Mesmo por palavras, eu podia ouvi-lo falando. A voz ácida que parecia penetrar sua mente e ficar ali para lembrar que mesmo quando a poeira baixava, nada tinha mudado. Tínhamos vencido por alguns minutos, mais uns e talvez estivéssemos perdendo novamente.
"Jimin,
Lhe agradeço a esses anos, pela felicidade que me propôs, por ter sido fraco e fácil de se deter. Com certeza você foi um marco na minha vida. A essa hora você já sabe, ou sempre soube, que eu sou seu padrinho, e tenho a responsabilidade de cuidar de você caso algo aconteça a sua família, como bem fiz todos esses anos. Pode discordar, mas no fundo, você sabe que tudo que é hoje, é de minha autoria..."
Se eu pudesse, teria rasgado o papel naquela instante, mas lembrei que a carta não era minha, e que por mais chateado que eu ficasse, era sobre o Jimin que tudo se tratava. Ele se aproximou e sentou na beira da cama. Eu não conseguia me afastar por conta do gesso na perna, mas ele se encaixou de ladinho e deitou a cabeça no meu peito. Continuei.
"Foi bom enquanto durou. Mas agora tenho que lidar com os problemas que você trouxe para as nossas vidas. Esses seus amigos intrometidos. A principio, você nem deveria ter esses amigos. E o maior erro da minha vida; ter casado com alguém que precisava de dinheiro por faixada, mesmo sabendo que ela tinha um filho. Só não esperei que esse filho lhe tirasse das minhas mãos. Infelizmente ele o fez, e também tirou a vida pacífica que você tinha. Agora vai ter que lidar com as consequências, não foi assim que sempre lhe ensinei?..."
Ouvi um fungado e parei de ler.
-Yaegiya? -chamei. Jimin balançou a cabeça e não me olhou. -Você está chorando?
Ele assentiu. Larguei a carta sobre as minhas pernas e o envolvi com os braços. Ele não merecia isso. Nós não merecíamos. Jimin era uma vítima por efeito colateral, e eu também.
-Não leia de novo. -sussurrei. -Pare de ficar olhando isso.
-Eu... desculpa. -ele fungou e afundou o rosto na minha camisa. -Ele me assusta. Eu não quero vocês machucados. Olha oque ele fez com você.
Eu não podia dizer que estava tudo bem, claramente não estava. O Carcereiro estava lá fora, liberto e escondido, em paz. E nós estávamos trancafiados, machucados e com medo. Não estava tudo bem. O apertei nos meus braços, mesmo que isso significasse dor pela minha perna. Jimin aos poucos foi respirando fundo e se acalmando.
-Está melhor? -perguntei.
Ele balançou a cabeça e suspirou.
-Continue a ler. O final é importante.
Peguei a carta novamente, e voltei a ler.
"Não quero moeda de troca, longe disso. Já nos divertimos o suficiente. Mas não custa mais um pouco, uma despedida, não é? Jimin, nos encontraremos em breve. Não sei daqui a quanto tempo. Estaria sendo burro se o dissesse onde. Quando estiver perto, lhe avisarei. Por enquanto, tenho um presente para você. Vá a DaeGu, procure pelo hospital Saint Miguel, e por Bak Taegon.
Até qualquer dia,
seu padrinho."
Meu coração estava acelerado, eu não sabia oque significava, mas ele estava avisando. Iríamos nos encontrar. Ele infelizmente não tinha ido para sempre.
Jimin tirou a carta das minha mãos e a dobrou. Eu não conseguia identificar oque ele sentia, acho que nem a mim mesmo. Ele voltou a deitar em mim e se ergueu um pouco para beijar minha bochecha.
-Eu também não sei oque significa. Ele pode estar tramando para nós, mas... temos que ver oque é isso.
Virei o rosto para ele. Jimin parecia mais magro.
-Depois, vamos esperar uns dias. -puxei-o de volta para o meu peito e o mantive contra mim. -Vamos respirar um pouco, antes de começar a correr de novo.
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