História The Duchess - Santo Milagroso

Cambridge, Inglaterra, três anos atrás.

O céu estava limpo, ensolarado, o que era estranho para aquela época do ano. Astrid nunca gostou do tempo muito ensolarado porque era difícil de escapar dos guardas, já que não havia nenhuma sombra pela qual ela podia se esgueirar no jardim, mas não era apenas o sol que a incomodava, como toda quarta-feira Lorde Hamish chegaria logo e Astrid sabia que era errado pensar tão mal do conselheiro de seu pai, mas o homem lhe dava arrepios e tinha o dom de deixá-la desconfortável sempre que se encontravam.

Inclinada atrás da cortina de uma daz janelas da sala de visitas, Astrid viu claramente quando a familiar carruagem de Lorde Hamish parou em frente a porta. O cocheiro desceu e abriu a porta para o Lorde, Astrid se afastou da janela de pressa e suas mãos se fecharam em punhos ao tentar inutilmente não ficar nervosa. Não era a primeira vez que estaria sozinha com o Lorde, mas algo nele sempre foi esquisito , ela não gostava de julgar as pessoas, mas tinha algo assustador naquele homem, algo sombrio que a assustava, mas que não conseguia explicar.

Lorde Hamish já era um homem, tinha aproximadamente a idade do Duque, mas era solteiro e sem família. Com cabelos negros e olhos verdes, mas não era o tipo de verde com o qual Astrid se acostumaria anos depois, os olhos do Lorde eram crueis e sem vida. O Lorde não era feio ou assustador, era um homem jovem, bonito e bom partido para a maioria das jovens - não para uma Duquesa, Lorde Hamish não tinha títulos, terras ou sangue real, não era o marido ideal para uma senhorita como ela -, mas a sala parecia ficar mais fria na presença dele e o jeito com o qual ele falava era capaz de lhe dar pesadelos.

-Lord Hamish está aqui, senhorita. - Uma escrava lhe chamou a atenção e Astrid assentiu, a escrava se foi e Astrid desfez os punhos mentalmente agredecendo à Deus por estar de luvas e suas unhas não marcarem sua pele.

Não muito depois, a alta e elegante figura de Lorde Hamish adentrou a sala. Astrid sorriu educadamente e gritou por dentro quando o Lorde lhe beijou a mão, a Duquesa não tinha problemas com o gesto, mas o Lorde a intimidava tanto que tudo o que queria era correr para bem longe e nunca mais voltar - talvez caísse numa toca de coelho e se perdesse, se tivesse sorte.

-É sempre um prazer vê-la Lady Astrid. - O sorriso de Astrid continuava perfeito como o de uma boneca, mas por dentro sua vontade de sair correndo apenas aumentava. - Está se tornando uma bela mulher.

-Obrigada, Lorde Hamish, - agradeceu educadamente - mas acredito que meu pai já o está esperando e não quero tomar-lhe o tempo.

-É claro! - Concordou o Lorde. Mesmo um homem tão arrogante como ele sabia que não seria inteligente deixar o Duque esperando. - Espero vê-la em breve, Lady Astrid. - E então depois de uma reverência, ele se foi.

Astrid esperou que ele já estivesse fora de vista para respirar mais tranquila e se sentar no sofá. Ela não sabia quais eram as intenções de Lorde Hamish ou até onde ele seria capaz de chegar, mas não estava nem um pouco ansiosa para descobrir.

Dez meses atrás.

O cheiro de fumaça ainda atormentava seus sonhos, mesmo depois de semanas e Astrid ainda chorava até que pegasse no sono. Foi um acidente, disse à si mesma mais uma vez, mas já não conseguia mais acreditar. Acidente ou não, tinha matado um homem e agora o pai estava furioso cogitando manda-la para longe, talvez para um convento na Espanha, talvez para o Novo Mundo, Astrid não sabia e tinha medo de perguntar.

O Duque frequentemente era violento e Astrid não era tola para despertar sua ira de propósito, não foi sua intenção ouvir a conversa ao passar pelo escritório do pai, ele estava agitado, sabia pelo tom de sua voz e falava com o conselheiro.

-Com todo o respeito, Senhor, - disse Lorde Hamish - não acredito que um convento seja a melhor solução para impedir os rumores.

-Não a mandarei a um convento, Lorde Hamish, - retrucou o Duque - minha filha precisa de disciplina, precisa de um homem que a ponha em seu lugar.

Os punhos de Astrid cerraram com força e ela reprimiu a vontade de entrar na sala e protestar.

-Já possui um pretendente? - O tom de Lorde Hamish sofreu uma leve mudança, mas Astrid não soube identificar o por quê.

-Possuo o candidato perfeito. Um homem longe o suficiente para que os problemas que ela arranjar não me atinjam, mas forte o suficiente para disciplina-la.

-E quem é este Santo Milagroso capaz de domar nossa Duquesa Rebelde? - Lorde Hamish perguntou interessado e Astrid sentiu a ansiedade dominar suas veias a cada segundo que o pai ficava en silêncio. Mas finalmente, o Duque respondeu, selando para sempre o destino de sua herdeira:

-Astrid em breve irá para muito longe para se casar com o herdeiro de Berk.

Astrid franziu o cenho. Berk? O qilue era aquilo? Uma ilha? Província? Colônia? Ficava na Europa? No Novo Mundo? Lorde Hamish pareceu tão confuso quanto a loira porque logo perguntou:

-Berk?

-É uma tribo viking no Arquipélago Barbárico bem longe daqui. - A resposta fez Astrid cobrir a boca com as mãos. Seu pai a dera em casamento a um bárbaro?

Silenciosamente Astrid saiu de perto da porta fechadae voltou para o quarto depressa, fechando a porta e respirando com dificuldade. Sentiu lágrimas queimarem seus olhos, mas se recusou a solta-las, sabia que o pai a detestava, mas nunca imaginou que seria capaz sequer de cogitar entrega-la para aquelas pessoas. Homens enormes, violentos, adoradores de deuses pagãos era como um pesadelo tornando-se realidade.

Ela não tinha ideia de como sua vida seria, mas aprenderia o máximo que pudesse sobre essa tal tribo de Berk - algumas completamente inúteis, mas outras nem tanto - e quem sabe pudesse tentar fazer com que os próximos anos de sua vida não sejam uma completa tortura. Meu Deus, rezou olhando para o teto branco do quarto, não estou pedindo muito, mas por favor, não faça meu marido ser um completo imbecil.