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História The Clash 2 - The Distance, The Overcoming and The Change - Um Covarde Como Eu!. Part.2


Escrita por: TakaishiTakeru

Notas do Autor


Trazendo a segunda parte do capitulo do Jeff, que se inicia com uma volta ao passado, para contar a história do Jeff e do Liam!

Enfim... Vamos lá

Capítulo 34 - Um Covarde Como Eu!. Part.2


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POV NARRADOR

 

HÁ TRÊS ANOS

Ano: 2012 – 1 de janeiro – Lima, Ohio

 

   A neve está caindo ferozmente nesse inverno, e em meio ao som do forte vento mesclam-se gritos, e passos abafados pela neve alta. — Uma criança corre em meio à rua deserta e escorregadia. — Seus cabelos são loiros, e estão cobertos por uma toca branca, está usando um casaco fino azul escuro, uma calça jeans, e tênis de corrida. — Ele carrega nas mãos uma caixa branca com o símbolo do hospital comunitário. Logo viram a esquina outros três jovens, que estão o perseguindo. — A criança dos cabelos dourados corre assustada e acaba entrando em um beco sem saída.

 

— Sem saída garoto. — o mais velho entre eles fala. — Agora devolve o que roubou.

— Não! — o garoto grita. — Eu... Eu vou lutar com vocês!

 

   O menino então deixa a caixa branca cair, e se posiciona fechando os punhos. — Os três jovens o cercam, porém o garoto é mais veloz, ele se abaixa e em uma rasteira derruba o mais alto e começa a socar seu rosto de forma enfurecida. O mais baixo deles, pega o jovem pelo casaco e o joga contra a parede.

 

— Você tá morto garoto! — ele grita.

— Hey! — o grito repentino os assusta.

 

   Os quatro então olham para a entrada do beco, e veem outro jovem. — Não aparenta ser tão mais velho que o garoto de cabelos dourados. Sua pele é morena, em um tom caramelado, seus olhos são verdes, seus cabelos pretos são lisos e estão esvoaçantes. Ele está usando o casaco do time de futebol americano com os símbolos S.P.H.S.

 

— Fica fora disso! — o mais alto diz levantando.

 

   O jovem na entrada então abre um sorriso, coloca a mão no bolso do caso e quando tira aponta um revolver na direção deles.

 

— Não acho justo atacarem um garoto desse jeito. — ele diz. — Andem, deixem-no em paz.

— Olha o jeito que o garoto fala, ele não vai ter coragem de...

 

   De repente o jovem dispara para o alto, o que assusta os rapazes que fogem. — O jovem dos cabelos pretos, pega a caixa branca e devolve para o garoto.

 

— Vem comigo. — ele diz. — Você parece estar congelando.

 

   Mesmo sem entender direito, o garoto o segue. — Depois de uma longa caminhada os jovens chegam a um prédio, eles sobem e entram em um dos apartamentos. — O jovem dos cabelos pretos liga a luz.

 

— Não se preocupe. — ele fala. — Meu pai não está em casa.

 

   O jovem dos cabelos dourados senta-se no sofá abraçando a caixa branca, e se assusta quando a mão do outro rapaz surge de repente em sua frente.

 

— Liam Mayson. — o jovem dos cabelos pretos se apresenta.

— Jeff Johnson. — o garoto retribui o cumprimento.

— Então... Jeff. — Liam diz se sentando no chão. — O que um pirralho como você estava fazendo há essa hora na rua?

— Eu não sou um pirralho. — Jeff reclama. — Eu tenho catorze anos, e vou fazer quinze daqui a uns meses e vou entrar no ensino médio.

— Certo, certo. — Liam sorri. — Não duvido de você, mas me responda o que é isso ai?

 

   Jeff se agarra ainda mais a caixa branca, e olha pela janela para ver se a neve ainda cai com a mesma intensidade.

 

— São remédios. — ele conta. — Para minha irmã.

— Ela está doente?

— Ela está morrendo. — Jeff então chora. — Ela tem um treco estranho no sangue, e ela está...

— Ei... Fica calmo. — Liam se levanta. — Você roubou um hospital?

— O que eu podia fazer? — o garoto pergunta. — O hospital da minha irmã não tem medicamentos e nem uma forma eficiente de trata-la, o médico dela diz que esses remédios vão prolongar a vida dela, mas só um transplante pode salvar ela.

— E porque não fazem o transplante?

— E eu sei lá como se faz isso? Meu pai é um bêbado imprestável, eu sou a única coisa que minha irmã tem... E se pra ela ficar viva eu tiver que roubar, eu vou roubar.

 

   Liam abre um sorriso para o garoto.

 

— Está tarde, e a neve não vai parar de cair tão cedo, então... Passa a noite aqui e amanhã eu ajudo você.

 

   Jeff, o garoto dos cabelos dourados, mesmo sem entender muito bem o que está acontecendo, resolve passar a noite na casa do rapaz que o salvou. — Na manhã seguinte os jovens se separaram, e Jeff acreditou que seria a última vez que o veria, porém, no decorrer dos dias e das semanas, Liam começou a aparecer de surpresa em sua casa, trazendo medicamentos e dinheiro para Jeff.

 

 

Ano: 2012 – 4 de Março – Lima, Ohio

 

   Jeff está no refeitório da escola lendo uma noticia no jornal.

 

— Finalmente te encontrei. — uma menina diz sentando em seu lado.

 

   A menina é branca, cabelos loiros, e olhos azuis. Está usando um sobretudo rosa.

 

— Droga Louise. — Jeff reclama. — Não apareça assim de repente.

— Foi mal. — ela sorri e então começa a espiar o jornal. — O que tanto lê ai?

 

   Jeff mostra a noticia para Louise. — Na capa do jornal está à foto da família Miller e da família Evans.

 

— Esses desgraçados destruíram a minha vida. — Jeff diz enfurecido.

— Ainda não se acostumou com isso? — Louise pergunta.

— E como se acostuma? Eu tinha tudo, agora não tenho nada, graças a essa gente.

— A sua mãe poderia ter levado vocês, ela foi tão egoísta em sumir daquele jeito.

 

   Jeff bufa irritado.

 

— Quem são esses? — Louise pergunta apontando para um casal de jovens no centro da foto.

— Maximilian Miller, herdeiro de tudo aquilo, e Lucy Evans, também herdeira. — Jeff lê. — Parece que amanhã é o aniversario desse garoto.

— Então você odeia os Millers?

 

   Jeff e Louise viram-se assustados, e dão de cara com Liam.

 

— Liam! — Jeff o abraça. — Louise, esse é o Liam, o amigo que te falei.

— Oi. — ela o cumprimenta. — Eu sou a namorada do Jeff.

— Não, não é. — Jeff diz.

— Jeff eu preciso de você.

— Beleza...

 

   Jeff acompanha Liam. Os dois entram em um carro que estava os esperando, e depois de um tempo descem em uma estação de trem abandonada.

 

— Que lugar é esse? — Jeff pergunta intrigado.

— Vem. — Liam diz parecendo assustado. — O chefe quer te ver.

— Chefe?

 

   À medida que se aprofundam ainda mais na estação abandonada, outras pessoas começam a aparecer, pessoas armadas, o que deixa Jeff assustado.

 

— O que exatamente está acontecendo aqui?

— Então esse é o famoso Jeff Johnson! — um homem diz.

 

   O homem é alto, está usando um casaco de pele e está fumando um charuto.

 

— Desculpe Jeff. — Liam diz.

— O que está havendo? — ele pergunta ainda mais assustado.

— Sabe... — O chefe fala. — Eu soube de uma certa criança que está muito doente, e se não fosse a família Miller, essa criança poderia estar recebendo um tratamento adequado... Jenny não é?

— Quem são vocês? Como sabem da minha irmã?

— Nós, Jeff... Nós somos a Gangue dos Trilhos...

 

   Todos ali engatilham suas armas.

 

— E nós somos a cura do mal que está espalhado em Lima, o mal que tem nome e sobrenome...

— Paul Miller. — Jeff diz. — Se eu me juntar a vocês, eu vou poder me vingar daquele homem?

— Jeff, não... — Liam tenta o impedir.

— Você terá mais que a sua vingança. — o homem estala o dedo.

 

   Uma garota loira com um olhar sombrio caminha até Jeff carregando um saco de remédios.

 

— Você também terá sua irmã saudável, até que consiga o transplante. — o homem diz.

 

   Jeff encara a garota, que lança um sorriso para ele.

 

— Samantha! — O chefe grita. — Pode voltar agora, e quanto ao que estávamos falando, acho que vermelho vai ficar bom. — ele diz acariciando os cabelos dela.

 

   Durante meses, Liam e Jeff trabalharam lado a lado a mando da Gangue dos Trilhos, roubando, mentindo, fraudando, torturando...

 

 

Ano: 2012 – 12 de Outubro – Lima, Ohio

 

   Liam está frente a frente com o chefe da gangue dos trilhos, ele mostra ao jovem a foto da amiga de Jeff, Louise.

 

— Eu posso confiar em você, não posso Liam?

— O que quer? — Liam pergunta.

— Essa é a namorada do Jeff. — O chefe diz. — Eu tenho uma missão para você.

— Eu não vou machucar essa garota, ela é uma boa menina. — ele insiste.

— Essa menina está gravida do Jeff, e nossa cliente não quer que essa criança nasça.

— Louise está gravida? — ele pergunta confuso

 

   O chefe mostra a Liam um frasco pequeno com um liquido roxo dentro.

 

— É só fazer ela beber isso, e tudo acaba.

— Arruma outro. — Liam o desafia. — Eu não farei isso com o meu melhor amigo.

 

   Liam sai da estação abandonada.

 

   Nos dias que se seguiram boatos começaram a circular de que Liam falhou em uma missão, e que ele traiu Jeff ao roubar dele, e ao tomar para si sua namorada.

 

   Semanas depois, Liam vai ao encontro de Louise, e assim que chega em sua casa, encontra uma mulher ao lado da jovem, que está desmaiada e sangrando.

 

— O que fez? — Liam pergunta apavorado.

— O que não teve coragem de fazer. — a mulher aponta uma arma para Liam, que ao mesmo tempo também aponta uma arma para ela.

— Quem é você? — ele pergunta aos berros.

 

   A mulher está nitidamente usando uma peruca morena, ela está um pouco agitada, mas aciona o gatilho. Nesse momento Liam atira para o alto, o que a assusta e a faz derrubar a arma, ele corre até ela e aponta sua arma para sua testa.

 

— Por que fez isso com a garota? — ele pergunta irritado. — Por que está fazendo isso?

— Ela ainda está viva. — a mulher diz ofegante. — Ela ainda pode ser salva.

— Me dê um bom motivo para eu não estourar seus miolos?

— Eu sou a sua chefe! — ela anuncia. — Meu nome é Jéssica Johnson, e eu sou a líder da Gangue dos Trilhos.

 

   Liam fica um pouco atordoado, e então se dá conta.

 

— Você é a mãe do Jeff! — ele exclama.

— Não temos tempo, sua amiguinha está morrendo. — Jéssica fala. — Eu tenho duas alternativas para você, a primeira, você salva a sua amiga e esquece que me viu, ou deixa ela morrer e mata a mãe do seu melhor amigo.

— Não parece que eu tenho uma escolha. — ele diz. — Eu vou salvar a Louise, e em troca você me permitirá sair da Gangue dos Trilhos, e nunca, nunca irá vir atrás de mim ou dela outra vez.

— E que garantias eu tenho de que...

— Eu me afastarei do seu filho se for necessário, mas não quero que o machuque.

— Vocês crianças são tão imprevisíveis. — ela diz sorrindo. — Mas está certo, esse será nosso segredo, e se algum dia alguém ficar sabendo sobre mim, eu saberei onde encontrar você e a sua amiga... E outra, eu ficarei sabendo se voltar a se encontrar com meu filho.

 

   Jéssica sai da casa, deixando Liam sozinho com Louise.

 

 

   Louise desperta. — Ela percebe está na cama de um hospital, e se surpreende ao ver Liam em seu lado.

 

— O que aconteceu? — ela pergunta assustada.

— Do que você se lembra? — Liam pergunta curioso.

— Eu recebi uma encomenda, dai eu fui tomar meu café e de repente comecei a sangrar e... Meu bebê, o bebê do Jeff. — ela se desespera. — O que aconteceu?

— Você teve um aborto espontâneo. — Liam mente. — Eu sinto muito.

— Não! — ela grita em lagrimas. — Eu nunca terei o Jeff de volta... Nunca.

— Não se preocupe. — ele a abraça. — Eu vou cuidar de você, eu a protegerei.

— Meu bebê...

 

 

Ano: 2013 – 2 de Fevereiro – Lima, Ohio

 

   Durante os meses que se passaram, Liam evitou Jeff de todas as formas possíveis. Na Gangue dos Trilhos tudo o que se sabiam é que Liam completou uma última missão, e como prêmio ele foi autorizado a sair com honras da Gangue. O que causou muita inveja entre eles, e irá ao seu ex-melhor amigo, Jeff.

 

   Liam está em casa quando ouve batida em sua porta, assim que a abre, vê Jeff.

 

— Achei que tinha sido claro quando disse para parar de me procurar. — Liam o destrata. — O que foi? Além de tudo ficou surdo agora?

— Eu quero entender o que aconteceu, de verdade! — Jeff o enfrenta. — Você é meu melhor amigo, o irmão que eu nunca tive um irmão mais velho pra minha irmã...

— Idiota. — Liam murmura virando de costas. — Você nunca percebeu não é? Eu sempre usei você, fiz de você meu fantoche, eu nunca suportei você... Garoto chorão, meloso, medroso...

— Por que está dizendo essas coisas pra mim?

— Jeff, eu sou melhor que você e sempre fui... Sou melhor jogador, melhor nadador, até sua namorada preferiu a mim... Então faça um favor a mim e a si mesmo, se quer continuar bancando o garoto das ruas, pare de falar comigo, finja que não me conhece, porque eu nunca... Nunca vi você como irmão!

 

   Jeff o soca, fazendo Liam cair no chão com o nariz sangrando.

 

— Você é um merda, um covarde... Ficar longe? Foi a melhor ideia que teve em anos. — Jeff grita enfurecido.

 

   Jeff sai enfurecido. — Liam se senta em posição fetal em frente à porta, e chora... Chora, grita... Porém tendo a certeza, que fazendo isso, Jeff estará seguro.

 

— Me perdoa meu amigo. — ele sussurra em lagrimas. — Me desculpe.

 

 

ATUALMENTE

 

   Liam desperta assustado.

 

— Foi um sonho? — ele pergunta confuso a si mesmo.

 

   O rapaz se levanta, está usando apenas uma calça de algodão cinza, ele caminha até a sala de estar do seu apartamento, abre o pequeno armário perto da janela, e começa a procurar alguma coisa. Ele então tira do armário, uma caixa branca com um símbolo do antigo hospital comunitário do bairro. Liam a abre, e lagrimas caem dos seus olhos quando dentro, vê uma foto sua e do Jeff, da época em que se conheceram, atrás da foto está escrito: “Muito mais que amigos... Irmãos!”.

 

 

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POV JEFF

 

— Jeff, você pretende ficar o dia inteiro trancado ai? — Jenny pergunta da porta do meu quarto. — O sol já está até se pondo... Fala sério, se você quer falar com o Max vai lá e fale!

— Para com isso! — grito irritado.

 

   Levanto da cama, abro a porta e a vejo, parada com as mãos na cintura. — Odeio quando ela fica assim, ela me lembra demais a Jéssica.

 

— Eu não estou triste, se é o que parece. — minto.

— Sei... — ela sorri entrando no meu quarto. — Abra seu notebook, faça uma pesquisa.

— Eu não tenho um notebook. — digo. — Espera, Matthew te deu um notebook?

— Tanto faz. — ela sorri envergonhada. — Vê no seu celular então.

 

   Pego meu celular e entro no navegador.

 

— O que exatamente quer que eu procure?

— Maximilian Miller saindo do armário. — ela diz.

— Certo. — jogo meu celular na cama. — Sai Jenny, cansei desses joguinhos.

 

   Ela pega o meu celular e começa a digitar, assim que o vira para mim vejo escrito...

 

— Nenhuma informação encontrada. — leio confuso. — Como assim? Hoje mais cedo isso ainda estava ai.

— Sei lá, simplesmente sumiu da internet.

 

   Paul Miller, e com a ajuda de Patrick, tenho certeza que eles deram um jeito de fazer isso sumir, não sei como, mas fizeram.

 

— Então o Max não tem mais motivo pra ficar bravo comigo não é? — pergunto animado.

— Não seja bobo. — ela diz levantando da minha cama. — Podem ter excluído isso da internet, mas muita gente presenciou tudo aquilo... E Jeff, você o humilhou na frente daquela gente toda, nem mesmo eu que sou sua irmã e sempre estive do seu lado, consigo te apoiar agora.

— Você veio me perturbar só pra dizer isso? — pergunto.

— Não. — ela diz indo para a porta. — Tem um gigante lá embaixo chamado Ralph, ele disse que vocês vão a uma festa juntos.

 

   Ralph está aqui? — Jenny sai apressada, acho que está aborrecida. Sabe... Desde que ela saiu de casa ano passado para morar com a Jéssica, sinto que ela se tornou mais amarga... Quero minha doce Jenny de volta.

 

— Sr. Johnson. — o mordomo, Sr. Snow aparece de repente, me assustando. — O senhor tem...

— Ralph! — o interrompo assim que vejo meu amigo.

 

   Acho que o Sr. Snow não gostou muito, já que quando Ralph simplesmente entrou no meu quarto ele revirou os olhos, bufou e se foi.

 

— Ainda está vestido assim? — Ralph questiona. — Sério mesmo que você não vai nem tentar se dá bem com o Liam?

— Dar bem com o Liam? — pergunto. — Eu juro que não entendo essa de vocês de quererem que eu e ele voltemos a nos falar.

— Eu conheço o Liam muito antes de você. — Ralph diz indo até a janela. — E posso afirmar que você foi o melhor amigo que ele já teve, e nunca vou entender o motivo de vocês dois terem brigado.

 

   Para falar a verdade nem eu sei direito o que aconteceu... Tudo o que sei é que Liam me traiu, ele me enganou e me deixou para trás. — Isso não tem perdão.

 

— Ué! — Ralph observa algo.

 

   Ele vai até o criado-mudo da minha cama, e vê um porta-retratos com a foto de nós cinco, Sarah, Lucy, Robert, Max e eu. — Merda.

 

— Esse garoto, ele não é aquele que saiu do armário ontem? — Ralph pergunta confuso. — É ele sim, como é o nome dele mesmo.

— Deixe isso ai. — peço.

— Não! Fala sério, por que você tem a foto desse garoto? Não vai dizer que você...

— Ralph! — grito enfurecido.

 

   Ralph me direciona um olhar surpreso e coloca o porta-retratos no lugar.

 

— Achei que tivesse vindo aqui para irmos à festa de despedida do Liam, não pra ficar falando do que aconteceu ontem.

— Relaxa cara. — Ralph diz vindo até mim. — Eu sei que o sujeito era seu amigo, deve ser um choque descobrir que seu amigo é gay, eu particularmente ficaria uma fera.

 

   “Ficaria uma fera”. — Eu definitivamente me sinto numa encruzilhada quando o assunto é me assumiu ou não.

 

— Marca um tempo ai. — digo. — Só vou trocar de roupa e nós vamos nessa festa.

— Beleza! — Ralph diz se jogando novamente em minha cama. — Cara é como deitar em ovelhas.

 

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   Trouxe Ralph comigo na moto. — A festa de despedida do Liam está acontecendo em uma boate, está realmente muito cheio aqui, e pra falar a verdade não faço ideia de como um monte de menores de idade conseguiram entrar! Minto, na verdade faço sim, já que também só consegui entrar com a minha identidade falsa.

 

— Vou dar uma circulada. — Ralph grita para me fazer ouvir. — Tá beleza?

— Vai tranquilo. — digo empurrando-o.

 

   Não estou com o humor bom para festas, mas devo admitir que não resisto a uma boa musica, bebida e uma dose de confusão. — O Robert não esta aqui? — Sento no balcão das bebidas, e logo alguém senta ao meu lado.

 

— Jasper?! — pergunto confuso.

— Hey! — ele me cumprimenta informalmente.

 

   Jasper está vestido como se fosse emo. — Está todo de preto, usa uma calça preta com correntes metálicas, uma camisa preta com um borrão branco estampado, e uma jaqueta de couro preta. Seus cabelos são de um castanho tão claro que parecem loiros, e ele agora tem um novo corte de cabelo, agora seus cabelos estão mais curtos e espetados, porém com uma franja lateral que vai até um pouco abaixo de sua sobrancelha esquerda.

 

— Foi ideia da Sarah. — ele se explica apontando para o cabelo.

 

   Peço bebidas para o barman.

 

— Pode falar cara, eu sei que quer comentar sobre o que aconteceu ontem. — digo virando de uma vez só a bebida.

— Não tenho o que falar. — ele diz também bebendo. — Claro que no seu lugar eu ficaria em choque também, mas eu não acho que deixaria o Max daquele jeito.

— Nesse ponto todo mundo concorda. — murmuro. — Eu estou arrependido de ter deixado ele daquela maneira... Ele, ele é nosso amigo.

— Falando nisso. — ele diz pegando o celular. — Você viu que o vídeo dele foi rapidamente removido da internet? E a nas redes sociais só se fala dele, alguns estão dizendo que o que ele fez ontem não passou de uma brincadeira, outros estão sendo realmente duros...

 

   Se for realmente o Paul que conseguiu remover o vídeo da internet, ele pode ter implantado essas informações também. — Qual o intuito dele? Fazer com que o Max volte para o armário?

 

— E o que você acha? — pergunto curioso.

— Não acho que a Louise estava brincando ontem quando disso tudo aquilo. — Jasper responde. — E realmente não acho que o Max tenha mentido sobre ser gay.

— E você não se importa em ter um amigo assim?

— Deveria? — ele pergunta. — Cara ele continua sendo o Max, certo? O mesmo garoto que ajudamos a resgatar quando foi sequestrado, o mesmo garoto que viajou com a gente... Ele é nosso amigo, isso não basta?

 

   Eu realmente fico muito confuso com a reação das pessoas quando o assunto é a sexualidade. — Quando Lucy descobriu sobre o Max quase enlouqueceu diferente da Sarah, que o apoiou incondicionalmente. — Não entendo qual é a dificuldade das pessoas em entender isso, e não entendo qual é a minha dificuldade em aceitar isso, mesmo eu... Eu também sendo... Droga, eu já nem consigo mais dizer isso.

 

— Você deve um pedido de desculpas a ele. — Jasper diz levantando. — O Max não merece o desprezo das pessoas, ele é um bom garoto, e um bom amigo, especialmente pra você.

 

   Jasper me deixa sozinho e caminha na direção da pista de dança. — Essas conversas só servem para me deixar mais e mais confuso.

 

— Eu não devia ter vindo. — digo a mim mesmo.

 

 

Sms – Liam – “Soube que queria falar comigo! Olhe para cima, estou te esperando.”.

 

 

   Olho para cima e vejo o camarote da boate, e lá está ele. Liam. — Quer saber? Talvez esteja realmente na hora de Liam e eu acertamos nossas vidas de uma vez por todas. — Passo por todos ali, subo as escadas e enfim chego ao camarote. A porta está trancada, porém permaneço aqui parado. — O que exatamente eu espero que aconteça aqui? Não acredito que Liam e eu possamos voltar a ser amigos. — A porta então é destrancada, abro-a e entro. — Liam está sentado no sofá em frente à vidraça que tem a vista para a pista de dança.

 

— Então... Você realmente vai embora. — digo um pouco constrangido.

 

   Por que de repente sinto um vazio dentro de mim? Por acaso... Eu sinto falta da amizade dele?

 

— Yale. — ele diz virando para mim. — Quem diria não é? Que aquele marginal que salvou a sua vida entraria em uma grande universidade.

— Isso é besteira. — digo a mim mesmo.

 

   Ando em direção à porta.

 

— Desculpa. — ele repentinamente fala, me obrigando a parar.

 

   O que?

 

— Desculpa por eu ter te apresentado essa vida, desculpe por eu ter te deixado sozinho, desculpe por eu ter dito coisas horríveis pra você àquela noite. — ele simplesmente diz.

 

   Meus olhos de repente enchem-se de lagrimas.

 

— Desculpas? — pergunto ainda de costas para ele. — O que fez comigo não tem perdão.

— Eu não vou me justificar, não vou dar desculpas pelas coisas que eu fiz. — ele diz vindo até mim. — Eu só queria antes de ir embora poder olhar nos seus olhos e...

 

   Ele me força a virar, e não consigo conter minhas lagrimas. — Por que diabos eu estou chorando? — Desgraçado, como pôde me abandonar daquele jeito? Eu era só uma criança no meio de toda aquela gente estranha, eu tinha medo, eu tinha muito medo, e todas as noites eu imaginava que você voltaria para me salvar, mas você nunca voltou! Então, por que... Por que se desculpar agora?

 

— Não pense que foi fácil pra mim. — ele diz com um sorriso forçado. — Não foi...

— Quando você me deixou sozinho na Gangue dos Trilhos, eu fui vitima daquelas caras, eles... Eles me...

— Chega. — ele me impede de concluir a frase. — Eu não espero que me perdoe, também não criei a expectativa de, de repente tudo ficar normal, que depois de tudo isso nos abracemos e voltemos a nos chamar de irmãos... Eu só quero que entenda que em momento algum eu deixei de me culpar pelo que aconteceu.

— É um pouco tarde pra isso, não acha? — pergunto enxugando as lagrimas. — Mas mesmo depois de tudo isso a gente tentou, não foi? Nos reaproximamos graças ao Miller, mas não foi o bastante, porque toda vez que te vejo... — lagrimas caem dos meus olhos novamente. — Eu sinto uma vontade enorme de te bater! — grito.

— Então me bata, droga! — Liam grita.

 

   Sem nem pensar duas vezes, soco seu rosto, o fazendo cair no chão, soco-o novamente, e ele nem ao menos tenta se defender. — Por que está fazendo isso comido de novo?

 

— Por que não faz nada?! — pergunto em berros.

— Porque foi o que eu decidi aquela noite. — Liam se levanta apoiando no sofá.

 

   Ele então coloca a mão na cintura, abaixa um pouco a calça e me mostra uma cicatriz.

 

— Eu decidi assumir toda a sua dor. — ele diz me fazendo chorar novamente. — Porque eu sabia que não seria capaz de te proteger de perto, então... Eu tinha que te proteger de alguma maneira.

 

   Quando Liam me deixou sozinho na Gangue dos Trilhos, me tornei o alvo de todos lá dentro, eu era espancado e humilhado todos os dias, até que de repente aquilo parou... Eu ouvi boatos de que um antigo membro tinha apagado um deles, os fazendo parar de me atacar... Então... Foi o Liam? O Liam... Ele, ele matou alguém, por mim?

 

— Eu nunca pedi pra você fazer nada disso, nunca pedi pra me proteger. — digo um tanto atordoado.

— Eu sei, e é justamente por isso que senti a necessidade de te proteger. — ele diz. — Você era meu irmão.

 

   Viro-me de costas e vou até a porta. — Liam nunca desistiu de mim, esse tempo todo eu agi como um idiota, e nunca, nunca percebi que por dentro ele estava sofrendo.

 

— Eu espero... Espero que consiga realizar os seus sonhos indo para Yale. — digo.

 

   Saio do camarote em passos rápidos. — Se tem uma coisa que herdei dos meus pais é esse maldito orgulho, e por mais que eu queira desculpar o Liam, eu simplesmente não consigo, então... É melhor assim, eu chorei em sua frente, e ele se humilhou por mim, quer maior prova de amizade do que essa? — E por que de repente com tudo isso acontecendo sinto a vontade enorme de encontrar o Max? Sinto vontade de ir até ele e contar tudo o que acabou de acontecer. — Minha conversa com o Liam só me fez perceber uma coisa... Eu não devo desistir da pessoa que eu amo. E isso vale para esse tipo de amor não é? O amor que sinto pelo Max. Então eu devo aprender a me aceitar assim, devo aprender a me respeitar... Eu quero me aceitar, eu quero ser aceito, eu quero o Max de volta.

 

   Saio da boate e vou até minha moto. — Eu falarei com ele, o farei entender os meus motivos de ter feito o que fiz ontem, o farei entender que eu ainda não estou pronto para me assumir, mas que ao lado dele... Eu serei capaz de fazer isso. — Mas tem aquele Zac, que provavelmente está com ele agora, e depois de nossa discussão de hoje duvido que ele pare para me ouvir.

 

— Merda! — grito em plenos pulmões.

 

   As pessoas a meu redor se assustam com minha explosão repentina. — Subo em minha moto e acelero. — Eu não posso ir até o Max sem uma prova de que eu realmente quero ser quem eu sou, mas como eu faço isso? Como eu provo a ele? Eu não posso me assumir, pelo menos não agora... Eu preciso de ajuda!

 

   Rodo a noite toda sem rumo aparente. — As imagens do baile retornam na minha cabeça, o modo como o Max foi exposto. Lembro-me também da minha conversa com Liam, e também da conversa que tive com Matthew e Jasper. — Como eu terminei desse jeito? Como minha vida se tornou esse turbilhão de complicações?

 

 

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   O sol começa a nascer, e finalmente volto para o condomínio.

   Tem alguém em frente a minha casa. — É tão estranho chamar essa mansão de minha. — Lucy? — Paro a moto em frente à garagem. . — Lucy está sentada nos degraus de entrada da mansão. Sento-me ao seu lado, ela está adormecida.

 

— Vai ficar resfriada se ficar aqui. — digo. — Passou a noite toda sentada ai?

 

   Lucy então desperta assustada. — Ela está usando uma camisola rosa e por cima um hobby também rosa, porém fino e quase transparente. Seus cabelos loiros estão soltos, e seus lábios estão secos. — Ela realmente passou a noite toda aqui?

 

— Matthew disse que você tinha saído. — Lucy diz ainda sonolenta. — Eu... Eu fiquei preocupada.

— Ficou preocupada porque sai? — pergunto confuso.

— Não. — ela então cruza os braços na tentativa de se aquecer. — Depois das coisas que eu falei pra você ontem eu realmente fiquei preocupada, achei que fosse fazer alguma bobagem.

— Que bonitinho. — a abraço. — Ela se preocupa comigo.

— Para. — ela então me afasta. — É sério Jeff, desculpa por eu ter agido daquela forma, você tem razão eu não tenho direito de interferir na vida de vocês dois mais do que já interferi.

 

   Lucy então se levanta. — Sua barriga está crescendo. É tão estranho vê-la assim, nunca imaginei que fosse Lucy a acabar gravida, na verdade sempre imaginei uma gravidez acidental da Sarah com Max...

 

— Quer por favor, parar de me encarar? — ela pede constrangida.

— Já está de quanto tempo? — pergunto deixando-a ainda mais envergonhada.

— Daqui a uns dias completa três meses.  — ela então coloca a mão na barriga. — Você sente pena de mim? Por isso ter acontecido comigo.

— Não de você. — digo. — Mas desse pequeno ser humano se formando dentro de você... Eu não sei o que vai fazer, mas eu fiquei orgulhoso em saber que ao menos dará a luz a essa criança.

— Destruir o meu corpo fazendo um aborto, ou destruir meu corpo tendo essa criança. — ela diz um tanto sarcástica. — Essa criança vai nascer o que não quer dizer que ela tenha que crescer comigo.

— Está realmente considerando...

— Eu tenho dezesseis anos. — Lucy fala. — Eu não posso fazer isso comigo.

 

   Ela então caminha dando tchau com as mãos. — Não sou capaz de fazer ela mudar de ideia, nem mesmo o Patrick que é o pai quer essa criança, então eu não devo mais me meter nesse assunto.

   Entro em casa. — Está tudo silencioso. — Tiro meus sapatos e ando sorrateiramente, subo as escadas e vou até meu quarto, quando entro e acendo a luz, dou de cara com Matthew sentado em minha cama encarando seu relógio de pulso. — O que diabos ele está tentando fazer? Me matar do coração?

 

— Que... Merda. — digo assustado. — O que acha que esta fazendo?

— São quase seis horas da manhã. — ele diz parecendo cansado. — Onde esteve a noite toda?

— Eu disse que iria a festa do Liam. — digo confuso.

— Não, não disse. — ele diz. — E quando você saiu daqui ninguém te viu.

— Foi mal, relaxa... Eu to vivo. — tento desconversar.

 

   Tiro a camisa e jogo em cima da cadeira da escrivaninha. — Por que sinto que essa conversa não vai terminar agora?

 

— Eu já te disse não uma e nem duas vezes. — Matthew parece se irritar. — Quando eu te trouxe para essa casa, para essa família eu te avisei que teriam regras, não me importa que não me veja como um pai, mas eu ao menos quero seu respeito.

— Eu já pedi desculpa! — altero o tom de voz. — Isso já não basta?

 

   Ele está realmente tentando assumir o lugar do meu pai na minha vida? — Eu entendo de verdade a preocupação dele, mas eu simplesmente não consigo tolerar isso.

 

— Me dê as chaves da sua moto. — ele pede.

— Está zoando, não é? — pergunto debochado.

— Acho que você não está me vendo rir. — Matthew diz erguendo sua mão.

 

   Isso é ridículo é completamente ridículo. — Jogo as chaves para ele.

 

— Sua moto está confiscada até o termino desse semestre escolar...

— O que?

— E é bom que passe de série. — ele diz indo para a porta. — E só para acrescentar, você está de castigo, ou seja, da escola pra casa, de casa pra escola.

— Você não pode fazer isso.

— Experimenta duvidar. — ele diz batendo a porta do quarto.

 

   Tudo bem, eu posso ter dito em algum momento que estava aliviado de pelo menos ter alguém em minha vida que se preocupa comigo e me dê sermões, mas isso... Isso é ridículo. — Jogo-me na cama, e antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa, caio no sono.

 

---//---

 

   Um alto “TUUM” me faz acordar. — Pego meu celular e vejo que já são três horas da tarde. — Abro meus olhos, ainda sonolento. — Começo a escutar uma música... Uma musica muito familiar. — Levanto e saio do quarto do jeito que estou, descabelado e usando apenas a calça. — Essa música... — Me aproximo do quarto de Jenny, abro a porta e a vejo, sentada no chão do quarto escrevendo em um pequeno caderno rosa, enquanto escuta em volume alto no rádio a música “All of Me” de John Legend. — Parado em sua porta automaticamente me lembro do festival de inverno do ano passado, quando Max cantou essa musica para mim antes de ir embora para o colégio interno. — Sinto uma tristeza de repente. Lembro-me dele sendo exposto no baile, lembro-me de ter dito aquelas coisas e deixado ele lá... — Entro no quarto de Jenny e desligo o radio.

 

— O que está fazendo? — ela pergunta confusa.

— Eu não gosto dessa música, tá legal. — digo indo para a porta.

— Ainda está nervoso por causa do Max? — Jenny pergunta se levantando. — Eu realmente não queria dizer isso, mas eu vou dizer.

— Acho que não vou querer ouvir.

— Eu adoro o Max, e ainda acho que vocês dois são perfeitos juntos, mas sabe quando tudo sempre está perfeito e algo sempre surge para atrapalhar? Como... Como um dia de sol, por exemplo, um ensolarado dia de sol na praia, e de repente uma nuvem carregada surge...

— Eu sou a nuvem carregada? — pergunto.

— Eu juro que te deixo em paz se você disser: “Eu sou gay”!

 

   O que ela acha que esta fazendo? Me testando?

 

— Eu sou... Eu... — me sinto envergonhado de repente. — Aonde quer chegar? Quer apenas afirmar que seu irmão é um covarde?

— Eu não acho que você seja um covarde. — Jenny diz sentando na cama. — Na verdade eu acho que você foi muito corajoso, e quantas vezes você já não demonstrou afeto ao Max em publico?

— Eu já fiz isso?

— Você nunca reparou, não é?

 

   Parando pra pensar, quando eu estou com o Max nada mais importa, eu já o beijei e o abracei em locais que qualquer um poderia nos ver... Então, qual é o meu problema?

 

— Sabe o que eu acho? — ela pergunta. — Você não tem medo das pessoas te virarem as costas se descobrirem que você é gay, acho que você tem medo é da sua reação quando as pessoas descobrirem.

— Eu quero o amor do Max de volta. — afirmo. — Mas pra isso eu preciso me aceitar, eu já me dei conta disso, mas como?

 

   Jenny então sorri, pega o controle e torna a ligar a música e volta a escrever em seu caderno rosa.

 

— Eu sou só uma criança de onze anos. — ela fala. — O que eu poderia saber sobre essas coisas?

— Você... — praguejo indo até ela. — Eu te amo minha pequena. — digo beijando-a na testa.

 

   Caminho em direção à porta, quando sou atingido por uma bolinha de papel.

 

— Jenny... — reclamo.

— Aquele seu amigo Nicholas, ele parece um rapaz legal. — ela diz. — Talvez conversando com pessoas com os mesmos desejos que os seus, você acabe encontrando seu lugar no mundo.

 

   Abro um sorriso para ela e saio de seu quarto. — Sério, eu juro que não entendo como uma criança consegue falar coisas desse tipo com essa naturalidade. Acho que isso é culpa desses livros de romance de hoje em dia. — Volto para o meu quarto e sento-me no banco sofá abaixo da janela. O céu está azul, sem nuvens, a rua está deserta. — As pessoas ricas não gostam de andar? — Estou entediado.

 

— Nicholas. — murmuro.

 

   Repentinamente lembro aquele beijo que me deu enquanto ainda estávamos no abrigo.

 

— Se eu realmente sinto desejos por outros caras fora o Max... Então isso que sinto quando lembro o beijo do Nicholas é...

 

   É embaraçoso dizer até para mim mesmo.

 

— Chega! Eu preciso...

— Sr. Johnson. — o mordo Sr. Snow aparece de repente na minha porta.

— Você precisa usar sinos no pescoço. — brinco. — Você me assusta, para de aparecer do nada.

— Desculpe Sr. Johnson.

— Para de me chamar assim, meu nome é Jeff. — reclamo.

— Tudo bem Sr. Johnson.

 

   Ele já está zoando com a minha cara não é?

 

— O Sr. Jackson está aqui para lhe ver. — ele anuncia.

 

   Ah! Nicholas está aqui? — Falando no diabo. — Mas... Talvez a Jenny esteja certa, não? Se eu falar abertamente com alguém que também tenha esses... Esses desejos confusos, eu talvez possa me entender melhor.

 

— Pede pra ele subir. — digo.

— Mas aqui é o seu quarto senhor, não acho conveniente.

— Perguntei alguma coisa? — pergunto de forma grosseira.

 

   O Sr. Snow sai do meu quarto. — Por que estou me sentindo tão ansioso? — Ando de um lado para outro no quarto. — Credo Jeff, até parece uma daquelas garotas virgens desesperadas quando o namorado vai encontrar elas em casa.

 

— Jeff? — a voz de Nicholas me assusta.

 

   Nicholas então entra em meu quarto. — Ele está usando uma camiseta com estampa do exército, uma bermuda branca e tênis marrom. Seus olhos puxados parecem brilhar.

 

— O que está fazendo aqui? — pergunto sentando de volta no banco sofá.

— Na verdade foi a sua irmã que me chamou, ela disse que você precisava de mim. — ele diz sentando em minha cama.

— Aquela garota. — reclamo em um sorriso.

 

   O que falar? Como falar?

 

— Nicholas eu vou ser direto com você. — digo me sentando corretamente.

— Manda vê...

— Eu estou completamente arrependido de ter abandonado o Max no baile, eu o amo, eu quero ele de volta, e eu quero sua ajuda para eu poder me enxergar do jeito que realmente sou.

 

   Nicholas abre um sorriso forçado e passa a mão na cabeça.

 

— Nossa! — ele diz surpreso. — Err... Isso é meio duro de ouvir.

— Não entendi. — digo confuso.

 

   Nicholas então se levanta, caminha até a porta e a tranca. — O que ele está fazendo? — Vem até mim, se debruça em minha frente. — Seu rosto está muito próximo do meu, o que ele acha que... — E então simplesmente me beija.

 

— Quando você vai parar de falar desse garoto perto de mim e notar que estou perdidamente apaixonado por você. — ele diz em sussurros provocantes.

 

   Sinto uma chama incontrolável crescer em mim. — Eu não sei o que realmente sinto pelo Nicholas, mas nesse momento, tudo o que sinto é uma excitação descontrolada. — Agarro-o pela cabeça e o beijo. Levanto ainda beijando-o e o jogo em minha cama. — Nos encaramos por alguns segundos, até abrimos um sorriso um para o outro. — Arranco sua camisa, e ele tira minha calça. — Sua respiração começa a ficar descontrolada.

 

— Você está bem? — pergunto preocupado.

— Não se preocupe comigo. — ele diz trocando de lado comigo.

 

   Ele agora está sentado sob minhas pernas, sua mão direita acaricia meu pênis ainda dentro da cueca, enquanto sua mão esquerda contorna meus lábios. — Posso sentir seu corpo tremer, assim como posso sentir sua excitação por estar tocando meu corpo.

 

— Não me olhe com essa cara. — ele pede em sussurros. — Está me provocando demais.

— A ideia não é essa? — pergunto sorrindo.

 

   O puxo pelas costas e nos beijamos novamente. — Ajudo-o a tirar sua bermuda e sua cueca sai junto, expondo seu pênis ereto. — Desculpa, mas é inevitável a comparação... O tamanho do amiguinho do Max é tipo o dobro, e ainda é maior que o meu, o Max é algum tipo de mutante? — Nicholas olha constrangido para mim.

 

— Acho que eu tenho camisinhas no banheiro digo. — digo um pouco envergonhado.

 

   Ele me beija e se levanta, caminha e entra no banheiro.

 

— O que diabos eu estou fazendo? — pergunto em sussurros a mim mesmo.

 

   Viro para o lado e vejo a foto que tiramos no Farout Park no verão passado, Max, Sarah, Lucy, Robert e eu.

 

— Parem de olhar pra mim! — reclamo ainda em sussurros.

 

   Abaixo o porta-retratos. — Por que ele está demorando tanto?

 

— Nicholas? — chamo. — Está tudo bem?

 

   Ajeito os travesseiros, e com um controle diminuo a intensidade da luz. — As vantagens de ter um pai adotivo rico. — O que diabos ele está fazendo?

 

— Nicholas? — levanto da cama e vou em direção ao banheiro. — Estou entrando, está tudo... Nicholas!

 

   O vejo então desmaiado perto da banheira.

 

— Nicholas? Merda... Nicholas. — chamo dando tapas em seu rosto. — Merda, merda...

 

   Corro para o quarto e visto minhas calças, corro para porta. — Ele está pelado no meu banheiro! — Volto, pego a bermuda dele e corro para o banheiro.

 

— Droga, droga. — praguejo.

— Hey! — ele murmura.

 

   Respiro fundo e caio sentado no chão. — O que diabos foi isso?

 

— Você me assustou. — digo com as mãos na cabeça. — O que aconteceu? Você caiu?

 

   Ele então olha para os lados e vê sua bermuda em seus joelhos. Ele termina de vesti-la.

 

— Desculpa, eu não sei o que me deu. — ele pede vindo até mim. — Desculpa. — e então me beija.

 

   Por que de repente eu me lembrei de quando minha irmã começou a ter aqueles desmaios quando descobrimos a leucemia?

 

— Podemos continuar de onde paramos. — ele diz.

— Sério? Não tem mais clima, e eu acabei de te ver caído no meu banheiro, achei que tivesse morto. — reclamo levantando. — Merda.

 

   Volto para o quarto e sento em minha cama. — Talvez isso tenha sido um castigo, talvez agindo dessa forma eu esteja traindo o Max, então isso foi... Foi bom?

 

— Está bravo comigo? — Nicholas pergunta vindo até mim.

— Claro que não. — afirmo. — Eu só me assustei, e não acho que eu consiga fazer qualquer coisa, pois só vou lembrar de você caído no banheiro.

— Então deixa que eu faça... Com você.

— Vai sonhando. — digo sorrindo.

 

   Nicholas veste suas roupas, e eu as minhas. — O que isso que acabou de acontecer prova? Talvez que eu definitivamente seja gay, eu realmente sinto atração pelo mesmo sexo, e isso não se limita apenas ao Max como eu achei que fosse. — Então... Isso que aconteceu agora com o Nicholas foi um passo pra aceitação? Um passo para um dia eu ser capaz de erguer a cabeça e dizer...

 

— Eu sou gay. — digo.

— Com certeza é. — ele concorda sorrindo.

 

   Eu disse isso alto?

   Durante todo o restante do dia Nicholas e eu conversamos bastante, ele me contou mais sobre sua infância e o orgulho que sente do pai, e foram inevitáveis as perguntas dele sobre o sequestro e como me envolvi em tudo isso. — Obvio que menti. — No jantar, apenas Jenny, ele e eu ficamos em casa, já que Matthew foi chamado de última hora na agencia para resolver algo de um comercial que ainda esta sendo gravado. — No fim da noite meu motorista levou Nicholas embora. — Agora estamos Jenny e eu na sala de estar.

 

— Obrigado. — digo. — Mas, por favor, pare de ficar se metendo nos meus assuntos desse jeito.

— Pelo menos deu certo? — ela pergunta.

 

   Lembro-me então do desmaio repentino de Nicholas no meu banheiro. — Tenho certeza que tem algo errado com ele, e ele sabe muito bem o que é.

 

— Acho que você estava certa. — falo repousando a cabeça em suas pernas. — Falar abertamente sobre isso talvez seja o modo mais rápido para eu me aceitar, e ter o Max de volta.

 

   E o domingo finalmente acaba.

 

 

---//---

 

 

   Hoje é primeiro de junho de dois mil e quinze, segunda-feira.

 

   Como Matthew confiscou minha moto, fui forçado a vir à escola com o motorista. — Não que seja ruim, mas eu odeio me sentir como aqueles mauricinhos cheios de dinheiro. — Quem tem dinheiro aqui é o Matthew, eu continuo o mesmo pobretão de sempre.

 

— De novo de uniforme.

 

   Vejo Lucy se aproximar assim que desço do carro.

 

— Papai Matthew opera milagres. — ela então sorri para mim.

— Isso é tortura. — reclamo.

 

   Entramos juntos na escola, e assim que chegamos próximo ao corredor dos armários vemos um alvoroço. — O que é agora? — Vemos então Max cercado por quatro rapazes do time de futebol americano.

 

— Então quer dizer que esse tempo todo você estava fingindo ser um homem? — um deles pergunta.

— Eu sou homem. — Max se defende. — O fato de eu ser...

 

   Max repentinamente é empurrado contra os armários.

 

— Quem te deu o direito de me responder? Bichinha!

 

   Sinto uma irritação tão grande. — Eu preciso defendê-lo, preciso protegê-lo.

 

— Jeff, por favor, faz alguma coisa. — Lucy implora.

 

   Dou um passo à frente.

 

— Hey!

 

   Vejo então Robert, Patrick, Jasper, Liam e Jacob se colocando entre Max e os valentões. — O que eles estão fazendo?

 

— Fiquem longe do meu irmão! — Robert grita.

— Irmão? — o mais alto entre os jogadores pergunta. — Não tem vergonha não Robert, de andar com uma boneca dessas?

 

   Robert simplesmente voa contra o rapaz o socando no estomago.

 

— Eu já disse pra ficar longe do meu irmão. — ele repete completamente enfurecido.

 

   Patrick e Liam dão um passo à frente, enquanto Jacob e Jasper ajudam Max a se levantar. — Os jogadores se olham e quando percebem a plateia se formando resolvem se afastar.

 

— Max. — Lucy vai até ele. — Você está bem?

— Melhor do que nunca. — ele diz sorrindo.

 

   Como ele consegue sorrir depois disso?

 

— Está bem mesmo? — Robert pergunta.

— Obrigado por isso. — Max agradece constrangido. — Obrigado por continuarem falando comigo.

— Você é tão estranho Miller. — Liam coloca a mão em seu ombro. — Você precisa aprender a se defender desses caras.

 

   Max finalmente me nota no meio de todos. — Nossos olhares se conectam, eu posso sentir seu sofrimento, sua raiva, e acima de tudo o seu desapontamento comigo. — Eu mais uma vez, mas uma vez não fui capaz de ir até ele, não fui capaz de defendê-lo... Eu sou um covarde. — Aperto firme a alça da minha mochila e passo por eles.

 

— Jeff! — Lucy me chama.

 

   Eu sinto muito Max, mas eu não sou capaz de fazer isso.

 

   Apresso-me e chego à sala onde terei aula de literatura.

 

— Merda! — grito irritado chutando as cadeiras.

 

   Ouço passos, quando viro dou de cara com Louise me encarando.

 

— Bom dia. — ela então sorri para mim.

 

   Essa garota... Ela...

 

— Sabe, conhecendo você como eu conheço, eu realmente fiquei surpresa quando vi você deixar o Max daquele jeito.

 

   Saia de perto de mim.

 

— Ouvi falar do escândalo no corredor. — ela sorri. — Vergonhoso.

 

   Sinto uma irá incontrolável dentro de mim. Vou em sua direção e a agarro pelo pescoço e pressiono contra a parede.

 

— Jeff... — ela tenta falar. — Não... Não, consigo, não...

— Está feliz agora? — pergunto em sussurros. — O Max está vivendo em um inferno, eu estou vivendo em um inferno... Conseguiu o que queria.

— Jeff...

— Eu vou acabar com você!

 

   Sinto algo me puxar. — Largo ela, que cai de joelhos no chão. — Quando me dou conta vejo Patrick me segurando e Lucy me observando apavorada.

 

— Jeff o que está fazendo? — Lucy pergunta assustada.

— Isso não vai resolver nada cara. — Patrick diz me soltando.

— Você é um covarde. — Louise grita. — Foi covarde a vida inteira, foi covarde quando sua mãe te largou, foi covarde quando sua irmã ficou doente, foi covarde quando deixou o Max daquele jeito, é covarde por não admitir o que realmente é.

 

   Louise se levanta e Lucy a empurra, a fazendo bater o ombro na parede.

 

— Chega. — Lucy pede. — Você conseguiu o que queria não é? Humilhar todo mundo está satisfeita?

— Ainda não. — ela grita. — Ele ainda precisa ser humilhado, o tanto quanto eu fui humilhada.

— Louise, já chega isso está ridículo até mesmo pra você. — Patrick diz.

— Não vem me dar lição de moral. — Louise grita com Patrick. — Você de todos.

— Chega! — grito irritado.

 

   Louise vem até mim e abre um sorriso irônico.

 

— Você, Jeff Johnson. — ela diz em deboche. — Está em minhas mãos.

 

   Em um ato de pura fúria, viro minha mão contra seu rosto, a fazendo cair no chão.

 

— Jeff. — Lucy sussurra surpresa.

— Você, você me bateu. — Louise diz em lagrimas.

 

   Chuto uma cadeira e saio irritado da sala. — Eu não sei o que vai me acontecer daqui pra frente. Louise tem meu segredo em mãos... Pra falar a verdade eu nem me importo com o que ela possa fazer, eu só quero sair daqui, quero poder correr ir até o Max pegar em suas mãos e fugir para longe junto com ele... Mas em minha situação atual... Eu sou simplesmente patético. — Um covarde.


Notas Finais


Por enquanto é isso, logo venho com os as duas partes do capitulo final dessa temporada, narrada pelo Max! Até mais! :D


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