aparecesse também.

Quando David saiu praticamente me arrastei para o trabalho. Minha mente estava um caos e nada do que eu fazia estava saindo como eu queria. Os relatórios me entediaram, os números dançavam na minha frente e eu não conseguia fazer absolutamente nada de produtivo.

Sophia tentou puxar conversa comigo, mas eu agi como nos últimos dias. Respondi amenidades e não consegui manter um olhar com ela. Estava sendo um babaca, principalmente depois do que tinha acontecido em sua festa a dois dias, mas eu não conseguia agir diferente.

Quando fui liberado, no carro de volta para casa fiz a única coisa que sabia que me acalmaria e dirigi até minha oficina. Tudo estava cheirando a mofo, pó e gasolina mas havia um carro inteiro para verificar, então aquilo me faria esquecer.

Quinze minutos depois de ter feito somente um reparo no escapamento eu percebi que aquilo também era inútil e larguei as peças no chão. Só tinha ficado tão pertubado daquela forma quando Susan tinha sumido e lembro bem de ter ficado dias trancado no quarto sem dizer uma só palavra pra alguém fingindo estar doente para meus pais.

Agora que Susan aparentemente havia voltado, eu me encontrava em situação semelhante. Se eu pudesse bater com a cabeça e esquecer, talvez seria uma opção menos dolorosa do que reviver aqueles dias.

Sai da bolha dos pensamentos quando meu telefone tocou. Era um número desconhecido, não salvo na minha agenda. Já fazia um tempo desde que as pessoas pararam de me ligar principalmente depois que Millie negou nosso envolvimento. Uma sensação de pânico correu pelo meu corpo e eu gelei. Mesmo assim atendi.

-Finn?? -Era a voz de Millie do outro lado.

Eu quase fiquei aliviado, mas então percebi que ela estava chorando e me alarmei.

-O que foi?

-Nada... Só preciso ver você. Está em casa? -Ela perguntou nitidamente esfregando o nariz com a mão.

Levantei com um pulo e peguei as chaves da picape.

-Não, mas já estou indo. O que houve? Você está bem?

Me chutei mentalmente quando fiz aquela pergunta. Era claro que ela não estava.

-Eu vou pedir pro Samuel me levar. Te vejo daqui a alguns minutos. -Ela respondeu desviando da minha pergunta em seguida desligou.

Se o trânsito tivesse me permitido eu teria chegado em menos tempo, mas eram quatro da tarde e Vancouver nunca parava. Deixei o carro no estacionamento e subi correndo quando finalmente cheguei em casa. A porta não estava mais trancada e eu soube que Millie já estava lá dentro. Fiquei parado alguns minutos depois que a abri e vi ela deitada em cima do meu sofá, encolhida agarrando os joelhos como se quisesse se proteger de tudo ao seu redor.

Eu ia reclamar por ela ter deixado a porta aberta, mas aquilo sumiu da minha cabeça quando eu a vi. Meu coração afundou e eu tive certeza de que aquela visão tinha sido a pior coisa que eu já tinha visto em toda na minha vida. Superava qualquer coisa. Ela precisava de mim.

--

Millie.

Desabei no sofá do apartamento de Finn por que lá era o único lugar aonde eu podia colocar para fora tudo o que eu estava sentindo e ele era o único que poderia me salvar de mim. Achava que estava ficando maluca. Obcecada pelo medo de que aquela mulher estava de volta e depois da minha briga com Lexi, as coisas só se acumularam dentro de mim.

David me procurou, me disse que não conseguiu nada com a agência que Leslie tinha lhe passado, o que significava que eu não iria descobrir se Susan era uma das funcionárias. Tive pesadelos com a mulher da festa, sendo Susan ou não, ela passou a me assombrar diariamente. 

Havia tanto pavor em mim sobre a volta dela que eu mesma não conseguia entender. Finn dizia que me amava, que nada mudaria se ela voltasse, mas eu não conseguia relaxar, não conseguia tirar da cabeça que ela havia fotografado meu beijo com Jacob, que ela estava por perto esperando o momento certo para tirá-lo de mim.

Seja lá qual fosse seu joguinho psicológico, estava acabando com as minhas forças e com minha sanidade mental. Eu havia passado por um escândalo onde o mundo inteiro havia me visto nua, mas nada se comparava com aquele medo.

A porta se abriu no exato momento em que as lágrimas ressurgiram e eu encarei Finn parado no meio da sala. Ele estava ofegante depois de subir correndo as escadas e seus olhos não saiam de mim.

Eu ia lutar contra os soluços para chamá-lo para perto quando ele correu e se jogou no chão ao meu lado. Seus braços me puxaram e em segundos eu estava desmoronando em seu ombro. Ele tinha cheiro de seu perfume habitual e havia um toque discreto de borracha em sua roupa e eu soube que ele estava na oficina. Aquele era meu cheiro preferido no mundo. E isso por si só era bizarro. Eu era rica. Famosa. Conhecia o melhor que a vida poderia me proporcionar. Mas a única coisa que me fazia feliz ultimamente era um garoto nerd, simples que tinha cheiro de motor de carro.

Finn mexeu nos meus cabelos e por um tempo não disse nada, me deixando apenas chorar em silêncio. Havia um buraco no meu peito, um pequeno e estreito, mas que se romperia se um dia ele me deixasse. Eu não queria nunca que isso acontecesse.

-Shhh.. -Finn sussurrou enquanto beijava minha cabeça. -Me diga o que houve?

Eu não podia. Esse era o problema. Se eu contasse sobre meu medo de perde-lo ele perguntaria o por que e eu jurei a mim mesma que nunca deixaria que aquela mulher chegasse perto dele. Se ela queria brincar comigo eu a enfrentaria sozinha.

-Nada.. -Eu disse resfolegando o rosto em sua camisa para dispersar as lágrimas. -Eu bringuei com minha mãe. Com a Lexi também. Foi isso.

Finn segurou meu rosto com as mãos e limpou o que havia de lagrimas. Eu não resisti e derreti com seu toque, fechando os olhos.

-Por que brigaram? -Ele perguntou com a voz cheia de preocupação.

-Por causa do jantar que minha mãe vai dar. Eu não queria que ela chamasse a Lexi e eu tive que retirar o convite. -Me lembrei da reação dela e estremeci. -Enfim, não acabou muito bem.

Finn respirou errado, eu senti por que seus dedos tremeram e ele soltou meu rosto para sentar ao meu lado.

-Foi por minha causa. Não foi? -Perguntou erguendo uma sobrancelha.

-A Lexi estragaria tudo. Quero que você se sinta bem no jantar. -Eu respondi, não havia por que mentir.

Ele coçou os olhos por baixo dos óculos e se recostou no sofá.

-Talvez não seja uma boa ideia, eu ir. Não quero arranjar problemas com a sua família.

-Você vai, sim. -Ponderei firme. -Agora você tem que ir mais do que nunca. Minha mãe é assim, ela gosta de me irritar. A Lexi vai entender depois. As coisas vão se ajeitar.

-Por que você quer tanto que eu vá? -Finn perguntou com um vinco na testa.

Ele não entendia.

-É a primeira vez que eu namoro de verdade com alguém. -Falei mudando minha cabeça para olhar para frente. -Quero que conheça meus pais, não vou esconder você para sempre.

Finn segurou minha mão e apertou suavemente.

-Tudo bem. Eu vou.

Aquilo me trouxe alívio, mas eu olhei para nossas mãos unidas e vi que  os punhos dele estavam vermelhos, com casquinhas de feridas apontando para cima bem onde seus ossos se juntavam. Ergui sua mão com horror e um calafrio me percorreu.

-Meu Deus... O que foi isso? Você se machucou?

Finn tentou soltar a mão mas eu a mantive próxima ainda sem acreditar no que estava vendo.

-Não foi nada. Eu saí para o aniversário de uma amiga e um cara estava tentando arranjar problema com ela. Eu dei um soco nele.

Aquelas marcas significavam bem mais que apenas um soco. Encarei ele com ceticismo e Finn suspirou.

-Não foi nada. -Repetiu. -Foi uma briga idiota.

-O que ele fez com ela?

-Ele queria força-la a dançar. Puxou seu braço. Eu fiquei com raiva e perdi o controle.

Aquilo soava tão inacreditável que eu nem absorvi a desculpa. Finn não perdia a cabeça facilmente, ele estava me escondendo alguma coisa.

-Foi isso mesmo? -Perguntei alisando com o dedo a borda dos machucados.

Finn acompanhou o movimento com os olhos baixos.

-Ele falou besteira de você.

Perdi o fôlego e uma risada sem sentido saiu dos meus lábios. Se ele não estivesse machucado eu quase me sentiria bem ao ouvir aquilo.

-Finn... As pessoas fazem isso o tempo todo. Você não pode sair na mão com qualquer um por causa de mim. O que ele disse?

Vi as bochechas de Finn atingirem um tom estranho de vermelho, depois oscilou para rosa e ele apertou o punho bom.

-Disse... Insinuou que eu estava transando com você.

Rocei os lábios um no outro prendendo mais uma risada. Finn juntou as sobrancelhas e ficou emburrado com minha atitude, eu ajeitei os óculos em seu rosto quando desceram por causa do vinco em sua testa.

-E isso não é verdade? -Falei de mansinho, com a voz rouca.

Finn balançou a cabeça.

-Bem, sim, mas ele usou outras palavras. Eu não gostei.

-Ta bem. Entendi. -Falei o interrompendo quando imaginei a cena em minha mente.

Fiquei encarando aquele garoto por um bom tempo, vendo as suas sobrancelhas escuras juntas em uma carranca e imaginando como ele era perfeito. Não só por ter me defendido em especial, mas por que Finn simplesmente faria aquilo por qualquer garota.

 Esse pensamento me levou a outro e divaguei até pensar nele tentando também proteger Susan de seu marido. Em como ele quis salva-la. Por um momento eu deixei que minha raiva por ela se esvaisse um pouco e só pensei em como deveria ter sido difícil, insuportável. Finn ficou igualmente calado, como se estivesse pensando naquilo também. Me perguntei se ele se culpava, mas a resposta era muito clara. Talvez fosse a única coisa que ele sentisse em relação a ela. Eu queria afasta-lo.

Me aproximei dele e afastei seus braços me sentando confortavelmente em seu colo, ainda havia um vinco de preocupação em sua testa mas ele pareceu relaxar quando passei meus dedos por dentro de seus cabelos macios e encostei minha boca em seus lábios.

-Você é perfeito. Eu disse que não tinha nenhum defeito. -Sussurrei em seu ouvido e deixei um beijo molhado na parte debaixo de sua orelha.

Finn estremeceu e fechou as mãos em minhas costas, como se quisesse me segurar para sempre. Soltando o ar ele respondeu:

-Não diga isso. -Ele murmurou. -Eu tenho muitos.

Eu ri. E beijei seu pescoço devagar até que toda a tensão de seu corpo passasse.

-Eu te amo. Obrigada por sempre me defender.

Ele ficou um tempo em silêncio e recostou a cabeça em meu ombro. Finn parecia cansado de alguma coisa, como se seu dia tivesse sido insuportável e aquele fosse seu único momento de paz. Apesar de não ter respondido dessa vez eu estava ciente de que ele me amava, pois em meus braços eu via que suas preocupações sumiam, seus demônios não lhe atormentavam. Eu era a única que poderia afastar-lhe da dor e eu estava disposta a fazer aquilo quantas vezes mais fosse preciso até curá-lo.

Nós fomos para o quarto em seguida e adormecemos um ao lado do outro mesmo que fosse cedo. Nem sabia o quanto eu também precisava daquele sossego e do quanto o colchão duro não me incomodou nenhum pouco.

Em algum momento, quando já era tarde da noite despertei e senti a cama vazia ao meu lado. Um rastro de luz entrava pelo vão da porta aberta e eu levantei devagar até chegar  nela.

Ouvi Finn suspirar enquanto falava no telefone com alguém mas não saí de dentro do quarto, de onde eu estava conseguia ver somente a sombra de sua cabeça sentada no sofá. Ele levou as mãos aos cabelos.

-Você tem que ir David. Procure-a. Eu não posso fazer isso .

Eu gelei. Meu sangue parou de circular instantanemente. Era sobre Susan que ele estava falando, eu tinha certeza. Ele sabia sobre ela? Houve um momento de silêncio onde eu podia apenas ouvir meu coração pulsar dentro do meu peito. Ele voltou a falar em seguida.

-Eu sei. Não queria que isso estivesse acontecendo também, mas não há o que eu possa fazer. Preciso da sua ajuda. -Ele disse num sussurro audivel.

Uma parte de mim ficou aliviada por saber que Finn não queria encontra-la mas outra parte me fez tremer. Se ele precisava dizer aquilo, significava que Susan de alguma forma tinha feito contato com ele, e ele não me contou nada. O que amenizou minha raiva foi saber que eu também não havia contado que eu desconfiava que ela estava na festa de Aidan. Sua voz me tirou mais uma vez dos pensamentos. Finn levantou do sofá e deu um giro nos calcanhares.

-Obrigado. De verdade. -Ele disse relaxando os ombros. -Por favor, não conte nada a Millie, ela não pode saber.

Eu fui andando para trás vendo que ele começou a vir na direção do quarto depois que desligou e então me enfiei na cama novamente tentando recuperar a posição em que eu estava antes para não levantar suspeitas. Meu coração martelava no peito, sabia que era errado o que nós dois estávamos fazendo, envolvendo David naquele assunto e fazendo-o fazer um jogo duplo de confiança, mas pelo menos estávamos de acordo que Susan não poderia aparecer e isso foi a única razão pela qual eu deixei as coisas como estavam.

Quando Finn voltou para a cama, ele me puxou para seu peito e eu senti seu coração se acalmar enquanto eu fingia estar dormindo. Ele beijou minha testa então sussurrou:

-Eu amo você.

-

Depois que sai do apartamento de Finn, fiz David me encontrar em casa. Havia passado a noite em claro tentando compreender tudo o que tinha acontecido e aquela preocupação só crescia dentro de mim. Eu precisava saber o que Finn sabia sobre Susan e David era a única pessoa que poderia me falar.

Esperei por ele no lado de fora da casa, usando a desculpa de aproveitar a piscina pela manhã e me deitei impaciente em cima da espreguiçadeira usando apenas um biquíni azul. A empregada havia me trazido um drink sem álcool e eu bebericava vez ou outra apenas para ocupar minha cabeça com o líquido gelado.

A porta de vidro do jardim se abriu e então David entrou, ele parecia cansado, usando um conjunto de calça e camisa de correr e haviam manchas de suor espalhadas em seu peito. Ele levantou um pouco os cabelos úmidos  para cima e então se sentou ao meu lado, na outra cadeira.

-O que era tão importante? Você me fez perder meia hora de esteira. -Ele disse, roubando o drink da minha mao e sugou o líquido pelo canudo.

Eu fiz uma cara de nojo, junto com surpresa.

-Tenho certeza que você odiou não ter que fazer esteira, não é? -Falei com ironia.

David deu de ombros e apenas apreciou o sabor da bebida. Eu não queria simplesmente jogar minha ideia na lata, era arriscado e errado em muitas instâncias e eu tinha quase certeza que ele não concordaria comigo, mas não fazia muito meu feitio enrolar, então fui direto ao assunto.

-O que o Finn te falou sobre a Susan?

David parou com a sucção e me observou com as duas sobrancelhas unidas.

-Do que você está falando? -Ele quis disfarçar, mas eu insisti me endireitando na cadeira.

-Eu já sei. Ouvi a conversa de vocês ontem a noite. Ele pediu para você procurá-la e...

-Millie... -David me interrompeu sinalizando com as mãos para que eu fosse com calma. -Você não deveria ficar ouvindo escondido.

Respirei fundo e depois suspirei. Precisava que David me entendesse e não me repreendesse. Eu já estava me sentindo culpada demais sem ajuda.

-Eu sei, mas agora já é tarde. Foi sem querer. -Falei aquilo mais para mim mesma do que para ele.

David deixou o copo na grama e sentou-se mais perto de mim.

-Ele não a encontrou. -Disse com firmeza. -Mas disse que viu uma garota parecida com a Susan, acha que pode ser a filha dela.

Aquilo me pegou de surpresa e eu levei um tempo para processar a informação. Se fosse verdade, ela estava cada vez mais perto.

-O que você acha? -Perguntei sentindo um frio esquisito na barriga.

-Não sei. Pode ser. É muita pouca informação para definir alguma coisa. -Ele fez uma pausa e olhou para os lados se certificando que ninguém nos ouviria. -Acho que vocês dois estão ficando paranóicos sem motivo.

Por um momento eu quis concordar com ele, mas eu só poderia falar por mim. Se Finn estava preocupado, com certeza tinha seus motivos. Eu não estava disposta a descobrir quais eram eles.

-Você disse que vai procura-la. -Eu disse, me lembrando da conversa que os dois tiveram.

David revirou os olhos.

-Eu não quero me envolver nessa história, mas acabado sempre nela. Vocês dois sabem de coisas, mas não conversam entre si, não me sinto bem fazendo nada disso.

-Eu sei David. -Suspirei, igualmente cansada. -Mas agora que eu descobri você pode me ajudar e ajudar ele também. 

David deu uma risada de impaciência.

-É? E qual é a sua grande idéia?

-Voce precisa dizer a ele que descobriu que ela não voltou, que falou com alguém que confirmou que a Susan continua morando em outro lugar. Isso vai me dar tempo.

David balançou a cabeça nervosamente.

-Ou ou ou. Calma aí. -Usou a mão para me parar. -Você quer que eu minta? E aliás, você quer tempo para que?

Eu me movi e me sentei na mesma cadeira em que ele estava.

-Quero tempo para encontrá-la eu mesma. Quero vê-la com meus próprios olhos, descobrir por que ela voltou e fazê-la ir embora de onde quer que ela tenha vindo. -Hesitei, vendo a incredulidade nos olhos de David. -Se o Finn estiver desconfiado, tudo vai vir por água a baixo e os dois vão acabar se encontrando. Eu não posso deixar isso acontecer. Ele precisa ter certeza que ela não está por perto.

-Millie, você tem noção do que está me pedindo? -David se afastou de mim. -Eu realmente não entendo por que você tem essa preocupação tão grande. A Susan foi uma coisa do passado, o Finn mesmo deixou claro que nada vai mudar se ela aparecer.

Tomei um fôlego e fiz David me encarar de novo.

-Ele disse isso, mas você e eu e ele mesmo sabe que não é isso que vai acontecer. Você não viu o que eu vi naquelas cartas, você não enxerga o que eu vejo quando olho para ele com a desconfiança de que aquela mulher está a nossa volta. É terrivel. Ela vai destruir tudo.

Levei a mão ao peito onde senti o latejar se tornar constate e irregular. Em algum ponto, aquela história parecia um grande exagero e paranóia como David mesmo dizia, mas para mim não era. Para mim era real e eu não iria arriscar perder tudo.

-Ele está confuso. -David admitiu, soltando o ar com relutancia. -Talvez não seja do jeito que nós pensamos, mas ela mexe com ele, de alguma forma.

Engoli em seco deixando que a dor daquela sentença me consumisse.

-É exatamente por isso que não podemos deixar que aconteça. -Murmurei. -Mesmo que não signifique que ele ainda a ama, já parou para pensar no que ele vai sentir quando a ver? A Mary, se ela descobrir o que aconteceu...

-Não. Nem fale isso. -David me interrompeu levantando-se de vez como se fosse incapaz de relaxar. -Mas ainda não sei. Isso é jogar muito baixo, se o Finn descobrir que nós dois inventamos essa história ele nunca vai nos perdoar.

Um soco no estômago doeria menos. Eu sabia que era verdade. Finn não nos perdoaria, mas não havia nenhum outro jeito.

-Eu sei, mas tem alguma razão que está impedindo que ela apareça de uma vez. É isso que eu vou descobrir e vou fazer com que suma. Preciso de tempo David. Preciso da sua ajuda. -Cheguei perto dele e segurei suas mãos, pouco me importando que estavam suadas.

-E como você vai fazer isso? Não temos nenhuma pista de onde ela está, não sabemos de nada.

-Eu me viro. -Falei dando pouca importância aquele fato.

Susan já havia aparecido para mim outra vez. Se fosse seu plano, ela viria até mim de novo, eu só precisava estar no lugar certo, na hora certa.

David me olhou como se quisesse desvendar o que eu estava pensando, depois abaixou o olhar e suspirou.

-Vou visitá-lo mais tarde, até lá invento alguma coisa.

Eu abri um sorriso vitorioso e me aproximei para abraça-lo, mas David me parou.

-Depois disso, Millie, não tem volta. -Me alertou sério. -E eu tenho quase certeza que  não vai acabar bem.

Eu assenti, por que estava muito determinada, mas se formou um nó na minha garganta e eu quase sufoquei com ele. David notou e então me abraçou.

Ficamos daquele jeito por um bom tempo e eu deixei que meus nervos se acalmassem e voltassem a relaxar. Era uma situação de merda, mas David estava comigo e sinceramente era o certo a se fazer, pelo menos eu acreditava que sim.


Notas Finais


Aí ai essa Millie.. *eu passando pano pra ela*
Kkkkkk

Até breve ♥️


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