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História The Fate - Das Sombras


Escrita por: DocePerfume

Capítulo 29 - Das Sombras


Fanfic / Fanfiction The Fate - Das Sombras

Noelle abriu os olhos sonolentos, as batidas na porta continuaram. Ela jogou para o lado o lençol fino que a tapava, o inverno parecia não afetar aquele lugar, ainda que não estivesse quente. Lá fora o sol morria no horizonte, com as primeiras estrelas aparecendo no céu. 

A princesa estremeceu quando seus pés tocaram o chão frio, o vento que soprava da janela ainda aberta balançou sua camisola de seda, provocando arrepios na pele. Ela agarrou o copo de água que estava ao lado da cama, caminhando até a porta. 

Yuno olhou-a dos pés a cabeça, seus cabelos estavam úmidos e bagunçados, ele ainda utilizava a camisa de linho branca, com calças soltas e escuras. Noelle deu espaço para ele passar, não o via desde mais cedo, quando havia deixado a sala de jantar, estava preocupada, mas deu a ele o tempo para assimilar tudo que haviam descoberto. 

- Nós precisamos ir embora, já devem estar procurando-a no palácio.- ele disse, adentrando no cômodo.  

- Não se preocupe, Layla explicou-me seus poderes, é uma maga do tempo. Esse lugar em que estamos é incrível.- Noelle gesticulou ao redor.- Um dia aqui equivale a cerca de 20 minutos lá fora, ou seja, para as pessoas no palácio passaram-se apenas 10 minutos desde que saímos. 

Yuno desviou o olhar para o céu noturno, ele parecia diferente de alguma forma. Ainda era o Yuno que ela conhecia, calmo e pensativo, mas havia uma ansiedade em seus olhos que não era comum.

Ele virou-se para ela e Noelle prendeu a respiração, as orelhas pontudas de Yuno davam a ele uma aparência mágica, etérea, a pele brilhava contra a noite, os olhos dourados eram quentes e a olhavam profundamente, ela estremeceu. 

- Venha comigo para o reino de Hearth.- ele falou, simplesmente.- Podemos voltar para o palácio, você recolhe suas coisas e posso levá-la voando até sairmos do limite da cidade, depois... 

- Do que está falando, Yuno? Nós acabamos de descobrir que meu pai está possuído por um demônio! Não posso partir.- ela negou com a cabeça, enrugando a testa. 

- O que você pretende, então? Não pode salvá-lo, Noelle. 

- Mas posso tentar, não podemos simplesmente ignorar a ameaça que esse monstro representa e fugir para Hearth! Você está sendo egoísta, não é apenas sobre o meu pai, todo o reino está sofrendo, pessoas estão morrendo.  

Yuno encolheu os ombros, erguendo os olhos dourados para as estrelas. Havia conflito dentro dele, Noelle pôde notar, sentiu-se culpada por ter sido tão dura. 

- Os elfos estão envolvidos nisso, estão lutando contra Kun, se temos que derrotar esse demônio precisaremos deles.- Yuno fez uma pausa, virando-se para ela.- Eu… passei toda a minha vida como um humano, fui um garoto de orfanato, um cavaleiro mágico, seu guarda no palácio, mas agora acho que já não sei quem sou. Um elfo? Um rei? Não me sinto nenhuma dessas coisas. 

Noelle andou até ele, segurou o rosto de Yuno em suas mãos. Beijou-o, não era um beijo como todos os outros. Ela fechou os olhos e pressionou seus lábios contra os dele, deslizando delicadamente sua língua para a boca de Yuno, Noelle sentiu-o agarrar sua cintura, devolvendo seus toques. 

Eles separaram-se vagarosamente, sem querer romper aquele contato. Yuno descansou a cabeça no ombro de Noelle, sentindo seu cheiro aconchegante, poderia ficar ali para o resto da vida. 

- Se você precisa partir, então o faça, mas não irei com você. Eu sei quem você é, Yuno.- Noelle falou, com dificuldade, erguendo seus olhos para ele.- Eu o vejo e o amo pelo o que é.

Yuno segurou o corpo pequeno de Noelle em seus braços, trazendo-a para perto dele em um abraço. Mergulhou seu rosto nos cabelos prateados, e segurou-a firme, com medo de que escapasse de alguma forma por entre seus dedos.  

Ela era um milagre, uma parte do céu que havia se desprendido e assumido forma humana, não havia outra explicação para a mulher que segurava nos braços. Ele amava-a também, amava-a tanto. Noelle era única e especial para ele, ninguém poderia deixá-lo tão enraivecido, tão agitado e calmo ao mesmo tempo. 

Ela havia salvado sua vida naquele dia, simplesmente porque era teimosa e estupidamente corajosa, ele também amava isso nela. Noelle era emocional, possuía um gênio incontrolável e era irritantemente inteligente. Ele a adorava. 

- Yuno, está tudo bem?- ela perguntou, respirando em seu peito. 

Yuno pegou-a no colo, carregando-a até a cama ouvindo seus gritos de resistência.  

- O que está fazendo? Me solte! 

Ele largou-a sobre o colchão, apreciando a imagem de seus cabelos espalhados no lençol. Como era linda, com as bochechas vermelhas, as coxas expostas e o peito ofegante. 

Para a surpresa de Yuno, ela puxou-o para a cama, capturando sua boca com a dela. Yuno apoiou seus antebraços em cada lado de sua cabeça, sustentando seu peso para não apertá-la. 

Noelle passou as unhas pela nuca de Yuno, provocando arrepios ao longo da coluna, ela subiu as mãos para os fios úmidos do cavaleiro mágico, aprofundando o beijo. Yuno beijava-a com calma, mas firme, tomando cada parte da boca de Noelle para si. Ela respirava com dificuldade, suspirando quando ele mordeu seu lábio. 

- Yuno…- ela soltou seu nome por entre os lábios, sentindo-o retesar-se por cima dela.

De repente, ele se afastou, sentando-se na beira da cama. Noelle levantou-se, confusa.

- Eu fiz alguma coisa?- ela perguntou, com a voz incerta.

- Não, você não fez nada.- ele mirou-a com os olhos escurecidos.- Não podemos seguir em frente com isso. 

- Mas…

- Noelle, você está prometida a alguém. 

Ele enrijeceu o maxilar, pela primeira vez sentindo raiva de Mars, não apenas raiva, mas também inveja. Apenas imaginá-los juntos provocava uma grande aversão em Yuno, parecia errado imaginar Noelle com qualquer pessoa que não fosse ele. 

No entanto, Noelle não estava disposta a aceitar um não como resposta. 

- Como ousa usar esse argumento após propor fugir comigo! Não me venha com essa você também, depois do que descobri hoje não vou aceitar casar-me com Mars. E mesmo se ainda fosse me casar com ele, quero poder escolher pelo menos com quem será minha primeira relação, durante toda a minha vida minhas escolhas foram roubadas de mim, mas não dessa vez. Você é um maldito covarde, Yuno. 

Yuno começou a rir, não apenas rir, gargalhar. Ele apoiou uma mão sobre a barriga, rindo como nunca. Noelle bateu-lhe no ombro, irritada. 

- Não basta deixar de desejar-me, agora também sou uma piada para você! 

Yuno forçou-se a parar de rir, ainda sem fôlego, ele tentou segurar a mão de Noelle, no entanto, ela puxou-a de volta, recebendo um olhar divertido de Yuno. 

- Não me entenda errado, estou feliz.- falou, ainda sorrindo.

- Feliz? 

- Disse que não aceitará casar-se com Mars, é a melhor notícia que poderia me dar. 

Noelle cruzou os braços, desviando do toque de Yuno mais uma vez. 

- Não estou convencida. 

- Por que é sempre tão teimosa?- ele riu, puxando-a para um abraço enquanto ela tentava empurrá-lo, sem realmente incutir força.- Não deixei de desejá-la nem por um momento.- falou na base do ouvido de Noelle, sentindo quando ela estremeceu em seus braços.- Nunca estive com uma mulher intimamente e, por mais que não demonstre, sinto-me nervoso em dar o próximo passo. 

Noelle olhou-o, surpresa, não apenas pelo o que Yuno revelara, mas pelo tom tímido que sua voz assumia. Ele desviou o olhar para um ponto aleatório no chão. 

- Nunca?!

- É tão difícil acreditar? 

- Bem.- Noelle corou.- Você parece experiente. 

Yuno riu na curva do pescoço de Noelle, escondendo seu próprio rubor. Noelle relaxou em seus braços, sabendo que agora eles estavam bem novamente. 

- Durma aqui hoje.- ela pediu, fechando seus olhos contra o calor de Yuno, sentindo quando ele os deitou na cama.

Noelle nunca havia sentido tanta segurança em toda sua vida, e estava feliz em ter encontrado aquela sensação justamente nos braços de Yuno. Permitiu-se relaxar, ouvindo o som tranquilizante do coração de Yuno batendo acelerado em seu peito. 


 

Bocejando, Noelle sentou-se na cadeira de pedras, com Yuno ao seu lado. Noelle serviu-se de iogurte, perguntando-se em voz alta. 

- Será que Charmy está bem? 

- Oh, é claro, eles estão a levando para as montanhas agora.- Layla respondeu, com indiferença.

Noelle postou-se em pé, com os olhos arregalados em direção a Layla. Sentia-se responsável por Charmy, afinal ela havia abandonado a cozinheira no meio da floresta, deixando-a encostada contra uma árvore dormindo profundamente. Charmy estava machucada, com o tornozelo quebrado, não conseguiria defender-se ou fugir de seus raptores. 

- Acalme-se, Noelle.- Layla falou, acenando para que ela se sentasse.- Charmy está com sua família agora, pobre garota, foi criada pelo chef da cozinha, sem saber suas verdadeiras origens. 

- Do que está falando?- Yuno perguntou, mantendo a calma, ao contrário da princesa ao seu lado. 

- Charmy é uma anã, há muito tempo esse povo trancou-se nas montanhas, fugindo das mudanças que ocorreram no mundo. Nesse momento eles estão levando-a para sua verdadeira casa, mas ela não será prisioneira, tenho certeza que poderá voltar para o palácio se assim desejar.

- Como vou saber se ela realmente está bem?- Noelle perguntou, aflita. 

- Confie em mim, meus olhos vão muito além dos limites da floresta, manterei muitos deles em Charmy. 

Noelle voltou a sentar-se, mesmo que não estivesse exatamente tranquila com aquela situação, mas não havia nada que pudesse fazer. 

- Anões, centauros, elfos… Acho que nunca deixarei de me surpreender.- Noelle murmurou, ouvindo a risada de Layla. 

- Estimo que ficarão mais alguns dias aqui, 1 hora de atraso não deixará ninguém desconfiado. Precisamos falar de muitas coisas agora que finalmente posso conversar com vocês, estive observando-os por muito tempo.

- Isso é um pouco assustador.- Noelle falou, ouvindo a risada de Layla. 

- Ah, sim, com certeza o é. Hoje vocês participarão de uma reunião muito importante com os povos dessa floresta, estimo que já conheçam alguns dos participantes. 

- Os centauros?- Noelle perguntou.- Nosso primeiro encontro não foi exatamente pacífico. 

- Não se preocupe, em minha casa ninguém poderá fazer mal a vocês.- ela virou-se para Yuno.- Está tão quieto, sempre observando tudo e falando muito pouco.- ela sorriu, nostálgica.- Você me lembra Aefis, tanto em suas atitudes quanto em aparência. E você, Noelle, me lembra Teron, ambos são muito corajosos, e assim como Teron e Aefin, vocês dois se amam.

Os dois retesaram-se ao mesmo tempo, Noelle sentiu o rosto esquentar, enquanto Yuno levantou os olhos para Layla, encarando-a com seriedade. 

- Não somos eles. 

- Ah, isso me alivia. Estou feliz de ouvir essas palavras, o passado não deve se repetir. 

- Onde está Sylph? 

- Pedi que fosse chamar os membros da reunião de hoje.- ela levantou-se de seu lugar, sorrindo para eles.- Bem, vou deixá-los a sós. A reunião começará em 1 hora, virei buscá-los. 

Assim que Layla deixou a sala Noelle virou-se para Yuno. 

- Por que você é tão frio com ela?- Yuno olhou-a com estranhamento. 

- Não sou frio, estou agindo normalmente. 

- Não está, não.- depois, ela sorriu.- Será que é porque está sentindo-se nervoso em falar com um parente? 

- Não fale bobagens.- ele descartou a ideia. 

No entanto, como sempre fazia quando mentia, Yuno desviou o olhar para um ponto aleatório da sala. Noelle sorriu, segurando sua mão por baixo da mesa. No final, ela sabia que Yuno era apenas um garoto, um órfão nervoso ao conhecer sua família, e achou aquilo adorável. 


 

Yuno sentiu-se incomodado com todos aqueles olhares em cima de si, mesmo assim manteve o contato visual com todos na sala, sem demonstrar fraqueza. Noelle cutucou seu braço, atraindo seu olhar. 

- Olhe, Kento está ali, vamos falar com ele.

Yuno observou o centauro, lembrando-se de seu último encontro. Kento virou-se para eles, percebendo que os jovens o olhavam, assim, Yuno e Noelle aproximaram-se. 

- Senhor.- Noelle cumprimentou-o com um leve curvar de pescoço, recebendo o mesmo gesto do centauro.- Não imaginei que iríamos nos reencontrar um dia. 

- Pois eu sim, consigo reconhecer pessoas importantes quando as vejo, e as estrelas dizem muito sobre vocês dois.- ele virou-se para Yuno.- Portador do grimório de quatro folhas, imaginei que houvesse algo de estranho em você desde o momento que o vi, e agora está tudo muito claro em minha frente, filho de Ghélia e Fírnir. 

- Você conheceu meus pais?- Yuno perguntou, interessado. 

- Éramos amigos, seus pais trabalharam com meu povo para proteger essa floresta, e deram sua vida em prol desse objetivo. Seu filho sempre será bem vindo entre os meus.- ele curvou o pescoço para Yuno, que levantou o rosto, com seus olhos brilhando, repetindo o gesto. 

- Espero merecer por mim mesmo esse tratamento, um dia. 

O centauro relaxou suas feições, olhando satisfeito para Yuno. Noelle também olhava para o cavaleiro mágico, surpresa pelo orgulho repentino de Yuno pelas suas origens. Sylph aproximou-se deles, acompanhada de um espírito da natureza vestido de verde, que, assim como Sylph, possuía pequenas asas nas costas. 

- Quero apresentar-lhes minha amiga de longa data, Flora é uma ninfa das árvores, esses são Yuno e Noelle Silva. 

A ninfa aproximou-se deles com um sorriso, trazendo consigo o cheiro de flores e natureza, Noelle suspirou, adorando sentir aquele aroma. 

- Olá.- ela falou, envergonhada.- Faz muito tempo que não falo com humanos, sinto que já esqueci-me de seus hábitos sociais. 

- Você cheira muito bem.- Noelle falou, sorrindo para a ninfa.

- Ah, as pessoas costumam me falar isso.- Flora respondeu, simpatizando com Noelle. 

Layla aproximou-se deles, acompanhada de outros espíritos da natureza, cada um possuía sua excentricidade. Layla guiou-os para dentro da floresta, por entre as árvores eles podiam sentir o olhar de pequenas criaturas à espreita, quando Noelle virava-se para vê-las, elas escondiam-se, tímidas. Eles seguiram por uma trilha guiada por Layla, chegando até uma clareira escondida na floresta, em seu centro estava um lago de águas cristalinas, que refletia a luz solar como um espelho, repousando na borda do lago estava uma linda sereia e ao seu lado um tritão mais idoso, que sorria abertamente para eles. 

Noelle olhou-os surpresa, hipnotizada pelas escamas rosadas na cauda da sereia, que também encarava Noelle com um sorriso. Era linda e mágica, os cabelos possuíam um tom escuro de vermelho e a pele refletia a luz de gotículas de água, os olhos tinham a mesma cor avermelhada dos cabelos, eram grandes e espertos. 

- Conheçam o rei do povo subaquático, Gifso e sua neta Kahono.    

Noelle trocou um olhar com Kahono, sentindo a estranha sensação de conhecê-la de algum lugar, mas não era possível, lembraria-se caso houvesse avistado uma sereia anteriormente, não era como se fossem uma espécie comum.

Kahono piscou para Noelle, um movimento cuidadosamente calculado para soar sapeca. Kahono respirou fundo e cantou, o som reverberou nas águas e nas árvores, como uma coisa viva que movia-se ao redor deles. 

Noelle sentiu o cheiro do mar, tão profundo e incrustado dentro dela. Ela quase pôde ouvir o som das ondas quebrando em uma praia distante, o som das gaivotas, o vento úmido batendo contra seu rosto, o mar movia-se no ritmo da música e Noelle estava conectada a tudo aquilo, conseguia sentir a frequência com que as ondas se moviam, em um dança selvagem. E então ela era as ondas, movendo-se livre, era poderosa e infinita. Invencível.  

Animais irromperam de seus esconderijos nas árvores, aproximando-se do lago, atraídos pela cantoria da sereia. Muitos deles eram raros e mágicos, nunca antes vistos por Yuno e Noelle. Todos ficaram em silêncio após a canção cessar, ainda sentindo os efeitos da música. 

- Muito obrigada, Kahono, acho que todos precisávamos de um pouco de paz em nossos corações.- Layla falou, cortês.

- Disponha, senhora. 

Do meio das árvores irrompeu uma figura alta e escura, o corpo era áspero, de madeira, seus cabelos eram folhas e suas mãos pareciam galhos, no entanto, o olhar era tão inteligente quanto o de qualquer humano. A criatura olhou para eles com seus olhos totalmente negros e, em um movimento muito estranho para seu rosto de madeira, sorriu. 

- Barber, pensei que não viria.- Layla falou para ele, nem um pouco surpresa com o recém chegado.- Vocês, arbóreas, sempre atrasados. 

- Encontrei alguns amigos no caminho, o velho Cascas... 

Barber seguiu uma longa narrativa sobre seu trajeto, deixando a todos entediados. Layla não aguentou por muito tempo, interrompendo-o logo em seguida.

- Bem, agora que todos estamos aqui, vamos começar.- Layla tomou fôlego e então, repentinamente, anunciou.- Kun está de volta. 

O mundo subitamente pareceu calar-se, o ar em volta deles tornou-se pesado e nem mesmo o canto de Kahono poderia tê-los animado. Um murmúrio espalhou-se por eles, a floresta inteira pareceu estremecer e agitar-se, Noelle olhou em volta, assustada, sentindo o chão tremer abaixo de seus pés. Barber murmurou algo em um tom baixo, palavras cheias de poder e comando, aos poucos a floresta voltou ao normal. 

- Muito obrigada.- Layla agradeceu para ele.- Todos nós sabemos que isso um dia aconteceria novamente, o selo que prende Kun enfraquece a cada ritual de passagem, ele vem manipulando Aster Silva desde muito novo. Sua força aumentou após a morte de Acier, ele se alimenta da dor do rei, manipula a corte do reino humano e agora está por um triz de ter o poder que possuía anteriormente. 

Kento deu um passo à frente, com sua pose orgulhosa de centauro. 

- A guerra se aproxima.- a voz de Kento trazia mau agouros.

O dia pareceu escurecer e uma sombra postou-se sobre todos que estavam na clareira, Noelle arrepiou-se, segurando a mão de Yuno. 

- Sim.- Layla concordou.- Mas ele ainda não se mostrou em sua verdadeira forma, quem sabe nunca o faça, o disfarce de rei é bom demais para abandoná-lo, muitos o seguem pois veem a imagem de seu líder, dessa vez Kun não precisa recrutar às forças do mal, possui um exército de humanos dispostos a lutar por ele. 

- Nem todos os humanos, há rebeldes no reino e Hearth é um inimigo do rei.

Para a surpresa de todos, quem falou foi Yuno, utilizando toda sua postura para manter-se em seu lugar diante dos olhares penetrantes de reis e criaturas milenares. 

- Não podemos vencer Kun sem unir todas as nossas forças, todos os reinos juntos contra ele.- Sylph postou-se à frente do grupo.- Os rebeldes estão lutando pelos seus direitos, querem uma revolução, mas não sabem o que realmente os ameaça, é possível que nem o reino Hearth saiba. 

- Se vamos lutar, então é melhor que seja agora, enquanto ele ainda está fraco.- Gifso falou.  

- O rei ainda pode lutar contra a influência de Kun! Não há ninguém melhor do que ele para vencer esse demônio, ele o conhece.- Noelle olhou em volta, procurando apoio.- Vocês não podem matá-lo. 

- Criança.- Kento começou.- Seu pai está fraco, vem lutando contra aquele demônio por anos. 

- Ele não possuía ajuda antes! Nós podemos selá-lo novamente em mim, eu não ligo, mas meu pai é um homem inocente! 

- Acalme-se.- Layla colocou uma mão sobre o ombro de Noelle, olhando-a com compaixão.- Não sabemos se matar Aster resolverá nossos problemas, podemos apenas libertar Kun ao tomar essa atitude, ou ele possuirá outro corpo, não sabemos. Precisamos de uma maneira de matá-lo definitivamente, por isso, não adianta tentar atacá-lo agora, os soldados do rei protegeriam-no e apenas teríamos mais sangue inocente derramado. 

- Vocês não conseguiram matá-lo antes, como vamos fazê-lo agora?- Gifso perguntou.

- Eu não sei.- Layla suspirou.- Quando selamos Kun dentro de Teron percebemos, após alguns anos, que o selo se enfraquecia. No passado, não encontramos nenhuma forma de matar um demônio, era comum prendê-los à artefatos, mas Kun não será preso duas vezes, devemos encontrar uma solução definitiva ou estamos todos mortos. 

- As informações decidirão essa guerra.- Barber falou, com sua voz rouca.

- Exatamente, precisamos descobrir como matar Kun, ao mesmo tempo que nos preparamos para a guerra. Para isso, eu imagino se sua avó, Noelle, não poderá nos ajudar, ela fez o ritual de passagem em duas gerações inteiras de sua família.

- No solstício de primavera irei visitá-la nas montanhas Irodzuki, antes disso será impossível falar com ela.- Noelle explicou. 

- Bem, acho que teremos que esperar até lá. Gostaria de possuir alguma ligação com meu povo do outro lado do continente, no entanto, estou presa aqui. 

- Então devemos apenas sentar e esperar Kun fortalecer-se entre os humanos? Não há mais nada que podemos fazer?- um dos espíritos da natureza perguntou. 

- Há muito que podem fazer.- Layla anunciou, com autoridade.- Preparem-se para a guerra, treinem o máximo que puderem seus soldados inexperientes, relembrem o terror que Kun causou a essa floresta no passado. 

Layla caminhou até postar-se em meio a eles, Noelle viu refletidos em seus olhos todos os anos de sabedoria. Bem ali, em frente a eles, estava uma rainha do passado, aquela mulher havia sobrevivido a maior guerra de todas, havia lutado contra Kun e estava disposta a fazê-lo novamente. 

- Tempos sombrios se aproximam, eu lutei contra o exército negro de Kun, ninguém o conhece melhor do que eu.- as feições belas de Layla tornaram-se sombrias.- Daqui para frente pessoas irão morrer, os dias irão tornar-se mais escuros, como se uma sombra pairasse sobre o sol, criaturas malignas começarão a aparecer a qualquer hora do dia, atacando aqueles que vagarem solitários. O medo irá se espalhar como uma doença, todos irão pensar em fugir, mas não haverá nenhum local seguro. 

- A única coisa que manterá as pessoas unidas serão os símbolos, será a resistência. Devemos desistir das antigas rixas, chegará o tempo em que todos os povos deverão se unir contra Kun, e para isso coloco minhas esperanças em suas mãos. Não deixem que o medo diminua a sua grandeza, jamais.   

Mais uma vez, a floresta acordou. As árvores pareceram crescer em torno deles, nem mesmo o canto de Kahono poderia retirar de seus corações o mau pressentimento que sentiam. O ar estava pesado, a iminência da guerra pairava ao redor de cada um deles, todas as cartas estavam na mesa, mas ninguém poderia dizer quem ganharia aquele jogo. 

 


Notas Finais


Em breve posto o próximo


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