História The Difficult Choices - Chapter XLI

P.O.V Jimin

O dia amanheceu. Levantei a cabeça do travesseiro e despertei antes mesmo do despertador começar a tocar, apesar de não estar com a mínima vontade de assistir aula – como sempre. O tempo na primavera era algo louco. Pode tanto estar muito frio em um dia, e no outro um verdadeiro inferno. E hoje era um bom exemplo de dia quente. E olha que o sol nem tinha começado a fazer o seu trabalho direito.

Ouvi um barulho do outro lado do quarto e me assustei. Por um momento tinha esquecido que Yoongi tinha passado a noite comigo logo depois da mudança provisória de Jungkook para o quarto do Tae. Eu até argumentei que aquilo não era uma boa ideia, que infringia as regras da universidade dormir fora do seu respectivo quarto, e Jeon já estava correndo esse risco naquele momento. Mas Yoongi não ligou. Simplesmente respondeu que correria aquele risco.

Correria aquele risco por mim.

– Se levanta. – andei até a janela e abri suas cortinas, deixando os raios de sol adentrar sobre o local e refletir bem na cara do mais velho, que praguejou e se cobriu com rapidez.

– Puta que pariu, me deixa dormir. – protestou em voz baixa. – Se soubesse que você iria perturbar o meu sono, eu nem tinha ficado aqui.

– Há! Eu avisei que não seria uma boa ideia. – tirei sarro, sentindo a clareza desfocar um pouco a minha visão.

Tinha dormido no máximo umas 3 horas naquela noite. Meus olhos estavam pesando bastante. Mas tinha que concordar que aquilo era culpa exclusivamente minha e do garoto ao meu lado. Passamos quase toda a madrugada assistindo animes e series enquanto jogávamos conversa fora entre longas risadas.

Por certo instante esqueci do plano de Jungkook e Yoongi e me entreguei por completo naquela sessão relaxante dos mais relevantes desenhos que marcaram a minha infância. Apesar de ter concordado com aquele projeto de “vingança” eu ainda estava com um pé atrás com aquilo tudo. Principalmente depois que Jeon decidiu voltar para o quarto do Taehyung, sem mais nem menos.

– Vai logo tomar banho! Pelo que parece você é bem lento. – bati no seu ombro fazendo-o resmungar.

Depois de alguns minutos, de muita relutância e gritos desesperados, Yoongi levantou. Com a aparência nada agradável, tenho que admitir. Ele levaria a cama para o banho se fosse possível. Tanto que o cobertor ficou preso no seu ombro e o mesmo nem percebeu.

– Pra onde vai com isso? – puxei o pano enquanto o mesmo se trancava no banheiro. E o que um banho frio não faz. Ele entrou todo irritado e saiu outra pessoa. Só faltava saltar de felicidade. – Não vai trocar de roupa?

Yoongi negou, espreguiçando o corpo.

– Meu colega de quarto deve estar achando que eu fui assassinado ou algo do tipo. – ele soltou de repente, me fazendo esbugalhar os olhos em surpresa. Ao perceber aquilo, deu de ombros. – A gente não se dá muito bem.

– Sério? – ironizei, sentindo que era a deixa para eu entrar no banheiro e usar a ducha como local de repor os meus pensamentos e achar sossego que há semanas não encontrava.

– Fui um bom substituto de quarto? – Yoongi perguntou, como eu estava já debaixo do chuveiro, não deu pra ver a sua reação enquanto falava aquilo, mas pelo tom com certeza estava sorrindo.

– Não é lá dos piores. – respondi, usando a mesma casualidade.

Lavei o cabelo enquanto sentia os fios formarem uma grande cortina castanha sobre os meus olhos.

– O que será que o Jungkook está fazendo agora? – ele provocou, aumentado o tom de voz propositalmente.

– Isso não vai adiantar. – justifiquei. – Não vou ficar irritado.

– Ontem à noite você só fazia me bater quando eu mencionava o Stark.

Yoongi decidiu colocar um apelido divertido em Jungkook, já que achava o nome dele grande e estranho demais para ser dito. Então ficou Stark. Simplesmente por causa do boneco do Homem de Ferro que o mesmo quebrou propositalmente. Alertei para não dizer isso na frente do mais novo, pois ele ainda está ressentido com toda aquela situação.

– Então não o mencione e vamos ficar na paz. – disse, abrindo a porta do banheiro apenas com a bermuda no corpo. Estava tão perdido enquanto enxugava o couro cabelo que nem percebi os olhares surpresos de Yoongi sobre mim. Corei, indo até os armários em busca de uma camiseta.

– E perder a diversão? – retrucou. – Você com ciúme é coisa mais fofa desse mundo.

O encarei com desanimo, fazendo-o sorrir satisfeito com o que tinha conseguido.

– Eu não estou com ciúme porra, quantas vezes vou ter repetir isso? – indaguei em voz alta.

O garoto se moveu pelo quarto em busca de ar depois de soltar uma grande gargalhada. Larguei a escova de cabelo e fiquei encarando aquela cena com os nervos a flor da pele.

– Se não se incomoda... – ele fez sinal de redenção enquanto parava para repor o ar dos pulmões. – Porque fica tão estressado quando toco nesse assunto?

Fiquei calado. O que foi um erro já que Yoongi pareceu ficar ainda mais astuto depois disso.

– Está exalando ciúme agora. – ele sussurrou me fazendo jogar a cabeça pra trás implorando por paciência. – Qual o problema de confessar isso?

– O que mudaria? – o encarei pelo reflexo do espelho.

– Quase nada, há não ser que eu iria te irritar ainda mais. – confessou.

– Dane-se então. – ainda até a minha cama e verifiquei as horas. – Vamos?

Yoongi soltou uma exclamação e prontamente saiu do quarto gritando para esperar alguns segundos enquanto iria buscar a sua mochila no quarto. Concordei com um sorriso, enquanto via o mesmo tropeçando no batente da porta e diferindo um palavrão em seguida.

– Eu não estou com ciúmes... Não é? – falei comigo mesmo em meio a cochichos, em uma discussão interna com meu subconsciente. – Droga Jimin, é só um plano! Para da ser tão babaca...

– Quem é babaca? – ele entrou novamente no quarto, agora com a bolsa nas costas e com a camiseta trocada. Antes era uma totalmente amarela de marga comprida, agora uma regata preta com um grande símbolo da paz estampado em branco no centro.

– Você é bom com cálculos? – balancei a cabeça e mudei repentinamente de assunto.

– Sou de exatas... – simplesmente disse, como se aquilo já respondesse tudo. – Qual engenheiro em si não sabe calculo?

Yoongi bufou, como se aquela pergunta feita por mim fosse um afronta aos seus conhecimentos.

– O Jungkook. – falei fazendo com que ele arqueasse as sobrancelhas.

– Por que será que não estou surpreso? – ele continuou, enquanto cruzava os braços. – Apesar de que pensei que não teria mais argumentos para taxa-lo de mais idiota. Só que ai está!

– Ele está fazendo isso para tentar chamar a atenção do pai...

– O que é uma burrice! – o mais velho sobrepôs a minha fala. – Do que adianta querer impressionar o papaizinho se vai ser jubilado por notas baixas daqui a alguns semestres? Temos que seguir os nossos trajetos sem nenhuma intervenção de terceiro. Ou seja, fazer o que realmente desejamos e não priorizar o que os outros acham melhor para você. Só você sabe o que é melhor para si mesmo.

– Baixo o espirito filosófico? – disse, fazendo-o revirar os olhos.

Peguei a minha mochila e tranquei o quarto e andei com Yoongi até o elevador.

– Vou perguntar se ele não quer umas aulas particulares comigo. – o garoto mais velho disse, pela primeira vez em tom de voz sério. – Sem o Taehyung saber claro.

– Vocês dois juntos? – o olhei com receio. – Acho que não vai dar certo...

– E por que não? Vai me dizer que está com ciúme? – me segurei para não bater nele. Mas a cada minuto que passava, parecia ainda mais que ele estava pedindo por isso. – Mas relaxa, ele não faz o meu tipo.

– E qual o seu tipo, posso saber? – entramos no elevador, fui para o fundo e Yoongi apertou o botão do térreo.

– Que não seja idiota de preferência. – ele enfatizou estalando o dedo. – Ah! E que tenha um belíssimo par de seios.

O olhei meio de soslaio, bem assustado, fazendo com que Yoongi desse de ombros.

– O que foi? Bissexualidade existe ok? – explicou com a voz falha. – Você foi o único cara com quem eu realmente senti uma atração física...

– Quem diria. – prendi o riso, mas o outro percebeu o tom satírico em minha voz e veio na minha direção com a expressão nada satisfeita. Estirei a mão, bloqueando o seu caminho mais ele continuava a se aproximar fingindo estar furioso. – Ei! Pode parar por ai!

No mesmo exato momento, a porta se abriu. Mas ao encarar o visor do elevador, ainda estávamos no 4° andar. E do outro lado, estavam Taehyung e Jungkook, ambos conversando e sorrindo de algo que o mais novo tinha comentado. Ao nos presenciar, o sorriso sumiu do rosto de Jeon, completamente ao contrário de Taehyung que pareceu ainda mais satisfeito. Yoongi prontamente se distanciou, indo para o fundo do lado oposto do elevador.

– Acho melhor pegarmos o próximo, não acha? – Taehyung perguntou, mas Jungkook negou. Ele me deu uma rápida encarada e deu pra perceber o que ele queria dizer se pudesse.

Um grande: “Porra! De novo?”.

– Estou quase atrasado, vamos nesse mesmo. – respondeu, em tom ríspido. Não parecia atuação.

Os mesmo entraram, ficando um pouco mais na frente, quase na porta. Não rolou mais nenhum dialogo sequer. Só fui reparar momentos depois quando Taehyung enlaçou o braço ao redor do pescoço de Jungkook, que os mesmos estavam vestindo as jaquetas do time de futebol da universidade. Tanto a roupa, quanto o ato de aproximação dos dois me fizeram criar certa repulsa.

Poderia ser tudo um plano, mas eu já estava me arrependendo de ter dado o meu voto de confiança.

Quando o elevador finalmente chegou ao destino, os dois rapidamente saíram. Jungkook nem sequer olhou para o lado para me conferir pelo menos uma última vez.

Quer saber? Então que se foda.

Não pude deixar de transparecer a minha cara emburrada, e Yoongi foi o primeiro a percebê-la.

– Eu sei bem o que você está sentindo agora. Ci... – antes mesmo que ele pudesse completar a frase, desferi uma tapa na parte de trás da sua cabeça. Ele grunhiu surpreso.

– Raiva. – respondi, assumindo a dianteira. – Muita raiva.

***

Algumas horas depois, entrei no teatro e percebi que o mesmo estava vazio e escuro. O que era totalmente estranho, já que estava acostumado a ver os operários trabalhando sem parar por aqueles dias. Mas certamente deveria ser dia de folga. Yoongi saiu por detrás das cortinas, e assim que me viu estirou a mão no ar freneticamente.

– Não encontro o Hoseok. – ele disse. – Também recebeu a mensagem?

Concordei. Hoseok tinha solicitado a nossa presença no teatro logo depois das aulas por meio de uma mensagem de texto. Perguntei o motivo daquele encontro, mas o mesmo não respondeu.

– Que bom que já estão aqui. – Hoseok abriu a porta e caminhou até o centro do palco.

– O que é tão importante? – Yoongi perguntou.

Lisa entrou logo em seguida, caminhando como um gato assustado. Ágil, rápida e silenciosa. Só reparei no seu cabelo claro esvoaçante passar bem ao meu lado.

– Nem eu sei bem o motivo. – respondeu, indo para o lado de um Yoongi confuso. – Lisa, você tá bem?

Virei o meu rosto para fitar pela primeira vez a garota e deu pra perceber a grande marca de olheiras escuras em seus olhos. Ela concordou com um aceno nada convincente.

– Me desculpa por ontem à tarde pelo fora. Eu estava meio perdido... – Yoongi me encarou nervoso. Ainda faltava confessar toda aquela merda para o Hoseok.

Mas a garota não respondeu. Abaixou a cabeça e simplesmente o deixou no vácuo. Ele pareceu ficar nada contente com aquilo.

– Continuando... – Hoseok disse, quebrando o clima pesado. – Não foi ideia minha essa reunião. E sim do patrocinador. Melhor dizendo, o meu pesadelo.

– Como assim, pesadelo? – perguntei ao notar o quanto Hoseok estava mexido ao tratar daquele assunto.

– O cara é tão ruim assim? – complementou Yoongi.

– Ele é simplesmente o Hick.

Anunciou Hoseok, me fazendo ficar boquiaberto.

– Quem é Hick? – Lisa estava completamente perdida.

– Eu sou Hick.

Um homem, quer dizer, melhor falando um garoto, adentrou no recinto trajando roupas bem casuais. O ar que o seguia cheirava a soberba e petulância. Gravei aquele nome na minha mente depois daquela história inacreditável do passado de Hoseok. E ver aquele ser na minha frente, me fazia transparecer o meu instinto primitivo de atacar.

– Parece que o Hobi vem falando bastante de mim por aqui. – ele se aproximou. – Agora eu pergunto, bem ou mal?

– E tem algum argumento bom ao seu respeito? – grunhi, fazendo com que Hick pusesse os olhos frios sobre os meus. Riu sarcasticamente.

– São esses os seus principais companheiros? – ele se dirigiu a Hoseok, enquanto apontava para mim. – Típico, sempre escolhendo os piores.

– Eu te escolhi um dia também. Acho que estou progredindo positivamente desde então. – Hoseok devolveu na mesma moeda.

Mas ele não pareceu se afetar com aquilo. Pelo contrário, ficou ainda mais alegre.

– Cadê os operários? – ele continuou. – Hick, falta pouco menos de duas semanas! Não tem quase nada pronto...

– Eu os dispensei. – soltou com clareza.

– Como assim os dispensou?

Encarei Yoongi, que estava entretido até demais no papo que estava acontecendo.

– Não vai ter mais show de talentos. – Hick bateu as mãos em uníssono. – Falei com o meu pai e percebi que não valia a pena investir nesse projetinho de merda...

– Isso, vai embora. – Yoongi suspirou.

– Ainda não terminei, cala a boca. – ele continuou. Hoseok, já conhecendo o básico do comportamento de Yoongi, se pôs na sua frente no caso de qualquer ataque do moreno. – Então, conversei por meio de telefonema com o reitor sobre a planta de um edifício comercial da empresa, que o interessou bastante. Lógico, com os lucros que iria ter...

Hick riu propositalmente ao notar como o animo tinha despencado naquele local.

– Termine logo de falar. – Hoseok disse, assim que a pausa se alongou por mais alguns segundos.

– Então as negociações já começaram a ser feitas. O prédio vai ficar bem aqui. – Hick pisou firme no tapete do chão, fazendo ecoar um barulho abafado. – Eu vou demolir esse chiqueiro.

Hoseok corou. Yoongi esbugalhou os olhos. Lisa continuava sem entender nada. E eu estava com o cú na mão.