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História The Kingdoms - NaruSaku - Chapter I


Escrita por: JonB

Notas do Autor


Hello Everyone

Boa leitura, e até as notas finais.

Capítulo 2 - Chapter I


I

357 d.P

Naruto

 

O som de golpes furiosos em madeira soava no coração do Bosque Profundo.

A espada de gume afiado cortava o caule fazendo lascas de madeira saltarem no ar. Golpeava num lado, depois do outro e assim continuamente. Os músculos do braço já estavam cansados, e as mãos doloridas, mas não se comparavam a dor que sentia dentro de si. Estivera ali desde que recebeu a noticia do assassinado dos pais, e nem sabia mais quanto tempo passara golpeando e cortando a mesma árvore, criando cortes profundos na madeira.

As lágrimas corriam livremente pelo rosto, se acumulando nos olhos azuis já com linhas vermelhas de tanto choro. Sim, chorava intensamente naquele momento. Sua alma inundava-se nas lágrimas de tristeza, com uma dor dilacerante lhe cortava mais profundo do que qualquer espada algum dia conseguiria.

Arfava a cada giro do corpo, com a armadura de treino a pesar toneladas agora.

— Como puderam!! — esbravejou entre os dentes cerrados, apertando o peito.

A cada lembrança ele piorava. A cada reflexão de que não veria mais os pais, de que não mais poderia ouvir a voz doce da mãe a cantar, de abraça-la todos as manhãs como fazia, ou de escutar os conselhos do pai quando iam caçar juntos lhe pareciam como apunhaladas no coração.

A saudade já o rasgava por inteiro, acabando com toda a vontade de continuar vivo. O enorme amor que sentia pelos pais, um amor que não conseguia expor em palavras, agora causava intensos soluços chorosos a escapar dos lábios. Como os amara, como eram importantes para ele. Como poderia viver sem eles?

— Naruto!!

Ignorou a voz que o chamava. Continuou a golpear cada vez mais forte. Os dedos já se atrofiavam.

— Naruto!!

A voz se aproximava.

— Naruto!!

Finalmente parou arfando. A visão embasada pelas lágrimas não o impediu de enxergar que era Kakashi.

Ficaram alguns segundos se encarando.

— Você arruinou sua espada — avisou o homem apontando com o olhar para a arma.

Naruto fitou a espada, a espada que o pai mandara forjar para ele. A lâmina tinha o gume estilhaçado formando como pequenos dentes afiados. Largou ela. Em seguida simplesmente as pernas fraquejaram, e caiu de joelhos afundando os dedos no solo com as folhas secas a arranhar a sua pele. Não importava o quanto tentasse, as lágrimas pareciam infinitas.

A dor era infinita.

Então sentiu braços abruptamente o rodearem. Kakashi o abraçava forte, trazendo-o contra seu peito.

— Doí tanto. Como puderam os matar — sussurrou. — Faz pa... parar, Kakashi — suplicou embasbacado, abraçando o mestre de armas de volta. As lágrimas se misturando a saliva na boca. — Faz parar ess... essa dor, por favor.  

— É impossível, Naruto — lamentou.

Afundou o rosto no ombro de Kakashi.

— Eu vou matar todos eles! Dilacerarei um por um! — declarou firme apertando-o mais forte, cravando as mãos nas costas dele.

Instantes de silêncio, que se quebraram pela voz do mestre de armas.

— Você agora é o lorde de Uzugakure. Suserano dessas terras, e protetor do norte — Kakashi de forma fraternal depositou a mão atrás da cabeça dele, enfiando os dedos entre os fios loiros. — Tem um dever para com seu rei, para com os nortenhos e acima de tudo para com a honra de seus pais. Deve cumprir seu papel, seu dever liderando a seus homens com força, autoridade, confiança e sabedoria. Então chore. Limpe sua alma o quanto precisar. Por que hoje é o último vez que lhe é permitido demonstrar fraqueza.

Naruto enrijeceu a mandíbula aspirando fundo.

— E então nós os mataremos — Kakashi lhe deu um aperto forte. — Mataremos os Hyuugas. Mataremos os Otsutsukis.

— Sim — as lágrimas pararam de jorrar. Seu olhar endurecia absorvendo as palavras de Kakashi. E entre os dentes cerrados continuou — Destruirei tudo o que eles amam, assim como fizeram comigo. Não sobrará nem mesmo a descendência deles se assim existirem. Eu matarei a todos! — prometeu a sim mesmo com convicção, sentindo o gosto de sangue na boca de tanto apertar os dentes diante do ódio que agora o tomava. — Mesmo que me custe tudo.

O ódio era tão forte, que parecia aquecê-lo. Transformando suas lágrimas em cinzas, e sua determinação numa tormenta em brasas vivas.

 

❂❂❂

Sakura

 

O estremecer da carruagem só a incomodava ainda mais.

Como alguém que sempre visou visitar o mundo além das terras do pai, Sakura apreciou o início da viagem, mas só até chegar nos pântanos que delimitavam o fim do Sul e início das terras nortenhas. Após o pântano com o incômodo irritante dos mosquitos, apenas a imensidão cerrada da floresta os cercava, e nas noites elas eram tomadas pela escuridão, se tornando assustadoras com todos os tipos de barulhos que Sakura nunca tinha ouvido, e mesmo seu pai lhe assegurando que eram animais ou vento forte gemendo, ela não conseguiu ter uma noite de bom sono enquanto naquela parte.

Das florestas em diante a estrada do rei os fizeram passar por bosques cobertos, pontes de pedras sobre riachos com pequenas correntezas geladas; além de vilarejos, castros e fazendas; todas feitas de pedra cinza, o que combinava com o clima, pois desde que entrou no Norte o sol parecia tímido, sempre estando escondido atrás das nuvens cinzentas que preenchiam o céu por completo.

Agora a estrada subia e descia por um terreno acidentado, com gramas verdejantes de ambos os lados.

— Pelos deuses, Sakura! — censurou sua mãe sentada ao seu lado. — Terei eu mesma que dar-lhe leite de papoula para que durma e pare de importunar-me com sua inquietação?!

A rosada bufou encostando a têmpora próximo da janela.

— Estamos próximos? — perguntou carrancuda.

Uma das rodas da carroça esmagou uma pedra fazendo-as saltitar no banco.

— Sim, e é a quarta vez que lhe informo isso, apenas hoje — respondeu a mais velha impaciente, afastando a borda da saia do vestido com brusquidão — Só pus meus pés nessas terras uma vez, e minha memória é boa o suficiente para acreditar que sim, estamos perto.

Passou então a bater a ponta do dedo na porta da carruagem, com a unha imitindo um repetitivo som de marteladas. Mas durou apenas poucos instantes antes da mãe lhe repreender novamente.

— Pare!

— Não vê que não consigo me acalmar?! — retrucou abruptamente.

A mãe suspirou arrastando a mão pelo rosto em exaustão, um gesto comum na matriarca Haruno, e então a encarou com uma feição compreensível.

— Não precisa ficar nervosa, querida — abrandou erguendo o queixo da filha em sua direção. — Ele tem muita sorte de casar-se com você.

Sakura desvencilhou o toque da mãe fechando o semblante.

— Está se importando com ele? — indagou indignada. — Sou eu que está sendo arrancada do seio de minha família, do conforto do meu lar e do amor as nossas terras férteis em direção a esse fim de mundo assustador e frio!

A mãe franziu o cenho afetada.

— Ora, menina! Fala como se fosse a primeira donzela em todos os Sete Reinos, e única em todos esses mais de trezentos anos, a se casar nova e repentinamente! — Sakura colocou a cabeça entre as mãos, massageando as têmporas. Apenas um gesto vazio. — Várias damas e ladys estão casando ou encaminhando-se para tal, inclusive sua prima — comentou a mais velha puxando um leque, passando a abanar-se.

Fitou com surpresa a mãe imediatamente. Não soubera que Ino se casaria também, apesar de que fazia todo o sentido ao refletir.

— Ino se casará com quem? — quis saber.

— Com o também recém lorde Gaara Sabaku, que perdera seu pai no casamento vermelho da mesma forma que o lorde Naruto — revelou Mebuki em tom de pesar.

Casamento vermelho, era assim que estava sendo chamado a armadilha disfarçada de matrimônio criada pelos Hyuugas e Otsutsukis.

— Assim como você, Ino está indo para terras que lhe são desconhecidas, e se casará sendo apenas um ano mais velha que você.

Sentiu-se cansada demais para continuar a conversar com a mãe. Não negara em nenhum momento a tristeza que lhe arrebatou desde que partiu de seu lar, e por vezes a angústia se misturava ao receio. Receio de saber como era seu noivo, de como seria seu casamento com ele, como seria ter a enorme responsabilidade de administrar um castelo e de carregar o nome Uzumaki.

Isso se vencessem a guerra. Outro ponto importantíssimo que foi responsável por deixa-la ainda mais tensa. Eram tantas dúvidas, tantas inseguranças que a consumiam como a um lobo devorando sem pudor uma ovelha.

Para acalmar-se lembrou, por diversas vezes, de que era o que sempre sonhou. Casar-se, ter filhos, gerenciar um lar. Ela planejara tudo quando mais nova. Já casada ela visitaria à sua família ocasionalmente, e eles viajariam para as terras de seu marido para o nascimento de seu primeiro filho. Haveria muita felicidade e alegria.

Mas com o início de tais sonhos germinando tão cedo, para futuramente se concretizarem por completo, percebeu ser assustador. Não se sentia pronta, não importava o quanto aprendera vendo a mãe, o quanto se prepara ao longo dos anos. Porém se conformou de que nada poderia ser feito.

Se inclinou novamente mais perto da janela da carruagem para ver a paisagem que continuava monótona e vazia. Apenas grama, rochas, árvores distribuídas a esmo, alguns casebres com ovelhas e cavalos pastando de vez em quando, e ao fundo, muito longe, enormes montanhas cobertas pela neblina parecendo que faziam parte do céu.

Não havia nada de bonito naquelas terras, foi a primeira coisa que percebeu, fazendo jus as conversas que escutou com relação ao Norte.

Percebeu os homens montados da comitiva apressando o trotar dos cavalos.

De repente, após a carruagem subir por um curto declive, uma planície surgiu à frente, se estendendo até onde a vista alcançava, e sendo flanqueada por altas colinas mais ao longe que formavam um vale. Chegando num ponto mais elevado, Sakura observou de queixo caído Uzugakure, a sede da Casa Uzumaki, se erguer como um corpulento e austero montante de pedras cinza escuro, formando uma poderosa fortaleza, bem ali no coração da planície.  

A fortaleza era alta, com as amplas torres redondas numa crescente até as quatro últimas que eram entrelaçadas no meio, se erguendo sobre as outras, mas seu pai dissera que não era o castelo mais alto dos Sete Reinos, o tamanho de Uzugakure se destacava em largura. Vista de longe era tão extensa que quase parecia uma pequena cidade cercada por muralhas de aparência imponente.

Porém o que mais chamou a atenção de Sakura foi o que havia ao redor do castelo. Fora das muralhas se estendiam centenas de tendas e pavilhões ao longo de todo o terreno, indo até o lado ocidental, já próximo da floresta ao derredor.

Erguiam-se como ilhas em meio ao mar verde e marrom da grama e solo.

A carruagem e a comitiva seguiram a estrada, com os pavilhões surgindo de ambos os lados. Sakura observou atenta o transitar de vários homens em diversos tipos de serviços. Entre fogueiras espalhadas e apagadas sobrando tênues serpentes de fumaça eles levavam armaduras, escudos, lingotes de aço, baldes com água e etc; enquanto outros limpavam as patas dos cavalos, martelavam placas de peito e outros amolavam as espadas. Isso tudo gerando os maiores variados sons, com os murmúrios operários soando junto ao de aço sendo linchado, e relinchos equinos.   

No topo das tendas estavam os estandartes das casas a qual pertenciam.

Sakura estudara todas as casas do reino, era um conhecimento obrigatório que seu preceptor e Meistre de Hagakure fora bastante incisivo em ensinar-lhe. Forçou a memória reconhecendo cada casa vassala dos Uzumakis. Viu o veado verde da Casa Nara; A vespa da Casa Aburame; O urso negro dos Briefs; O sol prateado da Casa Kuchiki; O machado de batalha dos Willow; O alce negro dos Kamar; O lagarto-leão dourado dos Kold; E por fim, o gigante quebrando correntes dos Akimichi.

Mas junto a todos esses estandartes, erguia-se maior sobre eles - tremulando num tecido mais pesado - o Lobo vermelho em um campo cinza da casa suserana Uzumaki. Foi impossível não pensar que em breve o lobo seria seu símbolo principal e não mais a rosa.

Um ruído lamentoso soou vindo de sua mãe, atraindo a atenção de Sakura.

— Mais uma vez passaremos por isso — falou Mebuki em tom frustado.

— Do que está falando? — perguntou e a mãe apontou para fora.

— Isso filha, é a visão do preludio de uma guerra, e eu já vi acontecendo anos atrás quando a rebelião dos Uchihas foi anunciada — lamentou e então ordenou que Sakura olhasse para os homens. — Preste bem atenção em seus rostos, Sakura — voltou o olhar para fora, vendo seu pai sendo cumprimentado conforme avançavam — Mais da metade não voltará com vida para suas esposas e filhos, isso se os deuses tiverem a misericórdia de nos conceder a vitória — a mãe subiu a mão até o peito — Tenho rezado tanto pela vida de meu filho nessa guerra.

Foi então que Sakura refletiu que todos os seus temores em relação ao casamento em nada se comparavam aos temores daqueles que participariam diretamente na guerra. Os soldados a princípio. Mas também as mães que veriam seus filhos indo guerrear. A bem da verdade ela realmente não tinha uma noção muito clara das consequências que toda aquela guerra traria ao reino, mas tinha uma péssima sensação de que não seriam nada boas.

Seria praticamente dois continentes em guerra. Algo de escala indescritível, pelo menos para ela que nunca passou por uma.

A pequena comitiva de guardas a cavalo que escoltava sua carruagem foi se dissolvendo, cada um indo para um lado especifico no acampamento. Apenas seu pai e mais quatro homens continuaram na vanguarda.

Até que finalmente chegou em Uzugakure. 

A fortaleza era muito bem construída. Sakura não conseguiu enxergar nenhuma falha, nenhum sinal de ruína, apesar do evidente desgaste pelo tempo. Coroando as muralhas haviam ameias e torres de vigia com rostos silenciosos vigiando através das seteiras. A ponte estava abaixada, e a larga porta levadiça feita de aço e ferro negro erguida, com apenas os grossos espigões a vista no teto. Os portões estavam abertos e logo a carruagem adentrou no pátio da fortaleza, sendo manobrada a ficar de lado para quatro figuras paradas.

A curiosidade de Sakura a vez disfarçadamente esticar o pescoço para ver os rostos deles, mas não conseguiu por causa da mãe na frente.

O som dos homens cavalgando ao redor cessou e a porta da carruagem se abriu, e com ajuda do pai, ela desceu a carruagem, cambaleando um pouco ao tentar pisar no chão. Após tanto tempo sentada, suas pernas estavam bambas como as de um potro recém-nascido.

De soslaio percebeu dois criados já pegando os seus baús.

Sabia dos olhares apáticos ao redor fixados em si, e poderia ser por vários motivos, mas era evidente que havia dois em especial: seu cabelo rosa, e por saberem que seria a próxima senhora de Uzugakure. Será que a aceitariam sendo uma sulista? Sendo ainda nova? Ou melhor, será que gostariam dela? Não tinha como descobrir tão cedo.

O nervosismo só aumentou por causa da atenção súbita que passou a receber, fazendo suas mãos tremerem.

Mas então ergueu o olhar à frente, e teve o vislumbre completo dos quatro homens que a receberiam. Dois flanqueavam aquele que ela deduziu como sendo o lorde Naruto, e o mesmo não retirou o olhar dela por nenhum segundo enquanto se aproximavam, fazendo o coração dela acelerar. Era uma reação irracional, mas não conseguiu se controlar.

Aquele era seu futuro esposo. O homem a quem estaria ligada até a morte. Parecia algo até surreal quando se refletia. Falou consiga mesma de que não deveria expor sua tensão. Deveria era mostrar toda a sua educação e postura de uma dama nobre.

O homem a esquerda tinha cabelos brancos, mas não aparentava ser idoso. Uma espécie de pano cobria metade do seu rosto, o que lhe dava uma expressão sigilosa e um ar incógnito. O da direita tinha cabelos pretos, com singelos fios brancos nas laterais, e trajava um robe pesado cinza com grossas correntes envolta do pescoço, formando um colar entrelaçado por elos de diversos metais.

Deduziu facilmente que esse era o Meistre de Uzugakure. O de trás possuía cabelos castanhos com comprimento até o pescoço, bem como inexpressivos olhos castanhos.

Mas no meio deles, o jovem rapaz alto que a encarava, trajando camisa de couro preto sobre lã cinza, possuía cabelos loiros. Aquilo a surpreendera, pensara que pessoas loiras só existiam ao extremo sul, mas ali estava seu futuro esposo, com fios tão dourados quanto ouro, e olhos azuis. Fez uma pausa mentalmente para contemplar tal fato, pois em todo o reino pessoas de olhos azuis eram raríssimas.

A mais, seus trejeitos não eram de alguém hostil como imaginava, já que estavam no Norte, e essa era a fama que tinham no Sul. Muito pelo contrário, era um trejeito cortês e alinhado. Se não fosse pela roupa, ele pareceria facilmente com um lorde do Sul. Suas mãos para trás e postura reta, lhe moldurava uma posse séria, o que combinava com sua feição naquele momento.

Uma feição sem vida.

Sakura não deixou de notar as olheiras profundas nele, revelando que ele não dormia bem. Mas ia além disso. Havia tristeza, dor e completa fadiga escondida em seus olhos azuis sem brilho. Um olhar de alguém em profundo luto. Porém, isso não desconsiderava o fato de que ele era belo. Sim, seu futuro esposo era muito belo, de uma beleza quase ensolarada que seria mais visível se não fosse pelo pesar e luto evidente.

Além de contrastar com a região cinzenta onde estavam.

— Lorde Uzumaki — cumprimentara seu pai estendendo a mão.

— Lorde Kizashi — imitou Naruto, num aperto de mãos firmes. Sua voz um pouco rouca.

Em seguida Naruto desviou o olhar para sua mãe.

— Milorde — cumprimentara a mãe num inclinar de cabeça em respeito. Naruto correspondeu tomando com delicadeza a mão dela e depositando um suave e bastante educado beijo nas costas dos dedos.

— Lady Haruno — cumprimentou ele.

Por fim os olhos de Sakura novamente se encontraram com os do Uzumaki. Imediatamente ela fez uma reverencia profunda.

— Milorde.

— Lady Sakura — Naruto se curvou brevemente em resposta. Sakura retornou a postura normal, e então ele apontou para os homens — Esse é o Meistre e preceptor Iruka.  Esse é Kakashi, Mestre de armas, e meu conselheiro. E esse é Genma, meu intendente — os três os cumprimentaram com um inclinar de cabeça.

— Eu... — começara a falar seu pai dando um passo à frente. — E toda a casa Haruno, estamos em luto pelo assassinado cruel de lorde Minato e lady Kushina — disse com pesar formal na voz.

— Sim, milorde — foi a vez de sua mãe. — Nós expressamos os mais sinceros pesares por tal crueldade.

Naruto assentiu solene.

— Muitíssimo obrigado pela complacência. — ele entreabriu os lábios para falar algo a mais, porém hesitou. Fitou Sakura mais uma vez, e por algum motivo ela gostara de ter aqueles olhos azuis cravados em si, mas não diria isso, na verdade sempre preferiu ficar em silêncio quando nervosa. — Sei que é costume o noivo presentear a dama a qual se casará. Porém com o repentino dever do casamento e os diversos assuntos tão urgentes referentes aos conflitos iminentes, não pude ter a tempo algum presente que fosse ideal e de grande valor para a milady como confere num evento tão importante, nosso casamento. Mas... — o lorde gesticulou a mão para trás, de forma a chamar alguém. Uma mulher se aproximou segurando algo embrulhado numa coberta branca entre os braços, como se fosse um bebê.

Sakura franziu disfarçadamente o olhar, bastante curiosa.

A mulher entregou o embrulho para Naruto, e ele com cuidado o ofereceu a Sakura que ergueu os braços para receber. Então viu com bastante surpresa o que era. Se contorcendo de forma preguiçosa residia entre suas mãos um pequeno, lindo e peludo filhote de cachorro, com pelos tão vermelhos quanto sangue, e incrivelmente seus olhos eram da mesma cor.

— Oh, ele é... ele é tão maravilhoso! — encantou-se, os olhos verdes brilhando. Sempre fora apaixonada por cães, seu irmão e ela tinham um, mas falecera dois anos atrás. — E tão fo...! — hesitou, e envergonhada ela suprimiu o tom infantil e agudo que quase saiu por completo de sua boca. — Fofo — corrigiu, agora em tom mais contido.

— É um belo cão, milorde — elogiou sua mãe inclinando a cabeça para inspecionar.

— Nunca vi um com uma cor tão exótica — agregou seu pai, mas sem impressionismo na voz.

— Não é um cão — replicou lorde Naruto fazendo o cenho dos Harunos franzir. — É um lobo.

Sakura arregalou os olhos.

Então olhou para o animal, e realmente analisando melhor as características do filhote se diferenciavam ao de um cão, mesmo ainda tão novo. Focinho mais longo, orelhas pontudas e os dedos do meio da pata mais longo que os laterais eram as características mais relevantes. E isso não mudava em nada, continuou achando um presente maravilhoso.

— Não é perigoso um animal como esse na fortaleza? — perguntou sua mãe após limpar a garganta, sua voz tentando esconder o receio.

O lorde Uzumaki sacudiu a cabeça.

— Não é um lobo comum, senhora Haruno. É um Lobo Gigante — revelou ele. — São pouco maiores que os normais, porém não encontrará animal mais leal e protetor do que esse. A minha mãe tinha um quando eu ainda era criança, então não se preocupe, o único perigo que ele oferece é a alguém que por ventura venha a tentar machucar lady Sakura — fitou Sakura. — Se obviamente ela aceitar cria-lo aqui.

— Sim, eu aceito sim! — curvou-se em agradecimento. — Muito obrigado, milorde. Não poderia receber um presente melhor — carregou o tom com bastante sinceridade — Tenho um fascínio por animais e sendo esse o símbolo da Casa Uzumaki eu me sinto ainda mais lisonjeada — ele maneou a cabeça em resposta. — Qual o nome dele?

— Nós escolhemos um nome na língua antiga. O chamamos de Kurama, mas fica a seu critério continuar com esse nome ou troca-lo.

— Não, eu achei perfeito. Acredito que até combina — concordou enquanto fazia carinho no filhote.

— Fico contente que tenha se alegrado com o presente — disse ele e Sakura fez algo que saiu de forma espontânea, ela lhe sorriu. Naruto pareceu se surpreender um pouco, mas retribuiu esticando a lateral do lábio num singelo e quase impercebível sorriso. Ela não cobraria dele um sorriso aberto com o seu luto, então aquilo foi mais do que o suficiente para contenta-la.

Na verdade, uma onda de empatia pelo futuro marido cresceu dentro de si. Aparentemente ele era uma pessoa gentil e isso lhe alegrou o coração, pelo menos por enquanto.

— Bom, eu apreciaria acompanha-los até os aposentos, aos quais solicitei que fossem rigorosamente preparados para vocês, mas não poderei — avisou o lorde. — Há assuntos da guerra que requerem a minha pessoa.

Seu pai pigarreou atraindo a atenção imediata de todos.

— Por causa da viagem estive desinformado — comentou ele. — Quais são notícias mais recentes?

Naruto hesitou olhando para Sakura e ela ficou confusa.

— Não se preocupe com minha filha, milorde — assegurou sua mãe compreendendo o hesitar do lorde. — Sakura se tornará a senhora desta fortaleza, assuntos políticos devem ser tratados em sua frente sem censuras para que se acostume o mais breve possível.

Então era isso? Ele a via como uma criança, acreditando que a guerra não lhe era um assunto adequado? Foi o que deduziu. E por qual outro motivo seria? Mulheres não eram privadas de conversas políticas, mesmo que não tivessem um papel principal a desempenhar nelas.

Então ele só poderia ter hesitado por não vê-la como alguém madura ainda.

Sentiu um relampejo de ira irradiar pelo pescoço e mãos. Era certo de que duvidava de si mesma, caso contrário estaria muito mais aberta a esse casamento, porém perceber que alguém que nunca conhecera subestimava ela, não lhe agradava nem um pouco. Parecia cutucar uma parte de si muito orgulhosa.

Podia ser nova, porém já desabrochara, sendo uma mulher diante dos deuses e dos homens. Mesmo que tivesse suas inseguranças quanto a isso.

— Lorde Hiashi está reunindo uma hoste enorme no Rochedo, próximo a Hyagakure — revelou o Uzumaki. — Lorde Terumi ordenou que lorde Fuji e lorde Kira aguardassem sob o Dente Dourado. Jura que caso avancem pela Estrada do Rio, não cederá nem um dedo de terra sem primeiro rega-la com o sangue Hyuuga.

— Eu não esperaria menos — disse seu pai. — Concedi a meu filho a permissão de levantar armas junto aos Wasabi.

— Não é apenas isso — falou pela primeira vez o homem chamado Kakashi. — Murmúrios chegaram até nós de que o litoral oeste está inquieto, com mau agouro vindos do Ocidente. O que acabou se confirmando hoje pela manhã.

— Recebemos uma carta informando que ontem chegara no litoral uma enorme frota de galés com a Lua dourada Otsutsuki desenhada nas velas — informou Naruto. — Em outras palavras...

— O exército deles chegou — completou Kakashi. Sua voz abafada dava um tom mais amedrontador.

Sakura sentiu um calafrio percorrer suas costas.

Ouvira seu pai conversando sobre os Otsutsuki com alguns homens. E pelo o que entendeu, era um exército poderoso e muito bem organizado. Seus feitos liderados por um tal de Issinki corriam pelo Mundo Conhecido lhes dando uma fama que precedia ao terror. O que mais chamara a atenção da rosada ao ouvir a conversa foi terem citado um homem em particular, seu nome era Kinshiki, e ele era conhecido como O Montanha, por ser fortemente musculoso e detentor de um tamanho monstruoso.

— Acredito que esse assunto deva ser melhor discutido em outro ambiente — recomendou seu pai.

— Concordo — assentiu Naruto chamando com um educado gesto de mão a mulher que lhe entregara o lobo. — Acredito que estejam cansadas da viagem — ele alternou o olhar entre Sakura e sua mãe — Essa é a Rin, esposa de Kakashi e governanta de Uzugakure. Ela levará as duas até os aposentos e deixará os criados a dispor.

Lady Mebuki assentiu e Sakura fez uma última reverencia, aliviada por finalmente sair do pátio onde tanto a observavam. Seguiu a mãe e a governanta. Já dentro do castelo, ela observou abismada o enorme salão por onde passava, tão extenso que se sentia ainda menor. O principal saguão do castelo Haruno não era nem metade daquele salão em Uzugakure.

— Quantas pessoas cabem aqui nesse salão? — acabou tendo que perguntar para matar a curiosidade, enquanto fazia carinho no filhote.

— Esse é o Grande Salão — respondeu Rin, uma mulher de trajos gentis. — Nele pode ser acomodado aproximadamente cinco mil pessoas.

É muita gente, pensou impressionada.

Após a caminhada solene, e relativamente longa pelo salão, subiram uma escada em caracol até chegar numa ponte coberta, que presumiu interligar aquela parte do castelo com a torre de aposentos. Das janelas na ponte teve visão completa do pátio principal, que há poucos minutos foi onde esteve. Dali viu o pai, o lorde, e os outros três homens saindo pelos portões, com acréscimo de haver uma quinta pessoa junto a eles. Era jovem como Naruto, e não pôde ver o seu rosto, pois estavam todos de costas, mas notou a cor de seus cabelos, e eram de um liso preto.

Sakura equivocou-se, não era uma simples torre, mas sim um castelo mais para dentro. Formava praticamente todo o complexo da fortaleza, como um outro castelo dentro do próprio castelo. Subiram outro relance de escadas e chegaram num corredor amplo, com várias portas para aposentos.

Mais para o fim, a governanta parou, abriu uma porta e fez um gesto para elas entrarem.

O quarto era pequeno, mais não pequeno demais. Pesadas cortinas estavam abertas em uma das janelas, enquanto uma outra ainda estava coberta, com o tecido amarrado para impedir a entrada do vento. A luz apática do sol invadia o quarto, iluminando-o sem a necessidade de velas. Havia uma cama contra a parede oposta, um lavatório, uma cadeira perto de uma pequena lareira e uma penteadeira.

Seus baús já tinham sido todos colocados num canto, devidamente arrumados. O aroma de sais indicava que realmente o aposento tinha sido limpo e preparado para ela.

— Creio que esses são os aposentos de minha filha — comentou sua mãe virando-se para a Rin com os dedos entrelaçados na altura do abdômen, enquanto Sakura sentava-se na cama. Seu corpo cansado já almejava o deitar e adormecer.

Kurama mordiscava seu dedo, fazendo-a dá sorrisinhos.

— São sim, milady. Pelo menos até o casamento amanhã, quando ela se mudará para os aposentos privados do lorde. Aqui é a Grande Fortaleza, com aposentos restritos apenas a família Uzumaki — revelou a governanta. Lorde Naruto já me considera uma Uzumaki, pensou Sakura. — O aposento da senhora e do senhor Haruno ficam na casa de hóspedes, no edifício ao lado desse.

Sua mãe assentiu solene, um ar superior a rodeava. Ela ficava assim perto de criados.

— Poderia esperar do lado de fora por breves instantes?

— Claro, senhora Haruno.

A mulher saiu fechando a porta do quarto.

Sakura encarou a mãe que se sentou ao seu lado na cama. A lady de Hakagure apertou as mãos dela e a fitou com intensidade.

— Esse será seu novo lar, Sakura — declarou com seriedade. — Tenho certeza que será uma senhora a altura.

— Deveria era desejar que eu fosse feliz aqui — replicou desapontada.

— Felicidade é algo muito subjetivo, filha. Busque com muita veemência a felicidade e é provável que se frustre antes que consiga soletrar a palavra propriamente dita — disse a mais velha se levantando, porém ainda com as mãos coladas nas de Sakura. — Busque ser uma mulher graciosa, próspera, sábia, honrada e obediente. Um espelho da nobreza que lhe é requerida para as outras mulheres.

A rosada já escutara aquele mesmo discurso várias vezes, tantas que já lhe provocavam uma náusea mental. Apertou os lábios encarando o chão pensativa, e então voltou a olhar para a mãe com a determinação de lhe fazer uma perguntar que julgava ser importante naquele momento para ter uma ideia do futuro.

— Mãe, a senhora ama o papai?

A pergunta pegara a mais velha com bastante surpresa. Nunca fizera uma pergunta se quer parecida com aquela.

— Por que essa pergunta tão repentina? — indagou franzindo o cenho. Sakura não respondeu, apenas apertou as mãos da mãe insistindo na resposta da primeira pergunta, e a mesma suspirou vencida. — Amor é algo que por certo jamais será uma prioridade entre a nobreza, e sabe disso. Mas sim, eu amo o seu pai. Foi a ele que entreguei meu corpo e coração — confessou.

— Mas já o amava antes do casamento?

Uma clareza invadiu o semblante da mãe.

— Essas perguntas são sobre seu casamento na verdade, isto é nítido. Eu não o amava antes. Porém o amor não está num único olhar, num único toque ou em uma única palavra. O amor reside na convivência. É como esse castelo, ele não foi construído da noite para o dia, muito menos foi com pressa, mas sim foi erguido pedra por pedra até se tornar o que é hoje. Da mesma forma é o amor, e com certeza um casamento também. Ele se constrói dia após dia. Então acabe com essas suas preocupações sobre amar o lorde Uzumaki, ou ele ama-la. Vocês terão muito tempo para construírem um casamento — abrandou massageando a bochecha da filha. — Se ele voltar vivo da guerra obviamente, e que os deuses tenham a piedade de permitir isso — finalizou com uma pitada de sarcasmo no semblante.

Sakura assentiu.

— Agora descanse, mais tarde haverá o jantar e poderá conhecer um pouco mais seu esposo.

Não foi isso o que aconteceu.

A noite chegou e com ela o jantar. Mas para frustação de ambas as Harunos, tanto o lorde Uzumaki como o lorde Haruno, não compareceram. Estiveram em uma longa reunião que durou praticamente a noite inteira, junto aos três recém chegados lordes vassalos da Casa Uzumaki: o lorde Nara, lorde Aburame, e o lorde Briefs.

Não precisava ser adivinho para saber que discutiam sobre a guerra.

Pelo menos agradeceu o fato de poder agora dormir num quarto decente, com uma cama decente, e não nos cubículos nojentos e desconfortáveis dos quartos nas estalagens ao longo da estrada do rei. Estava tão cansada que nem perdera muito tempo em pensamentos deitada, simplesmente o sono pesado a arrebatou sem aviso prévio.

No dia seguinte Sakura passou metade do dia nos aposentos sem nada para fazer, apenas lendo um curto livro que trouxera. Não se sentia confortável para sair, quando não conhecia ninguém ali. Mas após devorar o livro, e ter a refeição do meio dia, percebeu que morreria de tédio ali, ou pior, se perderia nos próprios pensamentos, no nervosismo crescente por causa da cerimônia que a cada hora se aproximava mais. Logo sentiu-se sufocada no aposento, precisava de um ar livre, de agitar as pernas, de fazer o sangue se movimentar. Resolveu, num ímpeto desvairado, aventurar-se um pouco pelo castelo.

E fez isso sozinha. A mãe resolvia os preparativos para o casamento, que aconteceria logo mais tarde.

O principal ponto que notou na sede da Casa Uzumaki era a falta de ornamentações. Tudo era muito simplório, rústico e militar. Porém isso em momento algum pareceu ofuscar a magnitude do castelo, na verdade dava a impressão que era ainda mais antigo e distinto. Como era a primeira vez que colocava os olhos atentos em cada pedaço no interior do castelo, sentia que tudo lhe era instigante.

Ela atravessou a cozinha que estava em ritmo eufórico e bastante atarefado com as cozinheiras preparando o banquete do casamento. Passou sendo o centro das atenções imediatamente, e cumprimentou a todos sendo correspondida com bastante educação. Esperava realmente que fosse estimada pelas pessoas que faziam aquele castelo funcionar, assim como era na sua casa. Na verdade antiga casa, Uzugakure era seu novo lar e precisava se acostumar a isso.

Perambulou até as pernas cansarem, e nem tinha visto metade do castelo. Era realmente muito extenso.

Durante todo o percurso apenas vira guardas, que apenas ficavam em seus postos sem dar muita atenção a ela, e criados. Quando voltava pela ponte, viu por uma das janelas uma torre do outro lado. Resolveu ir até lá, e se considerou com sorte por ter dado ouvido a curiosidade. Era a Torre da Biblioteca, e lá encontrara tantos livros que seria impossível contar. Foi para si um verdadeiro e enorme achado. Amava ler. E foi numa mesa um pouco empoeirada que Sakura, sentada com as saias a ondularem pelas pernas, deixou-se levar pelo prazer da leitura por tanto tempo que quando se deu conta notou a luz do sol já se findando.

A única pessoa que apareceu na torre nesse meio tempo tinha sido o Meistre Iruka, e ele a incentivara a ler.

 — Não há riqueza maior do que as palavras que encontramos num bom livro — lhe dissera ele em um curto sorriso gentil, e Sakura logo soube que teria um carinho pelo homem.

As pressas ela saiu da torre, indo direto para seu quarto. Fez todo o trajeto por dentro, para não dá muito as caras quando deveria já estar se preparando para o casamento. No aposento encontrou sua mãe numa feição impaciente junto a duas mulheres vestidas com roupas simples de trabalho.

— Onde estava!? — exigiu saber a mãe. Ela já parecia pronta para a cerimônia.

— Lendo — respondeu com desdém.

— Lendo? Oh, pelos deuses, Sakura! A cerimônia acontecerá dentro de três horas! Todos os lordes e convidados já chegaram, estão no Grande Salão e esperavam pelo menos ter um vislumbre seu antes!

— Perdoe-me mãe, por buscar alguma distração quando nada tive para fazer o dia inteiro.

A mãe suspirou irritada.

Uma banheira foi colocada no quarto, próximo da lareira acessa. Encheram-na com água quente trazida da cozinha, e perfumaram-na com óleos odoríferos. Uma das criadas, uma moça, ajudou Sakura a se despir e entrar na banheira. A água estava muito quente, porém Sakura não hesitou e nem gritou. Gostava do calor. Fazia-a sentir-se limpa. Além disso fora criada no Sul, lá o calor era um fator comum. O banho foi longo. Esfregaram todo o seu corpo até a pele arder. Depois um massageio, enquanto a outra criada - essa um pouco mais velha - lavava seus longos cabelos rosados, removendo suavemente os nós com uma escova.

Quando ficou limpa, as criadas ajudaram-na a sair da água e secaram-na com toalhas. Enquanto Sakura assistia sorrindo Kurama brincando com um pano sobre a cama, a moça escovou-lhe os cabelos até fazê-los brilhar, enquanto a mulher mais velha a untava com o perfume de flores. Um salpico em cada pulso, atrás das orelhas, na ponta dos mamilos e, por fim, um refrescante, lá embaixo, entre as pernas, o que fez Sakura ficar levemente sobressaltada. Lembrou-se de súbito, com bastante insegurança, que até o fim daquela noite iria se deitar com o lorde para consumar o casamento.

Tudo isso ocorreu com o olhar atento da mãe, que coordenava a tudo como um general liderando um exército.

Ajudaram-na a trajar o pesado vestido, feito de veludo branco com vários detalhes que remetiam a si mesma. Nas mangas foram bordadas flores de cerejeira em homenagem a Hakagure. Um painel bordado de rosas desce pelo centro de seu corpete em homenagem a sua casa. E nas bordas da gola até a saia havia o bordado de galhos cinzas se entrelaçando até formarem um conjunto de corações coroados com ametistas.

Pelo branco envolvia seu pescoço e cobria seus ombros. E nas costas pendia o seu manto de donzela, com o símbolo da Casa Haruno, uma rosa com espinhos envolta. Seu cabelo foi penteado numa única longa trança, com pequenos ornamentos em forma de flores brancas.

Olhou-se no espelho.

— Está esplendida, filha! — elogiou a mãe, sem fôlego, quando por fim terminaram tudo. — Parece até uma princesa!

Ela sorriu. E concordou que realmente estava linda.

Junto da mãe ela encaminhou-se para o Bosque Sagrado, mas antes sua mãe tivera que ir pegar algo que esquecera. Nesse meio tempo, enquanto Sakura esperava próximo a um portão de ferro, surgiu um rapaz vestido todo de preto ao seu lado. Ele viera em silencio, como um lobo se aproximou sem que pudesse ser escutado, e a assustara.

— Perdão, milady — disse abruptamente. Ele era alto e esquio. Tinha certeza de que o rosto dele era tão belo quanto o de seu noivo. E era difícil desviar os olhos dele. Seu cabelo era tão preto quanto as asas de um corvo e os olhos possuíam um negro intenso, assim como vestia-se todo de negro. Sakura sentiu-se nua diante daquele olhar profundo que a estudou dos pés à cabeça com certa lúbrica, e uma pitada de divertimento. — Não era minha intenção assusta-la.

— Não assustou... — mentiu engolindo seco. — Mas deveria ter mais prudência ao abordar uma dama — repreendeu em tom baixo numa audácia instintiva, já se sentia bastante incomodada pelo olhar dele.

Ele ergueu uma das sobrancelhas com um mínimo sorriso a lhe adornar os lábios.

— Tem razão, peço perdão novamente. — ele inclinou a cabeça em respeito. — Meu nome é Sasuke.

Sakura assentiu, aceitando o cumprimento e o pedido.

— Desculpas aceitas, Sasuke. 

Ele dera um passo à frente, diminuindo mais a distância entres os dois. Sakura automaticamente dera um passo para trás. Ele era mais alto que ela, tornando a situação ainda mais incômoda porque ele parecia hipnotizante e ao mesmo tempo pronto para dá um bote em alguém. Nela provavelmente. Sua postura era sagaz o suficiente para lhe causar um arrepio na espinha e a fazer ficar um pouco oprimida.

— Sakura! — soou a voz de sua mãe se aproximando. Os dois fitaram a mais velha chegar.

Sua mãe parou ao seu lado num semblante hostil.

— O que faz aqui, Uchiha? — perguntara em tom ácido.

— Estava apenas...

— Não me importa — cortou. — Saia de perto da minha filha — ordenou a mãe num gesto de repulsa, como se expulsasse um cachorro.

Sakura assistiu a tudo calada e horrorizada, vendo o rapaz endurecer o rosto. Ela não acreditava, ele era realmente um Uchiha? E o que um Uchiha estaria fazendo em seu casamento? De súbito temera lembrando-se do Casamento Vermelho. Não foi obra da Casa Uchiha, mas assim como os Hyuugas, eles também eram uma casa traidora. Estaria ele ali para tentar algo contra a vida de todos?

— Milady, eu... — tentara conversar o rapaz.

Sua mãe lhe apontara o dedo de modo agressivo, fazendo-o recuar.

— Não se aproxime. Ordenei que se retire. Já não basta as centenas de mortes que seu sangue causou. Já não basta o sofrimento que sua casa maldita e renegada causara a todos nós?! Sua presença não é requerida nesse mundo, você e o que restou da sua família por mim já estariam mortos! E agora vêm aqui alimentar a mente de minha filha com sua índole traidora? Não nos importune com sua presença renegada, filho de um traidor.

— Esses são os pecados de meu pai! Não os meus! — replicou Sasuke entre os dentes cerrados.

— Como ousa me retrucar garoto! — falou sua mãe numa descrença afetada.

O homem mascarado de ontem, aquele chamado Kakashi se aproximou em passos apressados.

— O que está havendo?

— Esse garoto está incomodando a mim e a minha filha, Kakashi — respondeu sua mãe apontando para o Uchiha, que recuou ainda mais. — Essa criança indesejada está incomodando a senhora desta fortaleza! Exijo uma providência imediata!

— Eu... — ia falar o Uchiha com o rosto tenso de ira.

— Sasuke! — chamou Kakashi em tom censurador, fazendo-o se calar e abaixar a cabeça imediatamente. Sakura notou que ele apertava os punhos com força. — Perdão, milady Haruno... — o mestre de armas ficou ao lado de Sasuke e pôs a mão nas costas dele. — Sasuke não as incomodará mais, peço que esqueçam o que aconteceu. Eu tomarei as devidas punições para a má conduta dele.

— Ótimo! — falou sua mãe. — Aprenda a se pôr no seu lugar, Uchiha — concluiu enojada.

Kakashi apertou a nuca de Sasuke, e o mesmo se curvou num movimento rígido.

— Perdão, miladys — dissera ele claramente a contragosto.

Sua mãe a impeliu pelas costas, fazendo-a atravessar o portão. Acabou se virando para dar uma última olhadela. E viu que Kakashi não parecia o reprender, mas o abraçava de lado, como se o acalmando com uma linguagem corporal fraterna.

O Bosque Sagrado ficava era um pedaço extenso de floresta que existe no lado oeste da fortaleza. Mas a cerimônia aconteceria próximo. Com o céu escuro da noite, continuou por uma trilha entre as árvores. Foi então que chegaram numa área de céu aberto, sem as copas das árvores tampando a luz da lua.

Uma pequena multidão se encontrava de pé, de costas para ela. Candieiros foram colocados nas árvores ao derredor para iluminar o ressinto.

Ficou ali parada, esperando o momento de ir até o lorde Naruto, esse que ela não via, pois estava atrás do Miestre à frente de todos. E fez uma nota mental de não tê-lo visto o dia inteiro, mas não o condenava. A pressão e responsabilidade que ele tinha era deveras enorme, e Sakura imaginava o quão ocupado ele esteve.

Seu pai, que também esteve muito ocupado, se aproximou oferecendo o braço para ela. Enquanto sua mãe, que resmungara o caminho inteiro por causa do ocorrido com o Uchiha, se juntava aos convidados.

Todos estavam ali bem próximos, e aparentavam estar usando seus melhores trajes, ou talvez não estivessem. Ela não tinha como saber, não conhecia o guarda-roupa nortenho.

Sakura percebeu que havia um homem mais afastado, se destacando num limite entre a luz dos candieiro colocados ao redor e a escuridão. A curiosidade a tomou, como sempre. Ele tinha cabelos ruivos na altura dos ombros. Trajava-se todo de negro, com um manto de peles grosso por cima de couro e lã. Acabou se lembrando de Sasuke, os dois eram os únicos que viu se vestindo todo de negro.

Ele parecia até um urso espreitando a todos.

— Quem é aquele, pai? — indagou baixinho, apontando com o olhar para o homem.

Seu pai seguiu a direção do olhar, e cerrou os olhos.

— Aquele é Nagato Uzumaki — mais uma vez Sakura se surpreendeu naquele dia. Não sabia que haviam outros Uzumakis vivos.

— Como assim um Uzumaki?

— Ele é tio de lorde Naruto. Na verdade, era para ele ser o lorde de Uzugakure bem antes de Naruto nascer. Ele é o primogênito da antiga geração Uzumaki.

— E porque não se tornou?

— Ele vestiu o negro — respondeu seu pai — Deixou da noite para o dia todo o seu direito sobre as heranças do pai, o avô materno de Naruto, para torna-se um homem da Patrulha da Noite.

Sakura arregalou os olhos. Parecia loucura ouvir aquilo, e na verdade era loucura.

Que homem em sã consciência deixaria de herdar Uzugakure? De se tornar um lorde para vestir o negro?! Sakura ficou abismada. Lera num livro que a Patrulha da Noite foi a ordem mais sagrada e honrada dos Sete Reinos durante o primeiro século, mas agora se tornou um poço onde eram jogados todo tipo horrível de homens. Ladrões, assassinos, violadores e etc. Qualquer crime poderia ser punido com a ida para a patrulha, lá fazer o juramento de não possuir terras ou filhos, defendendo a muralha dos selvagens até a morte.

— Por isso naturalmente após o falecimento do pai, o senhorio passaria para o esposo da sua irmã, lady Kushina. Que no caso foi o lorde Minato.

— E porque ele fez isso?! Porque ir para a muralha?

— Ninguém sabe ao certo — encolheu os ombros. — Muitos criam teorias, mas não se dê o trabalho de escuta-las. Saiba apenas que ele agora é o Primeiro Patrulheiro, um homem fiel a serviço do reino além da muralha, e por certo se tornará o Comandante da Patrulha da Noite em breve.

Ouvir aquilo só aumentava sua curiosidade. Mas deixou para lá, pois chegara o momento, e o coração de Sakura só sabia agredir seu peito com as batidas aceleradas.

Respirou fundo disfarçadamente durante todo o trajeto, passando entre os convidados que nunca vira na vida. Todos lhe eram estranhos, o que só piorava sua ansiedade. Alguns usavam os símbolos de suas casas, o que facilitava ela pelo menos reconhecer quem eram os lordes. A olhavam dos pés à cabeça com olhos inexpressivos, e resolveu acreditar que todos os nortenhos eram assim.

Então parou, a poucos passos de Iruka, e do lorde Naruto ao lado. O Uzumaki trajava um rico gibão de veludo cinza com detalhes bordados em vermelho vinho. Uma corrente de ouro branco estava enrolada ao longo de seus ombros sob sua capa. Pendurado no centro de seu peito havia um pingente com duas cabeças de lobos vermelhos, tendo olhos de rubi, se encontrando.

— Quem vem diante dos velhos deuses esta noite? — indagou em voz alta o Miestre.

— Kizashi da Casa Haruno. Senhor de Hagakure e vassalo fiel dos Terumi nas Terras Fluviais — respondeu o seu pai — Venho apresentar minha filha, Sakura da Casa Haruno.

 

❂ Continua... ❂

Jon B.


Notas Finais


(d.P* = Significa "depois do Pacto". Será explicado futuramente o que foi esse Pacto na historia).

Bom, esse capitulo teria quase 15 mil palavras rs, então tive que dividi-lo. Significa que o cap II será lançado hoje mais tarde (antes da meia noite provavelmente).
Para quem já me acompanhe por causa de Antiga Paixão, eu aviso que focarei na atualização dela agora. É porque tava hypado com The Kingdoms, e quando um escritor hypa ele não consegue escrever mais nada há não ser aquilo. Prometo que atualizarei ela essa semana, vou só arrumar umas paradas da faculdade e então será foco no nosso advogado Uzumaki rs.

Espero que tenham gostado e abraço!!


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