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História The Empty Black Edge of Night - Climax of Torment


Escrita por: ArgentPapillon

Notas do Autor


Ekateryna e Alcina finalmente vão se encontrar com Moreau para uma breve consulta à pedido de Miranda. Entretanto, com tantas mágoas e frustrações a tomarem conta da artista, ela se vê diante do seu ponto de ruptura e agora só o destino dirá o que será dela e de sua relação com a família Dimitrescu.

Minha nossa, escrever esse capítulo foi intenso demais. Muitas emoções envolvidas e um pouco de angst no final porque sofrimento pouco não existe aqui rsrs. Espero que gostem, tenho certeza que farei a esperar valer a pena. <3

Capítulo 10 - Climax of Torment


 Ekateryna enterrou o rosto entre as mãos assim que Dimitrescu se retirou. Seus cabelos estavam bagunçados e caídos. Ao mesmo tempo que o rosto ardia de vergonha, ela queria chorar. Minha nossa, como era fraca. Não porque não estava pronta para entregar seu corpo para Dimitrescu. Não, isso era o de menos.

Ela se odiava por aceitar todo aquele tratamento tão passivamente. Kate se sentia uma imbecil por querer estar ali ao mesmo tempo que queria fugir. Sentimentos tão opostos conflitavam dentro da sua mente, e tudo que ela queria era poder gritar o mais alto que podia.

Mas agora até gritar fazia dela uma ameaça. Bela estava certa. Ekateryna era só mais um monstro. Querendo ou não ela precisava aprender a se controlar, e só Alcina estava disposta a oferecer isso a ela.

A artista respirou fundo e se levantou com um olhar exausto. Em seguida, entrou no banheiro do quarto, contornando a penteadeira destruída.

Ela precisava de um banho, então começou a tirar o pijama enquanto deixava a banheira ser preenchida por água. Quando encostou seu dedo do pé no líquido, sentiu o corpo todo estremecer e apertou os olhos um pouco relutante.

“Mngh... Iebana shlokha... Vai servir.” Kate murmurou diante do frio percorrendo seu corpo e então mergulhou seu corpo todo de uma vez, mordendo os lábios com toda a força. “Blyat...!”

Alguns agoniantes segundos foram necessários para que ela se acostumasse com o frio, mas quando conseguiu simplesmente permaneceu ali, encarando a água em absoluto silêncio.

Pensou em se afogar. Seria mais fácil do que lidar com Alcina, Miranda e todo o resto.

Mas então as palavras da matriarca do vilarejo ecoaram em sua cabeça mais uma vez, sobre como ela havia recebido uma nova vida. Junto disso havia recebido também um fardo muito maior do que estava pronta para suportar, o que só a motivava ainda mais a querer dar um fim em toda aquela tortura.

O rosto de Dimitrescu voltou à sua memória, e o sorriso elegante e misterioso da condessa marcou as emoções da mais nova de modo que ela sentiu seu coração acelerar um pouco. Rapidamente então tentou afastar aqueles pensamentos de si, balançando a cabeça.

“Certo, vamos acabar logo com isso... Antes que a Senhorita Dimitrescu se irrite novamente.”

Kate então se colocou a limpar o próprio corpo, e eventualmente aquele momento calmo trouxe um pouco de conforto para a sua mente cheia de tormentos.

Ela não tinha nada a perder. Se morresse, que seja. Talvez fosse melhor ver até onde ela conseguia aguentar naquela loucura que havia se tornado a sua vida.

O banho durou cerca de quinze minutos. Ela se ergueu e se envolveu na toalha antes de sair do banheiro, para então ir em direção ao armário. Mais uma vez, seus olhos dançaram indecisos pela elegante coleção de vestidos à sua disposição. Ekateryna então decidiu deixar que seus instintos a guiassem. Fechou os olhos e deslizou os dedos pelos tecidos até parar em um específico.

Era um vestido branco, cuja parte inferior era envolta em um tecido espiral negro com um laço de mesma cor a envolver a cintura na parte de trás. Os ombros e o pescoço, como sempre, se encontravam expostos. O busto era do tecido era envolvido por um tecido de lã preto.

Ekateryna então colocou o vestido – Um processo consideravelmente demorado considerando a sua complexidade.

“Já estou sentindo saudades das minhas roupas antigas.” Ela brincou enquanto vestia um par de luvas negras. Em seguida, olhou de relance para a penteadeira destruída.

A gargantilha contendo o brasão da família Dimitrescu estava jogada no chão. Kate então deu outro suspiro e colocou o acessório. Em seguida, pôs-se a se encarar diante do vidro rachado do espelho.

Ao encarar o ombro direito, Ekateryna notou uma pequena mosca pousar em sua pele. Depois duas, três... E então várias. Imediatamente se assustou com o enxame de insetos que havia preenchido seu quarto e deu um grito de susto, caindo sobre a cama.

“Ah!-” Ela rapidamente cobriu a própria boca, mas seu grito abrupto foi o bastante para forçar aquele enxame a assumir uma forma humana, revelando Daniela e seu aberto sorriso de lábios marcados com sangue.

“Hahah! Não esconda seus gritos. Eles só te fazem mais atraente... E fazem crescer em mim a vontade de beber cada gota do seu sangue.”

Tais palavras fizeram com que o corpo de Ekateryna tremesse à medida que as memórias da tortura voltavam à sua mente. Ela se levantou com os olhos presos em Dani e deu alguns passos para trás, como uma presa indefesa.

Como sempre, aquele tipo de atitude atiçava ainda mais a filha mais nova de Dimitrescu. Antes mesmo que a artista pudesse correr, Dani avançou em sua direção e se debruçou sobre ela, a envolvendo com os braços ao redor de seu pescoço e deixando que suas garras acariciassem a nuca da mulher. “Estou brincando, acalme-se. A não ser que queira, é claro.” Ela riu mais uma vez, perto do ouvido de Eka.

Dessa vez, Kate serrou os punhos e encarou a vampira diante de si com seriedade. Ela achou que podia confiar em Daniela. Mas depois de vê-la abusar de seu corpo sem hesitação após aquela tortura, talvez fosse melhor obedecer aos desejos de Dimitrescu e evitar o contato com suas filhas. Talvez assim sofresse um pouco menos.

É claro, Ekateryna foi a idiota por ter confiado em Daniela. A morena então deslizou os dedos pelos braços da ruiva e tomou-a pelas mãos para se desfazer do seu abraço, em seguida se afastou.

“A Senhorita Dimitrescu exigiu que eu não me envolvesse demais com você e suas irmãs. Por favor, se retire. Imagino que tenha outras coisas para fazer.”

“Não precisa de ajuda para tecer sua teia de escuridão, minha pequena viúva-negra?” Mais uma vez Daniela se debruçou sobre Ekateryna, dessa vez sobre suas costas conforme deslizava seus dedos por entre os médios fios negros dos cabelos da garota. Tão macios e delicados que podia entrelaçá-los em seus dedos com facilidade.

Kate estremeceu com o ar gélido de Dani em sua nuca, mas manteve a compostura mesmo que a mera presença da ruiva perto de si a fizesse se sentir completamente fraca e indefesa.

Daniela sentiu a mão de Ekateryna contra o seu abdômen lhe dando um fraco empurrão para que se afastasse mais uma vez.

“Eu posso fazer isso sozinha, obrigada...”

Estava prestes a entrar no banheiro para se arrumar quando o gancho de Daniela surgiu a poucos centímetros do seu pescoço, sendo cravado com violência contra a porta de madeira. Aquilo fez com que Ekateryna se paralisasse por completo. De relance, só podia ver Daniela a encará-la com um sorriso plácido.

“Não vai querer ver a besta que me torno quando estou faminta, iubeta mea.”

“Eu já vi muito bem.” Ekateryna retrucou, sentindo seu sangue ferver. “Achei que podia confiar em você, mas já vi que eu não passo de um brinquedo durável o bastante pra saciar os seus desejos cruéis. Me deixe em paz, por favor.” Seu tom de voz soava trêmulo, como se não conseguisse controlar que emoções queria expressar.

Daniela foi pega desprevenida por aquela resposta. E não esperava que o que fez com Ekateryna fosse mexer tanto com a garota – Não quando se alimentar daquela forma era uma parte natural do seu próprio ser, era como havia sido criada durante toda a vida. “Ah, Kate, não seja assim. Você vai se acostumar em breve, vai aprender a gostar-”

“Eu disse para me deixar em paz!” Sua raiva pareceu se transformar em tristeza conforme ela abriu a porta e em seguida bateu-a com violência bem diante da mais nova, trancando-se no banheiro em seguida.

Ekateryna caminhou em direção ao espelho, sem dar atenção à reação de Daniela. Ao se encarar no espelho, viu o rosto marejado por lágrimas e deu um soco forte contra a pia. “Ahhh!!”

Dessa vez, seu grito foi potente o suficiente para rachar o vidro do espelho. Ela pôde encarar os próprios olhos vermelhos em seu reflexo fragmentado. Era como se estivesse perdendo o controle de si mesma em um caleidoscópio de emoções e desejos.

“Eu estou ficando insana... Por quê...?” Por que comigo?” Ekateryna se lamentou, levando as mãos ao rosto após se apoiar com os cotovelos na pia.

Kate então jogou um pouco de água em seu rosto, suspirou, e colocou-se a arrumar o próprio cabelo. A artista arrumou os cabelos em um coque atrás da cabeça usando uma agulha que havia encontrado sobre a pia, deixando apenas uma mecha de cabelo caída sobre a lateral do rosto.

Ekateryna então abriu lentamente a porta do banheiro. Ao olhar para fora, não havia sinal algum de Daniela. A fragrância sanguínea característica estava no ar ainda, entretanto.

“Eu só queria não ser tratada como uma escrava pelo menos uma vez na minha vida...” Ela murmurou, e então se retirou intimidada pela atmosfera estranha ainda presente naquele quarto.

 

 

 

Dimitrescu estava sentada no sofá do hall principal a desfrutar de uma taça de vinho enquanto tragava de seu cigarro entre um gole e outro. Álcool e tabaco sempre a ajudavam a manter-se calma diante da importunação que era ter de sair de seu castelo unicamente para se encontrar com um de seus irmãos. Ao menos não era Heisenberg, ela pensou. Estava começando a ficar um pouco impaciente, mas logo ouviu os passos delicados de Ekateryna conforme sua pequena dama de sangue descia as escadas.

“Oh, já não era sem tempo.” Alcina entregou a taça de vinho e a piteira para a empregada à sua esquerda e então se levantou e caminhou em direção a Kate.

A mais nova estava de cabeça baixa, então Dimitrescu tomou-a entre seus dedos e ergueu o seu queixo, pondo-se a admirar a palidez de seu rosto e a serenidade em seu olhar melancólico. “Você está tão fúnebre... Adorável.” Ela sorriu. O vestido escolhido pela mulher complementava a sua beleza, o que trazia ainda mais orgulho para Alcina, que havia os escolhido a dedo para ela.

Ekateryna tomou Dimitrescu pelos dedos que a seguravam e se inclinou diante dela, beijando as costas de sua mão. “Agradeço e peço desculpas pela demora. Vamos logo, por favor.” Kate respondeu em tom monótono e então contornou a condessa.

À medida que Alcina e Ekateryna adentraram na carruagem, Dimitrescu pôde perceber que sua artista parecia diferente. Estava menos vívida e parecia distante pela forma como olhava a pequena janela com um certo vazio no olhar. “Olhe para mim.” Ela ordenou, incomodada com o pesado silêncio.

Ekateryna teve um pequeno espasmo por estar imersa demais em seus pensamentos. Ela então voltou-se para Dimitrescu, um pouco assustada com o tom da mulher, que a encarava diretamente com aqueles divinos olhos dourados. “S-Sim, Lady Dimitrescu?”

“Seu comportamento está estranho. Você não costuma agir assim. Conte-me o que houve.”

Só me conhece a alguns dias, não pode supor que sabe tudo sobre mim. Ekateryna pensou em dizer, chegou a cerrar discretamente um dos punhos, mas se conteve. Ela então forçou um pequeno sorriso. “Apenas um pouco dolorida.”

“Ah, iubeta mea, você irá se acost-”

“Eu vou me acostumar em breve. Eu sei. Já ouvi isso.” Ela retrucou em um tom discreto de desapontamento e voltou a olhar para a janela. Pôde ver que estavam se afastando do vilarejo e indo em direção ao pequeno povoado situado perto da represa mais ao sul.

A atitude de Ekateryna não deixou Dimitrescu nem um pouco satisfeita. Antes que a mais nova pudesse se dar conta, havia sido agarrada pela cintura e pelo queixo e arrastada contra o corpo massivo da condessa, tendo suas costas apoiadas contra o abdômen dela. “Não me interrompa enquanto eu estiver falando.”

Ekateryna sentiu os dedos de Dimitrescu envolverem seu pescoço e pressionarem levemente suas carótidas, provocando em sua cabeça uma sensação de tontura que fez com que se sentisse ainda mais fraca nos braços da vampira. Droga, como ela consegue fazer isso?! Pensou.

“N-Não irá se repetir, Senhorita... Ah!” Kate gemeu, se contorcendo diante da sensação dos lábios de Alcina contra o seu pescoço, como se amaciasse sua carne antes de atacar. “Eu... Vou fazer uso do ateliê esta tarde para trabalhar em meu próximo quadro... Se me permite... Gnh... Hmm...” A sensação dos lábios daquela mulher sedenta sendo pressionados contra toda a extensão de sua nuca e ombro conforme aquelas presas provocavam levemente a sua pele estavam deixando-a insana. Em uma tentativa desesperada de mudar de assunto, ela disse com toda a sua força de vontade.

Quando sentiu a força de Dimitrescu ao redor de sua cintura se afrouxar, logo se afastou, ofegante.

Dimitrescu por sua vez gargalhava calmamente com a reação de Ekateryna. Ela se divertia com a forma como Kate claramente tentava se conter na frente dela. “Estou ansiosa para ver como irá ficar. Ainda não tive a oportunidade de observar o talento da minha pequena prodígio em ação.”

Kate sentiu abruptamente seu rosto ficar mais quente. Prodígio? Isso soa tão estranho, eu nunca fui chamada assim. Ela pensou, e riu com nervosismo. “Não faça isso, não me faça criar expectativas.”

“Olhe para mim.” Alcina disse, agora em tom mais calmo. Kate obedeceu. Ah, que olhar tão meigo. Parece um filhotinho. A condessa sorriu. “Eu reconheço um talento quando o vejo. Mostre-me o que pode fazer.”

Para a sua satisfação, aquilo trouxe um pouco mais de energia à expressão de Ekateryna. Dimitrescu até esqueceu por um momento que estava a caminho da clínica de seu irmão. Quando a carruagem parar, ela revirou os olhos e deu um breve suspiro. “Enfim. Vamos acabar logo com isso, querida.”

Ekateryna assentiu com a cabeça e foi a primeira a descer. Ela então caminhou em direção à porta oposta do veículo e abriu-a para Alcina, a tomando pela mão conforme saía.

 

 

 

Salvatore Moreau estava em seu laboratório no subsolo da clínica quando ouviu o sino da sua campainha ser tocado. O jovem rapaz estava finalizando algumas anotações sobre outro paciente, mas parou tudo que estava fazendo naquele momento para atender a porta, pois sabia quem estava por vir.

Moreau havia expresso um certo fascínio por Ekateryna no momento em que a viu confrontar Mãe Miranda com tanta ferocidade naquela noite. Seu comportamento era diferente de todos os licanos. Para o agrado de Mãe Miranda, Kate tinha tanto potencial quanto ele e os demais Lordes, talvez até mais.

Ah, Mãe Miranda ficará tão feliz comigo se ela for de fato tão promissora quanto parece. Ele pensou, contendo sua empolgação. “Um momento!”

Assim que a porta se abriu, Ekateryna foi recebida pela visão de Moreau. Agora que estava menos assustada, ele parecia tão... Inofensivo. Sim, o fato dele ter guelras, uma pele escamosa e cabelos constantemente úmidos traziam uma aparência meio estranha, mas fora isso ele era até menor que ela e parecia relativamente calmo e um pouco tímido.

“Sejamos breves.” Alcina atravessou a porta, quase jogando Moreau no chão conforme entrava. Como Mãe Miranda se convenceu que ela e aquela criatura eram irmãos era uma pergunta para a qual Dimitrescu nunca teria resposta.

Eka entrou em seguida. Havia uma pequena sala de recepção, uma porta que levava ao consultório e um lance de escadas de madeira que levava para o segundo andar. Agora que estava mais calma, Kate pôde perceber que o ambiente era confortável até. Haviam diversas plantas espalhadas em vasos pelo lugar, além de algumas espécies de fungos coloridos que nunca havia visto antes.

Kate se aproximou com curiosidade de uma das plantas, uma vênus papa-moscas. Curiosa, ela aproximou seu dedo dos “dentes” do ser.

“Cuidado!” Moreau viu a mulher se aproximar de um de seus espécimes e rapidamente correu para afastá-la, antes que a planta abruptamente se fechasse. Kate pôde vê-la liberar de seus “lábios” uma espécie de secreção, que ao entrar em contato com a madeira da estante fez com que ela rapidamente se corroesse.

“M-Minha nossa...”

“Eu estou estudando o efeito do cadou em organismos não-humanos. Os efeitos são bem... variados como você pode ver.” Ele riu de modo nervoso.

“Se ela perder um dedo sequer por conta desses seus experimentos insanos, Moreau... Nem Mãe Miranda vai me impedir de estripá-lo e assar sua carne.”

“Senhorita Dimitrescu, eu estou bem! Não se preocupe com isso.” Ekateryna podia notar de modo nítido como Moreau sentia medo da irmã pela forma como recuou e caminhou lentamente em direção à porta do consultório. Quando chegou mais perto da condessa, sentiu ela apoiar a mão em seu ombro e trazê-la para mais perto de modo protetor. “Na verdade, seu trabalho parece interessante, Moreau.”

“Você acha?” Moreau rapidamente se virou para Kate com um brilho nos olhos – Bem, em um deles ao menos. O outro era cego. “Eu não estive estudando somente plantas. Anfíbios, répteis, peixes, todos eles apresentam mutações muito marcantes quando infectados com o Cadou. A maior parte deles apresenta um aumento notório de agressividade, mas alguns...” Moreau monologava, se mostrando mais animado conforme ele, sua irmã e Ekateryna entravam no consultório da clínica.

“Eu deveria ter trazido meus cigarros e um livro.” Alcina respondeu em voz baixa.

“Não seja assim.” Ekateryna sorriu e respondeu, demonstrando interesse pela explicação de Salvatore. “Ele é interessante.”

“Ele é uma abominação.”

Salvatore então trouxe um livro de aparência antiga para Ekateryna, contendo imagens de criaturas aquáticas que ela nunca havia visto antes. “Alguns apresentam mutações físicas distintas também. Veja esse, por exemplo.”

Ekateryna vislumbrou a criatura desenhada à mão, que se assemelhava a uma imensa serpente marinha, com uma cabeça em cada ponta. “Uma anfisbena... Você desenhou?”

“Sim! Essa surgiu em 1983, ela atacou alguns moradores do vilarejo então achamos melhor nos livrarmos dela. Mas eu ainda tenho as cabeças, hahah.” Ele respondeu, dando uma gargalhada.

“Seu estilo de desenho é ótimo também. Se importa de me dar aulas de anatomia animal?” Ekateryna perguntou entusiasmada.

“E-Eh? Aulas? Comigo?” Salvatore não esperava por aquele pedido. Muito menos esperava que Ekateryna fosse demonstrar qualquer interesse pelos seus estudos ou pelos seus desenhos. Aqueles raros elogios fizeram com que Moreau esboçasse um genuíno sorriso. “Eu acho que posso encontrar um tempo livre ao longo da semana, haha...”

Por outro lado, ver Ekateryna conceder toda a sua atenção ao seu irmão despertava em Alcina o pior dos ciúmes. Ela então cruzou os braços e se firmou com seu tom de voz alto. “Moreau! Se esqueceu por que vim desperdiçar meu tempo com você? Estou aqui por obrigação.”

“Ah, sim... Está certa, irmã. Venha comigo, senhorita Markov.”

Kate notou Salvatore fechar sua expressão, mas imediatamente se voltou para o rapaz mais uma vez conforme se sentava na maca do consultório. “Não se preocupe, Moreau. Podemos conversar mais depois. Gosta de chá?”

“Eu? Oh, eu nunca fui convidado esse tipo de coisa. Eu acho que sim, eu adoraria...”

“Não, vocês não podem.” Mais uma vez, Dimitrescu intercedeu. Dessa vez Eka se voltou para a mais velha com um olhar confuso conforme se colocava estranhamente próxima dela. “Eu me recuso a lidar com a sua presença a me perturbar além do necessário. Agora seja útil pelo menos uma vez e faça o seu trabalho.”

As palavras cruéis de Alcina fizeram com que um longo silêncio pairasse no local. Ekateryna estava simplesmente incrédulo com o que havia ouvido, e quando voltou a olhar para Moreau pôde ver o rapaz adotar uma postura fechada com seu rosto se tornando sério e pouco emotivo.

“Moreau-”

“Ekateryna. Silêncio.” Dimitrescu ordenou. Kate sentiu os dedos gélidos de Alcina sobre o seu ombro, e então manteve-se calada e imóvel.

“Pois bem... Por hora eu só preciso colher algumas amostras de sangue e de tecido.”

Durante todo o restante da consulta, nenhum dos três disse uma palavra sequer. Moreau estava acostumado a ser tratado daquela forma por seus irmãos, especialmente Alcina, e sabia que seria melhor apenas ficar quieto e fazer o seu trabalho para não a enfurecer ainda mais. Ekateryna estava furiosa com sua condessa, e apenas evitou contato visual com ela durante todo aquele momento enquanto Salvatore colhia algumas amostras de sangue com uma seringa; Em seguida, o doutor usou um bisturi e uma pinça para colher um pequeno pedaço da pele da mulher.

Ekateryna não esboçou reação alguma, e Alcina parecia satisfeita em não ouvir a voz de Moreau. No total, o processo todo levou menos que trinta minutos.

“Eu irei ligar novamente quando estiver com os resultados. Me avisem caso algo fora do normal aconteça.” Moreau disse.

“Céus, finalmente. Vamos, Ekateryna.” Alcina respondeu de modo breve e caminhou em direção à saída do consultório acompanhada de sua pequena rosa.

Kate, entretanto, parou assim que a condessa atravessou a porta. Ela se voltou para trás por um momento, e encarou o rosto de Moreau mais uma vez.

Ele parecia amargurado, mas ao mesmo tempo conformado com a sua situação.

“Ei, Salvatore!” Ela chamou, fazendo com que os olhos do rapaz brilhassem para ela por um momento.

Salvatore era bonito. Era exótico. Ekateryna não conseguia deixar de se simpatizar por ele. Eram dois deslocados sociais, afinal de contas. E ele só queria um pouco de validação. Exatamente como a própria Kate.

“Ekateryna, o que você está fazendo?”

Kate não respondeu. Ela apenas correu na direção de Moreau e deu um apertado abraço no médico, o mais forte que pôde.

Tanto Alcina quanto Moreau não faziam ideia de como reagir. Dimitrescu deixou que a iria ardesse em seu semblante enquanto Moreau permanecia simplesmente imóvel diante daquela demonstração de afeto que nunca havia sentido em sua vida, mas que foi o bastante para fazer com que o coração do jovem rapaz batesse acelerado.

“Mulțumesc. Vou adorar saber mais sobre os seus trabalhos futuramente.”

Ela encarou Moreau nos olhos e sorriu. Ekateryna sabia que iria encarar a fúria de Dimitrescu após aquele abraço inevitavelmente, mas ela simplesmente não podia tolerar que a condessa tratasse aquele rapaz tão gentil daquela maneira.

É claro, Alcina ficava aterrorizante quando estava furiosa. Mas Ekateryna não fez contato visual, ela apenas contornou a condessa e caminhou em direção à carruagem conforme sentia a figura imponente de Dimitrescu bem atrás de si a fulminá-la com seus olhos sedentos por sangue, da pior forma possível.

Respira fundo, Kate. Você aguenta. Não deixa que ela leve a melhor sobre você. Ekateryna se sentou e fechou os olhos, logo em seguida sentindo Dimitrescu sentada desconfortavelmente próxima de si. A mais nova tentava esvaziar a mente e manter-se calma, se recusando a dar à condessa o medo que ela tanto desejava.

“Olhe para mim, Ekateryna.” Alcina ordenou, incapaz de expressar em palavras o ódio que sentia pela ousadia de sua artista. Para a sua surpresa, entretanto, Ekateryna a encarou de volta sem hesitação. Kate exibia um olhar sereno e elegante com um brilho azul distinto no olhar. “Conversaremos assim que estivermos no castelo.

“Sim, Lady Dimitrescu.”

 

 

 

Depois daquilo, nada mais foi dito. Nada, até que Ekateryna deu o primeiro passo dentro do hall principal do Castelo Dimitrescu. Rapidamente Alcina se jogou contra Ekateryna, a tomando pelo braço de modo doloroso e usando sua força descomunal para jogar o corpo da garota contra uma das paredes da sala.

“Ah!” Ela gemeu de dor e se contorceu, porém mais uma vez a presença imensa do corpo de Dimitrescu contra o seu se mostrou muito mais do que a jovem era capaz de aguentar.

“Você perdeu completamente a sua sanidade? Repentinamente decidiu perder todo o seu amor à vida? Responda-me agora, por que fez aquilo?” Alcina não se importava em deixar que a fúria em sua voz se fizesse alta e presente. Aquele caos não demorou muito para trazer à tona a atenção de suas filhas. Bela, Cassandra e Daniela se puseram a observar do andar superior da sala.

“Eu deveria lhe fazer a mesma pergunta, L-Lady Dimitrescu... Gnh... Por que trata o seu irmão daquele jeito?”

“Porque ele não passa de um monstro repugnante, uma imperfeição descartável e eu não posso tolerar que se associe com alguém como ele.”

“Moreau é um rapaz gentil e inseguro! Ele parece um médico habilidoso e um cientista brilhante! Agh!” Ekateryna teve suas palavras interrompidas quando sentiu a mão forte de Dimitrescu apertar seu pescoço. Não apenas para deixá-la tonta como antes. Não, Alcina realmente parecia disposta a estrangulá-la, mas Ekateryna se fez mais forte. “E-Ele não fez... nada para merecer isso...!”

“Não ouse me envergonhar, Ekateryna, você é muito melhor do que isso.”

“V-Você... Não... Me conhece!” Em meio à sua luta agressiva por um pouco de ar entre as garras de Dimitrescu, Kate sentiu o ódio tomar conta de si. Ela estava farta já daquilo. Farta de viver constantemente com medo e sendo controlada. Mãe Miranda quis dar a ela uma nova vida? Pois então Kate iria vive-la da maneira que bem entendesse.

Alcina não se deu conta do vermelho que voltou a tingir os olhos desesperados de Ekateryna quando a mais nova deu mais um de seus gritos. Dessa vez ela não se conteve. Como se estivesse a cantar uma ópera de pura agonia preenchida por lágrimas, seu clamor melodioso, mas ensurdecedor fez com que Dimitrescu voasse por toda a extensão da sala até colidir contra uma parede. Até mesmo as filhas da condessa sibilaram de dor e recuaram, incapazes até mesmo de se manterem em suas formas humanas com aquelas ondas sonoras tão perturbadoras.

Quando se deu por satisfeita, as lágrimas no rosto de Kate borraram a maquiagem que preenchia seu rosto, conferindo a ela uma aparência torpe e fantasmagórica.

“Eu vou fazer com que o seu castigo anterior pareça uma brincadeira infantil.” Dimitrescu manteve seu tom de voz e se ergueu com seu olhar macabro direcionado para Ekateryna enquanto colocava suas imensas garras para fora.

“Já chega, essa puta vai morrer hoje!” Cassandra estava sedenta por sangue, mais do que nunca ao testemunhar aquela cena. Assim que se recuperou ela tomou sua foice em mãos e se preparou para avançar na artista e destroçá-la de uma vez por todas – Teria de certo conseguido se não tivesse sido restringida por sua irmã primeiro, que a agarrou por trás com os braços por baixo dos seus. “Bela? Mas que merda?! Me solta!”

“Isso não cabe a nós. Você vai acabar se machucando se entrar no caminho da mamãe agora.”

Daniela, por outro lado, apenas observava em silêncio com uma preocupação amargurada em sua expressão.

“Oh, hohoh, você vai arriscar se aproximar?” Fora do alcance de Dimitrescu, Ekateryna se ergueu e manteve-se imponente de modo que as duas mulheres se encarassem de cantos opostos do salão. Por um momento, Kate se esqueceu completamente de todo o medo que tinha daquela mulher. “Você vai me ouvir agora!”

“Me dê apenas um motivo para eu não transformar uma criada desobediente como você em pedaços.”

“Porque eu não sou sua criada!” A cada vez que Ekateryna elevava a sua voz, fortes ondas sonoras eram expelidas que faziam com que os objetos da sala se espalhassem, inevitavelmente quebrando alguns vasos. Independente disso, a mulher continuou. “Eu não pedi para ser envolvida nos seus desejos sádicos insanos, eu não pedi para ser sua serva e aceitar sem questionamentos tudo o que vocês e suas filhas quiserem fazer comigo – Eu pedi para fazer arte para você! Porque eu me senti inspirada pela sua beleza!”

Ekateryna deu um passo adiante, depois outro, seus olhos fixos nos de Alcina enquanto a mais velha ouvia sem esconder o impulso assassino que a colocava prestes a atacar a qualquer momento.

“Você é uma musa divina, você é elegante, inteligente, carinhosa. É perfeita! Eu senti fascínio pelo seu charme na primeira vez que a vi, naquele jantar.” Eventualmente, Kate se fez frente a frente com Dimitrescu.

Alcina se fez sem reação, como se a fúria draconiana que tomava conta de si se misturasse a outros sentimentos – Acima de tudo, porque não sabia que Ekateryna nutria aquele tipo de sentimento por ela.

“Mas eu não consigo viver assim, eu não quero passar o restante dos meus dias presa e com medo, não mais. Eu... Eu me apaixonei por você, Alcina! E é torturante pra mim conviver com isso enquanto sou tratada como se eu fosse só um objeto pro seu prazer!”

“Ah!!” Alcina exclamou e avançou com suas garras contra Ekateryna. Aquelas lâminas afiadas atravessaram o ar a milímetros da bochecha da mais nova, provocando em seu rosto claro um corte profundo o suficiente para espalhar sangue por sua pele. Kate, em lágrimas, entretanto, não esboçou reação.

“Se não vai acabar com o meu sofrimento de uma vez... Eu tenho trabalho para fazer.”

“Bela, eu te juro, se você não me soltar agora você vai ser a próxima...” Cassandra sibilou em tom de ameaça conforme se debatia como uma besta faminta entre os braços da irmã. Bela então prontamente virou a morena de frente para si e a pressionou contra a parede, em seguida a segurando pelos punhos.

“Cassandra, me ouça.” A mais velha retrucou, encarando Cass nos olhos. “Me ajude a ver se a mamãe está bem. Não piore a situação... Por favor, irmã.”

A irmã do meio se fez em silêncio. As duas trocavam olhares até que a morena finalmente acalmou seus ânimos e se desfez de Bela de modo bruto.

Ekateryna então deu suas costas para Alcina, ignorando o caos em seu olhar conforme subia as escadas para o segundo andar. Pretendia se enfiar no ateliê do castelo e ficar por lá até que morresse de fome ou de sede se necessário, mas não pretendia sair até que concluísse o que tinha em mente.

Bela e Cassandra desceram por uma das escadas apressadamente, enquanto Daniela veio pela outra. No meio do caminho, os passos da ruiva cruzaram-se com os de Kate.

“Kateryna, você está-”

Kate não respondeu às preocupações de Daniela, apenas passou pela ruiva sem fazer contato visual.

“Bem...”

 

 

 

Considerando a traumática experiência que Ekateryna teve ao fugir de Bela dias atrás, ela estava relativamente familiarizada com o design labiríntico do interior daquele castelo. Não foi trabalho para ela encontrar mais uma vez o ateliê. Ao abrir a porta, dessa vez calmamente, foi recebida por uma brisa gélida e serena e pelo silêncio daquele ambiente, um silêncio que fez com que Kate desse um suspiro aliviado e fechasse a porta. Podia não ser o seu ateliê, mas era bom estar em um ambiente confortável para variar.

O lugar era belíssimo, e ao que parece vinha sendo cuidado pelas empregadas pois estava limpíssimo. Haviam vários exemplares belíssimos de quadros espalhados pelas paredes, os quais Ekateryna explorou com admiração com seu olhar. Aquele lugar era um paraíso.

“Esses quadros devem valer uma fortuna...” Ela murmurou. Sua atenção foi chamada para um imenso quadro encostado em uma das paredes. A moldura tinha facilmente mais de dois metros, porém estava parcialmente coberto por um véu vermelho.

Guiada por sua curiosidade, Kate se aproximou para puxar o véu. Entretanto, parou ao notar um dos cantos descobertos da pintura.

Pelo tamanho e pela elegância do vestido que a dama parecia usar, aquele era um retrato de Alcina.

Kate não queria ter de olhar para Dimitrescu, mesmo que fosse somente em um quadro.

“Deixa pra lá...” Kate então caminhou até uma mesa do lado oposto do ateliê após encontrar alguns materiais – Especificamente, um lápis e um caderno de anotações antigas.

Ekateryna tentou se esvaziar de seus pensamentos atormentados enquanto rascunhava na folha de papel, mas era inevitável que suas ideias acabassem preenchidas por mágoas. Ela amava Alcina, não havia dúvidas disso. Bem como admirava Bela e sentia uma atração constante por Daniela. Mas não era aquela a vida que ela queria.

Em meio à sua indecisão entre fugir e ficar, Kate foi ferida, torturada, aprisionada, e talvez o único motivo pelo qual tenha continuado a se erguer é porque seu espírito já estava aos pedaços quando foi acolhida por Dimitrescu.

Ekateryna escapou de uma vida amargurada para se encontrar em outra. Correntes prendiam suas asas e a impediam de voar. A escuridão consumia seu olhar e a impedia de enxergar um futuro para si. Era como se quisesse gritar, mas não possuía lábios para tal.

Seus desejos e seus pensamentos conflitavam e faziam caos das suas emoções. E a cada dia que passava ela sentia suas identidades se fragmentarem e se unirem em uma espiral de insanidade.

Ela tinha medo do dia em que não se reconheceria mais.

Ela queria desaparecer, se esquecer de tudo.

Então, dormiu.


Notas Finais


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