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História The Fate - Paixões Condenadas


Escrita por: DocePerfume

Capítulo 22 - Paixões Condenadas


Ele adentrou na sala iluminada, deixando seu casaco e cachecol na entrada ao notar que a lareira estava acesa.

A biblioteca havia se transformado em um local acolhedor, ainda mantinha sua excentricidade por possuir tantos objetos estranhos: caleidoscópios, globos e lupas, porém agora se assemelhava mais a uma sala habitada. 

Noelle estava sentada em uma poltrona lendo distraidamente e bebericando uma xícara de alguma bebida quente. O cabelo prateado estava preso em uma trança jogada no ombro da princesa, Yuno sentou-se em frente a ela, que desviou sua atenção para ele. 

- Não consigo parar de ler - ela sorriu para ele.

Noelle fazia muito isso ultimamente: sorrir. Não só estava mais feliz, como também parecia possuir um brilho em volta de si. 

- Suponho que esse é o motivo para não estar treinando? - recebeu um revirar de olhos vindo de Noelle.

- Meu professor não estava aqui - provocou. - Além do mais, você precisa ler o que diz nesse livro! 

Yuno relaxou contra o sofá, apoiando a cabeça em cima da mão de forma entediada. Ele fixou os olhos dourados em Noelle, que controlou o rubor que queria surgir em suas bochechas. 

- Conte-me - falou. - Resumidamente. 

- Bem…- ela fez uma pausa para organizar seus pensamentos. - Conta uma história que ocorreu há muito tempo, talvez uns 500 anos, e se passa em uma época onde havia magia, muita magia, Yuno - os olhos dela brilharam. - Narra sobre florestas gigantes cheias de criaturas mágicas, como as que vimos, e também raças de elfos, gnomos e centauros. Mas esse não é seu maior foco, essas páginas contam sobre uma guerra que ocorreu naquela época, aqui diz que o mundo sofria grande ameaça. 

- Faz sentido, o livro se chama “A Última Batalha”, afinal - Noelle assentiu.

- Porém, o livro não diz o quê ameaçava a terra, apenas cita que ele acabaria com toda a vida e alegria, que seu objetivo era espalhar o caos e sofrimento. Ainda não acabei de ler, mas está claro que ele falhou em seu objetivo, já que estamos aqui. 

- Tem certeza que não está lendo uma ficção? - Noelle estreitou os olhos para ele. 

- Você ouviu o que Sylph falou, esse livro irá me explicar muitas coisas que ocorrem atualmente. Ou seja, deve ser real. 

- Não necessariamente, livros são baseados na realidade e muitas fantasias podem explicar eventos similares que são reais. Não estou falando isso apenas para irritá-la, é que não faz sentido, onde estão os gnomos? Os elfos? Para onde foi toda a magia? 

- Nós já encontramos centauros, vai argumentar contra isso? - Noelle sorriu, sabendo que havia ganhado a discussão. - As outras raças podem ter sido extintas na guerra, não há como saber. Mas o livro fala de locais reais, como a Floresta Velha, que está logo atrás do palácio, e também cita a minha família, então só pode ser real! 

- O que diz sobre a sua família? - Yuno perguntou. 

- Eles foram os líderes dos humanos na guerra, Teron Silva, acho que é o nome dele. O livro não se refere a ele como rei, nem ao menos como nobre. 

- Talvez tenha decorrido da guerra o título dos Silva. Reis não surgem do nada, eles são criados. 

- Pensei a mesma coisa, mas me pergunto por que essa história não é contada. 

- Bem, o rei pode não querer que as pessoas pensem que ele não merece o trono.

- Por que mereceria? É verdade que não somos mais importantes do que ninguém.- ela deu de ombros.- E nosso governo está falhando miseravelmente em comandar o povo. 

- Não fale essas coisas tão naturalmente - Yuno advertiu. 

- Qual o problema? Estamos sozinhos aqui. 

- Não é essa a questão, você deve guardar esse tipo de comentário para si mesma - Noelle fez uma careta para o garoto.

- Você está parecendo a Nina.

- Muitas vezes ela estava certa, isso você precisa admitir. E a Nina cuidava de você. 

- Só falta você dizer “faço isso pelo seu bem”, então estarei pronta para chamá-lo de mãe.

Yuno riu, observando Noelle desmanchar sua trança distraidamente, acompanhando os movimentos dos dedos dela entrelaçados nos fios. Ela ainda possuía uma careta emburrada no rosto, que se caracterizava pelo suave franzir das sobrancelhas e o discreto apertar dos lábios.  

Ele piscou, voltando a realidade. Pigarreou para espantar o constrangimento de a estar encarando, ficou aliviado por ela não ter notado. 

- Já tentou invocar o grimório novamente? - perguntou. 

- Sim - suspirou. - Nem sinal dele. 

- Utilize mana e veja se consegue senti-lo - ele sugeriu. 

- Já tentei isso. 

- Tente novamente - ela revirou os olhos, fechando-os em seguida e concentrando-se para lançar sua mana no ambiente. 

Yuno sentiu a presença da mana de Noelle tocar sua pele, um pequeno choque de eletricidade, conseguiu reconhecê-la naquela energia, como se ela estivesse de fato tocando-o. Noelle abriu os olhos logo em seguida, lançado um olhar de “eu avisei”. 

- Não dá, não sinto a mesma sensação daquele dia. Na neve foi totalmente instintivo, sequer notei o que fazia.

- Acho que você está hesitando, não quer invocar o grimório de verdade, ainda tem medo do que pode acontecer. Você conseguiu invocá-lo pois precisava dele, estava ameaçada por mim. Eu já suspeitava disso, por isso a persegui aquele dia. 

- Mas isso não muda nada, pois raramente vou estar em perigo o suficiente para poder invocar esse maldito grimório, e mesmo assim não possuiria tempo para treinar - ela esbravejou, apertando os braços do sofá com a ponta dos dedos. 

Yuno levantou as sobrancelhas para Noelle, que o encarava como uma leoa prestes a atacá-lo. Totalmente calmo, Yuno levantou-se do sofá. 

- Vá até a sala de treinamento às cinco horas da manhã. Vamos resolver isso de uma vez por todas - falou, deixando a princesa sozinha para se acalmar.


 

Noelle abriu o livro de onde havia parado, focando seus olhos ansiosos nas páginas cheias de histórias:

 

“Por muitas vezes os Aliados pensaram que não poderiam ganhar aquela guerra, e todas as vezes eles precisaram reunir forças para seguir em frente. 

Essa força se baseava na fé em seus líderes. Teron, o guerreiro prateado, havia se demonstrado em um pilar para os homens, ao lado dele sempre estava Aefin, o Rei Elfo. 

O exército inimigo mostrava-se maior em números, era constituído pelas criaturas mais tenebrosas que poderiam existir: gárgulas, feras gigantes, vampiros e lobisomens. O Senhor das Trevas, aquele que liderava essas forças malignas, mostrava-se imortal e aumentava seu número de seguidores a medida que a guerra se alongava. 

Aefin defendia a Grande Floresta, que recebia os ataques em massa e bloqueava a passagem para as terras humanas. Por isso, os elfos perderam muitos guerreiros e até a guerra chegar ao fim foram reduzidos a metade do que eram antes.

Os humanos, por outro lado, precisavam formar mais guerreiros capazes para sobreviverem aos próximos anos de guerra, e era essa a maior preocupação de Teron. 

Por um longo tempo a guerra foi anulada, transparecendo uma paz que era tão falsa quanto a sensação de vitória que queriam sentir para acalmar seus corações temerosos. Nas terras secas e sem vida o poder escuro se fortalecia, o ar estava mais pesado e as pessoas não riam como antes, o agouro da guerra se aproximava.

Porém, não seria possível contar essa história sem falar do amor: a mais ardilosa armadilha da vida.

Todas as grandes histórias possuem um romance, e essa não é diferente. Foram nesses tempos sombrios que Teron encontrou o verdadeiro amor onde menos esperava: em seu melhor amigo, aliado e companheiro de guerra.  Teron amou Aefin, e foi amado de volta, com uma intensidade que apenas a iminência da morte poderia causar. Foram amantes um do outro, imbatíveis quando lutavam lado a lado, belos e terríveis, mas nunca puderam ficar juntos.

Amavam-se em segredo e tornaram-se a força um do outro para continuar lutando.

O mundo chorou quando Aefin, o mais bondoso entre os elfos, sucumbiu nas mãos do Senhor das Trevas na Última Batalha. Sua coroa seria passada para sua irmã Layla, que procurou vingança ao lado de Teron. 

Para Teron, a morte de seu amor fez com que ele ardesse em raiva e mágoa, buscou a vingança mais do que tudo, aqueles que o viram no campo de batalha afirmam que Teron se transformou em algo inumano, como os monstros que ele lutava contra. 

Na pós guerra, o herói nunca mais foi o mesmo, seu brilho prateado se extinguira para sempre. Teron recebeu o título de rei, tornou-se amargo e quieto, casando-se logo após o fim da ameaça sombria e vivendo uma vida infeliz até chegar em seu fim.”

 

Noelle deixou de ler, sentindo-se desanimada com o decorrer da história, havia inserido-se ali, de modo que sentia cada perda junto com os personagens. 

No entanto, eles não são personagens, pensou. 

Ela lembrou de sua posição, de seu futuro, sentindo um aperto no peito. Sentia-se de alguma forma conectada com Teron, de fato havia muitas coisas em comum entre eles. 

É uma tradição de família casar sem amor, pensou com amargura. Seus pais haviam se amado, e não havia dado certo para eles, mais uma vez alguém havia morrido. 

Aparentemente todas as paixões estavam condenadas. 



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