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História The Change- Fillie - Capítulo 25


Escrita por: MabelSousa

Notas do Autor


Preparem os lencinhos.

Boa leitura ♥️

Capítulo 83 - Capítulo 25


Finn. 


Millie me abraça, assim que digo que o resultado do exame foi positivo.

-Ah, eu... Nem posso acreditar. -Diz ela morrendo de felicidade enquanto acaricia meu rosto. -V-voce, você está bem?

Tudo o que consigo fazer é assentir, de repente sem palavras. Estive me preparando para o pior então saber que Sarah de fato é minha irmã me deixa completamente sem saber como agir, mas com o coração repleto de ansiedade.

Ela sorri e continua a tocar o meu rosto, como se eu não fosse real e tudo isso fizesse parte de um sonho, mas quando ela olha para a frente, toda sua alegria radiante some, dando lugar a um cenho franzido e uma expressão de tristeza.

Acompanho o seu olhar e imediatamente me dou conta do porque. Minha mãe se voltou para a frente, segurando o volante com as duas mãos enquanto seus olhos estão fixos no parabrisa. Parece nem estar respirando. Paralisada.

Millie aperta minha mão e move a cabeça num movimento sutil para que eu diga ou faça alguma coisa. Eu deveria ter tomado cuidado com esse momento, mas com tudo o que tivemos que passar durante a noite, não me lembrei de que alguém sairia muito machucada com esse resultado caso fosse positivo e esse alguém seria ela.

-Mãe, você...

Ela limpa a garganta, me interrompendo. Seus olhos piscam e eu acompanho tudo pelo espelho.

-Estou bem. -Diz ela em voz baixa e então aperta o volante. -Preciso sair daqui, não podemos ficar parados muito tempo no acostamento.

Millie e eu nos olhamos e então assentimos, mas minha mãe não liga o carro, como se em segundos tivesse esquecido de como fazer isso.

-Eu vou dirigir. -Digo, retirando o cinto de segurança.

Espero para ver se ela vai dizer alguma coisa para me impedir, mas não diz. Ela desafivela o cinto também e escapa para fora do carro tomando meu lugar na parte de trás. Não demora nem meio segundo para que ela esteja nos braços de Millie e comece a chorar. Não é um choro de desespero. Está mais para um de exaustão e certo alívio.

Passamos o restante do caminho em silêncio, entrecortado somente por alguns baixos soluços e Millie dizendo que está tudo bem. Sei que era eu quem deveria estar consolando-a, mas ao mesmo tempo sei que não posso fazer isso. Não quando o que me deixa feliz, a deixa imensamente triste.

Assim que chegamos em frente a sua casa ela desce e Millie lhe acompanha até a porta. Não desço do carro e também não tenho coragem de me despedir. Quando Millie volta ela se senta ao meu lado na frente.

-Vamos passar a noite aqui. Ela disse que o Nick e a Sarah vão ficar com o Eric e... A sua mãe não está bem. Não quero deixá-la sozinha. -Pede ela, me impedindo de ligar o carro.

Respiro fundo e passo a mão pelo rosto. Confuso, sem saber como a noite passou de horrível para boa e depois horrível de novo. Sinto pena da minha mãe, é claro, mas não posso ignorar que esse tempo todo, ela sabia que isso poderia acontecer.

-Ela é adulta, Millie. De uma forma ou outra tem que aprender a lidar com essas coisas.

Millie se afasta no banco com uma expressão de quem não me reconhece e balança a cabeça.

-É só uma noite. Não acredito que você vai negar isso a ela.

-Não estou negando. -Digo com veemência e solto um suspiro pois sei que estou errado. -Nao temos roupas aqui. Nem nada.

Ela bufa. Ficando subitamente com raiva e cruza os braços. Sei que não vai insistir demais então eu já posso me dar por vencedor.

Ligo o carro de novo, mas então desligo.

-Esta bem! -Digo, por entredentes e saio do carro.

Quando estou andando para entrar em casa, Millie puxa meu braço e me faz parar. Seu cenho está franzido e ela aperta a manga da minha camisa.

-O que deu em você? Está agindo que nem uma criança! -Ralha ela, fazendo força quando aperta o meu braço.

O problema é que estive me segurando a noite inteira para me controlar e não explodir e chega um momento em que ninguém mais é capaz de suportar isso.

-Eu estou agindo que nem uma criança? Tem certeza? Porra, passei semanas esperando o maldito resultado desse exame e quando sai ainda tenho que me preocupar com mais problemas? Millie, não dá para deixar todo mundo feliz ao mesmo tempo!

Ela me solta com profundo desgosto e se afasta de novo balançando a cabeça. É quando me arrependo de ter gritado. Tento me aproximar para toca-la, mas ela se afasta ainda mais se encolhendo.

-Não! -Berra ela. -Se você quer ir pode ir, eu vou ficar com a Mary!

Millie caminha a passos rápidos e num impulso motivado pelo remorso e pela incompreensão agarro seu braço.

-Eu não posso ir sozinho. Não consigo dormir se você não estiver comigo, você sabe. Os pesadelos! -Jogo sujo, agora tomado apenas pelo desespero de vê-la me deixar.

Millie arqueja, com pena de mim. Lhe atingi no ponto mais fraco, porém, sua expressão muda depressa e ela puxa o braço de volta.

-Que pena. Não dá para deixar todo mundo feliz ao mesmo tempo.

Repetindo minhas palavras ela ajeita a bolsa no ombro e sai para entrar na minha casa. Fico parado no meio do jardim me sentindo péssimo por ter estragado tudo, mas ainda orgulhoso demais para dar o braço a torcer. Imaginei que a verdade atingiria todo mundo de alguma forma, só não esperava que seria desse jeito com Millie.

Passo algum tempo apenas pensando andando de um lado para o outro tentando não surtar com tudo que está acontecendo ao mesmo tempo. Sei que minha raiva não é totalmente desmedida. Estive esperando por esse momento a muito tempo, mas a paz que esperava nunca vem. Nem com isso. Ao mesmo tempo lembro do que prometi mais cedo. Que tentaria ser um cara diferente.

Com os pensamentos conflitantes decido entrar em casa. Quando cruzo a porta da sala encontro Millie com minha mãe na cozinha. As duas sentadas na mesa em silêncio enquanto tomam chá.

Minha mãe é a primeira que me vê e ela não consegue esconder sua surpresa.

-Finn... -Diz ela, e seus olhos logo se enchem de lágrimas.

Millie olha para mim, depois desvia o olhar para a xícara, mas ainda consigo ver que está aliviada.

-Mãe. Desculpa. -Digo, cruzando a cozinha pequena para me abaixar e lhe dar uma abraço.

Ela me aperta com força e suspira quando encosta a cabeça em meu ombro.

-Acho que você deve ligar para o seu pai ou para o Nick. Falar para eles o resultado do exame. -Pede ela quando levanta o rosto para me olhar.

Lágrimas finas escorrem de seus olhos magoados e eu resisto a vontade de pedir que não faça isso. Que não adianta mais ficar desse jeito. Só ela sabe o que está sentindo.

-Está tarde. Acho melhor dizer amanhã. E eu quero poder conversar com o... Eric pessoalmente. -Explico, ainda me recusando a chamá-lo de pai.

Ela assente e mais lágrimas escorrem de seu rosto. Parece não conseguir parar de chorar. Eu já vi isso muitas vezes assim que ela descobriu sobre a traição, mas a muito tempo não acontecia mais. Fui embora de casa naquela época exatamente porque não sabia lidar com esse sofrimento, então não me sinto preparado para fazer isso agora.

Ao contrário de mim, foi Millie quem esteve ao seu lado e é ela quem está agora novamente. Ela me empurra para o lado e acolhe minha mãe em seus braços de novo sem olhar para mim.

Me sinto inútil. Incapaz e um tremendo idiota que só sabe ficar olhando sem fazer nada. Quando tento dizer alguma coisa, Millie ergue a palma da mão para mim, me parando.

-Sobe. Nos deixe sozinhas, por favor. -Pede ela, apenas gesticulando com a boca, sem dizer uma palavra.

Quero sair daqui. Mas não quero ter que ir para o meu quarto. O palco dos pesadelos. Tento dizer isso e ela me para de novo.

-Vai Finn! Por favor! -Dessa vez ela fala com todas as letras.

O choro de minha mãe é a motivação que preciso para obedecer. Quando subo as escadas e chego no maldito corredor me sinto uma criança apavorada e tateio a parede de olhos fechados até encontrar a porta.

A luz do aquário aceso me recebe do lado de dentro. O casal de peixes dourados nadam pela água dentro e fora da miniatura de barco naufragado lá dentro. O presente de Susan, que eu nunca me livrei é só mais uma coisa que só serve para me torturar.

-Sinto muito, mas vocês vão ter que ficar no escuro. -Digo, me sentindo patético por falar com os peixes e desligo a luz do aquário.

As coisas de Sarah ainda estão espalhadas no quarto então faço o possível para manter a bagunça dentro do armário. Tomo um banho longo e visto somente a calça. A cama é mais um dos lugares assombrados pelos pesadelos. É onde Susan faz coisas horríveis com Millie e onde tudo acaba.

Não me deito nela, vou para a poltrona. Verifico umas quinze mensagens de Caleb perguntando se deu tudo certo com o jantar e se Millie gostou do anel que ele me ajudou a comprar de última hora, mas não respondo. Sem clima para comemorar algo tendo tantas outras coisas ainda acontecendo.

Depois de algum tempo olhando apenas para o teto inevitavelmente a exaustão me leva a cair no sono. Acordo o que parece ser minutos depois com alguém balançando meu braço.

-Finn... Acorde querido.

Abro meus olhos e vejo minha mãe abaixada ao meu lado na poltrona. Seus olhos estão super inchados e vermelhos, mas não há mais lágrimas escorrendo. Demoro um pouco para voltar a pensar e quando faço isso olho para o lado procurando por Millie que não está no quarto.

-Mãe... Onde a Millie está?

Ela se levanta e pede a minha mão. Sua expressão séria não me deixa dúvidas de que não vou gostar nada do que vai me dizer.

-Está lá embaixo, preciso que venha comigo.

Um estalo interno me desperta totalmente e em um segundo me levanto e passo por ela correndo a toda velocidade, pulando todos os degraus da escada.

-Finn! Espere! -Ela grita atrás de mim, mas eu não consigo parar. Não posso fazer isso

Millie não está na sala quando passo por ela e então vou para a cozinha. A adrenalina que corre em minhas veias é tão intensa que mal enxergo o que tem na minha frente. Somente quando a encontro meus olhos voltam a ter foco. Ela está sentada na cadeira, afastada da mesa e de costas para mim. Com a cabeça abaixada rumo a um balde no chão repleto de vômito e com as mãos apoiadas nos joelhos.

Não consigo descrever o que sinto e quando dou por mim estou de joelhos no chão, tocando em seus braços banhados de suor frio.

-Filho, calma. -Minha mãe chega, esbaforida por causa da corrida pela casa.

Millie ergue a cabeça para me olhar e seus olhos enevoados pelas lágrimas piscam suavemente.

-Estou bem... Estou melhorando. -Diz ela passando a mão pelos olhos borrando toda a maquiagem que ainda estava ali.

-Ela está se sentindo mal, já vomitou umas duas vezes. Não sei o que fazer. -Minha mãe diz, preocupada enquanto alisa suas costas.

Millie soluça como se estivesse embriagada e vira o rosto para olhar para ela.

-Eu estou bem... Falei que não precisava chamar o F...

Ela se interrompe, deixando a cabeça cair de novo para a frente quando mais um jato de vômito escapa de sua boca.

-Minha nossa! -Minha mãe berra, correndo para segurar seus cabelos enquanto Millie vomita cada vez mais e se retorce em cima da cadeira.

Parece que estou em um pesadelo. Não tão ruim quanto o que me assombra a noite, mas um real, portanto, muito mais preocupante.

Sem pensar em mais nada pego o rolo de papel toalha em cima da pia e arranco todas as folhas de uma vez. Espero Millie terminar de vomitar e então afasto o balde cheio para o lado. Me abaixo no chão outra vez e limpo seu rosto completamente.

-Mãe, ligue o carro. Vamos para o hospital agora mesmo. -Aviso, me levantando para pegar Millie no colo.

Ela tosse e me empurra.

-Não, Mary. Eu não vou a lugar nenhum.-Diz ela, me encarando com teimosia.

Minha mãe olha para mim sem saber o que fazer, em conflito. Olho para Millie, depois para ela. Minha respiração está tão acelerada que sinto a pulsação em meus ouvidos.

-Ligue o carro, mãe! -Reitero. Com a voz mais potente.

As duas tem um sobressalto com minha ordem e minha mãe finalmente se mexe para procurar as chaves do carro.

Pego o braço de Millie e passo por cima do meu ombro apoiando minhas mãos em suas costas e pernas. Ela tenta resistir, mas está tão fraca que não consegue.

-Finn, não faz isso comigo. -Ela implora, fincando as unhas em meu peito quando a levanto.

Já desviei demais desse assunto. Já ignorei demais tudo o que vem acontecendo porque ela me pediu. Porque sempre estou tentando fazer o que é melhor para ela. Mas minha paciência acabou. Estou em pânico e não aguento mais fingir que nada está acontecendo.

-Fazer o que? Me preocupar com você? Cuidar de você? É isso que estou tentando fazer! -Explico, puto de raiva enquanto a tiro da cozinha no colo.

Ela se debate, mas então é vencida pelas lágrimas. Vem um milhão delas. Millie encosta a cabeça em meu peito e aperta as mãos em meus ombros, totalmente rendida e sem saída. Odeio vê-la assim, mas odeio ainda mais ver e não fazer nada.

Corro pelo jardim bem depressa para que ninguém nos veja e abro a porta de trás do carro para colocá-la dentro. Minha mãe vem correndo de casa e nos encontra.

-Aqui, vista isso. Você não pode entrar no hospital sem camisa.

Ela joga para mim uma camisa e um casaco que eu visto bem depressa antes de entrar dentro do carro.

-Finn, acho melhor ligar para a Kelly ou para o...

-Não! Isso não, por favor! -Millie grita, agarrando o banco do motorista na sua frente onde minha mãe está sentada.

-Mas querida, eu acho que...

-Mãe, deixa. -A interrompo, antes que ela insista e atormente Millie ainda mais.

Ela assente, arrancando com o carro em seguida.

Millie encolhe as pernas no banco do carro e as abraça, abrindo uma distância maior de onde eu estou. Não entendo porque ela está fazendo isso. O medo é algo comum num momento como esse, mas não consigo compreender como ela pode me afastar, quando tudo o que eu quero é faze-la melhorar.

Me arrasto no banco e puxo seu corpo para mim. Ela vem, sem resistir, ou está apenas fraca demais para tentar. Abaixo meu rosto e beijo sua testa úmida e fria.

-Me desculpa, estou fazendo isso pro seu bem. -Murmuro, baixinho sobre sua pele.

Ela fecha os olhos deixando mais lágrimas caírem e aperta meu braço que a rodeia. O gesto, ao invés de me tranquilizar, apenas me deixa ainda mais em pânico.

-Não deixa minha mãe saber. -Ela diz, antes de chorar mais um pouco e desmaiar no meu colo.

--

Millie.

Uma picada fina sob minha pele é o que me faz despertar. Meus olhos de abrem subitamente sendo cegados pelo clarão branco da sala do hospital. Minha garganta arde e eu deixo escapar ums tosse seca que vem junto com um gosto horrível e amargo de vômito.

-Ei. Está tudo bem. Estou aqui. Você quer vomitar? -Finn pergunta, aparecendo ao meu lado enquanto ergue minha cabeça.

Me sinto zonza, fraca e com a sensação de ter um buraco no estômago, mas a náusea forte da qual me lembro foi embora totalmente.

-Não. Só quero...

Não preciso terminar, pois Finn pega meus braços e me levanta da cama, me deixando sentada sobre ela. O quarto começa a fazer algum sentido em minha visão. É todo branco. Vazio e frio. Só há a cama onde estou sentada, uma poltrona e uma outra maca na parede da extremidade. A picada em minha pele também faz sentido quando olho para meu braço ligado ao sistema de soro que cai direto em minha veia.

Me recordo de tudo o que aconteceu e um peso extraordinário parece surgir em meus ombros.

-Finn. Eu estou melhor. Podemos ir para casa. -Digo, o encarando pela primeira vez.

Ele solta uma respiração pesada e lenta de impaciência e segura meu rosto com as mãos.

-Nós não vamos. Você tem ideia de como chegou até aqui? Você desmaiou, Millie! Você... Caramba, pensei que você...

O interrompo, puxando seu corpo para abraça-lo com a força que ainda tenho. Seu coração pulsa tão rápido que posso senti-lo, mesmo por baixo das nossas roupas. Ele está apavorado. Tremendo enquanto me abraça de volta. Não suporto ter deixado-o nesse estado e novamente me sinto culpada.

-Me desculpa por ter gritado, eu saí de mim. Não sabia o que fazer e entrei em desespero. -Ele diz, com a voz no meu ouvido.

Não acredito que depois de tudo o que eu fiz, ele ainda ache que tenha que me pedir desculpas por qualquer coisa. Sou consciente do Pânico que causei. Do desespero que devo ter despertado nele e em Mary, mas ainda assim, não sou capaz de suportar o que quer que venha em seguida.

-Tudo bem... Eu só preciso que me tire daqui. -Imploro mais uma vez.

Ele se afasta de mim como se não acreditasse na minha insistência. Está decepcionado e com pena ao mesmo tempo.

-Você fez um exame de sangue. Temos que esperar pelo menos o resultado. -Responde, sério enquanto se senta na poltrona na minha frente.

Tudo o que eu menos queria ouvir era que fizeram um exame de sangue. Isso me apavora e por muito pouco me controlo para não puxar o acesso do meu braço e sair correndo do quarto. A única coisa que posso fazer e a única que consigo é chorar, descontroladamente.

-Millie, pelo amor de Deus o que há com você? É um exame de sangue que...

-Eu não quero saber de nada! -O grito explode da minha garganta e eu não consigo mais parar. -Eu quero ir embora, não quero ficar mais aqui então se você me ama... Se você...

Sou interrompida quando a porta se abre de repente e um médico loiro entra por ela.

-Ops, me desculpem, achei que você ainda estivesse desacordada. -Ele diz constrangido de ter atrapalhando, regredindo o passo para fora.

-Não. Tudo bem, pode entrar. -Finn levanta para cumprimenta-lo.

Olho para o médico de meia idade, mais especificamente para a pasta que ele carrega embaixo do braço e me encolho em cima da cama.

-Oi, muito prazer. Sou o doutor Andrews. Fui eu que mandei colherem seu exame. Você está se sentindo melhor? -Ele pergunta, esticando para mim sua mão rechonchuda enquanto sorri simpaticamente.

-Estou ótima. Acho que não preciso mais ficar aqui, então por favor se puder mandar tirarem isso do meu braço...

-Esta tudo bem, meu amor. Vamos ouvir o que o médico tem a dizer, sim? -Finn vem para o meu lado de novo e passa o braço por cima do meu ombro. Está contendo sua raiva na frente do médico.

-Finn... Eu preciso ir embora. -É minha última tentativa quando seguro sua mão bem forte.

Ele olha para mim e acaricia suavemente meu rosto enquanto uma lágrima escorre.

-Precisamos ficar aqui. -Diz ele se aproximando para cochichar. -Eu sei que você está com medo, mas eu estou com você. Temos que enfrentar, não dá para fugir para sempre.

Pisco meus olhos derrubando mais lágrimas enquanto ele limpa do meu rosto. Ainda não quero ficar, mas as minhas forças estão desaparecendo a cada segundo que passa, assim como a cada segundo, sinto que depois de ouvir o que o médico vai dizer, nunca mais serei a mesma.

-Shii... Eu amo você. Você sabe disso, não sabe? -Finn pergunta, ainda baixo enquanto beija minha testa.

Consigo assentir.

Ele se afasta e segura minha mão, se posicionando ao meu lado.

-Então... Eu posso dizer o que deu o exame? Ou você prefere que tenhamos essa conversa sozinhos? -Dr. Andrews pergunta para mim, com uma sobrancelha erguida e interessada, com certeza reconhecendo a nós dois.

Finn aperta minha mão para que eu olhe para deu rosto.

-Você quer que eu saia? -Ele pergunta, calmo, demonstrando que vai seguir qualquer uma da minha resposta.

Nenhuma das opções se tornam viáveis em minha mente e se eu pudesse eu mesma escolheria sair para não ouvir. Se preciso fazer isso, preciso que Finn fique comigo.

-Ele pode ficar. -Digo, me voltando para o médico.

-Otimo. Eu vi no sistema que ano passado você teve uma inflamação no pâncreas, não é? E se consultou aqui também. -Ele começa, levantando a primeira folha da pasta.

Sinto uma fagulha de esperança quando ele toca no assunto e o aperto de Finn de torna ainda mais firme em minha mão.

-Foi, estou sentindo a mesma coisa. -Respondo.

Ele abre a segunda folha e analisa por uns segundos, mas parece uma eternidade para mim. Ao contrário do que deve ser, me sinto prestes a receber a sentença da minha vida. Finn está nervoso, apertando minha mão tão forte que o atrito faz nossas peles suarem. Quando olho para ele, tenho a certeza de que seja lá o que acontecer, ele estará comigo, para sempre.

-É, mas está tudo bem em relação ao pâncreas. Os sintomas que você apresentou, de fato compactuam com o valor elevado do HCG, o que comprova efetivamente o início de uma gestação.

Meu coração para de bater e as vozes ao meu redor se tornam apenas barulhos distantes como se eu tivesse entrado dentro de um túnel fechado. Finn solta minha mão e aparece na minha frente. Os olhos brilhando com lágrimas de felicidade e um sorriso sem tamanho no rosto. Ele diz alguma coisa, talvez um "eu sabia", toca minha cabeça, minha mão, minha barriga e meus ombros. Não sinto nada. Não ouço nada. Parece que estou morta e não sei como voltar a vida.

-Quando vai nascer? -Minha voz sai de repente.

Finn me olha ofegante e se afasta de mim com uma expressão decepcionada e confusa deixando que o médico possa me ver.

-Bem, uma data exata não temos como saber, mas existem estatisticas. Qual foi o último dia da sua menstruação? -Ele pergunta, pegando uma caneta no bolso.

Minha cabeça tenta processar para achar uma resposta, mas parece que meus pensamentos todos se apagam.

-Não faço ideia. A uns dois meses atrás, mas não sei a data certa. -Digo, mexendo minha cabeça inútil de um lado para o outro.

Ele olha de Finn para mim, percebendo alguma coisa.

-Então não foi uma gravidez planejada. -Constata.

Finn passa a mão pelo cabelo e nega com a cabeça. O observo apenas de soslaio, pois não consigo encara-lo.

-Não. Não foi. -Ele responde, parecendo incerto.

-Hum... Entendi. Então podemos usar a data que vai ser apresentada no exame de ultrassom, mas como eu disse não é algo cem por cento concreto.

-Vamos fazer isso agora? -Pergunto, preocupada pela hora da madrugada. Agora que já tenho certeza, não posso sair daqui sem saber quando vou ter esse bebê.

-Bem, se você quiser podemos sim. Ou você pode voltar...

-Não. Eu quero agora, por favor. -O interrompo, sem conseguir parar para escuta-lo.

-Certo. Vou só mandar preparar a sala e você tem que esperar esse soro acabar. Está repondo nutrientes. -Diz ele verificando a bolsa, antes de anotar alguma coisa e sair da sala.

Só quando Finn e eu estamos sozinhos, sinto o clima pesado que se forma. A densa camada de gelo vivo que fica entre nós.

-Porque saber a data é algo tão importante? -Ele pergunta, ainda distante de mim.

Não o encaro ainda. Parece ser mais fácil não fazer isso. Dou de ombros, anestesiada.

-Planos. Eu trabalho. Você trabalha. Não quero que isso seja um impecilho. -Digo, na maior inocência, sem fazer ideia do que estou falando e verbalizando apenas o que vem em minha mente.

Escuto ele deglutir e pela visão periférica consigo ver suas mãos se alojando no bolso. Se eu levantar a cabeça, sei o que vou ver, e acredito que não tenha nada no mundo que seja capaz de me destruir mais do que isso.

-Eu não entendo você. Estou tentando fazer isso. Mas não entendo. -Ele diz, com a voz quase desaparecendo e então sai do quarto.

Olho para a porta a tempo de ve-lo correndo para os braços de Mary que espera no corredor. Cada molécula do meu corpo se retrai e minha cabeça lateja com a vontade de gritar, de para-lo, de fazer qualquer coisa para acabar com o que ele está sentindo. Mas não consigo. Não consigo lidar nem comigo. Com ele parece ser mil vezes pior.

Mexo no suporte móvel do soro e o arrasto comigo até a porta. As paredes finas da sala de espera me permitem ouvir vagamente o que se passa no corredor e eu paro, sem mover um músculo com o rosto colado na madeira.

-O que foi? O que ela tem? -Ouço Mary perguntar, com a voz cheia de preocupação.

O que vem depois são soluços roucos. Finn está chorando.

-Ela tá grávida, mãe. Grávida!

-Ah, mas isso não é maravilhoso? -Ela pergunta, empolgada e emocionada.

Finn demora para responder e consigo imagina-lo até com dificuldade para respirar.

-Ela não quer. Não quer... -Diz ele, com a voz repleta de dor.

Me afasto subitamente, sem conseguir mais ouvir, consumida pela mesma agonia. Consigo me arrastar de volta para a cama e me deito sobre ela. Meus pensamentos são caóticos, dolorosos e sem sentido. Apenas duas certezas.

Eu quero. Só estou morrendo de medo.

Demora um certo tempo até uma enfermeira entrar no quarto para me levar a sala de ultrassom. Ela retira o acesso do meu braço delicadamente e me ajuda a levantar da cama, embora eu não precise.

-Espera... Eu tenho que esperar...

-Ele já está na sala, querida. Está esperando lá. -Ela diz, quando tento para-la.

Mary não está no corredor quando passamos por ele. É um caminho curto entre a sala de espera até a sala do exame, mas o corredor parece enorme e balança enquanto ando.

Ela passa na minha frente para abrir a porta e então eu entro. Está tudo meio escuro na parte de dentro, exceto pelas máquinas ligadas no canto da parede.

-Pode deitar aqui. -Ela diz, apontando para a maca alcochoada.

Não tenho tempo de olhar mais ao redor e apenas me deito como ela manda. Tudo fica ainda mais escuro e a mesma mulher levanta meu vestido para colocar um líquido pastoso e frio na minha barriga. Meu corpo se enrijesse ao sentir e eu fecho meus olhos, parando de ouvir até mesmo quando o outro médico se apresenta.

Quando começam a passar o leitor sobre minha barriga, alguém segura minha mão no escuro. Finn. Não abro o olho. Mas sei que é ele.

-As imagens estão dizendo que a gestação são de oito semanas. -Diz o médico sentado ao meu lado, passando o cursor em mim. -É uma pena, não vamos poder ouvir o coração ainda.

Quando ele diz isso eu abro os olhos, direto para o monitor escuro na minha frente. Só vejo borrões deformados em preto e branco, mas ele explica o que cada ondulação significa.

-Sendo assim, a data provável para o parto pode-se dizer que será no dia vinte e três de dezembro.

Nesse momento eu olho para o lado, onde Finn está segurando forte minha mão. Seus olhos estão inchados e muito concentrados na tela, mas ele olha para mim logo em seguida.

-No dia do meu aniversário. -Diz ele, passando a mão pelo meu cabelo.

Consigo abrir um sorriso, provavelmente involuntário e que não sei de onde vem.

-Ok, você vai receber as imagens, mas só daqui a uma hora. Se quiser esperar, pode ficar a vontade. -O médico diz, limpando minha barriga quando termina o exame.

Finn ajuda a me levantar, mas uma preocupação súbita me faz olhar para o médico quando as luzes são acesas.

-Estou sentindo umas dores. Não acontece muito, mas as vezes são insuportáveis.

Finn me olha, sendo pego de surpresa com a afirmação e depois encara o médico.

-Isso é completamente normal no início. São cólicas e acontecem porque o útero está de expandindo, não representam nenhum risco desde que não acompanhe sangramentos.

Uma respiração aliviada me escapa e uma outra também, ao meu lado. Finn pega minha mão e saímos da sala. Mary está de volta ao corredor e se levanta depressa para me abraçar quando me vê.

-Mãe, vai com calma. -Finn alerta, me soltando para que eu possa retribuir o abraço.

-Ah, me desculpe. -Ela se afasta, alisando meus braços como se tivesse me arranhado. -Você está bem, minha querida? Eu estou tão feliz.

Antes que eu responda, Finn limpa a garganta.

-Eu acho que vou pegar um café na recepção lá embaixo. Não demoro. -Diz ele desconfortável, sem olhar para mim e sai.

Quando o vejo ir embora, tudo dentro de mim parece ceder e eu desabo.

-Mary... Estou tão apavorada.

Ela me abraça mais uma vez, colhendo meu rosto com as mãos para colocar em seu ombro.

-Eu sei querida, eu sei. E está tudo bem. Você pode e deve sentir medo.

-O Finn... Nunca vai me perdoar. Ele vai me odiar para sempre.

-Ei. Não. Não diga isso. -Ela me para, afastando meus ombros para olhar para mim. -Escute, o Finn te ama, Millie, ele só não consegue compreender agora sua reação, mas nunca vai odiar você. Não pense mais nisso.

Mary limpa meu rosto com as mãos enquanto eu nego com a cabeça. Queria muito poder acreditar no que ela diz, mas vi o jeito como ele ficou magoado e ouvi o que ele disse para ela.

-Eu quero, Mary. Por Deus... Eu quero muito, mas... São tantas coisas. Eu não sei o que fazer agora.

Ela me olha cheia de compaixão, mas é nítido que ela não sabe o que me dizer. Algo de repente parece passar por sua cabeça e ela abre um sorriso.

-Venha comigo, quero te mostrar uma coisa.

Quero esperar Finn voltar e tentar pedir desculpas, mas não quero que ele me veja chorando desse jeito, por isso confirmo e ela segura minha mão enquanto me leva para um elevador.

-Para onde estamos indo? -Pergunto quando as portas se fecham.

Ela aperta minha mão e sorri de novo.

-Você vai ver. Eu vim aqui enquanto estava esperando vocês.

Quando a porta se abre, hesito quando leio a placa indicativa do andar. Maternidade.

-Mary...

-Minha querida, escute. -Ela fica na minha frente e coloca uma mecha do meu cabelo para trás. -Não quero te assustar. Só preciso que veja isso.

Hesito de novo, pensando que essa deve ser a pior ideia do mundo todo, mas algo me faz assentir e sair do elevador. O corredor onde entramos é largo, pintado de cores neutras e repleto de bancos alcochoados de madeira. Está vazio, o que me deixa menos nervosa uma vez que o que menos preciso agora é que alguém me veja nesse lugar.

Começo a ouvir vários choros de bebês ao mesmo tempo vindos de algum lugar e o som me traz arrepios e frio na barriga. No final do corredor vazio há uma imensa janela de vidro acesa e Mary me leva até ela.

A luz vem do cômodo de dentro e o vidro nos permite enxergar com clareza o interior da sala.

-Aqui é o berçário. -Ela explica, indicando com a cabeça.

Coloco a mão contra o vidro e observo com atenção, as várias e várias filas de bebês em pequenos bercinhos. Cada um com uma cor diferente. Com uma roupa diferente, mas todos dormindo.

Minha garganta seca e algo na imagem faz meu peito acelerar as batidas, conflitando entre a vontade de sair correndo e ficar.

-E-eles... Estão doentes? -Pergunto, mas não desvio o olhar dos bebês. Parecem tão tranquilos.

-Ah, não. Só estão esperando para ir para casa. As vezes quando acontece algum problema com a mãe ou algum atraso nos exames eles tem que ficar mais um pouquinho. -Ela diz, também concentrada no que está vendo. -Mas não era exatamente isso que eu queria mostrar.

-Não? -Consigo olhar para ela. -O que era?

Ela mantém os olhos voltados para frente e de repente grita.

-Ali! Olhe!

Me volto para frente, assustada e alarmada com seu grito. A porta do interior do berçário se abre e uma enfermeira entra, junto com um casal segurando um carrinho de bebe. Eles estão de mãos dadas e parecem ansiosos e felizes enquanto a enfermeira se enfia entre as filas para pegar um dos bebês.

-É isso, Millie. É esse o momento. -Mary conchinha para mim, como se temesse ser ouvida.

Ela aponta para o vidro no exato instante em que a enfermeira entrega a criança para a mãe.

-Depois desse momento, cada uma das coisas que passaram antes, passam a não existir mais. Você tem medo, porque acha que não está preparada para ser mãe agora, mas querida, ninguém está. Mesmo quando nos acostumamos com a ideia, quando vemos a barriga crescer, sentimos os chutes e ouvimos o coração, nada disso nos faz cair a ficha. Claro que são momentos importantes e inesquecíveis, mas nada se compara a isso. Esse momento quando você pega o bebê no colo para ir para casa. Para incluí-lo de vez na sua vida real, não como uma idéia, mas como algo físico que passa a existir de verdade somente agora.

Enquanto ela diz, observo o pequeno bebê começar a chorar quando acorda. O pai da criança parece desesperado, mas a mãe o embala em seu colo e dá beijos em sua testa até fazê-lo parar de chorar e acalma-lo. Depois, eles sorriem um para o outro, se despedem da enfermeira e vão embora.

Uma sensação estranha me invade e faz meu coração ficar num estado esquisito de serenidade e conforto.

Mary toca minha mão para me fazer olha-la e em seguida limpa meu rosto, quando eu nem percebi que estava chorando.

-Por isso minha querida você tem todo o direito de ter medo. De não ter completa certeza do que vai fazer e de não saber lidar com essa situação ainda, mas quando chegar o seu momento tudo vai mudar e como mágica, todas as respostas vão surgir.

A abraço com toda força. Sentindo o pavor desaparecer de mim quando faço isso. Não sei até que ponto consigo compreender o que ela me disse, mas de repente, de alguma forma, simplesmente sei que posso fazer isso.

Sinto uma mão em meu ombro e Mary se afasta. Quando me viro, Finn está atrás de mim. Ele olha para o berçário, para mim, para Mary e sua boca se abre, mas não deixo que diga nada. O abraço também. Com uma força ainda maior e as batidas do nosso coração se transformam em uma só. Violentas e aceleradas.

Demora até que ele me solte e quando faz isso olha para meu rosto como se quisesse ter certeza de que realmente sou eu. Que voltei ao normal.

-Você... Está bem? -Ele pergunta, colhendo uma lágrima da minha bochecha.

Confirmo com a cabeça e sorrio.

-Sim. Muito.

Ele não contém uma respiração aliviada e olha para Mary atrás de mim com um sorriso agradecido nos lábios. Quando olha para frente de novo, para o berçário, seus olhos pestanejam e sinto seus dedos trêmulos junto dos meus.

-Caramba. É meio assustador, você não acha? -Ele pergunta, sem desviar os olhos do vidro.

Coloco seu braço sobre meu ombro e me enfio embaixo dele para colocar minha cabeça em seu peito.

-Não. Não é nem um pouquinho.


Notas Finais


😭😭😭😭😭


Até breve ♥️


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