História The Last Tears - Noite juntos

YOONGI

Pela segunda vez Jimin está alienado, olhando para nada, com as mãos envoltas no pescoço.

-Ei, ei! Jimin! JIMIN! -O desperto preocupado.

-S-sim...  -Responde confuso.

Não faço idéia do que ele estava pensando, entretanto resolvo somente ignorar o estranho evento.

-Então...nós vamos agora? -Pergunto e caminho em direção ao meu carro.

Mesmo dentro do estacionamento os ventos gelados me alcançam o que piora com minhas roupas praticamente encharcadas, dentro do meu carro eu me encolhi no banco do motorista, me odiando por não ter um veículo com aquecedor.

-En-en-tra... -Falo batendo dentes para Jimin que se encontra parado com braços cruzados do lado de fora.

Timidamente ele adentra meu velho carro se sentando ao meu lado. Me esforçando para parar de tremer, eu dirijo para fora do estacionamento totalmente vazio. Do lado de fora o tempo está pior, a chuva forte que bate contra meu para-brisa desfoca minha visão, o frio intenso me distrai, e nesta época do ano assim como o verão, fica ainda mais difícil respirar devido a rinite horrível que vem a somar com as demais enfermidades. Como sei que Jimin não tem carro, primeiro tenho que levá-lo até em casa, que felizmente fica na mesma direção que a minha. Paramos em frente a um pequeno prédio, de no máximo dez andares, a tempestade parece ter aumentado ainda mais, eu quase não consigo mais me mover devido aos meus nervos atrofiados, além da -quase impossível- respiração.

-Não quer entrar um pouco? Esperar até que a tempestade cesse? -Jimin pergunta antes de sair do carro.

Sem dúvidas, em outras circunstâncias eu recusaria o convite, por adorar minha cama, CD'S, e séries, hoje porém, não tenho certeza se aguentaria chegar em casa da maneira que me encontro agora.

Respondendo sua pergunta eu balanço a cabeça positivamente, evitando falar, uma vez que meu lábios involuntariamente não param de tinir. Molhando todo o piso amadeirado, nós caminhamos no corredor extenso até finalmente estagnar na porta larga com o número oitenta e dois na porta. Com dificuldade Jimin pega a chave no bolso da frente da calça -deve ser mesmo complicado com uma roupa tão justa- e quando a porta se abre sem nenhum bom modo me lanço parar dentro do quente e aconchegante apartamento. O lugar é pequeno porém decorado com muito bom gosto, a minha frente há uma pequena sala de estar, um sofá de canto em  couro preto, do lado um artesanal abajur esguio, uma TV de led no centro de um armário de madeira escura, e nos outro compartimentos vários objetos decorativos, como alguns heróis em miniatura, umas bolas de porcelana em cores pastel, e estatuetas ganhas em campeonatos de dança, como em meu apartamento a área da cozinha é dividida por um balcão de mármore, e no final de um curto corredor há duas portas brancas com maçaneta dourada, provavelmente o banheiro e o quarto dele.

-Pode se sentar se quiser. -Ele fala para mim, já que estou encolhido e imóvel na entrada do local.

Claro que eu quero evitar molhar seu carpete e sofá luxuosos, por outro lado a cerâmica branca se encontra encharcada, com a poça de água que se formou debaixo dos meus pés.

Após retornar depois de ter ido -aparentemente- ligar o aquecedor, ele remove a camiseta e sapatos, abrindo o zíper da calça no segundo seguinte. Balançando os cabelos loiros para retirar o excesso de água, ele sorri e pergunta:

-Não vai tirar também?

JIMIN

Quando termino de perguntar ele começa vagarosamente a remover as roupas pesadas, sem dúvida ele também queria fazer isso porém estava tímido, tendo em vista que não temos esse grau de intimidade. Enquanto retiro com dificuldade a calça, não consigo me reprimir, e discretamente o observo em tal ação, primeiro os sapatos e meias, depois o casaco preto, e blusa branca de mangas longas que por conta da chuva está colada em seu corpo, após removê-la ele revela seu tronco translúcido e delicado, uma gota de água cai do seu cabelo e toca sua pele firme escorrendo sem pressa pelo seu abdômen. Se alguém me perguntasse agora porque eu fiquei observando o percurso da pequena gota que desapareceu na superfície da sua epiderme, eu simplesmente diria que não sei responder, eu estou mais estranho que o normal, e quando o Yoongi está por perto, não consigo ser...eu. Estou somente de cueca e sequer me dei conta disso, ao mirar o Yoongi novamente vejo que ele está prestes a despir sua calça também, então evitando o momento constrangedor de ficar olhando cada centímetro do seu corpo semi nu, me retiro e vou em busca de uma toalha.

-Aqui, pode tomar banho primeiro. -Entrego a ele a toalha, sem contato visual. Sem dúvida o Yoongi está me achando muito -MUITO- esquisito, pelos momentos "viagem" do nada, e esse nervosismo e inquietação aparentes, mas prefiro que seja assim, não quero deixá-lo desconfortável, ou podar uma amizade que mal se iniciou.

-Obrigada. -agradece com voz trêmula.

-É no final do corredor, à esquerda.

Ele passa por mim e finalmente eu respiro tranquilo, quando direciono o olhar para a entrada do banheiro vejo seus cabelos escuros molhados escorrendo água pela nuca, descendo os olhos suas costas diáfana e um pouco mais abaixo sua bunda,-PORRA! POR QUÊ ELE NÃO SE ENROLOU NA TOALHA?-sua bunda pequena e arredondada coberta por uma apertada cueca box na cor preta que contrastava perfeitamente com o tom claro da sua pele, arrepios percorreram minha espinha e pela primeira vez tive certeza que o queria, é como se meu corpo involuntariamente pedisse por ele.

Quando ele saiu do banho eu lhe emprestei uma das minhas camisetas enormes -que ficou ainda maior nele- e uma calça folgada de moletom, -sim, ele está sem cueca- vestindo praticamente uma roupa igual me dirijo a sala se estar onde o encontro sentado no sofá com as costas e cabeça apoiadas.

-Está com fome? -Pergunto e ele se sobressalta de susto. -Desculpe, não queria te assustar.

-Tudo bem... -Responde se acalmando. -Será que essa chuva vai demorar a passar? -Pergunta retoricamente indo em direção a janela e observando a noite escura.

-Está muito intensa ainda... você pode... ficar aqui esta noite.

-Obrigada. Acho que não terei outra opção.

Pensei em fazer uma comida deliciosa, talvez um jantar especial, mas, infelizmente não sou um bom cozinheiro, resolvi não arriscar muito, preparando um sanduíche leve de frango, tomates e queijo fresco, tendo um suco de laranja como acompanhamento. Com os cotovelos apoiados no balcão Yoongi me observa, volta em meia eu também o olhava por canto de olho, ele me parece melhor agora, respira confortavelmente apesar de ainda estar com uma expressão de cansaço no rosto.

-Quer ajuda? -Sua voz baixa me surpreende, quebrando o silêncio do local.

-Não, tudo bem. São apenas sanduíches. -Respondo ainda de costas.

Os lanches já se encontram no micro-ondas, então sem pressa começo a cortar laranjas para o suco, neste mesmo instante eu o ouço cantarolar uma melodia, a mesma daquele dia quando entrei em sua sala, e esse doce sonido me distrai, fazendo com que eu corte meu dedo indicador com a faca, imediatamente a dor fina e aguda se espalha pelo local que já se encontra ensanguentado.

-Ai droga! -Exclamo furioso, pressionando o corte com a mão direita.

-Tudo bem? -Pergunta assustado, contornando o balcão e vindo em minha direção.

-Cortei o dedo. -Respondo apertando fortemente os olhos.

-Me deixa vê. -Ele envolve minha mão com a sua, e seu toque delicado faz com que meus pêlos se eriçarem.

O alarme do micro-ondas soa.

O tempo congela quando nossos olhos se encontram.

Ele desvia o olhar.

-Foi profundo. -Comenta sem soltar minha mão.

Yoongi cuidadosamente puxa a manga da minha blusa até o cotovelo e coloca meu dedo debaixo da água corrente da pia, a dor me faz querer puxá-la de volta, mas sou coibido com sua mão segurando meu pulso, me obrigando a permanecer ali. Quando o excesso de sangue é removido, ele enrola o dedo em um papel toalha para estancar o fluido.

-Pressione o dedo com a outra mão desta maneira. -ele pressiona o papel contra o corte -Tem uma caixa de primeiros socorros? -Perguntou me fitando rapidamente.

-Tem uma no meu quarto,mas... -Eu iria dizer para ele não se preocupar porém ele caminha em direção aos meus aposentos antes mesmo que eu termine a frase.

No quarto eu indico com o queixo uma caixinha branca plástica posicionada dentro do meu armário de roupas. Yoongi se senta na cama, e eu faço o mesmo, ele retira da caixa um vidro azul -que até o momento se encontrava lacrado- e umedece o algodão com o líquido transparente, hesitando eu deposito meu dedo dolorido em sua mão erguida.

-Vai doer? -Pergunto medroso como uma criança. Ele sorri debochado de canto de boca, depois responde:

-Prometo que não.

Concentrado ele dá leves toques em meu ferimento, o líquido realmente não dói muito e faz com que uma estranha espuma branca se forme no local.

-É para não infeccionar. -Ele explica mediante a minha cara de confusão.

Feito isso ele cobre o local com uma gaze e a prende com um esparadrapo.

-Acho que viverá. -Fala com ironia quando termina. Abro um sorriso discreto. Uau! ele também pode ter bom humor.

-Você é muito bom nisso... obrigada.

-Ser um garoto doente com avós idosos não é cem por cento ruim.

Não sei bem o que dizer sobre seu humor negro.

-Estou cheio de fome! -Falo com empolgação e me esquecendo o ferimento bato as mãos sobre as coxas. -Ai! -Reclamo quando a dor volta a surgir.

Ele cai na risada, e eu também sou contagiado, e do nada nossas expressões se tornam sérias quando nos entreolhamos, o momento divertido de transforma e uma esquisita tensão entre nós.

Olhos nos olhos. lábios entreabertos. o barulho da chuva. o frio do inverno. Momento perfeito para mim. Mas...

-Até eu senti fome agora. Vamos?

Imóvel na cama passando a língua no interior da bochecha, vejo as costas do Yoongi caminhando vagarosamente de volta para a cozinha. Estou consumido pela cólera, mas não dele, de mim! Como sempre, estou forçando a barra, me aproximando demais, alucinando demais, e agindo sem pensar. O que aconteceu com meu "não quero estragar a amizade", porque sempre que essa inquietação/atração surge por uma outra pessoa eu simplesmente me jogo?! Talvez seja esse o motivo de eu sempre sofrer em relacionamentos, e o pior é que eu ainda não sei nada sobre ele, sobre sua sexualidade ou defeitos, mesmo assim, se ele não se retirasse do quarto eu ia beijá-lo, odeio profundamente ser guiado por emoções!

Mentalmente eu anseio para que ele esqueça o momento tenso que acabara de acontecer, então volto para a cozinha onde ele termina de preparar o suco.

Comemos sentados a pequena mesa situada entre a sala de estar e cozinha, ainda bem que o sanduíche ficou gostoso como o esperado, o suco preparado pelo Yoongi também não desapontou, apesar dele comer apenas metade do lanche, assim como metade do suco. Educadamente ele lava as louças quando terminamos, enquanto eu canto para ele a letra de "lie".

YOONGI

Quando Jimin age sem pensar bate o dedo ferido contra as pernas eu instintivamente caio na gargalhada, ele me olha surpreso durante alguns segundos fazendo o mesmo em seguida. Aos poucos com os olhos vidrados em mim, seu sorriso se desfaz, então eu também me torno mais sério, nos encaramos, e a atmosfera no quarto se tornou pesada, ainda que me encontrando incomodado com a situação, eu não desviei os olhos dele, mas por alguma razão ele umedeceu os lábios e começou a se aproximar mais de mim, sem reação, eu falo a primeira coisa que surge em minha mente:

-Até eu senti fome agora. Vamos?

Antes que ele responda, me levanto e saio caminhando sem olhar para trás, depois de um tempo ele surge na cozinha onde eu já termino de preparar o suco. É óbvio que eu menti quando disse que sentia fome, entretanto precisava de algo que ajudasse a sair dali. Comemos em silêncio, comentando as vezes coisas aleatórias como "ficou muito bom" ou "está trovejando bastante", tentei permanecer o mais natural possível, não quero deixá-lo desconfortável em sua própria casa, sem contar que passaremos muito tempo juntos por conta da apresentação conjunta, talvez até eu tenha entendido errado, quem sabe seja apenas coisa da minha cabeça depois que soube que eram gays, enfim, não quero tirar conclusões precipitadas sobre ele, inclusive porque Jimin é um homem muito talentoso e focado além de uma companhia agradável. Penso tudo isso enquanto lavo as louças do jantar e ele canta para mim a música produzida por ele e Namjoo, sua voz é incrivelmente bela, sem dúvidas ele poderia ser um cantor, não ouso dizer isso a ele, receoso por parecer "estranho" demais.

Creio que ele notou minhas pálpebras pesadas de sono, então ele coloca um colchão reserva no chão do seu quarto, com um travesseiro macio e cobertor, antes de dormir ficamos deitados na escuridão do quarto, conversando mais sobre o que podemos criar com a música, quando o telefone toca nos assustando. O pego debaixo do travesseiro e vejo na tela a foto da Melanie, sem contar as inúmeras mensagens que não havia visto anteriormente. Deslizo o dedo cancelando a chamada.

-Importante? -Jimin pergunta.

-Não... não é nada demais.

Estou cansado demais para atender a Melanie, também não quero ela se preocupando o tempo todo como se eu fosse uma criança, coloco o celular no silencioso e mando uma mensagem para ela:

: Estou bem, na casa de um amigo, não precisa se preocupar. Boa noite :)

Durmo antes de esperar por uma resposta, provavelmente deixando Jimin conversando sozinho.