P.O.V Jimin
– Você não deve estar falando sério.
Minha voz soou falha. Era de fato inacreditável o que estava acontecendo. Cruzei os braços ao ver a reação de Yoongi, que persistia em querer uma resposta. Jungkook voltou a me encarar, confuso mais querendo o mesmo. Hoseok, pelo contrário, observava tudo como se estivesse em uma partida de futebol. Nem piscava. E aquelas encaradas mortíferas somente fizeram o nervosismo triplicar, fazendo as minhas mãos ficarem úmidas e o estômago embrulhar.
Era como carregar um grande fardo em minhas costas, tendo que optar por dois caminhos distintos em meio a um sol escaldante. Mas de uma coisa eu tinha plena certeza, qualquer caminho que escolhesse estaria condenando o outro. De qualquer maneira haveria uma consequência gigantesca que eu, Jimin, não estava pronto para lidar naquele momento.
Se escolhesse um, teria que rejeitar o outro. E é ai que mora o problema. Tanto Jungkook quanto Yoongi, são bolsistas. Então obrigatoriamente tem que cursar alguma atividade extracurricular, e naquele momento a única opção para ambos era o teatro.
Respirei fundo, cerrei os punhos molhados, e pigarrei com certo incomodo.
– Fodasse você. – voltei minha visão para Yoongi que levantou as sobrancelhas surpreso. – Ah, e fodasse você também.
Jungkook escancarou a boca e apontou para si mesmo.
– Eu não fiz nada... – ele anunciou em sua defesa.
– Parecem duas crianças birrentas do fundamental. Cresçam! Vocês estão na universidade. – continuei com a garganta explodindo. – Aprendam a trabalhar em equipe, é assim que um bom profissional age, e os pequenos incômodos ficam lá fora. E servir o teatro não é só uma coisa de cumprir requisitos da grade curricular. Longe disso. Estamos aqui para reerguer esse local e não faremos isso sem união, então...
Dei uma pequena pausa para respirar enquanto Yoongi me observava enquanto engolia no seco.
– Yoongi, você deveria saber mais do que ninguém o quão a equipe do teatro está precisando de ajuda e que aceitaríamos até um jumento se fosse necessário. – encarei Jungkook e dei de ombros. – Não estou me referindo a você...
– Relaxa, já fui chamado de coisas piores. – respondeu com os braços cruzados.
– Então enfie todo esse seu orgulho no cú e comece a encarar a situação com outros olhos. Aquilo que rolou no jantar de boas vindas já passou, nem o Hoseok se incomoda mais disso. Não é?– continuei, fazendo Hoseok concordar e Yoongi permanecer calado. Jungkook, em contrapartida, soltou uma leve gargalhada que logo foi suavizada assim que ele me olhou e viu minha expressão de desagrado. – E quanto a você, Jungkook, não tem o que querer. Vai ficar aqui, voltar implorando para o time de futebol ou ir direto para casa? Escolha. Mas será que passar por tudo isso vale a pena só por causa de um desentendimento?
– Mas eu já disse que não fiz nada... – Jungkook persistiu.
– Não quero saber. – retruquei sentindo o corpo passar das tremidas do nervosismo, para o calor da raiva. – Ah! E respondendo a sua pergunta Yoongi, eu não escolho nem um dos dois. Fico com o teatro. Cabe a vocês mesmos repensarem e decidirem o que querem.
Sorri para mim mesmo de forma discreta. Yoongi encarava os próprios pés e de forma lenta se movia de um lado para o outro. Jungkook ao meu lado, furtivamente inclinava a cabeça enquanto encarava o nada. Soltei uma piscadela para Hoseok ao notar que o mesmo estava sorrindo, mostrando que tinha concordado inteiramente com o meu discurso.
– Mais alguma pergunta? – tirei sarro, agora com a aura revigorada ao notar que tinha me saído por cima. O silêncio reinou do lado do moreno que apenas negou, de certo modo relutante.
– Então quer dizer que eu estou dentro? – mais uma vez Jungkook mencionou.
Yoongi não esboçou sentimento dessa vez.
– Claro que sim. – afirmei em seguida com o queixo erguido.
– Pera lá! Pensei que eu fosse o encarregado de administrar e tomar decisões na equipe do teatro... – Hoseok se intrometeu. – Logo, sou eu quem...
– Vai querer mesmo me ver estressado? – respondi no mesmo ato, cortando a sua fala.
Hoseok ergueu os braços em forma de defesa.
– Ok! Ele fica. – bateu uma leva palma, que fez um baralho nada agradável que ecoou sobre o local. – E é até bom vocês terem vindo aqui hoje, pois surgiram alguns imprevistos...
– É só dizer o que fazer. – Yoongi anunciou se aproximando, e evitando ao máximo manter contado visual com Jungkook.
– Tem algumas caixas lá trás que já separei e eu preciso de ajuda com elas. – Hoseok se virou e apontou para o backstage.
– Pode deixar comigo. – Jungkook sorriu. – Vai até me ajudar a esquentar o corpo para mais tarde... Na academia, lógico.
Revirei os olhos ao notar que o garoto tinha se enrolado na fala.
– Não precisa, eu mesmo faço isso. – respondeu de forma seca Yoongi.
– Trabalho em equipe. – disse, fitando um ao outro.
Yoongi continuou a parecer nada satisfeito e Jungkook apenas arregaçou as mangas da camiseta.
– Quem diria, logo dois? – Hoseok se dirigiu a mim assim que os meninos se afastaram.
– Ah cala a boca. – respondi tentando conter um sorriso. – Eles não estão assim por causa de mim, tem outros motivos.
– Uhum, sei. – ele persistiu. – Deixa eu adivinha, será que é Jimin, Jimin e Jimin?
– Mudando de assunto! – gritei indo me sentar ao seu lado no palco. – Que imprevistos são esses que tá rolando? Estou sentindo que você está mais nervoso do que o normal.
E deu para reparar em seguida em suas mãos, que tremeram de leve enquanto eu terminava de falar.
– É o show de talentos. – revelou sem expressão.
– Ai meu Deus! O que tem o show de talentos? – não vou mentir, só pensei no pior.
– Você é bem pessimista hein? – Hoseok sorriu como se lesse a minha mente. – O número de interessados só aumenta a cada dia, estou pensando em até bolar uma seletiva...
– Isso é ótimo! – mudei radicalmente o jeito de pensar e voltei a sorrir. – Quem diria a semanas atrás que o teatro passaria por uma seletiva para escolher os melhores...
– Ainda não acabou. – ele negou com a cabeça me interrompendo. – O reitor falou comigo hoje mais cedo. Surgiu um patrocinador.
Esbugalhei os olhos e prendi com todas as minhas forças um grito eufórico na garganta.
– E esse patrocinador quer mudar um pouco as coisas. – ele engoliu no seco.
– O que seria? – ainda estava embargado demais com todos aqueles tiros.
– Eu continuaria na organização, mas receberia algumas ajudas extras. – Hoseok argumentou. – Só que o prazo do show diminuiria um pouco...
– Um pouco quanto? Daqui a quatro ou três meses?
– Um mês. – respondeu e aquilo me pegou de surpresa.
– Um mês?! O show daqui a um mês? Mas ainda pensamos em quase nada e... – engasguei com as minhas próprias palavras.
– Agora me entende? – ele estendeu a mão trêmula. – E nem tem como negar, o reitor já aceitou. A empresa é bem quista entre algumas emissoras de televisão. Imagine na repercussão que isso vai dar para a universidade.
– E olha o peso da responsabilidade! – indaguei. – Um mês!
– O que tem “um mês”? – Yoongi ressurgiu com uma grande caixa em seus braços. E se movimentava com certa dificuldade, enquanto Jungkook que vinha logo atrás carregava uma ainda maior com o dobro de facilidade.
– O show de talentos é daqui a um mês. – respondi na lata, fazendo Yoongi largar a caixa no chão em um grande estrondo.
***
– O treino de hoje foi pesado.
Jungkook colocou a sua garrafa d’água sobre a escrivaninha, e limpou a testa suada com as costas das mãos.
Já passava das nove horas, e eu estava esparrado na cama, encarando o teto há minutos e pensando em coisas sem sentindo. Isso é o que as pessoas tendem a fazer quando não tem nada de interessante acontecendo. Tinha feito um relatório para a aula de introdução à arquitetura minutos atrás e assistido alguns vídeos sobre estudo ambiental, pois o professor continuava uma porta e eu aprendia mais dormindo na sua aula do que estudando.
– Você deveria ir na academia qualquer dia desses. – ele aproximou a boca da minha, mas o afastei com um grande empurrão.
– Olha a sua situação! Está grudento de tão suado. – fiz cara de nojo. – Vai tomar um banho.
– Já que insisti.
Jungkook agarrou a sua toalha e entrou no banheiro.
– Por qual motivo está tão estressado? – ele perguntou, em um tom mais elevado do que a ducha ligada.
– Motivos. – grunhi virando o corpo, agora encarando a parede.
– Sabe uma coisa que acabaria com todos esses motivos? – a porta do banheiro se abriu, e não era necessário encara-lo para saber que o mesmo estava decepcionado ao ver que eu não estava apreciando o seu corpo de maromba iniciante. – Dormir comigo.
Virei bruscamente o corpo e encarei as costas de Jungkook, que agora vestia a sua cueca. E que belas costas tenho que admitir.
– Quando você vai parar de ser tão safado?
– É você que está vendo safadeza onde não tem. – ele me olhou e fez um biquinho. – Só estou oferecendo a minha cama e a minha presença para apaziguar o seu estresse. Isso é crime? Já funcionou com outras pessoas
– Convencido. – simplesmente falei assim que ele terminou de vestir uma calça larga. – Boa noite.
– Isso é um não?
– Boa noite! – repeti, fazendo Jungkook apagar as luzes em seguida.
– Não sabe o que está perdendo. – sussurrou o outro pulando em sua cama.
O silêncio reinou. Passaram-se horas, e eu não conseguia pregar os olhos. Remexi o corpo de um lado para o outro, mas continuava sem solução. Até pensei em ir para o chão, mas sabia que não resolveria.
Peguei o meu travesseiro e caminhei em passos lentos em direção a cama do outro garoto.
– Jungkook... – toquei no seu braço descoberto. Ele estava dormindo sem camiseta.
– Hmm... – reclamou, mas ao abrir de leve os olhos, se afastou um pouco, deixando uma área livre para mim.
– Não estou conseguindo dormir.
Me acomodei em seu colchão, e pela primeira vez senti a maciez daquele estofado. Parecia bem melhor do que o meu. Os nossos rostos estavam virando um para o outro, tanto que recebia aos poucos as baforadas de ar que saia da boca de Jungkook – o mesmo já tinha até voltado a dormir.
Observei cada detalhe do seu tórax descoberto e a necessidade de toca-lo foi maior do que eu podia aguentar. Meus dedos foram em direção ao seu peitoral e desceram de forma lenta até o tanquinho, que estava ao poucos se formando.
– É gostoso. – Jungkook disse com a voz embargada pelo sono. Recuei no mesmo instante. – Por favor, não pare.
– Vai dormir Jeon. – soltei o ar pelo nariz e fingir fechar os olhos.
– Até conseguia se você parasse de me seduzir. – respondeu, mas eu continuei com os olhos fechados.
Jungkook se mexeu ao meu lado, e de forma cautelosa, colocou o seu braço por cima do meu corpo, como um cobertor. Reclinei a minha cabeça e aos poucos me aproximei do seu peito. Era a melhor posição que encontrei e decidir ficar por ali mesmo.
O garoto também não pareceu se incomodar, pelo contrário, ele beijou o alto da minha cabeça e usando a mão trouxe o meu corpo para mais perto do seu.
– Meu bolinho. – ele cochichou pegando no sono em seguida.
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