Millie.
Depois daqueles dois dias incríveis em lua de mel, voltamos a nossa casa e a vida seguiu-se entrando pela primeira vez em um estado inalterado de normalidade e harmonia.
O casamento não mudou exatamente nada no nosso dia a dia, exceto pela venda do apartamento de Finn e sua mudança definitiva para o meu prédio. De resto, nossa vida voltou a ser exatamente como era, com nossos trabalhos exigindo que estivéssemos distantes na maior parte do tempo, com nossos encontros em casa no final do dia e escapadas nos finais de semana para qualquer lugar que nos tirasse da mesmisse.
Mas isso não quer dizer que nossa relação virou algo monótono ou sem graça, pelo contrário. A rotina era a comprovação que faltava para nos darmos conta de que nossa vida agora era daquele jeito. Juntos para sempre.
A repercussão da nossa foto de casamento, como eu já sabia, foi inevitável. E então vieram as várias tentativas da imprensa em conseguir entrevistas tanto online como pessoalmente. Recusei todas a princípio, querendo resguardar nós dois de todos os comentários e cedi apenas ao programa da Phoebe Dayse que no meio das perguntas sobre o final das gravações do Experimento 11 e início da parte final de olhares impiedosos, acabei soltando algumas coisas sobre minha recente vida de casada.
Com nosso primeiro mês de casamento, completei também meu quarto mês de gravidez e então, no dia programado para mais uma das consultas, descobrimos o que eu também já sabia, que nosso bebê era do sexo masculino. Estávamos todos juntos, Finn, meus pais, Mary, David e Lily, e o choque veio somente da parte de Finn que não havia colocado nenhum pouco de crédito no que Lily já havia descoberto sobre o bebê.
Ele ficou tão feliz que passou uma semana inteira apenas falando sobre isso. Eu chegava em casa e o via deitado na cama conversando no telefone a horas com meu pai sobre o bebê, o qual decidimos que se chamaria Harry, forte, simples, nome de príncipe e lindo.
Meu pai logo que descobriu a gravidez, teve a reação mais Inesperasa possível. Se emocionou e chorou, me abraçando como se eu tivesse lhe dado a melhor notícia de sua vida. A mamãe estava lá, fingindo estar igualmente surpresa, mas apesar de nossas brigas do passado ela parecia realmente satisfeita com a situação, embora eu ainda desconfiasse vez ou outra de alguns comportamentos furtivos dela, principalmente em relação ao Finn.
Alguns dias na semana reservamos as noites para jantarmos com a família toda e em alguns momentos percebi a forma como os dois se olhavam, parecendo dizer coisas um para o outro em silêncio, de forma quase imperceptível, mas eu sabia que havia algo mais ali. Não sabia o que era, mas havia sim.
No entanto, as coisas estavam indo tão bem no geral que não passei muito tempo preocupada com isso. Nosso filho crescia de maneira sutil e saudável e todos os dias eu descobria novas sensações que a gravidez me trazia.
Os enjôos passaram totalmente, dando lugar a alguns periodos em que eu sentia pressões na barriga que sempre me deixavam em alerta, mas com as idas frequentes ao médico descobri que isso se tratava de contrações de treinamento, onde meu corpo começava a se ajustar ao parto, para que eu me acostumasse com as dilatações.
A ideia de ter o bebê ainda me assustava, é claro, pois até ali eu ainda estava tentando apenas me acostumar com a ideia de estar grávida, mas dar a luz era meu maior temor e pensar que em seguida viria a fase de cuidar de uma criança era ainda mais desesperador.
Tentei viver um dia de cada vez, pensar com calma enquanto cuidava de mim e dele e assim consegui me manter forte o suficiente para não deixar que os medos nos fizessem qualquer tipo de mal.
Nunca foi meu sonho ser mãe. Passei a vida inteira achando que inclusive nunca seria e talvez por isso, quando descobri, minha reação tenha sido a pior possível, desesperada e incrédula, achando que eu nunca seria capaz de lidar com aquilo.
Mas Finn estava lá comigo todos os dias e principalmente naqueles em que eu chorava por conta do medo. Ele me deu forças para continuar, para que eu soubesse que sim, eu seria capaz, tanto quanto eu sabia que ele era.
No sexto mês de gravidez, David me passou os roteiros das gravações de olhares impiedosos e começamos a nos preparar para a viagem para Washington que ocorreria em duas semanas.
Sempre era o mesmo alvoroço. A adrenalina por voltar a trabalhar em outra cidade e para reencontrar a equipe de velhos conhecidos, mas dessa vez, diferente de todas as outras, eu estaria grávida de sete meses, casada e sem vontade nenhuma de contracenar com Louis mais uma vez.
Deixei para contar isso ao Finn somente quando estive com os roteiros impressos e com a nova cor no cabelo, a cor natural que Audrey deveria ter que era castanho claro.
Naquele dia quando voltei do salão com minha pasta de roteiro e com o novo visual, Finn ainda não tinha chegado do trabalho, o que me deu um certo tempo para respirar antes de poder contar tudo o que deveria.
David entrou comigo no nosso apartamento, me ajudando a carregar a bolsa mesmo que eu fosse perfeitamente capaz de fazer isso sozinha.
-Aqui está. -Ele disse, colocando a bolsa em cima do sofá da sala, esticando os olhos ao redor, parecendo procurar algo ou alguém. -Ele não chegou ainda?
Não precisei procurar para saber. Finn chegava às duas da tarde e ainda eram por volta das uma e meia.
-Não. Não chegou. -Retirei a echarpe do pescoço e afrouxei o laço do meu vestido, dando um espaço extra para minha barriga descansar.
Com seis meses, ainda era pequena, pois fiz de tudo para não engordar mais do que o necessário e com um casaco grande era até mesmo difícil saber sobre a gravidez.
-Ainda não sei como vou dizer que ele não vai pra Washington comigo. -Confesso a David, passando a mão pelo cabelo, desacostumada a senti-los tão grandes e naturais, sem as mechas loiras.
David respira fundo, daquele jeito que faz sempre que não está contente com alguma coisa e se senta no sofá, afastando a bolsa que havia colocado ali.
-Você sabe o que eu acho disso. Na minha opinião você já deveria ter contado bem antes.
Concordo, porque realmente já sabia mesmo o que ele diria.
-Sei. -Suspiro, deixando escapar um pouquinho de apreensão que já está começando a se formar dentro de mim. -Mas se eu tivesse contado antes ele teria tempo o suficiente para arranjar um jeito de ir comigo. Assim, pego de surpresa não vai ter como.
No íntimo, sei que dizer e fazer isso não é nada legal, mas ao mesmo tempo foi minha única opção. Se Finn fosse comigo, provavelmente teriamos muitos problemas. David sabe que não vai adiantar entrar nessa discussão, pois já está praticamente feito, então não insiste.
Vou até a cozinha e preparo dois chás que Lily me ensinou a fazer para acalmar os nervos enquanto David me espera na sala. Quando retorno, ele está mexendo no celular e eu coloco a xícara em cima da mesa.
-Hum... Camomila. Uma boa pedida. -Ele estica o braço para pegar, parecendo feliz em ver o que eu trouxe.
-Pois é. A Lily me ensinou direitinho. Ainda tenho um monte de folhas lá dentro.
O doce do sabor junto com a quentura do chá me fazem relaxar automaticamente e eu agradeço a David por estar comigo esperando, do contrário não sei o que faria por causa do nervosismo.
Depois de um certo tempo, nós dois ouvimos barulhos no corredor e afastamos as xícaras sobre a mesa no mesmo segundo. David levanta, ajeitando a barra do terno, se preparando para ir embora, mas eu e ele nos olhamos quando ouvimos não só a voz de Finn, mas a de outra pessoa e os dois parecem estar rindo.
Não digo nada e espero a porta se abrir. Quando isso acontece as risadas se tornam mais altas e não dá para acreditar direito no que vejo.
Ele nitidamente leva um susto ao me ver, mas essa surpresa não chega nem perto da minha. Parece uma pegadinha onde armaram para que eu visse meu marido entrando em casa com uma mulher desconhecida ao seu lado.
-Amor... Você já veio. -Ele diz, suavizando a expressão e vindo na minha direção para me abraçar como se estivessemos sozinhos e não na presença de David e da mulher a quem nunca vi na vida.
Estou tão amortizada que não consigo dizer nem fazer nada além de deixar que ele me abrace e toque nos meus cabelos até as pontas do mega hair
-Ficou linda. Você não deveria ter passado a tarde toda no salão?
Sua voz e sua pergunta despertam alguma coisa em mim e eu me afasto quase sem querer, me sentindo inflamada por algo que também não sei o que é.
-É que...
-Amanda, que prazer rever você. -Sou interrompida quando David diz e eu o vejo se direcionando a tal mulher.
Ela é negra de feições fortes, mas delicadas ao mesmo tempo, seus cabelos crespos estão presos em um coque muito bem penteado e suas roupas são claramente um uniforme de quem trabalha em algum escritório, saia lápis, camisa branca por dentro de um blazer preto e ela carrega uma bolsa grande a tira-colo. Apesar de toda a pose profissional não posso deixar de reparar no quanto ela é bonita, no quanto é até mesmo sensual e suas pernas estão bem distribuídas em sua saia levemente apertada. Seria difícil passar despercebida, ela tem uma beleza que chamaria a atenção de qualquer homem e até mesmo de mulheres, assim como eu que fico instantanemente com um pouco de insegurança perto dela.
-David, eu digo o mesmo. Como você está? -Ela o cumprimenta, logo depois de abraça-lo. O batom vermelho em seus lábios carnudos é vibrante, ainda mais quando sorri.
-Muito bem. Vejo que o Finn seguiu meu conselho em te procurar. Tenho certeza de que vão se dar bem juntos.
Observo embasbacada, sem entender nada e ainda mais confusa do que antes. Foi David quem os apresentou? Como eu não estava sabendo disso? E o mais importante: porque ela veio aqui com o Finn quando eu supostamente não estaria em casa?
Parecendo perceber todas as minhas dúvidas, Finn passa os dedos suavemente sobre meu ombro.
-Amor, essa é a Amanda, ela vai trabalhar comigo agora. Eu estava precisando de alguém que lidasse com a minha agenda para que eu me organizasse quanto as palestras nas universidades. -Ele explica, olhando para mim com suavidade.
Consigo assimilar o que ele diz e me lembro de alguma conversa que tivemos em que ele realmente me falou que estava ficando muito atarefado e que precisava de alguém que cuidasse disso, mas naquele momento, não consegui controlar a irritação, pois mesmo que isso explicasse parcialmente a necessidade de Amanda, ainda não entendia o que os dois estavam fazendo aqui. Sozinhos.
-Ola. É um prazer muito grande finalmente conhecê-la, o David me falou muito bem de você e o Finn também. Pelo menos o que eu ainda não sabia sobre você
Fico muito consciente da hora quando ela chega mais para perto e estende a mão educadamente para mim com um sorriso muito agradável nos lábios, por um milagre consigo aperta-la sem hesitar, fingindo simpatia.
-O prazer é meu, Amanda.
A forma como seu nome saiu da minha boca foi meio desconexo como se mimha mente estivesse apenas testando a palavra.
-Bem, eu vou pegar as pastas lá dentro Amanda, já venho. -Finn diz para ela com um sorriso Cortez nos lábios e sai em direção ao seu escritório .
Eu o acompanho com o olhar, ainda me sentindo incomodada e quando me volto para frente, David maneia a cabeça para mim, indicando que eu vá atrás de Finn.
Me despeço dos dois com uma desculpa esfarrapada de que estou cansada e entro no cômodo. Finn está abaixado no chão, puxando várias pastas das últimas prateleiras da estante, mas não precisa se virar para saber que sou eu quem entrou.
-O que foi aquilo? -Ele pergunta, com um tom normal, ainda sem me olhar.
-Eu é que pergunto. O que foi aquilo?
Agora sozinhos, já não consigo mais esconder minha irritação, colocando as mãos na cintura.
Ele suspira de forma audível e se levanta para me olhar. Coloca as pastas em cima da mesa e cruza os braços diante do peito. O conheço bem demais para saber que não está nenhum pouco contente, mas está ao menos se controlando.
-Certo. O que está incomodando tanto você? -Pergunta, novamente usando um tom baixo e calmo, que me instiga cada vez mais.
-Não sei. -Falo com ironia, olhando de um lado para o outro. -Talvez o fato de que você trouxe uma mulher desconhecida para a nossa casa quando eu não estava aqui?
Suas sobrancelhas se juntam, mas é só o que ele consegue expressar.
-Mas você estava aqui. -Diz, como se fosse obvio.
Minha têmpora esquenta e eu me controlo para não elevar meu tom de voz.
-Mas você não sabia que eu ia estar. -Rebato, igualmente seria, sem me mover do lugar.
Ele passa a mão pelo rosto até os cabelos e desarruma um pouco os fios. Parece sem paciência.
-Então... Eu já estava pendente em entregar os documentos para a Amanda. Durante nosso almoço percebi que tinha esquecido as pastas e vim aqui para pegá-las. Qual o problema nisso?
Sacudo minha cabeça, agora ainda mais irritada.
-Vocês almoçaram juntos?
Ele dá de ombros com desinteresse, mas percebo que esta começando a se irritar também.
-Sim. Um almoço para tratar de negócios e como eu disse, eu tinha que entregar os documentos a ela.
Sei que isso faz sentido, mas mesmo assim não posso dar o braço a torcer. Nunca havia me sentido assim, tão ciumenta e irracional
-Porque não me avisou? -Consigo perguntar, começando a sentir suor de puro nervosismo surgir em minha testa.
Ele enruga ainda mais o rosto e em seguida respira fundo.
-Porque eu faria isso? Você saiu hoje dizendo que ia passar a tarde fora, logo não comeriamos juntos. Que diferença faz isso?
Uma risada seca rompe de mim e eu sacudo a cabeça.
-Faz diferença quando você vai almoçar sozinho com uma mulher desconhecida e traz ela para nossa casa. Você realmente não vê o problema disso?
Ele faz que não. Um movimento certeiro de que não tem nenhuma dúvida.
Respiro fundo e ajeito o cinto do meu vestido, inconscientemente fazendo-o olhar para minha barriga, agora demarcada pelo vestido.
-Bem, então vamos inverter a situação. Digamos que eu tivesse saído para almoçar fora com um homem que você não conhece e sem te avisar, depois quando você estivesse em casa eu chegasse com ele, sozinhos aqui. Será mesmo que você ainda não veria problema?
Finn bufa e em seguida arregaça as mangas da camisa social até os cotovelos enquanto vem na minha direção.
-Millie... Eu não acredito que você está com ciúmes da Amanda.
Se súbito me afasto, entrando na defensiva. Encaro a aliança em seu dedo num instinto primitivo de saber que ele ainda está usando-a e não tirou. Lá no fundo sei que não estou agindo de forma legal, que isso não passa de uma infantilidade minha, mas não consigo controlar.
-Não estou com ciúmes, mas se coloca no meu lugar!
Ele suaviza a expressão e mesmo que eu tenha me afastado, ele tenta de novo chegar perto de mim, quase como se estivesse tomado por compaixão.
-Eu iria ficar incomodado sim se te visse entrar com um cara que não conheço. Mas primeiro tentaria entender o que aconteceu, antes de insinuar que você estivesse me traindo. -Diz, calmo, inabalável, o que me faz ficar ainda pior.
-Eu não insinuei que você estivesse me traindo. Só acho errado que você traga uma mulher desconhecida para nossa casa quando sabe que eu não vou estar aqui. O que aconteceria se eu ainda estivesse no salão ? Provavelmente você não ia me contar nada.
Ele maneia a cabeça de forma pensativa, depois me encara, parecendo ter esclarecido alguma coisa em sua cabeça.
-Provavelmente não. -Diz, mas logo acrescenta: -Não porque tenho que esconder alguma coisa de você, até porque se você não estivesse aqui eu já teria entregado às pastas e a Amanda já teria ido embora, mas porque isso é irrelevante. Não há nada pelo que você tenha que se preocupar.
Me sinto afunilada, cada vez sem mais argumentos pois em partes ele tem razão, mas ainda assim, a sensação que tive quando eles chegaram é forte demais. Me domina.
-Ela é muito bonita. -Digo, e abaixo a cabeça, me matando por admitir isso.
Ele se aproxima e segura meu queixo, me fazendo encara-lo contra minha vontade.
-Ela é bonita. Há uma penca de mulheres bonitas por onde quer que eu vá, mas eu não estou nenhum pouco preocupado com isso. Aceitei contrata-la porque David a indicou. Não reparei em nada que não fosse ligado ao trabalho e nem ela. Não se se você viu a aliança no dedo dela, mas ela é casada também. Agora... Me diga uma única vez que eu te fiz um monte de perguntas, seja lá o que fosse sobre com quem você trabalha, sobre quem encontrou ou deixou de encontrar?
Sinto meu rosto esquentar, embora ele não fale com grosseria nem mude o tom de voz, isso me faz me sentir ainda mais irracional.
-Nenhuma. -Admito, por entredentes, não consigo parar de falar, no entanto. -Mas isso não quer dizer que eu não possa me sentir desconfortável sabendo que você iria trazer uma mulher aqui sem que eu estivesse. Será que você não poderia entregar isso a ela amanhã? Ou sei lá, mandar por e-mail?
Finn fecha os olhos e suspira, nitidamente tentando ter um pouco mais de paciência comigo. Sei que ele não iria me trair, não seria capaz nem de pensar em fazer uma coisa dessas comigo, mas ainda assim, não posso simplesmente ignorar o que eu senti quando o vi entrar com essa mulher em nossa casa.
-Eu não podia entregar amanhã e não tenho arquivos online para encaminhar por e-mail. Você viu como estou atarefado, como essa preocupação estava me consumindo a dias. Sei que pra você, dar algumas palestras pode não ser nada demais, mas é o que eu sei fazer e tenho que me dedicar a isso.
Sinto sua irritação chegando cada vez mais fundo, junto com uma expressão de cansaço e frustração. Finn as vezes se acha inferior a mim que ganho muito mais do que ele e de repente percebo o quão errada estou em não pensar nisso. Em como ele se sente quando acabo reduzindo ainda mais o seu trabalho como se não fosse algo importante.
A desistência vem em uma onda de culpa. Toco seu braço sobre a camisa e respiro fundo.
-Me desculpa. Eu sei disso tudo, mas não sei o que me deu... Eu... Não sei. Desculpa.
Ele parece aliviado com meu pedido de desculpas sincero, mas não sei se isso é o suficiente então subo as mãos para seus cabelos e puxo seu corpo para mim, encostando meu rosto em seu peito, lutando para me sentir menos pior. As oscilações de humor na gravidez são terríveis
-Tudo bem. Passou. -Ele me consola, alisando discretamente minha barriga por cima do vestido. -Agora tente parar de se preocupar com essas coisas, ou nosso Harry vai ficar muito agitado aqui dentro.
Acabo deixando um sorriso arrependido escapar e ergo meu queixo para olha-lo. Toda a mágoa que poderia existir se vai e ele beija minha boca com saudade e paixão.
-Deixe-me ir. Levar isso logo de uma vez antes que pensem que estamos brigando aqui dentro.
Assinto e ele sai carregando a pasta até lá fora. Enquanto o observo, penso no que acabei de fazer. Nunca mais havíamos brigado, por qualquer que fosse a razão e me lembro de que talvez isso seja somente o começo, uma vez que não faço ideia de como ele vai receber a informação de que vou viajar sozinha.
Com a cabeça a mil e ainda mais confusa, vou para o quarto e o espero chegar para enfim tentar lidar com isso.
--
Finn
Quando chego na sala, Amanda está encolhida perto do sofá com uma cara de preocupada, provavelmente se sentindo péssima depois que David foi embora e a deixou sozinha.
Ela se levanta assim que me vê e parece infinitamente menos tensa quando percebe que Millie não está comigo.
-Finn, me desculpe por isso. Nossa que situação. -Diz, realmente envergonhada.
-Nao tem problema, você não fez nada de errado. Eu é que peço desculpas, a Millie está um pouco... Estressada, digamos assim. Deve ser por conta da gravidez. -Digo, sorrindo para tentar disfarçar meu igual constragimento.
Ela esfrega a testa e ajeita o óculos de grau no rosto.
-Mas eu entendo. Se fosse meu marido talvez me sentisse da mesma forma.
-Bem, aqui estão minhas pastas. Tem muita coisa.
Ofereço a ela os blocos pretos e Amanda analisa com cuidado cada um deles.
-Sim, é bastante coisa. Você tem reuniões e palestras até o final do ano, mas não se preocupe, eu posso lidar com isso. Amanhã mesmo encaminho uma planilha organizada no seu e-mail.
Fico contente e imensamente agradecido. Demorei demais para contratar alguém que cuidasse disso pra mim e estava vendo a hora de acabar perdendo todos os meus contratos por falta de organização e tempo.
-Nem sei como agradecer. Vou adicionar o número do seu telefone de trabalho no meu cartão, assim quando quiserem marcar algo comigo falarão diretamente com você.
Ela confirma com a cabeça, como quem diz que isso é moleza. Achei que seria muito trabalho, mas aparentemente, Amanda dará conta do recado.
-Eu vou indo. Diga a Millie que lamento o que aconteceu.
Confirmo com a cabeça e a levo até a porta, gentilmente damos as mãos antes de ela sair.
Parece que um peso de uma tonelada sai das minhas costas e começo a tirar o nó da gravata que estava pressionando minha respiração.
-Amor? -Grito, quando entro no quarto e não vejo Millie.
-No banheiro!
Vou até lá, já despindo a camisa também e a vejo embaixo do nosso chuveiro, mas com a porta do box fechada.
-Eles já foram. Você está bem?
Começo a retirar a calça para entrar no chuveiro com ela.
-Sim. Pode me esperar no quarto? Temos algo a discutir.
Paro com a calça no meio das pernas quando escuto e logo fico alarmado, sem acreditar que ela vai insistir no assunto de ciúmes outra vez. Embora tenha vontade de entrar naquela água e resolver logo isso, visto a calça de novo e digo, voltando para o quarto.
-Não demore.
Ao contrário do que peço, Millie demora um século dentro do banheiro e inclusive escuto o barulho do secador ligado que aumenta ainda mais meu nervosismo. Não sei o que ela está pensando, mas não posso acreditar que vai me acusar de novo, como se eu alguma vez na vida tivesse lhe dado motivos para desconfiança.
Ao passar dos meses como casados, me acostumei tanto com a paz e a serenidade que me sinto completamente despreparado para enfrentar uma discussão agora, principalmente quando sei que não fiz absolutamente nada de errado.
Por outro lado, essa leve quebra na nossa sintonia me faz me lembrar de algo a qual não venho pensado muito ultimamente, o que me faz mandar uma mensagem para Marvin, perguntando se ele já conseguiu a aprovação de transferência do hospital onde Susan está internada.
Kelly garantiu na nossa última conversa que ainda estava disposta a tudo para conseguir tira-la da cidade, mas se mostrou inquieta e impaciente devido ao fato de Marvin não conseguir isso logo de uma vez. O prazo está se esgotando e nosso bebê deve nascer como previsto em mais três meses e quando isso acontecer, eu certamente não vou ter tempo para pensar em mais nada.
Marvin não responde minha mensagem e Millie volta finalmente para o quarto, agora usando um vestido azul mais frouxo e com os cabelos já secos presos em um coque. Por um segundo, esqueço que o clima entre nós está esquisito e a observo.
Depois que ela mudou de visual para o filme eu quase havia tirado da minha mente sua imagem mais natural, com os cabelos escuros e vê-la de novo assim, me faz ter um dejavu, do tempo em que nos conhecemos, quando ela havia acabado de gravar a segunda parte de olhares impiedosos.
Está mais linda do que nunca e a protuberância cada vez mais evidente de sua barriga me faz ficar ainda mais em completo extase.
A gravidez só fez bem a ela, tirando os periodos de oscilações de humor e ocasionais desconfortos, Millie parece mais viva, mais bonita e mais forte do que nunca.
-Eu não quero brigar. -Diz ela, calma, me tirando dos pensamentos, enquanto deixa a toalha em cima da mesa.
O alívio toma conta de mim e sem mais conseguir conter minha vontade de toca-la, vou até ela, segurando seu rosto nas mãos.
-Então não vamos. Será que você pode esquecer essa história e ver o quanto não tem nenhum fundamento?
Ela assente, mas ainda parece um pouco retraída, como se algo a preocupasse.
-Senta. Quero te dizer uma coisa.
Millie aponta para a cama atrás de mim. Com esforço largo-a e faço o que me pede, agora curioso.
-O que foi? Você parece nervosa.
Ela sorri para disfarçar e enrola os dedos um nos outros, traindo de vez seu sorriso, ainda parada em uma boa distância perto da porta do banheiro.
-Não é nada. Você vai ver... -Garante, agora colocando as mãos na cintura. -Então... Você sabe que vou ter que filmar as últimas cenas para a franquia de Olhares impiedosos ainda este ano, não sabe?
Pego de surpresa, confirmo com a cabeça, me lembrando disso da última vez que conversamos.
-Tenho que estar em Washington daqui a duas semanas.
Fico ainda mais surpreso, embora soubesse disso, não fazia ideia de que já era em tão pouco tempo assim.
-Duas semanas? Bom, você deveria ter me falado antes, mas tudo bem, falo com Oliver e ele vai conseguir me dar um tempo de folga. Já sabe o dia exato da nossa viagem?
Millie sacode a cabeça e abaixa o olhar em seguida.
-Então... Você não vai.
Rio, imitando seu gesto de sacudir a cabeça, mas logo percebo que ela não ri de volta. Está séria. Séria demais.
-Como assim eu não vou?
Mal percebo quando levanto e vou até ela. Só pode ser brincadeira. Millie se retrai, embora eu não tenha gritado e passa por mim, indo para onde eu estava na cama.
-Você não vai. Pra que? Eu vou ficar o tempo todo ocupada, não vou poder te dar atenção e você nem pode entrar no set de filmagem! -Ela parece cada vez mais séria, decidida.
-E qual o problema? Fico no hotel, esperando você voltar, exatamente como faço aqui. -Rebato, me voltando para ela de novo. Não gosto nenhum pouco do rumo dessa conversa.
Ela abre os lábios rápido, mas hesita por um instante parecendo pensar.
-Vou ficar com o David. Temos intervistas, seções de autógrafos, um monte de coisa.
Bufo, rindo incrédulo, mas irritado por saber que ela está nitidamente inventando desculpas. Penso por um momento e a única explicação para isso me vem em mente.
-Você não quer que eu vá porque está com raiva do que viu hoje, não é? Está tentando me punir?
Millie fica chocada ao me ouvir e levanta-se da cama, mais nervosa ainda.
-Claro que não. Não gostei do que aconteceu, mas isso não tem nada a ver com a minha decisão!
-Pois parece. Desde quando você se incomoda em eu ter ou não algo para fazer enquanto você está fora? Você está grávida, Millie, provavelmente essa filmagem vai durar muito tempo e não é possível que você ache que eu vou te deixar sozinha em outro país e longe de mim! -Falo, baixo, me contendo para não gritar pois só a ideia é insuportável para mim.
Ela fica abalada, como se não achasse uma resposta boa a tempo. A preocupação vai só piorando e sem saída ela finalmente diz:
-Eu vou rever o Louis. Vou gravar com ele e você sabe o teor das cenas. É um filme de romance.
Vou absorvendo aos poucos e as lembranças vão me consumindo na mesma medida. Quando parei para analisar a situação a última coisa que me veio em mente foi Louis, o que não faz nenhum sentido uma vez que estava claro o tempo todo que era esse o problema.
-Bem, aí está, mais um motivo pelo qual eu devo ir. Não quero ele perto de você nem do meu filho!
Millie concorda com a cabeça de forma agitada e aponta para mim.
-Esta vendo? É por isso! Você vai ficar louco de ciúmes e vai acabar arrumando uma confusão como da última vez. Eu também não quero ficar perto dele, mas isso não está ao meu alcance, é meu trabalho. Preciso fazer isso.
Me lembro da briga com Louis no hotel de Londres quando o vi chegar com Millie no quarto dela e do dia seguinte, quando enfiei a porrada nele a ponto de deformar seu rosto quando descobri que o filha da puta tinha guardado as fotos de Millie nua. A bile sobe por minha garganta quando penso nos dois juntos, nela tendo que submeter a contracenar fingindo estar apaixonada, beijando-o...
-Eu vou. Sem chance de eu ficar aqui enquanto você está lá com ele. -Digo, renegando os pensamentos que me causam o maior terror.
Não posso impedi-la de fazer seu trabalho e nem faria isso, mas não posso ficar aqui e deixar que ele se aproveite da situação, o que sei que vai acontecer.
-Não vai, Finn. Você trabalha aqui. Não vai jogar sua vida fora por meses só para ficar de olho em mim.
-O que? Nem vem com isso. Não quero vigiar você. Sei que sente nojo dele até mais do que eu, mas não confio nele. Ele quase arruinou a nossa vida, quando te forçou a não fazer a denuncia, isso não vai acontecer de novo! -Dessa vez, não contenho e acabo falando mais alto. Sentindo minha pele esquentar de pura raiva.
Millie balança a cabeça com determinação. Vejo claramente que não vai desistir, mas eu também não vou.
-Eu não posso deixar que aconteça um escândalo de novo. Até hoje pago muito caro por causa daquilo em Londres, quando deixei de fazer a turnê com ele para voltar pra casa. Você não entende? O melhor é você ficar aqui.
Consigo compreender seus medos. Millie não quer que eu acabe arrumando outra confusão, ela não diz, mas é claro que eu sei que a culpa foi minha na última vez. Que acabei atrapalhando tudo e causando aquele vexame, mas ao mesmo tempo, não consigo me acostumar com a ideia dela sozinha em outro país, com meu filho prestes a nascer.
-Você vai ter que ficar lá por quanto tempo? -Pergunto, um pouco mais seco do que eu gostaria.
Millie parece nervosa, faz uma contagem rápida na mente e responde:
-Um mês e meio, talvez dois.
-Ok. Vou com você. Está decidido. Daqui dois meses você vai estar com o Harry a ponto de nascer.
Apenas me viro e abro a porta do banheiro, deixando claro que a discussão para mim acabou. Millie me segue é claro e pelo barulho de seus passos rápidos, já sei que vem com uma resposta na ponta da língua.
-Você não pode ir comigo só porque está morrendo de ciúmes.
Quando escuto me viro na hora vendo seu rosto emburrado e cheio de raiva.
-Ciumes? É isso mesmo que eu ouvi?
Millie cruza os braços, irredutível, deixando a porta do banheiro aberta com o pé.
-É sim. Foi isso que causou aquele escândalo, na última vez.
Fico pasmo com a naturalidade com a qual ela faz acusações dessa forma, posso estar errado, mas novamente começo a achar que isso tem referência ao que aconteceu com Amanda.
-Então pra você é super normal ter ciúmes de uma mulher que eu nem conheço e que trabalha comigo, mas, meu Deus, é um absurdo que eu tenha ciúmes do Louis? Um cara que já deixou claro o que sente e que já fez coisas horríveis contra você mesma?
Suas sobrancelhas se erguem, sem reação. Toquei num ponto crucial, ao qual ela não tem como se defender.
-Você não confia em mim. -Diz, sem mais nenhum argumento.
Solto uma gargalhada e começo a tirar a calça de novo.
-Ah para com isso. Você sabe muito bem que eu não tenho ciúmes coisa nenhuma. A minha única preocupação é no seu bem estar e eu sei como essa viagem vai te estressar e...
Me interrompo, quando Millie me dá as costas e sai do banheiro fechando a porta com força.
Não vou atrás, embora eu queira fazer isso. Ela sabe que não há como argumentar e sua única estratégia de defesa é se afastar de mim. Respeito isso, não querendo também que essa discussão acabe passando dos limites.
Tomo meu banho, um banho longo para desanuviar minha mente um pouco de tudo que acabamos de discutir, mas quando termino me sinto mal pela distância, com uma vontade louca de toca-la e resolver tudo.
Quando saio do banheiro, já vestido, Millie está deitada na cama, completamente adormecida. Minha necessidade de conversa fica latente e eu a observo, tranquila em uma de suas várias sonecas do dia. Ela faz muito isso, vive com sono e a imagem é como um bálsamo calmante.
Seus cabelos agora escuros e longos estão derramados em cima do travesseiro e ela está de lado, uma das únicas posições que dorme agora por causa da barriga.
Mesmo não querendo desperta-la, vou para seu lado e toco sua cabeça sem conseguir me conter toco sua barriga logo em seguida. O moleque lá dentro parece já me conhecer e se estica, fazendo com que uma ondulação apareça por cima do vestido e contra minha mão.
-Sua mãe é fogo não é? Eu vou resolver isso. Fica tranquilo bebê.
Meu telefone toca na mesa no instante seguinte e eu verifico a mensagem que acabei de receber. É de Marvin, mas ele não está exatamente respondendo a pergunta que eu fiz, ao invés disso, apenas me pede para encontrá-lo, dizendo que precisa conversar comigo.
Só há um motivo pelo qual ele poderia pedir isso. Susan. Mesmo a meses sem receber qualquer notícia dela, sinto o mesmo medo gelado se entranhar em mim. Se ao menos ele conseguisse tirá-la logo da cidade eu poderia ficar mil vezes mais tranquilo.
Deixo Millie dormindo e pego as chaves do carro. Não aviso, nem deixo um bilhete. Não acho que isso vai demorar demais e mesmo que demore, eu posso mandar uma mensagem tranquilizando-a depois.
O encontro é marcado em um bar perto do teatro municipal, onde sei que fica perto também do apartamento em que Marvin mora.
Ele está a minha espera em uma mesa afastada mesmo que não haja muito movimento pelo horário da tarde. Seu semblante é de quem não dormiu muito bem e ele nem disfarça.
-Se você não tivesse me mandado mensagem eu acharia que tinha desistido do nosso acordo. -Diz, muito sério quando me vê. Esfregando a cicatriz rosada em cima da testa.
-Bem, o acordo foi com a Kelly. Eu apenas quero me manter informado, não tenho mais nada a ver com a Susan.
Me sinto irritado, com um mal pressentimento, mas falo com tranquilidade.
Marvin olha para trás e depois confirma com a cabeça.
-Tem a ver com ela quando o assunto também diz respeito a Sarah.
Meus músculos se enrijessem e eu engulo em seco.
-O que a Sarah...?
-Ela quer vê-la. Exije isso. Está me dando o maior trabalho entrar com o pedido de transferência. A Susan não quer sair de lá e ficar longe da menina. -Me interrompe, como se não fosse conseguir segurar as palavras.
Seu nervosismo só deixa cada vez mais evidente que ele quer de todo jeito conseguir a ajuda que Kelly prometeu. Não tem nada a ver com sua vontade de tirar Susan da cidade para nossa segurança.
Nos últimos meses Sarah se manteve imparcial em relação a mãe. Não quer visitá-la e fica completamente muda quando qualquer um fala sobre Susan, principalmente depois que ela mesma escolheu morar com meu pai e não comigo.
-Não vai rolar. A Sarah não quer vê-la. Desde quando uma criminosa pode opinar sobre onde vai ou não ficar presa? -Minha irritação se torna cada vez mais nítida.
Detesto tudo que envolve Susan e isso faz com que eu deteste qualquer contato com Marvin também, embora eu saiba que ele não tem culpa e só está nessa por dinheiro.
Ele balança a cabeça nervosamente.
-Desde que ela não está na cadeia. Está no hospital recebendo tratamento. Ainda que seja em reclusão total, ela tem o direito de se opor a sair da cidade e eu não posso simplesmente afasta-la sem esse consentimento.
Esfrego meu rosto, cada vez mais cansado e frustrado com essa história. Se eu não estivesse louco para ver Susan fora daqui, não daria a mínima para o que ela quer ou deixa de querer.
-Eai? Não tem jeito? Porque a Sarah certamente não vai querer vê-la e eu não posso obriga-la a fazer isso. Ela está se recuperando do baque, vive no psicólogo porque nem consegue conversar sobre isso.
-A Susan acha que são vocês que estão impedindo a menina de ir, o que vocês até poderiam fazer, levando em consideração que o Robert é o pai dela. -Ele para, hesitando e me olhando de um jeito desgostoso. -A outra forma seria se você fosse até lá. Ela disse que quer conversar com você de novo.
Todos os meus nervos se inflamam e me sinto mais gelado do que nunca. Só de pensar no meu último encontro com Susan...
-Nem pensar. Eu não vou atrás dela, você sabe o que aconteceu da última vez.
Marvin faz um gesto para que eu me acalme, o que não adianta nada e diz:
-É o que ela quer para me dar a autorização para a transferência. Disse que não sai daqui se não ver você ou a Sarah.
Dá para notar o desgosto com o qual ele tem que dizer isso. Como se fosse minimamente possível, Marvin ainda tem ciúmes de Susan.
-O que ela pode querer comigo? Me fazer mais ameaças?
Ele dá de ombros, novamente mexendo na maldita cicatriz.
-Não sei. Ela está bem esses dias. Calma. Quase não tem dado nenhum problema. Os médicos disseram que ela inclusive vai receber um benefício de natal, vai poder sair de lá e...
-Não... Não me diga que vão solta-la? -Mal disfarço meu desespero.
-Pode ser. Por isso seria importante conseguir a transferência logo. Quem sabe o que pode acontecer se ela sair? Ela pode estar normal para todo mundo, mas a Susan é completamente imprevisível, mesmo que esteja sob a guarda do estado.
Algo semelhante a pânico se mistura com o meu ódio, me fazendo estremecer. No natal Millie já vai estar em casa e nosso filho já vai ter nascido.
-Ela tem que ir embora antes. -Decido, sem conseguir nem imaginar Susan solta enquanto Millie e Harry estarão tão próximos dela.
-É o que estou dizendo. Sei que você não quer ir até lá, mas se não fizermos o que ela quer...
-Mesmo presa a desgraçada consegue dar a volta em todo mundo. -Bato a palma da minha mão contra a madeira da mesa me sentindo mais uma vez encurralado por Susan e suas artimanhas. Se eu não for, ela fica e se ela fica não tenho como garantir que não receba a droga desse beneficio. -Quando eu tenho que ir?
Marvin suaviza um pouco a expressão vendo minha mudança de ideia, embora ainda pareça incomodado.
-Quando quiser, mas dentro de um mês, assim consigo tempo para solicitar a transferência e sair daqui antes do natal. Já vi com a outra clínica e eles tem uma vaga, agora só depende da Susan colaborar, ou melhor, você.
Odeio ter que concordar, mas não posso fazer mais nada. Dentro de um mês, Millie vai estar em Washington, segura e eu posso ir ver a Susan como quer. Tenho que abrir mão de viajar com Millie, uma vez que arriscar deixá-la perto de Louis é nada perto de deixá-la perto de Susan. Decido por fim me dar por vencido. Susan mais uma vez me dobra às suas vontades. Me sentindo irritado e um tanto patético, respondo:
-Eu vou encontrar com ela.
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