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História The Change- Fillie - Capítulo 29


Escrita por: MabelSousa

Notas do Autor


Boa leitura ♥️

Capítulo 87 - Capítulo 29


Millie.

Estou em uma corrida contra o tempo. Dividindo meus dias entre ir ao trabalho, consultas e em algumas ligações ocasionais com Mary para planejar a festa de casamento. Finn, passa o maior tempo que pode comigo, mas mesmo estando ao seu lado me sinto tão sozinha quanto possível. Ele anda estranho, calado e pensativo e todas as minhas tentativas de conversas sobre seu comportamento foram arruinadas com desculpas esfarrapadas e fugas do assunto.

No outro dia, quando fui ao Rootsfood fazer a tarde de autógrafos como prometi a Lily para atrair atenção para a lanchonete, ele sequer me acompanhou. Disse que estava ocupado com o trabalho, mas descobri rapidamente que na verdade ele nem apareceu na prefeitura no dia em questão, ou seja mentiu para mim outra vez. Dentre as várias outras que também sei que foi invenção sua.

Os únicos momentos que o senti conectado a mim de alguma forma, foi durante as consultas. Ele estava lá quando fiz inúmeros exames e tomei as vacinas, sempre muito interessado em saber sobre o nosso filho, mas ao voltar para casa a distância entre nós se tornou cada vez mais palpável e me deixou sem nenhum tipo de defesa.

Na quarta-feira, bem depois que cheguei do trabalho com David, meu apartamento que já deveria ser o nosso, estava vazio, o que me fez lembrar que Finn nem sequer arrumou suas coisas para a mudança que planejamos.

-Ele está no trabalho ainda? -David pergunta, ao entrar comigo, encontrando a sala sem ninguém.

-Sim. Ainda não chegou. -Respondo, sem querer que ele perceba minha desconfiança.

Odeio o que Finn está fazendo comigo, mas mesmo assim, não quero dar nenhum tipo de margem para David falar mal dele.

David assente, mas sabe que estou desgostosa e desconfortavel com isso. Ele estica as pernas da calça e se senta na poltrona da sala.

-Posso ficar aqui, para te fazer companhia. -Oferece com gentileza.

Faço que não, imediatamente. A última coisa da qual preciso é que Finn chegue aqui e encontre David. Os dois já tem um histórico muito preocupante de discussões para que eu permita mais uma.

-Não tem problema, pode ir para casa. Só quero me deitar. Estou cansada. -Digo, me jogando em cima do sofá da sala.

Ele assente de novo, mas sem esconder sua preocupação comigo.

-Certo. Tenho que dar uma força para a Lily, o movimento na lanchonete disparou desde a seção de autógrafos, ela e o Romeo não têm mais tempo para nada.

David parece agradecido ao falar isso, mas mesmo assim não consigo me animar a ponto de sorrir. Quando nos levantamos, reparo na caixa sobre a mesinha de centro. É a caixa com os últimos convites do casamento que Mary deixou aqui ontem a noite, mas eu estava tão cansada que nem abri.

-Espera. -Falo, antes que ele saia.

Abro a caixa e procuro os três convites. O de David, Lily e Romeo.

-O convite de vocês. -Digo, oferecendo os três envelopes brancos para ele.

David pega nas mãos e solta um suspiro, sem parecer animado.

-Você ainda não falou para a sua mãe sobre a data. Nem sobre a gravidez. -Ele me lembra, colocando os convites dentro do bolso do terno.

-Vou falar hoje. -Digo, soltando o mesmo suspiro. Faltam três dias para a cerimônia e eu estive esperando tempo demais para falar. Agora, não tenho mais como fugir.

-Ok. Eu vou indo, se precisar de mim é só me ligar. -Ele vem até mim e me abraça, beijando em seguida minha testa.

O levo para a porta, depois volto até a sala para ver os convites. Mary fez tudo com muito carinho, cuidou até mesmo em escolher as letras, cursivas e douradas no cartão. É simples e vai direto ao ponto. Só tem a data e o local, um discurso rápido e o nome do convidado. Quatorze pessoas. Somente a família de Finn e a minha, alguém poucos amigos e só. Apesar de ser como eu pedi, o convite também não me anima, parece até... Triste demais.

Deixo a caixa sobre a mesa e vou para o quarto tomar banho. O almoço no estúdio desceu a força, mas graças aos remédios para enjôo, consegui manter tudo dentro do estômago. Me lembro de tomar mais um, apenas por precaução para quando for a casa dos meus pais contar o que tenho de contar.

Quando termino o banho seco o cabelo e me deito na cama. Com as cortinas fechadas e apenas a luz de um abajur acesa eu pego no sono muito rápido, assim como acontece sempre já que não paro de sentir sono a todo instante.

Acordo de novo quando sinto lábios quentes sobre minha testa e uma agitação ao meu lado no colchão. A sensação é familiar, boa e confortável, mas mesmo assim me forço a abrir os olhos.

Finn está sentado na beira da cama, retirando as meias depois de ter largado os sapatos no chão do quarto.

-Oh, desculpe. Não queria acordar você. -Ele diz quando olha para mim e se assusta ao me ver acordada.

É assim que ele está. Alerta e ao mesmo tempo distraído, se assustando facilmente.

-Tudo bem... Que horas são? -Pergunto me sentando na cama. Minha cabeça dói muito.

-Três da tarde. -Ele olha para o relógio. -Na verdade são quase quatro.

A dor lateja ainda mais quando movimento minha cabeça.

-Quatro? Você não deveria ter chegado as duas?

Ele embola as meias dentro dos sapatos e respira fundo, incomodado com a minha pergunta.

-Sim, mas almocei na casa da minha mãe. Não sabia que você iria chegar cedo.

Solto o ar com força pelos lábios e me obrigo a levantar da cama, lutando para que a dor de cabeça não piore com a raiva que estou sentindo.

-O meu horário de chegar também é as duas da tarde, assim como o seu e você sabe disso. Foi o que a gente combinou! -Digo, enfurecida enquanto ando até o banheiro.

Pelo barulho de suas pegadas, sei que ele vem atrás de mim rápido, antes que eu possa fechar a porta.

-Ei. O que foi? Pra que esse estresse todo? Aconteceu um imprevisto e eu não pude chegar na hora, só isso. -Ele explica, segurando a porta com o braço e a calça com a mão desocupada.

Finn tem um péssimo jeito de ficar com raiva nesses momentos, quando sabe muito bem que está errado e isso me enlouquece ainda mais. Estive suportando isso a semanas e para mim já chega.

-Que imprevisto, Finn? Se você tivesse ido para a casa da Mary mesmo poderia muito bem ter vindo aqui e me levado junto! -Grito, ainda segurando a porta, acima de onde seu braço está.

Ele respira profundamente e percebo a agitação corriqueira em sua expressão facial. Pelo tempo que demora para responder, já sei que está atrás de uma desculpa que não existe e que eu não quero ouvir. 

-Esta bem. Não precisa se explicar. Só sai. Me deixa tomar banho sozinha. Eu sim, tenho que sair agora. -Digo, mas solto a porta e vou para a bancada perto do espelho.

Ignorar é melhor do que escutar e ouvir mais um monte de mentiras. Finn bufa e entra dentro do banheiro comigo, já retirando a camisa.

-Pode parar. O que você está fazendo? -Pergunto, me virando contra o gabinete.

Ele continua a retirar a roupa e dá de ombros.

-Vou tomar banho. Com você. -Diz, enfatizando a palavra como se eu não fosse capaz de entender.

Sinto ainda mais raiva de sua petulância, pois ele sabe que não estou nenhum pouco feliz com isso, mas parte de mim, a parte fraca que não consegue ficar longe dele e é idiota o bastante para não resistir, me faz apenas dar de ombros e eu me viro para o espelho de novo.

Ele liga a torneira da banheira e começa a enche-la, sem se dar ao trabalho de me perguntar se eu quero ou não usar apenas o chuveiro. Quando a banheira já está cheia e com os sais, ele chega por trás e toca meus ombros.

-Vem comigo. -Pede, se aproximando para beijar minha cabeça, mas eu desvio.

-Vou pro chuveiro.

Saio e pego uma toalha no suporte. Atrás de mim, posso ouvi-lo suspirar de forma exausta, como se lutar comigo fosse um fardo enorme que ele tem que carregar.

-Millie, pare com isso. Eu realmente fui na minha mãe, mas sei lá... Pensei que você ia chegar cansada e não ia querer sair. Se você quiser pode ligar para ela. Ela vai confirmar tudo.

Me viro apenas para encara-lo. Ele está parado segurando a toalha no quadril, parece realmente chateado, mas ultimamente não tenho mais sido capaz de saber se suas palavras são ou não verdadeiras. Eu poderia realmente ligar para Mary e perguntar, mas ele sabe que eu não faria isso. Deslizo a porta do box sem dizer nada e ele fica sozinho na parte de fora.

Retiro o hobe do corpo, mas a porta se abre de novo e ele fica no limiar me encarando enquanto me dispo.

-O que há com você? -Ele pergunta, parecendo ligeiramente mais calmo.

Também já estou acostumada com isso. Após a mentira sempre vem o arrependimento, só que dessa vez não vou ceder.

-Eu vou sair. Já falei.

Ligo o chuveiro e não o expulso, pouco me importa se ele vai ficar olhando ou não. Só quero que a água alivie o meu corpo.

-Eu já entendi que você vai sair, quero saber porque está me tratando assim. -Pergunta, ainda parado no limiar.

Mais uma vez ignoro, começando a ensaboar meu corpo.

De repente a água para de cair sobre minha cabeça e eu bato as costas contra o corpo de Finn atrás de mim.

-O que... Que inferno, me deixa em paz! -Me viro para empurrar seu peito, mas minhas mãos ensaboadas deslizam e ele consegue segurar meus braços.

-Me desculpa, está bem? -Ele pede, de um jeito quase desesperado, me empurrando suavemente contra a parede do banheiro.

Nego com a cabeça e começo a empurra-lo de novo.

-Se você está me pedindo desculpas é porque sabe que está errando comigo.

-Eu sei. -Finn me segura com mais força, restrigindo meus poucos movimentos e segura meu rosto. -Eu sei que errei, mas você sabe também que não precisa ficar desse jeito. Passei duas horas fora, meu amor, eu não fiz nada demais.

-Duas horas hoje. E ontem? E anteontem? E...

-Eu trabalho. Assim como você. -Ele me corta, colocando o dedo sobre meu lábio, me olhando seriamente. -O Oliver não tem horário certo e eu preciso estar lá quando ele está. Você sabe de tudo isso.

Me sinto tão cansada que minhas últimas forças são derrotadas e eu paro de lutar. Finn nunca foi desse jeito, nunca fez nada para me magoar, mas parece que era eu que não via dessa forma. Talvez seja carência minha. Os malditos hormônios estão acabando comigo.

-Sim, eu sei. Mas e eu? Você... Passa um tempão longe daqui. E se eu precisasse de você? -Pergunto e ele instantanemente retira a força que está fazendo em meu corpo para me abraçar.

-Meu amor, você sabe que eu sempre estou quando você precisa. Me diga, aconteceu alguma coisa? -Pergunta, murmurando em meu ouvido.

Quero poder dizer tudo o que está me incomodando. Falar que estamos distantes e que ele sabe disso, mas a bem da verdade, posso estar tendo percepções erradas.

-Não. Não aconteceu. -Desisto, envolvendo meus braços em torno de seu corpo.

Ele respira aliviado e se afasta para erguer meu rosto.

-Pare de ficar se estressando, principalmente por minha causa. Se há algum problema é só me dizer e eu vou resolver para você, entendeu?

Confirmo com a cabeça e de repente ele me retira do chão em seu colo.

-Você vai tomar banho comigo.

Consigo rir, enquanto ele me leva para dentro da banheira cheia. Nossos corpos juntos fazem a água espirrar para fora, mas Finn logo me puxa para que eu fique no meio de suas pernas.

-Você está confortável? -Ele pergunta, afastando a mecha do meu cabelo para trás da orelha para falar em meu ouvido.

-Sim. Só... Fica mais perto de mim.

Ele ri, e me puxa um pouco mais, prendendo as mãos em volta da minha barriga.

Ficamos em silêncio por um tempo e me sinto mais relaxada dessa forma. Sempre fico quando estamos justos assim, só que, as dúvidas ainda fervilham na minha mente.

-O que você foi fazer na Mary? -Pergunto, sem um tom muito inquisitivo, apenas curioso.

Percebo que ele fica tenso, e tenta disfarçar limpando a garganta.

-Fui ver como ela estava. Desde aquele dia eu não voltei lá, e também... -Para de repente.

Me viro na banheira e encontro seu rosto preocupado atrás de mim

-Também o que?

Ele olha para o lado e mexe os ombros. Parece que está enrijessido.

-Amanhã é o aniversário da Susan.

Me sinto paralisada, como acontece quando escuto esse nome. Finn fala quase com desinteresse e minha mente trabalha rápido, ligando alguns pontos. Mary marcou a data do nosso casamento no dia do meu aniversário, quando eu falei isso para Finn, ele nem percebeu em que dia cairia. Eu não me importei no momento, mas isso acabou de mudar.

-Você ainda lembra do aniversário dela. -Digo, quase de forma inconsciente.

Ele bufa e passa a mão molhada pelo rosto.

-E tem como esquecer isso?

É a pior resposta que eu poderia ouvir. Me afasto na água, ficando no outro limite da banheira.

-O dela parece que não... Já o meu...

Finn arregala os olhos e em seguida os fecha, soltando uma grande quantidade de ar pela boca.

-É sábado. No dia do nosso...

-É. Nesse dia. -O corto, incapaz de ouvi-lo terminar.

Ele ter esquecido não seria uma grande questão para mim, mas esquecer o meu e lembrar do dela é algo com o qual não consigo lidar.

-Ei... Olha só. Eu não esqueci. -Ele diz, tentando capiturar minha mão embaixo da água. Quando me retraio, ele fica em choque. -Não faz isso, Millie. Eu ando com coisas demais na cabeça e...

-Coisas demais... -Repito, incrédula e tão magoada que a sensação me entorpece. -Pelo visto você está é com a Susan na cabeça isso sim.

Ele nega com a cabeça várias vezes, parecendo atordoado, mas não tanto quanto me sinto. Um velho sentimento de ciúmes começa a envenenar minhas veias, tal qual quando Susan apareceu.

-Meu Deus, claro que não. Só pensei na Sarah... Se ela vai lembrar e querer ver a mãe. Só isso. -Ele explica, desesperado para que eu acredite.

Realmente ele tem um ponto, mas estou muito além da razão para conseguir esquecer.

-Millie, por Deus, você não está pensando que eu...

-O que você quer que eu pense? Todas as vezes que eu acho que estamos em paz e livres dessa mulher, você sempre arranja uma forma de trazê-la de volta. A Susan nunca sai de você! -Perco a cabeça e acabo gritando.

Com isso ele se silencia. Não por aceitar o que eu disse, mas por ficar sem palavras e só assim consigo entender que fui longe demais. Deixei que a mágoa que sinto a dias se tornasse maior do que tudo.

-Eu acho que você não entendeu...

-Eu sei, me desculpa, Finn, eu...

-Não. Você realmente não entendeu. -Ele me corta, segurando minha mão suavemente quando tento tocar seu rosto. Faz tempo que não o vejo sério dessa forma então fico parada. Ele respira fundo e olha dentro dos meus olhos. -Voce acha que eu quero ou gosto disso? Acha que é fácil para mim saber que a Sarah é filha dela ? Acredite, por mim, a Susan nunca mais seria uma questão na minha vida. Mas ela é mãe da Sarah e a Sarah é a minha irmã. Eu querendo ou não, a Susan vai fazer parte da minha vida para sempre. É isso que ela queria, Millie. Deixou a Sarah como uma espécie de ligação entre nós dois e ela sabia que dessa forma ela sempre estaria presente, de um jeito ou de outro. Não tem solução, mas se você acha que não pode lidar com isso...

-Eu posso. Me desculpa. -O interrompo, me arrastando na banheira até abraça-lo de novo. Não posso nem imaginar ficar sem ele então não consigo ouvi-lo dizer isso. -É só que... Eu odeio tanto essa mulher. Nossa... Eu acho que seria capaz de fazer uma loucura se um dia encontrasse com ela de novo na minha frente. -Digo, o abraçando com toda força.

Finn suspira e para meu alívio me abraça de novo, beijando minha testa ternamente. A mágoa que eu estava sentindo é sobreposta ao amor que tenho por ele, que é capaz de me fazer compreender sua tortura. Finn não pode evitar que Susan esteja em sua vida e se eu tenho que conviver com isso, eu irei.

Ele fica um momento em silêncio, depois levanta um pouco meu rosto para me olhar. Parece pensativo, como se quisesse me dizer alguma coisa, mas não sabe como.

-Eu acho que esqueci de te dizer, mas o Marvin me procurou a uns dias atrás. -Ele diz e sua mão treme ao segurar o meu queixo.

Fico surpresa e novamente um pouco chateada, mas a curiosidade vence no final das contas.

-Procurou? Para que?

Finn hesita e faz um gesto de desinteresse com os ombros, mas está inquieto.

-Parece que ele recebeu uma proposta de emprego lá no Quebec e se isso der certo, possivelmente ele vai se mudar e vai levar a Susan com ele para a clínica de lá.

Não estava esperando por isso, sinto uma espécie de alívio momentâneo quando imagino Susan do outro lado do pais, mas ao mesmo tempo é como se isso também me incomodasse.

-Nossa... Porque você não me contou isso? -Pergunto, não tão chateada como me sinto.

Ele olha para o lado e suspira. Parece não fazer ideia do porque.

-Devo ter esquecido e também ainda não é algo certo. Não ando conversando muito com ele para saber como as coisas estão.

Assinto, compreendendo. Finn tem horror a Marvin, mesmo que ele saiba que Marvin não tem culpa de nada, Finn sempre se mostrou muito na defensiva quando fala com ele.

-O Quebec é muito longe daqui. -Digo, ainda tentando processar a informação. Parece que não é real.

-Eu sei... Isso não é bom? -Finn segura meu queixo de novo. Ansioso pela minha resposta. Ele também parece confuso.

Em qualquer circunstância, Susan estar longe é sim uma coisa boa, mas talvez pela surpresa, não consigo ficar satisfeita cem por cento com isso.

-É bom. Só que... Tem aquele ditado que diz que as vezes é melhor manter nossos inimigos perto. Sei lá... Eu sei que você tem medo de que ela saia da clínica e nos procure então... -Digo, mas não quero me aprofundar muito nesse ponto. 

Finn teve um pesadelo ontem a noite e eles não aconteciam a vários dias. Mesmo que eu sempre lhe assegure que nada vai acontecer comigo, ele ainda morre de medo.

Ele concorda, parece também estar se lembrando do pesadelo.

-Eu sei, mas se ele levá-la, ela não tem como voltar. O passaporte dela está retido, então assim é mais seguro. -Afirma, com uma estranha precisão.

Parece que ao contrário do que ele me disse, Finn pensou muito sobre isso, tanto que sabe até sobre o passaporte de Susan. Balanço a cabeça para me desviar desse pensamento.

-Bem, se é dessa forma... Que ele a leve para longe mesmo.

Finn parece satisfeito com a minha resposta e relaxa pela primeira vez. Ele coloca as mãos nos meus ombros espalhando a espuma por minha pele.

-Mas vamos voltar ao assunto mais importante. Seu aniversário. O que podemos fazer para comemorar?

Rio, também menos tensa. Não estou nem aí para meu aniversário e foi uma tremenda bobagem começar uma briga por causa disso. Me sento em seu colo e passo a mão por seus cabelos.

-Acho que o nosso casamento já vai ser um bom jeito de comemorar. -Me inclino sobre seu corpo e puxo suavemente seu lábio inferior com os dentes.

Finn estremece e segura minhas costas.

-Sim. Vai ser. Me desculpe por não ter me atentado a isso. Eu juro que vou tentar não ficar tanto tempo fora. A única parte boa do meu dia é quando venho ficar com você. -Ele diz, enfiando o rosto na curva do meu pescoço, lambendo a água que escorre do meu cabelo.

Sinto meu corpo aquecer, levando todas as coisas ruins para longe. Fecho meus olhos e ele continua.

-Mas não importa o quanto tempo fique longe daqui. Estou sempre pensando em você. No gosto da sua pele... -Ele me puxa para cima e eu fico de joelhos na sua frente, com as mãos segurando em seus ombros.

Enquanto me olha nos olhos, posso ver e sentir toda a verdade de suas palavras. Ele se inclina para frente desliza os dedos suavemente entre o meio dos meus seios até o final da minha barriga.

-Só penso em você e no nosso filho.

Sinto um arrepio longo percorrer meu corpo. É algo que sempre acontece quando estamos nesses momentos, no entanto, nunca estou preparada e meus olhos se enchem de lágrimas.

-Você jura? -Pergunto, segurando seu rosto nas mãos.

Ele nem pestaneja.

-Juro.

Finn me abaixa e eu sento sobre ele, onde nos encaixamos perfeitamente. É uma das únicas vezes que estamos usando o sexo não como forma de resolver as coisas, mas para acabar com elas. Daqui três dias seremos apenas nós três, para sempre.

--

-Você tem certeza de que não quer que eu vá com você? -Finn pergunta, terminando de vestir a camisa, me olhando do outro lado do closet depois que terminamos o banho.

Não consigo me imaginar contando aos meus pais sobre tudo com Finn presente, é mais uma das coisas que preciso fazer sozinha.

-Sim, tenho certeza. -Termino de encaixar o último brinco na orelha e caminho até ele. -Eu volto logo. Não deve demorar.

Ele assente, pouco convencido, mas percebo que está aliviado em eu querer ir sozinha. A verdade é que mesmo estando tudo bem entre ele e minha mãe, Finn sabe que essas relações são bastante delicadas, sustentadas apenas por um fio que pode se romper a qualquer momento.

-Esta bem. Acho que vou aproveitar que você vai sair e vou dar uma passada no meu apartamento. Trazer as coisas que já estão empacotadas. -Ele diz, deixando que eu abotoe o resto de sua camisa.

Abro um sorriso, feliz e surpresa. Ele não ter trazido nada de casa ainda era um dos meus maiores incômodos e ele parece ter percebido isso.

-Otimo, você não vai precisar de ajuda? -Pergunto, receosa.

Ele faz que não, mas hesita por um instante.

-Quer dizer, talvez, acho que vou ligar para o Nick e ver se ele pode ir comigo. São só as roupas, coisas pessoais e o computador. O apartamento está quase todo pronto para a venda. O cara da corretora me ligou ontem de manhã.

Sorrio de novo, agora sentindo a ansiedade tomar conta de mim. Falta tão pouco, mas também falta muito. O principal talvez, que é contar aos meus pais. Finn nota minha apreensão e segura meu queixo.

-Se as coisas saírem de um jeito ruim é só me ligar e eu vou até lá. -Ele assegura.

Eu sei que ele vai, mas não pretendo ligar mesmo que seja preciso, mesmo assim confirmo para lhe tranquilizar e então saímos do apartamento.

Durante todo o caminho que faço para casa, a ansiedade vai me matando aos poucos, como se eu estivesse fazendo a coisa mais difícil da minha vida quando sei que não é, mas não consigo evitar o medo.

Paro o carro no estacionamento e antes de entrar em casa , hesito por um instante para respirar fundo. Está vazia quando entro, exceto pela movimentação dos empregados. Miranda, a mais velha, para de retirar a poeira inexistente do painel de Tv quando me ver entrar. Pelo horário, sei exatamente que Ava ainda está na escola e foi  por isso que vim antes das seis.

A empregada me fala que meu pai também não está, mas que minha mãe está no escritório dele desde que chegou do trabalho. Vou até lá, impedindo que ela vá chama-la. Já é estranho demais que a mamãe esteja no escritório e ainda mais sozinha.

A porta está trancada quando tento abri-la, então eu bato duas vezes contra a madeira. Ouço o barulho de uma cadeira se arrastando lá dentro e em seguida mamãe abre.

-Miranda, eu disse que não queria que... Ah... Millie. -Ela se interrompe quando me vê. Assustada, surpresa e acima de tudo: nervosa. -Nossa, o que você faz aqui?

Ela vem para me abraçar e fecha bem a porta nas suas costas, sem me deixar ver o interior do escritório.

-Eu liguei a dois dias dizendo que precisávamos conversar. Você esqueceu? -Pergunto, quando ela me solta me dando dois beijos exagerados na bochecha.

Ela leva a mão a testa e suspira com força.

-Sim, acabei de lembrar. -Lamenta, decepcionada consigo mesma. -Mas o que foi? Aconteceu alguma coisa?

Meu cenho se franze, principalmente quando ela coloca a mão em meu ombro e me afasta da porta do escritório, me guiando de volta para a sala. Aconteceram tantas coisas que eu seria capaz até de inumerar cada uma.

-Não, quer dizer, sim, por isso preciso conversar com você e com o papai também.

Paro de andar quando chegamos perto do sofá. Ela ajeita a gola da camisa chanfrada de cetim e olha atrás de mim, para o corredor.

-Seu pai não está em casa, talvez se você voltar mais tarde...

-Você está ocupada? -A interrompo, incomodada com a sua insistência em olhar para o escritório atrás de mim.

Ela nega com a cabeça, tentando parecer menos nervosa.

-Não querida. São só algumas coisas com a loja. -Disfarça, sorrindo. -Então... Vamos subir? Ficaremos melhor lá em cima. Parece que o assunto é sério.

Ainda me incomoda a forma como ela quer fugir desse andar, mas confirmo, uma vez que ela não faz a menor ideia do quanto é realmente sério o assunto. Nós duas subimos para seu quarto e ela fecha bem a porta quando passa.

O quarto está impecável, limpo, nem parece que alguém dorme nele. O que me faz me lembrar que isso faz parte da vida de mentira que ela leva com meu pai, não só aqui dentro, mas fora também. Tudo tão arrumado, mas a realidade é que intimamente nós sabemos que é uma tremenda bagunça.

-Senta. Eu vou tentar ligar para o seu pai vir logo. Ele foi para uma reunião com a produtora da North Vancouver, deve estar acabando.

Pego em seu braço, parando quando ela vai levar o celular ao ouvido. Meu pai está gravando o que talvez seja o maior projeto de sua vida e embora eu tenha avisado que viria, não quero atrapalha-lo, para além disso, a parte mais difícil é com ela então é até melhor que estejamos sozinhas.

-Deixa. Eu falo quando ele voltar, não ligue.

Ela assente e coloca o telefone sobre a penteadeira.

-Millie, você está bem? Naquele dia do jantar você passou mal, fiquei tão preocupada. -Ela pergunta, colocando as mãos em meus ombros.

Seria estranho se realmente não fosse verdade. Depois do jantar tive que atender várias ligações que ela me fez ao dia perguntando se eu estava sentindo alguma coisa, pelo menos até quando ela simplesmente parou de me ligar.

-Estou. Estou ótima de saúde. -Digo, engolindo em seco mesmo que eu não esteja exatamente mentindo.

Ela respira aliviada e me leva para a cama.

-Ok. Se não é em relação a isso... O que é?

Encaro suas mãos perto das minhas. Até nossos dedos se parecem, exceto que as unhas dela estão impecavelmente bonitas e bem cuidadas, quanto as minhas não sobrou quase nada de tanto que as rui.

-Olha... Eu sei o que você vai pensar quando eu falar e eu espero que você me deixe dizer tudo antes de pensar em me interromper, está bem? -Começo, tentando parecer tão segura quanto não me sinto.

Ela hesita por um instante, parece distraída e nem presta atenção no que eu digo no primeiro momento. Quando percebe que estou esperando uma resposta, ela limpa a garganta.

-Sim, claro. Pode dizer.

Respiro fundo e mentalmente conto de zero a dez, tentando me preparar para o que estar por vir enquanto ela me olha com concentração agora.

-O Finn e eu estivemos pensando, analisando sobre tudo o que já vivemos juntos e... Não vemos motivos para esperar mais tempo. -Hesito, respirando uma última vez antes de dizer. -Vamos nos casar sábado. Aqui.

Inconscientemente fecho meus olhos esperando pelos gritos, pela briga e pelo exagero, mas se passam alguns segundos e tudo o que escuto é uma respiração cheia de alívio.

-Tudo bem.

Abro os olhos de novo, mas não sou capaz de acreditar no que estou vendo, nem ouvindo. Ela parece tranquila, relaxada, como se eu tivesse tirado um peso de suas costas e isso não pode ter acontecido mesmo.

-Mãe... Você ouviu o que eu falei? Eu vou me casar com o Finn sábado. Daqui três dias. Aqui. Na sua casa. -Digo, de repente irritada, pontuando cada palavra já que ela não parece ter me ouvido.

Ela assente, colocando as duas mechas de cabelo para trás da orelha.

-Eu ouvi. Sábado também é seu aniversário. -Diz, como se eu não tivesse acabado de dizer a primeira parte.

Mexo minha cabeça, atordoada, confusa. Sem entender mais nada. Ela não pode estar normal. Me levanto da cama e começo a andar de um lado para o outro com as mãos na cintura.

-Você não vai dizer nada? Não é possível que você não queira me fazer desistir... Não faz sentido.

Ela levanta da cama, alarmada com o meu surto e me para segurando meus ombros.

-Millie, pare com isso. -Diz, erguendo as duas sobrancelhas. -Ora, se eu reclamo você acha ruim, se eu digo que tudo bem, você também acha? O que é isso?

Tanto conter minha respiração e a observo. Não parece a mesma pessoa. Não pode ser.

-Eu achei que você...

-Achou que eu iria fazer um escândalo? -Ela pergunta, me interrompendo.

-É. Achei.

Ela solta uma risada, não com felicidade, mas muito relaxada.

-Bem, pois eu não vou. Já falei inúmeras vezes o que penso a respeito disso e não adiantou. Sinceramente, se você casar logo vai ser menos um problema.

-Menos um problema?-Me afasto, percebendo algo por trás dessas afirmação.

Ela muda o comportamento e parece um pouco nervosa quando digo isso.

-Menos um problema para mim, eu quis dizer. Eu ando com a cabeça ocupada, querida, se demorasse mais eu acho que ficaria ainda pior, mas que bom que vocês decidiram casar logo.

Ainda não consigo acreditar. Parece que todo o meu esforço e sofrimento para vir até aqui foi completamente em vão e eu não estou nenhum pouco preparada para que as coisas terminem tão bem desse jeito.

-Então... Tudo bem mesmo? -Sinto necessidade de perguntar, ainda desconfiada.

Ela assente e me puxa para que eu me sente de novo na cama.

-Me diga... Você já planejou como vai ser? Está precisando de ajuda em alguma coisa?

Mais uma vez fico chocada, mas decido manter a conversa, mesmo que ainda pareça bizarro demais.

-Não. Na verdade é a Mary quem está organizando tudo. Ela já fez os convites e mandou para a maioria das pessoas. Não é muita gente. Só a nossa família, alguns amigos.

De novo ela assente e de novo parece aliviada.

-Otimo. Acho que eu não teria tempo para pensar em nada. -Diz ela, concentrada em mim.

O mais estranho não é a aceitação. É a falta de perguntas. Falei que ia me casar a duas semanas e cheguei hoje avisando do nada que o casamento foi marcado para alguns dias e ela não vai querer saber porque? E não vai reclamar por Mary cuidar de tudo ao invés dela?

-Uau. -Deixo escapar minha tremenda incredulidade. -Você... Está tão... Pacífica. Aconteceu alguma coisa?

Ela ri de forma nervosa e ajeita de novo o cabelo. Nunca a vi desse jeito. Nem mesmo quando falamos sobre Oliver.

-Não... São coisas com a loja, como eu disse. Tenho um fornecedor da índia que está me dando a maior dor de cabeça por causa de uns tecidos brocados, nada com o que você precise se preocupar. -Explica, um discurso muito bem ensaiado ou de fato real. A essa altura já não sei mais de nada

-Entendi. -Minto, querendo ver até onde isso vai. -E você quer ajuda com isso? Eu posso...

-Ah, imagina. Você já deve estar ocupada demais. Sou eu quem tenho que ajudar. Me diga, você já mandou fazer o vestido de noiva?

Meu queixo cai, ainda mais incrédula do que nunca.

-Não. Eu vou comprar um feito. Vai ser uma coisa simples então...

-Um feito? De jeito nenhum. -Ela levanta com alvoroço e pega minha mão, me levando até a escrivaninha ao lado da cama. -Eu vou fazer o desenho pra você e mando fazer bem a tempo. -Ela para e me solta de repente. -Quer dizer, se você quiser.

Kelly Brown me perguntando se eu quero alguma coisa e não impondo a mim como algo decidido?

Por falta de coragem para perguntar o que diabos está acontecendo, concordo.

Ela abre a gaveta da escrivaninha e tira lá de dentro uma pasta com papéis e uma caneta.

-Você já tem algum modelo pronto? -Pergunto, interessada quando voltamos para a cama.

Mamãe pega os óculos de grau em cima do criado mudo, que ela tanto detesta, e os coloca no rosto.

-Tenho, mas nenhum bom o suficiente.

Ela abre a pasta e retira de dentro uma das folhas em branco. Enquanto começa a fazer o esboço de um corpo, me pego observando a cena e me lembrando de anos atrás, nesse mesmo quarto quando eu ficava olhando enquanto ela desenhava para as campanhas ou desfiles de moda. De repente estou aqui de novo. Anos mais tarde. E ela está desenhando o meu vestido de noiva.

Seus dedos são tão habilidosos que ela não erra nenhum traço, nenhuma linha sai torta ou fora da forma. Parece mágica.

-Hoje em dia está se usando muito Musseline, por cima do cetim. Veja, como combinam. -Ela abre a pasta e me entrega um catálogo com as amostras de tecido.

Meus dedos deslizam sobre os dois que ela me indicou, mas não faço ideia de como será quando estiver pronto.

-Pode ser. Confio em você. -Digo, devolvendo a pasta.

Ela me olha com doçura e assente. Nos minutos seguintes, ela me faz um monte de perguntas, sobre o corte, saia, forro e entre várias outras coisas para saber exatamente o que eu quero. Como se o que ela acha não fosse importante. Quando terminamos eu olho para o vestido que desenvolvemos juntas. É longo, mas a saia é baixa, sem muito volume, as costas são nuas e as alças são caídas nos ombros com dois laços . Simples. Branco. Perfeito.

-Ficoi lindo. -Digo, passando a mão sobre o papel. Realmente emocionada.

-Vou ligar para uma das meninas, acho que ainda tem um manequim seu nos fundos da loja. Você ainda veste 36, não é?

Engulo em seco e faço que não. Fiquei tão distraída com essa brusca mudança que esqueci de verificar se o tamanho do vestido ainda caberia em mim.

-Eu engordei dois ou três quilos. -Respondo, sentindo a tensão que havia desaparecido retornar. -Mas foi para o filme. -Complemento, depressa.

Ela junta as sobrancelhas, mas assente.

-Certo. Então deve estar usando 38. Só... Toma cuidado, Millie, você tem que manter o peso, para o trabalho, é claro. -Diz ela, mas sem a maldade que normalmente teria.

Se ela souber que vou engordar muito mais.

-Tudo bem. Eu mando o modelo para a minha equipe e eles fazem em 24 horas. Você só tem que ir ver os ajustes antes. -Diz ela, levantando para colocar o desenho sobre a mesa de novo.

Quando se vira, cruza os braços, parecendo um pouco tensa.

-Você... Vai anunciar publicamente o casamento? -Pergunta, nitidamente sem querer parecer invasiva.

Não preciso pensar.

-Vou. Quer dizer, não vou fazer uma entrevista nem entrar em detalhes, acho que só vou publicar uma foto, dizer que me casei. Não quero que encham o saco do Finn, embora eu sabia que vão fazer isso de todo jeito. -Respondo, irritada com essa possibilidade.

Ela concorda e se senta, pegando minha mão de novo.

-Principalmente as fãs do Louis. Depois que o Finn fez é até compreensível. Vão dizer que você foi o pivor da briga entre os dois naquele dia.

Suspiro, cansada de ter que pensar sobre isso de novo. Se eu não tivesse prometido ficar de boca fechada, eu poderia apenas dizer o que Louis fez para merecer a surra que levou.

-Você sabe porque o Finn bateu nele. Certo, não foi nada legal, mas ele saiu de si quando descobriu que o Louis ficou com as minhas fotos ao invés de ter apagado. -O defendo.

-Eu sei. Só estou dizendo que as pessoas não sabem, então vocês dois vão ter que aprender a lidar com isso. Principalmente você. -Faz uma pausa e empurra a mecha de cabelo para trás com raiva. -Nossa... Quando me lembro da Lexi... Me dá uma vontade de fazer ela pagar pelo que fez...

-Você já fez. Acabou com todos os contratos dela. -Digo, me lembrando do meu encontro nada agradável com Lexi e lembrando também que ainda não tínhamos conversado sobre isso.

Mamãe passa a mão pela testa, envergonhada e surpresa.

-Como você sabe?

-Eu encontrei com ela na Chanel. No dia das fotos. Ela não estava nem um pouco feliz. -Comento, rindo de forma ácida.

Ela não se contém e ri também.

-Eu fiz isso mesmo. No começo achei infantilidade, mas depois pensei.. essa garota só conseguiu ser modelo por nossa causa. Porque eu, inúmeras vezes fui atrás de trabalho para ela e ela te seguia em todo lugar que você ia. Eu não podia deixar que ela saísse dessa ilesa. Já que vocês fizeram o acordo de não falar sobre isso publicamente, ao menos dessa forma ela tinha que pagar.

Acho graça, chocada em como estamos falando sobre um assunto tão complexo e de forma tão leve desse jeito. E o mais estranho de tudo: ela não falou mal de Finn nenhuma vez.

-Mãe... -Chamo sua atenção, tocando sua mão de novo, dessa vez, ambas estamos sérias. -Naquele dia, no jantar, você concordou em dar a minha mão para o Finn porque foi sincera, ou só porque eu pedi?

Ela escuta com atenção e seus ombros caem, junto com um suspiro.

-Para ser justa... Fiz aquilo porque você me pediu. Talvez se a gente não tivesse brigado e você não tivesse passado mal, acho que eu manteria o discurso. Eu queria fazer você desistir. Tentei até não conseguir mais.

Sua sinceridade é cruel, mas lá no fundo eu já sabia disso. Olho para baixo, tentando pensar no desfecho terrível que teria aquele dia.

-Mas... -Ela ergue o meu rosto de novo. -Depois desses dias que se passaram, eu posso dizer que confio nele. Tudo bem, acho que o Finn é meio estourado as vezes, faz e fala coisas sem pensar, mas não dá para negar que ele te ama mais do que tudo. Só não sabe lidar com esse amor as vezes.

Suas palavras me fazem ficar sem fôlego. Ela diz com tanta certeza e precisão que fica difícil não acreditar que está sendo sincera.

-Uau, parece até que vocês andaram conversando. Para você tirar todas essas conclusões em pouco tempo. -Digo, esboçando um sorriso. Seria loucura pensar nos dois tendo qualquer tipo de conversa racional.

Ela olha para o lado e faz que não.

-Não conversamos. Mas eu pensei muito. Sobre o que aconteceu com vocês desde que se conheceram. Não é justo da minha parte ficar lutando contra.

A encaro bem. A pessoa que nunca foi capaz de concordar em praticamente nada que eu fiz por conta própria acabou de me ajudar a desenhar meu vestido de noiva e está elogiando Finn pela primeira vez na vida. Tenho a sensação de estarmos tão conectadas agora como nunca estivemos na vida que por um momento...

-Mãe... Tenho que contar mais uma coisa. -Digo, tocando minha barriga.

Ela franze o cenho e sua respiração se altera, assim como a minha, mas eu paro, sem conseguir terminar. As coisas estão indo tão bem, talvez se eu contar vou apenas estragar tudo. Conto depois do casamento.

-Escolhi você para ser madrinha de casamento. Você, o papai, David e a Lily. -Falo depressa, retirando a mão da barriga.

Por um milagre ela não percebe minha agitação e apenas ergue as sobrancelhas surpresa.

-Ah, que bom. Isso vai ser ótimo. -Diz, me abraçando. -Porque não descemos e esperamos o seu pai lá embaixo para contar a novidade? Quer dizer, as novidades?

Respiro fundo e saímos do quarto. Do corredor ouvimos um barulho de música alta vindo direto do meu antigo quarto.

-Acho que a minha adolescente já chegou. -Mamãe brinca, revirando os olhos.

-Não vamos chama-la? -Pergunto, quando descemos a escada.

-Não. Deixa. Ela desce daqui a pouco para o jantar.

Concordo e vamos para a sala. Ava está tão diferente que acho que não vai fazer a minima diferença para ela saber ou não do casamento.

Alguns minutos depois meu pai chega, surpreso em me ver.

-Princesa. Que maravilha, você está em casa. -Diz ele, correndo a sala toda para me abraçar.

-Ela veio conversar com a gente. -Minha mãe diz, tocando o ombro dele, mas não está avisando como faria, está apenas sorrindo.

Ele se afasta de mim já com o cenho franzido.

-Aconteceu alguma coisa meu bem?

-Ah, Rob, pelo menos vá trocar de roupa. A Millie fica para o jantar, não fica? -Ela pergunta, antes que eu tenha a chance de responder

Falei para Finn que iria embora cedo, mas faz tanto tempo que não fico com minha família e está tudo tão bem que decido ficar.

-Sim, eu fico.

Ele sorri e beija minha testa.

-Bem, então conversamos a mesa.

Meu pai olha para minha mãe e puxa seu braço para mais perto, fazendo-a bater contra seu corpo grande. Sinto vontade de virar de costas para não vê-lo a abraçando, mas fico olhando, inclusive quando dizem alguma coisa um para o outro e se beijam na minha frente. Estão tão felizes que por um momento esqueço o que ela fez e está fazendo com ele.

Quando eles se afastam, minha mãe chega perto de mim e observamos enquanto ele cantarola animadamente subindo a escada.

-Você nunca vai contar a verdade pra ele, vai? -Decido perguntar.

Ela olha com ternura, sem pena e também sem arrependimento algum.

-Não. Mas vou faze-lo feliz pelo o resto da vida.


Notas Finais


Amo esses momentos de redenção da Kelly ♥️♥️♥️


Vamo vê até onde vai né

Vocês querem casamento no próximo ??


Até breve ♥️


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