— Skylar cartões. Tenho o dever de avisar que essa ligação está sendo gravada. Atendente, Amanda. Em que posso ajudar? — Perguntei atendendo o telefone.
— Está vendo essa caixinha na sua frente? Abra-a, mas cuidado, tem um bicho dentro dela.
— Sabia que cupido, é um nome muito gay. — Respondi. Abri a caixinha morrendo de medo pelo monstro que poderia estar dentro dela, e quando abri, havia apenas um espelho, me irritei por ter ficado assustada. — É um espelho. — Respondi.
— Está vendo o bicho? — Ele perguntou. — Está sendo refletido, ele é você.
— Nossa, isso ajudou muito minha autoestima. — Respondi.
— Amanda, você é bonita. Você apenas esconde sua beleza, porque faz isso?
— Não quero falar com você. — Respondi.
— Claro que quer, se não, não estaria falando comigo agora. — Ele respondeu.
— Vou desligar, então. — Disse desligando o telefone na cara dele, e me levantando para ir embora.
Sai do ambiente em que eu trabalhava, e corri para pegar o metro. Por conta da velocidade em que estava correndo, não vi o carro que avançava em minha direção. Meu corpo entrou em pânico, um corpo colidiu com o meu, me tirando da frente do carro.
— Você ficou doida? Posso ser um cupido chato, mas sou um cupido da paz. Não precisava se matar para me mandar embora. — O menino de cabelos castanhos disse.
— Eu não estava tentando me matar. — Respondi. — Só estava atravessando a rua.
— Sei. — Ele respondeu me ajudando a levantar. — De nada.
— Eu não disse obrigado. — Respondi.
— Você não disse, mas vou pensar que você é uma menina educada, e disse. — Ele falou sorrindo. — Quer carona?
— Não. — Ditei. — Eu estou indo na polícia, vou colocar você atrás das grades.
— Boa sorte com isso. — Ele respondeu sorrindo.
Estreitei os olhos, e o olhei de cima em baixo, antes de me virar e seguir para a delegacia mais próxima.
— Olá. — Disse cumprimentando o policial. — Eu gostaria de fazer uma denúncia.
— Claro, qual sua reclamação? — Ele perguntou.
— Tem um cara me seguindo. — Disse.
— Ele já te tocou de modo indelicado? — Perguntou.
— Não. — Respondi.
— Ele já te assediou? — O policial perguntou.
— Não. — Respondi, estava começando a perguntar o que estava fazendo ali.
— Então qual sua reclamação? Ele ainda não fez nada. — O policial disse.
— Ele se denomina cupido, e diz que quer me ajuda a achar, minha cara metade. — Respondi.
— Droga, moça. Me desculpe, mas não poderei fazer nada pela senhora. — O policial respondeu.
— O que? Porque não? — Perguntei.
— Você não é a primeira que tem um cupido atrás de você, muitas pessoas já vieram aqui. Investigamos o caso, e sabe no que deu? O presidente achou legal o que eles fazem, e agora eles são protegidos pela lei. A não ser que seu cupido te prejudique em algo, a polícia não pode fazer nada. — O policial explicou.
— Droga. — Resmunguei. — Obrigada, policial.
— De nada. — Ele disse, e eu sai daquele local.
— Como foi? — O cupido perguntou encostado na parede ao meu lado.
— Não fala comigo. — Rosnei.
— Nossa, que bicho te mordeu? — Ele perguntou. — Conseguiu me colocar atrás das grades?
— Não. — Resmunguei.
— Aceite, eu posso te ajudar. Me deixe te ajudar. — Ele pediu.
— Não, fica longe de mim. — Pedi.
— Amanda, você não está cansada de ficar sozinha? De ninguém te amar? Não está cansada dessa vida sem graça? — Ele me questionou.
— Sim, mas eu quero mudar isso, e não um cupido idiota. — Respondi.
— Você não sabe nem por onde começar. — Ele gritou. A essa altura já estávamos em um beco, não havia ninguém ali.
— Pare de jogar minha vida sem graça, na minha cara. — Gritei. — Você não acha que eu queria ter sido uma garota normal? Com pais normais? Com um namorado? Ou com uma família? Com irmãos? Eu queria, mas a vida não quis assim, ok? — Gritei.
— Amanda, eu posso te ajudar a encontrar sua felicidade. — Ele disse se aproximando. — Me deixe te ajudar.
— Não, você não vai conseguir. Eu não fui feita para ser amada, não fui feita pra ninguém gostar de mim, pare de tentar me ajudar. — Gritei.
Sai correndo, e peguei o metro mais próximo. Assim que cheguei em minha casa, tomei um banho e fui para minha cama. Eu estava exausta.
(...)
— Skylar cartões. Tenho o dever de avisar que essa ligação está sendo gravada. Atendente, Amanda. Em que posso ajudar? — Perguntei atendendo o telefone.
— Como beijar pela primeira vez? Não sei se você é bv ou não, mas vai saber. Existe uns sites bem legais. Chegou a hora tão aguardada pela maioria das meninas, mas e agora? Como beijar pela primeira vez? Seus lábios tocam os dele pela primeira vez, a terra para de girar, os anjos cantam, pombas brancas saem voando… Ou pelo menos é o que você esperava que iria acontecer, certo? — Ele disse, e suspirou derrotado. — Que coisa mais gay. Juro que eu...
Desliguei o telefone. Afundei meu rosto em minhas mãos, e engoli o choro. Estava cansada de ser invisível, de não ser amada, de não ser notada. Será que esse cupido pode realmente me ajudar?
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