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História The Day Draco Malfoy Was Saved (Drarry) - O Passado.


Escrita por: Invernia e Fuck-me-lauren

Capítulo 35 - O Passado.


Fanfic / Fanfiction The Day Draco Malfoy Was Saved (Drarry) - O Passado.

 

O Passado.

JUNHO

2002, dois dias antes do desaparecimento. 1 ano antes de Draco ser encontrado vivo.

MCGONAGALL, Wiltshire.

 

McGonagall para em frente a mansão, o prédio branco se estendia feito um arpão de concreto fincado nos morros de Wiltshire.

Há o calor de Junho, mas não tanto quanto deveria ter no meio do verão, então ela ajeita suas vestes, batendo na porta.

Narcisa Malfoy atende com um olhar preocupado, ela parecia estar esperando por muito tempo, o cabelo desalinhado sutilmente, mas ainda com joias no pescoço.

“Minerva. Merlin, eu estava te esperando.” Murmura, então olha ao redor, e abre a porta totalmente, deixando-a entrar com a educação característica de Malfoys, quando querem algo. “Eu espero que...”

“Eu vim porque sua carta parecia sincera, Narcisa. Não me faça me arrepender dessa decisão.” Reprime, logo de cara, e a Malfoy franze as sobrancelhas, assentindo.

“Com certeza, Minerva. Eu agradeço.” Então aponta para a outra porta de carvalho sólido, longe do salão. “Vamos. Dimmy irá preparar um chá para nós.”

Narcisa se senta em uma das muitas namoradeiras pela sala, ajeitando as vestes azuis, o cabelo desalinhado.

“O problema é seu filho, certo?” McGonagall começa, e Narcisa pega sua xícara de chá, colocando dois cubos de açúcar mecanicamente, então o leite.

“Sim. Ele está usando aquelas... Aquelas coisas trouxas, são como poções pra animar, só que pior.” Explica. “Ele começou usando por causa do... Do...” Desvia o olhar, encarando para a cerâmica em suas mãos com muita força. “Do parceiro dele.”

“Parceiro?”

“Eu não mencionei na carta, mas talvez é importante. É um trouxa, esse homem, ele mudou meu Draco.”

“Onde o conheceu?”

“Merlin se eu soubesse.” Sorri, triste, então balança a cabeça. “Mas eu preciso da sua ajuda, ele está com problemas, ele precisa de... Ajuda. Não me ouve, então deve te ouvir. Ele tinha respeito por você, entende? Como o deixou voltar para o oitavo ano, mesmo depois de tudo.”

McGonagall murmura em concordância.

“Qual droga?”

“Como?”

“Qual droga ele está usando? É cerveja trouxa, é ópio?”

“Heroína.” Murmura. “É isso que ele disse, heroína. Draco não aparece em casa faz semanas, mas eu sei onde ele está.” Inclina-se sobre a mesinha de centro, entregando um papel. “É o apartamento do namorado dele. Aquelas casas pequenas, empilhadas uma em cima da outra. Como caixas no céu. Eu não entendo como qualquer um viveria naquilo.”

McGonagall pisca.

“Então essa é a situação, é o parceiro dele nesse sentido?”

 Narcisa franze as sobrancelhas, mexendo com a colher de prata no líquido quente, assoprando um pouco. Suas vestes são azuis escuras, e ela parece mais velha, madura de um jeito que McGonagall ainda não consegue assimilar.

Era estranho quando duas imagens de uma pessoa só colidem, ficando como papel manteiga, se misturando numa solução aguada e apagada.

“Sim. Nesse sentido.” Ergue o olhar, é negro, e decisivo. “Há algum problema nisso, Minerva? Ele continua sendo meu filho, pode ser difícil de aceitar, mas ele ainda é meu filho. E eu vou protege-lo.”

McGonagall limpa a garganta, concerta os óculos.

“Claro que não há problema, ele ainda foi meu aluno. E vou ajuda-la.”

Narcisa desmonta sua pose como alguém tirando a maquiagem depois de um dia cheio, ela suspira, e fecha os olhos.

“Graças a Morgana.” Então os abre de novo. “Eu agradeço, Minerva. De verdade.”

McGonagall concorda com a cabeça, se levantando.

“Vamos começar o trabalho, então.”

~*~

JUNHO

2002, um dia antes do desaparecimento.

DRACO, Apartamento em Tottenham.

 

No começo, havia leite quente e sorrisos mornos atrás de janelas embaçadas da cafeteria.

Havia toques gentis, havia conversas sussurradas no meio da madrugada quando ambos não conseguiam dormir. Beijos rápidos, e longos, uma variação de beijos que Draco não sabia que existiam.

Ele se pegava pensando nisso bastante, agora, deitado ao lado do seu namorado atual.

Estão no fim.

No começo, ele dormia a noite toda, ou ficava acordado, mas nunca desse jeito.

Respira um pouco mais forte, então prende a respiração.

Não deveria pensar nessas coisas, e, por algum motivo, tem medo, esse medo irracional que faz seu batimento cardíaco acelerar.

Consegue sentir, bem dentro de si, as válvulas abrindo, e então fechando, e abrindo, fechando, abrindo fechando. A contração dos músculos, a energia passando da sua medula para suas artérias e as válvulas e o batimento cardíaco.

Dói.

Nessa espiral que vai para baixo, cada vez mais apertada, torcendo seus braços pra trás, prendendo seu pescoço pra cima.

Ele tem medo porque as vezes acha que Logan consegue ler mentes.

Pelo menos parece, quando o seu rosto se contorna em raiva líquida, sangue fluindo para as bochechas na menor hesitação. Ele parece ler sua mente, parece saber exatamente o momento em que Draco pensou algo que não deveria.

Então levanta o braço.

E aí vem, e aí vem, e aí vem.

A qualquer dúvida há consequências. Logan diz que somente é assim que tem que ser, que Draco tem que aprender como o mundo funciona de verdade, que ele merece tudo o que acontece dentro do quarto.

E aí vem, e aí vem, e aí

Vem.

É estranho não estar seguro nem em sua própria mente.

No começo, havia Charlie.

Ele sorria, macio, manhoso, risonho, irritado.

Ele chorava, de felicidade, vendo Requiem Para Um Sonho naquela vez que eles foram no cinema, se debulhando em lágrimas quando o filho penhora a televisão da mãe, e Draco também estava triste, talvez, mas também não conseguia parar de sorrir porque Charlie era bonitinho mesmo com catarro saindo do nariz.

No começo tudo era quente, era quente, ele se lembra, mas um quente que vem de dentro e não te faz suar.

No final.

No final.

Eles estão no final, agora.

Ao seu lado Logan ronca, ele geralmente dorme de um jeito silencioso e calmo, como um leopardo a espreita, mas hoje bebeu de mais na festa que foram.

Quando ele chegou em casa se jogou como um saco de arroz na cama, as penas para todo o lado de modo que Draco tem que se encolher no canto da janela, com cuidado para não tocar em nenhuma parte do corpo do outro, as costas quase todas coladas na parede fria.

Logan geralmente soa bastante durante o sono, Draco não sabe se sempre foi assim, se naquela noite em que se conheceram simplesmente não percebeu o fedor que exalava das axilas, que permeava o quarto, que machucava o nariz e os olhos e a garganta e te deixava sem saber como respirar. Como se simplesmente esquecesse uma hora.

De respirar.

Ele constantemente se vê assim, desaprendendo coisas básicas. Como falar e sorrir sem que suas gengivas doam, como respirar feito um humano normal.

Ele não é um humano normal, Logan gosta de lembra-lo disso.

Ás vezes no começo ele se via questionando se contaria para Charlie uma hora sobre a verdade, se ele diria seu nome verdadeiro, se diria que a verdadeira razão pela qual seus pais não poderiam conhece-lo não era porque era gay (talvez um pouco por conta disso, mas ainda sim), e sim porque não tinha magia no sangue.

No sangue, bem ali dentro, corroendo, chamando, exigindo.

Draco não se lembra como a magia sentia antes, talvez uma coisa boa, vendo como se achava tão superior por tê-la dentro de si, mas agora ela parece estar mudando, atingindo um pico de transformação. Uma espiral que continua até não poder continuar mais, se fixando num ponto, e não dá pra passar dali sem se corromper.

Sem mudar.

Ele agora nem ao menos cogita essa ideia. Magia, magia, isso é proibido, ele não precisa dela.

É aterrorizado pela ideia do que Logan faria se descobrisse que ele realmente tem algo dentro de si que é diferente, sujo, que não se compara com o normal.

Que ele quase não é humano.

Então ele não precisa de magia.

Ele precisa de outra coisa, e essa outra coisa está no cofre de Logan, dentro do guarda-roupa. Cinco passos de distância.

Draco contou.

Um. Dois. Três. Quatro. Cinco.

Cinco passos.

Logan faz questão de tranca-lo quando não está consciente para o caso de Draco pensar em roubar um pouco para si, a heroína está em alta esses tempos, e vale bastante, vende como água.

O apartamento sempre está cheio de gente, e Logan tem quatro agulhas que estão sempre sendo usadas. Não é higiênico, mas chega um ponto, chega um ponto que você não liga pra isso.

Ele se pergunta se ele consegue passar por Logan, pelo colchão que sempre range, o ventilador jogado no meio do quarto, os sapatos, as roupas, chegar no cofre e pegar um pouco.

Um pouquinho só.

Não daria pra perceber.

Cinco passos, diz para si mesmo, cinco passos e bastaria.

Cinco passos.

Cinco passos são muitos, tudo parece muito, respirar parece muito trabalho, lutar parece muito trabalho, fazer qualquer coisa parece muito nesses tempos.

No final.

Logan estremece no sonho, e balbucia algo.

Draco prende a respiração, o observa.

Ele não acorda.

Então solta o ar, num sôfrego, que vem bem de dentro, abaixo do seu coração que batia.

Um. Dois. Três. Quatro. Cinco.

Parecia uma boa ideia, pelo menos.

Só um pouquinho. Um pouquinho, só.

Não daria pra perceber.

Ele se levanta.

~*~

NOVEMBRO

2000, 3 anos antes do desaparecimento.

DRACO, Londres Trouxa.

 

Nós não sabemos que estamos no nosso auge até que ele acabe, e então, depois de um período de horrível incerteza, percebemos que nunca mais vai voltar.

Draco espreita por trás do balcão da cozinha.

“BU!” Grita, e Charlie pula meio metro acima do chão, dando um gritinho agudo de surpresa.

“Dray!” Berra, as sobrancelhas franzidas. “Eu quase derrubei o almoço!”

Ele estava com uma tigela nas mãos, macarrão com salsicha (ele gostava de cozinhar, o tempo todo) caia para o lado de maneira suspeita. Draco, ainda rindo, balança a cabeça e a toma para si.

“Deixa eu levar isso.”

Caminhando para a sala de estar que na verdade é a sala de jantar, a mesa é a mesinha de centro barata que compraram na IKEA, ele coloca a tigela no centro, ajeitando os copos e os guardanapos.

“Você é impossível.” Charlie murmura, chegando com os pratos e talheres. “Ligue a TV, tá passando o jogo essa tarde.”

“Eu não gosto de futebol, você sabe disso.”

“Você não gosta de TV também. Quem não gosta de TV? Agora liga logo, seu rabugento.” Reclama, se sentando. Draco rola os olhos, pegando o controle (nunca vai se acostumar com essas porcarias), e ligando o aparelho.

“Eu odeio isso.”

Charlie sorri. Então se estica, colocando macarrão no prato preferido de Draco, um amarelo com desenhos azuis.

“Eu sei.”

“E também odeio você.”

“Eu sei.”

Entrega o prato cheio de macarrão, suas mãos se tocam por um segundo a mais, então se ajeita pegando um pouco para si também.

“E você fica péssimo de vermelho.”

Charlie está usando o uniforme do time preferido, vermelho e amarelo, com listras, combinação horrível que o lembra daquele restaurante trouxa que vende lixo como comida.

Ele arregala os olhos, e se vira para Draco por um segundo, antes de voltar a atenção para a TV.

Tem macarrão saindo da boca, caindo no queixo como uma barba molhada.

“Agora pegou pesado.” Diz, de boca cheia.

Merlin.

Draco não consegue evitar o sorriso que nasce abruptamente, e não tenta evitar, ele tem permissão pra estar feliz esses tempos.

“É verdade. Você fica horrível.” Xinga, mas tudo se contraria, porque se estica, beijando a bochecha do namorado. Namorado. Ainda não está acostumado a dizer, namorado. Com um O no final. Fazia seis meses e ainda não estava acostumado. “Terrível, péssima cor.”

Charlie rola os olhos.

“Presta atenção no jogo, eu juro que é emocionante.”

No fundo da sua mente, Draco cogita em como seria dirigir um vassoura mais uma vez. Mas isso é bem no fundo, porque agora, sentado no sofá de Charlie, usando o seu moletom, ele não consegue pensar em mais nada.

É o começo.

~*~

JANEIRO

2001, 2 anos antes do desaparecimento.

DRACO, Brighton.

 

“Eu vou bater! EU VOU BATER! Onde fica o freio?! JESUS!”

Charlie joga a cabeça para trás, dando uma risada alta.

“Você está a trinta quilômetros, andando em linha reta!” Reclama.

“Eu não sei como você consegue! Isso é uma máquina mortífera!” Draco, com as mãos no volante e os olhos arregalados, tenta dar uma cotovelada no namorado, mas falha miseravelmente, voltando as duas mãos na engenhoca trouxa rapidamente. “Isso é um pesadelo.”

“Calma. Vamos andar mais um pouquinho. Acelere um pouco, mas lembre-se da marcha, e agora... Isso. O freio, onde fica o freio? Isso mesmo! Tá vendo, você pega o jeito rápido.”

“Mas é claro que eu pego o jeito rápido eu sou muito mais inteligente que a maioria da população britânica.”

“Você não sabia a fórmula de Pitágoras...”

“Minha escola era uma escola diferente eu já disse- AH O QUE É ISSO?”

Charlie franze as sobrancelhas, se inclinando sobre o painel, e então sorri.

“Quer dizer que estamos na reserva de gasolina.”

“E O QUE ISSO SIGNIFICA?”

“Pare de gritar, seu idiota.” Dá risada. “Significa que está ficando sem combustível, que dá energia. Depois vou ter que abastecer.”

“Okay.” Respira, balançando a cabeça, chacoalhando os ombros. “Tenho que relaxar.”

Charlie sorri, então beija sua têmpora.

“Você é completamente insano.”

“Eu sei.”

Depois daquele dia, Draco acabou pegando gosto em dirigir aquela espaçonave trouxa.

Era sinceramente inútil, e gastava muito dinheiro, tempo.

Mas se via sempre querendo mais, sempre viajando e dirigindo por horas e horas e horas e horas.

Era uma linha reta, era um caminho a se seguir quando tudo não parecia ter direção, quando se estava numa espiral.

No final, mesmo vendendo tudo o que conseguia colocar a mão, ele não se viu conseguindo vender o Toyota que tinha comprado, as chaves guardadas em seu quarto na mansão, a carteira de direção sempre no bolso.

Era claro que Logan não o deixava dirigir, não tinha consciência do carro estacionado bem longe dali, onde não conseguia colocar suas mãos na lataria vermelha.

Mas era reconfortante, como uma lembrança que se quisesse poderia dirigir bastante, aparecer em outra cidade.

Era uma escapatória.

~*~

JUNHO

2002, 1 dia antes do desaparecimento.

DRACO, Apartamento em Tottenham.

 

Um. Dois. Três. Quatro. Cinco.

Cinco passos.

Ele consegue fazer isso.

Seu peso estrala as molas do colchão quando se ajoelha, e ele se encolhe em resposta, indo o mais devagar possível. Consegue passar pelos braços e pernas de Logan, brilhando de forma doentia sobre a luz alaranjada que vem de fora da janela, consegue passar pelo ventilador sem derrubar, pelas roupas sem escorregar, na ponta dos pés o tempo todo.

Ainda está usando a calça jeans de hoje cedo, aquela que não tira faz uma semana, mas está sem camiseta, e quando ele se ajoelha em frente ao guarda-roupa aberto, encarando o cofre que se estende na sua glória metálica de um quarto escuro, consegue ver suas costelas quando respira.

Pra fora. Pra dentro.

Pra fora.

Pra dentro.

Draco prende a respiração, estala o pescoço, e vira a maçaneta.

É nessa hora que o taco de baseball de alumínio que ficava embaixo da cama de Logan, leve para quem carrega, pesado pra quem é acertado, o acerta do lado direito da cara. Ele quebra sua clavícula imediatamente.

E, Deus, Draco desejava que tivesse desmaiado naquele segundo.

~*~

JUNHO

2001, 2 antes do desaparecimento.

DRACO, Kilbride Bay, Escócia.

 

Havia um ar diferente em verões que realmente faziam calor.

O sol brilhava tanto, era como se nunca fosse embora, e, quando ia, dando lugar para uma chuva forte que vinha de uma vez só, voltava logo depois.

Um marco no céu.

Havia algo diferente em passar os verões com Charlie, já tinha passado três deles, o primeiro foi quando o conheceu, a amizade acendendo imediatamente.

Charlie era esse tipo de garoto fácil de se conversar, talvez não o mais extrovertido, mas fácil. Ele não te julgava nem mesmo se fosse a porra de um psicopata, e Draco meio que era isso, eles meio que combinavam.

Eles meio que eram perfeitos um para o outro.

Draco se espreguiça, sorrindo, sentindo o calor do sol o acertando como um abraço. Está de óculos escuros, deitado na areia (que na verdade não era areia, era aquele misto de areia com pedras, desconfortável, típico de praias escocesas) em cima da toalha que Charlie trouxe.

A toalha era amarela e azul, como quase tudo que Charlie tinha. Sua camisa favorita, suas almofadas, canecas.

Ele tinha essas pequenas peculiaridades que destoavam na normalidade toda como cores favoritas, quem tinha essas de verdade?

Charlie tinha.

“Eu trouxe comida.” Ele diz, acima de si, e é óbvio que trouxe, ele gostava muito de comida, mesmo sendo magrelo daquele jeito. “Sanduíches, suco, você quer alguma coisa, amor?”

Amor.

Estavam no estágio de lançar esses nomes um para o outro como se não fosse nada.

Draco franze a boca num muxoxo.

“Não. Não. Não quero.” Reclama, mandando o outro sair de cima de si com um gesto da mão. “Tá atrapalhando o sol. Eu quero pegar um bronzeado.”

Ele está de olhos fechados, mas consegue até sentir Charles rolando os seus.

“Você é tão branco, o máximo que vai conseguir é ficar vermelho como uma pimenta do reino.”

Draco dá de ombros, e Charlie finca o guarda-sol na areia, arruma as cadeiras, a mesa de plástico, a mala de comida.

Ele é moreno, a pele daquela cor de café com leite, contrastando com a de Draco. Era sempre fascinante como seus dedos se interligavam, como uma coisa só mas também diferente.

Charlie se deita ao lado de Draco, e coloca uma mão acima de sua barriga nua.

“Está ficando quente.” Murmura, mas não é o tipo de coisa que precisa de resposta, e então relaxa embaixo do sol. “Vou voltar a minha cor natural.”

Draco solta uma risada pelo nariz.

“Fique quietinho, sim?”

Na volta para a Inglaterra Charlie dirige, então deixa Draco dirigir por um período, tomando turnos. Ele tinha voltado a sua cor natural mesmo, sardas nascendo nas bochechas, e tinha razão, Draco só tinha queimado até não conseguir se deitar no banco de couro do carro sem reclamar.

A coisa toda de se estar no auge é que não dá pra perceber quando ele está acabando.

No final daquele verão, Charlie foi embora.

~*~

2002, onze horas até o desaparecimento.

DRACO, Apartamento Tottenham.

 

Logan sempre foi forte como um touro.

No começo do final era divertido porque ele o jogava na cama e o fodia como nunca foi fodido antes, as paredes eram finas, os braços musculosos, a voz alta.

No final do final tudo o que seus bíceps remetiam era o som de ossos quebrando.

Você já ouviu, ossos quebrando?

O terrível crack, o momento em que ambos percebem que

Fodeu.

A violência de verdade, a crua, sem música, sem gritos exagerados, era terrivelmente silenciosa.

Crack.

Crack.

Clang.

O alumínio batia, e quebrava, e ardia, e Draco chora alto pedindo para Logan parar, que ele não iria fazer de novo. Ele coloca as duas mãos na frente do rosto pra tentar se proteger mas então crack, e tem quase certeza que aquele era seu braço trincando.

Ele adoraria falar que parou de doer uma hora, que simplesmente flutuou acima do corpo numa nuvem, assistindo como se fosse outra pessoa.

Mas não, ele viu tudo.

Ele sentiu tudo.

Era real, irrefutavelmente real. Um daqueles momentos que se toma consciência de que é o protagonista, não o expectador, que estava vivo, e sua vida era essa.

Os olhos de Logan no escuro, seu cabelo loiro-vermelho caindo em farripas molhadas na testa, sua boca trincada, ele xingando.

A dor.

Draco já foi muito surrado, mas nada como aquilo.

Quando as mãos caem desistentes de proteger seu rosto Logan parte pra cima de sua cabeça como um cachorro em cima de carne e joga o taco de baseball para longe, começando a usar suas mãos.

Draco sente seu lábio rasgar, sua bochecha, há algo molhado.

Ele chora, e chora, e chora.

“Pelo amor de Deus, Logan, para! PARA!”

Logan acerta seu olho, então o lado esquerdo de sua testa, sua têmpora.

“PARA!”

Ele não para, ele não consegue parar.

E então Draco vê verde.

~*~

NOVEMBRO

2002, 1 ano até o desaparecimento.

DRACO, Apartamento em Londres.

 

“Eu não entendo.”

Charlie está virado para longe dele, as luvas de assar nas mãos, uma caçarola sendo carregadas.

“Não há o que entender, Dray. Eu pensei que você tinha percebido...”

“Nada de errado estava acontecendo!”

“Nós brigamos o tempo todo.”

“Isso é coisa normal de um casal.”

“E você nunca me deixou conhecer sua família, você não fala do seu passado, da sua história. É como se eu não te conhecesse.”

“Meu passado não sou eu.”

“E quem é você?” Pergunta, pousando a caçarola no balcão com um estralo. Ele se vira num movimento fluído, o encarando por trás da separação da cozinha com a sala. Seus olhos são castanhos, quase negros embaixo da luz amarela. “Quem é você, Draco? Estamos juntos a três anos, mas eu não quero... Eu não quero um namoro de verão. Eu quero mais que isso, e você não quer. Não tem problema, só não precisamos continuar juntos. Podemos ser amigos.”

Draco permanece em silêncio, batendo o pé contra a madeira.

Ele cruza os braços.

“Você tem outro.”

Charlie arregala os olhos.

“Com licença?”

“Você tem outro, é isso. Você conheceu outra pessoa.”

“Você está dizendo que eu te traí, Dray?”

“É claro que sim. Isso veio do nada, é claro que você conheceu outra pessoa.”

“E quando eu conheceria?! Eu passo o tempo todo com você!”

“Na faculdade, eu sabia que estava acontecendo alguma coisa. Você passa o tempo todo naquele estúdio de...”

“De fotografia. Eu estudo fotografia, e estou pra me formar. É claro que passo muito tempo lá.” Ele retira as luvas, então caminha para fora da cozinha, seu olhar é... Assustador. “Dray, se você acha por um segundo que eu te traí...”

“É isso, deve ser isso.” Draco estreita os olhos. “Você sempre foi meio galinha.”

Charlie está perto, ele é mais baixo, então estica o pescoço.

“É tão difícil entender que você não foi o suficiente?” Pergunta, mas parece se arrepender no exato momento em que as palavras saem de sua boca. Ele arregala os olhos, Draco se afasta. “Eu não quis...”

“Eu vou embora.”

“Dray! Eu não quis!”

A porta bate.

O começo acaba.

~*~

JUNHO

2002, dez horas até o desaparecimento.

 

Verde.

Há verde por toda a parte, queima sua pele, e ele grita em horror antes mesmo de entender o que está acontecendo.

O corpo de Logan cai como um saco de arroz no chão.

BAM.

~*~

DEZEMBRO

2001, seis meses até o desaparecimento.

DRACO, Londres Trouxa.

 

Era madrugada e Draco estava muito fora de si.

Não sabia nem que dia era, não sabia que horas eram, a noite parecia durar uma semana.

Na realidade só tinha aparatado da mansão duas horas atrás, saindo escondido da sua mãe do mesmo jeito que fazia para encontrar Charlie nos primeiros meses.

Eles nunca souberam dele, e era estranho, porque agora parecia que Charlie sinceramente fora sua vida nos últimos três anos.

Como seus pais conseguiram ficar perto dele, jantar com ele, e todo esse tempo não conheciam sua vida?

Talvez devesse ter contado a verdade.

Ele bebe mais um pouco da vodca em seu copo, e pede mais uma pro bartender usando aquelas roupas estereotipas de couro, o peito malhado pra fora. O bartender sorri, colocando mais do líquido transparente no copo rosa.

Draco bebe tudo com uma virada de cabeça.

“Loirinho forte.” Uma voz atrás de si murmura, e Draco se vira.

Uau.

“Logan.” O homem sorri. Ele tem um sorriso amarelo, a camiseta desabotoada o bastante para mostrar o pescoço.

Draco saliva.

“Drake.” Se vê dizendo, do mesmo jeito que fez para Charlie, escondendo seu nome.

“Drake.” Sussurra, como se saboreasse o nome. “Vem comigo, Drake, quero te mostrar uma coisa.”

Draco concorda com a cabeça, deixando-se ser guiado.

Foi a primeira vez que encontrou uma colher uma chama e uma agulha.

Ele virou nuvem, ele evaporou, ele sorriu e transou e beijou como nunca naquela noite.

Um novo tipo de beijo: o vazio, que flutuava na água da sua boca.

Logan tinha os bíceps fortes que o lembrava da capacidade de o jogar na cama com um movimento brusco. Ele adorava.

Era o começo do fim.

~*~

JUNHO

2002, oito horas antes do desaparecimento.

DRACO, Apartamento em Tottenham.

 

Atônito, congelado, paralisado.

Gelo nos ossos, neve nos músculos.

Tudo dói, e ele se vê desmaiando antes mesmo que possa contar até cinco.

Um. Dois. Três. Quatro.

~*~

JUNHO

2002, vinte minutos antes do desaparecimento.

MINERVA, Apartamento em Tottenham.

 

Minerva joga um Alohomora na maçaneta e entra, cuidadosamente.

São seis da manhã de um sábado, lá fora o céu é azul, incrivelmente azul e límpido, mas o apartamento (caixa no céu, como Narcisa disse) está tão abafado que tem que respirar um pouco mais fundo, depois se arrepende quando o fedor atinge.

Ela sabe naquele exato momento quando o cheiro metálico passa em suas narinas, mas talvez não.

Caminha pela sala, há copos vazios, comida estragada, roupas de diversas pessoas jogadas no tapete. Minerva atravessa o corredor, inclinando o pescoço para dentro de todos os quartos, procurando.

E então, acha.

Há sangue saindo por baixo da porta.

Quando abre, encontra Draco Malfoy inconsciente, sangrando por um corte na testa, diversos nas pernas, o corpo deformado em um ângulo que não era natural.

Há um corpo do seu lado, a cabeça pulverizada num ponto perfeitamente circular na testa do tamanho do cano de uma arma, e por um segundo McGonagall acha que ambos estão mortos.

Mas Draco tosse. As suas mãos param de tremer.

Ela respira fundo, toma o corpo do Malfoy em um casulo de magia, o levantando no alto.

“O que você fez?” Pergunta, sussurrado, enquanto o coloca na cama, os lençóis intactos a não ser por um taco de baseball sujo jogado em cima, ela o coloca no chão.

Draco acorda, por um momento.

Seus olhos estão vendados por um camada de inconsciência e cinzas, um simplesmente não se abre, inchado, e ele tosse, sangue saindo da sua boca junto com saliva.

“Ele veio me atacar. Mas eu não joguei o feitiço, eu não tenho varinha.”

“Eu sei, está com Harry.” Minerva informa, já traçando a maneira mais rápida de chegar a St. Mungos dentro da sua cabeça. Aparatar com um bruxo nesse estado simplesmente não seria possível, ela deveria chegar o mais rápido possível em um lugar onde tenha Floo. E então...

Minerva observa, com os próprios olhos, enquanto os ferimentos do rosto de Draco Malfoy se fecham sozinhos.

Ele não parece consciente, só continua respirando fundo pela boca de um jeito feio, mas está acontecendo: tudo está se curando.

“Draco... Alguma coisa está acontecendo com sua magia.”

“Eu matei meu namorado.” Parece estar delirando.

“Ele fez isso com você?”

“Eu matei meu namorado.”

“O que aconteceu?”

“Eu matei meu namorado.”

“Draco. Draco, fica acordado, alguma coisa está acontecendo com sua magia e-”

Primeiramente, foram suas mãos, McGonagall arregala os olhos, tentando agarra-las, mas elas desapareceram. E então algo clica, e começa a ser mais rápido.

Draco estava desaparecendo.

“Draco! Draco, o que está-?”

Mas então, ele não estava mais ali.

McGonagall pensaria que estava alucinando se não houvesse uma mancha de sangue onde a cabeça de seu ex-aluno ficara encostada.

            ~*~

Depois daquilo ela pesquisou sobre todas as relações entre heroína e o sangue bruxo. Não existia muito, mas existia sobre o ópio. E existia a coleção de diários de Dumbledore.

Ele era um homem bom, mas ainda mais um homem que sabia usar sua informação quando necessária, ainda mais um homem que entendia o universo ao redor e o manipulava para atingir seus objetivos.

E ele tinha essa biblioteca.

Foi terrível atravessar todos os feitiços de proteção, mas ela chegou onde queria, e foi aí que encontrou.

O único caso conhecido de um bruxo que conseguiu se livrar da maldição do ópio, onde vários outros perderam sua magia ou foram dominados por ela, e era questão de ligação mágica.

A magia da mãe do bruxo em questão foi a mais importante para a resolução do caso, eles notaram como ele sempre ficava mais calmo quando ela o visitava, como conseguia se comportar de um jeito normal enquanto ela estava próxima.

Havia uma ligação, do mesmo jeito que casais casados por muito tempo exibem uma percepção maior nos feitiços do outro, simplesmente era compatíveis.

Almas-gêmeas de magia, pode-se dizer assim.

Parte do tratamento foi leva-lo para um lugar onde a magia não funcionava, pontos mortos, e a outra parte foi inserir a essência mágica da mãe dentro de si.

Como um transplante de rim para os trouxas.

Draco ainda estava no estágio inicial, aparentemente, a explosão teve que ser construída por um ataque incrivelmente poderoso ao seu psicológico para chegar ao nível que teve, então havia chance.

McGonagall mandou uma coruja para Narcisa quando encontrou a resposta, dois meses depois da manhã no apartamento em Hedinsburg.

Naquela manhã ele tinha desaparecido e sido encontrado em sua cama na Mansão, dormindo como se nada tivesse acontecido. Acordou, e Narcisa diz que não falou uma palavra até o momento.

Quando recebeu a carta resposta, só havia duas frases completas no papel, a letra cursiva tombada para o lado como rasgos de garras.

“Ele desapareceu de novo.”

E então:

“E diz que não vai mais voltar.”


Notas Finais


yeppp desculpem por n ter saido ontem como eu prometi eu sinceramente n estava satisfeita com ele
E AINDA N ESTOU AGORA
mas tem mais, é mais ou menos o passado do Draco, explicando a situação da magia, de como ele começou a ficar doente, de como começou a usar heroína, e quem era o Charlie q eu apresentei faz um tempo.
espero que tenham gostadoooo
e os leitores fantasmas: comentem! eu fico mto felizzz me anima pra escrever e sinceramente????? fico mto grata
bjssss espero que tenham gostado muitooo <33


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