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História The Change- Fillie - Capítulo 24


Escrita por: MabelSousa

Notas do Autor


Preparem-se, são fortes emoções do início ao fim.

Boa leitura ♥️

Capítulo 82 - Capítulo 24


Millie  


A mansão onde passei boa parte da vida não me parece nenhum lugar que eu chamaria de casa novamente. Kelly Brown e seus esforços para deixar nossa casa sempre impecável não deixaram nada a desejar, especialmente tendo em vista o acontecimento planejado para mais tarde.

A decoração foi completamente alterada. As densas cortinas que antes enclausuravam as portas e janelas foram devidamente subistuiidas por tecidos mais finos e pálidos nos permitindo ver o que há no lado de fora do condomínio. Antes, a intenção era de nos deixar escondidos dos olhos de qualquer pessoa que passasse pela rua, agora, é nítido que minha mãe quer que todos nos vejam.

Há arranjos de flores amarelas espalhadas pela sala e por todo o jardim, incluindo o deque da piscina. Algo exagerado, no estilo de quem vai dar uma festança ao invés de apenas um simples jantar de noivado, mas, eu não esperava por menos. Não vindo dela.

Assim que chego, duas horas antes do horário previsto para o jantar, passo bons minutos olhando a casa. Imaginando como será que as coisas irão deslanchar daqui para o final da noite.

Pessoas passam aos montes carregando bebidas, comidas e mais flores para dentro da casa enquanto a horda de empregados fazem o seu melhor para deixar cada rastro de poeira do lado de fora. Parece que estou me preparando para o casamento em si ou para uma comemoração para a qual não fui convidada, sabendo que não há nada que eu possa fazer para tentar diminuir a minha apreensão.

-Ah, que bom! Você já chegou, querida! -Minha mãe fala, do topo das escadas estampando um sorriso radiante no rosto. Orgulhosa de si mesma enquanto vê o movimento na casa.

Ela adora isso. Sempre gostou de dar festas para mostrar o seu potencial de riqueza, mas desconfio que sua animação para hoje é diferente de qualquer outra, em qualquer outro dia.

-Sim, resolvi vir mais cedo. Onde a Ava está? -Pergunto quando ela desce, me  abraçando rápido claro, para que eu não amarrote seu vestido.

-Na escola ainda. Estão fazendo um projeto de ciências, o motorista vai buscá-la em meia hora, mas e você? Está gostando do que eu fiz? -Diz ela, fazendo menção para que eu olhe ao redor da casa.

-Meio exagerado, você não acha?

Tento dizer sem um tom de reprovação, mas ela ainda recebe dessa maneira..

-Não acho. Não fiz nem metade do que eu faria normalmente. Você sabe.

Confirmo com um gesto de cabeça, sabendo muito bem que poderia até ser pior de fato. Parece que o jeito menos nocivo é concordar, assim como me esforcei para aceitar o jantar, para inicio de conversa e decidi ignorar nossa última discussão para vir até aqui. Bater de frente não é uma opção e se quero que as coisas saiam minimamente bem, tenho que começar a pisar em ovos com muita cautela.

-Bem, sim. Claro. Está tudo ótimo como você fez. -Digo, abrindo um sorriso forçado.

Ela franze o cenho para mim, estranhando meu comportamento, depois se senta no sofá.

-Certo... Mas para você ter vindo mais cedo acredito que tenha um motivo, aconteceu alguma coisa? -Pergunta ela, assumindo uma postura mais séria.

-Onde o papai está? Quero conversar com vocês dois antes do jantar.

Seu cenho se traze ainda mais e ela faz um gesto chamando uma das empregadas, instruindo a chamar o meu pai que está no escritório.

Quando ele vem me dá um beijo na testa e se senta ao lado dela. Parece que como eu, ele está anestesiado, fazendo tudo conforme manda o protocolo que mentalmente planejou para não deixar a situação mais embaraçosa ainda.

-Então, o que foi, Millie? Parece que o assunto é sério? -Minha mãe chama a atenção, quando passo um tempo em silêncio.

Pego um lugar no outro sofá na frente deles e espero a empregada terminar de colocar a bandeja de chá na mesinha e sair, para poder falar.

-Preciso deixar algumas coisas claras para vocês dois. Principalmente para você, mãe. -Começo, tremendo levemente quando pego a alça da xícara.

Ela olha para meu pai perguntando silenciosamente se ele sabe o que está acontecendo, mas meu pai apenas dá de ombros e olha para mim.

-Eles desistiram do jantar, filha? -Ele pergunta, rejeitando a possibilidade de tomar o chá servido.

Como eu queria que fosse isso. Seria tão mais fácil se Finn decidisse não vir.

-Não. Eles vem sim. -Confirmo com um suspiro. -Só preciso que vocês entendam que eles não são como a gente. São pessoas normais, anônimas e não fazem idéia do que vão encontrar aqui.

-Ora, mas disso nós já sabemos. Você não precisava convocar essa reunião para nos dizer isso. -Ela fala, me repreendendo por trás de um sorriso.

-Será mãe? Porque parece que você vai receber a família Real e não.... -Me interrompo, respirando para manter a calma. -Só estou lembrando. Não quero que eles se sintam desconfortáveis aqui.

Meu pai confirma com um gesto de cabeça compreensivo.

-Eu concordo, deve ser uma grande coisa para eles vir até aqui, temos que agir com calma e o mais normal possível. -Diz ele.

Sorrio de forma agradecida e devolvo a xícara para a mesa sem tocar no chá que já embrulhou meu estômago.

-Sim, o Eric, pai do Finn é um grande fã seu. E a Mary também, mãe. Ela adora tudo o que você faz.

Ela sorri, como se quisesse dizer que isso é óbvio, mas tem a decência de não verbalizar seu pensamento.

-Bem, é mais um motivo para que isso não se torne um evento, então. -Diz meu pai, diferente dela dando um sorriso simpático.

-É o jantar de noivado da nossa filha, como isso pode não ser um evento?! -Minha mãe protesta. Deixando transparecer toda sua arrogância.

-Eu não pedi nada disso, mãe. Nem o Finn. Não podemos ter só um jantar, conversar e ir embora depois? -Peço, mas na verdade estou implorando.

Ela olha para o meu pai, depois para mim tentando decidir para quem vai direcionar sua raiva, e é claro que eu saio como vencedora da disputa.

-Esta bem. Que seja. Você tem mais alguma instrução para nos passar? Ou já posso mandar preparar a comida? -Pergunta ela, impaciente.

-Tem mais uma coisa sim. -Faço uma pausa, esperando encontrar as palavras certas. -É a coisa mais importante. A Mary e o Eric estão se divorciando...

-Ah, o Finn comentou isso quando nos encontramos, é mais uma coisa que eu já sabia. -Ela me corta, mas parece interessada em que eu continue.

Não consigo imaginar o tipo de conversa que levou Finn a contar isso, mas não é o que importa agora.

-Então... É um momento delicado para todos eles então, não podemos tocar nesse assunto de jeito nenhum.

Meu pai franze o cenho ao olhar para minha mãe e se volta para frente, com as mãos juntas sobre os joelhos.

-Esta tudo bem entre eles querida? Porque se for algo tão grave assim, acho melhor...

-É verdade, Millie. Casais se separam todos os dias. É algo comum. Porque o caso deles é tão delicado desse jeito? -Instiga ela, com uma sobrancelha erguida de interesse.

Ao menos agora tenho certeza de que Finn não contou tudo, e isso é um alívio.

-Isso não importa, mãe. O problema é que é recente e estão todos tentando lidar com isso da melhor forma possível, por esse motivo eles estão fazendo o esforço de virem juntos. Só estou pedindo para que vocês não toquem no assunto. Só isso.

Ela cruza os braços, cética. Então solta uma risada infeliz.

-Tudo bem... Eu entendo. Nem todo mundo tem a sorte de ter um casamento consolidado e seguro como o nosso, não é verdade, Rob?

Meu pai sorri e aperta seu ombro com carinho. A imagem que antes deveria me encher de orgulho da minha família, me faz ter apenas desgosto. Se meu pai ao menos imaginasse...

-É, não é, mãe? De fato nem todos tem essa sorte. O casamento de vocês é perfeito. -Não me contenho e deixo escapar.

Ela capta a ironia em minhas palavras e percebo que fica tensa. Pigarreando para limpar a garganta ela levanta.

-E eu espero que você tenha a mesma sorte. Casamento vai muito além de sentimentos, essas coisas o tempo leva. O que fica é o carinho, respeito, cumplicidade, a união. Coisas essas, mil vezes mais importantes do que impulsos apaixonados que te levam a fazer escolhas erradas e precipitadas, como...

-Querida, ela já entendeu. -Meu pai a interrompe e por um milagre ela para.

Me controlo para não rebater. Para não dizer a verdade e mostrar a ele como ela está sendo hipócrita ao me torturar dessa maneira.

-Era isso. Eu vou para o meu quarto.

Me levanto sem esperar que me respondam e corro escada a cima. Quando fecho a porta me encosto contra ela, pedindo silenciosamente que essa noite termine logo de uma vez.

As minhas coisas antigas ainda estão do mesmo jeito, no mesmo lugar em que as deixei. Arrumadas para discretamente me lembrar o quanto fui uma prisioneira dessa casa. Do controle que sempre impuseram na minha vida.

Sinto-me cada vez mais perto de acabar com essa agonia. Só morar em outro lugar nunca me trouxe esse sentimento, mas me casar e tomar conta da minha própria vida sim. São as únicas coisas que podem finalmente me trazer a paz de espírito que eu tanto preciso.

Passando algum tempo, me arrumo para o jantar. A escolha da roupa foi feita a dias atrás, mas assim que me vejo perante o espelho me arrependo do que escolhi. O vestido de seda brilhante azul clara, em questão de dias parece ter diminuido de tamanho e o tecido apertado em meu corpo me faz me sentir sufocada.

Vou para o meu closet e escolho outro vestido. Um dos que deixei para trás antes de ir embora. É um Chanel, marsala com telas sobre os braços e decote em formato de coração. A saia longa é aberta por uma fenda que mostra toda minha perna direita. Exagerado, na minha opinião, mas que tenho certeza de que minha mãe vai adorar. Muito mais do que o outro.

Faço uma maquiagem básica e deixo meus cabelos soltos, sem muito volume já que o vestido em si já vai chamar atenção demais e é o que eu menos quero para essa noite. Tendo em vista a apreensão que eu sinto, até me sinto bem e incrivelmente bonita quando termino.

Minutos depois em que me preparo para descer, alguém bate na porta do quarto. Meu coração se enche de alegria quando vejo Ava do outro lado.

-Ah que saudade! -Digo enchendo sua bochecha de beijos quando me abaixo.

Passou-se apenas algumas semanas que não a vi e mesmo nesse curto período de tempo parece que Ava cresceu demais

-Eu também, você quase nunca aparece em casa! -Ralha ela, limpando alguns resquícios do meu gloss em seu rosto.

Assisto embasbacada a forma como, de repente, ela parece a mamãe.

-Eu sei, desculpa. Ando trabalhando muito. -Digo, ajeitando a mecha de seu cabelo que escapou para fora da tiara. -O que aconteceu? Você cortou o cabelo?

Ela faz que sim e mexe a cabeça fazendo os fios mais curtos pararem na frente do rosto.

-Sim, a mamãe disse que ficava melhor para as fotos.

Me afasto, tendo uma visão mais ampla de minha irmãzinha. Os penteados elaborados foram embora, assim como os vestidos florais e os sapatos de garotinha. O que vejo agora é uma criança de nove anos com um vestido roxo exagerado e sapatilhas brilhantes. Uma miniatura do que eu fui um dia.

-Mas você gostou? Está gostando de vestir essas roupas? -Tenho que perguntar, preocupada com a forma como Ava mudou muito rápido.

Ela olha para baixo, para si mesma e hesita.

-Acho que sim. É o que a mamãe escolheu para mim.

Um misto de sentimentos me invadem. Raiva da minha mãe por deturpar a cabeça de Ava com suas vontades, raiva de mim por deixar e por fim saudade da criança que já não existe mais. Não contenho o impulso e abraço de novo.

-É verdade o que ela disse? Que estão preparando um jantar especial porque seu namorado vem nos conhecer? -Ela pergunta, me afastando de novo.

Mesmo se esforçando, percebo que ela  está descontente com essa ideia.

-Sim, é verdade. Ele já deve estar chegando.

Ava suspira e olha o interior do meu quarto.

-Então também é verdade que você vai se casar com ele. E nunca mais vai morar aqui?

A mágoa é nítida em seu tom de voz e eu presumo ser devido a ela ter ouvido muitas coisas ruins a respeito dessa afirmação. Respiro fundo e fecho a porta.

Toco a mão de Ava e levo para minha cama.

-Eu já não moro mais aqui a algum tempo, você sabe disso. -Digo, me esforçando para ser o mais transparente possível.

Ela confirma, um gesto de quem já estava esperando ouvir isso.

-Eu sei. Mas achei que você estivesse passando só um tempo fora. Mas já que vai se casar...

-Ainda que eu não fosse me casar. Eu não ia voltar, Ava. Chega uma hora na vida de todo adulto em que a gente precisa ir embora. Seguir nossa vida longe da casa dos nossos pais. Vai acontecer com você também.

Ava ri de forma sarcástica e parece ainda mais adulta.

-Eu nunca vou embora. Nao vou deixar nossos pais sozinhos.

Minha mãe já envenenou tanto a cabeça dela que Ava parece determinada ao dizer isso. É claro que sei que isso vai mudar com o tempo, aliás ela ainda é muito nova, só que eu não vou poder ficar para abrir seus olhos rápido o suficiente.

-E quando você se apaixonar? Vai querer se casar também e aí vai morar com ele aqui? -Brinco, puxando de leve um dos dedos de sua mão.

Ela sorri e puxa o meu de volta. O que carrega a aliança.

-Isso vai demorar a acontecer. Não vou me casar com a sua idade, pode ter certeza disso.

Engulo em seco, chocada com a veemência de suas palavras cheias de julgamento. Quando saí de casa, Ava me tinha como um espelho a quem ela queria sempre ser igual, hoje, ela rejeita essa possibilidade.

-Ele é legal com você? Te trata bem? -Pergunta ela quando fico em silêncio.

Consigo abrir um sorriso.

-Sim, demais. Você vai ver. Aliás a família dele toda é legal. Ele tem uma irmã também, mais nova que você, mas tenho certeza de que vocês vão se tornar boas amigas.

Quando digo isso percebo que não é verdade. Sarah está na idade de brincar e eu duvido muito que Ava ainda tenha cabeça para isso, embora devesse.

-Legal.. -Diz somente e se levanta da cama. -Quando você for embora eu posso ficar com o seu quarto? Acho que você não vai precisar mais dele e o meu closet já está lotado com minhas roupas novas.

Por alguma razão meus olhos se enchem de lágrimas quando escuto. Perdi minha irmãzinha para sempre.

-Mills? Você está bem? -Ela pergunta, se aproximando para tocar o meu ombro.

-Sim, querida. Eu só... Nada não. Você pode ficar com o meu quarto sim. Com tudo que era meu. -Digo, limpando as lágrimas com os dedos.

Ela assente sorrindo e mais uma vez olha ao redor.

-Vou fazer umas boas mudanças aqui. Vamos descer?

-Ah, não. Pode ir na frente, eu tenho que retocar o meu gloss e desço daqui a pouco.

Ela assente e assim como chegou, vai embora. Seguro meu peito, resistindo a vontade de chorar e apenas respiro fundo várias vezes querendo acreditar que essa noite não vai se transformar em um pesadelo ainda maior.

O som da campainha tocando lá embaixo é o que me desperta e me recomponho para descer o mais depressa possível.

O tempo que passei no quarto foi o suficiente para que a equipe terminasse de ajeitar tudo na casa, incluindo o tom das luzes no teto que foram substuidas por umas mais amareladas combinando com o tom pastel das cortinas e das flores. Do topo da escada vejo o que acontece lá embaixo.

Meu pai todo vestido socialmente com suas melhores roupas, segura na mão de Ava, e sustenta do outro lado o braço de minha mãe que usa um vestido rosa claro e longo com seu cabelo impecável em um coque chique. A família perfeita -Da qual nem pareço fazer parte- e que não passa de uma mentira, entra em jogo, cada um em seu papel.

A empregada uniformizada é quem abre a porta e eu sorrio pela primeira vez no dia. Mary entra primeiro ao lado de Nick. Ela está bonita, usando um vestido que foi propositalmente escolhido da K.B que é de encher os olhos. Para encher os olhos da minha mãe, na realidade já que foi um vestido que ela mesma desenhou. Justo até o final dos joelhos em um tom rosado de vermelho. Nunca a vi tão arrumada e consigo enxergar daqui seu nervosismo ao dar de cara com os meus pais na sala.

Depois entra Eric, intimidado e sozinho, usando um terno simples cinza e parece não saber o que fazer com as mãos então as mantém dentro dos bolsos. Mais atrás escuto a risada de Sarah e ela entra, puxando a mão de Finn, o apressando. Meu lábio inferior treme, meu coração dá saltos e minhas mãos suam.

Meu amor está tão lindo que dói dentro de mim. A camisa social preta e a calça combina perfeitamente com ele. Não foi a roupa que eu escolhi para que ele usasse quando me pediu para fazer isso, mas é ainda melhor do que o terno. Ele move a cabeça nervosamente quando entra então eu sei que está a minha procura.

Desço as escadas bem a tempo de pegar o momento em que Mary se aproxima para cumprimentar os meus pais. Fico do lado da mamãe quando ela chega.

-Oh, é um prazer tão grande estar aqui. Eu agradeço muito pelo convite. -Diz Mary, encarando minha mãe como se ela fosse Deus na sua frente.

Soltando um sorriso empertigado, minha mãe a abraça.

-O prazer é todo meu. Seja bem vinda a minha casa. Esse é meu marido, Robe..

-Ah, meu Deus! Nem precisa apresenta-lo. -Mary a interrompe, encarando meu pai com igual devoção.

-Muito prazer, senhora Wolf... -Ele hesita, de repente olhando para Eric atrás de Mary.

A tensão se forma no lugar e eu me sinto congelada.

-Pode me chamar apenas de Mary, por favor. -Ela diz, sorrindo de forma desconfortável. -Esse é meu ex marido, Eric e meu filho mais velho, Nicholas.

Eric toma a frente e aperta a mão do meu pai com força, demonstrando também certa ansiedade em vê-lo de perto.

-Um prazer, acompanho muito seu trabalho. -Diz ele.

-Ah, que coisa boa. E você é o irmão mais velho? -Meu pai se volta para Nick. Tentando não parecer nervoso, mas sei que está, tendo quase cometido aquele deslize com Mary. 

-Sim senhor. Sua casa é foda. -Nick diz ao apertar a mão dele.

Mary passa a mão pela testa mortificada de vergonha e os olhos de minha mãe se arregalam, mas meu pai explode em uma gargalhada que acaba por milagre diminuindo a tensão.

-Ora, mas esses jovens. São impossiveis. -Mary diz, rindo, mas olha de forma ameaçadora para Nick. -Bem, e o Finn eu acho que vocês já conhecem. Venha aqui meu filho.

Fiquei tão preocupada com as apresentações dos outros que me esqueci que Finn estava logo ali. Quando Mary fala meus olhos se direcionam direto para ele e eu vejo que ele estava olhando para mim o tempo todo.

-Sim, boa noite, Robert, como vai? -Ele aperta a mão do meu pai e os dois se encaram mais sérios.

-Otimo. E você?

-Igualmente. Senhora, Brown... -Finn pega a mão da mamãe e se abaixa para beija-la. Um verdadeiro lorde. E eu me encho de orgulho.

-Muito bem, querido. Seja bem vindo. -Diz ela, mal contendo sua surpresa como a gentileza de Finn ao recolher a mão.

Ele assente e dá um passo para o lado onde eu estou. Não sei o que me dá, mas me arremesso em seus braços de repente e o beijo na boca. Finn exclama de surpresa, mas me segura firme pela cintura e me ajuda a me equilibrar no salto.

-O que foi? -Ele sussurra sobre meus lábios me afastando de forma imperceptível.

Solto um suspiro e encosto nossas testas. Me sentindo aliviada em só estar perto dele.

-Nada, estava com saúde. Só isso.

Ele ri e segura meu queixo.

-Você está linda e...

Minha mãe limpa a garganta e o barulho, infelizmente nos traz de volta a realidade, nos fazendo lembrar de que ainda estamos aqui sendo observados.

-Bem, eu acho que esquecemos de apresentar as crianças. Essa aqui é minha filha mais nova. Ava. -Diz ela, empurrando o ombro de Ava ligeiramente para frente.

-Ola querida, é um prazer. -Mary diz, cumprimentando minha irmã.

Ava assente.

-O prazer é todo meu, senhora... Quer dizer, Mary.

Finn aperta minha mão e sai de perto de mim para ir até Ava. Ela olha para cima quando ele se aproxima e surpreendendo a todos Finn se abaixa, ficando sobre apenas um joelho.

-Oi, tudo bem? Eu sou o Finn. -Diz ele esticando a mão para ela.

Ava o encara com certo interesse e todos nós ficamos olhando em silêncio.

-Ava. -Diz, para meu alívio apertando a mão dele de volta.

-Prazer, Ava. Posso te dar um abraço?

Mary solta um suspiro com a imagem, provavelmente achando a coisa mais linda do mundo. Já eu fico tensa, principalmente quando Ava olha para mim, intimamente me perguntando o que fazer.

-Pode... Claro. -Ela diz quando não sou capaz de esboçar nenhuma reação.

Finn parece aliviado com a resposta e se abaixa ainda mais para abraça-la.

-Uma gracinha, a sua filha. -Mary comenta, para minha mãe.

-Ah, mas não tanto quanto a sua. Que menina adorável, qual o nome dela? -Pergunta, olhando para Sarah que agora segura a mão de Nick.

Finn solta Ava depressa e todos de sua família, sem exceção, ficam tensos. Eu também.

-Bem... Ela... É... que...

-Ela é filha somente do meu pai. -Finn fala, quando vê que Mary de embola com as palavras.

Há um momento de silêncio constragedor em que eu só consigo olhar para minha mãe. Que encara a todos parecendo não entender nada.

Sarah se encolhe atrás de Nick e ele se abaixa para falar alguma coisa com ela.

-Uma filha fora do casamento, que escândalo. -Minha mãe cochicha, para apenas meu pai ouvir, mas eu escuto com perfeição e tenho que me conter para não dizer nada. Passada de vergonha e raiva.

-Aqui. Essa é a Sarah. -Finn diz, quando ela vem até ele para segurar sua mão.

Ao contrário de Ava, Sarah parece ainda menor. E seu vestidinho claro lhe dá uma aparência de uma bonequinha de pano.

-Ola. -Diz ela acenando timidamente para minha mãe.

-Oi, querida. Você é muito linda, sabia? Seria uma ótima modelo mirim. -Ela responde, passando a mão admirada pelo cabelo loiro da menina, provavelmente notando que ela não tem nada de qualquer um aqui presente.

-Hum, ela é bem pequena ainda. -Finn, diz, soltando uma risada de quem não acredita no que ouviu.

-Eu não acho, a Millie começou nessa idade.

-Ah querida! Perdoem a minha esposa, ela vê trabalho em tudo. -Diz meu pai, mais uma vez salvando o clima. -Prazer Sarah.

Sarah sorri ao encara-lo.

-Eu já vi você na TV! -Declara ela.

-Ah é? Aposto que eu sou menos gordinho pessoalmente, não é? -Ele diz, arrancando risadas de todo mundo. -Essa aqui é minha pequena, Ava.

Ava estica a mão em um movimento robótico para Sarah, mas ela corre e lhe dá um abraço.

-Sarah...- Mary chama a atenção da menina. - Ah, é a semana do abraço na escola. Ela está abraçando qualquer criança que vê pela frente. -Explica, ruborizada.

-Hum, então você é quem cuida dela? -Mamãe pergunta e mais uma vez todos ficam em silêncio.

-Acho que já está na hora de irmos jantar, mãe, eu aposto que estão todos morrendo de fome. -Digo, na tentativa de mudar o foco da conversa e salvando Mary de dar uma resposta. 

-Sim, claro. Vamos para o jardim. Mandei aprontar tudo lá, pensei que todos ficaríamos mais avontade. -Ela se força a dizer, apontando para a saída para o jardim. -Por aqui, por favor.

Nick pega a mão de Sarah de novo e todos seguimos meus pais para fora. Finn e eu ficamos atrás.

-Desculpa... Eu pedi para ela não encher sua mãe de pergunta, mas...

-Ei.. tudo bem. Seria até estranho que ela não perguntasse. -Finn diz, apenas para me tranquilizar, mas quando toco sua mão ela está suada.

-Saiu o resultado do exame? -Pergunto, antes de atravessarmos a porta.

Ele solta uma respiração pesada, e acena com a cabeça.

-Ainda não. Estou esperando pelo e-mail.

Na parte de fora, focos de luz deixam o jardim completamente aceso e a piscina reluz a cor forte azulada. A mesa está posta perto do deque e a horda de empregados estão enfileirados ao lado dela.

Minha mãe encabeça a mesa, meu pai e Ava sentam cada um ao seu lado. Mary espera Eric sentar perto de Nick para escolher propositalmente o lado oposto da mesa, assim se sentando perto de Finn e eu.

-Eu espero que gostem de comida francesa. Foi o que eu mandei preparar para o jantar de hoje. -Mamãe anuncia, fazendo um sinal para que os empregados sirvam a mesa.

-Bem, nós comemos de tudo. -Mary diz  avontade, mas logo nota sua gafe e limpa a garganta. -Quero fizer, gostamos sim.

Finn balança a cabeça discretamente e eu agarro sua mão embaixo da mesa.

-Ela está se saindo muito bem. -Cochicho para ele.

-Ela comprou uns quinze vestidos. Deve ter ficado louca até conseguir se convencer de qual deveria usar. -Ele sorri, mas vejo que está descontente com isso.

-Ela está perfeita. Todos vocês estão.

Ele leva minha mão aos lábios e beija suavemente em agradecimento.

Os empregados enchem a mesa com o prato de entrada e as bebidas. Um deles me passa uma taça de vinho branco que eu levo inconscientemente para os lábios.

Finn pigarreia para mim e eu solto a taça depressa sobre a mesa.

-O que foi, querida? Você não vai beber? -Meu pai pergunta, sem querer chamando a atenção de todos na mesa.

-Eu... Bem, não estou com vontade.

E desconfio de que estou grávida, mas isso é só um detalhe. Deixo de acrescentar.

-Ah... Claro. -Ele diz pouco convencido.

Finn pega a taça que foi servida para mim e afasta, deixando apenas ao seu alcance.

-Precisamos ir ao médico, você...

-Eu já sei. Já sei disso. -Interrompo, quando sei o que ele vai me dizer.

Assim como fiz na noite passada e depois quando ele tentou tocar no assunto de novo. Uma coisa de cada vez.

-Então... Mary, com o que você trabalha? -Minha mãe pergunta, se servindo de um pouco de vinho.

Mary que estava com a cabeça abaixada sem se decidir sobre o que comer olha para ela.

-Eu sou professora do curso de letras da UV. Ensino literatura avançada.

-Ah, que maravilha... E você, senhor Wolfhard?

Eric termina de engolir o vinho e limpa a garganta, talvez surpreso em alguém lhe dirigir a palavra.

-Também trabalho na UV, mas ensino cálculo.

Minha mãe parece impressionada. Ela olha para Mary novamente com a cabeça abaixada.

-Então foi lá que o senhor conheceu sua esposa?

O copo de Finn tintila na mesa quando ele quase derruba o conteúdo da taça. Olho para minha mãe, sem acreditar que ela realmente vai fazer exatamente o que implorei para que não fizesse.

-Ex-esposa. -Mary corrige. -E não. Nos conhecemos no colégio.

-Ah, uma história de amor desde a adolescência, isso é...

-Mãe, foi na UV que o Finn se formou. Assim como o tio Oliver! -A interrompo, enfatizando a palavra.

Seu rosto fica branco e ela olha discretamente para meu pai que bebe, mas está prestando atenção a tudo.

-Hum... Que bom. E você, Nicholas, também estudou economia como o seu irmão?

Nick que estava brincando com a casquinha do pão ergue a cabeça sorrindo debochadamente.

-Eu? Não. Só dá nerd nesse curso e na UV também. Estudei jornalismo na NYU, mas não segui a área. Eu trabalho atualmente no ramo das entregas, como motorista particular, também é uma merda. Só que eu preciso de grana então foi o jeito. E aliás me chame de Nick, Nicholas era meu avô.

Mary cutuca o braço dele por baixo da mesa, pasma e envergonhada. Minha mãe parece que viu um show de horrores mas apenas acena com a cabeça.

-É claro..

Eu rio baixinho, mas paro quando percebo a mão de Finn fechada em punho em cima da mesa.

-Ele é um garoto muito esforçado. Só está meio confuso com o futuro e me perdoem esse jeito. O Nick é impossível. -Mary se desculpa, engolindo a bebida muito depressa em seguida.

Se eu pudesse, faria o mesmo.

-Sim, claro. É um garoto muito jovem ainda, tem todo tempo do mundo para escolher o que vai ser. Temos muitos contatos, se precisarem de ajuda em relação a isso podem ficar a vontade em pedir. -Meu pai diz, solícito como sempre é.

O jantar é finalmente servido. Foie Gras, e trufas negras compõe o prato principal e o cheiro delicioso logo me apetece.

Sarah cutuca o braço de Finn sobre a mesa encarando a comida com o cenho franzido.

-O que é isso? -Ela pergunta com inocência, mas não baixo o bastante para evitar que os outros escutem.

-É... -Finn hesita, sem saber como explicar a ela.

-Figado de ganso. -Nick é quem responde, também não sendo nada discreto ao encher a boca com a porção de comida.

-Eca... Que nojo. -Sarah afasta o prato com os dedos.

Finn fica nervoso e constrangido. Ele pega na mão de Sarah e cochicha algo em seu ouvido.

-Algum problema com a comida? -Minha mãe pergunta, percebendo a agitação.

Ela não gosta tanto de comida francesa, mas logo alio isso ao fato de que está fazendo de tudo para deixar a família de Finn o mais distante da realidade deles possível.

-Não, problema nenhum. É que ela não está acostumada a comer essas coisas, só isso. -Mary explica, também constragida.

-Oh, que pena. Me diga o que você quer comer, querida, eu peço para alguém preparar em um segundo. -Ela fala com Sarah.

-Um hambúrguer? -Sarah diz, com um tom de pergunta.

-Querida, isso não é comida para o jantar. -Finn rejeita, cochichando para ela.

-Mas...

-Tudo bem, eu mando preparar um hambúrguer, se é o que ela quer comer. Não podemos deixar essa belezinha com fome, não é? -Mamãe diz.

Finn olha de um jeito reprovatorio para Sarah, mas confirma com um gesto de cabeça. Minha mãe faz sinal para uma das empregadas preparar o tal hambúrguer, depois seus olhos vão para a forma como Finn ajeita Sarah mais perto da mesa.

-Que engraçado... A Sarah parece ser mais próxima do irmão do que do próprio pai, não é? Olha só o jeito como ela fica avontade.

Eric deixa o garfo cair sobre o prato com um estalido e o silêncio terrível toma conta de novo. Encaro minha mãe com um olhar suplicante enquanto ela faz cara de quem não está entendendo.

-O tio Eric pode não ser o meu pai de verdade. -Sarah quebra o silêncio de maneira inocente.

Finn bate os cotovelos na mesa com certa força para esfregar o rosto, atordoado enquanto vê tudo indo por água abaixo.

Minha mãe fica de queixo caído, meu pai parece que não ouviu direito e eu não consigo começar nem a explicar o quanto o clima parece condensar nesse momento. Minha respiração fica pesada e Mary, simplesmente para de mastigar.

-É mesmo? Nossa... Isso explicaria o porque você não parece nenhum pouco com ninguém daqui.

-Kelly... É uma história complicada. Acabamos de fazer um exame de DNA para confirmar e logo saberemos o resultado. -Mary explica, enquanto Nick aperta o seu ombro lhe passando uma força que talvez nem ele mesmo tenha.

Eric fica em silêncio, apenas arrastando o garfo no prato como se nem estivesse presente. Minha mãe olha para mim. Para a forma nervosa com a qual eu seguro o copo de água. Não sei se ela consegue ler pensamentos ou se simplesmente tem a capacidade de ligar uma coisa com a outra, mas de repente ela tem uma epifania.

-Oh... Eu acho que entendi. Estava tentando me lembrar de onde eu estava reconhecendo a Sarah. Ela é a cara daquela mulher que apareceu na minha festa de aniversário.

-Mãe. -Chamo sua atenção, mas sai muito mais como uma súplica.

Ela olha para Finn, que agora está se esforçando para manter uma respiração estável, mas seu silêncio é uma tortura para mim.

-É claro que isso não é da nossa conta. Me perdoem a intromissão. -Diz ela, fingindo estar arrependida, mas sua expressão só demonstra um tremendo embaraço.

Mary assente, parecendo subitamente triste e com razão. Não posso acreditar que minha mãe está fazendo isso. Depois de tudo.

-Sem problemas, estamos todos nos conhecendo. É natural que certas questões apareçam. -Ela diz, abaixando a cabeça.

Ninguém diz mais nada por um momento. Finn não toca na comida, embora esteja se esforçando para agir normalmente. É impossível.

-Me desculpem, mas eu poderia usar o banheiro? -Ele diz, erguendo a cabeça, mas não direciona a pergunta para ninguém especificamente.

-Claro que sim. Miranda, mostre para ele onde fica, por favor. -Meu pai diz, fazendo um gesto para outra empregada.

Finn pede licença e então a segue. Sinto vontade de acompanhá-lo, mas no momento, o mais importante é vigiar minha mãe. Não quero que ela aproveite minha ausência para tentar de novo fazer um monte de pergunta.

-O Finn tem mostrado ser um ótimo contador no gabinete do Oliver. -Meu pai comenta, depois de mais silêncio.

Minha mãe quase não consegue disfarçar seu desconforto ao ouvir esse nome.

-Ah, sim. Ele adora o emprego. O Oliver é um ótimo prefeito e até onde sei, um ótimo chefe também. -Mary complementa, em um tom menos tenso pela mudança de assunto.

-Isso é verdade. Meu cunhado é uma das pessoas mais esforçadas que eu conheço. Acho que nenhuma outra escolha teria sido mais certa do que ele para a prefeitura de Vancouver.

-Sim, claro... As vezes me esqueço de que ele é seu irmão, Kelly. -Ela diz, encarando minha mãe que por sua vez finge estar distraída com a comida.

Ela fica tensa outra vez e seus dedos tremem ao segurar a taça. Precisando beber, ela leva a bebida a boca para poder responder.

-Pra você ver, seu filho queria entrar para a nossa família de qualquer jeito.

Minha mãe ri, para tentar diminuir o efeito de sua afirmação pretensiosa, mas Mary franze o cenho para ela.

-Desculpe, eu entendi errado? Ou você acabou de dizer que meu filho se aproveitou da situação? -Pergunta ela esboçando um sorriso de quem está realmente confusa.

Ah. Meus. Deus.

-Eu? Imagina... As oportunidades aparecem não é mesmo? Ele foi esperto em saber agarra-la.

Mary retribui o sorriso, mas parece estar cada vez mais incomodada. Nessa hora não faço ideia se é melhor Finn estar em outro lugar ou estar aqui.

-Bem, isso sobre oportunidade é uma verdade, mas eu não acho que o Finn fez nada intencionalmente, afinal, se ele não fosse um ótimo profissional, seu irmão não teria motivos para contrata-lo.

Minha mãe olha para mim, dizendo silenciosamente que sabe que isso não é verdade. Insinuando que Finn só conseguiu se manter no emprego porque ele sabia o segredo de Oliver, mas como não pode dizer isso, ela simplesmente acena com a cabeça.

-Sim. Com certeza é por isso.

A empregada volta com a comida de Sarah e eu respiro aliviada quando vejo Finn voltando da casa. Seu rosto parece mais tranquilo. Ele se senta e agarra minha mão embaixo da mesa para beija-la outra vez.

-Perdi alguma coisa? -Murmura ele, baixinho.

-Nada muito horrível. -Respondo, acariciando a palma de sua mão.

Ele assente, depois olha para Sarah concentrada no hambúrguer maior que sua mão. Olha para mim em seguida.

-Recebi o e-mail da clínica.

Passo a mastigar um pouco mais devagar e também olho para Sarah.

-E então?

-Não olhei ainda. Vou fazer isso quando chegarmos em casa. É melhor.

Concordo, tudo o que menos precisamos agora é de mais uma preocupação. O restante do jantar, por um milagre é feito em silêncio. Meus pais vez ou outra trocam algumas palavras, mas na maior parte do tempo só se ocupam em comer.

Detesto a animosidade do clima, mas é muito melhor do que a tensão que estava antes.

Os empregados retiram os pratos quando terminamos e servem a sobremesa. Tarte tatin de pêssego com sorvete de creme. É um dos meus doces preferidos, mas  o cheiro forte da fruta logo me faz sentir um embrulho no estômago.

Fico beliscando somente um pouco do sorvete, quando minha mãe fala:

-Senhor Wolfhard... Como pai, o senhor concordou de imediato com a decisão do seu filho em se casar tão jovem?

Todos paramos as colheres no ar ao mesmo tempo parecendo um bando de ventríloquos manipulados. Eric solta um pigarro, novamente surpreso por alguém lhe dirigir a palavra. Finn aperta a colher com tanta força ao encarar o pai que os nós dos dedos ficam brancos.

-Bem... Foi uma surpresa, de fato. Mas quem sou eu para ir contra a felicidade do meu filho, não é? -Ele diz, limpando a boca com um guardanapo.

Está mentindo. Finn nem contou para ele sobre o casamento e Eric só soube por Nick.

-Sim, é claro. Mas não podemos ignorar as preocupações. Ou o senhor acha que não temos motivos para isso? -Ela rebate, sorrindo discretamente.

Finn olha para mim, como se perguntasse o que deve fazer. Mexo minha cabeça, sem fazer a menor ideia.

-Eles são jovens, é claro que para todos nós isso parece meio assustador, mas não acho que nossas preocupações devem se sobrepor a vontade deles.

-É verdade. Mas o senhor e sua ex mulher também se conheceram na juventude e hoje estão separados, talvez se pudessem voltar no tempo poderiam ter enxergado como foram precipitados e as coisas seriam diferentes. -Diz ela, sorrindo venenosamente.

Não tenho tempo de repreende-la, tudo acontece muito depressa no instante seguinte quando Mary, responde.

-Então é isso o que você pensa? Que o casamento dos dois é precipitado?

Minha mãe olha para mim e Finn como se a resposta fosse óbvia.

-E não é? Qualquer um pode ver isso.

-Querida... -Meu pai sorri, mais uma vez tentando diminuir a tensão. -Você está se expressando mal.

-Não. Não estou. Talvez eu seja a única que esteja dizendo o que penso de verdade.

-Talvez o que você pensa esteja errado. -Mary rebate e as duas duelam entre olhares.

Nunca quis que nada disso acontecesse. Principalmente com Mary, mas não esperava que ela correspondesse as investidas de minha mãe. Mary sempre foi sua fã e agora a encara como uma verdadeira inimiga.

Sinto que devo dizer alguma coisa para acabar com a situação, mas não consigo. Me sinto enjoada. Com uma forte e incontrolável vontade de chorar ao mesmo tempo. O conflito de sentimentos tem acabado comigo ultimamente.

-Será mesmo, Mary? Será que estou errada em discordar de uma decisão que foi tomada no calor do momento por dois jovens que ainda não viveram nada da vida?

Mary solta uma risada, como se minha mãe fosse ingênua.

-Eu posso garantir que eles já viveram muito da vida sim. Eu vi de perto como o amor deles é sincero e forte, tanto que mesmo depois de todas as complicações, aqui estão, juntos. -Ela diz, olhando para nós dois com um sorriso orgulhoso no rosto.

Minha mãe solta uma bufada baixa de descrença e impaciência.

-Tenho certeza que boa parte dessas vivências foram causadas pelo seu filho. Já que na maior parte do tempo a única coisa que ele trouxe a Millie foram problemas.

Minha pele se enrijesse, como uma capa protetora quando escuto isso. Não percebo quando tento me levantar, mas Finn segura o meu braço.

-Mãe, por favor. -Peço, impedida de chegar mais perto.

Ela olha para mim com um olhar de julgamento. Como se desprezasse o que está vendo, a mão de Finn segurando meu braço. Ela limpa o batom no canto da boca e diz

-E não é verdade, Millie? Não é verdade que você chorou dias e noites quando ele te deixou? Que você desistiu de uma turnê de trabalho para voltar e ir atrás dele? Estou contando alguma mentira?

Olho para todos na mesa. A maioria de cabeça baixa, envergonhados ou simplesmente incapazes de dizer qualquer coisa a meu favor. A favor de Finn. Ele mantém o rosto sério, olhando para frente com um olhar perdido. Não preciso de muito mais para perceber que está concordando com tudo o que minha mãe acabou de dizer.

-Me desculpe. -Mary quebra o silêncio quando vê que eu não tenho forças para fazer isso. -Eu sinto muito se vocês acham que o Finn não é bom o suficiente para a sua filha, mas até onde eu sei, essa decisão não é de nenhum de nós aqui além dela.

Minha mãe abre a boca para responder, quando de repente eu falo:

-Mãe. Vamos comigo lá dentro, por favor.

Ela repete o gesto como se quisesse ainda rebater o que Mary disse, mas por um milagre engole as palavras e levanta da mesa.

-Com licença. -Diz, ao sair.

Finn aperta minha mão quando tento fazer o mesmo, um gesto de quem me implora para que eu não vá. Consigo abrir um sorriso forçado para dizer que está tudo bem. Ele olha para minha mão e por alguma razão gira a aliança em meu dedo antes de me libertar.

Sigo os passos rápidos de minha mãe pelo jardim até dentro de casa me segurando para manter tudo dentro do estômago. Quando as portas automaticas se fecham assim que entro pego seu braço e a viro para olhar para mim.

-O que você está fazendo? Você quer acabar comigo? -Pergunto, cheia de raiva e por entredentes.

Ao contrário do que eu espero ela me olha com pena e segura meus ombros.

-Millie... Acorde! Ainda dá tempo de fugir disso. -Ela pega meu braço e me puxa ainda mais para dentro de casa. -Ouça, eu já pensei em tudo. Vamos esperar o jantar acabar, vocês vão para casa e você explica que pensou melhor e que não quer mais esse casamento.

Puxo meu braço com força, fazendo-a parar de andar.

-Você ficou maluca? Eu não vou fazer isso!

Ela solta o ar com força e aponta para a porta do jardim.

-É isso que você quer? Olha só onde você está de enfiando, menina! Essas pessoas... São cheia de problemas, não estão a nossa altura!

Minha respiração acelera junto com as batidas do meu coração. Ela nem se quer se importa que estejamos ainda muito perto deles e sua feição de nojo só me faz ficar ainda mais furiosa.

-Você já se olhou no espelho, mãe? Você enganou a nossa família inteira durante anos! Quer saber... Eu prefiro mil vezes qualquer uma daquelas pessoas, prefiro mil vezes passar o resto dos meus dias com eles do que com você!

Ela leva a mão ao peito com uma expressão de profunda mágoa no rosto. Não me arrependo do que disse nem por um segundo. Ela passa a mão pelo rosto e tenta voltar a respirar normal.

-Você deve estar muito cega para não perceber a burrada que está fazendo. Nossa família pode ter todos os defeitos do mundo, mas pelo menos não temos uma mulher que se envolveu com o pai e com o filho.

É como se um balde de água fervendo fosse derramado sobre meu corpo nesse momento. Como se, apesar de tudo, eu ainda não fosse capaz de acreditar na capacidade dela em perceber as coisas, mesmo não tendo nenhuma informação.

-V-voce não... Não sabe de nada. -Gaguejo, dando um passo para trás com súbita falta de ar.

Ela abre um sorriso irônico e dá um passo a frente. Me desafiando enquanto eu definho.

-Ora, Millie, não tente me enganar. Esta tudo tão claro. A menina... Ninguém nem sabe de quem ela é filha de verdade. Você tem ideia do tamanho do escândalo? Do horror que é essa história?

Não consigo achar nada decente para dizer. Sua audácia me pegou tão desprevenida que drenou todas as minhas forças de uma vez só. Ela continua.

-Ela é filha daquela mulher da festa. A semelhança é óbvia, para qualquer um ver. E ela se envolveu com o Finn não foi? E depois com o pai dele? Por isso esse monte de dúvidas?

-Não... Não é verdade! -Grito, forçando minhas pernas a pararem de tremer.

Ela cruza os braços e me observa. Como se conseguisse ver além dos meus olhos. Balançando a cabeça, ela diz:

-É claro que é verdade. Olha só como você está nervosa. Foi por isso que você ficou daquele jeito quando ela apareceu e ele escolheu ir embora com ela. Ela é o motivo de todas as brigas de vocês. -Acusa ela, com certeza definitiva.

As lembranças me consomem e me torturam como fogo queimando minha pele. Tenho flashes muito vívidos de Finn naquele dia. Da forma como implorei para que ele fosse embora comigo e como ele se recusou a fazer isso. Ficou com Susan. Escolheu. Assim como ela acabou de dizer.

-Olha só como essa história te deixa, Millie. Você acha mesmo que merece passar por isso? Quer que isso te atormente pelo resto da vida? É o que vai acontecer se você se casar com ele. -Murmura ela, baixo, despejando sobre mim todo o veneno de suas palavras.

-Não.. -Limpo as lágrimas do meu rosto. -Essa história acabou. Ele se envolveu com ela, mas a muito tempo...

-Ah, então se envolveu? -Ela me interrompe, abrindo um sorriso vitorioso diabólico enquanto se aproxima de mim. -Foi por isso que ela foi atrás dele naquela noite. E você... Nunca cogitou que aquela menina lá fora, na verdade, seja filha dele? E não do Eric?

Dessa vez, minha vontade é de rir. Ela não faz mais a mínima ideia do que está dizendo. Afasto seu braço do meu alcance e olho fixamente para seus olhos.

-Não. O Finn nunca transou com ela! -Afirmo, categoricamente.

Minha mãe ri me achando inocente. Ela coloca a mão no meu rosto e acaricia minha bochecha antes que eu me esquive.

-Isso é o que ele diz pra você. Mas eu vejo como os dois são ligados. Se ela fosse filha do Eric, seria totalmente diferente. Mas com o Finn... Tem uma ligação. Você sabe, só precisa admitir isso para si mesma.

Involuntariamente, me vem memórias de Finn com Sarah, incluindo o dia em que eu vi eles e Susan juntos no apartamento. Como pareciam uma família... Mexo minha cabeça várias vezes para desfazer os pensamentos.

-Ele não é o pai dela. Ele nunca ia mentir pra mim. Nunca!

Ela segura meus ombros e de repente me sacode.

-Nunca? E o que foi que ele fez quando descobriu sobre o Oliver? Ele te contou a verdade? Não! Ele não fez! Se aproveitou dos benefícios enquanto mentiu pra você todos esses meses! -Ela berra, continuando a me sacudir com toda força.

Tento atingi-la com minhas unhas mas não consigo. Uma torrente de lágrimas descem por meus olhos de forma incontrolável e eu perco o ar.

-Ele pode ser o pai dela... Está enganando você... Enganando todo mundo!

Enquanto ela continua a falar e a me balançar, sinto uma dor repentina e aguda, bem debaixo do ventre, algo semelhante a uma cólica, mas muito mais forte. Empurro seu corpo para frente e levo as mãos ao local onde a dor me dilacera por dentro.

-Chega! Cale a boca! Cale...

Não consigo terminar de falar, pois caio no chão e a dor se torna maior do que tudo. Minha mãe bate com os joelhos no chão ao meu lado e segura meu rosto.

-Meu Deus... Millie! O que está havendo? -Ela pergunta, desesperada, afastando os cabelos do meu rosto.

Tento manter a respiração regular e o foco dos meus olhos embaçados pelas lágrimas. Um tremor na barriga me faz soltar um gemido e minha garganta se fecha me impedindo de falar qualquer coisa.

-Fique parada, eu vou chamar o seu pai e...

Consigo levantar a mão e seguro seu braço.

-Não... Não precisa. -Digo, quase sem fôlego. -Esta melhorando. Não saia...não saia daqui...

-Ora mas... Minha filha... Onde dói? -Ela segura minha mão, atordoada e sem saber o que fazer.

-Esta passando... Por favor não chame ninguém. -Reitero meu pedido, ignorando sua pergunta.

Ela tenta levantar de novo, mas eu agarro a barra de seu vestido com mais força. Não faço ideia do que está acontecendo, mas não quero causar mais nenhum problema para ninguém e se Finn souber... Nem posso concluir o pensamento.

Com a respiração mais contida, a dor vai desaparecendo, do nada, assim como surgiu. Quando abro meus olhos minha mãe está parada, em choque olhando para mim enquanto segura meus braços.

-Você está melhor? Millie, você...

-Estou. Só... Me ajude a levantar.

Ela assente e apoia meu tronco com seus braços se esforçando para se manter equilibrada em cima dos saltos. O sangue volta a circular em meu corpo quando fico de pé. Ela ajeita meus cabelos e me pega de surpresa com um abraço.

-Ah, Millie... O que foi isso? Me deu tanto medo.

O abraço me sufoca, mas de certo modo me alivia. Também estou morrendo de medo.

-Estou bem. Não foi nada.

Ela se afasta, tocando meu rosto como se quisesse ter certeza que estou viva. Kelly Brown apavorada e com lágrimas nos olhos certamente vai entrar para a lista das coisas mais inacreditáveis que já vi na vida.

-Minha querida, eu...

A interrompo, segurando sua mão para afasta-la de mim. Ela parece mais desesperada quando faço isso e olha para mim de forma suplicante.

-Nós vamos voltar para lá e você não vai dizer mais nada pelo resto da noite. Entendeu? -Digo, mas é uma ordem, incontestável.

Ela espreme os lábios e me solta.

-Eu não posso aceitar que...

-Se você falar mais alguma coisa com ele ou com a família dele, mãe... Eu juro. Nunca mais ponho meus pés nessa casa. Nunca mais falo com você nem olho pra você. Você sabe que eu faço isso.

Nunca a vi tão magoada na vida. Embora eu já tenha dito coisas muito piores. Ela abre a boca para dizer qualquer coisa, mas se arrepende, depois respira fundo e assente.

Não espero para ver se vem algo mais em seguida. Ajeito somente a barra do vestido e dou as costas, para voltar ao jardim, deixando-a para trás.

Todos saíram da mesa principal e estão em uma outra menor, em cima do deque da piscina onde a lareira embutida na madeira do chão está acesa. Estão rindo, num clima agradável enquanto meu pai conta alguma história engraçada, o único que não ri é Finn, está com a cabeça erguida olhando para o lugar de onde sai.

Isso permite que ele me veja primeiro e embora eu ache que esteja normal, ele sabe que não. Se levanta depressa e corre o restante do caminho no jardim até mim.

-O que...

Não deixo que ele termine, corro ao seu encontro e o abraço. Ele me corresponde bem rapido, me envolvendo em seus braços. Sinto o cheiro de sua pele. O calor de seu corpo e por um segundo, durante todo esse maldito dia, me sinto em paz.

-Meu amor, o que ela fez? -Ele volta a perguntar, afastando meu ombro para me olhar.

Seu rosto está preocupado e ele limpa abaixo dos meus olhos, onde provavelmente há marcas de rimeil escorrido.

-Nada... Só o de sempre. Mas está tudo bem, ela não vai fazer mais nada. -Digo, calma, para tranquiliza-lo.

Ele solta uma respiração aborrecida e descrente, sabendo que estou resumindo muito pouco o que aconteceu de verdade.

-Eu achei que isso não ia ser tão difícil. Se eu soubesse...

-Esta tudo bem. Eu juro que está. E ainda assim nada é culpa sua. -Interrompo, alisando seu braço sob a camisa.

Ele assente e beija suavemente minha testa.

-Vamos voltar?

-Sim. -Começamos a andar, mas eu o paro segurando seu braço de repente.

-O que foi? -Ele pergunta, alarmado.

Olho para meu pai e para o resto da família de Finn. Ainda estão distraído conversando. Não sei o que me leva a fazer isso, mas simplesmente tenho que fazer.

-Você nunca transou com a Susan, não é? -Pergunto, com profundo nojo das minhas próprias palavras.

As sobrancelhas de Finn se juntam e ele fica irritado no mesmo segundo.

-Que... Que pergunta é essa? Do nada?

Tento não parecer em pânico e dou de ombros.

-É só uma pergunta. Simples...

Ele bufa e passa a mão pelo rosto levando os cabelos para trás. Parece atordoado com a minha dúvida e não sei se isso é bom ou ruim.

-Finn, se tiver acontecido...

-Meu Deus, Millie! Não aconteceu! Não chegou nem perto disso. Você sabe! Eu expliquei tudo! -Ele me interompe, se esforçando para não gritar.

Todo seu aborrecimento no entanto, ao invés de me apavorar me trás um profundo alívio, para algo que na verdade eu já sabia.

-Desculpa... Desculpa...está tudo bem, eu confio em você. -Digo, o abraçando de novo.

Ele me abraça de volta e isso é o que faltava para me deixar em paz de novo. Embora eu saiba que ele não está entendendo nada e que vai me perguntar depois. Agora, só isso importa.

-Ok... Podemos voltar agora? -Ele me afasta, acariciando meu rosto.

Faço que sim e seguro sua mão para irmos. Nesse momento, minha mãe também volta. Parece contida e nitidamente retocou a maquiagem enquanto estava lá dentro.

-Amor, eu pedi que acendessem a lareira, estava fazendo um pouco de frio aqui fora. -Meu pai explica, olhando quando ela sobe no deque.

-É... Foi uma excelente idéia, querido. -Diz ela, sentando-se ao lado dele na mesa.

Finn a observa, notando sua nitida mudança de comportamento, depois olha para mim, mas não diz nada. Ele pega minha mão e me ajuda a subir os degraus do deque. É quando Finn olha para Eric, sentado em uma cadeira mais afastada da mesa enquanto Sarah dorme em seu colo.

Como se todos estivessem pressentindo o clima estranho, todos olham para Eric e para Sarah.

Eric abaixa a cabeça e Mary engole em seco enquanto olha para Finn como se esperasse que ele fizesse um escândalo.

-Bem, a noite foi maravilhosa, mas acho que agora já temos que ir. A Sarah parece estar bem cansada. -Ela diz, nitidamente ansiosa para acabar com o clima ruim.

-Espera! -Finn diz, abrindo a mão em um sinal para que ela não levante do lugar.

Fico tensa. Sem acreditar que ele vai falar alguma coisa com o pai. Logo agora, quando tudo já estava perto de terminar. Meus pais se entreolham e até Ava parece estar esperando tudo desmoronar.

-Antes de irmos embora eu gostaria de fazer uma coisa. -Ele anuncia, claro, para que todos possam ouvir.

Minha mãe se contém para se manter em silêncio então meu pai é quem diz:

-Bem, sinta-se avontade.

Finn não olha para mim quando assente e se levanta da cadeira ajeitando o primeiro botão da camisa. Também não olha para Eric. O que não me dá nenhuma pista do que ele está pensando em fazer.

Parece que demora um século esse momento de silêncio onde é possível ouvir apenas o som do fogo crepitando na lareira.

Ele limpa a garganta e olha para cada um presente. Menos para mim.

-Eu sei que já fiz coisas muito ruins. Que de certa forma impactaram na vida de todos vocês aqui presentes. Tambem sei que não há justificativa nenhuma para algumas das minhas ações e eu lamento que eu tenha causado tanto transtorno. É pedir muito que gostem de mim. Que confiem em um cara que ultimamente só agiu de cabeça quente enquanto tentava carregar o mundo nas costas. Sei que não mereço essa confianca. -Ele diz, dessa vez olhando fixamente para meus pais.

Não quero ouvir mais nada. Não quero que ele se humilhe, nem se desculpe para ninguém, mas quando vejo o jeito como minha mãe se concentra em suas palavras, não tenho coragem de impedi-lo de continuar.

-Para esse jantar... Eu queria de alguma forma mostrar o quanto estou tentando mudar e ser uma pessoa diferente, mais madura e comedida. Uma pessoa que aceita as críticas que me são feitas e que tenta não ficar desesperado ao não corresponder as expectativas. Estou aprendendo a fazer isso. E com certeza eu ainda não sou esse cara. Mas se... De alguma forma, eu conseguir uma chance de mostrar que eu posso me transformar... Que eu posso ser esse homem que vai merecer tudo isso... Eu gostaria de tentar. Queria que me dessem essa chance. -Ele faz uma pausa para ir vagarosamente até meus pais.

-Eu quero me casar com a sua filha. E ainda que façamos isso de qualquer jeito, eu gostaria de ter a aprovação de vocês. Que me dessem essa chance.

Parece que o tempo congela. Fico de boca aberta, chocada, apavorada e incrédula. De todas as coisas que imaginei que Finn quisesse fazer, pedir minha mão aos meus pais, na frente de todo mundo, era a única que não poderia nunca passar por minha cabeça.

Mary leva a mão a boca, também em choque, mas está emocionada na realidade. Eric assiste a tudo, imparcial, segurando Sarah no colo enquanto a menina não faz ideia do que está acontecendo.

Meu pai pestaneja de surpresa, como se só depois de um tempo se desse conta de que Finn continua parado na sua frente. Minha mãe, parece ter visto um fantasma, está pálida, com os lábios entreabertos.

Quero me levantar, protestar e dizer que nada disso é preciso. Quase faço, mas então meu pai levanta da cadeira. Ele pigarreia. Olha para mim. E sorri.

-Bem... Com certeza não é a situação ideal que eu imaginei para esse momento, mas não consigo imaginar ninguém melhor para dar a mão da minha filha, ou pelo menos ninguém mais corajoso. Você tem a minha aprovação.

Para o choque geral de todos, ele abre os braços e Finn o abraça. Meu coração dá um salto, pulsando com fervor dentro de mim enquanto lágrimas inundam os meus olhos.

Ele diz algo no ouvido de Finn que o faz rir. Quando se afasta, ele olha para mamãe, que não se moveu do lugar.

-Querida? -Estende a mão para ela.

Ela hesita. Arregalando os olhos para mim. Não faço nenhuma expressão. Não demonstro o que quero que ela faça. Ela sabe muito bem. E sabe que do contrário, não tem mais volta.

Ela deglute e se levanta também. As palavras parecem estar presas em sua garganta. Começo a achar que ela vai estragar tudo como sempre faz, mas para minha surpresa. Ela assente.

-É claro. O que for melhor para a nossa filha.

Os dois se abraçam também e incrivelmente minha mãe retribui, fechando os olhos quando Finn a envolve em seus braços. Não consigo imaginar nada mais utópico do que isso, tanto que não parece real e eu tenho dificuldade de aceitar que tudo tenha acabado com esse desfecho. Algo quente me aquece por dentro e um arrepio longo percorre minha espinha.

Quando Finn se afasta, pega na mão de Ava e a beija, antes de tocar suavemente em sua cabeça. Quando ele se vira, finalmente olha para mim e tudo fica em câmera lenta até o momento em que ele para bem na minha frente.

Todos ficam de pé. Chamas crescem dentro de mim queimando muito mais do que o fogo da lareira. Mas é um calor bom. Pela primeira vez. Ele pede minha mão e eu a entrego para ele para me levantar da cadeira. Penso que vai ser um esforço, mas meu corpo parece uma pluma quando fico de pé.

Ele coloca uma mecha do meu cabelo para trás e sorri.

-Porque você está chorando? Eu nem disse nada pra você ainda! -Ele diz, em um tom suave e terno.

Nem percebi as lágrimas rolando e elas só aumentam quando ele se ajoelha na minha frente.

-Eu sei que já fiz isso, mas se não for pedir muito, eu gostaria que aceitasse de novo. -Diz ele pegando no bolso uma caixinha de veludo preto.

Perco o fôlego quando ele a abre, revelando um outro anel com uma pedra bruta de diamante no topo. Ouço os arquejos ao meu redor. A admiração pela pedra, mas só consigo imaginar que Finn planejou fazer isso para agradar minha mãe, como se soubesse que ela repudiou o primeiro anel que me deu.

-Mas eu já tenho um. -Consigo dizer, erguendo minha mão para ele.

Finn sorri e encara o lilás da pedra. Ele sabe o significado que ela tem para mim.

-Bem, eu acho que agora você tem um mais bonito. -Diz ele, piscando o olho para que eu saiba que não está falando sério.

Entendo o que ele está fazendo. Está tornando um pesadelo em um sonho, mesmo que parte disso seja um pouco encenação. Esta fazendo isso por mim

-Então... Se você demorar muito eu acho que não vão me dar nenhum pouco de crédito no que eu acabei de falar. -Ele brinca, rindo.

Em meio as lágrimas eu rio também. Vendo o homem por quem me apaixonei retornar. O Finn que consegue sorrir e brincar. Não o cara sério e de cara fechada.

-Eu aceito. De novo. Mas vou usar os dois.

Ele ri mais uma vez e finalmente coloca o anel em meu dedo.

Enquanto nos beijamos, todos aplaudem.

-Ah, meu Deus... Se eu soubesse que essa noite seria tão cheia de emoções eu nem teria me maquiado. -Mary diz, limpando os olhos e tirando risos de todos.

-Ah, imagina. Você está ótima, querida. -Minha mãe diz, milagrosamente dando um sorriso menos forçado.

Não sei o que ela está pensando, mas desde que não diga mais nada, não me importo também.

Todos vem para me abraçar em seguida, incluindo Eric e uma Sarah muito sonolenta que despertou ao ouvir as palmas.

-O próximo jantar será na minha casa, eu faço questão. -Mary diz, quando está se despedindo dos meus pais.

-Sim, claro. Nós vamos adorar. -Meu pai diz e minha mãe se limita a um aceno de cabeça.

Depois que todos se despedem deles, é minha vez. Dou um abraço apertado no meu pai e em Ava e então hesito quando chego na mamãe.

-Você vai com eles? .. -Ela pergunta, baixinho vendo a família de Finn se dividir entre os dois carros.

-Sim. Eu vou.

Ela suspira exaustamente, mas me abraça em seguida.

-Tome cuidado, Millie. É só isso que eu tenho a dizer. -Suplica, quando me solta.

Sinto vontade de perguntar com o que ela acha que devo tomar cuidado, mas se  disser isso nunca mais vai ter um fim. Ao invés de responder qualquer coisa, apenas confirmo com um gesto de cabeça.

Subo no carro de Mary com Finn, enquanto Nick, Sarah e Eric vão no outro.

Finn segura minha mão quando me sento ao seu lado no banco de trás. Ele olha para o anel.

-Muito exagerado? -Pergunta, girando-o em meu dedo.

-Para a ocasião, perfeito.

Mary gira a chave no motor e o carro sai.

-Se vocês quiserem chegar em casa inteiros é melhor pararem de falar tantas coisas bonitas! -Ela diz, nos olhando pelo espelho.

Finn e eu rimos e eu deito em seu peito para fechar os olhos. Quando o carro para no sinal, me lembro de uma coisa.

-Finn! O email com o resultado do exame!

Ele tem um sobressalto de surpresa e leva a mão ao bolso imediatamente.

-Mãe, encoste o carro. -Pede ele.

Mary obedece e encosta na avenida, aproveitando o movimento fraco. Ela vira-se para trás enquanto Finn mexe no celular.

-Ah meu Deus... Finn... Não demore tanto!

Finn faz sinal para que ela fique calma, mas suas mãos tremem enquanto ele vasculha a procura do e-mail.

-Achei! -Ele diz, descendo os olhos pelo arquivo.

Seus ombros sobem e descem enquanto lê e começo a achar que foi uma má ideia ter sugerido que ele verificasse isso agora. Quando chega no final do e-mail ele olha para Mary, depois para mim sem esboçar nenhuma reação.

-Então... -Pergunto, temendo a resposta.

Ele abre um sorriso.

-A Sarah... É filha do meu pai.


Notas Finais


Sfhjndgknnvfunbcv

O surto kkkkk

Até breve ♥️


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